História Falada - Memória, Rede e Mudança Social - Imprensa Oficial
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Edmir Perrotti Estação <strong>Memória</strong><br />
aqueles que vão receber as informações. Com os registros em<br />
fitas, estávamos separando a voz do corpo.<br />
Ora, se temos como objetivo concreto trabalhar para<br />
inserir a memória vivida nos processos educativos, ao ser objetivada<br />
em registros, tal memória apresenta características que a<br />
torna modalidade específica, separada de seu portador. Em tais<br />
condições, a experiência torna-se documento com vida própria,<br />
alheio aos destinos dos sujeitos que o constituíram.<br />
Se com tal objetivação ganha a sociedade e a cultura, o<br />
que ganha o sujeito, o autor do depoimento? Qual o efeito de<br />
nossas ações sobre suas condições socioculturais passadas,<br />
presentes e futuras?<br />
Não podemos, desse modo, deixar de nos perguntar: ao<br />
coletar a memória de idosos, estamos contribuindo para a<br />
melhoria de sua qualidade de vida ou estamos apenas nos<br />
apropriando de suas lembranças, em nome de justificativas<br />
abstratas como desenvolvimento social, cultural, educacional?<br />
Ao registrarmos experiências sem nos preocuparmos com<br />
os destinos dados aos registros, bem como aos sujeitos que as<br />
forneceram, estamos correndo o risco de valorização da<br />
memória social e cultural em detrimento dos sujeitos sociais. O<br />
que significa, por exemplo, entrevistar idosos que vivem<br />
isolados em suas casas, levando conosco suas experiências de<br />
vida, mas deixando-os nas mesmas condições que se encontravam<br />
antes de nos entregar seus tesouros acumulados<br />
pacientemente ao longo de toda uma vida? Qual, enfim, o<br />
sentido de tal registro?<br />
Do ponto de vista da “Estação <strong>Memória</strong>”, ao tomarmos<br />
consciência dos limites do simples registro e disseminação das<br />
experiências, passamos a adotar novas estratégias metodológicas<br />
que não separam o trabalho de registro do de inserção sociocultural<br />
dos entrevistados. Desde então, nossos métodos se<br />
alteraram, se alargaram e passamos a realizar Oficinas de<br />
<strong>Memória</strong> no espaço da biblioteca, oficinas das quais participam<br />
os idosos, bem como crianças e jovens. Hoje, todas as terças e<br />
quartas-feiras temos grupos que trabalham nestas oficinas, e