16.04.2013 Views

JE590DEZ09 - Exército

JE590DEZ09 - Exército

JE590DEZ09 - Exército

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

84<br />

Curiosidades<br />

Curiosamente, a batalha de Toro, segundo as<br />

crónicas da época, teve dois vencedores.<br />

Efectivamente, o cronista castelhano Hernando del<br />

Pulgar, e o português Rui de Pina, enfatizam a vitória<br />

memorável da sua bandeira. O mesmo acontece<br />

quando Fernando de Aragão a relata por carta aos<br />

dignitários do reino, a partir de Zamora (logo a 2 de<br />

Março de 1476) e D. João II, como rei, o faz à Câmara<br />

do Porto (11 de Março de 1482). Estrondosa vitória,<br />

que justifica, em ambos os reinos, efusivas e<br />

solenes festas religiosas em acção de graças, que se<br />

arrastam por anos, e mercês aos valorosos<br />

combatentes que dignificaram as armas reais.<br />

Curioso paradoxo.<br />

Contudo, a batalha de Toro releva, sobretudo, de<br />

actos de heroísmo individuais, que merecem<br />

perdurar na memória colectiva. D. Duarte de<br />

Almeida, o Decepado, é, sem dúvida, um desses<br />

heróis que timbraram com honra o sangue vertido<br />

no campo de batalha.<br />

No final da tarde de 1 de Março de 1476, em Castro<br />

Queimado, na fase mais dura da peleja, D. Duarte de<br />

Almeida, alferes-mor do reino e a quem estava<br />

confiado o pendão real, viu-se cercado de inimigos<br />

que procuravam capturar a balsa portuguesa. Nesse<br />

sentido, uma lâmina castelhana desfere um golpe,<br />

amputando a mão direita do valoroso alferes. D.<br />

Duarte passou o pendão real para a mão esquerda<br />

que, resultante da acção de outra lâmina castelhana,<br />

não tardou a ser cortada. No entanto, perante a dor,<br />

a resistência daquele cavaleiro não fraquejou e,<br />

conforme relata Sousa Viterbo, “com os côtos e com<br />

os dentes, no phrenesi da honra e do patriotismo,<br />

oppunha ainda a mais tenaz resistência”. Incapaz de<br />

resistir, o pendão real foi, então, arrebatado ao<br />

decepado, depois de este ser derrubado da sua<br />

montada. O alferes-mor terá sido levado como<br />

prisioneiro para Zamora e as suas armas e arnês<br />

para a Igreja de Santa Maria de Toledo. Mas o<br />

pendão real português, arrancado «a ferros» do<br />

http://nelsonas.do.sapo.pt<br />

Episódio de “O Decepado”.<br />

alferes-mor, não se manteve em posse castelhana o<br />

tempo suficiente para que o inimigo pudesse tirar<br />

partido da glória alcançada. Efectivamente, Gonçalo<br />

Peres, posteriormente apelidado de Bandeira, um<br />

simples soldado sem o nome inscrito no rol da<br />

nobreza, é outro dos nomes associados a Toro. O<br />

assédio dos cavaleiros castelhanos a D. Duarte de<br />

Almeida foi, provavelmente, presenciado pelo<br />

escudeiro Gonçalo Peres, que se colocou no<br />

caminho daquele que transportava a balsa régia<br />

portuguesa (um fidalgo castelhano de sobrenome<br />

Sottomayor) e “tão rijo golpe lhe deu, que o<br />

derrubou e aprisionou, tomando-lhe o precioso<br />

trophéo, que foi logo apresentar ao principe, cujo<br />

contentamento bem se póde imaginar” (Viterbo). O<br />

prémio a Gonçalo Peres surgiu cerca de sete anos<br />

depois dos acontecimentos de Toro pela mão de D.<br />

João II sob a forma de carta de fidalgo, onde atribuía<br />

um brasão de armas e a possibilidade de<br />

acrescentar, ao seu nome, o apelido de Bandeira.<br />

Toro não foi apenas uma batalha de resultado<br />

indefinido, foi acima de tudo uma batalha medieval<br />

no alvor da época moderna onde o valor individual<br />

se sobrepôs ao valor do todo. Os exemplos de<br />

coragem, lealdade e abnegação traduzidos nas<br />

acções de D. Duarte de Almeida e de Gonçalo Peres<br />

Bandeira e tantos outros heróis de Toro são, ainda<br />

hoje, reconhecidos e lembrados.<br />

Autores:<br />

Tenente-Coronel Abílio Pires Lousada, Professor de História Militar do IESM.<br />

Major Luís Falcão Escorrega, Professor de Estratégia do IESM.<br />

Major António Cordeiro Menezes, Professor de Táctica do IESM.<br />

Bibliografia<br />

- DUARTE, António Paulo, Equilíbrio Ibérico. Séc. XI – XX. História e Fundamentos, Lisboa, Edições Cosmos e<br />

Instituto de Defesa Nacional, 2003.<br />

- DUARTE, Luís Miguel, “1495-1549: o Triunfo da Pólvora”, in Nova História Militar, Direcção de Themudo Barata<br />

e Severiano Teixeira, Vol. 1, Rio de Mouro, Circulo de Leitores, 2003.<br />

- DURO, Cesáreo Fernandez,”La Batalla de Toro (1476). Datos y Documentos Para su Monografía Histórica”, in<br />

Boletin de la Real Academia de La Historia, Tomo 38, Cuaderno IV, Abril de 1901.<br />

- GOMES, Saul António, D. Afonso V, Rio de Mouro, Circulo de Leitores, 2006.<br />

- RODRIGUES, Barros, Organização dos <strong>Exército</strong>s, Organização Militar Portuguesa, Estratégia, Geografia e História,<br />

Secção IV, História Militar, Lisboa, Escola do <strong>Exército</strong>, 1935-1936.<br />

- VITERBO, Sousa, “A Batalha de Toro. Alguns dados e documentos para a sua monographia histórica”, in Revista<br />

Militar, Ano LII, nº 6, Lisboa, Março de 1900.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!