JE590DEZ09 - Exército
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Análise da Batalha<br />
A importância da batalha de Toro visualiza-se na<br />
proeminência dos chefes militares presentes,<br />
concretamente, o rei e o príncipe de Portugal, de<br />
um lado, o príncipe herdeiro de Aragão e o<br />
condestável de Castela, do outro. Toro é uma<br />
batalha em que dois exércitos de potencial<br />
equivalente se defrontam na procura de um<br />
resultado politicamente definitivo. Porém, apesar<br />
do valor individual demonstrado, o resultado é<br />
militarmente indefinido.<br />
Para isso muito contribuíram as condições em<br />
que a batalha se desenrolou. O terreno,<br />
relativamente plano e empapado, conjugado<br />
com as condições meteorológicas adversas e o<br />
cair da noite apresentam-se como um factor<br />
multiplicador dos desacertos tácticos de ambos<br />
os contendores. A ausência de planeamento fica<br />
patente nos esquemas de manobra adoptados<br />
por ambos os adversários em Peleagonzalo. A<br />
opção de uma reserva fraca, no centro do<br />
dispositivo de Fernando, indicia o<br />
conhecimento que este detém da ameaça<br />
portuguesa, permitindo-lhe colocar o máximo<br />
potencial na frente. Para D. Afonso V, o<br />
desconhecimento do potencial de combate do<br />
inimigo é notório. Por isso necessita de uma<br />
reserva forte situada o mais próximo possível da<br />
frente, de modo a reduzir os prazos de<br />
intervenção e, assim, assegurar a necessária<br />
flexibilidade durante a batalha. Além do mais, a<br />
reserva situa-se num local servido de caminhos<br />
que facilitam a sua intervenção e<br />
cumulativamente garante profundidade ao<br />
dispositivo na ala direita.<br />
O resultado indeciso da batalha começa a<br />
desenhar-se logo pós o soar das trombetas. Em<br />
Toro denota-se falta de coesão nos<br />
dispositivos, que é maximizada pela ausência de<br />
comando e controlo por parte dos dois<br />
monarcas. Afonso V, ao mais puro estilo<br />
medieval, coloca-se junto da vanguarda, o que<br />
lhe retira capacidade de tomar decisões durante<br />
o desenrolar da batalha, permitindo que cada<br />
“troço” combata de per si. A ala direita é<br />
rompida e coloca-se em fuga, desorganizando a<br />
reserva e a peonagem que estava na sua<br />
retaguarda. Falta de liderança? Moral baixa? O<br />
facto é que esta retirada se apresentou fatal para<br />
a vanguarda. Sem possibilidade de repor a frente<br />
na ala direita, D. Afonso V vê-se envolvido e<br />
colocado perante a contingência de combater<br />
em duas direcções. A ala esquerda,<br />
http://purl.pt<br />
Batalha de Toro.<br />
contrariamente à primeira, é bem sucedida<br />
na refrega inicial. Porém, a falta de coordenação<br />
e de comando e controlo impedem uma acção<br />
de conjunto do “grupo” de D. João,<br />
desconhecedor das ocorrências da batalha<br />
no seu todo.<br />
Fernando de Aragão, numa posição<br />
resguardada, deixa ao livre arbítrio do<br />
comandante da sua vanguarda o desenrolar da<br />
acção. Neste sentido, se o combate inicial terá<br />
resultados positivos para o partido castelhano,<br />
em virtude da manobra de envolvimento<br />
produzida pela sua ala esquerda, a ausência do<br />
rei é determinante para a retirada do<br />
contestável de Castela, impossibilitado de fazer<br />
a exploração do sucesso. Esta retirada<br />
castelhano-aragonesa permite a D. João<br />
permanecer no campo de batalha, por três<br />
horas, dando, perante os costumes, a vitória<br />
aos portugueses.<br />
Toro é, acima de tudo, uma batalha de grandes<br />
feitos individuais mas, militarmente, uma derrota<br />
de ambos os contendores e uma prova da<br />
“pequenez” táctica dos dois comandantes, que<br />
se permitiram abandonar o campo de batalha<br />
como desconhecedores do seu desenlace.<br />
http://www.vidaslusofonas.pt<br />
D. J