História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial
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Alberto Dines Biografías: historias de vida<br />
Atrás do título havia uma premissa – a tal faísca só pode<br />
ser produzida através das faíscas que a própria vida nos deu. A<br />
busca do outro só se faz a partir de nós mesmos.<br />
O biografismo brasileiro ou luso-brasileiro não se desenvolveu<br />
por razões que a antropologia poderia estudar: a<br />
sociedade tribalista, fechada, não admite o outro, só admite<br />
iguais. E desta forma nosso biografismo foi prensado entre a<br />
apologia, ou hagiografia, e a iconoclastia. Ou somos reverentes<br />
ou irreverentes, impolutos ou vilões. Quando digo nós refiro-me<br />
a nós, biógrafos ou biografados.<br />
Mirrou a nossa galeria de vultos ilustres, menos por falta<br />
de atributos de nossa gente e mais pelo partidarismo que<br />
encosta no paredão aqueles dos quais divergimos – ou simplesmente<br />
não gostamos – e coloca aqueles com os quais<br />
concordamos no pedestal da perfeição.<br />
Esta penúria não significa que devemos considerar insignificante<br />
a escola biográfica que floresceu até os anos 60 e 70 do<br />
século passado: Pedro Calmon, Raimundo Magalhães Jr, Luis<br />
Viana Filho, José Honório Rodrigues – para citar apenas alguns –,<br />
magníficos biógrafos e magníficos historiadores.<br />
Exemplo desta aversão aos grandes vultos é o caso de Rui<br />
Barbosa, que talvez tenha tido mais biógrafos-detratores do que<br />
biógrafos-biógrafos.<br />
O patrono do nosso jornalismo, Hipólito José da Costa,<br />
antes mesmo de ser aquinhoado com alguma evocação positiva foi<br />
vítima de uma sucessão de aleivosias de concorrentes mais<br />
longevos ou pósteros, enciumados com os seus feitos e glórias<br />
[volume XXX, tomo I de Hipólito da Costa e o Correio Braziliense].<br />
Lembro que Antônio Houaiss ficou felicíssimo quando,<br />
em meados de 1980, procurei-o no Rio para lhe falar do meu<br />
projeto para uma biografia de Stefan Zweig. “É preciso resgatar<br />
o gênero”, disse ele. “Até que enfim aparece um jovem (eu era<br />
jovem naquela época) disposto a fazer uma biografia moderna,<br />
sobre tema contemporâneo”.<br />
Quando lancei Morte no Paraíso fui convidado para<br />
almoçar com um jornalista famoso e best seller. Ele queria