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A acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada ... - Lnec

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os problemas da falta <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> que<br />

algumas <strong>pessoas</strong> enfrentavam se resolviam<br />

<strong>com</strong> o apoio <strong>de</strong> terceiros para vencer os<br />

obstáculos.<br />

2) O défice habitacional dos anos 70/80<br />

Durante as décadas <strong>de</strong> 70 e 80 persistiu em<br />

Portugal uma grave carência habitacional, sendo<br />

portanto a priorida<strong>de</strong> do Estado, durante cerca<br />

<strong>de</strong> 20 anos, a resolução <strong>de</strong>ste problema<br />

quantitativo.<br />

3) A ausência <strong>de</strong> legislação e a insuficiente<br />

formação do meio técnico<br />

Não existia legislação nacional que <strong>de</strong>finisse<br />

condições mínimas <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos<br />

edifícios <strong>de</strong> habitação e apenas algumas<br />

autarquias possuíam disposições municipais<br />

que atenuavam essa lacuna. Acresce a este<br />

facto que a formação tanto universitária <strong>com</strong>o<br />

<strong>de</strong> pós-graduação da generalida<strong>de</strong> das<br />

profissões relacionadas <strong>com</strong> o meio edificado<br />

não contemplava nos seus currículos os temas<br />

da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> ou do <strong>de</strong>senho universal.<br />

Porque existem condições para <strong>com</strong>eçar a<br />

alterar esta situação?<br />

1) Pela evolução dos valores societais<br />

Na socieda<strong>de</strong> portuguesa o "direito à diferença"<br />

está a emergir <strong>com</strong>o um novo valor, em<br />

consequência <strong>de</strong> uma estrutura social cada vez<br />

mais heterogénea na proveniência (ex., etnia<br />

cigana, <strong>de</strong> origem africana, emigrantes <strong>de</strong> leste)<br />

e no modo <strong>de</strong> vida (agregados nucleares,<br />

mono-parentais, <strong>pessoas</strong> sós, idosos,<br />

estudantes, etc.), <strong>de</strong> as diferenças serem<br />

evi<strong>de</strong>nciadas através dos "media", e das<br />

campanhas <strong>de</strong> sensibilização. No caso da<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>, esta evolução reflectiu-se em<br />

reconhecer o direito à integração social das<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> e em<br />

assumir que <strong>com</strong>pete à socieda<strong>de</strong> criar as<br />

condições indispensáveis à plena participação<br />

<strong>de</strong> todos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das suas<br />

diferenças.<br />

2) Pela resolução do défice habitacional<br />

Após mais <strong>de</strong> vinte anos em que a priorida<strong>de</strong><br />

do Estado foi a produção <strong>de</strong> habitação em<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>com</strong> vista a superar o défice<br />

habitacional, atingiu-se em 2000 uma situação<br />

em que existem mais casas que famílias. Assim,<br />

a aposta política passou a ser a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong>, sendo a <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> entendida<br />

<strong>com</strong>o um importante factor para atingir esse<br />

objectivo.<br />

3) Pelo envelhecimento da população<br />

Os beneficiários mais directos da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong><br />

(<strong>de</strong>ficientes e idosos) são grupos sociais a que<br />

usualmente se atribui um papel passivo e que<br />

têm pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protesto. No entanto,<br />

nos últimos anos o número <strong>de</strong> idosos tem<br />

aumentado <strong>com</strong> o progressivo envelhecimento da<br />

população. Assim, os idosos passaram a ter maior<br />

influência política através do voto e portanto<br />

<strong>com</strong>eçaram também a ser consi<strong>de</strong>rados em maior<br />

grau nas <strong>de</strong>cisões políticas, e por terem adquirido<br />

maior capacida<strong>de</strong> económica são um segmento<br />

atractivo para o mercado imobiliário.<br />

Quais os objectivos da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos novos<br />

edifícios habitacionais?<br />

Estes edifícios <strong>de</strong>vem permitir o acesso e a visita<br />

das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> sem<br />

que sejam realizadas quaisquer adaptações, e a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem habitadas por <strong>pessoas</strong><br />

<strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> após terem sido<br />

realizadas adaptações previstas na fase <strong>de</strong><br />

projecto. Para atingir este objectivo <strong>de</strong>vem ser<br />

conciliadas as três estratégias seguintes:<br />

1) Visitabilida<strong>de</strong><br />

Para se assegurar a visitabilida<strong>de</strong>, pelo menos o<br />

vestíbulo <strong>de</strong> entrada e a sala <strong>de</strong>vem ser acessíveis<br />

<strong>com</strong> autonomia, e a cozinha e uma instalação<br />

sanitária <strong>de</strong>vem ser utilizáveis, eventualmente<br />

<strong>com</strong> auxílio <strong>de</strong> outras <strong>pessoas</strong>. Esta estratégia<br />

justifica-se porque todos temos familiares, amigos<br />

e conhecidos <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

queremos receber nas nossas casas sem termos<br />

<strong>de</strong> fazer alterações ou preparativos especiais.<br />

2) Uso universal<br />

O uso universal da habitação significa que os<br />

espaços e <strong>com</strong>ponentes que a constituem <strong>de</strong>vem<br />

ser acessíveis e utilizáveis pelo maior número<br />

possível <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong>, sem ser necessário realizar<br />

adaptações. Muitas das condições <strong>de</strong><br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> uso universal se<br />

forem adoptadas as seguintes orientações<br />

relativas aos espaços e <strong>com</strong>ponentes: a<strong>de</strong>quada<br />

selecção (ex., os puxadores <strong>de</strong> alavanca são<br />

utilizáveis por quase todos, incluindo as <strong>pessoas</strong><br />

que não têm mãos); a<strong>de</strong>quada localização (ex.,<br />

as tomadas eléctricas colocadas a uma altura do<br />

pavimento um pouco superior ao usual estão ao<br />

alcance da maioria das <strong>pessoas</strong> sem ser<br />

necessário a pessoa dobrar-se); possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ajuste (ex., as prateleiras e as bancadas<br />

po<strong>de</strong>m permitir o ajuste da altura ao pavimento);<br />

e existência <strong>de</strong> alternativa (ex., se no acesso à<br />

habitação existirem <strong>de</strong>graus po<strong>de</strong> existir uma<br />

rampa alternativa).<br />

3) Adaptabilida<strong>de</strong><br />

Algumas condições <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>, que não<br />

po<strong>de</strong>m ser implementadas através das estratégias<br />

anteriores, <strong>de</strong>vem ser implementadas por<br />

intervenções <strong>de</strong> adaptação (ex., barras <strong>de</strong> apoio<br />

na instalação sanitária). As intervenções <strong>de</strong><br />

adaptação <strong>de</strong>vem ser implementadas num curto<br />

período <strong>de</strong> tempo e sem envolver alterações da<br />

estrutura, das re<strong>de</strong>s <strong>com</strong>uns ou dos materiais <strong>de</strong><br />

revestimento.<br />

Qual é o aumento do custo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma<br />

habitação acessível?<br />

Em habitações <strong>de</strong> dimensão mínima (ex., habitação<br />

<strong>de</strong> custo controlado) a satisfação das<br />

especificações <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> implica um<br />

aumento <strong>de</strong> área entre 5% e 15%. Este valor<br />

corrobora os resultados <strong>de</strong> alguns estudos<br />

europeus segundo os quais uma habitação<br />

acessível tem um custo acrescido entre 3% a 7%,<br />

pois, <strong>com</strong>o se sabe, nestas circunstâncias o<br />

aumento <strong>de</strong> custo <strong>de</strong> construção não é proporcional<br />

ao aumento <strong>de</strong> área em virtu<strong>de</strong> da maior<br />

rendibilização que se consegue das instalações<br />

e equipamentos. Em habitações <strong>com</strong> dimensões<br />

mais amplas os aumentos <strong>de</strong> área e <strong>de</strong> custo<br />

po<strong>de</strong>m ser nulos.<br />

Mas, em contraponto a esta avaliação <strong>de</strong> impacto<br />

económico, <strong>de</strong>vemos também avaliar quais são<br />

os encargos para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>correntes da<br />

falta <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios habitacionais.<br />

Por exemplo, será necessário contabilizar os<br />

encargos <strong>de</strong>correntes: <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> ajuda às<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

po<strong>de</strong>riam ser autónomas; <strong>de</strong> apoios atribuídos<br />

para a realização <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> adaptação <strong>com</strong><br />

vista a dotar habitações existentes <strong>de</strong> condições<br />

<strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>; <strong>de</strong> subsídios atribuídos a<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> activas<br />

mas que ficam confinadas às suas habitações; <strong>de</strong><br />

manter em instituições <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

po<strong>de</strong>riam continuar nas suas casas.<br />

* João Branco Pedro | Arquitecto, Investigador<br />

Auxiliar<br />

Núcleo <strong>de</strong> Arquitectura e Urbanismo | Departamento<br />

<strong>de</strong> Edifícios | Lisboa e LNEC<br />

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