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A acessibilidade de pessoas com mobilidade condicionada ... - Lnec

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A ACESSIBILIDADE DE PESSOAS<br />

COM MOBILIDADE CONDICIONADA<br />

NOS EDIFÍCIOS HABITACIONAIS<br />

João Branco Pedro*<br />

Introdução<br />

Com a publicação do Decreto-lei n.º 163/06, <strong>de</strong><br />

8 <strong>de</strong> Agosto, que aprova as novas "Normas<br />

técnicas para melhoria da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> das<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong>", <strong>de</strong>u-se<br />

um importante passo para assegurar o exercício<br />

dos direitos que são conferidos a qualquer<br />

cidadão <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>mocrática,<br />

contribuindo também para um reforço dos laços<br />

sociais, para uma maior participação cívica e<br />

para a promoção da qualida<strong>de</strong> <strong>de</strong> vida.<br />

Este novo diploma substitui o Decreto-Lei n.º<br />

123/97, <strong>de</strong> 22 <strong>de</strong> Maio, que pela primeira vez<br />

aprovou normas técnicas visando a melhoria da<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>condicionada</strong> nos edifícios públicos, nos edifícios<br />

que recebem público e na via pública. As<br />

principais alterações introduzidas no Decreto-lei<br />

n.º 163/06 foram as seguintes: melhoria dos<br />

mecanismos fiscalizadores, agravamento das<br />

coimas previstas para a violação das normas<br />

técnicas, aumento do nível <strong>de</strong> responsabilização<br />

dos agentes envolvidos, aperfeiçoamento do<br />

disposto nas normas técnicas em função da<br />

evolução técnica e dos conhecimentos, e<br />

alargamento do âmbito <strong>de</strong> aplicação das normas<br />

técnicas aos novos edifícios habitacionais.<br />

O presente artigo analisa esta última alteração,<br />

procurando respon<strong>de</strong>r a uma série <strong>de</strong> questões<br />

que se po<strong>de</strong>m colocar sobre <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos<br />

edifícios habitacionais.<br />

O que significa e quem é beneficiado <strong>com</strong> a<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios habitacionais?<br />

Significa a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todas as <strong>pessoas</strong><br />

ace<strong>de</strong>rem e utilizarem os edifícios habitacionais<br />

(habitação e espaços <strong>com</strong>uns) em condições <strong>de</strong><br />

segurança, conforto e autonomia. Com a<br />

promoção da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios<br />

habitacionais são beneficiadas todas as <strong>pessoas</strong>,<br />

mas <strong>com</strong> particular relevância as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong><br />

mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong>.<br />

Quem são as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>condicionada</strong>?<br />

Empresas & Mercados<br />

São <strong>pessoas</strong> que se confrontam <strong>com</strong> barreiras<br />

ambientais que impe<strong>de</strong>m ou restringem a sua<br />

mobilida<strong>de</strong> por motivos <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> ou <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiências do foro sensorial (ex., cegos, surdos),<br />

físico (ex., em ca<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> rodas, crianças<br />

pequenas, obesos) ou cognitivo (ex.,<br />

analfabetos). A limitação da mobilida<strong>de</strong> po<strong>de</strong><br />

ser permanente (ex., pessoa <strong>com</strong> membro<br />

amputado), temporária (ex., grávida, pessoa<br />

<strong>com</strong> perna partida), ou <strong>de</strong> circunstância (ex.,<br />

pessoa transportando uma crianças <strong>de</strong> colo ou<br />

gran<strong>de</strong>s volumes).<br />

2<br />

Se analisarmos o percurso <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> uma<br />

pessoa, verificamos que em algum momento<br />

da sua vida ela foi ou será uma pessoa <strong>com</strong><br />

mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong>. Uma criança tem<br />

uma pequena estatura e força física reduzida;<br />

um jovem que mu<strong>de</strong> <strong>de</strong> casa tem <strong>de</strong><br />

transportar mobílias e outros gran<strong>de</strong>s volumes;<br />

uma senhora grávida cansa-se <strong>com</strong> maior<br />

facilida<strong>de</strong>; uma mãe <strong>com</strong> uma criança <strong>de</strong> colo<br />

necessita <strong>de</strong> a transportar num carrinho <strong>de</strong><br />

bebé; um casal <strong>com</strong> filhos abastece a sua<br />

casa transportando muitos sacos <strong>de</strong> <strong>com</strong>pras;<br />

uma pessoa <strong>de</strong> meia-ida<strong>de</strong> ten<strong>de</strong> a ter uma<br />

vida mais se<strong>de</strong>ntária o que reduz a sua<br />

resistência física e favorece a obesida<strong>de</strong>; um<br />

idoso ten<strong>de</strong> a ter uma menor acuida<strong>de</strong> visual<br />

e auditiva; etc. A esta constatação acresce<br />

que, em qualquer altura da vida, uma pessoa<br />

po<strong>de</strong> ter um aci<strong>de</strong>nte e ficar temporária ou<br />

permanentemente <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>condicionada</strong> (ex., po<strong>de</strong> partir uma perna e<br />

necessitar <strong>de</strong> utilizar muletas).<br />

Segundo dados do Censos 2001 e do<br />

Inquérito Nacional às Incapacida<strong>de</strong>s,<br />

Deficiências e Desvantagens, entre 6% e 9%<br />

da população portuguesa tem algum tipo <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência. Porém, se consi<strong>de</strong>ramos as<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> alguns<br />

estudos estimam que mais <strong>de</strong> 30% da<br />

população possui algum tipo <strong>de</strong> limitação.<br />

Os mesmos estudos referem que esta<br />

percentagem tem tendência a aumentar em<br />

consequência do envelhecimento da<br />

população e do progresso da Medicina.<br />

Porque é importante assegurar a<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios habitacionais?<br />

1) Porque é um direito constitucional<br />

A Constituição Portuguesa proclama o princípio<br />

da igualda<strong>de</strong> entre todos os cidadãos,<br />

sublinha que os cidadãos portadores <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>ficiência física ou mental gozam plenamente<br />

dos direitos, e consagra que todos têm direito<br />

a uma habitação a<strong>de</strong>quada, para si e para<br />

a sua família.<br />

2) Porque contribui para a integração<br />

Actualmente, muitas <strong>pessoas</strong> são obrigadas<br />

no percurso da suas vidas a <strong>de</strong>ixar as suas<br />

habitações porque enfrentam limitações <strong>de</strong><br />

acesso. Outras <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>condicionada</strong> vivem vidas limitadas ao uso<br />

<strong>de</strong> alguns espaços e à disponibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

auxílio <strong>de</strong> outros. Por fim, existem ainda<br />

<strong>pessoas</strong> que estão confinadas a instituições<br />

<strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social e que po<strong>de</strong>riam<br />

continuar a viver nas suas casas. A promoção<br />

da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios habitacionais<br />

visa assegurar ao maior número possível <strong>de</strong><br />

cidadãos a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> viverem<br />

integrados na sua <strong>com</strong>unida<strong>de</strong> em situação<br />

<strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> <strong>de</strong> oportunida<strong>de</strong>s.<br />

3) Porque fomenta a participação<br />

As <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong><br />

estão envolvidas em todos os domínios <strong>de</strong><br />

activida<strong>de</strong> da nossa socieda<strong>de</strong> (ex.,<br />

administração, <strong>com</strong>ércio, indústria, serviços)<br />

e necessitam <strong>de</strong> condições <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong><br />

para po<strong>de</strong>rem participar activamente.<br />

4) Porque beneficia todas as <strong>pessoas</strong><br />

Com a supressão das barreiras as <strong>pessoas</strong><br />

<strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> po<strong>de</strong>m usufruir<br />

<strong>de</strong> todos os espaços e serviços da<br />

<strong>com</strong>unida<strong>de</strong>, os seus familiares e amigos<br />

vêem reduzida a necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prestar<br />

auxílio e as <strong>pessoas</strong> em geral dispõem <strong>de</strong><br />

espaços mais cómodos e fáceis <strong>de</strong> utilizar.<br />

5) Porque é economicamente vantajosa<br />

A existência <strong>de</strong> barreiras à <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong><br />

constitui um encargo para a socieda<strong>de</strong>, que<br />

se expressa na redução da produtivida<strong>de</strong>, na<br />

atribuição <strong>de</strong> subsídios <strong>de</strong> integração e na<br />

criação <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> apoio. Em <strong>com</strong>plemento,<br />

se as especificações <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> forem<br />

consi<strong>de</strong>radas durante a fase <strong>de</strong> projecto, o<br />

aumento <strong>de</strong> custo é nulo ou muito reduzido,<br />

mas a realização <strong>de</strong> adaptações posteriores<br />

e não previstas durante a fase <strong>de</strong> projecto<br />

tem geralmente um custo superior. Por último,<br />

uma habitação acessível possui um maior<br />

número <strong>de</strong> potenciais <strong>com</strong>pradores ou<br />

arrendatários, nomeadamente, <strong>pessoas</strong><br />

idosas, famílias <strong>com</strong> membros <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência,<br />

casais <strong>com</strong> filhos pequenos, etc.<br />

Quais as condições <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> actuais<br />

no parque habitacional?<br />

Embora não exista um levantamento rigoroso<br />

das condições <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> dos edifícios<br />

habitacionais, o conhecimento geral permite<br />

afirmar que a maioria dos edifícios<br />

habitacionais em Portugal não é acessível.<br />

Assim, as <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong><br />

<strong>condicionada</strong> encontram sérias dificulda<strong>de</strong>s<br />

em ace<strong>de</strong>r a estes edifícios, e em muitos casos<br />

torna-se mesmo impossível ace<strong>de</strong>r <strong>de</strong> forma<br />

autónoma.<br />

Afigura-se que este facto se fica a <strong>de</strong>ver a<br />

uma conjugação <strong>de</strong> factores, nomeadamente<br />

os seguintes:<br />

1) A reduzida sensibilização da população<br />

Durante muito tempo prevaleceu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong><br />

que a <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> se <strong>de</strong>stina a permitir o<br />

acesso dos cidadãos <strong>com</strong> <strong>de</strong>ficiência. Em<br />

<strong>com</strong>plemento, existia algum pudor em assumir<br />

a <strong>de</strong>ficiência, o que criou a percepção <strong>de</strong> que<br />

se tratava <strong>de</strong> um número muito reduzido <strong>de</strong><br />

<strong>pessoas</strong> e <strong>de</strong> que portanto não se justificava<br />

tomar medidas para promover a<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>. Por último, entendia-se que


os problemas da falta <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> que<br />

algumas <strong>pessoas</strong> enfrentavam se resolviam<br />

<strong>com</strong> o apoio <strong>de</strong> terceiros para vencer os<br />

obstáculos.<br />

2) O défice habitacional dos anos 70/80<br />

Durante as décadas <strong>de</strong> 70 e 80 persistiu em<br />

Portugal uma grave carência habitacional, sendo<br />

portanto a priorida<strong>de</strong> do Estado, durante cerca<br />

<strong>de</strong> 20 anos, a resolução <strong>de</strong>ste problema<br />

quantitativo.<br />

3) A ausência <strong>de</strong> legislação e a insuficiente<br />

formação do meio técnico<br />

Não existia legislação nacional que <strong>de</strong>finisse<br />

condições mínimas <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos<br />

edifícios <strong>de</strong> habitação e apenas algumas<br />

autarquias possuíam disposições municipais<br />

que atenuavam essa lacuna. Acresce a este<br />

facto que a formação tanto universitária <strong>com</strong>o<br />

<strong>de</strong> pós-graduação da generalida<strong>de</strong> das<br />

profissões relacionadas <strong>com</strong> o meio edificado<br />

não contemplava nos seus currículos os temas<br />

da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> ou do <strong>de</strong>senho universal.<br />

Porque existem condições para <strong>com</strong>eçar a<br />

alterar esta situação?<br />

1) Pela evolução dos valores societais<br />

Na socieda<strong>de</strong> portuguesa o "direito à diferença"<br />

está a emergir <strong>com</strong>o um novo valor, em<br />

consequência <strong>de</strong> uma estrutura social cada vez<br />

mais heterogénea na proveniência (ex., etnia<br />

cigana, <strong>de</strong> origem africana, emigrantes <strong>de</strong> leste)<br />

e no modo <strong>de</strong> vida (agregados nucleares,<br />

mono-parentais, <strong>pessoas</strong> sós, idosos,<br />

estudantes, etc.), <strong>de</strong> as diferenças serem<br />

evi<strong>de</strong>nciadas através dos "media", e das<br />

campanhas <strong>de</strong> sensibilização. No caso da<br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>, esta evolução reflectiu-se em<br />

reconhecer o direito à integração social das<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> e em<br />

assumir que <strong>com</strong>pete à socieda<strong>de</strong> criar as<br />

condições indispensáveis à plena participação<br />

<strong>de</strong> todos, in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente das suas<br />

diferenças.<br />

2) Pela resolução do défice habitacional<br />

Após mais <strong>de</strong> vinte anos em que a priorida<strong>de</strong><br />

do Estado foi a produção <strong>de</strong> habitação em<br />

quantida<strong>de</strong> <strong>com</strong> vista a superar o défice<br />

habitacional, atingiu-se em 2000 uma situação<br />

em que existem mais casas que famílias. Assim,<br />

a aposta política passou a ser a melhoria da<br />

qualida<strong>de</strong>, sendo a <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> entendida<br />

<strong>com</strong>o um importante factor para atingir esse<br />

objectivo.<br />

3) Pelo envelhecimento da população<br />

Os beneficiários mais directos da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong><br />

(<strong>de</strong>ficientes e idosos) são grupos sociais a que<br />

usualmente se atribui um papel passivo e que<br />

têm pouca capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> protesto. No entanto,<br />

nos últimos anos o número <strong>de</strong> idosos tem<br />

aumentado <strong>com</strong> o progressivo envelhecimento da<br />

população. Assim, os idosos passaram a ter maior<br />

influência política através do voto e portanto<br />

<strong>com</strong>eçaram também a ser consi<strong>de</strong>rados em maior<br />

grau nas <strong>de</strong>cisões políticas, e por terem adquirido<br />

maior capacida<strong>de</strong> económica são um segmento<br />

atractivo para o mercado imobiliário.<br />

Quais os objectivos da <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos novos<br />

edifícios habitacionais?<br />

Estes edifícios <strong>de</strong>vem permitir o acesso e a visita<br />

das <strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> sem<br />

que sejam realizadas quaisquer adaptações, e a<br />

possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> serem habitadas por <strong>pessoas</strong><br />

<strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> após terem sido<br />

realizadas adaptações previstas na fase <strong>de</strong><br />

projecto. Para atingir este objectivo <strong>de</strong>vem ser<br />

conciliadas as três estratégias seguintes:<br />

1) Visitabilida<strong>de</strong><br />

Para se assegurar a visitabilida<strong>de</strong>, pelo menos o<br />

vestíbulo <strong>de</strong> entrada e a sala <strong>de</strong>vem ser acessíveis<br />

<strong>com</strong> autonomia, e a cozinha e uma instalação<br />

sanitária <strong>de</strong>vem ser utilizáveis, eventualmente<br />

<strong>com</strong> auxílio <strong>de</strong> outras <strong>pessoas</strong>. Esta estratégia<br />

justifica-se porque todos temos familiares, amigos<br />

e conhecidos <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

queremos receber nas nossas casas sem termos<br />

<strong>de</strong> fazer alterações ou preparativos especiais.<br />

2) Uso universal<br />

O uso universal da habitação significa que os<br />

espaços e <strong>com</strong>ponentes que a constituem <strong>de</strong>vem<br />

ser acessíveis e utilizáveis pelo maior número<br />

possível <strong>de</strong> <strong>pessoas</strong>, sem ser necessário realizar<br />

adaptações. Muitas das condições <strong>de</strong><br />

<strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong> uso universal se<br />

forem adoptadas as seguintes orientações<br />

relativas aos espaços e <strong>com</strong>ponentes: a<strong>de</strong>quada<br />

selecção (ex., os puxadores <strong>de</strong> alavanca são<br />

utilizáveis por quase todos, incluindo as <strong>pessoas</strong><br />

que não têm mãos); a<strong>de</strong>quada localização (ex.,<br />

as tomadas eléctricas colocadas a uma altura do<br />

pavimento um pouco superior ao usual estão ao<br />

alcance da maioria das <strong>pessoas</strong> sem ser<br />

necessário a pessoa dobrar-se); possibilida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> ajuste (ex., as prateleiras e as bancadas<br />

po<strong>de</strong>m permitir o ajuste da altura ao pavimento);<br />

e existência <strong>de</strong> alternativa (ex., se no acesso à<br />

habitação existirem <strong>de</strong>graus po<strong>de</strong> existir uma<br />

rampa alternativa).<br />

3) Adaptabilida<strong>de</strong><br />

Algumas condições <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>, que não<br />

po<strong>de</strong>m ser implementadas através das estratégias<br />

anteriores, <strong>de</strong>vem ser implementadas por<br />

intervenções <strong>de</strong> adaptação (ex., barras <strong>de</strong> apoio<br />

na instalação sanitária). As intervenções <strong>de</strong><br />

adaptação <strong>de</strong>vem ser implementadas num curto<br />

período <strong>de</strong> tempo e sem envolver alterações da<br />

estrutura, das re<strong>de</strong>s <strong>com</strong>uns ou dos materiais <strong>de</strong><br />

revestimento.<br />

Qual é o aumento do custo <strong>de</strong> construção <strong>de</strong> uma<br />

habitação acessível?<br />

Em habitações <strong>de</strong> dimensão mínima (ex., habitação<br />

<strong>de</strong> custo controlado) a satisfação das<br />

especificações <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> implica um<br />

aumento <strong>de</strong> área entre 5% e 15%. Este valor<br />

corrobora os resultados <strong>de</strong> alguns estudos<br />

europeus segundo os quais uma habitação<br />

acessível tem um custo acrescido entre 3% a 7%,<br />

pois, <strong>com</strong>o se sabe, nestas circunstâncias o<br />

aumento <strong>de</strong> custo <strong>de</strong> construção não é proporcional<br />

ao aumento <strong>de</strong> área em virtu<strong>de</strong> da maior<br />

rendibilização que se consegue das instalações<br />

e equipamentos. Em habitações <strong>com</strong> dimensões<br />

mais amplas os aumentos <strong>de</strong> área e <strong>de</strong> custo<br />

po<strong>de</strong>m ser nulos.<br />

Mas, em contraponto a esta avaliação <strong>de</strong> impacto<br />

económico, <strong>de</strong>vemos também avaliar quais são<br />

os encargos para a socieda<strong>de</strong> <strong>de</strong>correntes da<br />

falta <strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong> nos edifícios habitacionais.<br />

Por exemplo, será necessário contabilizar os<br />

encargos <strong>de</strong>correntes: <strong>de</strong> serviços <strong>de</strong> ajuda às<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

po<strong>de</strong>riam ser autónomas; <strong>de</strong> apoios atribuídos<br />

para a realização <strong>de</strong> obras <strong>de</strong> adaptação <strong>com</strong><br />

vista a dotar habitações existentes <strong>de</strong> condições<br />

<strong>de</strong> <strong>acessibilida<strong>de</strong></strong>; <strong>de</strong> subsídios atribuídos a<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> activas<br />

mas que ficam confinadas às suas habitações; <strong>de</strong><br />

manter em instituições <strong>de</strong> solidarieda<strong>de</strong> social<br />

<strong>pessoas</strong> <strong>com</strong> mobilida<strong>de</strong> <strong>condicionada</strong> que<br />

po<strong>de</strong>riam continuar nas suas casas.<br />

* João Branco Pedro | Arquitecto, Investigador<br />

Auxiliar<br />

Núcleo <strong>de</strong> Arquitectura e Urbanismo | Departamento<br />

<strong>de</strong> Edifícios | Lisboa e LNEC<br />

3

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