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JE590DEZ09 - Exército

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serviço em prol de uma causa colectiva e uma<br />

“escola de guerra”.<br />

O vector ibérico, abandonado por D. Pedro em<br />

consonância com a tradicional política de Avis,<br />

passa, com D. Afonso V, a ter outro<br />

entendimento. Em 1455, promove o casamento da<br />

sua irmã, D. Joana, com Henrique IV de Castela,<br />

lançando as bases de uma política orientada para<br />

a Península Ibérica. Desta união nasce a princesa<br />

Joana que, após um longo período de esterilidade<br />

do rei de Castela, faz levantar a questão da<br />

paternidade da princesa. A discussão do assunto<br />

introduz uma marcada hostilidade sócio-política<br />

relativamente ao monarca castelhano, chegando a<br />

assumir contornos insurreccionais.<br />

Esta é uma questão decisiva, que dividirá Castela<br />

em dois partidos antagónicos, “legitimistas” e<br />

“Isabelistas”. Os primeiros, compostos na<br />

essência pela alta nobreza, vêm na princesa<br />

Joana, (depreciativamente denominada pelos<br />

opositores de “A Beltraneja”) a legítima herdeira<br />

da Coroa. Os segundos, viam no infante Afonso<br />

(irmão de Henrique IV) a solução para conduzir<br />

os destinos de Castela. Porém, este sentimento<br />

esmoreceu após a morte prematura do infante<br />

Afonso, sendo este apoio transferido para a<br />

infanta Isabel (sua irmã), que anui assumir o<br />

trono após a morte de Henrique IV, ocorrida em<br />

Dezembro de 1474. Entretanto, ainda em 1474,<br />

Isabel casa com Fernando, herdeiro do trono de<br />

Aragão (contrariando a tradicional política de<br />

alianças peninsulares), faz-se aclamar rainha de<br />

Castela, em Segóvia, e prepara-se para sustentar<br />

as suas pretensões contra os partidários da<br />

“Beltraneja”. A inserção de Portugal na<br />

conjuntura e o ensejo de D. Afonso V em cingir<br />

as coroas ibéricas completam o xadrez estratégico<br />

peninsular. A questão da sucessão ao trono de<br />

Castela, tal como ocorrera em Portugal em 1383,<br />

ficava em aberto e à mercê do “partido”<br />

politicamente mais hábil e militarmente mais forte.<br />

Aproveitando as solicitações feitas pela fidalguia<br />

castelhana apoiante de Joana, D. Afonso V fica<br />

com “via aberta” para intervir em proveito<br />

próprio. Porém, a aliança de Castela com Aragão<br />

introduziu um factor destabilizador na balança de<br />

poderes da região. Por um lado, colocava<br />

Portugal numa situação de inferioridade face ao<br />

bloco castelhano-aragonês e, por outro, a França,<br />

que mantinha com Aragão um diferendo em<br />

relação ao Rossilhão, passava a contar com um<br />

adversário de peso junto à fronteira ocidental.<br />

Consequentemente, convinha a D. Afonso V a<br />

entrada da França numa hipotética campanha,<br />

que obrigaria João II de Aragão a desviar<br />

atenções militares para a fronteira francoaragonesa,<br />

fragilizando a frente interna de apoio<br />

ao filho e herdeiro Fernando. Dessa forma, D.<br />

Afonso V garantia a liberdade de acção<br />

necessária para intervir na região, sujeitando o<br />

bloco castelano-aragonês a uma guerra em duas<br />

frentes. Assim, D. Afonso V dá início a<br />

negociações com Luís XI em Janeiro de 1475,<br />

sendo o Tratado de Liga Ofensiva entre Luís XI e<br />

D. Afonso V contra o reino de Aragão assinado<br />

em Setembro daquele ano.<br />

Em Abril de 1475, D. Afonso V enceta os<br />

preparativos para dar início à campanha militar,<br />

reunindo em Arronches um exército para o efeito,<br />

nomeia o príncipe D. João para a regência do<br />

reino e marcha para Plasencia, onde realiza<br />

esponsais com Joana “a Beltraneja” (não<br />

materializados) e recebe apoios dos partidários<br />

desta. Iniciava-se a operação “conquista de<br />

Castela”.<br />

A erosão do tesouro real, que as exageradas<br />

doações à fidalguia provocou, aconselhava que a<br />

campanha fosse conduzida com muita<br />

racionalidade. Para o efeito, dever-se-ia<br />

consolidar, inicialmente, os apoios em Castela e,<br />

então, defrontar as forças leais aos futuros Reis<br />

Católicos. Mas a inépcia política e as irresoluções<br />

militares do monarca português deitarão tudo a<br />

perder. Desde logo, a espera por reforços em<br />

Arévalo (onde sofreu enormes baixas resultantes<br />

da peste), permitem a Fernando de Aragão o<br />

tempo necessário para reunir “um exército de más<br />

tropas” que lança cerco, durante nove meses, a<br />

Burgos, leal ao partido da “Beltraneja”.<br />

Percepcionando a falta de capacidade<br />

operacional para socorrer aquela praça, D.<br />

Afonso V abandona-a à sua sorte e dirige-se a<br />

Toro que entretanto, se lhe entrega. Mas o<br />

episódio de Burgos marca, de forma significativa,<br />

a sorte do partido de Isabel que, aos poucos,<br />

fruto da irresoluta actividade militar de D. Afonso<br />

V, favorece a transferência dos apoios de Joana.<br />

Em Dezembro de 1475, forças de Fernando de<br />

Aragão lançam cerco a Zamora, leal ao partido do<br />

«Africano», dando início a um período de<br />

impasse na condução das operações militares.<br />

Incapaz de fazer levantar o cerco a Zamora, D.<br />

Afonso V pede auxílio ao príncipe D. João que, a<br />

partir de Portugal e com o apoio do clero da Beira,<br />

organiza uma hoste para reforçar o exército do<br />

pai. Com as suas forças regeneradas, e numa<br />

tentativa dar batalha a Fernando, “o Africano”,<br />

acomete sobre Zamora, localidade que, mais uma<br />

vez, estaria no centro das grandes decisões<br />

políticas da Península.<br />

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