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ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

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pequenos, e mais eficiente era dizer: “não vai fora que tu apanha. Senão cresce com medo.<br />

A nossa piaza<strong>da</strong> nós não assustava, não se deve, antes <strong>da</strong>r um tapa 41 ”.<br />

Os relatos acima servem para ilustrar que a educação transmiti<strong>da</strong> pelos pais e<br />

her<strong>da</strong><strong>da</strong> dos avós era caracteriza<strong>da</strong> pela obediência e pelo medo. Bastava um simples olhar<br />

de reprovação para fazer uma criança mu<strong>da</strong>r de atitude. Apesar de muitas vezes não<br />

entenderem o motivo <strong>da</strong> repreensão, o temor pelo castigo que certamente viria após uma<br />

desobediência era grande e imobilizava os pequenos. Mas por vezes o impulso maroto e<br />

ingênuo vencia o medo; então valia a pena arriscar, até mesmo na hora de acertar as contas<br />

pela travessura, quando se apostava numa ver<strong>da</strong>de que esqueceu de acontecer para se livrar<br />

do castigo. O senhor Primo Bergamin lembra e nos apresenta uma cômica história vivi<strong>da</strong> na<br />

sua infância:<br />

Fui na escola por três meses. Mas ir pela estra<strong>da</strong>, tinha sete quilômetros.<br />

Ir pelo atalho tinha o Dourado (rio), fazia três voltas, precisava<br />

atravessá-lo três vezes. Daí o pai disse, ‘vão a cavalo’. Só que tinha uma<br />

égua meio fogueta, ele disse ‘não facilitar, porque depois, vão a pé’. Bem,<br />

fomos em três irmãos, eu na garupa, Feliciano na frente, com o chapéu na<br />

boca, dentes apertados, pelego debaixo do braço. A égua, em três saltos,<br />

atravessa o Dourado e foi. ‘E agora, como faço pra trotar?’ Bom,<br />

chegamos em cima <strong>da</strong> ponte, no Joan Dal Bom. Mas na ponte tinha um<br />

buraco, de cinco, seis metros, e fundo. Não é que nos encontramos com<br />

una carroça carrega<strong>da</strong> de uva? A égua bateu de peito na canga dos bois,<br />

desceu carroça e tudo! Quando desviamos, ah, ele não nos viu mais. Mas<br />

o pai ia no rosário, contaram pra ele. ‘O que vocês fizeram? Joan Dal<br />

Bom me contou... e se tivessem caído? Não iam se matar? Vão a pé,<br />

senão, casa! Olha, Feliciano, Arcangelo, que sabem ler e escrever,<br />

ensinem a eles, em porque a pé é muito longe, a cavalo se matam pela<br />

estra<strong>da</strong>. Os mais velhos, ensinar aos mais novos’. Assim foram oito,<br />

quinze dias. Depois, baralho! Ao invés de ensinar a ler e escrever,<br />

ensinavam a jogar carta! Mas estamos a jogar aqui, o pai que dorme lá.<br />

‘Estão aprendendo a ler e escrever ou a jogar cartas?’ É que um roubava<br />

e os outros descobriam! ‘Dormir, senão levanto <strong>da</strong>qui!’. E dito e feito.<br />

41 COVATTI, Santin. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 08.<br />

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