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História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial

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Paul Thompson <strong>História</strong> oral: patrimônio do passado e espírito do futuro<br />

morto”. Outras diziam: “não, ele é um pastor e tem um<br />

cachorro ali; ele está apenas descansando um pouco e em<br />

seguida vai sair correndo por aí novamente com suas ovelhas”.<br />

Ou então, com relação à paisagem como um todo, alguns<br />

diziam: “ah, é uma típica paisagem inglesa, isso me lembra da<br />

beleza do interior da Inglaterra”. Mas uma mulher da Jamaica<br />

disse: “isso me lembra a paisagem jamaicana”. Foi um exemplo<br />

extremo de como as pessoas podem projetar suas próprias visões<br />

em um objeto cultural. Acho que precisamos conhecer muito<br />

essa vida que está acontecendo na cultura.<br />

Mitos e tradições orais<br />

Outro tema fundamental é o do mito e da tradição oral. Já<br />

foram feitos trabalhos maravilhosos com índios na América do<br />

Norte sobre o direito à terra, usando história oral. Hugh Brody<br />

escreveu um livro chamado Maps and Dreams, sobre um<br />

território indígena de caça que foi utilizado para sustentar os<br />

argumentos para a manutenção da terra deles, de modo que<br />

esse é um papel fundamental cumprido pela história oral. Nos<br />

tribunais canadenses, aceita-se um documento de história oral<br />

como forma válida de testemunho, e não era assim no passado.<br />

Vocês têm uma situação parecida, muito interessante, com os<br />

quilombos aqui no Brasil, em que o testemunho oral está sendo<br />

usado para estabelecer os direitos das pessoas à sua terra.<br />

Escrevi sobre esse tipo de mito na vida cotidiana, em The<br />

Myths We Live By, um livro que escrevi com Raphael Samuel.<br />

Ali, há exemplos muito interessantes. Um deles era sobre uma<br />

greve numa escola e a forma como se criaram mitos em apenas<br />

algumas horas. Mitos sobre heróis, como de outros garotos que<br />

pularam de alturas enormes, do prédio da escola, e sobreviveram<br />

– uma completa fantasia. A disputa era em parte<br />

relacionada ao sistema de calefação, que não estava funcionando<br />

naquela escola italiana, no inverno. Um tema muito<br />

específico, talvez, para um inverno em São Paulo! As crianças<br />

entraram em greve porque a escola estava fria demais. Elas

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