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ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

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Após aproxima<strong>da</strong>mente um mês de viagem, o imigrante chegava à tão espera<strong>da</strong><br />

América. Ao desembarcar no Rio de Janeiro ou em São Paulo, desorganização era a<br />

palavra de ordem. Faltavam intérpretes para prestar informações sobre a disponibili<strong>da</strong>de de<br />

terras nas colônias de Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, ou para<br />

indicar a disponibili<strong>da</strong>de de trabalho assalariado nas fazen<strong>da</strong>s de café em São Paulo. As<br />

poucas bagagens eram extravia<strong>da</strong>s e dificilmente recupera<strong>da</strong>s. Em meio a essa confusão,<br />

um antigo depósito de mercadorias servia como hospe<strong>da</strong>ria e ficou conhecido como<br />

Hospe<strong>da</strong>ria dos Imigrantes 38 . Muitas famílias acabavam se perdendo, selando para sempre<br />

o seu destino. É o que ocorreu na família <strong>da</strong> senhora Norma Santinon:<br />

Quando meu avô saiu <strong>da</strong> Itália e veio pro Brasil, tinha doze anos e saiu<br />

com um irmão de dezoito. Eles vinham de navio de vento, e quando viram<br />

a mata do Brasil, diziam: ‘Olha, <strong>da</strong>qui a duas, três horas já estamos no<br />

Brasil’. Vinha um ven<strong>da</strong>val,voltavam. Ficaram quarenta e cinco dias,<br />

morreu criança em cima do navio, jogavam na água. Até que conseguiram<br />

chegar, só que não tinham dinheiro pra vir pra frente, não tinham na<strong>da</strong>,<br />

só o facão, <strong>da</strong>í começaram a trabalhar. Pra vim mais pra frente,o irmão<br />

dele trabalhou, cortar, fazer estra<strong>da</strong>, ganhou dinheiro, foi. E o nono não<br />

tinha dinheiro, tocou trabalhar mais naquele lugar pra depois vir. Se<br />

perderam, nunca mais tiveram notícias os dois irmãos 39 .<br />

A falta de estrutura para receber os italianos e a demora no processo de<br />

assentamento <strong>da</strong>s famílias dos que vinham para o Sul tornou ain<strong>da</strong> mais penosa a sua<br />

sobrevivência. O contrato assinado pelos imigrantes antes <strong>da</strong> saí<strong>da</strong> na Itália previa a<br />

assistência completa desde a parti<strong>da</strong> do porto de Gênova até a instalação definitiva, mas a<br />

reali<strong>da</strong>de mostrou-se bem diferente, desmoronando em muitos o sonho do Brasil cocanha.<br />

38 Conforme artigo intitulado Emigrante com os emigrantes (Da emigranti cogli emigranti), publicado no<br />

jornal Correio Riograndense em 19/07/2000. (Caxias do Sul, p. 23 a 27). Trata-se do relato do jornalista<br />

Adolfo Rossi, que em 1902 ou 1903 disfarçou-se de emigrante e juntou-se a um grupo de cerca de 600<br />

italianos recém-chegados no porto de Santos – SP. A fim de averiguar as condições e tratamento dispensados<br />

aos compatriotas italianos, ele acompanhou o grupo a São Paulo na Hospe<strong>da</strong>ria dos Imigrantes, até serem<br />

destinados às fazen<strong>da</strong>s de café. Nesse período, registrou as impressões e as primeiras desilusões dos italianos<br />

na América. O relato, em língua italiana, foi publicado na Il secolo XX – Rivista Popolare Ilustrata, de<br />

fevereiro de 1907 (anno VI, nº 2, p. 90 a 102).<br />

39 SANTINON, Norma. Entrevista concedi<strong>da</strong> a Karine Simoni. 06/02/2001. p. 05.<br />

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