As Limitações das intervenções humanitárias da ONU
As Limitações das intervenções humanitárias da ONU
As Limitações das intervenções humanitárias da ONU
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
127<br />
mostre que é possível mu<strong>da</strong>r a forma como vivem”. Ou seja, talvez<br />
uma melhora nas condições de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong> população, ain<strong>da</strong> que imposta<br />
externamente e a altos custos, possa vencer o ceticismo local e<br />
mostrar que é possível viver de forma mais digna. Essa mu<strong>da</strong>nça<br />
positiva poderia incutir nos haitianos uma forte deman<strong>da</strong> pela<br />
sustentabili<strong>da</strong>de e pela ampliação de programas de desenvolvimento,<br />
o que geraria uma maior pressão sobre o governo para que este<br />
cumpra, de fato, as ativi<strong>da</strong>des que lhe são delega<strong><strong>da</strong>s</strong> pela<br />
Constituição. Essa é uma visão bastante otimista, mas não<br />
improvável de acontecer.<br />
A corrupção e a ineficiência do governo são, certamente,<br />
os maiores obstáculos à transformação do Haiti em um país<br />
autônomo e funcional. Historicamente, existem poucos precedentes<br />
de consenso político e priorização do público sobre o privado. Via de<br />
regra, seus líderes têm se engajado mais em aumentar os próprios<br />
poder e riqueza do que perseguir objetivos políticos que beneficiem a<br />
população. E é clara a necessi<strong>da</strong>de de colaboração do governo<br />
nacional com os esforços internacionais para que as conquistas não<br />
sejam passageiras. O país precisa de líderes decentes e honestos para<br />
poder se libertar <strong>da</strong> dependência crônica em que se encontra<br />
atualmente.<br />
O atual presidente do Haiti, Michel Martelly, não inspira a<br />
confiança de um grande líder. O que mais preocupa, além de sua<br />
inexperiência política, são suas conheci<strong><strong>da</strong>s</strong> ligações com o governo<br />
passado de Jean-Claude Duvalier, o Baby Doc. Muitos têm<br />
questionado o caráter do novo presidente pelo comportamento imoral<br />
<strong><strong>da</strong>s</strong> últimas déca<strong><strong>da</strong>s</strong> e por suas músicas que frequentemente teciam<br />
comentários depreciativos sobre as mulheres (SPRAGUE, 2011). A<br />
mais grave <strong><strong>da</strong>s</strong> acusações, entretanto, é a de apoio ao regime de<br />
Duvalier. Durante o governo de Baby Doc, Michel Martelly<br />
administrava um clube noturno freqüentado pelos tonton macoutes<br />
do ditador, e foi um importante opositor do Lavalas e de Aristide,<br />
atacando-o nas letras de suas músicas famosas. Mais recentemente, o<br />
recém-eleito Martelly declarou ao jornal canadense La Presse que<br />
pensava em conceder anistia a Duvalier e a Aristide, para que todos<br />
aqueles que foram prejudicados por eles no passado percebessem a<br />
necessi<strong>da</strong>de de reconciliação (MARISSAL, 2011). Esse<br />
posicionamento é preocupante, mesmo porque a mensagem que<br />
passaria à população não seria de reconciliação, e sim de<br />
impuni<strong>da</strong>de. Além disso, ele parece colocar em pé de igual<strong>da</strong>de os