História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial
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Paul Thompson <strong>História</strong> oral: patrimônio do passado e espírito do futuro<br />
Escola de Chicago como os de Clifford Shaw e os de Becker são<br />
exemplos disso. Há uma tradição sociológica forte nessa área, e<br />
também há algum trabalho desse tipo no Brasil. Há também a<br />
migração ilegal, que já mencionei, e outros aspectos ilegais da<br />
migração, como o turismo sexual (outra área interessante) e a<br />
cultura informal do trabalho. Existem muitos registros sobre o<br />
mundo do trabalho feitos por empresas, como os registros dos<br />
sindicatos, mas nenhum deles fala sobre a cultura informal do<br />
local de trabalho, o que realmente acontece lá.<br />
Realizei um projeto sobre trabalhadores da indústria<br />
automobilística na Grã-Bretanha e descobri que as descrições<br />
da experiência cotidiana no local de trabalho e todas as coisas<br />
que as pessoas estavam fazendo eram impressionantes. Muitos<br />
deles estavam jogando de várias maneiras; jogavam cartas, é<br />
claro, jogavam xadrez. E cozinhavam também: caçavam coelhos<br />
fora da fábrica e os cozinhavam ali. Alguns deles estavam até<br />
mesmo escrevendo teses.<br />
Em épocas festivas eles criavam decorações impressionantes<br />
na fábrica, feitas com pedaços de carros, produzindo<br />
luzes que piscavam e giravam no teto. Parecia que elas eram<br />
feitas, em parte, para mostrar suas habilidades, porque aqueles<br />
trabalhadores eram de linha de montagem, semi-especializados.<br />
As entrevistas mostraram isso: eles queriam ser considerados<br />
pessoas qualificadas e tinham várias formas de demonstrar isso.<br />
Além dessa expressão por meio do lúdico, criando essas decorações,<br />
também tinham vários dispositivos, maneiras de se<br />
alternar em diferentes tarefas na linha de montagem, de forma<br />
que, no final, todos soubessem como fazer um carro inteiro.<br />
Eles nunca produziam um carro, mas sabiam como produzir<br />
todas as partes, e isso fazia com que se sentissem qualificados.<br />
Também fiquei impressionado com o quanto de inovação<br />
acontecia no local de trabalho, mesmo na fábrica de carros, às<br />
vezes simplesmente adaptando um equipamento, tornando-o<br />
mais fácil ou mais rápido de trabalhar. Uma das tragédias na<br />
situação britânica é o fato de os empregadores não notarem<br />
essas invenções por achar que os trabalhadores não deveriam