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ALÉM DA ENXADA, A UTOPIA: - Repositórios Digitais da UFSC

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identi<strong>da</strong>des e aspirações atuais. Assim, podemos dizer que nossa<br />

identi<strong>da</strong>de mol<strong>da</strong> nossas reminiscências; quem acreditamos que somos no<br />

momento e o que queremos ser afetam o que julgamos ter sido 25 .<br />

No sentido proposto, o ser humano compõe várias representações do passado, de<br />

modo a torná-lo aceitável para <strong>da</strong>r um sentido satisfatório à vi<strong>da</strong>. Assim, aquilo que<br />

escolhemos para recor<strong>da</strong>r e relatar, bem como o significado atribuído a essas lembranças,<br />

se transformam com o passar do tempo. Com efeito, é fun<strong>da</strong>mental considerar a memória<br />

“não como uma espécie de simples depósito acumulador de experiências que ficam ali<br />

guar<strong>da</strong><strong>da</strong>s até que sejam resgata<strong>da</strong>s ou ‘lembra<strong>da</strong>s’ [...] em estado puro 26 ”, mas como um<br />

instrumento dinâmico que tem a função de manter o passado do indivíduo <strong>da</strong> maneira mais<br />

a<strong>da</strong>pta<strong>da</strong> a ele, alterando o que não é agradável e rejeitando o que não tem relevância.<br />

Em função <strong>da</strong> utilização <strong>da</strong>s fontes orais, tem-se a noção de algumas limitações<br />

impostas à pesquisa. As objeções dos historiadores tradicionais à vali<strong>da</strong>de e imprudência<br />

dos depoimentos orais têm certo peso, ao alegarem que estes estão comprometidos pela não<br />

confiabili<strong>da</strong>de dos relatos, adultera<strong>da</strong> por emoções que subtraem, acrescentam e criam<br />

novas versões para os fatos, distorcendo a ver<strong>da</strong>de. Ora, como qualquer fonte, alguns<br />

documentos podem ser mais confiáveis que outros. Além disso, a mentira e o silêncio<br />

podem ser reveladores, ou seja, “é preciso reconhecer que a subjetivi<strong>da</strong>de, as distorções dos<br />

depoimentos e a falta de veraci<strong>da</strong>de a eles imputa<strong>da</strong>s podem ser encara<strong>da</strong>s de uma nova<br />

maneira, não como desqualificação, mas como uma fonte adicional para a pesquisa 27 ”.<br />

Assim, o não-dito, a repetição e a hesitação fazem parte do discurso e do relato, e<br />

certamente não são menos graves que as omissões e os silêncios <strong>da</strong> História oficial.<br />

25 THOMSON, Alistair. Op. cit. p. 57.<br />

26 GALLIAN, Dante Marcello C. A memória do exílio: reflexões sobre interpretação de documentos orais.<br />

In: MEIHY, José C.S. Bom (org.). Op. cit. p. 143.<br />

27 FERREIRA, Marieta de M. História Oral e tempo presente. In: MEIHY, José C. S. Bom (org). Op. cit.p.16.<br />

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