História - Editora IBEP
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nha sido ele a mão de obra predominante na produção da riqueza<br />
nacional, trabalhando na cultura canavieira, na extração<br />
aurífera, no desenvolvimento da pecuária e no cultivo do café,<br />
em diferentes momentos de nosso processo histórico.<br />
Quando se trata de abordar a cultura dessas minorias, ela<br />
é vista de forma folclorizada e pitoresca, como mero legado<br />
deixado por índios e negros, mas dando-se ao europeu a condição<br />
de portador de uma “cultura superior e civilizada”.<br />
Currículos e manuais didáticos que silenciam e chegam<br />
até a omitir a condição de sujeitos históricos às populações<br />
negras e ameríndias têm contribuído para elevar os índices<br />
de evasão e repetência de crianças provenientes dos estratos<br />
sociais mais pobres. A grande maioria adentra nos quadros<br />
escolares e sai precocemente sem concluir seus estudos no<br />
ensino fundamental por não se identifi car com uma escola<br />
moldada ainda nos padrões eurocêntricos, que não valoriza a<br />
diversidade étnico-cultural de nossa formação.<br />
Pesquisas já realizadas pela Fundação Carlos Chagas<br />
(1987) têm demonstrado o quanto nossa escola ainda não<br />
aprendeu a conviver com a diversidade cultural e a lidar com<br />
crianças e adolescentes dos setores desfavorecidos da sociedade.<br />
Os dados revelam que a criança negra apresenta índices<br />
de evasão e repetência maiores do que os apresentados pelas<br />
brancas. A razão disso tudo, segundo a pesquisa, era devida<br />
aos seguintes fatores: conteúdo eurocêntrico do currículo escolar<br />
e dos livros didáticos e programas educativos, aliados<br />
ao comportamento diferenciado do corpo docente das escolas<br />
diante de crianças negras e brancas.<br />
Fernandes, José Ricardo Oriá. Ensino de <strong>História</strong> e<br />
diversidade cultural: desafi os e possibilidades. Cedes, Campinas,<br />
vol. 25, n. 67, p. 378-388, set./dez. 2005. Disponível<br />
em: e Acesso em: 22 ago. 2010.<br />
Texto 4<br />
Este artigo discorre sobre a história do conceito de cidadania<br />
e o situa na sociedade atual, propondo a refl exão<br />
sobre sua íntima relação com a construção da democracia.<br />
Cidadania e democracia<br />
Cidadania diz respeito ao cidadão, ou seja, habitante da<br />
cidade, o mesmo que polis, na Grécia antiga. A palavra polis<br />
também gerou em português a palavra “política”, tão conhecida<br />
e que por vezes adquire um sentido pejorativo, pois ao<br />
inverso do que ela postula, é usada para benefi ciar o interesse<br />
particular sobre o público.<br />
O conceito de cidadania não teve sua gênese no Estado<br />
Moderno. Em Roma, por exemplo, era um estatuto unitário<br />
do qual desencadeava-se a igualdade de direitos entre os cidadãos.<br />
Entretanto, é inquestionável ter a Grécia alcançado<br />
HISTÓRIA<br />
de forma mais ampla seu sentido através da participação dos<br />
cidadãos atenienses nas assembleias do povo, tomando efetivamente<br />
decisões políticas.<br />
Mas ser cidadão é ter acesso à decisão política, ser um possível<br />
governante, um homem político. Ter direito não apenas a<br />
eleger representantes, mas a participar diretamente na condução<br />
dos negócios da cidade. É verdade que em Roma nunca<br />
houve um regime verdadeiramente democrático. Mas na Grécia<br />
os cidadãos atenienses participavam das assembleias do povo,<br />
tinham plena liberdade de palavra e votavam as leis que governavam<br />
a cidade – a Polis –,tomando decisões políticas.<br />
Na Antiguidade, o homem era um ser sem direitos, por oposição<br />
ao cidadão. Na era moderna, o homem é sujeito de direitos<br />
não apenas como cidadão, mas também como homem.<br />
O princípio da cidadania moderna fundado sobre a ideia<br />
de humanidade enfrentou muitas difi culdades de aplicação. A<br />
primeira se refere ao tamanho das repúblicas modernas, que<br />
impede o exercício direto do poder pelo cidadão. O Estado se<br />
destaca da sociedade civil, o poder não pode mais ser exercido<br />
por todos. Para evitar o despotismo, o princípio republicano<br />
consagra a ideia do controle popular pelo sufrágio universal,<br />
inspirando-se na visão de soberania popular defendida por<br />
Rousseau.<br />
Pela doutrina da representação fundada sobre a soberania<br />
popular, a origem e o fi m de toda a soberania se encontra no<br />
povo. O cidadão não pode mais exercer em pessoa o poder,<br />
mas escolhe por seu voto seus representantes.<br />
Este princípio se universalizou, mas sofreu alguns períodos<br />
de exceção. Uma das exceções mais conhecidas é a chamada<br />
democracia censitária, reservada aos proprietários. O escritor<br />
francês Benjamin Constant afi rmava em 1815 que somente<br />
o lazer, assegurado pela propriedade, permitia adquirir sabedoria.<br />
Segundo ele, ‘somente a propriedade torna os homens<br />
capazes do exercício do direito político’.<br />
Ou seja, a classe trabalhadora podia morrer pela pátria,<br />
mas não podia oferecer seus homens para a representação<br />
política que, para ele, deveria basear-se não na consciência<br />
ou dignidade, mas no critério antidemocrático da competência.<br />
Benjamin Constant opunha a ‘liberdade dos antigos’, fundada<br />
nos direitos políticos da cidadania, à ‘liberdade dos modernos’,<br />
que, segundo ele, se explicaria pelos direitos civis do indivíduo.<br />
Outra difi culdade na aplicação da cidadania moderna diz<br />
respeito ao conceito de homem e sua natureza. A república<br />
moderna demorou muito tempo a admitir que a pessoa humana<br />
é dupla, compreende o homem e a mulher. De um modo<br />
geral, foi somente no século XX que o sufrágio universal se<br />
estendeu às mulheres.<br />
A cidadania, defi nida pelos princípios da democracia, se<br />
constitui na criação de espaços sociais de luta (movimentos<br />
sociais) e na defi nição de instituições permanentes para a<br />
expressão política (partidos, órgãos públicos), signifi cando<br />
necessariamente conquista e consolidação social e política.<br />
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