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História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial

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TRADIÇÃO ORAL NO MUNDO DIGITAL<br />

pintavam os muros, que demarcavam os territórios. Quando<br />

houve uma recessão política na Jamaica, o governo conseguiu<br />

que alguns estudantes fossem trabalhar nos Estados Unidos;<br />

um deles foi o DJ Buran, que levou essa cultura para lá. E aí<br />

começaram fazer aquelas festas chamadas Arrasa Quarteirão.<br />

Juntaram a dança, a música, as artes plásticas e fizeram muito<br />

barulho junto e para a comunidade. Levaram a arte para lá, de<br />

uma nova forma. O hip hop se constitui desses elementos:<br />

dança de rua, break pit, pop e rock. O grafiteiro que usa as artes<br />

plásticas, as cores, o aerosol. O DJ e o MC, que são dois<br />

elementos que, na verdade, se juntam. O DJ é o ritmo e o MC é<br />

a poesia, que juntos fazem o rap, que significa ritmo e poesia,<br />

rhythm and poetry. Estou aprendendo a falar inglês com esse<br />

barato aí! No meu rap, as métricas, a levada, a oração, a prosa, a<br />

poesia, a rima, a concepção, vem toda do repente mesmo, dessa<br />

coisa da embolada, de fazer versos de improviso.<br />

O rap hoje movimenta muitos jovens na periferia e tem<br />

esse teor cultural, de não apenas resgatar as origens. Por<br />

exemplo, citamos um pedacinho de uma música do Luiz<br />

Gonzaga em uma rima de uma letra nossa, damos continuidade<br />

em cima das coisas que foram feitas no passado. O hip hop é<br />

mais ou menos isso: pegar uma coisa esquecida e trazer à tona<br />

novamente com a nossa roupagem, do jeito atual. Querendo ou<br />

não, tudo que aprendemos veio das referências que nossos pais<br />

passaram. É o que foi dito, nós vivemos hoje de fragmentos. Os<br />

livros foram escritos pelos brancos e quando abro um livro do<br />

Debret, tem algo assim racista: Maurício de Nassau e uma<br />

negra carregando água. A gente percebe que o Maurício de<br />

Nassau tem nome, a negra não. São essas coisas que já estão<br />

plantadas na nossa cultura. É aquilo: o que é do homem o bicho<br />

não come. Fizeram feijoada.<br />

Pode parecer engraçado, mas para quem está excluído da<br />

sociedade não é fácil. Vivemos nesse universo, temos que<br />

brilhar o olho, levar esse sentimento para tocar o coração de<br />

vocês e trabalhar para que a nossa origem não se perca. O rap<br />

tem esse poder hoje na periferia, o poder de resgatar tudo isso.<br />

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