MTA 6640: GRU-MAO MTA 6643: MAO-VCP - Revista Flap ...
MTA 6640: GRU-MAO MTA 6643: MAO-VCP - Revista Flap ...
MTA 6640: GRU-MAO MTA 6643: MAO-VCP - Revista Flap ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
<strong>MTA</strong> <strong>6640</strong>: <strong>GRU</strong>-<strong>MAO</strong><br />
<strong>MTA</strong> <strong>6643</strong>: <strong>MAO</strong>-<strong>VCP</strong><br />
Texto e fotos: Gianfranco Beting<br />
Bem-vindo ao nosso<br />
segundo Flight Check<br />
cargueiro. Desta vez,<br />
voaremos num clássico<br />
DC-10-30F da <strong>MTA</strong>. Da<br />
cabine de comando, você<br />
poderá conhecer detalhes<br />
fascinantes de uma<br />
operação no principal eixo<br />
de carga aérea do mercado<br />
brasileiro: a ligação entre<br />
São Paulo e Manaus.<br />
OPINIÃO DO EDITOR<br />
Flight Check <strong>MTA</strong>.indd 2-3 4/22/08 11:49:24 AM
Madrugada em<br />
<strong>GRU</strong>: o DC-10<br />
é lentamente<br />
carregado.<br />
O relógio marcava 3h15 quando atravessei<br />
a rua em frentre ao Terminal 2 de Guarulhos.<br />
A madrugada fresca em São Paulo convidava<br />
para um cafezinho, fundamental para espantar<br />
o sono. Dormira apenas duas horas antes de<br />
rumar para o aeroporto. Pela frente, uma jornada<br />
fascinante: acompanhar um vôo no DC-10-30F<br />
da Master Top Linhas Aéreas (<strong>MTA</strong>) até Manaus,<br />
retornando via Viracopos (Campinas). Apresenteime<br />
na sala de despacho operacional da companhia,<br />
ponto de encontro com a tripulação que<br />
executaria as duas pernas: uma até a Amazônia e<br />
a outra de retorno a Campinas. Horário previsto<br />
de decolagem: 5h00.<br />
Pouco tempo depois, entraram na sala os<br />
três tripulantes escalados para conduzir o DC-10.<br />
Inicialmente, saudei o comandante Marques,<br />
natural do Recife e veterano com 16 mil horas de<br />
vôo. Formado pela FAB, voou T-37, Xavante, quase<br />
todos os tipos do GTE e depois passou para o<br />
lado civil: começou na Digex, comandando DC-8.<br />
Prosseguiu carreira na Beta, no mesmo tipo de<br />
aeronave, e então foi pilotar 737 na extinta BRA.<br />
Está na <strong>MTA</strong> desde o início das operações e por<br />
sua experiência é piloto checador/instrutor na<br />
companhia.<br />
O primeiro-oficial (F/O) destes vôos seria o<br />
Patrick. Mineiro de Juiz de Fora, começou carreira<br />
no aeroclube de Barbacena. Depois de fazer a<br />
natural escadinha, passando por Volta Redonda,<br />
pelos Senecas e King Air da vida, foi pilotar Learjet<br />
na Líder. De lá voou para a Vasp, onde evoluiu<br />
do 737-200 para o MD-11. Passou para a Gol e<br />
só depois é que iria para a <strong>MTA</strong>.<br />
A tripulação ficou completa com o engenheiro<br />
de vôo (F/E), o carioca Márcio. Ex-fabiano, foi<br />
F/E no Buffalo e C-130 antes de deixar a caserna.<br />
Tem 8 mil horas na carteira e está há um ano na<br />
<strong>MTA</strong>.<br />
Ainda no despacho, fomos avisados de um<br />
atraso na partida de pelo menos uma hora. A<br />
carga estava pronta para subir a bordo, mas<br />
aparentemente havia problemas com a companhia<br />
que deveria fazer o ground handling do vôo.<br />
Marques resolveu ir assim mesmo para a aeronave,<br />
sem maiores demoras.<br />
O clássico painel do DC-10.<br />
O engenheiro de vôo Márcio faz a volta olímpica. Procedimento padrão antes de cada vôo.<br />
O painel de comando do DC-10: um clássico. Rotate! O comandante Marques tira do chão as 476 mil libras do trijato.<br />
Madrugada vem<br />
raiando: falta pouco<br />
para a decolagem<br />
rumo a Manaus.<br />
Por volta das 4 da matina, fomos deixados na<br />
porta dianteira do clássico trijato. Os vôos do horário<br />
de pico da madrugada, operados pela Rede<br />
Postal Noturna dos Correios, já haviam partido.<br />
O DC-10-30F em que voaríamos, matrícula<br />
PP-<strong>MTA</strong>, tem uma longa história de serviços<br />
prestados. Começou sua carreira em 1975 na<br />
Sabena, finada empresa de bandeira da Bélgica.<br />
Em 1992, foi vendido à Fedex, que tratou de<br />
transformá-lo em cargueiro. Batizado de “King<br />
Frank” e matriculado N322FE, transportou pacotes<br />
e encomendas por todo o mundo até abril de<br />
2006, quando foi comprado pela Sky Lease. Esta,<br />
por sua vez, o negociou com a Cielos Airlines.<br />
Lá fora, a carga jazia abandonada, aguardando<br />
carregamento, o que deixou os tripulantes<br />
contrariados. Marques aguardava fora da aeronave.<br />
Patrick engatou um cochilo, sentado na pol-<br />
trona da direita da cabine de comando. Márcio<br />
aproveitou e fez a “volta olímpica”, verificando<br />
externamente as condições da aeronave.<br />
Finalmente, a carga começou a ser embarcada<br />
e a aeronave abastecida de Jet A-1. Nesse<br />
ponto, a madrugada já ia chegando ao fim. Os<br />
primeiros matizes de violeta e azul começaram<br />
a despontar contra a negra noite paulistana. Em<br />
questão de minutos, o DC-10 foi sendo abraçado<br />
por essa luz mágica da alvorada, permitindo<br />
novas oportunidades fotográficas. Os paletes e<br />
contêineres iam sendo carregados segundo um<br />
planejamento cuidadoso, feito antes de cada<br />
viagem. Ele leva em consideração não apenas o<br />
peso como o teor da carga. Neste vôo, por exemplo,<br />
o DC-10 levaria 120.004 passageiros. Quatro<br />
da raça humana. E os outros 120.000? Encaixotados<br />
em 120 embalagens especiais, iam pintinhos<br />
com dois dias de vida. Eles seriam os últimos a<br />
embarcar e os primeiros a descer do DC-10.<br />
Reconfigurado da versão original para<br />
cargueiro, este DC-10-30F tem capacidade de 70<br />
toneladas de carga. Neste vôo, seriam embarcadas<br />
68 toneladas. Nosso peso de decolagem foi<br />
calculado em 476.000 libras. O peso máximo de<br />
decolagem desta aeronave é de 565.000 libras,<br />
ou 256.280 quilos. Deste total, o <strong>MTA</strong> <strong>6640</strong> levaria<br />
99.000 libras de combustível. Estava apenas<br />
89.000 libras abaixo de seu MTOW, Maximum<br />
Take-Off Weight.<br />
Enquanto a carga subia a bordo, Márcio ia<br />
meticulosamente preenchendo os papéis que<br />
dão aos pilotos os parâmetros operacionais mais<br />
importantes. Todos os cálculos de peso e balanceamento<br />
de carga estão sob responsabilidade<br />
do despacho em terra e são conferidos pelo<br />
engenheiro de vôo, que trabalha bastante nesta<br />
fase da operação. O processo de carregamento<br />
levou mais tempo do que o previsto. Parte da<br />
carga nos porões inferiores não estava paletizada,<br />
isto é, fixada aos paletes. Por esta razão, foi<br />
carregada manualmente, o que atrasou ainda<br />
mais a operação. Finalmente, por volta das 6h30,<br />
os trabalhos estavam concluídos, bem como o<br />
reabastecimento.<br />
Era chegada a hora da partida, com quase<br />
68 69<br />
Flight Check <strong>MTA</strong>.indd 4-5 4/22/08 11:49:47 AM
Vamos descer:<br />
Marques examina<br />
a carta de<br />
aproximação<br />
para o Eduardo<br />
Gomes.<br />
duas horas de atraso. Márcio encarregou-se<br />
de conferir o correto fechamento das portas,<br />
enquanto o comandante Marques e o F/O Patrick<br />
trabalhavam a navegação do vôo <strong>6640</strong>. Cuidadosamente,<br />
foram plotados no sistema de navegação<br />
inercial os pontos de sobrevôo entre Guarulhos<br />
e o Aeroporto Eduardo Gomes em Manaus.<br />
Naquela manhã, o DC-10 decolaria pela pista 09L<br />
de <strong>GRU</strong> e subiria com curva à direita, cumprindo<br />
a SID Congonhas Uno. Os pontos de referência<br />
seguintes seriam Sorocaba, depois adentrando<br />
as aerovias UW (Upper Whisky) 45 até Bauru,<br />
UW 53, UW 9 até a posição fixa VURUM, para<br />
depois, finalmente, tomar uma proa direta até<br />
Manaus. O sol já emprestava seu brilho ao DC-10<br />
quando o controle de solo foi contactado pelo<br />
F/O Patrick, solicitando o push-back e acionamento<br />
do gigante.<br />
O <strong>MTA</strong> <strong>6640</strong> foi autorizado para o Eduardo<br />
Gomes, nível de vôo 320, subida Congonhas<br />
Uno, com cinco horas de autonomia e alternando<br />
Santarém. Quatro a bordo, ou melhor, 120.004,<br />
incluindo os pintinhos. Tudo pronto.<br />
O comandante Marques acionou seu microfone<br />
e autorizou o mecânico de pista a acelerar o<br />
trator e iniciar o push-back, avisando ainda que,<br />
se tudo estivesse liberado, iria girar o motor nº<br />
1. Eram 6h44, ou 9h44 Zulu. O trator deu um<br />
leve tranco e o DC-10 iniciou a longa jornada<br />
de 2.689 quilômetros até Manaus. Na cabine,<br />
a atividade era intensa. A leitura do check-list e<br />
o acionamento dos motores 2 e 3 na seqüência<br />
levaram mais de cinco minutos. Os três General<br />
Electric CF6-50C2, girando em marcha lenta,<br />
encheram o pátio com seu timbre metálico,<br />
agudo. Da cabine de comando, o som clássico<br />
Num jato de tecnologia ultrapassada como o DC-10, o engenheiro de vôo trabalha<br />
durante toda a viagem.<br />
O magnífico<br />
encontro das<br />
águas, visível<br />
na decolagem<br />
da capital<br />
amazonense.<br />
desses três motores me fez voltar no tempo.<br />
Lembrei de muitas madrugadas de vigília em<br />
Viracopos, olhando para o céu, esperando a<br />
chegada dos DC-10 da SAS, KLM, Iberia, British<br />
Caledonian, Alitalia, Lufthansa e Swissair. Tempos<br />
mágicos. Pensei também nas manhãs de verão<br />
no Aeroporto do Galeão. Do terraço panorâmico,<br />
a magnífica visão de vários DC-10 e 747 da<br />
Varig, então em seus anos de esplendor. A voz de<br />
Patrick despertou-me do transe:<br />
– <strong>MTA</strong> <strong>6640</strong>, pronto para o táxi, POB 4,<br />
alterna Santarém.<br />
– Livre táxi, <strong>MTA</strong> <strong>6640</strong>, prossiga pelo pátio e<br />
taxiway Golf até o ponto de espera da 09 esquerda,<br />
<strong>MTA</strong> <strong>6640</strong>.<br />
Marques aplicou pressão nos manetes de potência<br />
e o DC-10 iniciou sua lenta marcha rumo à<br />
cabeceira de Guarulhos. A freqüência de rádio foi<br />
então mudada para a torre, que confirmou aos<br />
tripulantes as instruções da subida por instrumentos,<br />
a SID – Standard Instrument Departure. O<br />
DC-10 ainda taxiava lentamente para a cabeceira<br />
quando a torre de Guarulhos chamou na fonia:<br />
– <strong>MTA</strong> <strong>6640</strong> livre decolagem, pista 09 esquerda,<br />
vento 130 com 5 nós de intensidade.<br />
Patrick confirmou e indicou ao comandante<br />
Marques que estávamos autorizados. O DC-10<br />
mal parou na cabeceira. Marques foi gradativamente<br />
imprimindo potência aos três motores.<br />
Márcio debruçou-se sobre o console central e<br />
colocou ambas as mãos sobre a base dos três<br />
manetes, de maneira a segurá-los na posição<br />
de aceleração. Este é um procedimento padrão,<br />
tomado por precaução. O DC-10 estremecia, a<br />
potência dos três motores reverberando em sua<br />
estrutura. A pista corria à nossa frente cada vez<br />
mais rápido. Dois minutos antes das 7 horas da<br />
manhã, o gigantesco trijato apontou para o céu<br />
encoberto de Guarulhos. Havíamos ultrapassado<br />
nossa V-R de 165 nós. Patrick cantou em voz alta:<br />
– Rotate!<br />
Segundos antes, já havíamos ultrapassado a<br />
V-1 de 157 nós, máxima velocidade na qual seria<br />
ainda possível abortar a decolagem. Os motores<br />
do DC-10 pareciam “sobrar.” O trijato subia<br />
vigorosamente, deixando para trás a V-2 (174<br />
nós). Numa curva suave, Marques comandou a<br />
aeronave rumo à zona sul de São Paulo, antes de<br />
completar a curva ascendente no rumo noroeste.<br />
O trijato acelerava conforme instruído pelo<br />
controle. Entramos na camada ao cruzar 14 mil<br />
pés, subindo rumo a Sorocaba. Com mais 2.200<br />
pés e 12 minutos desde a liberação dos freios na<br />
09 esquerda, furamos a camada que enfeiava a<br />
manhã paulista. Nas enormes janelas do espaçoso<br />
cockpit do DC-10, o astro-rei brilhou com<br />
força. Cruzamos 20.000 pés com mais 2 minutos<br />
de vôo, acelerando para Mach 0.82, nossa velocidade<br />
de cruzeiro. O DC-10 estabilizou a 32.000<br />
pés (nível 320) às 7h25, ou 27 minutos depois da<br />
decolagem, atingindo o ponto imaginário conhecido<br />
como TOC – Top Of Climb.<br />
O vôo entrou em sua fase mais serena. Desperto<br />
há mais de 6 horas, o ronco do estômago<br />
foi mais alto que o ronronar suave dos três CF6 lá<br />
fora. Atrás do cockpit do DC-10, há uma área no<br />
deque principal que comporta dois assentos de<br />
padrão de classe executiva, usados para descanso<br />
de tripulantes ou para transporte dos loadmasters.<br />
Há ainda um banheiro e uma espaçosa<br />
galley, original da aeronave em seus tempos de<br />
transporte de passageiros. No piso, foi colocada<br />
uma geladeira térmica com refrigerantes, gelo e<br />
água. Na galley, estavam à disposição da tripulação<br />
sanduíches frios e três serviços de café da<br />
manhã. Apanhei um sanduíche, que serviu como<br />
meu desjejum.<br />
O DC-10 voava a Mach 0.82, velocidade de<br />
cruzeiro, consumindo 22 mil libras de JP-4 por<br />
hora voada. Márcio estimou nosso tempo total<br />
70 71<br />
Flight Check <strong>MTA</strong>.indd 6-7 4/22/08 11:50:07 AM<br />
Nos últimos<br />
segundos de vôo<br />
antes do pouso<br />
em Manaus.
de vôo em 3 horas e 15 minutos até a pista 10<br />
do Eduardo Gomes. Aproveitei a fase mais calma<br />
e tentei dormir um pouco, antes da chegada.<br />
Estiquei-me no confortável assento e consegui<br />
uns 30 minutos de repouso. Acordei mais<br />
disposto e retornei ao cockpit. Lá fora, enormes<br />
CBs dominavam o céu ao redor do trijato, obscurecendo<br />
a visão da parte central do território<br />
brasileiro. A temperatura a bordo estava bastante<br />
agradável, em torno de 23ºC, perfeita para os<br />
120.000 passageiros que viajavam nas caixas de<br />
papelão posicionadas bem atrás da divisória que<br />
separa o deque principal e a área imediatamente<br />
atrás do cockpit.<br />
Na cabine de comando, os três profissionais<br />
haviam terminado suas refeições e limitavam-se<br />
a monitorar a navegação, radiocomunicação e<br />
consumo do DC-10. Com o combustível queimado,<br />
o trijato ficou mais leve e subiu para o nível<br />
340, nossa altitude final de cruzeiro. Eram 9h50<br />
quando atingimos o TOD – Top Of Descent. Os<br />
motores tiveram sua potência reduzida. O nariz<br />
do DC-10 apontou para baixo e iniciamos nossa<br />
descida.<br />
O ATIS em <strong>MAO</strong> mostrava pancadas de chuva<br />
moderadas e confirmava a pista 10 em uso. Não<br />
demorou muito e o jato entrou na camada enfrentando<br />
turbulência e chuva moderada. Recebemos<br />
vetoração para voar diretamente para a final<br />
prolongada da pista 10. A aeronave prosseguia em<br />
meio às pancadas, balançando um pouco, enquanto<br />
a tripulação perfazia a leitura dos check-lists. O<br />
trijato foi gradativamente configurado para pouso.<br />
Finalmente, furamos a camada a 16.000 pés. À<br />
direita, a cidade de Manaus. Bem à nossa frente, a<br />
pista 10 visível em meio à chuva.<br />
– Gear down! – comandou Marques, às 10h09.<br />
Sintonizado na freqüência 118.3, Patrick<br />
recebeu da torre a autorização para pouso. Marques,<br />
firme no comando, conduziu o DC-10 com<br />
maestria. Tocamos em solo amazonense às 10h11,<br />
completando a etapa em 3 horas e 13 minutos.<br />
Com mais 5 minutos, estávamos calçados no pátio<br />
em frente ao terminal de carga da Infraero.<br />
<strong>MTA</strong> <strong>6643</strong>: <strong>MAO</strong>-<strong>VCP</strong><br />
As portas de carga do DC-10 foram abertas<br />
para o dia abafado e úmido que fazia em Manaus,<br />
com 26ºC de temperatura. Logo depois, uma<br />
chuva forte desabou sobre o aeroporto, retardando<br />
um pouco o processo de descarregamento da aeronave.<br />
Lá se foram os pintinhos para sua jornada<br />
amazônica. Componentes eletrônicos, calçados e<br />
O primeiro-oficial<br />
Patrick pilota o<br />
DC-10 no vôo de<br />
regresso. Curva<br />
à direita após a<br />
decolagem.<br />
O “Petete VI” é<br />
carregado para<br />
o vôo rumo a<br />
Viracopos.<br />
Almoço prá lá de<br />
bom foi servido.<br />
Hoje em dia, em<br />
vôos pelo Brasil,<br />
come-se melhor<br />
nos cargueiros!<br />
uma variedade impressionante de outros itens iam<br />
sendo desembarcados. Os dois pilotos desceram<br />
para esticar as pernas e foram caminhando para o<br />
terminal regional do Eduardo Gomes para tomar<br />
um café. Fiquei no pátio, abrigado da chuva sob a<br />
enorme fuselagem do DC-10, ouvindo as deliciosas<br />
memórias dos tempos de operações amazônicas<br />
do F/E Márcio.<br />
Assim que o tempo melhorou, voltamos ao interior<br />
da aeronave, onde o ar condicionado deixava<br />
a temperatura mais agradável. O carregamento<br />
prosseguia, mas num ritmo ainda lento. O reabastecimento<br />
da aeronave foi iniciado. Aproveitei o<br />
tempo em solo e, de bom grado, aceitei o almoço<br />
providenciado pela <strong>MTA</strong> quando de nossa chegada<br />
em Manaus. Comida simples mas muito saborosa:<br />
arroz, carne, purê de batata, saladinha e um pudim<br />
de chocolate. Muito bom.<br />
Barriga cheia, tanques de combustível cheios,<br />
deque de carga… ainda vazio. O tempo passava<br />
e o DC-10 permanecia de portas abertas, aguardando<br />
a conclusão do processo de carregamento.<br />
Márcio observava, resignado:<br />
– Essa é a parte mais dura dessa vida na aviação<br />
cargueira. Adoro o que faço, mas o que nos<br />
“mata” é a morosidade nos processos de carga e<br />
descarga. Manaus até que não é dos piores. Você<br />
precisa ver como é em Bogotá e, principalmente,<br />
Caracas. Leva uma eternidade.<br />
Finalmente, o procedimento chegou ao fim.<br />
Márcio prosseguia na cabine de comando, fazendo<br />
todas as contas e conferindo a diposição dos paletes.<br />
Tudo parecia certo. As portas foram fechadas,<br />
os pilotos retomaram suas tarefas de executar e<br />
conferir os procedimentos de checks pré-vôo. Eram<br />
13h28 quando finalmente o trator empurrou o<br />
DC-10 ao eixo do pátio de manobras. Motores 1,<br />
3 e 2 foram acionados. Nosso peso de decolagem<br />
agora seria de 530 mil libras. No manifesto de<br />
carga, muitos produtos eletrônicos, sobretudo monitores<br />
de plasma, ocupavam o deque do PP-<strong>MTA</strong>.<br />
Márcio havia computado as velocidades para<br />
a decolagem: V-1 145 nós, V-R 154 nós, V-2 164<br />
nós. Iniciamos o táxi às 13h34, mais de 3 horas<br />
e 20 minutos após o pouso. Lentamente, fomos<br />
seguindo para a cabeceira 10, passando em frente<br />
à deprimente cena dos “aviões fantasmas” do<br />
aeroporto: os abandonados DC-8 cargueiros da<br />
Promodal e TCB e os dois 737-200 da Vasp.<br />
Finalmente chegou nossa vez. Ainda aguardamos<br />
a passagem de um EMB-110 da Rico, que<br />
pousou à nossa frente. Fomos instruídos a alinhar<br />
e decolar imediatamente, pois um vôo da Varig já<br />
entrava na reta final. O comandante Marques, responsável<br />
pela fonia nesta etapa, confirmou à torre:<br />
– Vento de 120 graus com 4 nós, livre decolagem,<br />
<strong>MTA</strong> <strong>6643</strong>.<br />
Às 13h40 o F/O Patrick acelerou os motores e<br />
em menos de 45 segundos o DC-10 ganhou o carregado<br />
céu amazonense. Trens em cima, o DC-10<br />
72 73<br />
Flight Check <strong>MTA</strong>.indd 8-9 4/22/08 11:50:29 AM<br />
Duas poltronas<br />
reclináveis<br />
garantem<br />
bastante<br />
conforto para os<br />
tripulantes do<br />
DC-10 da <strong>MTA</strong>.<br />
Alguns dos<br />
120.000<br />
passageiros<br />
do <strong>MTA</strong><br />
<strong>6640</strong>.
Final do ILS<br />
Charlie Uno:<br />
apenas alguns<br />
segundos<br />
restam no vôo<br />
<strong>MTA</strong> <strong>6643</strong>.<br />
74<br />
sobrevoou o encontro das águas escuras do Rio<br />
Negro com o barrento Rio Solimões para formar o<br />
majestoso Amazonas.<br />
Depois de ultrapassar 232 nós, os flaps já<br />
podiam ser recolhidos. O trijato acelerava entre<br />
pesadas formações, trepidando em meio à turbulência<br />
moderada. Subíamos rumo ao nível 330 para<br />
a aerovia Upper Whisky 9. Nosso transponder era<br />
6371, levávamos 60 toneladas de carga e deveríamos<br />
demorar mais no vôo de retorno. Teríamos pela<br />
proa ventos fortes, soprando com 30 nós na direção<br />
oposta ao nosso deslocamento. Márcio estimou em<br />
3 horas e 20 minutos o tempo total de vôo.<br />
Estabilizamos em meio a gigantescos CBs,<br />
belíssimos castelos construídos pela umidade elevada<br />
do céu amazonense. O DC-10 estava em seu<br />
elemento, cruzando sereno, soberano dos ares. Os<br />
três tripulantes e o jornalista-saco trataram de falar<br />
de (adivinhe)? Aviões e aviação. Velhas memórias,<br />
conhecidos em comum, aviões que marcaram, piadas<br />
da caserna, empresas e pessoas que partiram<br />
para “o maior dos vôos.” Planos e idéias para o futuro<br />
da aviação. Cardápio variado e saboroso, trivial<br />
para a tribo que habita este mundo “populado por<br />
sonhadores, fanáticos, aventureiros e ingênuos”,<br />
como brilhantemente define Guido Sonino em seu<br />
livro Depois da Turbulência.<br />
O tempo passou voando. Às 16h43 os motores<br />
foram reduzidos e iniciamos a descida rumo aos<br />
31ºC que nos aguardavam em Viracopos, ainda<br />
distante 100 milhas à nossa frente. Mantivemos<br />
inicialmente uma razão de descida de 3.200 pés<br />
por minuto, aliviando depois para 2.500, à medida<br />
que chegavamos mais próximos de <strong>VCP</strong>. Com a<br />
informação Oscar colhida no ATIS, o comandante<br />
Marques solicitou e recebeu uma proa direta para<br />
o marcador externo India Kilo, para de lá prosseguir<br />
com curva à esquerda para a pista 15 de<br />
Viracopos, cumprindo a carta de aproximação por<br />
instrumentos Charlie Uno. Patrick arredondou o<br />
jato e às 16h52, com 3 horas e 12 minutos de vôo,<br />
tocamos em solo paulista.<br />
Lentamente livramos a pista e, em minutos, o<br />
DC-10 estacionava no pátio de carga. Chegava ao<br />
fim nossa longa jornada iniciada 15 horas antes em<br />
Guarulhos. Um dia longo, cansativo, mas magnífico<br />
– como o mundo da aviação cargueira.<br />
Os parâmetros<br />
de performance<br />
são calculados<br />
para cada<br />
operação. Aqui,<br />
o take-off data<br />
em Manaus.<br />
Missão cumprida.<br />
Três grandes<br />
tripulantes, um<br />
belo e clássico<br />
trijato, uma<br />
grande jornada<br />
com a <strong>MTA</strong>.<br />
Flight Check <strong>MTA</strong>.indd 10-11 4/22/08 11:50:44 AM