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História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial

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176<br />

Alberto Dines Biografías: historias de vida<br />

Atrás do título havia uma premissa – a tal faísca só pode<br />

ser produzida através das faíscas que a própria vida nos deu. A<br />

busca do outro só se faz a partir de nós mesmos.<br />

O biografismo brasileiro ou luso-brasileiro não se desenvolveu<br />

por razões que a antropologia poderia estudar: a<br />

sociedade tribalista, fechada, não admite o outro, só admite<br />

iguais. E desta forma nosso biografismo foi prensado entre a<br />

apologia, ou hagiografia, e a iconoclastia. Ou somos reverentes<br />

ou irreverentes, impolutos ou vilões. Quando digo nós refiro-me<br />

a nós, biógrafos ou biografados.<br />

Mirrou a nossa galeria de vultos ilustres, menos por falta<br />

de atributos de nossa gente e mais pelo partidarismo que<br />

encosta no paredão aqueles dos quais divergimos – ou simplesmente<br />

não gostamos – e coloca aqueles com os quais<br />

concordamos no pedestal da perfeição.<br />

Esta penúria não significa que devemos considerar insignificante<br />

a escola biográfica que floresceu até os anos 60 e 70 do<br />

século passado: Pedro Calmon, Raimundo Magalhães Jr, Luis<br />

Viana Filho, José Honório Rodrigues – para citar apenas alguns –,<br />

magníficos biógrafos e magníficos historiadores.<br />

Exemplo desta aversão aos grandes vultos é o caso de Rui<br />

Barbosa, que talvez tenha tido mais biógrafos-detratores do que<br />

biógrafos-biógrafos.<br />

O patrono do nosso jornalismo, Hipólito José da Costa,<br />

antes mesmo de ser aquinhoado com alguma evocação positiva foi<br />

vítima de uma sucessão de aleivosias de concorrentes mais<br />

longevos ou pósteros, enciumados com os seus feitos e glórias<br />

[volume XXX, tomo I de Hipólito da Costa e o Correio Braziliense].<br />

Lembro que Antônio Houaiss ficou felicíssimo quando,<br />

em meados de 1980, procurei-o no Rio para lhe falar do meu<br />

projeto para uma biografia de Stefan Zweig. “É preciso resgatar<br />

o gênero”, disse ele. “Até que enfim aparece um jovem (eu era<br />

jovem naquela época) disposto a fazer uma biografia moderna,<br />

sobre tema contemporâneo”.<br />

Quando lancei Morte no Paraíso fui convidado para<br />

almoçar com um jornalista famoso e best seller. Ele queria

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