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ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

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quem compra barato paga pouco, e quem não compra na<strong>da</strong> vai embora<br />

com o dinheiro, dizia o meu padrinho. Que bonita coisa a América.... A<br />

América, dizia o avô, para as crianças é como uma grande praça cheia de<br />

doces e basta plantar uma moe<strong>da</strong> para que nasça uma planta bonita e<br />

todos podem subir e pegar dinheiro até encher os bolsos. Nessa praça se<br />

joga, se corre, se salta, e quando se tem sede, se toma água doce, e licor<br />

de anis, e vinho bom, e cerveja e refrigerante, e depois o que mais? Biter e<br />

mel, e refresco e bebi<strong>da</strong>s quentes, e depois outras coisas boas 23 .<br />

Assim como Nanetto, nos momentos de crise muitos italianos criaram a sua própria<br />

América e poucos resistiram ao sonho de encontrá-la. As ofertas de terras nas quais<br />

poderiam plantar seu próprio alimento com autonomia serviu como isca para os mais<br />

indecisos. Nas palavras de Helena Isabel Muller:<br />

Abandonar, quebrar, apagar de nossa história um presente que nos é<br />

desagradável se coloca como ponto de parti<strong>da</strong> para um impulso migrante.<br />

Emigrar representa o abandono, a ruptura em seu sentido mais literal:<br />

tudo aquilo que até o momento fez parte de nossa história em termos<br />

culturais e afetivos fará parte de nossa memória, permanecendo mais ou<br />

menos vivos, mas sempre distante e inacessível, pelo menos em um<br />

momento inicial. O presente se transforma em passado com rapidez e<br />

inexorabili<strong>da</strong>de radicais 24 .<br />

Segundo a autora, o presente indesejável é insuficiente para explicar o desejo de<br />

mu<strong>da</strong>nça, e nos momentos de crise os atrativos positivos tendem a aparecer com maior<br />

intensi<strong>da</strong>de e força, ou seja, é necessário que existam atrativos positivos no outro extremo;<br />

um horizonte no qual se configure um futuro promissor suficiente para atenuar a dor <strong>da</strong><br />

23 “La gá <strong>da</strong> essere come el nostro tinelo andove no ghe manca gnente!... ma nó póprio come el nostro, parché<br />

in tel nostro a no ghe ze ngente squasi e lá invense a ghe gá <strong>da</strong> essere de tutto. La Mèrica, mi digo, che la gá<br />

<strong>da</strong> essere un brolo pien de grássie del Signore, el gá <strong>da</strong> essere un paese andove se magna solo bussolá, e el me<br />

mestiero sirá de drissar bussolá come gá dito el nono, e tutto quei che se rompe i ze par mi e elo. Mi digo che<br />

la ze na gran sitá, che mena i poaretti in l’automobile in serca de la fortuna!... La gá <strong>da</strong> essere na gran fiera<br />

ndove chi crompa barato paga poco, e chi no crompa gnente va via coi sô soldi, me dizeve me sántolo. Che<br />

bela roba la Mèrica.... La Mèrica, dezeva il nono, par i putei la ze come na gran piassa piena de dolsi e basta<br />

impiantare on soldo parché ghin nassa na pianta bella e tutti pole rampagarse suso e torse tanti soldi fin <strong>da</strong><br />

impienare le scarsele. In te sta piassa se zuga, se corre, se salta, se oza; e quando se gá sê, se beve ácoa dolse,<br />

e mistrá, e vin bon, e bira e gazosa e pó cossa ancora?... e biter e miele, e rifreschi e riscaldi, e pó ancora robe<br />

bone!...”. In: BERNARDI, Aquiles. Op. cit. p. 16 – 17.<br />

24 MULLER, Helena Isabel. Utopia: mundo velho sem porteira! In: DE BONI, Luís A. (org.). A presença<br />

Italiana no Brasil - vol. III. Porto Alegre; EST, Torino: Fon<strong>da</strong>zione Giovanni Agnelli, 1996. p. 133.<br />

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