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ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

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passar o tempo uma postura anti-econômica, mesmo involuntária como nos relatos acima.<br />

Diante <strong>da</strong> impossibili<strong>da</strong>de <strong>da</strong>s ativi<strong>da</strong>des costumeiras, trabalhar nas horas vagas seria a<br />

alternativa mais correta, como confirma a senhora Amélia Fasolo:<br />

Quando chovia que não se podia ir na roça, nós ia no paiol descascar<br />

milho. Fazia a palha em pacotinhos pra vender pra aqueles que faziam<br />

cigarro. Tudo em pacotinhos não sei se de doze ou vinte e quatro ca<strong>da</strong><br />

pacotinho amarrado. Vendia não sei se cinco centavos, ou quinze centavos<br />

por quantos pacotinhos. Eu sei que pra cem pacotinhos, eu acho que se<br />

ganhava um real e meio, que nem agora. Nós se ganhava dinheiro<br />

naquilo. Ou desfiar palha pra botar nos colchão, fazia isso ali, porque<br />

não tinha o rádio, não tinha televisão, não tinha na<strong>da</strong>, nem luz 64 .<br />

Tomando como referência os relatos acima, pode-se afirmar que, quando crianças,<br />

os entrevistados percebiam-se parte <strong>da</strong> uni<strong>da</strong>de familiar e co-responsáveis pelo sustento<br />

desta, com pouco tempo para as brincadeiras ou ain<strong>da</strong> sem um espaço diferenciado dos<br />

adultos. Para melhor compreender o tipo de infância, é interessante considerar algumas<br />

questões a respeito <strong>da</strong> historici<strong>da</strong>de <strong>da</strong> mesma. Ao estu<strong>da</strong>r a infância no período medieval,<br />

Philippe Ariès afirmou que essa socie<strong>da</strong>de:<br />

Via mal a criança, e pior ain<strong>da</strong> o adolescente. A duração <strong>da</strong> infância era<br />

reduzi<strong>da</strong> a um período mais frágil, enquanto o filhote do homem ain<strong>da</strong><br />

não conseguia bastar-se; a criança então, mal adquiria algum<br />

desembaraço físico, era logo mistura<strong>da</strong> aos adultos e partilhava de seus<br />

trabalhos e jogos. De criancinha pequena, ela se transformava<br />

imediatamente em um homem jovem, sem passar pelas etapas <strong>da</strong><br />

juventude 65 .<br />

O historiador francês observou que na I<strong>da</strong>de Média os primeiros anos de vi<strong>da</strong> <strong>da</strong><br />

criança eram caracterizados por uma certa indiferença <strong>da</strong> parte dos adultos. O sentimento<br />

de infância, tal como conhecemos hoje, surgiu no séc. XVI, quando a criança começou a<br />

despertar a atenção dos adultos. A confecção de retratos, o surgimento de um vestuário<br />

64<br />

FASOLO, Amélia. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 05.<br />

65<br />

ARIÈS, Philippe. História social <strong>da</strong> criança e <strong>da</strong> família. [Trad. Dora Flaksman]. 2ª ed. Rio de Janeiro,<br />

LTC, 1981. p. 10.<br />

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