História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial
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MEMÓRIA E EDUCAÇÃO<br />
por meio de tal participação os idosos não são mais apenas<br />
fornecedores da matéria-prima que alimenta a própria Estação;<br />
ao narrar, eles passam a viver um processo complexo, se relacionando,<br />
interagindo, integrando-se socioculturalmente num<br />
movimento integrador dos tempos históricos: o passado serve<br />
como fonte de energia para o presente e o futuro e vice-versa.<br />
Nessas circunstâncias, a voz registrada não substitui o<br />
corpo, a presença, a participação efetiva no mundo, na sociedade,<br />
na cultura. Se ter a voz arquivada é motivo de satisfação<br />
para a grande maioria dos idosos que participam da “Estação<br />
<strong>Memória</strong>”, entrar concretamente na rede de significados que se<br />
estabelece a partir das oficinas é um ato de que os grupos não<br />
abrem mão em nome de nada. Com tal procedimento, suas<br />
memórias ganham corpo e presença, impedindo sua cristalização.<br />
Nas condições contemporâneas, restringir-se à voz,<br />
separando-a do corpo, da presença, pode significar adequação à<br />
lógica da acumulação, marcada por fortes tendências de transformar<br />
tudo em produto. O risco de mercantilização da<br />
memória é, portanto, grande, uma vez que do produto ao<br />
mercado, o passo é pequeno e rápido. A memória-produto, a<br />
memória-mercadoria é, pois, um risco que ronda permanentemente<br />
os projetos de memória de nossa época.<br />
Banalização da memória<br />
Por fim, há a questão da banalização da memória, daquilo que<br />
Tzvetan Torodov chamou de “os abusos da memória”. Tal<br />
banalização reveste-se de diferentes aspectos. Em primeiro<br />
lugar há um problema decorrente de nossa tendência à preservação.<br />
Desse modo, nos depoimentos ressaltamos sempre nosso<br />
lado heróico, de César ou de Cleópatra, nunca o lado vilão, de<br />
Brutus. Há, pois, uma tendência natural à mitificação banalizante,<br />
como se o relato fosse um jogo vazio que não acrescenta<br />
nada ao mundo. Pode-se fugir à verdade, que não há problemas.<br />
Por outro lado cabe também perguntar quais os aspectos<br />
da experiência que verdadeiramente interessam aos processos<br />
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