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O método cartesiano.pdf

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Em seguida, tendo refletido sobre aquilo que duvidada, e que, por<br />

consequência, meu ser não era totalmente perfeito, pois via claramente que o<br />

conhecer é perfeição maior do que duvidar, procurei deliberar de onde<br />

aprendera a pensar em algo mais perfeito do que eu era; e conheci, com<br />

evidencia, que deveria ser de alguma natureza que fosse de fato mais perfeita.<br />

No concernente aos pensamentos que tinha de muitas outras coisas fora<br />

de mim, como do céu, da terra, da luz, do calor e de mil outras, não me era tão<br />

difícil saber de onde vinham, porque, não advertindo neles nada que me<br />

parecesse torná-los superiores a mim, podia crer que, se fossem verdadeiros,<br />

eram dependências de minha natureza, na medida em que esta possuía<br />

alguma perfeição; e se não o eram, que eu os tinha do nada, isto é, que<br />

estavam em mim pelo que eu possuía de falho. Mas não podia acontecer o<br />

mesmo com a idéia de um ser mais perfeito do que o meu; pois tirá-lo do nada<br />

era manifestamente impossível; e, visto que não há menos repugnância que o<br />

mais perfeito seja uma conseqüência e uma dependência do menos perfeito do<br />

que em admitir que do nada procede alguma coisa, eu não podia tirá-la<br />

tampouco de mim próprio. De forma que restava apenas que tivesse sido posta<br />

em mim por uma natureza que fosse verdadeiramente mais perfeita do que a<br />

minha, e que mesmo tivesse em si todas as perfeições de que eu poderia ter<br />

alguma idéia, isto é, para explicar numa palavra, que fosse Deus.<br />

Quinta parte<br />

O que não parecerá de modo algum estranho a quem, sabendo quão<br />

diversos autômatos, ou máquinas móveis, a indústria dos homens pode<br />

produzir, sem empregar nisso senão pouquíssimas peças, em comparação à<br />

grande multidão de ossos, músculos, nervos, artérias, veias e todas as outras<br />

partes existentes no corpo de cada animal, considerará esse corpo como uma<br />

máquina que, tendo sido feita pelas mãos de Deus, é incomparavelmente<br />

melhor ordenada e contém movimentos mais admiráveis do que qualquer das<br />

que possam ser inventadas pelos homens.<br />

Se houvesse máquinas assim, que tivessem os órgãos e a figura de um<br />

macaco, ou de qualquer outro animal sem razão, não disporíamos de nenhum<br />

meio para reconhecer que elas não seriam em tudo da mesma natureza que<br />

esses animais; ao passo que, se houvesse outras que apresentassem<br />

semelhança com os nossos corpos e imitassem tanto nossas ações quanto<br />

moralmente fosse possível, teríamos sempre dois meios muito seguros para<br />

reconhecer que nem por isso seriam verdadeiros homens.<br />

Desses, o primeiro é que nunca poderiam usar palavras, nem outros<br />

sinais, compondo-os, como fazemos para declarar aos outros os nossos<br />

pensamentos. Pois pode-se muito bem conceber que uma máquina seja feita<br />

de tal modo que profira palavras, e até que profira algumas a propósito das<br />

ações corporais que causem qualquer mudança em seus órgãos: por exemplo,<br />

se a tocam num ponto, que pergunte o que se lhe quer dizer; se em outro, que<br />

grite que lhe fazem mal, e coisas semelhantes; mas não que ela as arranje

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