As Limitações das intervenções humanitárias da ONU
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sistemas de comunicação, educação e saúde. Quando Estados entram<br />
em colapso, as bases dos acordos entre governo e governados são<br />
destruí<strong><strong>da</strong>s</strong>, e reconstruí-las requer uma grande quanti<strong>da</strong>de de tempo.<br />
Reduzir o crime e reforçar as leis é primordial para a reconstrução <strong>da</strong><br />
confiança dos habitantes no governo. Os encarregados <strong>da</strong> tutela não<br />
devem abandonar o país falido sob sua própria sorte antes de se<br />
certificar que as bases política, econômica e social estão funcionando<br />
devi<strong>da</strong>mente por vários anos. “The worst enemy of reconstruction is<br />
a premature exit by international organizations and donors, as in<br />
Haiti and Somalia.” (ROTBERG, 2004)<br />
Em seu livro “Construção de Estados” 32 , Fukuyama<br />
(2005) distingue entre o escopo <strong><strong>da</strong>s</strong> ativi<strong>da</strong>des do Estado - diferentes<br />
funções e metas assumi<strong><strong>da</strong>s</strong> pelo estado - e a força do poder do<br />
Estado, ou seja, a capaci<strong>da</strong>de dos Estados de planejar e executar<br />
políticas e fazer respeitar as leis de forma limpa e transparente,<br />
também chama<strong>da</strong> de capaci<strong>da</strong>de institucional. Os Estados Unidos são<br />
citados como exemplo de um Estado forte (com alta capaci<strong>da</strong>de de<br />
criar e fazer cumprir leis e políticas) e pouco extenso, com grandes<br />
liber<strong>da</strong>des individuais e de mercado. O autor afirma que “(...) a<br />
essência <strong>da</strong> estati<strong>da</strong>de é a sanção: a capaci<strong>da</strong>de suprema de enviar<br />
alguém, com um uniforme e uma arma, para obrigar as pessoas a<br />
respeitar as leis do estado” (FUKUYAMA, 2005, p. 21).<br />
Ou seja, um Estado deve se esforçar por ser forte<br />
institucionalmente, ao invés de extenso no escopo de suas ativi<strong>da</strong>des.<br />
Neste sentido, o pensamento de Fukuyama se assemelha às<br />
recomen<strong>da</strong>ções de Keynes quando este defende que o importante não<br />
é o governo fazer um pouco melhor ou um pouco pior o que outros<br />
fazem, mas fazer aquilo que ninguém faz. 33 Reforçando a noção de<br />
que o bem político mais importante é a segurança, isso significa que<br />
o Estado não deve apenas ser capaz de desenvolver leis e políticas<br />
eficazes, mas principalmente garantir seu cumprimento e execução.<br />
32 O autor coloca que existem três fases distintas na construção de nações: a reconstrução<br />
pós-conflito; a criação de instituições autossustentáveis que sobrevivam ao fim <strong>da</strong><br />
intervenção externa; e o fortalecimento do Estado, através de uma autori<strong>da</strong>de estável.<br />
33 “The most important Agen<strong>da</strong> of the State relate not to those activities which private<br />
individuals are already fulfilling, but to those functions which fall outside the sphere of the<br />
individual, to those decisions which are made by no one if the State does not make them.<br />
The important thing for government is not to do things which individuals are doing<br />
already, and to do them a little better or a little worse; but to do those things which at<br />
present are not done at all.” (KEYNES, 1926)