História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial
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Gaspar de Oliveira Antigos quilombos, periferia de hoje<br />
O mais importante para se fazer rap de qualidade são os<br />
elementos que falei, da cultura hip hop, trabalhados na prática.<br />
Todo guerreiro quilombola tem que provar na prática e na teoria<br />
que é eficaz, senão não sobrevive. Dessa prática estamos<br />
ensinando os moleques a dançar, a fazerem rimas, a cantar, a<br />
conhecer um pouco desse universo que a gente respira e que<br />
está plantado nessa grande etnia que é o Brasil, esse caldeirão.<br />
Faço um trabalho que se chama “CEDECA-Casa 10” (Centro<br />
de Defesa da Criança e do Adolescente Casa 10” , que fica no<br />
bairro do Ipiranga, zona Sul de São Paulo, e trabalha com<br />
garotos em liberdade assistida. Estou lá há cinco anos e desenvolvo<br />
esse trabalho de rap e rima; já levei repentistas lá também.<br />
Também há um trabalho na Secretaria da Cultura do<br />
Estado, que é o projeto “Arquimedes, parceiros do futuro”, com<br />
escolas. Em vinte e três delas faço um trabalho de supervisão<br />
cultural, todas na zona sul de São Paulo, entre Campo Limpo e<br />
Capão Redondo. E temos vários outros núcleos em que fazemos<br />
hip hop na prática.<br />
White e black out<br />
Quero falar também sobre a inclusão digital. Sobre o moleque<br />
que está incluído, mas sem senso social. O white out e o black<br />
out. O moleque da elite, que está lá no prédio e pode dar um<br />
enter, ele tem todo acesso, tem claridade, tem livro; tem tudo o<br />
que precisa para fazer parte da sociedade, se dar bem e ter<br />
qualidade de vida. Ao mesmo tempo, outro moleque que está lá<br />
na favela, que aprende a cantar um rap, depois de um ano, ele<br />
já melhorou; mas ele ainda está propício ao crime, na favela,<br />
fumando o baseadinho dele, regredindo, se destruindo. E ele<br />
está distante, não sabe apertar o enter, está longe do que é<br />
informação. A informação dele é a rua. Ao mesmo tempo em<br />
que ele está no meio da escuridão, lá no black out em que não<br />
enxerga muita coisa, é malandro o suficiente para sair pela rua e<br />
bater de frente com muitas coisas. E o burguesinho que está no<br />
alto do prédio, com toda a claridade e acesso, o white out, ficou