16.04.2013 Views

ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Para se proteger do possível ataque dos animais na moradia provisória, a família <strong>da</strong><br />

senhora Gentile Zanandréa “não tinha cachorros, e os bichos vinham ron<strong>da</strong>r a casa de noite.<br />

Então tinha que fazer fogo pra espantar a tigre. Não era sempre que ela berrava, mas se<br />

fazia fogo e ela tinha medo e escapava 151 ”. Os porcos selvagens também costumavam<br />

trazer alguns transtornos para as famílias, como mostra o relato a seguir:<br />

Eu vi porco de mato [...] quando eles vinham, rangia os dente na beira do<br />

mato, tinha o milho fresco, vinham em bando de vinte, trinta porco. A<br />

gente tinha que pular em cima <strong>da</strong>s madeiras, meio alto porque nós nunca<br />

tivemos espingar<strong>da</strong>. Uma vez assustou minha tia, meu tio tava plantando<br />

milho e ela ficou em casa sozinha, uma casinha de madeira, foi feito uma<br />

com tábua racha<strong>da</strong>, não de serra, e o porrãozinho embaixo aberto. Tinha<br />

o mato pertinho <strong>da</strong> casa, e o milho querendo amadurecer. Veio uma tropa<br />

de porco de mato e foram debaixo <strong>da</strong> casa. Ela dentro <strong>da</strong> casa e eles<br />

embaixo, tinha o porão aberto. Ela ficou fecha<strong>da</strong> até que o tio chegou em<br />

casa. Eles ficaram lá um pouco, depois foram embora. E uma vez vieram<br />

embaixo <strong>da</strong> nossa casa também, eles mataram o cachorro de noite. O<br />

porco de mato é brabo 152 .<br />

O certo receio para com os animais <strong>da</strong> mata se <strong>da</strong>va não só porque nem todos os<br />

colonos dispunham de armas de fogo para se defender dos mesmos. Da mesma forma, a<br />

habitação não oferecia a segurança necessária, pois “era uma casa de tábua racha<strong>da</strong>, fresta<br />

de quatro dedos. Depois fizemos uma casa melhor 153 ”. Além do possível ataque de animais,<br />

a proteção <strong>da</strong> família e <strong>da</strong> casa era constantemente ameaça<strong>da</strong> pelas intempéries, como<br />

conta o senhora Raul Caon, lembrando <strong>da</strong> moradia do seu pai:<br />

Era uma casa alta, com aquele sobrado, e não tinha a cozinha de cima. O<br />

sobrado sem forro, coberto primeiro a tabuinha, depois a tabuinha<br />

estragou, aí fomos botar telhas. E o medo, quando <strong>da</strong>va um vento, e se<br />

tira as telhas? Não tinha forro, não tinha na<strong>da</strong>, só a divisão dos quartos.<br />

As janelas, de madeira, e não tinha trinco na<strong>da</strong>, então tinha que pôr uma<br />

travessa pra ela não abrir. Quando <strong>da</strong>va um temporal, todo mundo pra<br />

baixo! Tinha dois quartos, e depois era uma metade, uma sala aberta 154 .<br />

151 ZANANDRÉA, Gentile. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 09.<br />

152 PELIZZA, Euclides. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 09.<br />

153 COVATTI, Santin. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 05.<br />

154 CAON, Raul. Entrevista cita<strong>da</strong>, p. 02.<br />

69

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!