JE590DEZ09 - Exército
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O peacekeeping foi o expediente de um CS dividido ao qual<br />
faltava o consenso para a acção colectiva<br />
aéreas, navais ou terrestres, a acção que julgar<br />
necessária […]. Tal acção poderá compreender<br />
demonstrações, bloqueios e outras operações, por<br />
parte das forças aéreas, navais ou terrestres dos<br />
Membros das Nações Unidas” (artigo 42.º).<br />
O enforcement militar na Carta da ONU, previsto<br />
no artigo 42.º, deriva da necessidade de sustentar o<br />
princípio da segurança colectiva. A ideia central do<br />
sistema de segurança colectiva é a defesa de certos<br />
valores, principalmente o da paz. Contudo, se os<br />
meios pacíficos não forem suficientes para assegurar<br />
a paz, então a organização poderá recorrer à ameaça<br />
e/ou uso efectivo da força 4 . Na Agenda para a Paz,<br />
o ex-Secretário-Geral, Boutros Boutros-Ghali, afirma:<br />
“a essência do conceito de segurança colectiva, tal<br />
como contida na Carta, é que se as medidas pacíficas<br />
falharem, as medidas previstas no Capítulo VII devem<br />
ser usadas, por decisão do Conselho de Segurança,<br />
para manter ou restaurar a paz e a segurança<br />
internacional, se se estiver face a uma 'ameaça à paz,<br />
1 O artigo 43.º estabelece que os Estados-membros<br />
concordam em “(…) proporcionar ao Conselho de<br />
Segurança, a seu pedido e de conformidade com o acordo ou<br />
acordos especiais, forças armadas, assistência e facilidades,<br />
inclusive direitos de passagem (…)”<br />
2 Aquele artigo prevê a criação de forças armadas das<br />
NU a serem utilizadas de acordo com planos de acção<br />
determinados pelo CS com a assistência da Comissão de<br />
Estado-Maior, composta pelos Chefes de Estado-Maior dos<br />
membros permanentes do CS (ou respectivos representantes).<br />
O Comité reuniu-se entre 1946 e 1948 para estudar,<br />
do ponto de vista militar, as implicações do artigo 43.º e<br />
avançar com propostas para dar corpo àquele artigo. Devido<br />
a desacordos insanáveis, o Comité suspendeu os seus<br />
trabalhos em 1948 (v. Derek W. Bowett, United Nations<br />
Forces: A Legal Study, NY, Praeger, 1964, pp. 12-18).<br />
Fonte: UN.org<br />
ruptura de paz ou acto de agressão'.” 5<br />
A possibilidade do CS tomar medidas militares<br />
foi considerada um progresso notável em relação ao<br />
sistema da Sociedade das Nações. Contudo, a<br />
importância destas medidas não residia na<br />
expectativa ou probabilidade de se recorrer a elas.<br />
Efectivamente, “pensava-se que a ameaça de acção<br />
militar seria um incentivo importante para fazer com<br />
que os Estados implementassem as medidas que o<br />
Conselho considerasse necessárias para manter ou<br />
restaurar a paz e segurança internacionais. Também<br />
serviria para deter os actos agressivos dos Estados,<br />
constituindo um incentivo adicional para resolver<br />
as disputas entre os Estados.” 6<br />
Voltando ao peacekeeping, este consiste no uso<br />
das forças militares, desprovidas, no seu exercício,<br />
do uso normal da força, para de-escalar ou pacificar<br />
situações de conflito. Boutros-Ghali definiu-o<br />
sinteticamente como o “uso não violento da força<br />
militar para preservar a paz.” 7<br />
O uso de efectivos militares para o desempenho<br />
de tarefas de peacekeeping encerra uma contradição<br />
nos termos. O uso de militares, canonicamente<br />
treinados para a guerra e o combate, parece não se<br />
coadunar com tarefas pacíficas que exigem dos<br />
militares grande restrição e auto-controlo e um<br />
sentido rigoroso de imparcialidade. Apesar disso, a<br />
comunidade internacional vê no peacekeeping militar<br />
uma “panaceia moldável e infinita para os conflitos<br />
mundiais” 8 . Após o exemplo bem-sucedido da UNEF<br />
I I (UN Emergency Force I) para assistir à retirada<br />
das forças invasoras do Egipto (1956-67), criou-se a<br />
convicção de que o peacekeeping se poderia aplicar<br />
indistintamente para implementar cessar-fogos,<br />
retiradas militares e verificar acordos de paz. A função<br />
original do peacekeeping era monitorar as tréguas e<br />
acordos de cessar-fogo com observadores militares<br />
da ONU, desarmados ou usando armamento ligeiro,<br />
que vigiavam as linhas de fronteira e as zonas-tampão<br />
("buffer zones").<br />
3 John Mackinlay e Jarat Chopra, “Second Generation<br />
Multinational Operations”, The Washington Quarterly, vol.<br />
15, nº 3, Verão de 1992, p. 114.<br />
4 Alex J. Bellamy et al., Understanding Peacekeeping,<br />
Cambridge, Polity Press, 2004, p. 147.<br />
5 Boutros-Ghali, Agenda para a Paz, NY, Nações<br />
Unidas, 1992 (ed. em português; a partir de agora, referida<br />
como Agenda), § 42.<br />
6 V. Leland M. Goodrich et al., Charter of the United<br />
Nations: Commentary and Documents, NY, Columbia U.P,<br />
1969, p. 291.<br />
7 United Nations, The Blue Helmets: A Review of United<br />
Nations Peacekeeping, NY, UNDPI, 1996, p. 4.<br />
8 David Rieff cit. in Tom Woodhouse, “The Gentle<br />
Hand of Peace?”, International Peacekeeping, vol. 6, n.º<br />
2, Verão de 1999, p. 24.<br />
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