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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MONTES CLAROS<br />

Centro <strong>de</strong> Ciências H<strong>um</strong>anas - CCH/Depto. <strong>de</strong> História<br />

Núcleo <strong>de</strong> História e Cultura Regional<br />

Pós-graduação em História do Brasil<br />

Júlio César Gue<strong>de</strong>s Antunes<br />

DERROTANDO O INIMIGO:<br />

UM ESTUDO DA CAMPANHA DE BOMBARDEIO<br />

ESTRATÉGICO DA 20ª FORÇA AÉREA DOS EUA CONTRA<br />

O JAPÃO EM 1944 – 1945<br />

Montes Claros – MG<br />

Abril / 2010


Júlio César Gue<strong>de</strong>s Antunes<br />

DERROTANDO O INIMIGO:<br />

UM ESTUDO DA CAMPANHA DE BOMBARDEIO ESTRATÉGICO DA<br />

20ª FORÇA AÉREA DOS EUA CONTRA O JAPÃO EM 1944 – 1945<br />

Monografia apresenta<strong>da</strong> ao Curso <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em História, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Montes Claros, como exigência<br />

para obtenção do grau <strong>de</strong> Especialista em<br />

História do Brasil.<br />

Orientador: Prof. Msc. César Henrique <strong>de</strong><br />

Queiroz Porto.<br />

Montes Claros – MG<br />

Abril / 2010


Júlio César Gue<strong>de</strong>s Antunes<br />

DERROTANDO O INIMIGO:<br />

UM ESTUDO DA CAMPANHA DE BOMBARDEIO ESTRATÉGICO DA<br />

20ª FORÇA AÉREA DOS EUA CONTRA O JAPÃO EM 1944 – 1945<br />

Orientador: Prof. Msc. César Henrique <strong>de</strong> Queiroz Porto<br />

Membros:<br />

Monografia apresenta<strong>da</strong> ao Curso <strong>de</strong> Pós-<br />

Graduação em História, <strong>da</strong> Universi<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

Estadual <strong>de</strong> Montes Claros, como exigência<br />

para obtenção do grau <strong>de</strong> Especialista em<br />

História do Brasil.<br />

_________________________________________<br />

Profa. Dsc. Simone Narciso Lessa<br />

_________________________________________<br />

Prof. Msc. Roberto Men<strong>de</strong>s Ramos Pereira<br />

Montes Claros – MG<br />

Abril / 2010


DEDICATÓRIA<br />

Para Jim, Maurie, Ben e Jerry,<br />

por todo o incentivo e serviços durante a <strong>campanha</strong>.<br />

To Jim, Maurie, Ben and Jerry,<br />

for all the incentive and services during the campaign.


AGRADECIMENTOS<br />

Ao Prof. César Henrique pelo apoio e orientação, indispensáveis para a conclusão do trabalho.<br />

Aos Profs. Simone Lessa e Roberto Men<strong>de</strong>s pela disposição em participar <strong>da</strong> banca <strong>de</strong><br />

aprovação.<br />

Agra<strong>de</strong>ço à minha família, namora<strong>da</strong> e amigos, pela paciência e suporte incondicional.<br />

Por fim, agra<strong>de</strong>ço a Deus por tudo que me <strong>de</strong>u e pelas bênçãos que me conce<strong>de</strong>.


EPÍGRAFE<br />

Enquanto as táticas são aperfeiçoa<strong>da</strong>s e o ritmo dos<br />

ataques é a<strong>um</strong>entado, o B-29, em números ca<strong>da</strong> vez<br />

maiores, através <strong>de</strong> qualquer tipo <strong>de</strong> clima, dia e<br />

noite, atacará o coração do Império Japonês.<br />

(General Curtis Emerson LeMay)


RESUMO<br />

Este é <strong>um</strong> <strong>estudo</strong> <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico realiza<strong>da</strong> pela 20ª Força Aérea dos<br />

Estados Unidos contra o Império do Japão entre 1944 e 1945, durante a Segun<strong>da</strong> Guerra<br />

Mundial. Esta <strong>campanha</strong>, que utilizou como vetor único o Boeing B-29 Superfortress, atingiu,<br />

ao fim <strong>da</strong> guerra, a virtual <strong>de</strong>struição completa <strong>da</strong>s áreas industriais urbanas japonesas e a<br />

infra-estrutura do país, culminando nos bombar<strong>de</strong>ios atômicos <strong>de</strong> Hiroshima e Nagasaki. O<br />

tema pesquisado foi dividido em tópicos, selecionados <strong>de</strong> acordo com sua importância<br />

singular para compor o conjunto <strong>de</strong> fatores que levou à rendição do Japão em agosto <strong>de</strong> 1945.<br />

Contou-se com o apoio <strong>de</strong> veteranos norte-americanos <strong>da</strong> <strong>campanha</strong>, pilotos <strong>de</strong> B-29 e caças<br />

P-51, que ce<strong>de</strong>ram <strong>de</strong>poimentos, indicaram fontes e forneceram material fotográfico <strong>de</strong> suas<br />

coleções pessoais.<br />

Palavras-chave: Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. História Militar. Aviação.


ABSTRACT<br />

This is a study of the strategic bombing campaign carried out by the US 20 th Air Force against<br />

the Japanese Empire in 1944 and 1945, during World War II. This campaign, which ma<strong>de</strong> use<br />

singly of the Boeing B-29 Superfortress, attained, at the end of the war, the virtual complete<br />

<strong>de</strong>struction of the Japanese industrial urban areas and the country’s infrastructure, culminating<br />

in the atomic bombings of Hiroshima and Nagasaki. The researched theme was split into<br />

topics, selected according to its singular importance in the chain of events that led to the<br />

Japanese surren<strong>de</strong>r of August, 1945. Support was given by American veterans of the<br />

campaign, B-29 and P-51 fighter plane pilots, who gave testimonies, indicated research<br />

sources and provi<strong>de</strong>d photographic material from their personal collections.<br />

Keywords: World War II. Military History. Aviation.


SUMÁRIO<br />

DEDICATÓRIA .......................................................................................................................4<br />

AGRADECIMENTOS .............................................................................................................5<br />

EPÍGRAFE ...............................................................................................................................6<br />

RESUMO...................................................................................................................................7<br />

ABSTRACT ..............................................................................................................................8<br />

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................9<br />

CAPÍTULO 1 ..........................................................................................................................11<br />

O Japão e a Guerra no Pacífico ............................................................................................11<br />

Boeing B-29 Superfortress ...................................................................................................19<br />

CAPÍTULO 2 ..........................................................................................................................26<br />

Operações na Índia e China..................................................................................................26<br />

Operações nas Ilhas Marianas ..............................................................................................33<br />

CAPÍTULO 3 ..........................................................................................................................37<br />

O bombar<strong>de</strong>io incendiário ....................................................................................................37<br />

Escolta <strong>de</strong> caças....................................................................................................................46<br />

Minagem <strong>da</strong>s águas japonesas..............................................................................................50<br />

As missões atômicas.............................................................................................................57<br />

CONCLUSÃO.........................................................................................................................64<br />

REFERÊNCIAS .....................................................................................................................67<br />

APÊNDICE A .........................................................................................................................70<br />

APÊNDICE B..........................................................................................................................77<br />

ANEXO A................................................................................................................................78<br />

ANEXO B ................................................................................................................................83<br />

ANEXO C................................................................................................................................84


INTRODUÇÃO<br />

A Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial permanece como o maior conflito armado <strong>da</strong> história<br />

h<strong>um</strong>ana e como o evento que <strong>de</strong>finiu o século XX. Seus efeitos são sentidos em nossa<br />

geopolítica ain<strong>da</strong> hoje, e sua importância como ponto focal <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento tecnológico é<br />

inegável.<br />

Contudo, ain<strong>da</strong> há enganos populares sobre o que levou ao fim <strong>da</strong>quele conflito. O que<br />

levou o Japão, a última <strong>da</strong>s potências do Eixo, a pedir a rendição em agosto <strong>de</strong> 1945?<br />

Com<strong>um</strong>ente, acredita-se que a arma mais revolucionária do último século, a bomba atômica,<br />

tenha sido a única responsável por ter colocado o Império Japonês na posição <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotado. A<br />

ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, entretanto, é bem mais complexa.<br />

To<strong>da</strong> <strong>um</strong>a conjuntura <strong>de</strong> fatores levou os japoneses a se ren<strong>de</strong>rem – e as bombas<br />

atômicas foram somente <strong>um</strong> <strong>de</strong>sses fatores. Uma prolonga<strong>da</strong> ofensiva <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io <strong>da</strong>s<br />

áreas industriais urbanas do Japão já acontecia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o fim <strong>de</strong> 1944, sua vital navegação<br />

comercial fora dizima<strong>da</strong>, e havia a pressão internacional constante, que a ca<strong>da</strong> dia agremiava<br />

mais forças no Teatro <strong>de</strong> Operações do Pacífico.<br />

A escolha por tratar <strong>de</strong>sse tema – a Campanha <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io Estratégico <strong>da</strong> 20ª<br />

Força Aérea dos EUA contra o Japão – baseia-se na hipótese <strong>de</strong> que foi esse o fator maior que<br />

finalmente levou o Japão a assinar os termos <strong>de</strong> rendição. Além disso, o incentivo pessoal por<br />

parte <strong>de</strong> veteranos norte-americanos que participaram <strong>da</strong>quela <strong>campanha</strong> foi outro gran<strong>de</strong><br />

fator que favoreceu a escolha <strong>da</strong> temática. Por fim, havia também o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> jogar luz sobre<br />

<strong>um</strong> tema pouco explorado pela literatura nacional.<br />

A pesquisa fez uso <strong>de</strong> consultoria e <strong>de</strong>poimentos pessoais, obtidos via e-mail, dos<br />

veteranos americanos Jim Pattillo, resi<strong>de</strong>nte na Califórnia, Maurie Ashland, resi<strong>de</strong>nte no<br />

Novo México, Ben Nicks, resi<strong>de</strong>nte no Kansas – todos pilotos <strong>de</strong> B-29 – e Jerry Yellin,<br />

resi<strong>de</strong>nte na Flóri<strong>da</strong>, piloto <strong>de</strong> caça P-51 que escoltou os B-29s até o Japão em 1945. Faz-se<br />

ressaltar a importância vital <strong>da</strong> internet para o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>da</strong> pesquisa, visto que as<br />

distâncias geográficas e lentidão dos meios <strong>de</strong> comunicação tradicionais impossibilitariam a<br />

utilização efetiva <strong>de</strong>ssas fontes.<br />

A bibliografia utiliza<strong>da</strong> foi essencialmente especialista no tema: para discutir o<br />

histórico japonês e as primeiras fases <strong>da</strong> guerra no Pacífico, foi utilizado “The Second World<br />

War: The Pacific”, <strong>de</strong> David Horner, no primeiro capítulo; para discutir o B-29 e suas<br />

operações durante a guerra, “B-29 Superfortress Units of World War 2” <strong>de</strong> Robert Dorr foi<br />

essencial; para pesquisar a <strong>de</strong>fesa aérea japonesa, foi utilizado o excelente “B-29 Hunters of<br />

9


the JAAF” <strong>de</strong> Koji Takaki e Henry Sakai<strong>da</strong>; o <strong>estudo</strong> dos bombar<strong>de</strong>iros incendiários e <strong>da</strong>s<br />

operações <strong>de</strong> minagem foi baseado em relatórios governamentais dos EUA, “Analysis of<br />

Incendiary Phase of Operations: 9-19 March 1945” e “Lessons from an Aerial Mining<br />

Campaign: Operation Starvation”; por fim, a discussão sobre a escolta <strong>de</strong> caças baseou-se em<br />

“Very Long Range P-51 Mustang Units of the Pacific War”, <strong>de</strong> Carl Molesworth.<br />

Metodologicamente, foi feita a escolha por dividir o texto em três capítulos, para<br />

melhor estruturar a linha do tempo e a ambientação. No primeiro capítulo, foi feito <strong>um</strong><br />

histórico <strong>da</strong> política expansionista japonesa <strong>de</strong>s<strong>de</strong> começo <strong>da</strong> era Meiji, culminando na<br />

Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial; foi também elaborado <strong>um</strong> histórico <strong>de</strong> criação <strong>da</strong> aeronave que é a<br />

principal protagonista <strong>de</strong>ste trabalho, o Boeing B-29 Superfortress. A razão pela qual foi <strong>da</strong><strong>da</strong><br />

tal exclusivi<strong>da</strong><strong>de</strong> para essa aeronave fica clara com a leitura do texto.<br />

O segundo capítulo trata <strong>da</strong> primeira fase <strong>de</strong> operações do B-29 na Índia e nas Ilhas<br />

Marianas. Essa fase se distingue <strong>da</strong> posterior por ter se tratado <strong>de</strong> <strong>um</strong> período <strong>de</strong> poucos<br />

sucessos para os americanos. Dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> logística, problemas técnicos com a aeronave,<br />

táticas <strong>de</strong> ataque equivoca<strong>da</strong>s e o clima <strong>da</strong> região apresentaram-se como <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio<br />

gigantesco para a obtenção <strong>de</strong> resultados efetivos.<br />

Por fim, o terceiro capítulo discorre sobre a consoli<strong>da</strong>ção <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io<br />

estratégico, a partir <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945. Experimentos com munição incendiária contra gran<strong>de</strong>s<br />

áreas industriais urbanas e o número crescente <strong>de</strong> B-29s disponíveis – que a partir <strong>de</strong> abril <strong>de</strong><br />

1945 passaram a contar com escolta <strong>de</strong> caças – fez com que a ofensiva finalmente se<br />

solidificasse, iniciando o processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição do Japão. Além disso, as águas costeiras<br />

japonesas foram extensivamente mina<strong>da</strong>s pelos B-29s, virtualmente paralisando a navegação<br />

mercante do país. Concluindo, foi feito <strong>um</strong> histórico do programa <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> armas<br />

atômicas nos EUA, que resultou nos bombar<strong>de</strong>ios <strong>de</strong> Hiroshima e Nagasaki em agosto <strong>de</strong><br />

1945.<br />

Há também apêndices e anexos que visam complementar o entendimento do trabalho.<br />

Espera-se que este <strong>estudo</strong> possa aju<strong>da</strong>r a esclarecer <strong>um</strong> mal-entendido histórico que<br />

ain<strong>da</strong> permanece bastante difundido, e que infelizmente colabora para <strong>um</strong>a visão errônea dos<br />

acontecimentos que cercaram os últimos meses <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial.<br />

10


CAPÍTULO 1<br />

O Japão e a Guerra no Pacífico<br />

O ano <strong>de</strong> 1853 marcou a aproximação, na baía <strong>de</strong> Tóquio, <strong>de</strong> <strong>um</strong>a esquadra <strong>de</strong> quatro<br />

navios <strong>de</strong> guerra <strong>de</strong> ban<strong>de</strong>ira norte-americana. Seu coman<strong>da</strong>nte, o Comodoro Matthew Perry,<br />

tinha a missão <strong>de</strong> conseguir <strong>um</strong> tratado <strong>de</strong> comércio com o Japão, que encontrava-se isolado<br />

do mundo exterior por mais <strong>de</strong> 200 anos. As negociações inicia<strong>da</strong>s por Perry resultaram em<br />

<strong>um</strong> acordo comercial entre EUA e Japão. Tratados semelhantes se seguiram com Rússia,<br />

Inglaterra, França e outros países.<br />

Segundo Horner (2002), po<strong>de</strong>mos traçar as origens <strong>da</strong> Guerra do Pacífico 1 à<br />

emergência do Japão após a abertura <strong>de</strong> seus portos. Com a que<strong>da</strong> dos senhores feu<strong>da</strong>is em<br />

1868, o novo Imperador anunciou a política <strong>de</strong> buscar conhecimento <strong>de</strong> todo o mundo, e<br />

mo<strong>de</strong>rnizar o Japão. Tal mo<strong>de</strong>rnização incluía, inevitavelmente, suas forças militares.<br />

Cientes <strong>de</strong> sua vulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> – já que o Japão era pobre em matérias-primas que<br />

pu<strong>de</strong>ssem sustentá-lo como potência – os japoneses seguiram os passos <strong>da</strong>s potências<br />

européias, que tinham estabelecido colônias na área <strong>da</strong> Ásia-Pacífico. Construindo <strong>um</strong><br />

exército mo<strong>de</strong>rno e <strong>um</strong>a marinha em franca expansão, os japoneses iniciaram em 1894 <strong>um</strong>a<br />

guerra contra a China pelo controle <strong>da</strong> península <strong>da</strong> Coreia. No ano seguinte, a China ce<strong>de</strong>u<br />

Taiwan para o Império Japonês que, <strong>de</strong>ssa forma, conseguiu assegurar fontes <strong>de</strong> matérias-<br />

primas e mercados para seus bens industrializados (HORNER, 2002).<br />

Contudo, após os Estados Unidos tomarem controle <strong>da</strong>s Filipinas em 1898 2 , e as<br />

potências européias estabelecerem políticas diferentes para nações asiáticas, o Japão viu-se<br />

<strong>de</strong>terminado a ganhar controle <strong>da</strong>s áreas que acreditava serem vitais para sua sobrevivência<br />

econômica. Isso levou ao bloqueio <strong>de</strong> Port Arthur, na península <strong>de</strong> Liaotung, na Manchúria,<br />

em 1904. Os russos, que tinham a área sob sua influência, reagiram ao bloqueio e entraram<br />

em confronto com as forças japonesas, resultando na Guerra Russo-Japonesa <strong>de</strong> 1904-1905.<br />

Os japoneses venceram, n<strong>um</strong>a batalha naval, a esquadra russa envia<strong>da</strong> para liberar Port Arthur<br />

e, pela primeira vez na história, <strong>um</strong>a nação asiática <strong>de</strong>rrotou <strong>um</strong>a nação européia.<br />

De acordo com Horner (2002), o prestígio ganho com a vitória sobre a Rússia ajudou<br />

na obtenção <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s concessões durante a Primeira Guerra Mundial. A altíssima <strong>de</strong>man<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong> produtos industrializados na Europa fez com que a indústria japonesa se expandisse, e o<br />

1 “Guerra do Pacífico” é o nome <strong>da</strong>do à parte <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial luta<strong>da</strong> na área geográfica do Oceano<br />

Pacífico e Su<strong>de</strong>ste <strong>da</strong> Ásia, caracteriza<strong>da</strong> pelo embate entre americanos e japoneses.<br />

2 Os EUA tomaram o controle <strong>da</strong>s Filipinas após sua vitória na Guerra Hispano-Americana <strong>de</strong> 1898.<br />

11


Japão construiu sua própria marinha mercante. Após o fim do conflito em 1918, o Japão<br />

tomou posse <strong>da</strong>s ex-colônias alemãs no Pacífico.<br />

Com a consoli<strong>da</strong>ção <strong>de</strong> seu status <strong>de</strong> maior potência do Pacífico, o Japão levantou<br />

preocupações na Grã-Bretanha e EUA. Estes tomaram providências para fortificar suas<br />

possessões na área, e acordos bilaterais limitaram o tamanho <strong>da</strong>s marinhas, bem como o<br />

tamanho máximo <strong>de</strong> suas naus-capitais 3 .<br />

Contudo, os diversos terremotos ocorridos na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1920 trouxeram gran<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>struição ao parque industrial japonês, e a Gran<strong>de</strong> Depressão inicia<strong>da</strong> em 1929 levou a<br />

<strong>de</strong>missões generaliza<strong>da</strong>s no país. O estado <strong>de</strong> insatisfação popular abriu espaço para grupos<br />

militantes nacionalistas – a guisa do que aconteceu na Itália e na Alemanha – muitas vezes<br />

li<strong>de</strong>rados por jovens oficiais do Exército Imperial. A crença <strong>de</strong> que o Japão era superior e,<br />

portanto, <strong>de</strong>veria conquistar <strong>um</strong>a área <strong>de</strong> influência à altura, foi reforça<strong>da</strong> entre a população<br />

(HORNER, 2002).<br />

Um dos nichos <strong>de</strong>sse novo pensamento era justamente o Exército <strong>de</strong> Kwantung 4 , na<br />

Manchúria. Em 18 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1931, oficiais do Exército <strong>de</strong> Kwantung levantaram falsas<br />

acusações <strong>de</strong> sabotagem chinesa <strong>de</strong> suas ferrovias – foi a <strong>de</strong>sculpa perfeita para que os<br />

japoneses atacassem as forças chinesas na Manchúria, que logo foram venci<strong>da</strong>s e permitiram<br />

que o Japão fun<strong>da</strong>sse a nação-fantoche <strong>de</strong> Manchukuo.<br />

O Japão seguia <strong>um</strong>a estratégia-geral <strong>de</strong> expansão para <strong>de</strong>ntro do rico território chinês.<br />

Contudo, o governo <strong>de</strong> Chiang Kai-Shek recebia apoio <strong>da</strong> União Soviética, que também era o<br />

principal aliado <strong>da</strong> Mongólia, nas fronteiras oci<strong>de</strong>ntais <strong>da</strong> Manchúria. Em claro <strong>de</strong>safio aos<br />

soviéticos, o Japão assinou em 1936 o Pacto Anti-Comintern com Alemanha e Itália<br />

(HORNER, 2002).<br />

Em 1937, Chiang Kai-Shek <strong>de</strong>cidiu não mais ser complacente com as provocações<br />

japonesas, e or<strong>de</strong>nou o ataque a <strong>um</strong> <strong>de</strong>stacamento japonês em manobras perto <strong>de</strong> Pequim.<br />

Dessa forma, teve início a Guerra Sino-Japonesa, que levaria as tropas do Exército Imperial a<br />

rápi<strong>da</strong>s vitórias em território chinês, bem como carnificinas contra a população civil chinesa,<br />

a exemplo do Estupro <strong>de</strong> Nanking 5 em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1937.<br />

3<br />

Nau-Capital é o navio <strong>de</strong> guerra mais importante <strong>de</strong> <strong>um</strong>a marinha. Normalmente é aquele que tem mais<br />

blin<strong>da</strong>gem e po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo.<br />

4<br />

Foi <strong>um</strong>a seção do Exército Imperial Japonês responsável pela ocupação militar <strong>da</strong> Manchúria. Eventualmente<br />

tornou-se seu maior e mais prestigioso comando.<br />

5<br />

Período <strong>de</strong> seis semanas que se seguiu à conquista japonesa <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> chinesa <strong>de</strong> Nanking, no qual centenas <strong>de</strong><br />

milhares <strong>de</strong> civis foram massacrados e <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong> mulheres foram estupra<strong>da</strong>s.<br />

12


Ilustração 1 - Sol<strong>da</strong>dos japoneses vitoriosos após a conquista <strong>de</strong> Shanghai, novembro <strong>de</strong> 1937.<br />

(HORNER: 2002, p.15)<br />

A impressionante sequência <strong>de</strong> vitórias fez com que o Japão <strong>de</strong>clarasse que seu<br />

objetivo nacional era criar <strong>um</strong>a “Esfera <strong>de</strong> Co-Prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> do Gran<strong>de</strong> Leste Asiático” – que<br />

na ver<strong>da</strong><strong>de</strong> significava que os países asiáticos fossem subservientes ao Japão, fornecendo-lhe<br />

matérias-primas e mercados (HORNER, 2002).<br />

O apoio <strong>da</strong> União Soviética aos chineses provocou diversos inci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> fronteira<br />

entre japoneses e soviéticos. Estes inci<strong>de</strong>ntes escalaram e culminaram quando o Exército <strong>de</strong><br />

Kwantung cruzou a fronteira <strong>da</strong> Mongólia em julho <strong>de</strong> 1939. Contudo, os soviéticos<br />

rapi<strong>da</strong>mente montaram <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> contra-ofensiva blin<strong>da</strong><strong>da</strong>, que <strong>de</strong>struiu as forças <strong>de</strong> ataque<br />

japonesas e causaram-lhes 18.000 baixas. O choque do Alto-Comando em Tóquio somente<br />

a<strong>um</strong>entou quando chegaram notícias <strong>da</strong> assinatura do Pacto <strong>de</strong> Não-Agressão Germano-<br />

Soviético no fim <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1939. O Japão rapi<strong>da</strong>mente assinou <strong>um</strong> cessar-fogo com os<br />

soviéticos na Mongólia, o que evoluiu, no ano seguinte, para <strong>um</strong> Pacto <strong>de</strong> Não-Agressão.<br />

Segundo Horner (2002), a partir <strong>de</strong>ste ponto há <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça brusca <strong>de</strong> orientação na<br />

gran<strong>de</strong> estratégia do Japão 6 . O mal-sucedido encontro com forças blin<strong>da</strong><strong>da</strong>s soviéticas nas<br />

6 Ver o Apêndice A “Estratégia Geopolítica Japonesa 1905-1941: A escolha dos objetivos imperiais na Ásia e no<br />

Pacífico”.<br />

13


planícies mongóis revelou-lhes <strong>um</strong>a falha na doutrina <strong>de</strong> emprego <strong>de</strong> blin<strong>da</strong>dos no Exército<br />

Imperial: a maneira como os soviéticos – na pessoa do General Georgi Zhukov – utilizaram<br />

tanques n<strong>um</strong> movimento fluído em forma <strong>de</strong> pinça para cortar e dividir as tropas japonesas<br />

era-lhes <strong>um</strong>a completa novi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sem saber como reagir <strong>de</strong> imediato a esses novos fatores, os<br />

japoneses voltaram sua atenção para o Pacífico Sul, que possuía áreas ricas nos recursos que<br />

necessitava para ampliar seu domínio regional.<br />

Para conquistar tal área – composta <strong>de</strong> n<strong>um</strong>erosos conjuntos <strong>de</strong> ilhas – a Marinha<br />

Imperial passaria a representar o papel <strong>de</strong> protagonista. Nessas condições – e acompanhando<br />

os acontecimentos na Europa – em setembro <strong>de</strong> 1940 o Japão assinou o Pacto Tripartite com<br />

Alemanha e Itália. Em julho <strong>de</strong> 1941, os EUA congelaram os ativos japoneses e impuseram<br />

<strong>um</strong> embargo comercial ao país, como forma <strong>de</strong> pressionar o Japão a retirar-se <strong>da</strong> China.<br />

Contudo, o novo governo do Primeiro-Ministro Hi<strong>de</strong>ki Tojo não estava disposto a concor<strong>da</strong>r<br />

com os termos norte-americanos para suspensão do embargo, e calculou que teria <strong>de</strong> agir<br />

rápido para tomar as importantes áreas do Pacífico Sul e assegurar sua área <strong>de</strong> influência<br />

(HORNER, 2002).<br />

Ilustração 2 - General Hi<strong>de</strong>ki Tojo e Almirante Isoroku Yamamoto<br />

(COOX: 1977, p.10) (HORNER: 2002, p.26)<br />

14


O responsável por divisar os métodos <strong>de</strong> ataque para o plano <strong>de</strong> Tojo foi o Almirante<br />

Isoroku Yamamoto. Apoiando-se, <strong>de</strong> maneira visionária, no uso primordial <strong>de</strong> porta-aviões ao<br />

invés <strong>de</strong> couraçados 7 como peças centrais <strong>da</strong>s forças-tarefa navais 8 , Yamamoto percebeu que<br />

<strong>de</strong>veria executar <strong>um</strong> golpe <strong>de</strong>finitivo na Marinha Norte-Americana basea<strong>da</strong> no Havaí – que<br />

ele corretamente pres<strong>um</strong>iu ser a única força que po<strong>de</strong>ria opor-lhe resistência séria – antes <strong>de</strong><br />

iniciar qualquer ação ofensiva no Pacífico.<br />

O ataque à base naval norte-americana em Pearl Harbor foi executado na manhã <strong>de</strong> 7<br />

<strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1941. Utilizando <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 359 aeronaves, basea<strong>da</strong>s em seis porta-aviões 9 ,<br />

os japoneses atingiram <strong>um</strong> resultado espantosamente positivo: com a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> apenas 29<br />

aviões, eles afun<strong>da</strong>ram seis couraçados americanos, e <strong>da</strong>nificaram outros dois; além disso,<br />

afun<strong>da</strong>ram ou <strong>de</strong>struíram três <strong>de</strong>stróieres, três cruzadores leves e outros quatro navios.<br />

Entretanto, o ataque falhou em <strong>de</strong>struir os <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> combustível <strong>da</strong> Marinha Norte-<br />

Americana, bem como seus três porta-aviões 10 , que estavam em missão no Pacífico<br />

(HORNER, 2002).<br />

A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> em Pearl Harbor, to<strong>da</strong>via, impediu qualquer ação imediata <strong>da</strong><br />

Marinha dos EUA no Pacífico, <strong>da</strong>ndo aos japoneses a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> necessária para atacar<br />

quaisquer objetivos <strong>de</strong>sejassem. Dessa forma, a Marinha Imperial rapi<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>sembarcou<br />

contingentes <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>dos na Malásia, Tailândia, Filipinas, Hong Kong e nas ilhas <strong>de</strong> Guam e<br />

Wake. As conquistas culminaram com a que<strong>da</strong> <strong>da</strong> fortaleza britânica em Singapura, no dia 15<br />

<strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1942, e <strong>da</strong> última resistência norte-americana em Corregidor, nas Filipinas,<br />

em 6 <strong>de</strong> maio do mesmo ano.<br />

Para elevar o moral <strong>da</strong> população civil e levar a guerra ao território japonês, os<br />

americanos executaram, no dia 18 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1942, <strong>um</strong> arriscado ataque, utilizando-se <strong>de</strong> 16<br />

bombar<strong>de</strong>iros B-25 que <strong>de</strong>colaram do convés do porta-aviões USS Hornet, prosseguindo em<br />

direção a Tóquio e lá <strong>de</strong>spejando <strong>um</strong>a ínfima carga <strong>de</strong> bombas. De acordo com Horner<br />

(2002), o objetivo do ataque não era material, mas sim psicológico – mostrara aos japoneses<br />

que seu território não era inviolável.<br />

Yamamoto estava convencido <strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria tomar as bases norte-americanas em Port<br />

Moresby, na Nova Guiné, e moveu para lá <strong>um</strong>a força-tarefa naval, que encontrou forças<br />

navais americanas no Mar <strong>de</strong> Coral, na noite <strong>de</strong> 7 para 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1942. No combate<br />

7 Gran<strong>de</strong> navio <strong>de</strong> guerra blin<strong>da</strong>do com baterias principais <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> alto calibre.<br />

8 Formação <strong>de</strong> navios <strong>de</strong> diferentes classes e comandos, com o objetivo <strong>de</strong> c<strong>um</strong>prir <strong>um</strong>a tarefa específica. Uma<br />

força-tarefa po<strong>de</strong> ser facilmente dissolvi<strong>da</strong> após o c<strong>um</strong>primento <strong>de</strong> seu propósito.<br />

9 Akagi, Kaga, Soryu, Hiryu, Shokaku, Zuikaku.<br />

10 USS Enterprise, USS Lexington, USS Saratoga.<br />

15


noturno que se seguiu, os americanos per<strong>de</strong>ram o porta-aviões USS Lexington, e os japoneses<br />

per<strong>de</strong>ram o porta-aviões Shoho. O empate <strong>da</strong> batalha sugeria que <strong>um</strong> encontro <strong>de</strong>cisivo entre<br />

as duas frotas <strong>de</strong>veria acontecer para <strong>de</strong>cidir qual seria o po<strong>de</strong>r naval dominante <strong>da</strong> área do<br />

Pacífico. Yamamoto <strong>de</strong>sejava provocar tal encontro ao atacar a ilha <strong>de</strong> Midway, localiza<strong>da</strong> no<br />

centro do Pacífico, a meia distância entre Japão e Havaí.<br />

O novo coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> Frota Americana do Pacífico, Almirante Chester Nimitz,<br />

estava <strong>de</strong>cidido a <strong>de</strong>scobrir on<strong>de</strong> se <strong>da</strong>ria o próximo ataque <strong>de</strong> Yamamoto. Os americanos já<br />

haviam <strong>de</strong>cifrado, há alguns anos, os códigos navais japoneses, e Nimitz soube que a principal<br />

força-tarefa <strong>de</strong> porta-aviões se dirigia a Midway. O ataque japonês começou em 4 <strong>de</strong> junho,<br />

com <strong>um</strong> ataque aéreo concentrado às <strong>de</strong>fesas americanas em terra. O coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> força-<br />

tarefa japonesa, Almirante Chuichi Nag<strong>um</strong>o, não esperava encontrar porta-aviões americanos<br />

<strong>de</strong>fen<strong>de</strong>ndo a ilha. Contudo, sob a li<strong>de</strong>rança do Almirante Raymond Spruance, três porta-<br />

aviões americanos, USS Hornet, USS Enterprise e USS Yorktown, se juntaram à batalha<br />

(HORNER, 2002).<br />

Ilustração 3 - Porta-aviões japonês Hiryu sob ataque norte-americano na Batalha <strong>de</strong> Midway, em junho <strong>de</strong><br />

1942. (BOYNE: 2009, p.3)<br />

Pegos <strong>de</strong> surpresa pelas aeronaves dos porta-aviões americanos, os japoneses<br />

per<strong>de</strong>ram os quatro porta-aviões <strong>da</strong> força-tarefa: Akagi, Kaga, Soryu e Hiryu. Esta primeira<br />

<strong>de</strong>rrota <strong>de</strong>cisiva fez com que os japoneses postergassem planos <strong>de</strong> conquista <strong>de</strong> novos<br />

territórios, colocassem ênfase na conquista <strong>de</strong> Port Moresby e se mantivessem ao que já<br />

tinham conseguido. Disse Winston Churchill sobre a batalha:<br />

16


O último dos quatro porta-aviões <strong>da</strong> esquadra <strong>de</strong> Nag<strong>um</strong>o estava <strong>de</strong>struído e,<br />

juntamente com eles, per<strong>de</strong>ram-se to<strong>da</strong>s as tripulações altamente treina<strong>da</strong>s. Elas<br />

nunca mais po<strong>de</strong>riam ser substituí<strong>da</strong>s. Assim terminou a batalha <strong>de</strong> 4 <strong>de</strong> junho,<br />

justifica<strong>da</strong>mente consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> o ponto <strong>de</strong> inflexão <strong>da</strong> guerra no Pacífico.<br />

(CHURCHILL: 2005, p.640)<br />

A primeira ofensiva anfíbia norte-americana no Pacífico aconteceu na Nova Guiné,<br />

exatamente para conter <strong>um</strong>a ofensiva japonesa contra a base <strong>de</strong> Port Moresby. A ação girou<br />

em torno <strong>da</strong> captura <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> Gua<strong>da</strong>lcanal, on<strong>de</strong> os japoneses construíam <strong>um</strong>a pista <strong>de</strong><br />

pouso. Os primeiros fuzileiros navais norte-americanos <strong>de</strong>sembarcaram em Gua<strong>da</strong>lcanal em 7<br />

<strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1942. A sangrenta batalha durou até 9 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1943, sendo que os<br />

japoneses tiveram 24.000 sol<strong>da</strong>dos mortos.<br />

Segundo Horner (2002), neste ponto <strong>da</strong> guerra duas linhas ofensivas norte-americanas<br />

foram implementa<strong>da</strong>s simultaneamente no Pacífico: a recaptura <strong>da</strong> Nova Guiné e Ilhas<br />

Salomão, coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo General Douglas MacArthur, e os “saltos pelas ilhas” do Pacífico<br />

Central coman<strong>da</strong>dos pelo Almirante Chester Nimitz.<br />

Enquanto a recaptura <strong>da</strong> Nova Guiné e Ilhas Salomão tornou-se <strong>um</strong>a batalha<br />

extenuante através <strong>de</strong> <strong>um</strong> ambiente <strong>de</strong> selva, no qual os japoneses estavam bem-a<strong>da</strong>ptados e o<br />

progresso foi lento (mas constante), os “saltos pelas ilhas” miravam diretamente a abertura <strong>de</strong><br />

<strong>um</strong> caminho para ataque direto ao Japão, através <strong>da</strong> captura <strong>de</strong> ilhas-chave para a construção<br />

<strong>de</strong> plataformas <strong>de</strong> ataque.<br />

Os “saltos” foram iniciados pela invasão do atol <strong>de</strong> Tarawa, nas Ilhas Gilbert, em 20<br />

<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1943. A sangrenta batalha <strong>de</strong> cinco dias pelo minúsculo atol custou a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

1.000 fuzileiros navais norte-americanos e 5.000 sol<strong>da</strong>dos japoneses. Entretanto, o gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> baixas e as características <strong>de</strong> combate observa<strong>da</strong>s na ação foram toma<strong>da</strong>s como<br />

aprendizado para as próximas invasões (HORNER, 2002).<br />

A principal ofensiva realiza<strong>da</strong> por Nimitz em segui<strong>da</strong> foi a captura <strong>da</strong>s Ilhas<br />

Marianas 11 . Os japoneses haviam fortificado as três ilhas principais do arquipélago, Guam,<br />

Saipan e Tinian, construindo pistas <strong>de</strong> pouso e casamatas 12 . Essas três ilhas eram objetivos<br />

estratégicos <strong>de</strong> primeira gran<strong>de</strong>za, visto que suas pistas <strong>de</strong> pouso estavam a alcance <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>io do Japão.<br />

Nimitz havia agrupado <strong>um</strong>a força <strong>de</strong> invasão composta <strong>de</strong> 15 porta-aviões, 535 navios<br />

e 130.000 sol<strong>da</strong>dos. Os ataques aeronavais contra as Marianas começaram em 11 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong><br />

11 Ver Anexo B “Mapa do Teatro <strong>de</strong> Operações do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal”.<br />

12 Construções reforça<strong>da</strong>s com concreto armado, projeta<strong>da</strong>s para resistir a ataques <strong>de</strong> armas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> calibre ou<br />

bombar<strong>de</strong>io aeronaval. Também conheci<strong>da</strong>s como pelo termo alemão “bunker”.<br />

17


1944, e os primeiros <strong>de</strong>sembarques do 5º Corpo Anfíbio aconteceram no dia 15 em Saipan.<br />

As aeronaves japonesas basea<strong>da</strong>s no arquipélago atacaram a esquadra norte-americana a partir<br />

do dia 19, mas nessa altura eram totalmente ultrapassa<strong>da</strong>s pelos caças embarcados dos EUA.<br />

A batalha aérea que seguiu, que ficou conheci<strong>da</strong> entre os americanos como “A Gran<strong>de</strong> Caça<br />

aos Perus <strong>da</strong>s Marianas”, viu a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> 400 aeronaves japonesas contra somente 30<br />

per<strong>da</strong>s americanas (HORNER, 2002).<br />

Ilustração 4 - Alexan<strong>de</strong>r Vraciu, piloto <strong>de</strong> caça <strong>da</strong> Marinha dos EUA, comemora ter <strong>de</strong>rrubado 6<br />

aeronaves japonesas em 19 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944, durante a "Gran<strong>de</strong> Caça aos Perus <strong>da</strong>s Marianas".<br />

(TILLMAN: 1996, p.29)<br />

Sem esperanças <strong>de</strong> <strong>um</strong>a vitória convencional, os sol<strong>da</strong>dos japoneses passaram a<br />

realizar ataques suici<strong>da</strong>s, e muitos civis se suici<strong>da</strong>ram. A batalha por Saipan durou até 9 <strong>de</strong><br />

julho, e as baixas japonesas somaram 30.000 mortos. Guam e Tinian foram captura<strong>da</strong>s<br />

simultaneamente, e o resultado <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> foi o primeiro gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>sastre para o Alto-<br />

Comando Imperial.<br />

Segundo Horner (2002), imediatamente os engenheiros norte-americanos iniciaram a<br />

construção <strong>de</strong> gigantescas pistas <strong>de</strong> pouso – as maiores do mundo na época – para a operação<br />

sistemática do novo bombar<strong>de</strong>iro estratégico dos EUA: o Boeing B-29 Superfortress 13 .<br />

13 Para imagens, ver Anexo A “Boeing B-29 Superfortress”.<br />

18


Boeing B-29 Superfortress<br />

O Corpo Aéreo do Exército dos Estados Unidos emitiu, em fevereiro <strong>de</strong> 1940, <strong>um</strong><br />

requerimento para <strong>um</strong> bombar<strong>de</strong>iro capaz <strong>de</strong> voar a 640 km/h, levando 4 tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> bombas<br />

e com <strong>um</strong> alcance operacional <strong>de</strong> 8.500 quilômetros (BIRDSALL, 1980). To<strong>da</strong>s essas<br />

características, estabeleci<strong>da</strong>s <strong>de</strong>ntro dos parâmetros <strong>de</strong> <strong>um</strong>a guerra na região do Oceano<br />

Pacífico, formavam <strong>um</strong> <strong>de</strong>safio imponente para os fabricantes aeronáuticos norte-americanos.<br />

Contudo, segundo Davis (1997), quatro empresas submeteram propostas ao<br />

requerimento governamental:<br />

• Lockheed: propôs o XB-30, que era <strong>um</strong>a versão arma<strong>da</strong> do que eventualmente se<br />

tornaria o bem-sucedido avião comercial Constellation. A proposta <strong>da</strong> Lockheed<br />

nunca passou do estágio <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, embora <strong>um</strong> mo<strong>de</strong>lo em escala reduzi<strong>da</strong> tenha<br />

sido construído;<br />

• Douglas: propôs o XB-31, que também não passou <strong>da</strong> etapa <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho;<br />

• Consoli<strong>da</strong>ted: propôs o XB-32, que eventualmente entrou em produção como B-32<br />

Dominator em <strong>um</strong>a série limita<strong>da</strong> <strong>de</strong> 116 exemplares. Entrou em serviço nas últimas<br />

semanas <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, mas sempre foi tido como <strong>um</strong>a reserva, no caso<br />

do programa Superfortress falhar;<br />

• Boeing: propôs o XB-29, objeto <strong>de</strong> <strong>estudo</strong> <strong>de</strong>ste capítulo.<br />

A Boeing, empresa aeronáutica sedia<strong>da</strong> em Seattle, no noroeste dos Estados Unidos,<br />

tinha larga experiência na fabricação <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s aeronaves quadrimotoras. Alguns anos antes,<br />

ganhara <strong>um</strong> imenso contrato <strong>de</strong> produção para seu B-17 Flying Fortress – a “Fortaleza<br />

Voadora” – que viria a se tornar o principal vetor <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico<br />

contra a Alemanha Nazista e seus aliados na Europa. Sendo assim, ao receber os <strong>de</strong>talhes do<br />

requerimento, os engenheiros <strong>da</strong> Boeing se moveram com extrema ousadia para apresentar<br />

<strong>um</strong> projeto <strong>de</strong> quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s revolucionárias (DAVIS, 1997).<br />

A aeronave proposta era <strong>um</strong> bombar<strong>de</strong>iro “super-pesado”, com <strong>um</strong>a longa fuselagem<br />

tubular que lembrava a forma <strong>de</strong> <strong>um</strong> charuto. Tinha <strong>um</strong> par <strong>de</strong> longas e estreitas asas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>senho inovador, <strong>de</strong>stinado a proporcionar boas quali<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> controle em voos <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

altitu<strong>de</strong>. Era propelido por quatro motores radiais Wright R-3350 Duplex Cyclone, que<br />

produziam ca<strong>da</strong> <strong>um</strong> 2.200 cavalos <strong>de</strong> potência. Tinha dois compartimentos <strong>de</strong> bombas e trem<br />

19


<strong>de</strong> pouso triciclo. Contudo, a característica mais revolucionária era a pressurização <strong>da</strong>s<br />

cabines 14 para a tripulação. Ao todo, três sessões eram pressuriza<strong>da</strong>s: a cabine <strong>de</strong> comando (à<br />

frente <strong>da</strong>s asas), o compartimento dos artilheiros (atrás <strong>da</strong>s asas) e a estação do artilheiro <strong>de</strong><br />

cau<strong>da</strong>. Essas três sessões eram interliga<strong>da</strong>s por <strong>um</strong> túnel pressurizado, pelo qual os tripulantes<br />

podiam engatinhar e transitar entre as estações. Essa engenhosa solução foi <strong>de</strong>senvolvi<strong>da</strong> para<br />

resolver o problema dos compartimentos <strong>de</strong> bombas, que não eram pressurizados e <strong>de</strong>veriam<br />

ser abertos e fechados em pleno voo, sem prejudicar a pressurização <strong>da</strong> tripulação (DORR,<br />

2002).<br />

O sistema <strong>de</strong> armamento <strong>de</strong>fensivo do B-29 também tinha características<br />

revolucionárias. Foi utilizado <strong>um</strong> sistema <strong>de</strong> torres <strong>de</strong> tiro opera<strong>da</strong>s remotamente,<br />

<strong>de</strong>senvolvido pela General Electric. Ao contrário dos bombar<strong>de</strong>iros típicos, no B-29 os<br />

artilheiros não tocavam diretamente nas armas e nem olhavam por suas miras: eles utilizavam<br />

mecanismos ópticos para localizar os <strong>inimigo</strong>s, e as armas disparavam através <strong>de</strong> <strong>um</strong> controle<br />

computadorizado. Havia cinco torres <strong>de</strong> tiro, ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>a com duas ou três metralhadoras calibre<br />

12,7 mm: superior-frontal, superior-traseira, inferior-frontal, inferior-traseira e cau<strong>da</strong> (DORR,<br />

2002).<br />

Ilustração 5 - O primeiro XB-29 na fábrica <strong>da</strong> Boeing em junho <strong>de</strong> 1943. (DAVIS: 1997, p.9)<br />

A Força Aérea do Exército dos Estados Unidos (USAAF) 15 se impressionou tanto com<br />

o XB-29 que encomendou 1.500 uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do mo<strong>de</strong>lo antes mesmo que o primeiro voo do<br />

protótipo fosse realizado. Entrementes, este primeiro voo aconteceu em 21 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong><br />

1942 em Seattle. Logo notou-se que o grau <strong>de</strong> inovação aplicado no projeto significou colocar<br />

14 Cabine pressuriza<strong>da</strong> é aquela em que ar comprimido é inserido quando a aeronave está em gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>,<br />

para manter <strong>um</strong> ambiente seguro e confortável para a tripulação.<br />

15 Braço aéreo do Exército dos EUA durante e imediatamente após a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Substituiu o<br />

antigo Corpo Aéreo do Exército em 20 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1941, expandindo-se para se tornar <strong>um</strong>a força <strong>de</strong> alcance<br />

global. A Força Aérea Americana somente surgiu como <strong>um</strong>a força in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte em 17 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1947.<br />

20


muitos componentes novos e não-testados juntos n<strong>um</strong>a única aeronave, a exemplo dos<br />

motores R-3350, que tinham <strong>um</strong>a assustadora tendência <strong>de</strong> superaquecer e incendiar-se em<br />

voo.<br />

Conforme relatado por Dorr (2002), essas falhas culminaram em <strong>de</strong>sastre quando o<br />

segundo protótipo foi completamente <strong>de</strong>struído ao cair com os motores em chamas sobre <strong>um</strong>a<br />

fábrica <strong>de</strong> enlatados <strong>de</strong> Seattle em 18 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1943. To<strong>da</strong> a tripulação, incluindo o<br />

piloto-chefe <strong>de</strong> testes Eddie Allen, e mais 20 pessoas no solo, per<strong>de</strong>ram as vi<strong>da</strong>s no aci<strong>de</strong>nte.<br />

O programa foi alvo <strong>de</strong> <strong>um</strong> inquérito do senado dos EUA, e foi averiguado que muita<br />

pressa havia sido coloca<strong>da</strong> em tornar a aeronave operacional o mais cedo possível. Decidido a<br />

não <strong>de</strong>ixar o projeto falhar, o coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> USAAF, General Henry “Hap” Arnold, <strong>de</strong>legou<br />

a supervisão do programa ao Briga<strong>de</strong>iro-General Kenneth Wolfe. Wolfe <strong>de</strong>dicou muito tempo<br />

e esforço na solução dos problemas do XB-29, fazendo com que o terceiro protótipo somente<br />

voasse no fim <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1943. A <strong>de</strong>mora, contudo, fez to<strong>da</strong> a diferença, visto que os<br />

problemas foram resolvidos gradualmente e sem mais aci<strong>de</strong>ntes fatais (DORR, 2002).<br />

Ilustração 6 - General Henry "Hap" Arnold. (CHUN: 2008, p.13)<br />

21


Segundo Davis (1997), os primeiros B-29 <strong>de</strong> série – agora já com a <strong>de</strong>signação oficial<br />

Superfortress 16 – saíram <strong>da</strong> fábrica <strong>de</strong> Wichita, Geórgia, em 7 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1943. O General<br />

Wolfe recebeu então o comando <strong>da</strong> recém-cria<strong>da</strong> 58ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io 17 (Super-Pesado), a<br />

nova uni<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria operar os B-29. A 58ª Ala tinha (organicamente) cinco grupos <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>io em sua estrutura (ca<strong>da</strong> grupo tinha quatro esquadrões), mas receberam os<br />

Superfortresses <strong>um</strong> a <strong>um</strong>.<br />

A tripulação do B-29 era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a maior <strong>de</strong> qualquer aeronave <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io<br />

norte-americana <strong>da</strong> época. Segundo Dorr (2002), o número <strong>de</strong> tripulantes podia sofrer<br />

pequenas variações <strong>de</strong> <strong>um</strong>a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> para outra, e <strong>de</strong> <strong>um</strong>a época para outra, mas geralmente<br />

era composta <strong>de</strong> 11 pessoas:<br />

• Piloto: sentado à esquer<strong>da</strong> na cabine <strong>de</strong> comando, era o coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> aeronave.<br />

Responsável pela tripulação e por to<strong>da</strong>s as operações <strong>de</strong> seu B-29. Geralmente eram<br />

oficiais com experiência prévia em outros bombar<strong>de</strong>iros quadrimotores;<br />

• Co-piloto: sentado à direita na cabine <strong>de</strong> comando, era o segundo piloto, e chamado<br />

muitas vezes como simplesmente “piloto”. Destinado a ganhar experiência, era<br />

responsável por <strong>de</strong>colagens e pousos, sempre que permitido. Contudo, muitos co-<br />

pilotos faziam todo seu ciclo <strong>de</strong> missões operacionais sem nunca tornar-se <strong>um</strong><br />

coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> B-29;<br />

• Navegador: sentado logo atrás do coman<strong>da</strong>nte, era o responsável por traçar o caminho<br />

para o alvo e <strong>de</strong> volta para a base. Em missões noturnas era tido como o mais<br />

importante membro <strong>da</strong> tripulação, visto que a área <strong>de</strong> operações do Oceano Pacífico<br />

quase não possui marcos terrestres <strong>de</strong> orientação, e conhecimento astronômico<br />

aguçado era necessário para se obter sucesso;<br />

• Bombar<strong>de</strong>ador: sentado à frente, no nariz arredon<strong>da</strong>do <strong>da</strong> aeronave. Usava sua mira<br />

<strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io para lançar as bombas no momento certo e acertar o alvo. Também<br />

tinha a tarefa secundária <strong>de</strong> operar as torres <strong>de</strong> tiro dorsal e ventral <strong>da</strong> frente do B-29;<br />

• Engenheiro <strong>de</strong> Voo: sentado <strong>de</strong> costas atrás do co-piloto, era responsável por <strong>da</strong>r<br />

parti<strong>da</strong> nos motores, fazer a checagem dos mesmos, aju<strong>da</strong>r o piloto a <strong>de</strong>terminar a<br />

veloci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem e resolver problemas <strong>de</strong> temperatura e performance;<br />

16<br />

Do inglês “Super-Fortaleza”. Uma alusão ao tamanho maior do B-29 quando comparado ao seu antecessor, o<br />

B-17 “Fortaleza Voadora”.<br />

17<br />

Para <strong>um</strong>a melhor visualização do conceito <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s orgânicas <strong>da</strong> 20ª Força Aérea, consulte o Apêndice B<br />

“Estrutura Orgânica <strong>da</strong> 20ª Força Aérea”.<br />

22


• Operador <strong>de</strong> Ra<strong>da</strong>r: inicialmente sentava-se no compartimento dos artilheiros, na<br />

fuselagem traseira, mas <strong>de</strong>pois foi trazido para a cabine <strong>de</strong> comando, sentando-se<br />

perto <strong>da</strong> abertura do túnel no lado esquerdo. Era responsável por realizar o<br />

bombar<strong>de</strong>io quando o mau-tempo impedia o bombar<strong>de</strong>ador <strong>de</strong> enxergar o alvo no<br />

solo;<br />

• Operador <strong>de</strong> Rádio: sentado também na cabine <strong>de</strong> voo do lado direito, era<br />

responsável pelas comunicações <strong>de</strong> rádio durante as missões. Como efetivamente<br />

pouca comunicação <strong>de</strong> rádio acontecia nas missões, o operador <strong>de</strong> rádio trabalhava<br />

mais regularmente com código Morse 18 ;<br />

• Controlador Central <strong>de</strong> Fogo: sentado no compartimento dos artilheiros, era o<br />

principal operador do sistema <strong>de</strong> armas <strong>de</strong>fensivas do Superfortress;<br />

• Artilheiro Direito: sentado no compartimento dos artilheiros, operava as armas do<br />

lado direito do B-29;<br />

• Artilheiro Esquerdo: sentado no compartimento dos artilheiros, operava as armas do<br />

lado esquerdo do B-29;<br />

• Artilheiro <strong>de</strong> Cau<strong>da</strong>: sentado sozinho em sua estação na cau<strong>da</strong>, logo abaixo do<br />

imenso leme <strong>da</strong> aeronave, era o responsável por <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r o Superfortress contra<br />

ataques à sua traseira, operando <strong>um</strong>a torre <strong>de</strong> tiro com duas metralhadoras 12,7 mm.<br />

Com o treinamento <strong>da</strong>s tripulações seguindo <strong>um</strong> passo estável, o General Wolfe foi<br />

retirado do comando <strong>da</strong> 58ª Ala para formar <strong>um</strong>a segun<strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> Superfortress, a 73ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io (Super-Pesado) em novembro <strong>de</strong> 1943. Pouco tempo <strong>de</strong>pois, ele foi feito<br />

coman<strong>da</strong>nte do XX Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, que fora criado com o objetivo <strong>de</strong> agremiar as<br />

duas alas e torná-las operacionais (DORR, 2002).<br />

18 Código <strong>de</strong> comunicação caracterizado por sinais curtos e longos, que compõem letras e números. Inventado na<br />

déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1840, foi utilizado amplamente até o fim do século XX.<br />

23


Ilustração 7 - Cortes transversais do B-29: cabine <strong>de</strong> comando, compartimentos <strong>de</strong> bombas,<br />

compartimento dos artilheiros e estação do artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong>. (SMITH: 1995, p.210)<br />

Com a criação do XX Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, a questão que se seguiu foi: quem<br />

<strong>de</strong>veria comandá-lo? Certamente <strong>um</strong> conflito <strong>de</strong> interesses nos B-29 já se formava entre os<br />

coman<strong>da</strong>ntes norte-americanos do Pacífico, mais especificamente Douglas MacArthur e<br />

Chester Nimitz. A preocupação do General Arnold era que, <strong>um</strong>a vez nas mãos <strong>de</strong> <strong>um</strong> <strong>de</strong>sses<br />

coman<strong>da</strong>ntes, os Superfortresses acabariam <strong>de</strong>sviados <strong>de</strong> sua função principal <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iro<br />

estratégico para funções <strong>de</strong> apoio tático 19 . O Major James “Jim” Pattillo, piloto <strong>de</strong> B-29 do<br />

468º Grupo <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, e que participou <strong>da</strong>s operações com o Superfortress <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o<br />

início, relatou sobre essa questão:<br />

On<strong>de</strong> os B-29s se encaixam nisso tudo? 40 anos <strong>de</strong>pois, o Major-General Haywood<br />

Hansell disse aos veteranos <strong>da</strong> 58ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io que “O General Arnold<br />

sabia que se ‘emprestasse’ os primeiros quatro grupos <strong>de</strong> B-29 (ou seja, a 58ª Ala)<br />

ao Exército, ele nunca os teria <strong>de</strong> volta; se ele emprestasse os quatro grupos<br />

seguintes para a Marinha ele nunca os teria <strong>de</strong> volta”, e se o coman<strong>da</strong>nte-geral do<br />

Comando Aéreo do Alaska visse MacArthur e Nimitz com B-29s sob seu controle<br />

operacional, ELE TAMBÉM insistiria em ter controle operacional sobre os<br />

19 Os ataques estratégicos referem-se a ataques diretos à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do <strong>inimigo</strong> <strong>de</strong> fazer guerra, como por<br />

exemplo, seu parque industrial. Ataques <strong>de</strong> natureza tática são aqueles <strong>de</strong>stinados contra alvos <strong>inimigo</strong>s n<strong>um</strong><br />

campo <strong>de</strong> batalha.<br />

24


próximos quatro grupos... E nunca haveria <strong>um</strong>a única <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iro<br />

estratégico conduzi<strong>da</strong> por B-29s no Pacífico. (ANTUNES: 2010, p.1)<br />

A solução <strong>de</strong> Arnold para o dilema foi inédita: em 4 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1944 ele assinou o<br />

doc<strong>um</strong>ento que criou a 20ª Força Aérea 20 . Pela primeira vez na história, <strong>um</strong>a força aérea<br />

n<strong>um</strong>era<strong>da</strong> seria coman<strong>da</strong><strong>da</strong> diretamente <strong>de</strong> Washington. E pela primeira vez na história <strong>um</strong>a<br />

força aérea n<strong>um</strong>era<strong>da</strong> foi cria<strong>da</strong> para operar <strong>um</strong> único mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> aeronave, o ain<strong>da</strong> não-<br />

testado Boeing B-29. Ao optar por essa solução, Arnold colocou-se no comando direto dos<br />

novos bombar<strong>de</strong>iros, ignorando qualquer interferência operacional dos coman<strong>da</strong>ntes do<br />

Teatro do Pacífico (DORR, 2002).<br />

Ilustração 8 - Distribuição operacional <strong>da</strong> USAAF durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial:<br />

1ª Força Aérea: Nor<strong>de</strong>ste dos EUA<br />

2ª Força Aérea: Noroeste dos EUA<br />

3ª Força Aérea: Su<strong>de</strong>ste dos EUA<br />

4ª Força Aérea: Sudoeste dos EUA<br />

5ª Força Aérea: Austrália, Sudoeste do Pacífico, Filipinas<br />

6ª Força Aérea: Ilhas do Caribe, Panamá<br />

7ª Força Aérea: Havaí, Sudoeste do Pacífico<br />

8ª Força Aérea: Europa<br />

9ª Força Aérea: Oriente Médio, Norte <strong>da</strong> África, Europa<br />

10ª Força Aérea: Índia, Birmânia<br />

11ª Força Aérea: Alasca<br />

12ª Força Aérea: Norte <strong>da</strong> África, Mediterrâneo<br />

13ª Força Aérea: Sudoeste do Pacífico<br />

14ª Força Aérea: China<br />

15ª Força Aérea: Mediterrâneo<br />

20ª Força Aérea: Índia, Sudoeste do Pacífico<br />

(ARQUIVO PESSOAL DE JÚLIO CÉSAR GUEDES ANTUNES)<br />

20 Com a emergência <strong>da</strong> guerra, a USAAF tornou-se <strong>um</strong>a força <strong>de</strong> projeção global, e dividiu seu comando em<br />

“forças aéreas n<strong>um</strong>era<strong>da</strong>s”, espalha<strong>da</strong>s pelos teatros <strong>de</strong> operação dos EUA. No fim <strong>da</strong> guerra, havia 16 <strong>de</strong>ssas<br />

forças aéreas, sendo a 20ª a última a ser cria<strong>da</strong>.<br />

25


CAPÍTULO 2<br />

Operações na Índia e China<br />

Os primeiros B-29s <strong>de</strong>ixaram os Estados Unidos em direção à Índia em 26 <strong>de</strong> março<br />

<strong>de</strong> 1944. O presi<strong>de</strong>nte americano Franklin Delano Roosevelt havia prometido ao lí<strong>de</strong>r chinês<br />

Chiang Kai-shek que os Superfortresses estariam operacionais nas bases chinesas em 15 <strong>de</strong><br />

abril. Tais bases foram construí<strong>da</strong>s especificamente para prover <strong>um</strong>a plataforma <strong>de</strong> ataque ao<br />

Japão (DAVIS, 1997).<br />

Os bombar<strong>de</strong>iros fizeram seu trajeto passando pelo Maine, Marrocos e Egito, com<br />

<strong>de</strong>stino final em Calcutá, na Índia. Os quatro grupos <strong>da</strong> 58ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io se instalaram<br />

em bases ao redor <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, e o General Wolfe estabeleceu seu quartel-general em<br />

Kharagpor, a oeste <strong>de</strong> Calcutá.<br />

Segundo Birdsall (1980), o próximo passo era transportar as aeronaves para suas bases<br />

avança<strong>da</strong>s na China, mas qualquer movimento para aquele país necessitava <strong>de</strong> completo<br />

transporte aéreo <strong>de</strong> todos os suprimentos necessários. Faz-se vista que a cordilheira do<br />

Himalaia separa a Índia <strong>da</strong> China, e a única rota terrestre <strong>de</strong> acesso ao território chinês, a<br />

estra<strong>da</strong> <strong>da</strong> Birmânia, havia sido fecha<strong>da</strong> pelos japoneses ain<strong>da</strong> em 1942. Sendo assim,<br />

centenas <strong>de</strong> aeronaves <strong>de</strong> transporte norte-americanas iniciaram <strong>um</strong>a ponte aérea por cima <strong>da</strong><br />

cordilheira – que ficou conheci<strong>da</strong> pelas tripulações como “A Corcun<strong>da</strong>” – transportando todo<br />

tipo <strong>de</strong> suprimento para o esforço <strong>de</strong> guerra na China. Quando os B-29s chegaram à região<br />

tiveram que transportar seu próprio suprimento, visto que as aeronaves que já operavam na<br />

região encontravam-se ocupa<strong>da</strong>s com outros carregamentos (YOUNG, 1992).<br />

Alguns B-29s foram convertidos em cargueiros, e realizaram missões para os quais<br />

não haviam sido projetados, e nem para quais as tripulações haviam sido treina<strong>da</strong>s. James<br />

“Jim” Pattillo, piloto do 468º Grupo <strong>da</strong> 58ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, relatou as dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />

encontra<strong>da</strong>s:<br />

Hap Arnold ignorou seus especialistas em logística (que lhe disseram que man<strong>da</strong>r<br />

B-29s para o CBI 21 seria ‘impraticável’, ou coisa pareci<strong>da</strong>)... ele os mandou pra lá<br />

<strong>da</strong> mesma forma! A 58ª tinha acabado <strong>de</strong> chegar ao CBI quando os mais jovens,<br />

como eu, já começaram a ver que a situação era sem esperança. Tínhamos que voar<br />

24.000 quilômetros no B-29 (carregando combustível para a China) para que <strong>um</strong><br />

único avião pu<strong>de</strong>sse ir para a China, c<strong>um</strong>prir <strong>um</strong>a única missão na parte mais<br />

oci<strong>de</strong>ntal do Japão (Kyushu) ou Manchúria, e ter combustível suficiente esperando<br />

na sua base chinesa para que pu<strong>de</strong>sse voltar para a Índia. Em 7 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944, o<br />

21 “China-Birmânia-Índia”. Teatro <strong>de</strong> Operações do Su<strong>de</strong>ste Asiático.<br />

26


468º Grupo mandou 3 B-29s para o A-7 [base chinesa], carregando combustível.<br />

Um <strong>de</strong>sapareceu em rota (então o 468º sabia que tinha perdido <strong>um</strong> avião... Sem<br />

notícias <strong>da</strong> tripulação). Dois B-29s pousaram no A-7 e <strong>de</strong>scarregaram o<br />

combustível. No dia seguinte ambos <strong>de</strong>colaram para a Índia. O primeiro que<br />

<strong>de</strong>colou teve <strong>um</strong> incêndio n<strong>um</strong> dos motores após meia-hora <strong>de</strong> vôo e chamou o A-<br />

7, que os aconselhou a saltar; o segundo avião que <strong>de</strong>colou do A-7 em 8 <strong>de</strong> junho<br />

teve <strong>um</strong>a falha n<strong>um</strong> motor enquanto subia para ganhar altitu<strong>de</strong>, e retornou ao A-7<br />

para troca do motor. O 468º agora tinha perdido dois aviões e <strong>um</strong> terceiro prestes a<br />

“utilizar” o último motor disponível no A-7. Muitos dias <strong>de</strong>pois, alguns chineses<br />

avisaram o A-7 <strong>de</strong> que o B-29 <strong>de</strong>saparecido em 7 <strong>de</strong> junho tinha caído perto <strong>de</strong><br />

Loshan (cerca <strong>de</strong> 50 quilômetros a sudoeste do A-7) e todos os tripulantes, menos<br />

2, tinham sobrevivido; e que o B-29 (com incêndio no motor no dia 8) tinha caído<br />

perto <strong>de</strong> Fulin, bem mais para <strong>de</strong>ntro <strong>da</strong> “Corcun<strong>da</strong>” [Himalaia]. Dois ou três dias<br />

<strong>de</strong>pois a terceira tripulação completou a troca do motor no A-7 e <strong>de</strong>colou com mais<br />

combustível (para chegar à Índia) do que os dois B-29s tinham entregado na base<br />

no dia 8! Mais ou menos <strong>um</strong> dia <strong>de</strong>pois, a tripulação que tinha <strong>de</strong>saparecido no dia<br />

7 entrou em contato pelo sistema telefônico do Exército Chinês e reportou suas<br />

condições. Era o piloto. Resultado do esforço do 468º para levar combustível para a<br />

China: 3 tripulantes mortos, dois aviões <strong>de</strong>struídos, o único motor disponível no A-<br />

7 “cons<strong>um</strong>ido”, e o 468º com MENOS combustível no A-7 do que tinha começado.<br />

Se consi<strong>de</strong>rar o fato <strong>de</strong> que o B-29 não podia ir tão a leste quanto Tóquio partindo<br />

<strong>de</strong> bases chinesas, você começa a ter idéia <strong>da</strong> dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> que a 58ª Ala teve para<br />

bombar<strong>de</strong>ar o Japão a partir <strong>da</strong> China:<br />

a. Não apenas o clima era <strong>um</strong> problema, GPS 22 não existia, e coman<strong>da</strong>ntes e<br />

estados-maiores não dispunham <strong>de</strong> <strong>da</strong>dos meteorológicos com os quais<br />

<strong>de</strong>terminarem quando e on<strong>de</strong> enviar missões <strong>de</strong> combate; gran<strong>de</strong> parte do nosso<br />

esforço foi gasto inutilmente.<br />

b. As distâncias <strong>da</strong> Ásia e o terreno montanhoso são sujeitos às monções seis meses<br />

por ano. Monções empurram o Ar Tropical Marítimo (<strong>da</strong> Baía <strong>de</strong> Bengala) através<br />

<strong>da</strong>s montanhas <strong>da</strong> Ásia que tínhamos que cruzar, e éramos ignorantes a respeito <strong>da</strong><br />

Corrente <strong>de</strong> Jato 23 . Em 8 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1944, a tripulação <strong>de</strong> Harold Brown (468º)<br />

<strong>de</strong>colou do A-7 para bombar<strong>de</strong>ar Nagasaki, subiu para a “altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> cruzeiro<br />

segura” (3.600-5.400 metros?) para sair <strong>da</strong> China, entrou no piloto automático,<br />

voou até o ETA [Estimated Time of Arrival, “Tempo Esperado <strong>de</strong> Chega<strong>da</strong>”]<br />

expirar, <strong>de</strong>sceu até que pu<strong>de</strong>sse ver o solo, e <strong>de</strong>scobriu que tinha passado 480<br />

quilômetros do alvo, graças ao vento <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> (Correntes <strong>de</strong> Jato ain<strong>da</strong><br />

<strong>de</strong>sconheci<strong>da</strong>s)... Eles sabiam que não podiam voltar ao A-7 (sem bases<br />

alternativas), então nos chamaram por rádio (na China), reportaram sua posição e<br />

disseram que voariam o mais a oeste possível sobre a China central e saltariam. Isso<br />

fizeram. Todos sobreviveram. Resgatamos todos no mesmo dia n<strong>um</strong> Gooneybird<br />

[Douglas C-47] 24 , mas o clima nos custou <strong>um</strong> bom avião, que não foi nem o<br />

primeiro nem o último.<br />

c. O inci<strong>de</strong>nte com Brown mostrou o preço <strong>de</strong> não termos <strong>da</strong>dos meteorológicos<br />

nem aeroportos alternativos.<br />

d. A área do CBI sobre a qual os B-29s operavam carecia <strong>de</strong> capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> industrial<br />

para apoiar as operações com os bombar<strong>de</strong>iros. Não podíamos solucionar esse<br />

problema. (ANTUNES: 2010, p.1)<br />

22 Sistema <strong>de</strong> Posicionamento Global.<br />

23 Correntes rápi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> ar que ocorrem em gran<strong>de</strong>s altitu<strong>de</strong>s.<br />

24 Aeronave bimotora <strong>de</strong> transporte.<br />

27


Ilustração 9 - Jim Pattillo (<strong>de</strong> pé, à esquer<strong>da</strong>) e tripulação junto ao seu B-29 "Bengal Lancer" em<br />

Kharagpur, Índia – fevereiro <strong>de</strong> 1945. (PATTILLO: 2008, p.1)<br />

Em meio a estas enormes dificul<strong>da</strong><strong>de</strong>s operacionais, o B-29 teve seu primeiro encontro<br />

com o adversário japonês. Segundo Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001), o B-29 pilotado pelo Major<br />

Charles Hansen, do 444º Grupo, voava sobre a fronteira sino-indiana em 26 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1944,<br />

quando foi atacado por três caças Nakajima Ki-43 Hayabusa 25 (“Oscar”) 26 . Um dos caças era<br />

pilotado pelo Capitão Hi<strong>de</strong>o Miyabe, coman<strong>da</strong>nte do 64º Sentai 27 .<br />

Durante o combate que aconteceu nos 30 minutos seguintes, diversas raja<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

metralhadora foram troca<strong>da</strong>s entre os adversários, e o artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> do Superfortress,<br />

Sargento Harold Lanahan, foi creditado com a <strong>de</strong>rruba<strong>da</strong> do avião <strong>de</strong> Miyabe. Este, por sua<br />

vez, atirou n<strong>um</strong> motor <strong>da</strong> asa direita do bombar<strong>de</strong>iro e clamou tê-lo abatido. Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

todos voltaram para suas bases em segurança – o B-29 com oito furos <strong>de</strong> bala na fuselagem<br />

(TAKAKI e SAKAIDA, 2001).<br />

No começo do mês <strong>de</strong> junho, o General Wolfe julgou que tinha os suprimentos e os<br />

meios necessários para iniciar sua <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io. O primeiro alvo dos B-29s foi o<br />

25 Ver Anexo C “Aeronaves <strong>da</strong> Força Aérea do Exército Imperial Japonês”.<br />

26 Todos os mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> aeronaves japonesas receberem codinomes americanizados, para facilitar sua <strong>de</strong>signação.<br />

Caças receberam nomes masculinos e bombar<strong>de</strong>iros receberam nomes femininos.<br />

27 “Sentai” é a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Força Aérea do Exército Imperial Japonês equivalente a <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> caça norte-<br />

americano.<br />

28


pátio ferroviário <strong>de</strong> Makasan, perto <strong>de</strong> Bangkok, na Tailândia. No dia 5 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1944, 98<br />

bombar<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>colaram para atacar o alvo tailandês. Contudo, problemas mecânicos<br />

forçaram 17 <strong>de</strong>les a retornar à base. Os que chegaram ao <strong>de</strong>stino encontraram o alvo<br />

encoberto, e pouco <strong>da</strong>no foi causado a Makasan. No caminho <strong>de</strong> volta, mais cinco aeronaves<br />

se per<strong>de</strong>ram, <strong>de</strong>vido às falhas mecânicas (DORR, 2002).<br />

O primeiro ataque ao Japão em si aconteceu na noite <strong>de</strong> 15 para 16 e junho <strong>de</strong> 1944,<br />

contra a si<strong>de</strong>rúrgica <strong>de</strong> Yawata, na costa norte <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> Kyushu. Como aconteceria até o fim<br />

<strong>da</strong> <strong>campanha</strong>, a formação norte-americana foi rapi<strong>da</strong>mente avista<strong>da</strong> pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ra<strong>da</strong>res<br />

japoneses, e seus observadores em território ocupado na China. Operador <strong>de</strong> Ra<strong>da</strong>r do 40º<br />

Grupo, o Tenente Tom Friedman relatou sobre a missão:<br />

Já tínhamos sido <strong>de</strong>tectados bem antes, ain<strong>da</strong> na costa chinesa, a muitas horas do<br />

alvo. Ao nos aproximarmos <strong>da</strong> costa, os sinais chegavam e ficavam mais fortes. Era<br />

<strong>um</strong> sentimento sinistro saber que lá embaixo, ca<strong>da</strong> movimento nosso estava sendo<br />

cui<strong>da</strong>dosamente monitorado em telas e quadros <strong>de</strong> marcação. (TAKAKI e<br />

SAKAIDA: 2001, p.7)<br />

O alerta foi <strong>da</strong>do e o 4º Sentai foi <strong>de</strong>colou com seus caças bimotores Kawasaki Ki-45<br />

Toryu (“Nick”). Essa uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Força Aérea do Exército Imperial Japonês 28 estava sendo<br />

treina<strong>da</strong> em táticas <strong>de</strong> caça noturna, mas na <strong>da</strong>ta do ataque somente alguns pilotos haviam<br />

completado o treinamento. Segundo Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001), se comparado à caça noturna <strong>da</strong><br />

Luftwaffe 29 , o equivalente japonês era bastante rústico, baseando-se em holofotes em terra<br />

para guiar os pilotos até seu alvo.<br />

A primeira impressão do maciço B-29 nas tripulações <strong>de</strong> caça noturna japonesa po<strong>de</strong><br />

ser resgata<strong>da</strong> neste <strong>de</strong>poimento do Tenente Isamu Kashii<strong>de</strong>, que voou naquela noite:<br />

Eu voava sobre a área industrial do norte <strong>de</strong> Kyushu. O coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>u<br />

a or<strong>de</strong>m: “Aeronaves inimigas invadindo <strong>um</strong>a área importante! To<strong>da</strong>s as aeronaves:<br />

ataquem!” Ao mesmo tempo, holofotes <strong>de</strong> busca na área acen<strong>de</strong>ram o céu.<br />

Finalmente eu avistei <strong>um</strong> bombar<strong>de</strong>iro quadrimotor <strong>inimigo</strong>. Fiquei assustado! Me<br />

disseram que o B-29 era <strong>um</strong>a aeronave enorme; mas quando eu vi meu oponente,<br />

era muito maior do que eu jamais imaginara. Não havia dúvi<strong>da</strong> <strong>de</strong> que, comparado<br />

ao B-17, o B-29 era realmente <strong>um</strong>a “Super-Fortaleza”! A figura il<strong>um</strong>ina<strong>da</strong> pelo<br />

holofote me fez pensar em <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> baleia no oceano. Eu fiquei assombrado<br />

com seu tamanho. (TAKAKI e SAKAIDA: 2001, p.9)<br />

28 O Japão não possuía <strong>um</strong>a força aérea in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte. Seu contingente aéreo militar estava dividido entre Força<br />

Aérea do Exército Imperial e Força Aérea <strong>da</strong> Marinha Imperial.<br />

29 Força Aérea Alemã.<br />

29


O primeiro Superfortress a cair perante as armas japonesas também o fez naquela<br />

noite. O B-29 “Limber Dugan” 30 , do 468º Grupo, foi <strong>de</strong>rrubado pelo piloto Sa<strong>da</strong>mitsu<br />

Kimura. Ele recontou o feito:<br />

Me aproximei até 20 ou 30 metros. De repente, tudo ficou branco por causa <strong>da</strong> luz<br />

refleti<strong>da</strong> na fuselagem do avião <strong>inimigo</strong>, que encheu minha mira. Ele começou a<br />

subir com medo <strong>de</strong> ser abalroado por mim. Eu não hesitei! Comecei a disparar, e<br />

pu<strong>de</strong> ver que o atingi. O nariz começou a abaixar e ele começou a girar. Eu vi <strong>um</strong><br />

pe<strong>da</strong>ço <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> se soltar. (TAKAKI e SAKAIDA: 2001, p.9)<br />

Yawata foi novamente o alvo no dia 20 <strong>de</strong> agosto, <strong>de</strong>sta vez n<strong>um</strong>a missão diurna, que<br />

marcaria a estréia do ataque japonês <strong>de</strong> abalroamento 31 . 76 bombar<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>colaram <strong>da</strong> China,<br />

sendo novamente captados pela re<strong>de</strong> <strong>de</strong> ra<strong>da</strong>res japoneses. Às 16:32 a <strong>de</strong>fesa aérea imperial<br />

estava no ar com 89 caças, pertencentes ao 4º, 51º, 52º e 59º Sentais. A Força Aérea <strong>da</strong><br />

Marinha Imperial também enviou caças do 352º Kokutai e Omura Kokutai 32 .<br />

Os Superfortresses voavam em formação – fazendo <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> diamante – e o lí<strong>de</strong>r<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong> elemento <strong>da</strong> formação era o B-29 “Gertru<strong>de</strong> C”, do 468º Grupo, pilotado pelo Coronel<br />

Robert Clinkscales. O Tenente Isamu Kashii<strong>de</strong>, do 4º Sentai, e seu ala 33 , Sargento Shigeo<br />

Nobe, aproximaram-se <strong>da</strong> formação pela frente, em seus Ki-45s. Quando Kashii<strong>de</strong> alinhou-se<br />

para disparar seu canhão <strong>de</strong> 37 mm, Nobe espontaneamente comunicou que iria abalroar os<br />

bombar<strong>de</strong>iros. Apesar dos avisos contrários <strong>de</strong> Kashii<strong>de</strong>, Nobe manobrou seu caça na linha <strong>de</strong><br />

voo do “Gertru<strong>de</strong> C”, enquanto este <strong>de</strong>spejava suas bombas.<br />

O caça japonês passou verticalmente pelo B-29, cortando a asa esquer<strong>da</strong> do “Gertru<strong>de</strong><br />

C” ao meio com sua asa direita. O tanque alar do B-29 explodiu instantaneamente, e <strong>de</strong>stroços<br />

se espalharam por to<strong>da</strong> a formação. O Superfortress “Postville Express”, pilotado pelo Major<br />

Donald H<strong>um</strong>phrey, que voava logo atrás, escapou por pouco dos pe<strong>da</strong>ços flamejantes, mas o<br />

Capitão Ornell Stauffer, pilotando o B-29 “Calamity Sue”, não teve a mesma sorte.<br />

Posicionado na trilha dos <strong>de</strong>stroços, ele elevou o nariz <strong>da</strong> aeronave para evitar ser atingido,<br />

30<br />

Era cost<strong>um</strong>e dos aviadores norte-americanos batizarem suas aeronaves com nomes carinhosos. Esses nomes<br />

eram geralmente pintados próximo à cabine <strong>de</strong> pilotagem, normalmente acompanhados <strong>de</strong> alg<strong>um</strong>a arte<br />

extravagante.<br />

31<br />

Ato <strong>de</strong> colidir propositalmente sua aeronave contra a do <strong>inimigo</strong>.<br />

32<br />

“Kokutai” é a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Força Aérea <strong>da</strong> Marinha Imperial Japonesa equivalente a <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> caça norteamericano.<br />

33<br />

Um “ala” é <strong>um</strong> componente <strong>de</strong> <strong>um</strong>a formação <strong>de</strong> voo; normalmente é <strong>um</strong> piloto ou tripulação menos<br />

experiente que segue <strong>um</strong> lí<strong>de</strong>r. Não confundir com Ala Aérea (<strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, Caça, etc.), que é <strong>um</strong><br />

agrupamento <strong>de</strong> Grupos Aéreos.<br />

30


mas teve seu profundor 34 arrancado e caiu em segui<strong>da</strong>. Houve somente <strong>um</strong> sobrevivente <strong>da</strong><br />

tripulação.<br />

Ilustração 10 - Representação do ataque <strong>de</strong> abalroamento do Sgt. Nobe sobre Yawata, em 20 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong><br />

1944. (TAKAKI e SAKAIDA: 2001, p.15)<br />

No dia 29 <strong>de</strong> agosto, houve <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> comando no XX Comando <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io. De Washington, Arnold <strong>de</strong>mitiu Kenneth Wolfe, e em seu lugar nomeou o<br />

Major-General Curtis LeMay como novo coman<strong>da</strong>nte. Dorr (2002, p.23) explica:<br />

Arnold não estava entusiasmado com o coman<strong>da</strong>nte do XX Comando <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io, Briga<strong>de</strong>iro-General Kenneth Wolfe, a quem <strong>de</strong>mitiu s<strong>um</strong>ariamente<br />

não tanto por causa <strong>de</strong> sua atitu<strong>de</strong> para com ele, mas porque ele [Arnold] estava<br />

encantado com LeMay. Embora os dois não se conhecessem pessoalmente, Arnold<br />

sabia que LeMay tinha feito <strong>um</strong> maravilhoso trabalho como coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>iros na Europa. Ele queria LeMay na Índia, e conseguiu o que queria.<br />

34 Estabilizador horizontal <strong>da</strong> cau<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a aeronave. Responsável por movimentos <strong>de</strong> subi<strong>da</strong> ou <strong>de</strong>sci<strong>da</strong>.<br />

31


Ilustração 11 - General Curtis LeMay em Guam, Ilhas Marianas, 1945. (CORBIS: 2010, p.1)<br />

O General LeMay renovou as táticas usa<strong>da</strong>s pelo comando, trocando missões noturnas<br />

por missões diurnas <strong>de</strong> precisão, e instituiu a formação <strong>de</strong> 12 aeronaves, projeta<strong>da</strong> para<br />

concentrar o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> fogo <strong>de</strong>fensivo. Ele próprio participou <strong>de</strong> <strong>um</strong>a missão <strong>de</strong> 108 B-29s<br />

contra a si<strong>de</strong>rúrgica <strong>de</strong> Showa em 8 <strong>de</strong> setembro. Apesar <strong>da</strong> esquadra aérea crescer<br />

rapi<strong>da</strong>mente – <strong>de</strong>vido à escala<strong>da</strong> <strong>da</strong> produção nos EUA – as missões sobre o Japão ain<strong>da</strong><br />

aconteciam sem regulari<strong>da</strong><strong>de</strong>. Em na<strong>da</strong> ajudou o fato do General Douglas MacArthur ter<br />

usado sua influência para conseguir que os Superfortresses se <strong>de</strong>sviassem <strong>de</strong> sua tarefa<br />

principal e realizassem missões <strong>de</strong> apoio tático ao <strong>de</strong>sembarque norte-americano nas<br />

Filipinas, em outubro (DORR, 2002).<br />

De acordo com Young (1992), as missões <strong>da</strong> 58ª Ala partindo <strong>da</strong> China foram<br />

<strong>de</strong>crescendo em importância a partir <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1944, quando as bases nas Marianas já<br />

estavam completamente operacionais. Em março <strong>de</strong> 1945, o XX Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io<br />

encerrou suas operações na Índia e China, e a 58ª Ala foi transferi<strong>da</strong> para as Marianas.<br />

32


Operações nas Ilhas Marianas<br />

No dia 12 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1944, o primeiro B-29 pousou em Saipan, nas Ilhas Marianas.<br />

Dele <strong>de</strong>sembarcaram o Briga<strong>de</strong>iro-General Haywood “Poss<strong>um</strong>” Hansell, coman<strong>da</strong>nte do XXI<br />

Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, e o Briga<strong>de</strong>iro-General Emmett “Rosy” O’Donnell, coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong><br />

73ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io. As operações nas Marianas levantavam muito mais expectativas do<br />

que as operações na China, o que fez com que gran<strong>de</strong> priori<strong>da</strong><strong>de</strong> fosse <strong>da</strong><strong>da</strong> na construção <strong>da</strong><br />

infra-estrutura do arquipélago. Contudo, durante todo o mês <strong>de</strong> outubro, havia mais generais<br />

do que B-29s nas Marianas. Somente no dia 30 <strong>da</strong>quele mês é que o segundo e terceiro<br />

bombar<strong>de</strong>iros aterrissaram lá (DORR, 2002).<br />

Estes eram mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> reconhecimento, equipados com câmeras <strong>de</strong> alta potência para<br />

fazer fotos do terreno abaixo. Um <strong>de</strong>stes, pilotado pelo Capitão John Steakley, <strong>de</strong>colou às<br />

05:50 <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> novembro, em direção à capital japonesa. Steakley entrou para a história ao<br />

pilotar a primeira aeronave norte-americana sobre Tóquio <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ataque li<strong>de</strong>rado pelo<br />

General James Doolittle em abril <strong>de</strong> 1942. De acordo com Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001, p.25):<br />

Quando os ci<strong>da</strong>dãos <strong>de</strong> Tóquio olharam bem para o alto na tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 1 <strong>de</strong> novembro<br />

<strong>de</strong> 1944, eles encontraram <strong>um</strong>a visão incom<strong>um</strong>. Nunca haviam visto <strong>um</strong>a aeronave<br />

voando tão alto sobre sua ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. (...) A tripulação [do B-29] pô<strong>de</strong> observar os<br />

movimentos <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> metrópole n<strong>um</strong>a preguiçosa tar<strong>de</strong>, e em particular prestaram<br />

atenção aos gran<strong>de</strong>s complexos industriais concentrados ao longo <strong>da</strong> costa <strong>de</strong><br />

Tóquio a Yokohama. O público japonês estava inconsciente <strong>da</strong> gigantesca<br />

<strong>de</strong>vastação que esta solitária aeronave traria, mas o intruso solitário causou gran<strong>de</strong><br />

consternação entre eles.<br />

O 47º Sentai, equipado com o interceptador 35 Nakajima Ki-44 Shoki (“Tojo”), foi<br />

<strong>de</strong>spachado para interceptar o Superfortress que voava a 10.000 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>. Embora o<br />

Ki-44 pu<strong>de</strong>sse alcançar 10.000 metros, nessa altitu<strong>de</strong> ele somente “flutuava” no ar 36 , e<br />

qualquer movimento no manche fazia a aeronave <strong>de</strong>spencar centenas <strong>de</strong> metros<br />

instantaneamente. Dessa forma, o Capitão Jun Shimizu, coman<strong>da</strong>nte do 1º Chutai 37 ,<br />

conseguiu com muito esforço alcançar 9.000 metros, e avistou o quadrimotor que se afastava.<br />

Ele e alguns dos seus pilotos ain<strong>da</strong> apontaram seus caças para cima e dispararam raja<strong>da</strong>s<br />

curtas, sem muito controle. Em altitu<strong>de</strong> bem maior, e muito à frente, os tripulantes do B-29<br />

35<br />

Aeronave <strong>de</strong> caça projeta<strong>da</strong> para ter alta taxa <strong>de</strong> subi<strong>da</strong>; seu propósito é interceptar aeronaves inimigas<br />

invasoras.<br />

36<br />

O termo é utilizado no sentido <strong>de</strong> que o Ki-44 não tinha mais sustentação nessa altitu<strong>de</strong>, ou seja, sua<br />

envergadura alar já não podia proporcionar a sustentação necessária no ar rarefeito <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s altitu<strong>de</strong>s.<br />

37<br />

“Chutai” é a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Força Aérea do Exército Imperial Japonês equivalente a <strong>um</strong> esquadrão <strong>de</strong> caça norte-<br />

americano.<br />

33


nem se <strong>de</strong>ram conta <strong>de</strong> que estavam sendo atacados, e retornaram em segurança para Saipan,<br />

com <strong>um</strong> lote completo <strong>de</strong> preciosas fotografias <strong>de</strong> Tóquio (TAKAKI e SAKAIDA, 2001).<br />

A análise <strong>da</strong>s fotografias <strong>de</strong> Tóquio sinalizou <strong>um</strong> alvo prioritário: o complexo<br />

industrial <strong>de</strong> Musashino, que produzia os motores para os caças Nakajima. Musashino foi<br />

<strong>de</strong>signado Alvo Estratégico Nº 357, e sua <strong>de</strong>struição recebeu a mais alta priori<strong>da</strong><strong>de</strong>. Sendo<br />

assim, no começo <strong>da</strong> manhã <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1944, a 73ª Ala <strong>de</strong>colou para atacar<br />

Tóquio com <strong>um</strong>a arma<strong>da</strong> <strong>de</strong> 111 B-29s. Nos comandos <strong>da</strong> aeronave que li<strong>de</strong>rava a formação<br />

estava o próprio General O’Donnell.<br />

Baseando-se nos <strong>da</strong>dos que conseguiram juntar sobre combater o B-29, os grupos <strong>de</strong><br />

caça japoneses haviam formado uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> sua organização. Essas<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s, chama<strong>da</strong>s “Shinten”, tinham o propósito específico <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrubar os bombar<strong>de</strong>iros<br />

<strong>inimigo</strong>s por abalroamento no ar. Concluiu-se que a gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> voo do B-29, bem<br />

como sua robustez, eram fatores <strong>de</strong>sfavoráveis à <strong>de</strong>fesa aérea japonesa em táticas regulares <strong>de</strong><br />

combate. O abalroamento foi consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong>a medi<strong>da</strong> com maiores chances <strong>de</strong> sucesso –<br />

<strong>de</strong>cisão certamente influencia<strong>da</strong> pelo “duplo sucesso” do Sargento Shigeo Nobe 38 em 20 <strong>de</strong><br />

agosto <strong>de</strong> 1944 sobre Yawata (TAKAKI e SAKAIDA, 2001).<br />

Ilustração 12 - General Haywood "Poss<strong>um</strong>" Hansell e Capitão Teruhiko Kobayashi. (TAKAKI e<br />

SAKAIDA: 2001, p.24/35)<br />

38 Conforme relatado na página 30 <strong>de</strong>ste trabalho.<br />

34


A formação norte-americana foi ataca<strong>da</strong> por caças do 47º e do 244º Sentais. No<br />

comando do 244º (responsável pela <strong>de</strong>fesa <strong>da</strong> capital imperial) estava o Capitão Teruhiko<br />

Kobayashi, que aos 24 anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> era o mais jovem coman<strong>da</strong>nte <strong>de</strong> <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> caça no<br />

Japão. Neste dia, a 73ª Ala per<strong>de</strong>u apenas <strong>um</strong> B-29 para a Força Aérea do Exército Imperial: o<br />

Superfortress do Tenente Sam Wagner voava n<strong>um</strong>a <strong>da</strong>s bor<strong>da</strong>s <strong>da</strong> formação, quando o Cabo<br />

Yoshio Mita, voando <strong>um</strong> Ki-44 do 47º Sentai, aproximou-se velozmente com to<strong>da</strong>s as armas<br />

disparando. O Cabo Fred Ludovici, artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong> Superfortress que voava ao<br />

lado, <strong>de</strong>screveu a cena:<br />

Ele veio até cerca <strong>de</strong> 150 ou 200 metros bem alinhado com a cau<strong>da</strong> do<br />

bombar<strong>de</strong>iro, e nessa hora o artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> abriu fogo também. Ele pareceu<br />

flutuar em pleno ar por <strong>um</strong> momento, então foi em direção à cau<strong>da</strong>; sua asa direita<br />

atingiu o leme, e então ele levantou-se no ar e arrebentou-se contra o profundor<br />

esquerdo. Ambos foram abaixo. (TAKAKI e SAKAIDA: 2001, p.32)<br />

Ilustração 13 - Caças japoneses Nakajima Ki-44 do 47º Sentai preparando-se para <strong>de</strong>colar.<br />

(SAKAIDA: 1997, p.63)<br />

O fato <strong>de</strong> terem perdido somente <strong>um</strong>a aeronave para o fogo <strong>inimigo</strong> não significou<br />

sucesso para os americanos. Como estavam <strong>de</strong>scobrindo, as condições meteorológicas sobre o<br />

Japão eram <strong>um</strong> <strong>inimigo</strong> muitas vezes mais eficiente que os caças nipônicos. Em particular, a<br />

“Corrente <strong>de</strong> Jato”, <strong>um</strong> fenômeno meteorológico que gera ventos <strong>de</strong> 200 quilômetros por<br />

hora, contribuía para tirar os aviões <strong>da</strong> rota prevista e encobrir o alvo com <strong>um</strong>a espessa<br />

cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> nuvens.<br />

35


Jim Pattillo lembrou-se que obter <strong>da</strong>dos meteorológicos precisos sobre o tempo no<br />

Japão era <strong>um</strong>a tarefa dificílima para os planejadores americanos:<br />

Nossos “valiosos” aliados soviéticos 39 controlavam a maior parte dos <strong>da</strong>dos<br />

meteorológicos necessários para prever o tempo do dia seguinte sobre o Japão<br />

(porque esse tempo se origina em alg<strong>um</strong> lugar sobre a Sibéria e somente os<br />

soviéticos tinham esses <strong>da</strong>dos). Infelizmente para nós, os comunistas tinham seus<br />

próprios planos para atingir a eventual dominação do mundo, e queriam que as<br />

Potências Oci<strong>de</strong>ntais, junto com a Alemanha e o Japão, se exaurissem, lutando<br />

entre si durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial. Nossos meteorologistas tinham<br />

somente <strong>da</strong>dos fragmentados sobre o clima siberiano, o que transformou em<br />

adivinhação a previsão do tempo sobre o Japão. (PATTILLO: 2010, p.1)<br />

O inesperado tempo ruim, ventos fortes e falhas mecânicas fizeram com que, dos 111<br />

bombar<strong>de</strong>iros <strong>da</strong> formação original, somente 27 lançassem bombas sobre Musashino. Dorr<br />

(2002), explica que <strong>um</strong>a avaliação posterior averiguou que somente cerca <strong>de</strong> 1% <strong>da</strong>s<br />

instalações haviam sido <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s.<br />

Somente <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> comando e o emprego <strong>de</strong> táticas radicalmente diferentes<br />

mu<strong>da</strong>riam o até então incerto <strong>de</strong>stino <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico <strong>da</strong> 20ª Força<br />

Aérea. E isso finalmente aconteceria no ano <strong>de</strong> 1945.<br />

39 A União Soviética, apesar <strong>de</strong> formalmente alia<strong>da</strong> dos Estados Unidos, oferecia resistência em compartilhar<br />

informações e disponibilizar sua infra-estrutura para o esforço <strong>de</strong> guerra americano. Durante a <strong>campanha</strong> <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>io estratégico contra o Japão, três B-29s tiveram que pousar em território soviético (por falhas técnicas<br />

ou <strong>de</strong>svio <strong>de</strong> curso) e foram internados juntamente com suas tripulações. Os soviéticos não possuíam na<strong>da</strong><br />

comparado ao B-29, e aplicaram engenharia reversa completa nos exemplares que internou. Com esse<br />

conhecimento, criaram em 1946 <strong>um</strong>a cópia idêntica ao Superfortress, o Tupolev Tu-4 (DORR, 2002).<br />

36


CAPÍTULO 3<br />

O bombar<strong>de</strong>io incendiário<br />

A <strong>de</strong>cepcionante missão <strong>de</strong> 24 <strong>de</strong> novembro contra Tóquio não foi a última: resultados<br />

semelhantes continuaram a marcar as missões dos B-29s nos meses seguintes. Mais <strong>um</strong>a vez<br />

o General Arnold tornou-se impaciente com o passo <strong>da</strong>s operações, e mais <strong>um</strong>a vez ele<br />

recorreu à mesma solução: em 20 <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1945, transferiu Curtis LeMay para a<br />

li<strong>de</strong>rança do XXI Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, em substituição a Haywood Hansell.<br />

Historiadores hoje concor<strong>da</strong>m que o General Hansell – que já gozava <strong>de</strong> <strong>um</strong>a brilhante<br />

carreira durante a guerra – não fez na<strong>da</strong> <strong>de</strong> errado enquanto <strong>de</strong>tinha o comando do XXI. Ele<br />

apenas sofreu <strong>de</strong> <strong>um</strong>a maré <strong>de</strong> má sorte (DORR, 2002).<br />

LeMay inicialmente não fez mu<strong>da</strong>nças nas táticas operacionais, mas or<strong>de</strong>nou o início<br />

<strong>de</strong> <strong>um</strong>a complexa análise dos fatores que levavam à falta <strong>de</strong> sucesso. Essa análise levou à<br />

conclusão <strong>de</strong> que o elemento primordial que levava ao fracasso <strong>da</strong>s missões era realmente o<br />

clima. Foi apurado que até mesmo nos meses <strong>de</strong> bom clima (<strong>de</strong>zembro, janeiro e fevereiro),<br />

somente <strong>um</strong>a fração dos ataques podia ser realizado por métodos <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io visual – o<br />

restante inevitavelmente tinha que ser realizado por ra<strong>da</strong>r. Kissner (1945), atesta que em<br />

<strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1944, somente 45% dos ataques foram feitos visualmente; essa taxa caiu para<br />

38% em janeiro <strong>de</strong> 1945 e para 19% em fevereiro. Descobriu-se também que, para que as<br />

aeronaves pu<strong>de</strong>ssem realizar <strong>um</strong> bombar<strong>de</strong>io visual, teriam que obrigatoriamente atacar as<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s japonesas entre as 14:00 e as 16:00, o que em muito facilitaria as ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>da</strong> <strong>de</strong>fesa<br />

japonesa.<br />

Mesmo com bom tempo sobre o alvo, as aeronaves frequentemente penetravam frentes<br />

<strong>de</strong> mau tempo no longo voo <strong>de</strong>s<strong>de</strong> as Marianas até o Japão 40 . Isso resultava em formações<br />

sendo dispersa<strong>da</strong>s e erros <strong>de</strong> navegação que induziam as tripulações a erros na hora <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>ar o alvo, visto que o ra<strong>da</strong>r <strong>de</strong> bordo gerava sinais fracos à gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>,<br />

dificultando <strong>um</strong>a i<strong>de</strong>ntificação precisa do alvo. Os longos voos em gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> também<br />

tinham efeito c<strong>um</strong>ulativo sobre a diminuição <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> útil dos motores, o que levava a<br />

recorrentes falhas mecânicas (KISSNER, 1945).<br />

40 O tempo <strong>de</strong> voo <strong>da</strong>s Marianas até o Japão era <strong>de</strong> cerca <strong>de</strong> 6 horas.<br />

37


Embora a doutrina <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io norte-americana rezasse o bombar<strong>de</strong>io diurno <strong>de</strong><br />

precisão 41 , as severas condições meteorológicas vigentes sobre o Japão não estavam<br />

permitindo seu sucesso. Os alvos estratégicos isolados que foram i<strong>de</strong>ntificados e atacados<br />

continuavam a operar sem maiores problemas, apesar <strong>de</strong> todo o esforço feito em <strong>de</strong>struí-los.<br />

Ilustração 14 - B-29s em missão diurna <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>: mu<strong>da</strong>nça <strong>de</strong> tática era necessária para o<br />

bombar<strong>de</strong>io efetivo dos alvos no Japão. (BIRDSALL: 1977, p.41)<br />

A análise encomen<strong>da</strong><strong>da</strong> por LeMay também concluiu que a economia japonesa era<br />

altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong> indústrias domésticas, localiza<strong>da</strong>s em áreas resi<strong>de</strong>nciais próximas às<br />

gran<strong>de</strong>s fábricas. Destruir essas indústrias domésticas diminuiria o fluxo <strong>de</strong> peças para a<br />

ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> produção japonesa (KISSNER, 1945).<br />

Dessa forma, foi <strong>de</strong>cidido realizar no mês <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945 <strong>um</strong>a série <strong>de</strong> ataques<br />

noturnos incendiários em baixa altitu<strong>de</strong> contra as principais ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s japonesas. A munição<br />

incendiária foi escolhi<strong>da</strong> <strong>de</strong>vido à constituição majoritária <strong>da</strong> construção civil japonesa:<br />

ma<strong>de</strong>ira e materiais com base em celulose.<br />

Segundo Kissner (1945), foi toma<strong>da</strong> a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> abaixar a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> ataque dos<br />

habituais 10.000 metros para 2.500 metros, diminuindo assim a influência do clima e<br />

atenuando a dispersão <strong>da</strong> carga <strong>de</strong> bombas. Como as aeronaves voariam à noite e a força <strong>de</strong><br />

caças noturnos japoneses era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>de</strong>sprezível, foi <strong>de</strong>cidido que os B-29s voariam sem<br />

41 Esse tipo <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io objetiva <strong>de</strong>struir alvos específicos, como fábricas e instalações militares, ao invés <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>ar gran<strong>de</strong>s áreas.<br />

38


munição <strong>de</strong>fensiva – já que os próprios artilheiros americanos po<strong>de</strong>riam se alvejar por engano<br />

no escuro.<br />

As radicais mu<strong>da</strong>nças táticas implementa<strong>da</strong>s por LeMay nunca haviam sido testa<strong>da</strong>s<br />

antes, e foi com muita apreensão que ele e sua equipe observaram os 325 bombar<strong>de</strong>iros<br />

<strong>de</strong>colarem no fim <strong>da</strong> tar<strong>de</strong> <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945, com <strong>de</strong>stino a Tóquio. Seymour Appleby,<br />

bombar<strong>de</strong>ador <strong>de</strong> <strong>um</strong> B-29 do 9º Grupo <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, voou nessa primeira missão<br />

incendiária, e relatou o evento:<br />

Em 8 <strong>de</strong> março chegou <strong>um</strong> boletim nos dizendo que no dia seguinte haveria <strong>um</strong><br />

esforço máximo 42 . Naquela noite fomos informados do alvo: iríamos para Tóquio.<br />

Nos ataques anteriores, voávamos sozinhos para o Japão e, em alg<strong>um</strong> ponto antes<br />

<strong>da</strong> costa, entrávamos em formação para o bombar<strong>de</strong>io. Dessa vez iríamos voar<br />

sozinhos até o Japão, como <strong>de</strong> cost<strong>um</strong>e, mas também bombar<strong>de</strong>aríamos sozinhos,<br />

sem formação. Seria à noite, em altitu<strong>de</strong>s entre 1.500 e 2.200 metros. Não iríamos<br />

carregar nenh<strong>um</strong>a munição para nossas metralhadoras e <strong>de</strong>ixaríamos nossos<br />

artilheiros em solo; somente o artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong> iria, como mero observador, e<br />

sem nenh<strong>um</strong>a arma também. Isso a<strong>um</strong>entou nossa capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bombas e a<br />

conservação do nosso combustível.<br />

As instruções do oficial <strong>de</strong> inteligência na plataforma <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem foram ouvi<strong>da</strong>s<br />

em completo silêncio. Era completamente inacreditável para nós. Ao pensar nisso<br />

novamente, fico impressionado com o fato <strong>de</strong> nem mesmo <strong>um</strong> homem ter <strong>de</strong>ixado o<br />

recinto e recusado-se a ir. Todos sabíamos que as baixas <strong>de</strong>veriam nos dizimar. Isso<br />

representava <strong>um</strong>a mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> relativa segurança <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> para bem perto<br />

do alcance e precisão <strong>da</strong>s armas antiaéreas. Houve muitas reclamações murmura<strong>da</strong>s<br />

contra a or<strong>de</strong>m, mas foi só isso. Estávamos indo.<br />

Terminei <strong>de</strong> ler <strong>um</strong>a biografia do General LeMay e fiquei sabendo que sua equipe<br />

esperava <strong>um</strong>a taxa <strong>de</strong> baixas em torno <strong>de</strong> 70%. Não tenho como saber se ele mesmo<br />

recebeu essa informação, mas todos acreditávamos que a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> era essa. A guerra<br />

aérea, como a guerra em terra, é realiza<strong>da</strong> por garotos, e garotos possuem <strong>um</strong><br />

sentimento <strong>de</strong> imortali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Éramos todos muito jovens. No entanto, eu claramente<br />

me lembro <strong>de</strong> ir para a cama na noite anterior ao ataque, esperando não voltar. Eu<br />

consi<strong>de</strong>rei escrever <strong>um</strong>a carta final para meus pais e <strong>de</strong>cidi que não ia fazê-lo. Se eu<br />

voltasse, soaria tolice. Se eu não voltasse, seria doloroso para eles ler aquilo.<br />

Decolamos às 18:00, então nossa chega<strong>da</strong> ao alvo se <strong>de</strong>u perto <strong>da</strong>s 2:00 <strong>da</strong><br />

madruga<strong>da</strong>. Geralmente <strong>de</strong>morava mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hora para que todos os B-29s<br />

<strong>de</strong>colassem, então a chega<strong>da</strong> ao alvo variava bastante. Os aviões marcadores 43<br />

<strong>de</strong>colaram primeiro e os primeiros incêndios <strong>de</strong>veriam guiar o resto <strong>de</strong> nós. Os<br />

primeiros incêndios, pelo que sei, foram iniciados na parte mais próxima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

e então na parte mais distante. Quando nossa aeronave chegou a Tóquio, não havia<br />

como saber on<strong>de</strong> os primeiros incêndios tinham começado.<br />

Essa foi a única missão em que não precisamos <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r do navegador para nos<br />

guiar até o alvo. Quando estávamos a cerca <strong>de</strong> 500 quilômetros vimos <strong>um</strong> brilho no<br />

horizonte. Enquanto nos aproximávamos, o brilho a<strong>um</strong>entava em intensi<strong>da</strong><strong>de</strong> até<br />

que vimos <strong>um</strong>a vasta área <strong>de</strong> Tóquio em chamas. Os bombar<strong>de</strong>adores tinham<br />

recebido <strong>um</strong>a instrução bem simples: procure <strong>um</strong> lugar on<strong>de</strong> não haja fogo e jogue<br />

42<br />

É o termo utilizado quando to<strong>da</strong>s as aeronaves disponíveis <strong>de</strong> <strong>um</strong>a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> em particular (seja <strong>um</strong>a ala, grupo<br />

ou esquadrão) são requisitas para <strong>um</strong>a missão.<br />

43<br />

São aeronaves pioneiras, que <strong>de</strong>marcam <strong>um</strong>a área <strong>de</strong> ataque ao lançar suas cargas explosivas em pontos-chave<br />

dos alvos. Também conheci<strong>da</strong>s pelo termo inglês “pathfin<strong>de</strong>r”.<br />

39


suas bombas lá. Nossos casulos tinham bombas incendiárias encapsula<strong>da</strong>s <strong>de</strong><br />

maneira que se espalhassem sobre a área do alvo.<br />

Devíamos ter sido <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s últimas aeronaves a chegar ao alvo, porque claramente<br />

havia muitos quilômetros quadrados em chamas. Através <strong>da</strong> f<strong>um</strong>aça podíamos ver<br />

outros B-29s voando entre as chamas, com <strong>um</strong>a pesa<strong>da</strong> cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> f<strong>um</strong>aça laranja<br />

acima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. To<strong>da</strong> a área estava cheia <strong>de</strong> bombas explodindo, holofotes <strong>de</strong><br />

busca e raja<strong>da</strong>s <strong>de</strong> armas antiaéreas. Quando passamos acima <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, todo o<br />

interior <strong>da</strong> aeronave ficou mais brilhante que o dia: tínhamos sido pegos por três<br />

holofotes e a sensação era <strong>de</strong> choque e impotência.<br />

Meu piloto pôs a aeronave em <strong>um</strong>a violenta curva <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>nte, fez alguns giros e<br />

por milagre escapamos <strong>da</strong>s luzes. Quando nivelamos novamente me or<strong>de</strong>naram<br />

abrir o compartimento <strong>de</strong> bombas. Eu procurei <strong>um</strong> lugar para <strong>de</strong>spejá-las e fui para<br />

a direita, on<strong>de</strong> havia <strong>um</strong> ponto ain<strong>da</strong> sem chamas. Logo a nossa frente eu pu<strong>de</strong> ver<br />

outro B-29 voando na mesma direção. De repente ele <strong>de</strong>sapareceu n<strong>um</strong>a gigantesca<br />

explosão. Os japoneses <strong>de</strong>vem tê-lo acertado em cheio, e tenho certeza <strong>de</strong> que a<br />

tripulação não sentiu na<strong>da</strong>.<br />

Eu lancei minhas bombas e disse: “As bombas se foram, vamos sair logo <strong>da</strong>qui”.<br />

Meu piloto, que era <strong>um</strong>a alma aventurosa, não resistiu a subir alg<strong>um</strong>as centenas <strong>de</strong><br />

metros para circular a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e <strong>da</strong>r mais <strong>um</strong>a olha<strong>da</strong> na impressionante vista.<br />

Finalmente, ele fez a curva e entramos na escuridão em direção a Tinian.<br />

(ASHLAND:2010,p.1)<br />

Ilustração 15 - O trabalho <strong>da</strong>s equipes <strong>de</strong> combate às chamas em Tóquio (na missão <strong>de</strong> 9-10 <strong>de</strong> março) foi<br />

completamente saturado, permitindo <strong>um</strong>a conflagração geral incendiária na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. (CHUN: 2008, p.22)<br />

40


Ao contrário do estimado pela equipe <strong>de</strong> LeMay, as baixas giraram em torno <strong>de</strong><br />

somente 5%: 14 B-29s não voltaram 44 . Em troca, 40 quilômetros quadrados <strong>de</strong> Tóquio<br />

estavam agora completamente <strong>de</strong>struídos. Segundo Kissner (1945), entre os fatores que<br />

contribuíram para tal sucesso, estavam:<br />

• A concentração <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros sobre o alvo: 82% <strong>da</strong> força <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros<br />

passou sobre alvo nas duas horas iniciais do ataque, e somente alguns <strong>de</strong>sgarrados<br />

passaram na terceira hora;<br />

• Altitu<strong>de</strong>: a baixa altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> voo (2.000 metros) permitiu concentração maior <strong>da</strong>s<br />

bombas incendiárias do que se <strong>de</strong>speja<strong>da</strong>s <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> (10.000 metros). Os<br />

diferentes grupos <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io receberam altitu<strong>de</strong>s <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io diferentes,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo <strong>de</strong> seu tempo <strong>de</strong> passagem sobre o alvo, para confundir as <strong>de</strong>fesas<br />

antiaéreas japonesas 45 ;<br />

• Vento <strong>de</strong> superfície: na noite do ataque, <strong>um</strong> forte vento <strong>de</strong> superfície soprava sobre<br />

Tóquio, no eixo do ataque. Esse vento alimentou e ajudou a espalhar os incêndios, fato<br />

comprovado por análise <strong>de</strong> fotografias do alvo após o bombar<strong>de</strong>io.<br />

Em solo, o efeito combinado <strong>de</strong>sses fatores levou a <strong>de</strong>struição sem prece<strong>de</strong>ntes.<br />

Segundo Dorr (2002), o bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> Tóquio na madruga<strong>da</strong> <strong>de</strong> 10 <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945 gerou<br />

os mais quentes incêndios já registrados e foi o mais <strong>de</strong>vastador ataque aéreo <strong>da</strong> história.<br />

84.000 pessoas morreram e 1 milhão ficaram <strong>de</strong>sabriga<strong>da</strong>s. Uma testemunha ocular disse:<br />

As nuvens <strong>de</strong> fogo subiam ca<strong>da</strong> vez mais alto e a torre do prédio <strong>da</strong> Dieta<br />

silhuetava-se fortemente contra o céu vermelho. A ci<strong>da</strong><strong>de</strong> ganhou l<strong>um</strong>inosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

sol <strong>de</strong> meio-dia; nuvens <strong>de</strong> f<strong>um</strong>aça, fuligem e fagulhas impulsiona<strong>da</strong>s pela<br />

tempesta<strong>de</strong> a recobriam to<strong>da</strong>. Naquela noite pensamos que Tóquio fora reduzi<strong>da</strong> a<br />

cinzas. (COOX:1977,p.24)<br />

O incêndio generalizado <strong>da</strong>quela noite também atingiu a família real japonesa: no<br />

Palácio Imperial, o Imperador Hiroito e a Imperatriz se abrigaram n<strong>um</strong>a casamata antiaérea<br />

conheci<strong>da</strong> como Biblioteca Obunko. Bombas incendiárias caíram diretamente sobre as<br />

cavalariças imperiais e <strong>um</strong>a casa <strong>de</strong> chá nos jardins <strong>da</strong> Obunko. Destroços vindos <strong>da</strong> área<br />

incendia<strong>da</strong> no centro <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, soprados pelo vento forte, inflamaram a grama e as cercas-<br />

44 Essa foi a maior taxa <strong>de</strong> per<strong>da</strong>s em <strong>um</strong>a única missão até então, e corrobora com o relato <strong>de</strong> Appleby, que<br />

<strong>de</strong>screve a capital japonesa cheia <strong>de</strong> holofotes e armas antiaéreas. Contudo, a taxa foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “aceitável”<br />

<strong>de</strong>vido ao tremendo sucesso <strong>da</strong> missão e o número <strong>de</strong> aeronaves envolvi<strong>da</strong>s.<br />

45 Projéteis <strong>de</strong> armas antiaéreas são equipados com espoletas para explodirem <strong>um</strong>a altitu<strong>de</strong> pré-<strong>de</strong>termina<strong>da</strong>. Ao<br />

modificar a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> sobrevoo entre os grupos <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io, os americanos diminuíam a eficácia <strong>da</strong>s armas<br />

antiaéreas japonesas, que tinham que ser constantemente recalibra<strong>da</strong>s.<br />

41


vivas, bem como os arbustos. Somente o trabalho <strong>de</strong> <strong>de</strong>zenas <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>dos, bombeiros e<br />

guar<strong>da</strong>s palacianos impediu a <strong>de</strong>struição do Palácio Imperial.<br />

Coox (1977,p.24) <strong>de</strong>screve que:<br />

Em meio à confusão e a barulheira infernal, o Imperador e a esposa procuravam<br />

aparentar calma, sentados no segundo subsolo <strong>da</strong> Obunko. O Imperador aguar<strong>da</strong>va<br />

informes <strong>da</strong> ocupação militar japonesa na Indochina Francesa, em meio ao inferno<br />

em que se transformou o centro <strong>de</strong> Tóquio, e estava na expectativa do nascimento<br />

iminente (em outro abrigo antiaéreo na ci<strong>da</strong><strong>de</strong>) do seu primeiro neto. No abrigo<br />

imperial, apesar dos exaustores, era forte o cheiro <strong>de</strong> f<strong>um</strong>aça.<br />

Antes que a força <strong>de</strong> B-29s fosse <strong>de</strong>svia<strong>da</strong> <strong>de</strong> sua função primordial para apoiar o<br />

ataque naval à ilha <strong>de</strong> Okinawa – cujas operações estavam marca<strong>da</strong>s para ter início no dia 23<br />

<strong>de</strong> março – o General LeMay <strong>de</strong>cidiu apressar o passo dos bombar<strong>de</strong>ios incendiários, pois viu<br />

que teria apenas duas semanas para atacar todos os alvos selecionados: Tóquio, Nagoya,<br />

Osaka e Kobe (HUGLIN, 2008).<br />

Ilustração 16 - Destruição em Tóquio após o ataque incendiário <strong>de</strong> 9-10 <strong>de</strong> março. (CHUN: 2008, p.31)<br />

Após o sucesso estrondoso do ataque a Tóquio, a missão seguinte sobre Nagoya (na<br />

noite <strong>de</strong> 11 para 12 <strong>de</strong> março) foi executa<strong>da</strong> utilizando-se os mesmos princípios vigentes na<br />

missão <strong>de</strong> Tóquio. Mas os resultados foram bastante aquém do esperado. Ao utilizar-se a<br />

mesma política <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem, na qual alas <strong>de</strong>colavam juntas, mas nenh<strong>um</strong> tipo <strong>de</strong> formação<br />

geral se <strong>da</strong>va antes <strong>da</strong> chega<strong>da</strong> ao alvo, o resultado foi que meta<strong>de</strong> <strong>da</strong> força <strong>de</strong> B-29s (54%)<br />

42


sobrevoou ao alvo durante a primeira hora do ataque, e a outra meta<strong>de</strong> (46%) somente<br />

sobrevoou a área na terceira hora do ataque. Isso gerou <strong>um</strong> interlúdio no qual as equipes <strong>de</strong><br />

combate às chamas pu<strong>de</strong>ram agir e apagar gran<strong>de</strong> parte dos incêndios; a segun<strong>da</strong> meta<strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

força <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros <strong>de</strong>spejou suas bombas sobre <strong>um</strong>a área na qual as equipes <strong>de</strong> bombeiros<br />

já estavam distribuí<strong>da</strong>s e controlavam as chamas. Ou seja, a missão Nagoya I (como ficou<br />

conheci<strong>da</strong>) falhou no princípio básico <strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> aeronaves sobre o alvo – os<br />

incêndios gerados não saturaram as medi<strong>da</strong>s <strong>de</strong> combate às chamas. Somente 5,3 quilômetros<br />

quadrados <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> foram <strong>de</strong>struídos (KISSNER, 1945).<br />

Ao analisar-se os problemas <strong>da</strong> missão Nagoya I, o planejamento <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem foi<br />

modificado para que as aeronaves chegassem juntas ao alvo na terceira missão: Osaka, na<br />

noite <strong>de</strong> 13 para 14 <strong>de</strong> março. Ao invés <strong>de</strong> <strong>um</strong>a hora pré-<strong>de</strong>termina<strong>da</strong> para <strong>de</strong>colagem, as alas<br />

receberam como meta janelas <strong>de</strong> tempo 46 sobre o alvo, encorajando ca<strong>da</strong> <strong>um</strong>a a planejar sua<br />

própria sequência <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem. Contudo, <strong>um</strong>a frente <strong>de</strong> mau-tempo fez com que 30% <strong>da</strong><br />

força <strong>de</strong> ataque se <strong>de</strong>sgarrasse e passasse sobre o alvo somente na terceira hora do ataque.<br />

Kissner (1945) prossegue dizendo que Osaka estava encoberta por <strong>um</strong>a cama<strong>da</strong> baixa<br />

<strong>de</strong> nuvens, que cobria 8/10 do alvo. Isso tornou o bombar<strong>de</strong>io visual virtualmente impossível<br />

e forçou os bombar<strong>de</strong>adores a realizarem o lançamento <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> forma mais controla<strong>da</strong>,<br />

fazendo uso do ra<strong>da</strong>r. Ironicamente, o mau-tempo fez com que o lançamento <strong>da</strong>s bombas<br />

fosse mais preciso, e ampliou a área <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> para 20 quilômetros quadrados.<br />

Na quarta missão, Kobe, na noite <strong>de</strong> 16 para 17 <strong>de</strong> março, o mesmo sistema <strong>de</strong> janelas<br />

<strong>de</strong> tempo sobre o alvo foi utilizado, e <strong>de</strong>sta vez 96% <strong>da</strong> força <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros passou sobre o<br />

alvo nas primeiras duas horas. No entanto, somente 6 quilômetros quadrados <strong>da</strong> área do alvo<br />

foram <strong>de</strong>struídos. A explicação é que, após o sucesso <strong>da</strong> missão a Osaka utilizando-se o<br />

bombar<strong>de</strong>io controlado por ra<strong>da</strong>r, LeMay resolveu utilizar essa prática como padrão. O<br />

problema foi que a as três alas <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io (73ª, 313ª e 314ª) atacaram por <strong>um</strong> mesmo eixo<br />

<strong>de</strong> aproximação, que explorava mal a geografia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Dessa forma, a formação chegou<br />

quase simultaneamente sobre o alvo, bombar<strong>de</strong>ou controla<strong>da</strong>mente utilizando-se do ra<strong>da</strong>r,<br />

mas <strong>de</strong>spejou as bombas n<strong>um</strong>a área pequena (KISSNER, 1945).<br />

Uma segun<strong>da</strong> missão a Nagoya (conheci<strong>da</strong> por Nagoya II) foi realiza<strong>da</strong> na noite <strong>de</strong> 18<br />

para 19 <strong>de</strong> março, e teve resultados semelhantes aos registrados em Kobe. Nagoya II concluiu<br />

a fase inicial <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io incendiário, e contribuiu para levantar <strong>da</strong>dos estatísticos para<br />

análise. Essa análise <strong>de</strong>u ênfase a <strong>um</strong> conjunto <strong>de</strong> fatores que, acreditava-se, eram os<br />

46 Intervalo horário pré-<strong>de</strong>terminado.<br />

43


esponsáveis pelo sucesso ou fracasso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a missão incendiária. São eles, segundo Kissner<br />

(1945):<br />

• Densi<strong>da</strong><strong>de</strong> do padrão (distribuição <strong>da</strong> carga <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> <strong>um</strong>a única aeronave):<br />

concluiu-se o B-29 <strong>de</strong>ve carregar entre 40 e 46 casulos incendiários M-69 47 . Em baixa<br />

altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io (1.500 a 2.000 metros) a aeronave <strong>de</strong>ve lançar sua carga <strong>de</strong><br />

bombas. Os casulos <strong>de</strong>vem explodir a 15 metros <strong>de</strong> altura, espalhando os incendiários<br />

aleatoriamente ao redor. Otimizando-se o lançamento <strong>de</strong>ssa maneira, a área afeta<strong>da</strong><br />

pela carga completa <strong>de</strong> bombas <strong>de</strong> <strong>um</strong> B-29 é <strong>de</strong> 600 m x 100 m.<br />

• Densi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> área (distribuição <strong>da</strong>s bombas <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as aeronaves pela área do<br />

alvo): as medi<strong>da</strong>s que permitiam distribuir as cargas <strong>de</strong> bombas <strong>da</strong>s aeronaves<br />

igualmente por to<strong>da</strong> a área do alvo não foram plenamente <strong>de</strong>sven<strong>da</strong><strong>da</strong>s. Geralmente,<br />

os planejadores divi<strong>de</strong>m a área do alvo em três setores e <strong>de</strong>signam ca<strong>da</strong> setor a <strong>um</strong>a<br />

ala <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io; essa teoria é acerta<strong>da</strong>, mas sua execução nem sempre é tão certa.<br />

Como visto, a missão <strong>de</strong> Tóquio foi realiza<strong>da</strong> por bombar<strong>de</strong>io visual – em ca<strong>da</strong> ala, os<br />

bombar<strong>de</strong>adores <strong>de</strong>spejaram bombas ao redor <strong>de</strong> sua área <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>, e os resultados<br />

foram ótimos – mas em Nagoya I os resultados foram pobres utilizando-se <strong>da</strong> mesma<br />

tática. Em Osaka, o bombar<strong>de</strong>io foi realizado por ra<strong>da</strong>r, e os resultados foram bons;<br />

contudo, em Kobe e Nagoya II, conseguiu-se pouco repetindo-se essa técnica.<br />

Decidiu-se que aspectos individuais <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> alvo seriam analisados antes <strong>de</strong> ca<strong>da</strong><br />

missão para melhorar a <strong>de</strong>nsi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> área, como o eixo do ataque, geografia <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

disposição <strong>da</strong>s áreas <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s para ca<strong>da</strong> ala, e tamanho do alvo.<br />

• Tipo <strong>de</strong> bomba: o casulo M-69 provou-se o mais eficiente para ataques incendiários<br />

contra áreas urbanas. O casulo M-50 mostrou-se <strong>um</strong> pouco menos eficiente, embora<br />

seja menor e possibilite ampliar a área <strong>de</strong> <strong>da</strong>nos <strong>da</strong> carga total.<br />

• Concentração (número <strong>de</strong> aeronaves bombar<strong>de</strong>ando o alvo n<strong>um</strong> <strong>da</strong>do momento):<br />

Como já observado, a concentração <strong>de</strong> aeronaves sobre o alvo tem o objetivo <strong>de</strong><br />

saturar as <strong>de</strong>fesas anti-chamas inimigas e gerar <strong>um</strong>a conflagração incendiária geral no<br />

alvo. Ao estabelecer <strong>um</strong> horário <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem para ca<strong>da</strong> ala, os planejadores não<br />

levaram em conta o sincronismo <strong>de</strong> sua passagem sobre o alvo como <strong>um</strong>a força única.<br />

A concentração <strong>de</strong> aeronaves na missão <strong>de</strong> Tóquio se <strong>de</strong>u por sorte. Já em Nagoya I,<br />

as aeronaves se dispersaram bastante, impedindo a conflagração geral. A partir <strong>da</strong><br />

47 O casulo M-69 carregava 38 pequenas bombas <strong>de</strong> napalm (composto incendiário <strong>de</strong> gasolina gelatinosa que<br />

queima prolonga<strong>da</strong>mente), que se espalhavam sobre <strong>um</strong>a área-alvo.<br />

44


missão <strong>de</strong> Osaka, ca<strong>da</strong> ala recebeu <strong>um</strong>a janela <strong>de</strong> tempo sobre o alvo, e ca<strong>da</strong> aeronave<br />

fazia o necessário para c<strong>um</strong>prir a tabela <strong>de</strong> tempo. Esse mo<strong>de</strong>lo tornou-se <strong>um</strong> pré-<br />

requisito para o sucesso, mas não <strong>um</strong>a garantia.<br />

• Vento <strong>de</strong> superfície: contar com vento <strong>de</strong> superfície é <strong>um</strong> fator que po<strong>de</strong> garantir o<br />

sucesso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a missão. O ataque a Tóquio foi o único que contou com fortes ventos<br />

<strong>de</strong> superfície na hora do bombar<strong>de</strong>io, e a gran<strong>de</strong> área <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> é reflexo disso. Além<br />

<strong>de</strong> ampliar a área <strong>da</strong>nifica<strong>da</strong>, os ventos <strong>de</strong> superfície agilizam a junção <strong>de</strong> incêndios<br />

individuais em <strong>um</strong>a conflagração geral, saturando as equipes <strong>de</strong> combate às chamas.<br />

Sendo assim, o planejamento <strong>da</strong>s missões incendiárias era feito, sempre que possível,<br />

para tomar vantagem dos ventos <strong>de</strong> superfície.<br />

• Precipitação: antes <strong>da</strong> fase inicial <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io noturno incendiário, acreditava-se<br />

que a ocorrência <strong>de</strong> chuva ou neve imediatamente antes ou <strong>de</strong>pois dos ataques<br />

contribuiria para diminuir seu sucesso. Esses medos provaram-se infun<strong>da</strong>dos. Em<br />

Tóquio, chuva ou neve caíram consi<strong>de</strong>ravelmente nas 48 horas anteriores ao ataque,<br />

cobrindo os tetos <strong>da</strong>s casas com <strong>um</strong>i<strong>da</strong><strong>de</strong>. Contudo, os incêndios se alastraram<br />

rapi<strong>da</strong>mente. Já em Nagoya I, nenh<strong>um</strong>a chuva caiu até 96 horas antes do ataque – a<br />

ci<strong>da</strong><strong>de</strong> passava por <strong>um</strong> período extremamente seco – e os resultados foram<br />

<strong>de</strong>sanimadores. Em Osaka, segundo ataque mais bem-sucedido <strong>da</strong> fase incendiária<br />

inicial, caiu chuva 12 horas após o ataque, mas que não interferiu com os incêndios.<br />

Concluiu-se que a precipitação não tem efeito apreciável para o sucesso <strong>da</strong>s missões.<br />

Segundo Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001), durante a fase incendiária inicial, as <strong>de</strong>fesas aéreas<br />

japonesas se manifestaram incrivelmente inaptas. Embora 14 B-29s tenham sido perdidos<br />

sobre Tóquio, nenh<strong>um</strong>a per<strong>da</strong> se <strong>de</strong>u por causa dos caças – somente a artilharia antiaérea e<br />

falhas mecânicas levaram o crédito. O feito mais impressionante dos caças japoneses nesse<br />

período foi protagonizado pelo Sargento Kenji Fujimoto, do 246º Sentai: ele sobreviveu a<br />

dois abalroamentos, o primeiro quando chocou seu caça contra <strong>um</strong> B-29 sobre Osaka e o<br />

segundo <strong>da</strong> mesma maneira sobre Kobe. Fujimoto recebeu o Bukosho 48 por extraordinários<br />

feitos <strong>de</strong> bravura.<br />

48 O Bukosho era a “me<strong>da</strong>lha <strong>de</strong> honra” japonesa. Foi instituí<strong>da</strong> pelo Imperador Hiroito em 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong><br />

1944, quebrando <strong>um</strong>a tradição secular – o Japão nunca con<strong>de</strong>corara indivíduos vivos por bravura.<br />

Anteriormente, somente os mortos podiam ser consi<strong>de</strong>rados heróis.<br />

45


Escolta <strong>de</strong> caças<br />

A ilha <strong>de</strong> Iwo Jima 49 fica encrava<strong>da</strong> no Oceano Pacífico, a meio-caminho entre as<br />

Ilhas Marianas e o Japão. Com apenas 20 quilômetros quadrados <strong>de</strong> área, sua paisagem plana<br />

com solo vulcânico é domina<strong>da</strong> pelo Monte Suribachi, <strong>um</strong> vulcão extinto que é o único relevo<br />

<strong>da</strong> ilha. Como parte do território japonês, Iwo Jima era fortifica<strong>da</strong> por posições <strong>de</strong> artilharia e<br />

<strong>um</strong>a re<strong>de</strong> <strong>de</strong> túneis que interligava as centenas <strong>de</strong> postos <strong>de</strong>fensivos, que incluíam ninhos <strong>de</strong><br />

metralhadora, morteiros e <strong>de</strong>pósitos <strong>de</strong> munição. Ela também tinha <strong>um</strong> formidável aeródromo,<br />

do qual <strong>de</strong>colavam bombar<strong>de</strong>iros e caças japoneses, que estavam a alcance <strong>da</strong>s Ilhas Marianas<br />

(DORR, 2002).<br />

Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001) relatam que <strong>de</strong>s<strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1944 os japoneses vinham<br />

montando ataques aéreos contra as bases dos B-29s nas Marianas, e para garantir que as<br />

operações <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico mantivessem <strong>um</strong> nível <strong>de</strong> frequência aceitável, era <strong>um</strong><br />

passo lógico eliminar a ameaça que Iwo Jima impunha.<br />

A invasão <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> Iwo Jima começou em 19 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1945, quando 30.000<br />

fuzileiros navais <strong>de</strong>sembarcaram nas praias, apoiados por <strong>um</strong>a arma<strong>da</strong> <strong>de</strong> mais <strong>de</strong> 800 navios.<br />

A batalha durou mais <strong>de</strong> <strong>um</strong> mês e cons<strong>um</strong>iu 7.000 vi<strong>da</strong>s americanas e 20.000 vi<strong>da</strong>s<br />

japonesas. Pela primeira vez na história, <strong>um</strong>a nação inimiga havia içado sua ban<strong>de</strong>ira em<br />

território japonês conquistado – <strong>um</strong>a cena que ficou imortaliza<strong>da</strong> pela foto tira<strong>da</strong> por Joe<br />

Rosenthal no topo do Monte Suribachi.<br />

Ilustração 17 - Mustangs do VII Comando <strong>de</strong> Caça na pista <strong>de</strong> Iwo Jima, após a captura <strong>da</strong> ilha. Ao<br />

fundo, o Monte Suribachi. (YELLIN: 2009b, p.1)<br />

Segundo Molesworth (2006), além <strong>de</strong> anular a plataforma pela qual os japoneses<br />

podiam lançar ataques aéreos contra as Marianas, a conquista <strong>de</strong> Iwo Jima resolveu<br />

finalmente <strong>um</strong> problema <strong>de</strong> LeMay: após a fase inicial <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>ios incendiários, seus B-<br />

49 Ver Anexo B “Mapa do Teatro <strong>de</strong> Operações do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal”.<br />

46


29s tinham agora as táticas i<strong>de</strong>ais para <strong>de</strong>struir as áreas industriais urbanas do Japão, mas as<br />

fábricas em si permaneciam <strong>de</strong> pé e careciam <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io diurno <strong>de</strong> precisão para serem<br />

individualmente <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>s. Como o bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> altitu<strong>de</strong> mostrara-se <strong>de</strong> baixíssima<br />

precisão, o bombar<strong>de</strong>io à baixa altitu<strong>de</strong> tornou-se necessário. Entretanto, ao voar baixo em<br />

plena luz do dia, os Superfortresses se tornariam <strong>um</strong> alvo fácil para a <strong>de</strong>fesa antiaérea e os<br />

caças japoneses. A solução era prover aos B-29s <strong>um</strong>a escolta <strong>de</strong> caças; mas antes <strong>da</strong> captura<br />

<strong>da</strong> pista <strong>de</strong> Iwo Jima, nenh<strong>um</strong>a base norte-americana colocava o Japão <strong>de</strong>ntro do alcance<br />

operacional <strong>de</strong> seus caças 50 .<br />

Na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, diversos outros fatores colaboraram para por a pequena ilha na lista <strong>de</strong><br />

objetivos estratégicos norte-americanos, como res<strong>um</strong>iu o Capitão Jerome “Jerry” Yellin, que<br />

pilotou caças em Iwo Jima:<br />

Em mãos americanas, Iwo serviu a três propósitos importantes. Foi usa<strong>da</strong> como<br />

ponto <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para caças escoltarem os bombar<strong>de</strong>iros B-29; eliminou o<br />

avistamento antecipado dos B-29s pelos japoneses e os avisos <strong>de</strong> ataque ao Japão; e<br />

proveu <strong>um</strong>a pista <strong>de</strong> emergência para bombar<strong>de</strong>iros <strong>da</strong>nificados que retornavam <strong>da</strong>s<br />

missões. To<strong>da</strong>s as missões sobre o Japão <strong>de</strong> caças baseados em terra originaram-se<br />

em Iwo. Quando a guerra terminou, 2.400 B-29s <strong>da</strong>nificados haviam pousado lá,<br />

salvando a vi<strong>da</strong> <strong>de</strong> 27.000 aviadores americanos. (YELLIN: 2009a, p.126)<br />

O VII Comando <strong>de</strong> Caças foi a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> escolhi<strong>da</strong> para operar em Iwo Jima e escoltar<br />

os B-29s. Coman<strong>da</strong><strong>da</strong> pelo Briga<strong>de</strong>iro-General Ernest “Mickey” Moore, a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> operava<br />

caças North American P-51 Mustang. O Mustang caracterizava-se especialmente por seu<br />

gran<strong>de</strong> alcance operacional (2.755 km), tendo sido o primeiro caça a escoltar bombar<strong>de</strong>iros<br />

até Berlim, partindo <strong>da</strong> Inglaterra, no verão <strong>de</strong> 1944. Molesworth (2006) relata que os pilotos<br />

do VII Comando haviam recebido seus primeiros Mustangs no fim <strong>de</strong> 1944, e embarcaram<br />

para as Ilhas Marianas em janeiro <strong>de</strong> 1945. No dia 7 <strong>de</strong> março, logo após o batalhão <strong>de</strong><br />

engenharia dos fuzileiros ter finalizado os reparos na recém-captura<strong>da</strong> pista <strong>de</strong> pouso em Iwo<br />

Jima, os primeiros Mustangs do VII Comando <strong>de</strong> Caças pousaram na ilha. Entre eles, estava<br />

Jerry Yellin, alocado no 78º Esquadrão do 15º Grupo <strong>de</strong> Caça:<br />

Em 7 <strong>de</strong> março eu voei <strong>de</strong> Saipan para Iwo Jima com o 15º Grupo <strong>de</strong> Caças. Estava<br />

no coração <strong>da</strong> guerra pela primeira vez <strong>de</strong>s<strong>de</strong> meu alistamento. A ilha tinha sido<br />

<strong>de</strong>vasta<strong>da</strong> por bombas e artilharia pesa<strong>da</strong>; incêndios queimavam; a f<strong>um</strong>aça era<br />

espessa no ar. De <strong>um</strong> lado <strong>da</strong> pista, pilhas <strong>de</strong> corpos <strong>de</strong> japoneses mal cobertos por<br />

montes <strong>de</strong> terra. (YELLIN: 2009a, p.126)<br />

50 Caças norte-americanos embarcados em porta-aviões po<strong>de</strong>riam chegar ao Japão, mas isso acarretaria levar<br />

expor o navio ao raio <strong>de</strong> ação <strong>da</strong>s aeronaves japonesas lá basea<strong>da</strong>s.<br />

47


Ilustração 18 - General Ernest "Mickey" Moore e Capitão Jerry Yellin. (YELLIN: 2009b, p.1)<br />

Os Mustangs do VII Comando realizaram missões <strong>de</strong> apoio terrestre aos fuzileiros até<br />

o fim <strong>da</strong> batalha – Iwo Jima só foi consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> conquista em 26 <strong>de</strong> março – e <strong>de</strong>pois disso<br />

iniciaram <strong>um</strong> período <strong>de</strong> missões <strong>de</strong> teste para ganharem experiência em voos <strong>de</strong> longa<br />

distância sobre o Pacífico. Assim, somente em 7 <strong>de</strong> abril os caças finalmente <strong>de</strong>colaram para<br />

escoltar os B-29s sobre o Japão. Jerry Yellin estava entre os 108 pilotos <strong>de</strong> caça que<br />

participaram <strong>da</strong> histórica missão. O General Moore também <strong>de</strong>colou naquele dia, mas teve<br />

que abortar ao <strong>de</strong>scobrir que seu controle <strong>de</strong> combustível não funcionava corretamente<br />

(MOLESWORTH, 2006).<br />

Os caças eram guiados até o Japão por <strong>um</strong> Superfortress guia, e juntaram-se à<br />

formação principal a cerca <strong>de</strong> 160 km <strong>de</strong> Tóquio. O alvo <strong>da</strong>quela missão era o já conhecido<br />

Alvo 357 – a fábrica <strong>de</strong> motores aeronáuticos <strong>de</strong> Musashino. Era a décima tentativa que os<br />

americanos faziam para <strong>de</strong>struir a fábrica, mas somente <strong>de</strong>sta vez foram reuni<strong>da</strong>s as<br />

possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s para atingir-se <strong>um</strong> bom resultado: os bombar<strong>de</strong>iros voavam baixo, com bom<br />

tempo e cobertura <strong>de</strong> caças.<br />

Os pilotos japoneses que <strong>de</strong>colaram naquele dia para interceptar os bombar<strong>de</strong>iros<br />

ficaram chocados ao perceber que caças os escoltavam, mas tentaram ignorar os Mustangs e<br />

concentrar-se nos B-29s. Um <strong>de</strong>les foi o Tenente Satohi<strong>de</strong> Kohatsu, do 244º Sentai, atacou o<br />

B-29 “Mrs. Tittymouse” (do 498º Grupo <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io), pilotado pelo Tenente John Wise.<br />

Aproximando-se por baixo e <strong>de</strong> frente, Kohatsu atingiu em cheio o “Mrs. Tittymouse”, e teve<br />

48


sua asa direita inteiramente arranca<strong>da</strong>. Ele ain<strong>da</strong> conseguiu sair <strong>da</strong> cabine <strong>de</strong> seu avião em<br />

parafuso, e olhou para cima, observando <strong>um</strong> grupo <strong>de</strong> B-29s que passava, e atiravam nele.<br />

Kohatsu se lembrou: “Que avião gran<strong>de</strong>! Nossos caças eram tão pequenos. Era como <strong>um</strong>a<br />

águia contra <strong>um</strong> par<strong>da</strong>l. E havia bem mais B-29s do que nossos caças” (TAKAKI e<br />

SAKAIDA, 2001).<br />

Os <strong>de</strong>stroços do B-29 “Mrs. Tittymouse” espalharam-se por <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> área, e a<br />

fuselagem principal caiu perto <strong>de</strong> <strong>um</strong> hospital. Takaki e Sakai<strong>da</strong> (2001) relatam que o<br />

bombar<strong>de</strong>iro tinha pintado perto <strong>da</strong> cabine <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> figura <strong>de</strong> <strong>um</strong>a mulher nua.<br />

Rapi<strong>da</strong>mente, <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> multidão <strong>de</strong> curiosos (principalmente homens) se juntou para<br />

“observar” o <strong>de</strong>senho – enquanto mulheres olhavam com <strong>de</strong>sprezo.<br />

Um dos tripulantes que conseguiram saltar do bombar<strong>de</strong>iro foi o Sargento Norman<br />

Seliz. Enquanto ele <strong>de</strong>scia no paraque<strong>da</strong>s, <strong>um</strong> caça japonês tentou metralhá-lo, mas para sua<br />

sorte, <strong>um</strong> dos Mustangs chegou para afugentar o <strong>inimigo</strong>. Ao chegar ao solo, Seliz foi<br />

agredido por <strong>um</strong> casal <strong>de</strong> civis, mas sobreviveu ao cativeiro 51 .<br />

Ilustração 19 - Caças P-51 do 15º Grupo <strong>de</strong> Caça em voo. (MOLESWORTH: 2006, p.24)<br />

Os pilotos <strong>de</strong> caça americanos c<strong>um</strong>priram bem seu papel em 7 <strong>de</strong> abril: somente 3 B-<br />

29s foram perdidos sobre Tóquio, para <strong>um</strong> total <strong>de</strong> 21 caças japoneses <strong>de</strong>struídos pelos<br />

51 Frequentemente aviadores americanos que saltavam sobre o Japão eram alvos <strong>de</strong> linchamento pela população.<br />

Muitos foram con<strong>de</strong>nados a morte por tribunais militares em julgamentos-relâmpago, acusados <strong>de</strong> “crimes <strong>de</strong><br />

guerra”. Um grupo <strong>de</strong> aviadores americanos ain<strong>da</strong> tornou-se cobaia para experimentos <strong>de</strong> vivisseção em <strong>um</strong>a<br />

aula <strong>de</strong> anatomia.<br />

49


Mustangs. O <strong>de</strong>staque ficou com Major James Tapp, do 78º Esquadrão <strong>de</strong> Caça, que <strong>de</strong>rrubou<br />

4 caças japoneses naquele dia (MOLESWORTH, 2006).<br />

Sucesso também foi atingido pelos Superfortresses: Musashino foi finalmente<br />

<strong>de</strong>struí<strong>da</strong>, tendo sofrido <strong>da</strong>nos em meta<strong>de</strong> <strong>de</strong> sua estrutura. Ain<strong>da</strong> segundo Molesworth<br />

(2006), LeMay convenceu-se <strong>de</strong> que os caças <strong>de</strong> Moore podiam proteger efetivamente seus<br />

bombar<strong>de</strong>iros, e que missões diurnas <strong>de</strong> precisão em baixa altitu<strong>de</strong> eram viáveis.<br />

As missões para os pilotos <strong>de</strong> Mustang eram muito exigentes, com duração média <strong>de</strong><br />

quase 8 horas. Nessas missões, que foram <strong>de</strong>signa<strong>da</strong>s VLR, os pilotos retornavam tão<br />

exaustos que precisavam <strong>de</strong> aju<strong>da</strong> até mesmo para levantar-se e <strong>de</strong>scer do avião. O cirurgião-<br />

chefe do VII Comando, Tenente-Coronel Joseph “Smoky” Walther, preocupado com o estado<br />

físico <strong>de</strong>plorável dos seus pilotos após as missões, construiu <strong>um</strong> spa para relaxamento em Iwo<br />

Jima. Os batalhões <strong>de</strong> engenharia dos fuzileiros perfuraram o solo e conseguiram bombear<br />

água vulcânica, que subia por canos até banheiras quentes. O spa <strong>de</strong> Walther contribuiu para<br />

manter a prontidão física dos pilotos, diminuindo o tempo <strong>de</strong> recuperação entre missões<br />

(MOLESWORTH, 2006).<br />

O VII Comando <strong>de</strong> Caças prosseguiu crescendo em números nos meses seguintes,<br />

com a chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> novos grupos <strong>de</strong> caça; com o progresso <strong>da</strong>s operações, além <strong>da</strong> escolta <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>iros, passaram a realizar missões <strong>de</strong> ataque ao solo no Japão.<br />

Minagem <strong>da</strong>s águas japonesas<br />

No fim <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1944 o presi<strong>de</strong>nte Franklin Roosevelt zarpou no cruzador USS<br />

Baltimore para Honolulu, no Havaí. Seu objetivo era conferenciar com o General Douglas<br />

MacArthur e o Almirante Chester Nimitz, seus dois coman<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> campo seniores no<br />

Pacífico. Roosevelt gostaria <strong>de</strong> colher as opiniões <strong>de</strong>les, e <strong>de</strong>scobrir que tipos <strong>de</strong> diferenças<br />

existiam em relação ao pensamento dos Chefes <strong>de</strong> Estado-Maior em Washington<br />

(SALLAGAR, 1974).<br />

Na capital norte-americana, a opinião vigente sobre a estratégia no Pacífico <strong>de</strong>fendia a<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>um</strong>a invasão maciça do Japão. Essa opinião era <strong>de</strong>fendi<strong>da</strong> pelo Chefe <strong>de</strong><br />

Estado-Maior do Exército, o respeitado General George Marshall. Contudo, tanto MacArthur<br />

quanto Nimitz, os coman<strong>da</strong>ntes <strong>de</strong> campo, discor<strong>da</strong>vam <strong>de</strong>ssa visão. Em sua opinião, era<br />

aparente que <strong>um</strong>a invasão do Japão era <strong>de</strong>snecessária: o po<strong>de</strong>r ofensivo japonês havia sido<br />

50


<strong>de</strong>struído em sucessivas <strong>de</strong>rrotas navais, com a <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> sua frota<br />

mercante e a per<strong>da</strong> do acesso a petróleo e outras matérias-primas. A <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> salto pelas<br />

ilhas havia separado o Japão <strong>de</strong> muitas <strong>de</strong> suas conquistas <strong>de</strong> além-mar, e trouxe o po<strong>de</strong>rio<br />

aeronaval norte-americano para bem perto <strong>da</strong>s ilhas japonesas. Na opinião <strong>de</strong> Sallagar (1974):<br />

“Alguns dos lí<strong>de</strong>res militares japoneses já sentiam que a per<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Marianas entre junho e<br />

julho <strong>de</strong> 1944 havia selado o <strong>de</strong>stino do Império e impedido qualquer chance <strong>de</strong> evitar a<br />

<strong>de</strong>rrota completa.”<br />

A visão <strong>de</strong> MacArthur e Nimitz causou <strong>um</strong>a forte impressão no presi<strong>de</strong>nte Roosevelt.<br />

O Almirante William Leahy, Chefe <strong>de</strong> Estado-Maior pessoal do presi<strong>de</strong>nte, res<strong>um</strong>iu os<br />

resultados <strong>da</strong> conferência:<br />

O acordo sobre a estratégia fun<strong>da</strong>mental a ser emprega<strong>da</strong> para <strong>de</strong>rrotar o Japão e a<br />

familiarização <strong>da</strong> situação que o presi<strong>de</strong>nte adquiriu nesta conferência, foram <strong>de</strong><br />

gran<strong>de</strong> valor para prevenir <strong>um</strong>a <strong>de</strong>snecessária invasão do Japão que era advoga<strong>da</strong><br />

pelos planejadores dos Chefes <strong>de</strong> Estado-Maior Conjunto e do Departamento <strong>de</strong><br />

Guerra, <strong>de</strong>sconsi<strong>de</strong>rando a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>s que <strong>um</strong> ataque às forças terrestres<br />

japonesas em seu território provocaria. MacArthur e Nimitz estavam agora <strong>de</strong><br />

acordo que as Filipinas <strong>de</strong>veriam ser recupera<strong>da</strong>s com as forças aéreas e terrestres<br />

já disponíveis no oeste do Pacífico e que o Japão po<strong>de</strong>ria ser forçado a aceitar os<br />

termos <strong>de</strong> <strong>um</strong>a rendição pelo uso do po<strong>de</strong>r aeronaval sem <strong>um</strong>a invasão do Japão.<br />

(SALLAGAR: 1974, p.18)<br />

Ilustração 20 - Em Honolulu, Havaí: (esq. para dir.) Gen. Douglas MacArthur, Presi<strong>de</strong>nte Franklin<br />

Roosevelt, Almirante William Leahy e Almirante Chester Nimitz. (CHUN: 2008, p.11)<br />

51


Dessa forma, o Comitê <strong>de</strong> Analistas Operacionais emitiu, em 10 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1944,<br />

<strong>um</strong> relatório <strong>de</strong> recomen<strong>da</strong>ções para a <strong>campanha</strong> com base em duas premissas (SALLAGAR,<br />

1974):<br />

• Sob a Premissa nº 1: Que a <strong>de</strong>rrota do Japão <strong>de</strong>veria ser atingi<strong>da</strong> primariamente<br />

através <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico e bloqueio naval.<br />

1. Campanha anti-navio generaliza<strong>da</strong>, incluindo <strong>um</strong>a compreensiva <strong>campanha</strong> <strong>de</strong><br />

minagem;<br />

2. Ataque à indústria aeronáutica japonesa;<br />

3. Ataque aos centros industriais urbanos japoneses;<br />

4. Revisão <strong>da</strong> lista <strong>de</strong> alvos <strong>da</strong> indústria aeronáutica e centros industriais urbanos<br />

a serem atacados.<br />

• Sob a Premissa nº 2: Que a invasão do Japão <strong>de</strong>veria ser lança<strong>da</strong> no fim <strong>de</strong> 1945 ou<br />

começo <strong>de</strong> 1946.<br />

1. Ataque à indústria aeronáutica japonesa;<br />

2. Ataque aos centros industriais urbanos japoneses;<br />

3. Intensificação dos ataques à navegação japonesa por todos os métodos<br />

disponíveis, incluindo a minagem por aeronaves <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> alcance on<strong>de</strong><br />

operacionalmente viável.<br />

Como observado, o bloqueio naval do Japão era <strong>um</strong>a ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> que <strong>de</strong>veria ser<br />

executa<strong>da</strong>, não importando o método final a ser utilizado para atingir-se a <strong>de</strong>rrota do Japão. A<br />

minagem <strong>de</strong> portos e rotas <strong>de</strong> comboios japoneses já acontecia <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 1942, mas<br />

primordialmente essa minagem era feita nas zonas externas dos domínios japoneses – muito<br />

pouco contra o Japão em si.<br />

Sallagar (1974) ressalta que como os navios <strong>de</strong> superfície norte-americanos ain<strong>da</strong> não<br />

podiam aproximar-se <strong>da</strong>s ilhas japonesas com segurança, submarinos eram os únicos meios<br />

navais que vinham realizando o lançamento <strong>de</strong> minas. Contudo, o pequeno número <strong>de</strong><br />

submarinos disponíveis e sua restrita capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carga – que era geralmente preenchi<strong>da</strong><br />

com torpedos – impediam a ampliação <strong>da</strong> <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> minagem para que resultados<br />

palpáveis fossem obtidos.<br />

Essa situação mudou com a chega<strong>da</strong> dos B-29s ao teatro <strong>de</strong> operações. Além <strong>de</strong><br />

possuírem o alcance a<strong>de</strong>quado para chegar ao Japão partindo <strong>da</strong>s Marianas, os Superfortresses<br />

52


tinham dois amplos compartimentos <strong>de</strong> bombas, a<strong>de</strong>quados para carregar <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong><br />

quanti<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> minas.<br />

Em 22 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1944 o General Haywood Hansell recebeu bastante contrariado<br />

a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> preparar seu XXI Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io para <strong>um</strong>a <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong><br />

minas, na escala <strong>de</strong> 150 a 200 surti<strong>da</strong>s por mês. Hansell, como a maioria dos coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong><br />

Força Aérea do Exército, não gostava <strong>da</strong> i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> ce<strong>de</strong>r seus aviões para <strong>um</strong> esforço que,<br />

pensava, era <strong>de</strong> responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> Marinha. Contudo, a minagem havia sido coloca<strong>da</strong> no<br />

patamar <strong>de</strong> elemento estratégico, e preferências pessoais <strong>de</strong> coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Força Aérea não<br />

haveriam <strong>de</strong> ser leva<strong>da</strong>s em conta <strong>de</strong>sta vez 52 (SALLAGAR, 1974).<br />

Em meados <strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1945, Hansell passou o comando do XXI Comando <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io para o General LeMay. LeMay não era mais propenso à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> usar os B-29s<br />

para minagem mais do que Hansell, mas estava sob forte pressão <strong>de</strong> Nimitz para iniciar a<br />

<strong>campanha</strong> em 1 <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1945. Dessa forma (e sendo <strong>um</strong> homem que não gosta <strong>de</strong> meias-<br />

medi<strong>da</strong>s), LeMay submeteu a Washington seu próprio plano para a minagem, que<br />

especificava o lançamento <strong>de</strong> 1.500 minas por mês e a utilização <strong>de</strong> to<strong>da</strong> <strong>um</strong>a ala <strong>de</strong> B-29s, e<br />

não somente <strong>um</strong> grupo, como proposto por Hansell.<br />

Quando a 313ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io chegou às Marianas em fevereiro <strong>de</strong> 1945,<br />

imediatamente começou a treinar para realizar a minagem aérea <strong>da</strong>s águas japonesas, que<br />

recebera o codinome Operação Starvation 53 (SALLAGAR, 1974).<br />

O alvo primordial escolhido para a minagem foi o Estreito <strong>de</strong> Shimonoseki, no oeste<br />

do Japão. Sendo a única saí<strong>da</strong> oci<strong>de</strong>ntal do Mar Interior 54 japonês, por lá passava a maior<br />

parte <strong>da</strong> vital navegação japonesa que trazia matérias-primas <strong>da</strong> Manchúria, Coreia, China e<br />

outras possessões. A ina<strong>de</strong>quação <strong>da</strong> malha ferroviária japonesa fazia o país <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r<br />

completamente <strong>de</strong> seus portos para o escoamento <strong>de</strong> mercadorias – e os principais portos<br />

japoneses se localizam no Mar Interior: Tóquio, Osaka, Kobe, Kure e Nagoya. Em sua costa<br />

oeste, havia somente portos pequenos e ina<strong>de</strong>quados.<br />

52 Anteriormente, por diversas vezes coman<strong>da</strong>ntes <strong>da</strong> Força Aérea do Exército recusaram-se a liberar suas<br />

aeronaves para ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> minagem. Um exemplo clássico é o do General George Kenney, coman<strong>da</strong>nte <strong>da</strong> 5ª<br />

Força Aérea (área <strong>de</strong> operações do Sudoeste do Pacífico), que durante to<strong>da</strong> a guerra autorizou somente <strong>um</strong>a<br />

missão <strong>de</strong> minagem, na qual foram lança<strong>da</strong>s apenas 24 minas.<br />

53 O termo <strong>de</strong>riva do verbo inglês “to starve” que literalmente quer dizer “passar fome”. “Starvation” é fome<br />

generaliza<strong>da</strong>. Sallagar (1974) consi<strong>de</strong>ra o termo <strong>um</strong>a escolha infeliz para a operação.<br />

54 Corpo <strong>de</strong> água salga<strong>da</strong> localizado entre as ilhas <strong>de</strong> Honshu, Kyushu e Shikoku. Seus pontos <strong>de</strong> saí<strong>da</strong> são os<br />

estreitos <strong>de</strong> Shimonoseki, Kii e Bungo.<br />

53


Ilustração 21 - Mar Interior do Japão (em <strong>de</strong>staque) e o Estreito <strong>de</strong> Shimonoseki (à esq.). O mapa também<br />

mostra os principais portos japoneses que foram minados. (SALLAGAR: 1974, p.33)<br />

Segundo Sallagar (1974), naquele ponto <strong>da</strong> guerra as saí<strong>da</strong>s orientais do Mar Interior –<br />

os estreitos <strong>de</strong> Kii e Bungo – haviam se tornado extremamente perigosas e somente eram<br />

usa<strong>da</strong>s em emergências. Porta-aviões americanos patrulhavam a costa leste do Japão, e<br />

qualquer navio que se aventurasse por ali tinha gran<strong>de</strong>s chances <strong>de</strong> ser afun<strong>da</strong>do. Um exemplo<br />

disso aconteceu com a força-tarefa <strong>da</strong> Marinha Imperial Japonesa envia<strong>da</strong> para aju<strong>da</strong>r a<br />

guarnição <strong>da</strong> ilha <strong>de</strong> Okinawa 55 , que estava sob ataque americano em abril <strong>de</strong> 1945. Ao<br />

arriscar-se passar pelo Estreito <strong>de</strong> Bungo, a força-tarefa foi rapi<strong>da</strong>mente localiza<strong>da</strong> e<br />

completamente <strong>de</strong>struí<strong>da</strong> por aeronaves dos porta-aviões americanos – a lista <strong>de</strong> baixas foi<br />

encabeça<strong>da</strong> pelo super-couraçado Yamato 56 , o orgulho <strong>da</strong> Marinha Imperial.<br />

Esses fatores faziam <strong>de</strong> Shimonoseki o gargalo principal pelo qual a navegação<br />

japonesa tinha que passar, e o alvo i<strong>de</strong>al para a <strong>campanha</strong> <strong>de</strong> minagem.<br />

Segundo Smith (1995), a Operação Starvation foi posta em prática na noite <strong>de</strong> 27 <strong>de</strong><br />

março <strong>de</strong> 1945, quando a recém-chega<strong>da</strong> 313ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io <strong>de</strong>colou n<strong>um</strong> esforço<br />

máximo para minar Shimonoseki: 105 aeronaves <strong>de</strong>colaram, e 92 lançaram suas minas no<br />

55 Ver Anexo B “Mapa do Teatro <strong>de</strong> Operações do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal”.<br />

56 O Yamato foi o maior navio <strong>de</strong> guerra <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial e o maior e mais armado couraçado <strong>da</strong><br />

história.<br />

54


alvo primário. A missão foi repeti<strong>da</strong> na noite do dia 30 com a <strong>de</strong>colagem <strong>de</strong> 94 aeronaves, <strong>da</strong>s<br />

quais 85 completaram a missão.<br />

O sucesso <strong>de</strong>ssas duas missões foi estrondoso: averiguou-se que o tráfego pelo estreito<br />

foi reduzido em 25%. Como os planejadores esperavam que a área permanecesse mina<strong>da</strong> por<br />

10 a 15 dias, somente outras pequenas missões contra os portos <strong>de</strong> Kure e Hiroshima foram<br />

realiza<strong>da</strong>s nessa primeira fase, concluí<strong>da</strong> em 2 <strong>de</strong> maio (SALLAGAR, 1974).<br />

A segun<strong>da</strong> fase (3 a 12 <strong>de</strong> maio) foi curta e focou-se em portos estratégicos,<br />

estabelecendo <strong>um</strong> “bloqueio do centro industrial” japonês. Somente foram realiza<strong>da</strong>s duas<br />

missões nessa fase, nas quais <strong>de</strong>colaram quase 100 aeronaves em ca<strong>da</strong>. Os alvos foram Kobe,<br />

Tóquio, Osaka, Nagoya e outras passagens <strong>de</strong> acesso ao Mar Interior. Os B-29s também<br />

reforçaram o campo minado em Shimonoseki.<br />

Nas terceira (13 <strong>de</strong> maio a 6 <strong>de</strong> junho) e quarta fases (7 <strong>de</strong> junho a 8 <strong>de</strong> julho) o passo<br />

<strong>da</strong> operação foi ca<strong>da</strong> vez mais apertado. Shimonoseki foi mantido minado por missões<br />

periódicas, e o Mar Interior foi se tornando ca<strong>da</strong> vez mais perigoso para a navegação<br />

japonesa. O resultado foi que o tráfego foi transferido para os portos <strong>da</strong> costa oci<strong>de</strong>ntal <strong>da</strong>s<br />

ilhas <strong>de</strong> Honshu e Kyushu. Quando isso aconteceu, esses portos também foram minados, e<br />

muitos tiveram <strong>de</strong> ser abandonados (SALLAGAR, 1974).<br />

Ilustração 22 - B-29 lançando minas com paraque<strong>da</strong>s. (SMITH: 1995, p.24)<br />

Na última fase (9 <strong>de</strong> julho a 15 <strong>de</strong> agosto), praticamente não havia mais alvos para<br />

serem minados no Japão. A situação <strong>da</strong> navegação tornou-se tão <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong> que até mesmo<br />

manter o tráfego mínimo <strong>de</strong> suprimentos para a população faminta acarretava per<strong>da</strong>s imensas<br />

<strong>de</strong> navios afun<strong>da</strong>dos ou imobilizados. O esforço <strong>de</strong>ssa última fase foi concentrado em minar<br />

os portos <strong>da</strong> Coreia, cortando <strong>um</strong>a <strong>da</strong>s últimas fontes <strong>de</strong> suprimento do Japão (SMITH, 1995).<br />

55


Uma <strong>de</strong>ssas missões, realiza<strong>da</strong> contra o porto <strong>de</strong> Rashin, na Coreia, no dia 6 <strong>de</strong> agosto<br />

<strong>de</strong> 1945, totalizou 20 horas <strong>de</strong> voo – possivelmente a mais longa missão aérea <strong>da</strong> guerra. O<br />

piloto do B-29 era o Capitão Benjamin “Ben” Nicks, que relatou:<br />

Nossa carga nesta missão eram doze minas <strong>de</strong> 500 kg. Foi certamente <strong>um</strong>a missão<br />

muito longa, pois passaram-se cerca <strong>de</strong> seis horas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o momento em que<br />

sobrevoamos o Império na i<strong>da</strong> até quando passamos novamente por ele na volta.<br />

Em missões anteriores a esse alvo as tripulações não tinham encontrado oposição,<br />

mas encontramos <strong>um</strong> dos lugares mais quentes que jamais visitamos. Fomos pegos<br />

por cerca <strong>de</strong> 10 ou 12 holofotes e eles jogaram tudo que tinham em nós, menos<br />

cerveja. Um caça com <strong>um</strong>a luz <strong>de</strong> busca no nariz nos atacou <strong>da</strong> posição <strong>da</strong>s 4 horas.<br />

Jackson disparou alg<strong>um</strong>as raja<strong>da</strong>s em sua direção e sua luz <strong>de</strong>sligou-se; não o<br />

vimos novamente. Retornando por sobre o Império, vimos duas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s em chamas<br />

que tinham acabado <strong>de</strong> ser ataca<strong>da</strong>s enquanto estávamos entre elas e a Rússia. Isso<br />

terminou nossas missões operacionais. (NICKS: 2008, p.1)<br />

As missões empregando to<strong>da</strong> <strong>um</strong>a ala <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io (aproxima<strong>da</strong>mente 100<br />

aeronaves), foram voa<strong>da</strong>s somente nas duas primeiras fases <strong>da</strong> <strong>campanha</strong>, sendo <strong>de</strong>pois<br />

substituí<strong>da</strong>s por missões <strong>de</strong> <strong>um</strong> único grupo <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io 57 (aproxima<strong>da</strong>mente 30<br />

aeronaves). Contudo, a frequência <strong>da</strong>s missões a<strong>um</strong>entou. A efetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong>sse mo<strong>de</strong>lo<br />

operacional foi relata<strong>da</strong> pelos planejadores operacionais do XXI Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io:<br />

Um <strong>estudo</strong> dos resultados obtidos com to<strong>da</strong> <strong>um</strong>a ala e com pequenas missões <strong>de</strong><br />

minagem indicou que a duração do bloqueio <strong>de</strong> <strong>um</strong> porto com gran<strong>de</strong>s esforços não<br />

foi amplia<strong>da</strong> em proporção ao esforço em nenh<strong>um</strong> porto específico. Dessa forma,<br />

concluiu-se que para obter o bloqueio <strong>de</strong> <strong>um</strong> porto ou canal em particular,<br />

frequentes reminagens são mais eficientes do que gran<strong>de</strong>s esforços realizados <strong>um</strong>a<br />

ou duas vezes por mês. Minar <strong>de</strong> duas em duas noites usando <strong>um</strong> único grupo foi<br />

autorizado. (SALLAGAR: 1974, p.39)<br />

Ain<strong>da</strong> segundo Sallagar (1974), no fim <strong>da</strong> Operação Starvation em agosto <strong>de</strong> 1945, os<br />

suprimentos que chegavam mensalmente ao Japão haviam sido reduzidos n<strong>um</strong>a média <strong>de</strong><br />

85%. Mais navios japoneses foram afun<strong>da</strong>dos pelas minas nos últimos seis meses <strong>da</strong> guerra<br />

do que por todos os outros meios combinados: as minas afun<strong>da</strong>ram ou imobilizaram 670<br />

navios, n<strong>um</strong> total <strong>de</strong> 1.250.000 tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> arqueação. Averiguou-se que no começo <strong>de</strong><br />

setembro <strong>de</strong> 1945 a população japonesa enfrentaria fome generaliza<strong>da</strong>, tão grave era o<br />

estrangulamento provocado pela minagem. Em compensação, as missões <strong>de</strong> lançamento <strong>de</strong><br />

minas somente totalizaram 5,7% do total <strong>de</strong> missões do XXI Comando <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, e<br />

apenas 15 B-29s foram perdidos durante o esforço.<br />

57 O 505º Grupo <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io, <strong>da</strong> 313ª Ala, tornou-se a uni<strong>da</strong><strong>de</strong> especialista em missões <strong>de</strong> minagem,<br />

protagonizando a maior parte do esforço <strong>da</strong> Operação Starvation.<br />

56


Altos oficiais militares e civis japoneses, que foram interrogados para o Relatório <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io Estratégico dos EUA imediatamente após a guerra, atestaram que os efeitos<br />

econômicos dos campos minados foram tão sérios quanto os criados pelos ataques<br />

incendiários aos centros industriais do Japão:<br />

O Príncipe Konoye disse que os afun<strong>da</strong>mentos <strong>de</strong> navios japoneses e <strong>campanha</strong> <strong>de</strong><br />

minagem dos portos pelos B-29s foram igualmente efetivos aos ataques <strong>de</strong> B-29s<br />

contra a indústria japonesa nos últimos estágios <strong>da</strong> guerra, quando todo o<br />

suprimento <strong>de</strong> comi<strong>da</strong> e materiais críticos foi impedido <strong>de</strong> chegar às ilhas do Japão.<br />

(SALLAGAR: 1974, p.2)<br />

As missões atômicas<br />

Quando concluiu a construção do Pentágono em janeiro <strong>de</strong> 1943, o Briga<strong>de</strong>iro-General<br />

Leslie Groves havia se tornado o mais proeminente supervisor <strong>de</strong> construção do Exército. Ele<br />

era, <strong>de</strong>ssa forma, <strong>um</strong>a escolha lógica para supervisionar o mais ambicioso projeto secreto do<br />

governo americano até então: a construção dos laboratórios que produziriam as primeiras<br />

bombas atômicas (CHUN, 2008).<br />

Com orçamento na casa dos bilhões <strong>de</strong> dólares, o projeto (que recebeu o codinome<br />

Projeto Manhattan) incluía a construção <strong>de</strong> três gigantescas estações <strong>de</strong> produção espalha<strong>da</strong>s<br />

pelos Estados Unidos:<br />

• Oak Ridge, Tennessee: fábrica <strong>de</strong> enriquecimento <strong>de</strong> Urânio-235 58 , necessário para<br />

obtenção <strong>da</strong> massa crítica para a bomba <strong>de</strong> urânio, lança<strong>da</strong> sobre Hiroshima;<br />

• Hanford, Washington: reator <strong>de</strong> produção <strong>de</strong> Plutônio-239 59 , necessário para<br />

obtenção <strong>da</strong> massa crítica para a bomba <strong>de</strong> plutônio, lança<strong>da</strong> sobre Nagasaki;<br />

• Los Alamos, Novo México: central <strong>de</strong> <strong>estudo</strong>s, montagem final e teste dos<br />

dispositivos nucleares.<br />

Segundo Dorr (2002) a entra<strong>da</strong> em operação do Boeing B-29 a partir <strong>da</strong>s Ilhas<br />

Marianas no fim <strong>de</strong> 1944 propiciou aos planejadores em Washington o visl<strong>um</strong>bre <strong>da</strong><br />

plataforma i<strong>de</strong>al <strong>de</strong> lançamento <strong>da</strong> – ain<strong>da</strong> teórica – bomba atômica. O B-29 era a única<br />

58 Isótopo <strong>de</strong> urânio consi<strong>de</strong>rado “mais fissionável” pelos cientistas do Projeto Manhattan.<br />

59 Isótopo <strong>de</strong> plutônio; o primeiro isótopo <strong>de</strong> fissão usado para produção <strong>de</strong> armas nucleares.<br />

57


aeronave consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> “i<strong>de</strong>al” para a tarefa <strong>de</strong> carregar o futuro engenho, <strong>da</strong>do seu gran<strong>de</strong><br />

alcance operacional e capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carga.<br />

Dessa forma, em <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1944 foi formado 509º Grupo Composto, a primeira<br />

uni<strong>da</strong><strong>de</strong> treina<strong>da</strong> para conduzir guerra atômica na história. Para seu comando, foi escolhido o<br />

experiente Coronel Paul Tibbets, veterano piloto <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iro do Teatro <strong>de</strong> Operações <strong>da</strong><br />

Europa. A fábrica <strong>da</strong> Glenn Martin em Omaha, Nebraska, foi escolhi<strong>da</strong> para modificar 15 B-<br />

29s para as necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s especiais do 509º Grupo: foram retira<strong>da</strong>s to<strong>da</strong>s as metralhadoras<br />

<strong>de</strong>fensivas (exceto as <strong>da</strong> cau<strong>da</strong>), retirou-se a blin<strong>da</strong>gem e seus compartimentos <strong>de</strong> bombas<br />

passaram por <strong>um</strong>a completa reformulação, para que pu<strong>de</strong>ssem carregar <strong>um</strong> único artefato <strong>de</strong><br />

4.500 kg. Esses B-29s especiais foram chamados Silverplates (DAVIS, 1997).<br />

Ilustração 23 - Coronel Paul Tibbets (centro) com membros <strong>da</strong> tripulação do B-29 "Enola Gay".<br />

(DORR: 2002, p.72)<br />

Os primeiros Silverplates começaram a chegar a Tinian, nas Marianas, em junho <strong>de</strong><br />

1945. Logo, começaram a praticar em missões consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s fáceis, contra alvos que<br />

ofereciam pouca oposição. A natureza super-secreta do propósito do 509º Grupo significava<br />

que muitos <strong>de</strong> seus próprios integrantes não sabiam para que estavam sendo treinados:<br />

somente Tibbets conhecia o Projeto Manhattan.<br />

58


O primeiro dispositivo nuclear <strong>da</strong> história explodiu em Alamogordo, Novo México,<br />

em 16 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1945 – <strong>um</strong> teste extremamente bem-sucedido, que imediatamente mudou a<br />

perspectiva <strong>de</strong> obtenção <strong>da</strong> vitória sobre o Japão: o uso <strong>da</strong> bomba atômica, entendia-se,<br />

po<strong>de</strong>ria prevenir <strong>um</strong>a custosa invasão do país e também encurtar o período <strong>de</strong> bloqueio naval<br />

(CHUN, 2008).<br />

A lista <strong>de</strong> alvos dos ataques atômicos foi <strong>de</strong>fini<strong>da</strong> pelo Comitê <strong>de</strong> Alvos em Los<br />

Alamos, Novo México, reunido entre 10 e 11 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945. Para que <strong>um</strong> alvo fosse<br />

aprovado, <strong>de</strong>veria aten<strong>de</strong>r a três pré-requisitos (DANNEN, 2010):<br />

• O alvo <strong>de</strong>ve ter mais <strong>de</strong> 5 quilômetros <strong>de</strong> diâmetro, <strong>de</strong>ve ser <strong>um</strong> alvo importante<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> área urbana;<br />

• O alvo <strong>de</strong>ve ser passivo <strong>de</strong> eficiente <strong>de</strong>struição pela explosão;<br />

• O alvo não <strong>de</strong>ve ser atacado até agosto [<strong>de</strong> 1945].<br />

Isso se traduzia em alvos escolhidos por sua natureza <strong>de</strong> importância militar e<br />

industrial. O Comitê também <strong>de</strong>cidiu que o impacto psicológico do ataque <strong>de</strong>veria ser o maior<br />

possível no Japão, e que lançamento inicial <strong>de</strong>veria ser o mais espetacular possível para<br />

ressaltar a importância <strong>da</strong> arma entre a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> internacional. Baseando-se nesses<br />

critérios, foi levanta<strong>da</strong> a seguinte lista <strong>de</strong> alvos para os ataques atômicos (em or<strong>de</strong>m <strong>de</strong><br />

priori<strong>da</strong><strong>de</strong>) (DANNEN: 2010, p.1):<br />

1. Kyoto: o alvo é <strong>um</strong>a área industrial urbana com população <strong>de</strong> 1.000.000 <strong>de</strong><br />

habitantes. É a antiga capital do Japão e muitas pessoas e indústrias estão se mu<strong>da</strong>ndo<br />

para lá <strong>de</strong>vido à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> outras áreas. Do ponto <strong>de</strong> vista psicológico, existe a<br />

vantagem <strong>de</strong> que Kyoto é o centro intelectual do Japão e seus habitantes estão mais<br />

aptos a enten<strong>de</strong>r a significância <strong>da</strong> arma. (Classificado como Alvo AA)<br />

2. Hiroshima: importante <strong>de</strong>pósito militar e porto no meio <strong>de</strong> <strong>um</strong>a área industrial<br />

urbana. É <strong>um</strong> bom alvo para uso <strong>de</strong> ra<strong>da</strong>r e é tão gran<strong>de</strong> que gran<strong>de</strong> parte <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

po<strong>de</strong> ser extensivamente <strong>de</strong>struí<strong>da</strong>. Há colinas adjacentes que po<strong>de</strong>m produzir <strong>um</strong><br />

efeito concentrador, ampliando consi<strong>de</strong>ravelmente o efeito <strong>da</strong> explosão. Devido aos<br />

seus rios, não é <strong>um</strong> bom alvo para ataques incendiários. (Classificado como Alvo AA)<br />

3. Yokohama: o alvo é <strong>um</strong>a importante área industrial urbana que até agora está<br />

intoca<strong>da</strong>. Suas ativi<strong>da</strong><strong>de</strong>s industriais incluem fabricação <strong>de</strong> aeronaves, ferramental,<br />

docas, equipamento elétrico e refinamento <strong>de</strong> combustível. Como os <strong>da</strong>nos em Tóquio<br />

cresceram, mais indústrias se moveram para Yokohama. Tem a <strong>de</strong>svantagem <strong>de</strong> que<br />

as áreas-alvo mais importantes estão separa<strong>da</strong>s por <strong>um</strong> gran<strong>de</strong> corpo <strong>de</strong> água, e tem a<br />

mais pesa<strong>da</strong> concentração <strong>de</strong> armas antiaéreas do Japão. Para nós, tem a vantagem <strong>de</strong><br />

ser <strong>um</strong> alvo secundário em caso <strong>de</strong> tempo ruim, pois é relativamente distante dos<br />

outros alvos consi<strong>de</strong>rados. (Classificado como Alvo A)<br />

59


4. Arsenal <strong>de</strong> Kokura: é <strong>um</strong> dos maiores arsenais do Japão e é cercado por estruturas<br />

industriais urbanas. O arsenal é importante em armas leves, antiaéreas e <strong>de</strong>fesas<br />

litorâneas. Suas dimensões são tão gran<strong>de</strong>s que, se a bomba for precisamente lança<strong>da</strong>,<br />

gran<strong>de</strong> vantagem po<strong>de</strong> ser tira<strong>da</strong> <strong>da</strong>s gran<strong>de</strong>s pressões imediatamente abaixo <strong>da</strong><br />

explosão para <strong>de</strong>struir as mais sóli<strong>da</strong>s estruturas, ao mesmo tempo em que a on<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />

choque po<strong>de</strong> <strong>de</strong>struir estruturas mais frágeis a longa distância. (Classificado como<br />

Alvo A)<br />

5. Niigata: é <strong>um</strong> porto <strong>de</strong> embarcação na costa noroeste <strong>de</strong> Honshu. Sua importância é<br />

amplia<strong>da</strong> na medi<strong>da</strong> em que outros portos são <strong>da</strong>nificados. Fábricas <strong>de</strong> ferramental<br />

estão localiza<strong>da</strong>s lá e a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é <strong>um</strong> centro potencial <strong>de</strong> dispersão industrial. Tem<br />

refinarias <strong>de</strong> combustível e <strong>de</strong>pósitos. (Classificado como Alvo B)<br />

6. A possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>ar o Palácio do Imperador 60 foi discuti<strong>da</strong>. Foi<br />

concor<strong>da</strong>do que não <strong>de</strong>vemos recomen<strong>da</strong>r esse alvo, mas que qualquer ação nessa<br />

direção <strong>de</strong>ve vir <strong>de</strong> autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s militares superiores. Concor<strong>da</strong>mos que <strong>de</strong>vemos obter<br />

mais informações para <strong>de</strong>terminar a eficácia <strong>de</strong> nossa arma contra esse alvo.<br />

Quando a lista chegou à Casa Branca, a única alteração feita foi a exclusão <strong>de</strong> Kyoto.<br />

O Secretário <strong>da</strong> Guerra, Henry Stimson, terminantemente proibiu o ataque à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, que<br />

conhecia e admirava <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que passara lá sua lua <strong>de</strong> mel. Nagasaki foi inseri<strong>da</strong> na lista em<br />

substituição a Kyoto, mas com baixa priori<strong>da</strong><strong>de</strong>. Quando o Japão rejeitou a Declaração <strong>de</strong><br />

Pots<strong>da</strong>m em 28 <strong>de</strong> julho <strong>de</strong> 1945, a autorização presi<strong>de</strong>ncial para os bombar<strong>de</strong>ios atômicos foi<br />

<strong>da</strong><strong>da</strong> (DORR, 2002).<br />

Ilustração 24 - "Little Boy", a bomba atômica <strong>de</strong> urânio lança<strong>da</strong> sobre Hiroshima. (CHUN: 2008, p.55)<br />

Na noite <strong>de</strong> 5 <strong>de</strong> agosto o artefato nuclear – <strong>um</strong>a bomba <strong>de</strong> urânio apeli<strong>da</strong><strong>da</strong> <strong>de</strong> “Little<br />

Boy” – foi carrega<strong>da</strong> no compartimento <strong>de</strong> bombas do B-29 “Enola Gay”. Nos comandos do<br />

60 Localizado em Tóquio.<br />

60


ombar<strong>de</strong>iro atômico, estava o próprio coman<strong>da</strong>nte do 509º Grupo, Coronel Paul Tibbets.<br />

Além do “Enola Gay”, seis outros B-29s participaram <strong>de</strong>ssa missão: três aeronaves<br />

meteorológicas 61 , “Straight Flush” (para Hiroshima, alvo primário), “Jabbitt III” (para<br />

Kokura, alvo secundário) e “Full House” (para Nagasaki, alvo terciário) <strong>de</strong>colariam primeiro;<br />

carregando instr<strong>um</strong>entos científicos e câmeras, “The Great Artiste” e “Necessary Evil”<br />

escoltariam Tibbets até o alvo; por fim, “Top Secret” voaria somente até Iwo Jima,<br />

permanecendo como reserva em caso <strong>de</strong> necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

Às 02:00 <strong>da</strong> manhã <strong>de</strong> 6 <strong>de</strong> agosto, o “Enola Gay” <strong>de</strong>colou <strong>de</strong> Tinian. Uma hora<br />

<strong>de</strong>pois, o Capitão <strong>da</strong> Marinha William “Deak” Parsons começou a armar a bomba. Dorr<br />

(2002, p.72) <strong>de</strong>screve:<br />

Parsons começou seu dia ignorando as or<strong>de</strong>ns do General Groves, que havia<br />

especificamente proibido a armação <strong>da</strong> bomba em voo, dizendo que era muito<br />

perigoso. Parsons, que já tinha testemunhado incontáveis aci<strong>de</strong>ntes <strong>de</strong> <strong>de</strong>colagem<br />

com os B-29s <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que juntou-se ao 509º Grupo, achou que se armasse a bomba<br />

em solo, e o “Enola Gay” sofresse a menor falha, a missão terminaria n<strong>um</strong><br />

gigantesco <strong>de</strong>sastre para o Projeto Manhattan, e na morte <strong>de</strong> milhares <strong>de</strong><br />

marinheiros e aviadores em Tinian.<br />

Às 07:00 <strong>da</strong> manhã o ra<strong>da</strong>r japonês captou aeronaves em sua direção, e soou <strong>um</strong> alerta<br />

na área <strong>de</strong> Hiroshima. Logo <strong>de</strong>pois, “Straight Flush” sobrevoou a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, enviando<br />

informações meteorológicas e indicando bom tempo sobre o alvo. Às 08:09, a tripulação do<br />

“Enola Gay” avistou a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> abaixo. Todos colocaram seus óculos <strong>de</strong> proteção, embora a<br />

maioria dos tripulantes não fizesse i<strong>de</strong>ia <strong>da</strong> razão. Tibbets colocou a aeronave n<strong>um</strong>a altitu<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> 10.000 metros, e o bombar<strong>de</strong>ador Major Thomas Ferebee localizou o ponto <strong>de</strong> mira: a<br />

Ponte Aioi, no centro <strong>de</strong> Hiroshima. Às 08:15, “Little Boy” foi lança<strong>da</strong> (CHUN, 2008).<br />

A <strong>de</strong>tonação <strong>da</strong> bomba atômica aconteceu n<strong>um</strong>a altitu<strong>de</strong> <strong>de</strong> 550 metros sobre a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>,<br />

para maximizar o efeito <strong>da</strong> explosão. O efeito arrasador do artefato nuclear <strong>de</strong>struiu 12<br />

quilômetros quadrados <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, pulverizando 60.000 edificações (2/3 <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>) e matando<br />

instantaneamente 70.000 pessoas. A força <strong>da</strong> explosão foi calcula<strong>da</strong> em 15 quilotons, o<br />

equivalente a 15.000 tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> dinamite.<br />

Mais tar<strong>de</strong>, no mesmo dia, a notícia do ataque atômico a Hiroshima espalhou-se pelo<br />

mundo. O Presi<strong>de</strong>nte Harry Tr<strong>um</strong>an fez <strong>um</strong> pronunciamento pelo rádio:<br />

Se eles não aceitarem nossos termos, po<strong>de</strong>m esperar <strong>um</strong>a chuva <strong>de</strong> ruínas vin<strong>da</strong> do<br />

ar, como nenh<strong>um</strong>a outra já vista nesta terra. Por trás <strong>de</strong>sse ataque aéreo seguirão<br />

61 Aeronaves <strong>de</strong>stina<strong>da</strong>s a colher informações meteorológicas dos possíveis alvos dos bombar<strong>de</strong>ios atômicos.<br />

Decolavam com alg<strong>um</strong>as horas <strong>de</strong> antecedência em relação ao avião que carregava o dispositivo nuclear.<br />

61


forças <strong>de</strong> mar e terra e tal número e po<strong>de</strong>r como eles nunca antes viram, e com<br />

capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> combate como nunca conheceram. (WOOLEY e PETERS: 2010,<br />

p.1)<br />

Ain<strong>da</strong> sem resposta do governo japonês, foi autorizado o segundo ataque. Inicialmente<br />

marcado para 11 <strong>de</strong> agosto, Tibbets resolveu antecipar em dois dias a missão, para evitar <strong>um</strong>a<br />

frente <strong>de</strong> mau-tempo prevista para o Japão entre 10 e 15 <strong>de</strong> agosto (DORR, 2002).<br />

Na madruga<strong>da</strong> <strong>de</strong> 9 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1945, o Major Charles Sweeney <strong>de</strong>colou nos<br />

comandos do B-29 “Bocks Car”, carregando a bomba <strong>de</strong> plutônio apeli<strong>da</strong><strong>da</strong> “Fat Man”. Essa<br />

missão tinha a mesma estrutura <strong>da</strong> anterior, com aeronaves meteorológicas sendo envia<strong>da</strong>s<br />

para as ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s-alvo e duas outras escoltando a principal.<br />

Segundo Dorr (2002), <strong>um</strong> problema no sistema <strong>de</strong> transmissão <strong>de</strong> combustível do B-<br />

29 <strong>de</strong> Sweeney fez com que parte dos tanques ficasse inacessível. Isso <strong>de</strong>veria ter causado<br />

<strong>um</strong>a abortagem <strong>da</strong> missão, mas Sweeney <strong>de</strong>cidiu seguir em frente, visto que voltar significaria<br />

<strong>de</strong>sarmar a bomba e recarregar suas baterias, <strong>um</strong> processo que po<strong>de</strong>ria levar mais <strong>de</strong> <strong>um</strong>a<br />

semana.<br />

O alvo primário do “Bocks Car” era Kokura, tendo Nagasaki como alvo secundário.<br />

Os aviões meteorológicos sobre os dois alvos reportaram tempo bom, mas quando Sweeney<br />

chegou a Kokura <strong>um</strong>a hora <strong>de</strong>pois, <strong>um</strong>a cama<strong>da</strong> <strong>de</strong> nuvens e f<strong>um</strong>aça (<strong>de</strong>ixa<strong>da</strong> por <strong>um</strong> ataque<br />

incendiário à <strong>um</strong>a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> próxima no dia anterior), cobria a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. Determinado a fazer o<br />

lançamento <strong>da</strong> bomba, Sweeney proce<strong>de</strong>u para o alvo secundário, Nagasaki (CHUN, 2008).<br />

Ilustração 25 - A explosão atômica sobre Nagasaki e o B-29 "Bocks Car". (DORR: 2002, p.73/75)<br />

62


Contudo, ao chegar à ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, a tripulação do “Bocks Car” novamente viu seu alvo<br />

encoberto por nuvens. Sweeney, mesmo ciente do seu problema com o combustível, <strong>de</strong>cidiu<br />

circular a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e aguar<strong>da</strong>r <strong>um</strong>a brecha nas nuvens. Ao aproximar-se do ponto-limite <strong>de</strong><br />

combustível para fazer a viagem <strong>de</strong> volta, ele <strong>de</strong>cidiu violar as normas e fazer o bombar<strong>de</strong>io<br />

por ra<strong>da</strong>r. Um observador recordou:<br />

Como não tinham reserva <strong>de</strong> combustível para retornar com a bomba para Tinian, o<br />

artefato foi lançado em ataque mal-executado por ra<strong>da</strong>r, que foi mu<strong>da</strong>do para visual<br />

por <strong>um</strong> buraco nas nuvens no último instante, e que essencialmente errou o ponto<br />

<strong>de</strong> mira por distância suficiente para reduzir os efeitos <strong>da</strong> bem mais po<strong>de</strong>rosa “Fat<br />

Man” em comparação com os estragos feitos pela “Little Boy” em Hiroshima.<br />

Então, sem combustível até mesmo para chegar a Iwo Jima, o bombar<strong>de</strong>iro teve que<br />

<strong>de</strong>sviar para Okinawa, on<strong>de</strong> pousou com vapor <strong>de</strong> gasolina nos tanques. (DORR:<br />

2002, p.74)<br />

Mesmo tendo errado o ponto <strong>de</strong> mira por quase 3 quilômetros, a explosão <strong>de</strong> 21<br />

quilotons (21.000 tonela<strong>da</strong>s <strong>de</strong> dinamite), <strong>de</strong>tona<strong>da</strong> a 470 metros <strong>de</strong> altitu<strong>de</strong>, <strong>de</strong>struiu tudo<br />

n<strong>um</strong> raio <strong>de</strong> 2 quilômetros, e matou instantaneamente 40.000 pessoas. A <strong>de</strong>struição não foi<br />

maior porque colinas protegeram gran<strong>de</strong> parte <strong>de</strong> Nagasaki, e somente <strong>um</strong>a seção <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

foi afeta<strong>da</strong> (CHUN, 2008).<br />

Nessa época, já havia <strong>um</strong>a terceira bomba atômica disponível em Tinian, mas alguns<br />

mecanismos <strong>de</strong> ativação <strong>de</strong>sse artefato haviam sido <strong>da</strong>nificados, e sobressalentes tinham que<br />

ser trazidos dos EUA. Os americanos esperavam que a terceira bomba ficasse pronta na<br />

terceira semana <strong>de</strong> agosto, com três mais em setembro e outras três em outubro. Os<br />

planejadores americanos, contudo, começaram a discutir se seria melhor conservar as bombas<br />

para uso durante a proposta invasão do Japão, marca<strong>da</strong> para novembro. Um memorando do<br />

Departamento <strong>de</strong> Guerra <strong>da</strong>tado <strong>de</strong> 13 <strong>de</strong> agosto diz:<br />

O problema agora é se <strong>de</strong>vemos ou não, pres<strong>um</strong>indo que os japoneses não se<br />

ren<strong>da</strong>m, continuar a lançar as bombas to<strong>da</strong> vez que <strong>um</strong>a é feita e envia<strong>da</strong> para lá, ou<br />

se <strong>de</strong>vemos segurá-las... e então lançá-las to<strong>da</strong>s em <strong>um</strong> espaço curto <strong>de</strong> tempo. Não<br />

no mesmo dia, mas durante <strong>um</strong> curto período. E isso também leva em consi<strong>de</strong>ração<br />

o alvo que estamos perseguindo. Em outras palavras, não <strong>de</strong>vemos nos concentrar<br />

em alvos <strong>de</strong> maior valia para a invasão do que indústria, moral, psicologia, e<br />

outros? (BERNSTEIN: 2010, p.1)<br />

A rendição japonesa em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1945 cancelou a necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> mais<br />

bombar<strong>de</strong>ios atômicos.<br />

63


CONCLUSÃO<br />

Cost<strong>um</strong>a-se dizer que o Japão se ren<strong>de</strong>u na Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial por causa <strong>da</strong>s<br />

bombas atômicas lança<strong>da</strong>s pelos americanos em Hiroshima e Nagasaki. Mas esta é <strong>um</strong>a visão<br />

<strong>de</strong>veras simplista dos eventos. Como exposto, to<strong>da</strong> <strong>um</strong>a ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> acontecimentos colaborou<br />

para levar a nação japonesa – que nunca em sua história conhecera a <strong>de</strong>rrota – a concor<strong>da</strong>r<br />

com a rendição incondicional em 15 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1945. Po<strong>de</strong>-se dizer, no entanto, que o<br />

Boeing B-29 Superfortress foi o elemento pivotal <strong>de</strong>ssa ca<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> acontecimentos.<br />

Embora o po<strong>de</strong>rio aeronaval norte-americano (sem participação alg<strong>um</strong>a do B-29)<br />

tenha sido o responsável por extirpar do Japão suas conquistas imperiais por todo o Pacífico,<br />

esse po<strong>de</strong>rio muito pouco afetou o Japão em si. Daí a insistência do Alto-Comando japonês e<br />

do Imperador Hiroito em continuar com a guerra, mesmo com a série <strong>de</strong> <strong>de</strong>rrotas consecutivas<br />

que o país vinha sofrendo há mais <strong>de</strong> dois anos.<br />

Coube ao B-29 extinguir a sensação <strong>de</strong> inviolabili<strong>da</strong><strong>de</strong> do Japão, <strong>de</strong>struindo o parque<br />

industrial que alimentava sua máquina <strong>de</strong> guerra no além-mar. Após <strong>um</strong> período que po<strong>de</strong> ser<br />

consi<strong>de</strong>rado <strong>de</strong> aprendizado e a<strong>da</strong>ptação – entre junho <strong>de</strong> 1944 e março <strong>de</strong> 1945 – a <strong>campanha</strong><br />

<strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>io estratégico <strong>da</strong> 20ª Força Aérea consolidou-se e, nos meses seguintes até agosto<br />

<strong>de</strong> 1945, virtualmente levou o Japão à completa ruína como nação.<br />

Na<strong>da</strong> do que a <strong>de</strong>fesa aérea japonesa tentou jamais chegou perto <strong>de</strong> parar ou mesmo<br />

diminuir o ímpeto dos B-29s nos ataques sobre suas ci<strong>da</strong><strong>de</strong>s. Até mesmo a <strong>de</strong>sespera<strong>da</strong> tática<br />

<strong>de</strong> abalroamento, que produziu alguns resultados – porém pífios quando comparados ao<br />

esforço geral – nunca afetou psicologicamente as tripulações norte-americanas ou seus<br />

coman<strong>da</strong>ntes nas Marianas. Após junho <strong>de</strong> 1945, praticamente não havia mais resistência<br />

aérea por parte dos japoneses, que já pesa<strong>da</strong>mente <strong>de</strong>bilitados <strong>de</strong>cidiram poupar as aeronaves<br />

que lhes restavam para enfrentar a espera<strong>da</strong> invasão do país.<br />

A conquista <strong>de</strong> ilhas próximas ao Japão, como Iwo Jima (fevereiro <strong>de</strong> 1945) e<br />

Okinawa (abril <strong>de</strong> 1945), permitiu que os americanos colocassem seus caças ao alcance do<br />

Japão. Agora sendo escoltados por caças, os B-29s tiveram suas per<strong>da</strong>s ain<strong>da</strong> mais<br />

diminuí<strong>da</strong>s, enquanto seus próprios números cresciam com a chega<strong>da</strong> <strong>de</strong> novas alas <strong>de</strong><br />

bombar<strong>de</strong>io às Marianas. Os caças também passaram a realizar ataques rasantes a alvos<br />

japoneses no solo, levando <strong>de</strong>struição a pequenas locali<strong>da</strong><strong>de</strong>s que não haviam sido ataca<strong>da</strong>s<br />

pelas levas <strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros. Esses ataques, realizados no último trimestre <strong>da</strong> guerra,<br />

completaram a <strong>de</strong>struição <strong>da</strong> infra-estrutura do país, eliminando estações ferroviárias,<br />

aeroportos, estra<strong>da</strong>s e outras construções.<br />

64


Em colaboração com os incessantes ataques em terra, o bloqueio naval dos portos<br />

japoneses através <strong>de</strong> extensiva minagem a partir <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1945 contribuiu para privar o<br />

Japão <strong>de</strong> suas fontes básicas <strong>de</strong> matéria-prima e alimentos. Altamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte <strong>de</strong><br />

importações, o povo japonês passou por privações alimentares enquanto sua frota mercante<br />

era afun<strong>da</strong><strong>da</strong> ou imobiliza<strong>da</strong> pelos campos minados. Da mesma forma, a indústria passou por<br />

severos cortes em seu suprimento <strong>de</strong> matéria-prima, que ao mesmo tempo diminuiu os<br />

números e a quali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> produção. A inanição <strong>da</strong> população estava prevista para o começo<br />

<strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1945, se o país insistisse na guerra.<br />

Ilustração 26 - Hiroito (centro) reúne-se com seu gabinete em 10 <strong>de</strong> agosto <strong>de</strong> 1945, para tratar <strong>da</strong><br />

rendição. (CHUN: 2008, p.80)<br />

Percebemos então que o Japão já estava bastante enfraquecido e sozinho (a Alemanha<br />

Nazista havia se rendido em 8 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1945) quando as bombas atômicas explodiram em<br />

agosto. É impressionante, contudo, notar que mesmo após a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> Hiroshima ser<br />

fulmina<strong>da</strong> por completo, o governo japonês permaneceu resistente em sua posição. O ataque<br />

atômico a Nagasaki no dia 9 <strong>de</strong> agosto foi acompanhado <strong>de</strong> outra notícia, que soou tenebrosa<br />

para o Alto-Comando Imperial: a União Soviética <strong>de</strong>clarara guerra ao Japão e já havia<br />

invadido a Manchúria naquela madruga<strong>da</strong>, com <strong>um</strong> exército <strong>de</strong> 1.600.000 homens. Nos dias<br />

65


seguintes, os soviéticos realizaram <strong>um</strong>a ofensiva blin<strong>da</strong><strong>da</strong> que <strong>de</strong>struiu completamente as<br />

forças do Exército Imperial na Manchúria.<br />

Des<strong>de</strong> 1939 o Japão temia o po<strong>de</strong>rio militar <strong>da</strong> União Soviética, e a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

que o seu país pu<strong>de</strong>sse ser ocupado por soviéticos era aterrorizante. Esse fator somou-se ao<br />

insuperável po<strong>de</strong>rio militar dos Estados Unidos <strong>da</strong> América, que já cercava o Japão com <strong>um</strong>a<br />

imbatível esquadra <strong>de</strong> porta-aviões e couraçados, milhões <strong>de</strong> sol<strong>da</strong>dos e fuzileiros, e a força<br />

<strong>de</strong> bombar<strong>de</strong>iros B-29 <strong>da</strong> 20ª Força Aérea – que agora adquirira capaci<strong>da</strong><strong>de</strong>s atômicas.<br />

Completamente consternado, com <strong>um</strong> país em ruínas e seu povo passando fome, o<br />

Imperador Hiroito convocou, na manhã do dia 14 <strong>de</strong> agosto, seus mais altos assessores e<br />

coman<strong>da</strong>ntes civis e militares para <strong>um</strong>a reunião <strong>de</strong> emergência, e <strong>de</strong>cidiu anunciar que iria<br />

aceitar a rendição incondicional pedi<strong>da</strong> pelos Aliados. Naquela noite ele gravou seu discurso<br />

anunciando a <strong>de</strong>cisão, que foi ao ar ao meio-dia <strong>de</strong> 15 <strong>de</strong> agosto, para comoção geral do povo<br />

japonês que nunca havia escutado a voz <strong>de</strong> seu Imperador.<br />

Em 15 <strong>de</strong> agosto as hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram cessa<strong>da</strong>s no Japão, embora alguns coman<strong>da</strong>ntes<br />

regionais japoneses tenham continuado a lutar por mais alguns dias. O instr<strong>um</strong>ento oficial <strong>de</strong><br />

rendição incondicional do Japão foi assinado na Baía <strong>de</strong> Tóquio, a bordo do couraçado norte-<br />

americano USS Missouri, em 2 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1945, efetivamente encerrando a Segun<strong>da</strong><br />

Guerra Mundial.<br />

66


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69


APÊNDICE A<br />

Estratégia Geopolítica Japonesa 1905-1941:<br />

A escolha dos objetivos imperiais na Ásia e no Pacífico<br />

Uma nação sem gran<strong>de</strong>s reservas <strong>de</strong> recursos naturais e forma<strong>da</strong> sob <strong>um</strong>a política<br />

expansionista que visava acompanhar o imperialismo oci<strong>de</strong>ntal, bem como ampliar o alcance<br />

<strong>de</strong> sua influência racial, o Japão esteve envolvido – <strong>de</strong> fins do século XIX até 1945 – n<strong>um</strong><br />

constante <strong>de</strong>bate e execução <strong>de</strong> planos <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional.<br />

No começo do século XX o Império do Japão havia saído <strong>de</strong> <strong>um</strong>a bem-sucedi<strong>da</strong> guerra<br />

com a China (1894-1895), ocupando a península <strong>da</strong> Coreia, Taiwan e porções <strong>da</strong> China<br />

continental. Após mais <strong>um</strong> sucesso contra a Rússia czarista na Guerra Russo-Japonesa (1904-<br />

1905) os japoneses conseguiram posse <strong>de</strong> mais concessões territoriais, e pouco tempo <strong>de</strong>pois<br />

assegurou sua influência na Manchúria Exterior.<br />

Neste contexto, o Marechal-<strong>de</strong>-Campo Aritomo Yamagata – <strong>de</strong>stacado e influente<br />

chefe militar que havia <strong>de</strong>rrotado as últimas insurgências samurais na déca<strong>da</strong> <strong>de</strong> 1870 – <strong>de</strong>u<br />

início à elaboração <strong>de</strong> <strong>um</strong> plano geopolítico nacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa. Tal plano evoluiria nas<br />

déca<strong>da</strong>s seguintes, gerando as bases necessárias para o estabelecimento <strong>da</strong> Esfera <strong>de</strong> Co-<br />

Prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> Pan-Asiática – <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> como “<strong>um</strong> bloco <strong>de</strong> nações asiáticas li<strong>de</strong>ra<strong>da</strong>s pelo<br />

Japão e livres dos po<strong>de</strong>res oci<strong>de</strong>ntais”.<br />

Como tal plano previa, em alg<strong>um</strong> ponto, o confronto direto com as potências<br />

colonialistas européias (que <strong>de</strong>tinham a posse <strong>de</strong> quase a totali<strong>da</strong><strong>de</strong> dos territórios do Pacífico<br />

central, sul e oeste), o a<strong>um</strong>ento dos gastos militares foi <strong>um</strong> fator <strong>de</strong> primeira gran<strong>de</strong>za em sua<br />

elaboração. Contudo, a histórica rivali<strong>da</strong><strong>de</strong> entre o Exército Imperial Japonês e a Marinha<br />

Imperial Japonesa contribuiu para que o plano nacional <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nunca fosse uníssono, e<br />

sempre tivesse que ter suas instâncias <strong>de</strong>cidi<strong>da</strong>s em tensas sessões do Supremo Conselho <strong>de</strong><br />

Guerra, que incluía o Imperador, o Primeiro-Ministro, o Ministro <strong>da</strong>s Relações Exteriores, o<br />

Ministro <strong>da</strong> Guerra, o Ministro <strong>da</strong> Marinha, o Chefe <strong>de</strong> Estado-Maior do Exército e o Chefe<br />

<strong>de</strong> Estado-Maior <strong>da</strong> Marinha.<br />

O ponto <strong>de</strong> discórdia tendia a focar-se no uso combinado <strong>da</strong>s duas forças arma<strong>da</strong>s – e<br />

seus respectivos contingentes aéreos – para a <strong>de</strong>fesa nacional em <strong>um</strong> único (ou principal)<br />

Grupo <strong>de</strong> Ataque 62 . O Exército Imperial <strong>de</strong>senvolveu e <strong>de</strong>fendia o “Hokushin-ron”<br />

(Planejamento Estratégico para a Ásia Continental) e o Grupo <strong>de</strong> Ataque Norte; já a Marinha<br />

62 Força militar combina<strong>da</strong> <strong>de</strong> ataque, composta <strong>de</strong> uni<strong>da</strong><strong>de</strong>s do Exército e <strong>da</strong> Marinha Imperiais.<br />

70


Imperial <strong>de</strong>senvolveu e <strong>de</strong>fendia o “Nanshin-ron” (Planejamento Estratégico para o Su<strong>de</strong>ste<br />

<strong>da</strong> Ásia e Pacífico) e o Grupo <strong>de</strong> Ataque Sul.<br />

O objeto principal <strong>de</strong> preocupação que <strong>de</strong>u origem ao planejamento do Grupo <strong>de</strong><br />

Ataque Norte era a União Soviética. Era pres<strong>um</strong>ido que a Rússia buscaria vingança pela sua<br />

<strong>de</strong>rrota na guerra <strong>de</strong> 1904-1905, e após Stalin <strong>da</strong>r início ao Primeiro Plano Soviético dos<br />

Cinco Anos em 1928 – que incluía o <strong>de</strong>senvolvimento dos recursos econômicos do Extremo<br />

Oriente Soviético – os japoneses preocuparam-se com o crescente po<strong>de</strong>r <strong>da</strong> URSS em suas<br />

fronteiras ao norte <strong>da</strong> Manchúria. A ocupação total <strong>da</strong> Manchúria em 1931 colocou tropas<br />

japonesas em novas posições fronteiriças com a União Soviética, que imediatamente<br />

começaram a ser reforça<strong>da</strong>s.<br />

A milenar invulnerabili<strong>da</strong><strong>de</strong> territorial do Japão foi ameaça<strong>da</strong> pela primeira vez em<br />

1934, quando os soviéticos anunciaram que seu novo bombar<strong>de</strong>iro quadrimotor, o Tupolev<br />

TB-3 – classificado na época como “super-bombar<strong>de</strong>iro pesado” 63 – po<strong>de</strong>ria atingir o<br />

arquipélago japonês partindo <strong>de</strong> bases na província <strong>da</strong> Sibéria. Dessa forma, o Estado-Maior<br />

do Exército submeteu <strong>um</strong> plano operacional para <strong>um</strong>a eventual guerra contra a URSS:<br />

1. Das estima<strong>da</strong>s forças mobilizáveis <strong>de</strong> 30 divisões <strong>de</strong> infantaria 64 totalmente equipa<strong>da</strong>s,<br />

cerca <strong>de</strong> 24 estariam comprometi<strong>da</strong>s para operações contra a União Soviética;<br />

2. Gran<strong>de</strong> importância <strong>de</strong>ve ser <strong>da</strong><strong>da</strong> às operações aéreas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o princípio <strong>da</strong> guerra;<br />

3. O Japão <strong>de</strong>ve procurar guerrear em solo soviético <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o começo <strong>da</strong>s hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s;<br />

4. O eixo principal <strong>da</strong> ofensiva <strong>de</strong>ve ser para leste, partindo <strong>da</strong> Manchúria;<br />

5. Bases <strong>de</strong> submarinos e bombar<strong>de</strong>iros que possam atacar o Japão <strong>de</strong>vem ser elimina<strong>da</strong>s<br />

prioritariamente;<br />

6. Após o sucesso <strong>da</strong>s operações a leste, as forças <strong>de</strong>vem ser realoca<strong>da</strong>s n<strong>um</strong>a ofensiva<br />

ao norte, cujo objetivo é o distrito do Lago Baikal.<br />

A preocupação do Estado-Maior do Exército era agora tentar antecipar os movimentos<br />

do Exército Vermelho na região. Estimava-se que os soviéticos pu<strong>de</strong>ssem colocar em campo<br />

55 ou 60 divisões, lançando ataques simultâneos a leste, norte e oeste <strong>da</strong> Manchúria. O modo<br />

<strong>de</strong> terminar a guerra também era <strong>um</strong>a gran<strong>de</strong> preocupação, visto que a URSS era tido como<br />

<strong>um</strong> país <strong>de</strong> extensão territorial ilimita<strong>da</strong>, cuja ocupação total não era possível.<br />

63 “Bombar<strong>de</strong>iro Pesado” é <strong>um</strong> termo utilizado, antes e durante a Segun<strong>da</strong> Guerra Mundial, para <strong>de</strong>signar<br />

gran<strong>de</strong>s aeronaves com alta capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> carregamento <strong>de</strong> bombas e com autonomia para alcançar alvos <strong>de</strong><br />

longa distância.<br />

64 Divisão é <strong>um</strong>a formação militar que consiste geralmente <strong>de</strong> 10.000 a 30.000 homens.<br />

71


Dessa forma, o plano do Exército incluía também o uso <strong>de</strong> <strong>um</strong>a ofensiva política<br />

<strong>de</strong>sestabilizadora, utilizando povos asiáticos que vivam na Sibéria contra o po<strong>de</strong>r central <strong>de</strong><br />

Moscou. A i<strong>de</strong>ia era incentivar <strong>um</strong>a rebelião <strong>de</strong>sses povos, gerando <strong>um</strong>a “confrontação <strong>de</strong><br />

raças”. Tal conceito foi utilizado com sucesso pelos alemães em pequena escala durante a<br />

invasão <strong>da</strong> União Soviética em 1941, mas em escala relativamente pequena.<br />

A assinatura do Pacto Anti-Comintern 65 com a Alemanha em 1936 abriu caminho para<br />

outra possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>: <strong>um</strong>a guerra russo-alemã na qual o Japão pu<strong>de</strong>sse tomar vantagem. Nessa<br />

perspectiva, o Japão usaria sua força ac<strong>um</strong>ula<strong>da</strong> na Manchúria contra a União Soviética caso a<br />

guerra favorecesse a Alemanha. O Exército Imperial previu – acerta<strong>da</strong>mente – que a<br />

Alemanha iniciaria <strong>um</strong>a ofensiva contra a União Soviética em 1941 ou 1942. Caso o <strong>de</strong>curso<br />

<strong>de</strong>ssa conflagração favorecesse os alemães, os soviéticos teriam que transferir <strong>de</strong> 20 a 30<br />

divisões do Extremo Oriente para o teatro <strong>de</strong> operações europeu, criando as condições<br />

essenciais para <strong>um</strong>a ofensiva japonesa.<br />

Tal plano, entretanto, tinha suas falhas. Havia sérias dúvi<strong>da</strong>s quanto à capaci<strong>da</strong><strong>de</strong> do<br />

Exército Imperial <strong>de</strong> manter <strong>um</strong>a ofensiva durante o rigoroso inverno siberiano. Afinal, o<br />

equipamento do Exército havia sido <strong>de</strong>senvolvido para rápi<strong>da</strong>s operações <strong>de</strong> movimento<br />

contra a União Soviética: armas leves, grupamentos blin<strong>da</strong>dos leves, cavalaria e extensas<br />

ca<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> logística – <strong>um</strong> conjunto sensível ao frio extremo.<br />

Mas o ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro início do abandono do Grupo <strong>de</strong> Ataque Norte <strong>de</strong>u-se em julho <strong>de</strong><br />

1938, na Batalha do Lago Khasan. O Japão dizia que a URSS ocupava irregularmente duas<br />

colinas a oeste do Lago Khasan, perto <strong>de</strong> Vladivostok, e após <strong>um</strong>a recusa <strong>de</strong> Moscou em<br />

retirar-se dos locais, os japoneses atacaram as posições em 29 <strong>de</strong> julho. Após <strong>um</strong> recuo<br />

inicial, os soviéticos conseguiram repelir novamente os japoneses <strong>de</strong> volta à fronteira inicial<br />

no dia 11 <strong>de</strong> agosto. Essa <strong>de</strong>rrota levou certa preocupação ao Estado-Maior do Exército, mas a<br />

disposição em enfrentar a União Soviética não foi quebra<strong>da</strong>.<br />

Os planos <strong>de</strong> guerra contra a União Soviética somente foram abandonados após a<br />

Batalha <strong>de</strong> Khalkin-Gol, luta<strong>da</strong> entre maio e setembro <strong>de</strong> 1939. Desta vez, a disputa<br />

fronteiriça se <strong>de</strong>u entre o governo <strong>de</strong> Manchukuo (o governo-fantoche estabelecido pelo Japão<br />

na Manchúria) e a Mongólia, então alia<strong>da</strong> <strong>da</strong> URSS, pela posse <strong>de</strong> áreas ao longo do Rio<br />

Khalkin-Gol 66 . A conten<strong>da</strong> trouxe os principais aliados <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> lado para o campo <strong>de</strong> batalha,<br />

e pela primeira vez os japoneses averiguaram que <strong>um</strong>a arma do Exército Vermelho era-lhes<br />

65<br />

Pacto que repudiava a Internacional Comunista, reconhecendo seus objetivos como nocivos à natureza <strong>da</strong>s<br />

nações.<br />

66<br />

Rio localizado ao norte <strong>da</strong> China e a leste <strong>da</strong> Mongólia.<br />

72


muito superior: a força soviética <strong>de</strong> tanques. Como já dito, o Japão mol<strong>da</strong>ra seu Exército<br />

n<strong>um</strong>a força leve e móvel, para ataques rápidos – e isso refletiu diretamente no projeto <strong>de</strong> seus<br />

tanques. Havia também o problema <strong>da</strong> escassez <strong>de</strong> aço para construção <strong>de</strong> tanques pesados,<br />

que cons<strong>um</strong>iam muita matéria-prima. Os soviéticos, por seu lado, <strong>de</strong>senvolveram <strong>um</strong>a<br />

n<strong>um</strong>erosa força <strong>de</strong> tanques pesados 67 que – como os alemães <strong>de</strong>scobririam mais tar<strong>de</strong> – era<br />

virtualmente inexpugnável. A <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>rrota do Exército Imperial em Khalkin-Gol expôs<br />

as fragili<strong>da</strong><strong>de</strong>s japonesas n<strong>um</strong>a luta <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> escala contra a União Soviética, e abriu espaço<br />

para manobras diplomáticas que culminaram na assinatura do Pacto <strong>de</strong> Não-Agressão Nipo-<br />

Soviético <strong>de</strong> abril <strong>de</strong> 1941.<br />

Mesmo quando a Operação Barbarossa 68 parecia estar atingindo seus objetivos finais<br />

nos últimos meses <strong>de</strong> 1941, o governo japonês optou por não entrar em conflito com a União<br />

Soviética, pois já perseguia ativamente a execução do plano do Grupo <strong>de</strong> Ataque Sul.<br />

O Grupo <strong>de</strong> Ataque Sul baseava-se inicialmente n<strong>um</strong>a doutrina vaga <strong>de</strong> expansão<br />

territorial em direção aos territórios do su<strong>de</strong>ste <strong>da</strong> Ásia e do Pacífico. Com a industrialização<br />

do Japão no início do século XX veio a crescente <strong>de</strong>pendência <strong>de</strong> matérias-primas importa<strong>da</strong>s,<br />

e <strong>de</strong>ssa forma o governo viu que po<strong>de</strong>ria ser necessário alg<strong>um</strong> dia proteger tal fluxo <strong>de</strong><br />

suprimentos – mesmo que pela força. Dessa forma, a Marinha Imperial divisou o Grupo <strong>de</strong><br />

Ataque Sul como <strong>um</strong>a forma <strong>de</strong> tomar controle <strong>da</strong>s riquezas que eram necessárias para o<br />

contínuo crescimento do Império Japonês, mas que estavam em po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s potências<br />

oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Como resultado <strong>da</strong> Primeira Guerra Mundial, o Japão pô<strong>de</strong> tomar posse <strong>de</strong> territórios<br />

na região do Pacífico, pertencentes anteriormente ao Segundo Reich Alemão. Desta forma, as<br />

Ilhas Carolinas, Ilhas Marshall, Ilhas Marianas e Palau passaram para o controle japonês a<br />

partir <strong>de</strong> 1919. O crescimento <strong>da</strong> Marinha Imperial era inevitável para proteger os novos<br />

domínios, bem como manter o status <strong>de</strong> potência regional.<br />

Contudo, o Tratado Naval <strong>de</strong> Washington, assinado em 1923 pelos Estados Unidos,<br />

Grã-Bretanha, França, Itália e Japão, restringiu a tonelagem máxima <strong>de</strong> couraçados 69 e porta-<br />

aviões a serem construídos por esses países. Também estabeleceu que o Japão ficaria proibido<br />

<strong>de</strong> construir fortificações em suas novas possessões no Pacífico. A assinatura <strong>de</strong>ste tratado<br />

pelo governo ia diretamente contra o interesse dos militares, que tinham influência crescente<br />

67 “Tanque Pesado” é <strong>um</strong> termo utilizado para <strong>de</strong>signar veículos blin<strong>da</strong>dos <strong>de</strong> combate com armamento <strong>de</strong> maior<br />

calibre e blin<strong>da</strong>gem <strong>de</strong> maior espessura que os mo<strong>de</strong>los consi<strong>de</strong>rados “leves” ou “médios”.<br />

68 Invasão <strong>da</strong> União Soviética pela Alemanha, inicia<strong>da</strong> em 22 <strong>de</strong> junho <strong>de</strong> 1941.<br />

69 Tipo <strong>de</strong> navio altamente blin<strong>da</strong>do e com <strong>um</strong>a bateria principal <strong>de</strong> canhões <strong>de</strong> grosso calibre, sendo maiores e<br />

mais bem-armados que cruzadores e <strong>de</strong>stróieres. Surgiram no começo do século XX com o HMS Dreadnought,<br />

<strong>da</strong> Marinha Inglesa. Atualmente estão em <strong>de</strong>suso.<br />

73


na direção política toma<strong>da</strong> pelo país. Esse interesse foi ain<strong>da</strong> mais prejudicado pela ratificação<br />

do Tratado Naval <strong>de</strong> Londres, em 1930. Com a aceitação <strong>de</strong>ste acordo, o governo japonês<br />

aceitava restringir o calibre <strong>de</strong> seus canhões navais, o que foi consi<strong>de</strong>rado <strong>um</strong> ultraje e<br />

culminou no assassinato do Primeiro-Ministro Tsuyoshi Inukai em 15 <strong>de</strong> maio <strong>de</strong> 1932 –<br />

terminando <strong>de</strong> vez com o controle civil <strong>da</strong> política japonesa.<br />

O irrompimento <strong>da</strong> Segun<strong>da</strong> Guerra Sino-Japonesa em julho <strong>de</strong> 1937 e o fato <strong>de</strong> o<br />

Japão ter-se retirado <strong>da</strong> Liga <strong>da</strong>s Nações em março <strong>de</strong> 1933 fez com que o país angariasse<br />

rivali<strong>da</strong><strong>de</strong>s com as potencias oci<strong>de</strong>ntais. Desse ponto em diante, o governo japonês previu que<br />

em pouco tempo teria que iniciar ações ofensivas para assegurar suas rotas <strong>de</strong> fornecimento<br />

<strong>de</strong> matéria-prima e sua zona <strong>de</strong> influência. O anúncio público em 1940, feito pelo Primeiro-<br />

Ministro F<strong>um</strong>imaro Konoe, <strong>da</strong> política nacional <strong>de</strong> criação <strong>da</strong> Esfera <strong>de</strong> Co-Prosperi<strong>da</strong><strong>de</strong> Pan-<br />

Asiática, não permitia o recuo territorial nas possessões japonesas já conquista<strong>da</strong>s na China, e<br />

nem o <strong>de</strong>créscimo <strong>de</strong> seu po<strong>de</strong>rio militar.<br />

Tal reali<strong>da</strong><strong>de</strong> ia diretamente contra os interesses <strong>da</strong>s potências oci<strong>de</strong>ntais que, já<br />

envolvi<strong>da</strong>s na guerra contra a Alemanha, não <strong>de</strong>sejavam correr o risco <strong>de</strong> ter suas colônias<br />

asiáticas – preciosas fontes <strong>de</strong> matérias-primas – perdi<strong>da</strong>s para o Império do Japão (que, após<br />

a assinatura do Pacto Tripartite em 27 <strong>de</strong> setembro <strong>de</strong> 1940, tornou-se o mais novo aliado<br />

formal <strong>de</strong> Hitler). Sendo assim, os Estados Unidos, a Austrália, a Grã-Bretanha e a Holan<strong>da</strong><br />

impuseram <strong>um</strong> embargo <strong>de</strong> minério <strong>de</strong> ferro, aço e petróleo ao Japão, enquanto este não<br />

renunciasse à política militarista.<br />

O embargo colocou o Japão na posição – já antecipa<strong>da</strong> – <strong>de</strong> inevitabili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> abertura<br />

<strong>de</strong> hostili<strong>da</strong><strong>de</strong>s, visto que qualquer recuo era tido como <strong>um</strong>a <strong>de</strong>sgraça nacional. Como 80% do<br />

óleo para cons<strong>um</strong>o doméstico provinham <strong>de</strong> importações, o governo viu o embargo como <strong>um</strong><br />

ato <strong>de</strong> agressão, já que significava a virtual paralisação <strong>de</strong> sua indústria e forças arma<strong>da</strong>s. Foi<br />

inicia<strong>da</strong> então a preparação <strong>de</strong> <strong>um</strong> plano estratégico <strong>de</strong> guerra contra as potências oci<strong>de</strong>ntais.<br />

Em linhas gerais, a Gran<strong>de</strong> Estratégia 70 japonesa previa <strong>um</strong> ataque rápido com<br />

conquistas consecutivas dos territórios do su<strong>de</strong>ste asiático e do Pacifico, formando <strong>um</strong> gran<strong>de</strong><br />

“cinturão <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa” que, teoricamente, impossibilitaria ações ofensivas contra o Japão e<br />

forçaria os <strong>inimigo</strong>s à mesa <strong>de</strong> negociação. Um ataque preemptivo aos Estados Unidos seria<br />

necessário, por duas razões: seu relacionamento próximo com a Grã-Bretanha e sua ocupação<br />

territorial <strong>da</strong>s Filipinas, cuja produção <strong>de</strong> borracha era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> <strong>um</strong> alvo primário.<br />

70 Gran<strong>de</strong> Estratégia é a maneira <strong>de</strong> utilizar todos os instr<strong>um</strong>entos <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r disponíveis <strong>de</strong> <strong>um</strong>a nação ou bloco,<br />

calculando seus recursos h<strong>um</strong>anos e econômicos, para atingir os objetivos <strong>de</strong>sejados.<br />

74


Sul previa:<br />

Plano Leste:<br />

Dividi<strong>da</strong> em “Plano Leste” e “Plano Sul”, a Gran<strong>de</strong> Estratégia para o Grupo <strong>de</strong> Ataque<br />

• Ataque inicial à Frota Norte-Americana do Pacífico em Pearl Harbor, Havaí, com<br />

aeronaves basea<strong>da</strong>s em porta-aviões <strong>da</strong> Frota Combina<strong>da</strong> 71 ;<br />

• Seguir esse ataque com:<br />

Plano Sul:<br />

o Toma<strong>da</strong> <strong>da</strong>s Filipinas;<br />

o Cortar as linhas <strong>de</strong> comunicação norte-americanas com a toma<strong>da</strong> <strong>de</strong> Guam e<br />

Wake.<br />

• Ataque à Malásia e Hong Kong;<br />

• Seguir com ataques a:<br />

o Arquipélago <strong>de</strong> Bismarck;<br />

o Java;<br />

o S<strong>um</strong>atra;<br />

• Isolar a Austrália e a Nova Zelândia.<br />

O Japão esperava que nem a Grã-Bretanha nem a União Soviética fossem capazes <strong>de</strong><br />

respon<strong>de</strong>r efetivamente a esses ataques, visto que ambas as nações estavam ameaça<strong>da</strong>s em<br />

gran<strong>de</strong> medi<strong>da</strong> pela Alemanha. Não existe evidência <strong>de</strong> que o Japão esperasse <strong>de</strong>rrotar os<br />

Estados Unidos; na ver<strong>da</strong><strong>de</strong>, após a conclusão dos ataques planejados, a instrução era<br />

estabelecer posições <strong>de</strong>fensivas e aguar<strong>da</strong>r <strong>um</strong>a paz negocia<strong>da</strong>.<br />

O ataque planejado pelo Almirante Isoroku Yamamoto previa <strong>um</strong>a ofensiva aeronaval<br />

contra a Frota Norte-Americana do Pacífico ancora<strong>da</strong> em Pearl Harbor, no Havaí, porque esta<br />

era consi<strong>de</strong>ra<strong>da</strong> a única força capaz <strong>de</strong> fazer frente ao Japão naquele teatro <strong>de</strong> operações. A<br />

aniquilação <strong>da</strong> Frota Americana <strong>da</strong>ria, segundo os (acertados) cálculos <strong>de</strong> Yamamoto, seis<br />

meses <strong>de</strong> hegemonia japonesa do Pacífico, tempo suficiente para que to<strong>da</strong>s as conquistas<br />

planeja<strong>da</strong>s fossem realiza<strong>da</strong>s.<br />

A autorização final <strong>da</strong><strong>da</strong> em novembro <strong>de</strong> 1941 <strong>de</strong>signou seis porta-aviões japoneses<br />

como elemento principal <strong>da</strong> força-tarefa que navegaria até o Havaí – em completo silêncio <strong>de</strong><br />

71 Componente <strong>da</strong> Marinha Imperial Japonesa <strong>de</strong>signado para gran<strong>de</strong>s operações oceânicas.<br />

75


ádio para obter surpresa total. As ofensivas foram coor<strong>de</strong>na<strong>da</strong>s por to<strong>da</strong> a área do Pacífico e<br />

su<strong>de</strong>ste asiático para acontecerem em simultanei<strong>da</strong><strong>de</strong> com o ataque ao Havaí. Desta forma, o<br />

plano <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa nacional com base no Grupo <strong>de</strong> Ataque Sul foi <strong>de</strong>cisivamente posto em ação<br />

no dia 7 <strong>de</strong> <strong>de</strong>zembro <strong>de</strong> 1941.<br />

76


XXI Comando<br />

<strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io<br />

73ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io<br />

APÊNDICE B<br />

Estrutura Orgânica <strong>da</strong> 20ª Força Aérea<br />

Gen. Arnold<br />

314ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io<br />

XX Comando<br />

<strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io<br />

58ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io<br />

315ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io<br />

313ª Ala <strong>de</strong><br />

Bombar<strong>de</strong>io<br />

• 58ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io - 40º, 444º, 462º e 468º Grupos <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io.<br />

• 73ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io - 497º, 498º, 499º e 500º Grupos <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io.<br />

• 313ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io - 6º, 9º, 504º, 505º e 509º Grupos <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io.<br />

• 314ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io - 19º, 29º, 39º e 330º Grupos <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io.<br />

• 315ª Ala <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io - 16º, 331º, 501º e 502º Grupos <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io.<br />

77


ANEXO A<br />

Boeing B-29 Superfortress<br />

Foto 1 - Linha <strong>de</strong> produção do B-29 na fábrica <strong>da</strong> Boeing em Renton, Washington. (DAVIS: 1997, p.20)<br />

Foto 2 - B-29 "Yokohama Yo-Yo". (BIRDSALL:1980, p.27)<br />

78


Foto 3 - Ângulo frontal do Superfortress. (BIRDSALL:1980,p.29)<br />

Foto 4 - B-29 "Yokohama Yo-Yo" em aproximação para pouso. (BIRDSALL:1980,p.26)<br />

Foto 5 - Estação do artilheiro <strong>de</strong> cau<strong>da</strong>, com duas metralhadoras 12,7mm e <strong>um</strong> canhão <strong>de</strong> 20 mm.<br />

(BIRDSALL:1980,p.20)<br />

79


Foto 6 - Torre superior-traseira, com duas metralhadoras 12,7 mm. (BIRDSALL:1980,p.21)<br />

Foto 7 - Torre inferior-frontal e os compartimentos <strong>de</strong> bombas. (BIRDSALL:1980,p.21)<br />

80


Foto 8 - B-29 do 468º Grupo <strong>de</strong> Bombar<strong>de</strong>io aci<strong>de</strong>ntado em Iwo Jima. (BIRDSALL:1980,p.24)<br />

Foto 9 - Lote <strong>de</strong> bombas incendiárias pronto para ser carregado no B-29. (BIRDSALL:1980,p.14)<br />

Foto 10 - Vista geral <strong>da</strong> pista norte em Guam, abril <strong>de</strong> 1945. (BIRDSALL:1980,p.13)<br />

81


Foto 11 - B-29s voam impunes pelo Monte Fuji, no Japão: <strong>um</strong> símbolo do po<strong>de</strong>rio aéreo estratégico dos<br />

Estados Unidos. (DORR:2002,p.27)<br />

Foto 12 - Jim Pattillo, Maurie Ashland e Ben Nicks, os pilotos <strong>de</strong> B-29 que auxiliaram este trabalho.<br />

(ARQUIVO PESSOAL DE JÚLIO CÉSAR GUEDES ANTUNES)<br />

82


ANEXO B<br />

Mapa do Teatro <strong>de</strong> Operações do Pacífico Oci<strong>de</strong>ntal<br />

Mapa 1 - (SMITH: 1995,p.5)<br />

83


ANEXO C<br />

Aeronaves <strong>da</strong> Força Aérea do Exército Imperial Japonês<br />

Foto 13 - Nakajima Ki-43 Hayabusa ("Oscar") do Cap. Hi<strong>de</strong>o Miyabe. 64º Sentai – Birmânia, 1944.<br />

(SAKAIDA:1997,p.42)<br />

Foto 14 - Nakajima Ki-44 Shoki ("Tojo") do Cap. Yoshio Yoshi<strong>da</strong>. 3º Chutai/70º Sentai – Japão, junho <strong>de</strong><br />

1945. (SAKAIDA:1997,p.44)<br />

Foto 15 - Kawasaki Ki-45 Toryu ("Nick") do Tenente Isamu Kashii<strong>de</strong>. 2º Chutai/4º Sentai – Japão, 1944-<br />

1945. (SAKAIDA:1997,p.46)<br />

84


Foto 16 - Kawasaki Ki-61 Hien ("Tony") do Capitão Teruhiko Kobayashi. 244º Sentai – Japão, janeiro <strong>de</strong><br />

1945. (SAKAIDA:1997,p.47)<br />

Foto 17 - Nakajima Ki-84 Hayate ("Frank") do Capitão Tomojiro Ogawa. 1º Chutai/103º Sentai – Japão,<br />

janeiro <strong>de</strong> 1945. (SAKAIDA:1997,p.49)<br />

85

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