You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Quarta-feira, 1º de janeiro de 1913<br />
<strong>Feliz</strong> <strong>Ano</strong> <strong>Novo</strong>, <strong>Bangu</strong>!<br />
Em fotografia do início do século XX, o suntuoso edifício do Casino <strong>Bangu</strong>, atual sede social do <strong>Bangu</strong> Atlético Clube,<br />
onde ocorreu o baile de ano novo em 1913.<br />
H<br />
oje pode até parecer estranho uma<br />
reportagem deste tipo, mas na virada<br />
de 1912 para 1913, o cronista do<br />
jornal “A Época”, Benjamin Magalhães,<br />
passou os festejos de ano novo dentro do atual<br />
salão nobre do <strong>Bangu</strong> Atlético Clube.<br />
Naqueles idos, o prédio pertencia ao Casino<br />
<strong>Bangu</strong> e era o único local do bairro para os<br />
grandes bailes que ocorriam para o lazer<br />
daquela sociedade, composta basicamente por<br />
operários da fábrica de tecidos.<br />
Graças à reportagem publicada na edição<br />
de quinta-feira, 2 de janeiro de 1913, é possível<br />
resgatar não só a festa, os participantes, mas<br />
também detalhes riquíssimos da estrutura<br />
interna do prédio do Casino <strong>Bangu</strong> naquela<br />
época.<br />
Prelúdio<br />
“Nunca se viu tão vibrante entusiasmo, tão<br />
sincera e espontânea alegria, como sucedeu<br />
nos subúrbios pela terminação do negregado<br />
1912.<br />
Parece que o povo sentia o mais indizível<br />
prazer, vendo escoar-se na agonia célere das<br />
horas, o ano nefasto, tão rubro de sangue,<br />
desastres e outras calamidades públicas.<br />
Entre carinhosas esperanças e ruidosas festas,<br />
foi esperado o doce alvorecer de 1913.<br />
A população suburbana esteve a postos,<br />
rendendo homenagens ao novo ano,<br />
promissor de fagueiras felicidades.<br />
Os salões de inúmeras sociedades recreativas<br />
estiveram em franca alegria, dançando-se até o<br />
romper do gárrulo 1913.<br />
E assim surgiu o novo ano tão ansiosamente<br />
esperado e que Deus permita, traga melhores<br />
dias ao povo brasileiro”.<br />
A recepção<br />
Benjamin Magalhães chegou ao Casino<br />
<strong>Bangu</strong> às 9 horas da noite de 31 de dezembro<br />
de 1912, sendo recebido pelo presidente<br />
interino Antenor de Carvalho.<br />
“Ficamos encantados. Era a primeira vez que<br />
tínhamos ingresso naqueles suntuosos salões.<br />
Sempre cativante e gentil, o Sr. Antenor<br />
mostrou-nos todas as dependências do vasto<br />
edifício do Casino, que se encontra instalado<br />
em sólido prédio, com uma vasta sala de baile,<br />
que dificilmente se poderá comparar a outros<br />
congêneres. Dotado de um excelente palco,<br />
cenários e panos, é velado por um enorme<br />
repertório grená”.<br />
O cronista visitou também a secretaria, a<br />
biblioteca e o arquivo, que ficavam no 2º<br />
andar.
O baile<br />
Às 21h50, enfim, a banda de música dos<br />
operários da Fábrica <strong>Bangu</strong> começou a tocar.<br />
O repertório era composto de valsas (!) e de<br />
polcas (!), sob a regência do maestro João<br />
Ignácio.<br />
Para que o jornalista não ficasse sozinho no<br />
salão, arranjaram-lhe um par: a senhorita<br />
Eufrosina Ferreira passou algum tempo<br />
dançando com ele.<br />
Enfim, foi servida uma mesa de doces na<br />
secretaria, onde se sucederam brindes para lá<br />
e para cá. Da diretoria do Casino ao jornal “A<br />
Época”, do jornal para a sociedade de <strong>Bangu</strong>.<br />
Cordialidades indispensáveis naquele Rio de<br />
Janeiro da Belle Époque.<br />
Quando o velho 1912 já estava terminando<br />
e começando o novo 1913, ocorreu a<br />
celebração tradicional, com fogos de artifício:<br />
“À meia-noite em ponto, o relógio da fábrica<br />
tangia as última badaladas, anunciando a<br />
tremenda agonia do negregado ano de 1912,<br />
que nenhuma saudade deixa! No ar estrugiram<br />
foguetes e no palco aparecia uma interessante<br />
surpresa: um relógio mágico, donde surgiram<br />
um velho e uma linda criança – 1912 e 1913 –<br />
desempenhando-se dessa engraçada novidade<br />
o sr. Áureo de Barros e a graciosa menina<br />
Hime”.<br />
Detalhista, o cronista de “A Época” fez<br />
questão de registrar o nome de vários dos<br />
participantes da festa. Por isso, é fácil<br />
encontrar os nomes de alguns jogadores do<br />
<strong>Bangu</strong> Atlético Clube que aproveitavam o<br />
baile, como os atacantes Alberto de Carvalho,<br />
Felício Corrêa, Carlos Rocha e Estácio Alves,<br />
o zagueiro Antônio Carregal, o meia Oscar<br />
Lemos e até o futuro presidente Firmino de<br />
Carvalho.<br />
Interessadíssimo, Benjamin Magalhães<br />
anotou o nome de, nada menos, 49 senhoritas<br />
que estavam pelo salão, entre elas, Carmen<br />
Medeiros, que viria a ser mãe de Castor de<br />
Andrade nos anos 20...<br />
A despedida<br />
Já estávamos em 1913, quando o sócio do<br />
Casino, João de Araújo, acompanhou o<br />
jornalista até a estação de trem para tomar o<br />
último “noturno” que o levaria de volta ao<br />
centro da cidade.<br />
Na crônica publicada pelo jornal, Benjamin<br />
Magalhães mostrava-se bastante entusiasmo<br />
por ter participado da virada do ano em<br />
<strong>Bangu</strong>:<br />
“Ao traçar estas linhas, ainda o nosso espírito<br />
vibra na doce recordação da belíssima festa do<br />
Casino <strong>Bangu</strong>, onde encontramos sempre o<br />
melhor acolhimento por parte do digno e<br />
laborioso operariado da fábrica de tecidos,<br />
todos fazendo parte do importante clube que<br />
tem à sua frente homens do valor moral do<br />
estimado cavalheiro Sr. Antenor de Carvalho”.