JE590DEZ09 - Exército
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ão II.<br />
Tratado de Alcáçovas.<br />
Consequências<br />
Se a batalha de Toro foi militarmente<br />
inconclusiva, as consequências políticas<br />
resultantes da campanha portuguesa em Castela<br />
foram definitivas. D. Afonso V viu esvair-se o<br />
objectivo de união das coroas de Portugal,<br />
Castela e Leão sob o seu ceptro.<br />
Após a batalha, D. João recolhe a<br />
Portugal de modo a garantir a<br />
defesa da fronteira do Alentejo,<br />
sujeita a assédios nos anos<br />
seguintes. Enquanto isso D.<br />
Afonso V, tendo a percepção da<br />
dificuldade de derrotar Isabel e<br />
Fernando sozinho, retira de Castela<br />
em Junho de 1476.<br />
No final desse ano, o «Africano»<br />
manda preparar uma armada e parte<br />
para França, com o objectivo de<br />
solicitar o cumprimento do Tratado<br />
luso-francês de 1475, ou seja, motivar<br />
a França a auxiliar Portugal na<br />
campanha contra o bloco castelhanoaragonês.<br />
Porém, com Toro tudo<br />
havia mudado. O prestígio de “O<br />
Africano” diluiu-se junto de Luís XI,<br />
não obtendo disponibilidade para a<br />
empresa. Entretanto, Isabel firma-se<br />
SARAIVA, José Hermano (coord.), História de Portugal, (Vol. III, Quidnovi, 2004<br />
como rainha de Castela, unindo o estrato social do<br />
reino, enquanto Fernando sobe ao trono de Aragão<br />
em 1479. Do enlace matrimonial entre os dois e da<br />
união das duas coroas surgirá, posteriormente, a<br />
Espanha, onde o prestígio dos Reis Católicos sobe<br />
de patamar, particularmente junto de Roma, com a<br />
conquista de Granada em 1492.<br />
Assim, D. Afonso V vê diminuir o peso relativo<br />
de Portugal face ao conjunto peninsular por<br />
oposição à dinastia castelhana-aragonesa, perde<br />
credibilidade política junto da França e<br />
desperdiça as “boas graças” do sumo pontífice.<br />
Tal situação é suficiente para o monarca<br />
português entrar num estado de letargia, que o<br />
impele à vontade de resignar em nome do filho. E,<br />
de facto, a partir de 1477, é D. João quem<br />
governa, em nome do pai. Portanto, Toro<br />
desligou, definitivamente, Castela de Portugal e<br />
criou um clima de agressividade que se estendeu<br />
ao mar, passando os castelhanos a atacar os<br />
entrepostos comerciais portugueses em África e<br />
a disputar o domínio da rota da Guiné. D. Afonso<br />
V reconhece, então, os Reis Católicos como<br />
soberanos legítimos de Castela e abandona as<br />
pretensões às Canárias, enquanto que Castela<br />
anula as reivindicações a tudo o que fica para sul<br />
deste arquipélago, até à Guiné. A estratégia<br />
portuguesa passou a residir no domínio marítimo<br />
desde a costa portuguesa à Guiné e no exercício<br />
do esforço negocial com a Santa Sé. Assim, Em<br />
1479, Portugal celebra com Castela a paz de<br />
Alcáçovas, que põe fim à guerra peninsular e aos<br />
diferendos ultramarinos, através de uma primeira<br />
delimitação, em latitude, dos espaços marítimos<br />
das duas potências. Conjuntamente com o<br />
Tratado de Alcáçovas, no sentido de serem<br />
dadas garantias recíprocas de paz, assinava-se<br />
também o Tratado das Terçarias de Moura, no<br />
qual D. Afonso, primogénito de D. João, casaria<br />
com a Princesa D. Isabel, filha dos reis Católicos,<br />
e D. Joana de Portugal casaria com o príncipe D.<br />
João de Castela.<br />
O «Africano» morreria acalentando o sonho de<br />
união Ibérica. O que não se havia sido<br />
conseguido pelas armas mostrava-se, agora,<br />
possível através do engenho diplomático do<br />
Príncipe Perfeito, apresentado internamente como<br />
o vencedor de Toro. Após 1481, D. João II é rei de<br />
Portugal que, de acordo com as suas palavras, e<br />
fruto das liberdades que o pai concedera à<br />
fidalguia, “era rei das estradas do reino”. Mas<br />
tudo iria mudar nos anos seguintes, para quem a<br />
centralização régia e a estratégia de “conter<br />
Castela em terra e batê-la no mar” seriam o<br />
normativo da governação.<br />
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