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FACULDADE SETE DE SETE MBRO- FASETE<br />

CUROS DE LI CENCI ATURA PLENA EM LETRAS COM<br />

HABI LI TAÇÃO EM LINGUA PORTUGUESA/ LI NGUA I NGLESA<br />

I VONETE DA SI LVA FARI AS<br />

A CONTRI BUI ÇÃO DA SOCI EDADE PARA O ADULTÉRI O FEMI NI NO EM O<br />

PRI MO BASÍ LI O, DE EÇA DE QUEI RÓS E MADAME BOVARY, DE GUSTAVE<br />

FLAUBERT.<br />

PAULO AFONSO- BA<br />

J UNHO/ 2008


I VONETE DA SI LVA FARI AS<br />

A CONTRI BUI ÇÃO DA SOCI EDADE PARA O ADULTÉRI O FEMI NI NO EM O<br />

PRI MO BASÍ LI O, DE EÇA DE QUEI RÓS E MADAME BOVARY, DE GUSTAVE<br />

FLAUBERT.<br />

Monografia apresent ada como pré-requisit o<br />

para concl usão do curso de licenci at ura e m<br />

Letras com habilitação em Port uguês e Inglês,<br />

da Facul dade Set e de Setembr o- FASETE, sob<br />

a orientação da professora Ms. Mª do Socorro<br />

Pereira de Al mei da.<br />

PAULO AFONSO- BA<br />

J UNHO/ 2008


I VONETE DA SI LVA FARI AS<br />

A CONTRI BUI ÇÃO DA SOCI EDADE PARA O ADULTÉRI O FEMI NI NO EM O<br />

PRI MO BASÍ LI O, DE EÇA DE QUEI RÓS E MADAME BOVARY, DE GUSTAVE<br />

FLAUBERT.<br />

Monografia submeti da ao corpo docent e da Facul dade Set e de Sete mbro- FASETE, como<br />

parte dos requisitos necessári os à obt enção do grau de licenciat ura e m Letras com habilitação<br />

e m Lí ngua Port uguesa/ Língua Ingl esa.<br />

Apr ovada por:<br />

Pr of.ª______________________________________________orientadora<br />

Mari a do Socorro Pereira de Al mei da<br />

Pr of. ______________________________________________( Exa mi nador 1)<br />

Msc. Sérgi o Lui z Malta de Azevedo<br />

Pr of. ______________________________________________( Exa mi nador 2)<br />

Msc. Lui z José da silva<br />

PAULO AFONSO- BA<br />

J UNHO/ 2008


― A liberdade de a mar não é menos sagrada que a liberdade de pensar.<br />

O que hoj e se cha ma adultéri o, há muit o te mpo se cha mou<br />

heresia‖.( Vi ct or Hugo)


DEDI CATORI A<br />

Dedi co este trabal ho, de maneira especial, aos meus pais Manoel Gregóri o de Fari as e<br />

Mari a Apol ôni a da Sil va Fari as que t orcera m sempr e para que eu o realizasse e concl uísse<br />

o meu curso, concretizando assi m um sonho nosso, també m a t odas as mul heres e de for ma<br />

cari nhosa aos meus fut uros filhos (as), que espero que cresça m e m um mundo com menos<br />

desi gual dades, menos preconceit o e menos vi olênci a com os seus se mel hant es.<br />

Dedi co ta mbé m a mi nha professora/ orientadora Socorro, mul her guerreira e profissi onal<br />

bril hant e que tant o me incenti vou e me moti vou, tendo paciência nas orient ações e com seu<br />

pr ofissi onalis mo me fez superar o medo de expor meus pensa ment os para o ―papel ‖ e<br />

enxergar que eu era capaz.<br />

Dedi co a uma pessoa especi al: Feli pe Ti ago da Silva Rosa que entrou na mi nha vi da e m<br />

mei o a trajet ória deste trabal ho, que te m me dado força e ani mo para a concl usão desta<br />

e mpreitada e só vei o a so mar alegrias na mi nha vida.


AGRADECI MENTOS<br />

Consi derando esta <strong>monografia</strong> como resultado de uma ca mi nhada que não começou na<br />

facul dade, agradecer a algu mas pessoas e citar nomes não é tarefa fácil, nem j usta e para não<br />

correr o risco da i nj ustiça, agradeço de ante mão a todos que, de al guma for ma, passara m pel a<br />

mi nha vi da e contri buíram para a construção de que m sou hoj e.<br />

Agr adeço a todos os professores e professoras que passara m pel o meu hist órico escol ar, pois<br />

essa conquista tem um pouqui nho de cada um deles/as, assi m como a todos os meus col egas<br />

de t ur ma, especi al mente da facul dade, das duas tur mas pelas quais passei, pois<br />

compartilhara m comi go experiências acadê mi cas e sociais e que, certa mente, fizera m parte da<br />

construção desse trabal ho.<br />

Agr adeço ao meu grande a mi go Al an Fabrí ci o de Al mei da Sant os, amigo que e m vári os<br />

mo ment os da mi nha vi da e na trajet ória deste trabal ho, acreditava mais e m mi m do que eu.<br />

Foi ta mbé m a pri meira pessoa que leu o pri meiro capít ul o do meu trabal ho, fazendo criticas e<br />

el ogi os quando necessários, assi m como a mi nha a mi ga Káti a Christi ny Li ns Pedrosa, que<br />

me deu força e apoi o sempr e que precisei.<br />

Agr adeço ao Deus, todo poderoso, a que m recorri se mpre nos mo ment os difíceis orando, por<br />

u ma saí da e a que m e m mo ment os e m que parecia que não iria conseguir, tive fé e dei a volta<br />

por ci ma superando meus probl e mas de aprendi zage m e pessoais. Obri gado Senhor!


RESUMO<br />

Est e trabal ho te m como objetivo des mi stificar a cult ura patriarcal de que as mul heres que<br />

ousava m romper com os padrões pré-estabelecidos da sociedade vi gente e e m especi al as<br />

mul heres que vi vera m a mores ilícitos era m mul heres despudoradas. Sabe mos que esse<br />

pensa ment o machista perdura até hoje e é por isso que se faz i mportante este trabal ho, pois ele<br />

é mais uma ferra ment a, para que se aborde a questão do preconceit o e discri mi nação contra a<br />

mul her, frut o de uma cultura i mpregnada pel os padrões machistas da sociedade de outrora e<br />

at é at ual. Para que este trabal ho alcance seu obj etivo trilhará o segui nte roteiro: pri meiro por<br />

ter um teor comparati vo, das duas obras e a comparação das personagens pri nci pais, é<br />

interessante saber o que ve m a ser literat ura comparada, logo após se observa à mul her na<br />

literat ura através dos períodos literári os. Em segui da, traz um panora ma da vida de Emma e de<br />

Lui za separada ment e e finalizando o trabal ho observa m al guns pontos convergent es e<br />

di vergent es entre as duas prot agonistas. Ao fi nal da pesquisa, observou-se que, e m qual quer<br />

sociedade, tempo ou classe social, a mul her sofreu e ai nda sofre preconceit os e m vári os<br />

senti dos, a partir do moment o que revela seus senti ment os e que esse trabal ho pode ser mais<br />

u m dos i nstrument os para a desconstrução dos tabus sociais com relação a mul her.<br />

Pal avras-chave: Patriarcalis mo, sociedade, mul heres, amores ilícitos.


ABSTRACT<br />

This wor k ai ms t o de mystify the patriarchal culture that wo men who dared break wit h t he<br />

pattterns pre- existing set of societ y and especially wo men who lived illicit love affairs were<br />

wo men evil. We know t hat this thought macho lasts until today and t hat is why t his wor k is<br />

i mportant because it is mor e a tool for to adress the issue of prej udi ce and discri mi nati on<br />

agai nst wo men, the fruit of a cult ure i mbui ed by the standards of macho soci et y and once t hat<br />

this wor k until current.To reach your goal trilhará the foll owi ng scri pt: the first to have a<br />

cont ent comparison, the two wor ks and t he comparison of the mai n characters,it is interesti ng<br />

to know what has to be comparati ve literat ure, soon after it appears to wo men i n literat ure<br />

through peri ods literary.In t he bri ngs a pict ure of the lives of Emma and Luiza separatel y and<br />

finishi ng t he j ob t here is some convergent and di vergent poi nt bet ween t he t wo protagonist. At<br />

the end of the survey it was observed t hat in any societ y, ti me or social class, the wo man has<br />

suffered and still suffers prej udi ce in vari ous ways, from t he mo ment that reveals t heir<br />

feeli ngs and t hat such wor k may be more a tool for the descontruci on the social taboos<br />

related t o wo men.<br />

Wor ds-key: Patriarchal, soci et y, wo men,illicit love.


SUMÁRI O<br />

I NTRODUÇÃO-----------------------------------------------------------------------------------------09<br />

1- CONCEI TUANDO A LI TERATURA----------------------------------------------------------13<br />

1. 1- A LI TERATURA COMP ARADA---------------------------------------------------------------14<br />

2- A MULHER NA LI TERATURA-----------------------------------------------------------------16<br />

2. 1- TROVADORI S MO- --------------------------------------------------------------------------------16<br />

2. 2- HUMANI S MO--------------------------------------------------------------------------------------19<br />

2. 3- ARCADI S MO---------------------------------------------------------------------------------------20<br />

2. 4- ROMANTI S MO-------------------------------------------------------------------------------------21<br />

2. 5- REALI S MO------------------------------------------------------------------------------------------24<br />

3. 0- A CONTRI BUI ÇÃO DA SOCI EDADE PARA O ADULTERI O FEMI NI NO NO<br />

SÉCULO XI X. -------------------------------------------------------------------------------------------29<br />

3. 2 LUI SA: O MEDO DE ENFRENTAR A VI DA A MATOU. ----------------------------------36<br />

3. 3 EMMA E LUI SA CONVERGÊNCI AS E DIVERGÊNCI AS --------------------------------40<br />

CONSI DERAÇÕES FINAI S-------------------------------------------------------------------------49<br />

REFERÊNCI AS----------------------------------------------------------------------------------------51


I NTRODUÇÃO<br />

O obj eti vo deste trabal ho é des mi stificar a cult ura machista de que as mul heres que vi vi a m<br />

―a mores ilícitos‖ no sécul o XI X era m mul heres se m caráter, devassas e desavergonhadas.<br />

Essa é uma i déia patriarcal, obvi a ment e disse minada pel os homens, para des moralizar as<br />

mul heres e assi m manter seu poder sobre elas e ca muflar a contri bui ção da soci edade<br />

hi pócrita que não aceitava o adultéri o, desde que ele fosse assumi do. Sabe mos que as<br />

mudanças cult urais e ment ais são de moradas e precisa mos mais que nunca levant ar quest ões<br />

sobre gênero e expor novos trabal hos sobre o mundo fe mi ni no, para que essas mudanças<br />

acont eça m, e as grandes mudanças só acont eceram, acredit o eu, com a evol ução humana, não<br />

no senti do só i ntelect o, mas ta mbé m na questão de ver o ser humano co mo ir mão, como<br />

indi ví duo dot ado de sentiment os.<br />

Embora hoj e (sécul o XXI) tenha havi do muitas mudanças, tant o cult urais quant o i ntelect uais,<br />

no que diz respeit o a mul her dentro de uma sociedade patriarcal, isto é, a mul her, na<br />

sociedade at ual tem consciência do seu papel na sociedade e m que esta inseri da. Val e<br />

ressaltar que não foi se mpre assi m, muitas lutas fora m travadas, muitas lágri mas derra madas<br />

e muitas vi das fe mi ni nas ceifadas para que as mul heres fosse m reconhecidas como ―gent e‖.<br />

Em 1824 acont eceu um fat o brusco de excl usão, quando o então I mperador Pedro I, na<br />

constituição do já citado ano, consi dera as mulheres como seres incapazes, assi m co mo<br />

també m os trabal hadores e escravos. Nesse cont ext o o que diferenciava as pessoas era m suas<br />

posses e naquel a época, a grande mai oria das mul heres era destituí da de bens mat eriais e<br />

soment e e m 1962 é que o então Presi dent e João Goul art modifica o vel ho códi go ci vil e<br />

a mplia os direitos da mulher casada, e esta dei xa de ser relativa ment e incapaz.<br />

Dest a for ma restava às mul heres se prepararem, se tornare m mul heres prendadas e alta ment e<br />

fe mi ni nas, vale ressaltar que esse prepara ment o era desti nado aos afazeres do mésticos, pois os<br />

trabal hos atribuí dos a elas, naquel a época, era m atribuições que exi gisse pouco esforço físico<br />

e ment al, para arranjar um bo m casa ment o, para se tornar ―gent e‖, pessoa capaz. Poré m u m<br />

casa ment o, isto é, um contrat o e m que não tinha como base o a mor, era só para dar satisfação<br />

a sociedade, para se tornar ―ser‖ notável e di gna de respeit o nesta sociedade.<br />

De fat o essas uni ões trazem tristezas e, conseqüent e ment e, amores ilícitos e a literat ura capt a<br />

isso, e é nessa perspecti va que o trabal ho a seguir tem como met a, refletir sobre a contri bui ção<br />

da sociedade para esses a mores ilícitos, isto é, co mo as mul heres se sentiam, mes mo sendo


etratada sobre a ótica masculi na, como é o caso das respecti vas obras: O pri mo Basíli o de<br />

Eça de Queiros e Madame Bovary de Gust ave Fl aubert,<br />

Tant o Queiroz quant o Flaubert retrata m, através dos seus personagens e pri nci pal ment e os<br />

fe mi ni nos, os conflitos de suas ―heroí nas‖, retrat ando a sociedade hi pócrita, em que elas<br />

vi ve m ―a mores ilícitos‖ por estare m presas a um casa ment o se m a mor, por que a soci edade<br />

não aceitava o di vórci o, e se comet esse m adultério o seu mari do tinha direito de lavar a honra<br />

com sangue, então i magina-se a corage m que estas mul heres tivera m e m enfrentar seus medos<br />

para vi ver o a mor.<br />

Naquel a época a sociedade não aceitava uma mul her que não tivesse um mari do do lado, não<br />

aceitava uma mul her que ousava vi ver o a mor e a sua sexuali dade, pois a mul her separada era<br />

vista como a meaça para as fa mílias de be m, pois o conceit o era de que u ma mul her que larga<br />

o esposo é uma fraca. Elas era m recri mi nadas pel as outras e muitas vezes era por invej a da<br />

força e da corage m de uma mul her que ousa romper com os padrões e preconceit os e busca a<br />

sua felici dade e as suas realizações seja m elas senti ment ais ou pura ment e sexuais.<br />

Conquista mos muit os direitos tais como: o direito ao trabal ho fora do lar, o direito ao vot o,<br />

di vórci o, poder ser eleita para o governo, evitar a gravi dez (com contracepti vos), poder<br />

matricul ar-se e m curso superi or. A mul her casada passa a ter os mes mos direitos do mari do<br />

no mundo ci vil, liberdade para adot ar ou não o sobrenome do mari do, conquista ta mbé m o<br />

direit o de fazer abort o em di versos países e chegar a cargos executi vos.<br />

No quesit o trabal ho, ocorrera m mudanças entre 1992 e 1999. A parti cipação fe mi ni na no<br />

mer cado de trabal ho subiu de 38, 8% para 40, 3%. A educação mel horou: a porcent age m de<br />

trabal hadoras, que concluíra m o segundo grau, cresceu de 14, 7% para 20, 4 %, poré m ai nda<br />

falta muit o a ser conquistado, pois apesar das conquistas e do espaço da mul her no mercado<br />

de trabal ho, as lutas hoje são outras, tais como: erradicação da vi olência contra a mul her,<br />

como não ser vista como objet o sexual pelas grandes e mpresas, em especial, pel os comerci ais<br />

de marcas de cervejas, em que são expost os corpos fe mi ni nos se m nenhuma fala, o que não<br />

dei xa de ser um massacre si mbólico. A mul her, embora não tenha consegui do a unani mi dade,<br />

consegui u não ser tratada como ser inferi or e ser vista pel o companheiro como uma<br />

e mpregada ou escrava, pel o menos por grande parte dos homens, pois essa cult ura patriarcal<br />

não pode ficar marcada nas relações entre homens e mul heres.


É necessári o mais esforço para excl uir de vez essa cult ura machista das relações entre homens<br />

e mul heres e é por isso que acredita mos que esse te ma é relevant e, pois, não acredita mos e m<br />

desenvol vi ment o social enquant o houver ―pré-conceit o‖ e desi gual dades entre ho mens e<br />

mul heres. Uma das motivações para realizar este trabal ho foi a observação de que, apesar de<br />

muit as conquistas, precisa mos acreditar, de fat o, que somos capazes, pois apesar de t odas<br />

estas conquistas ai nda existe m mul heres com essa cult ura enraizada de que não consegue m<br />

vi ver se m um ho me m do lado, que precisa m de um ho me m para se sentire m real ment e<br />

capazes. Muitas não se separa m por que ai nda mant é m o pensa mento de que não tê m<br />

condi ção de se sustentare m sozi nhas, ou por que prefere m sofrer para mant er um padrão de<br />

vi da alto e teme m perder isso após a separação e acaba m pagando o alto preço desse padrão<br />

com a infelici dade alé m dos maltrat o físicos e verbais.<br />

No sécul o XI X, um dos recei os das mul heres era o medo de ser apontada na rua como a<br />

mul her separada, a moderni nha ou fe mi nista, no senti do pej orati vo, pois mes mo hoj e e m di a,<br />

ai nda existe o preconceit o e de maneira ai nda mais torpe, pois as pessoas ca mufl a m,<br />

esconde m o preconceit o, pois ―vi ve m nu ma sociedade moderna‖. É claro que esse fat or é<br />

a meni zado nas mul heres que se sustenta m, que tem seu trabal ho e, mes mo após o ter mi no da<br />

uni ão, conti nuará mant endo o mes mo padrão soci al, poré m essa tese é só uma maquilage m<br />

como be m retrata m Ana Patrícia Araúj o Braga, Fabi ana Araúj o Braga e Maria do Socorro<br />

Lopes no trabal ho ― Os desafi os e as conquist as das mul heres”.<br />

Econo mi ca ment e garanti da, a mul her pode se sentir à vont ade para ousar<br />

atitudes consi deradas social ment e reprováveis: viajar sozi nha, ter um<br />

e mprego que a realize profissi onal ment e ou mes mo levar uma vi da sexual<br />

independent e. Deduz-se, portant o, que se pertencer a uma classe abastada<br />

favorece a e manci pação da mul her oci dent al, por outro lado, essa facilidade<br />

pode encobrir, mas não abolir a discri mi nação.<br />

( www. portalfe mi ni no. com. br dia 21/ 04/ 2008)<br />

O preconceito hoje só não é transparente devi do às leis que existe m, poré m, intrinseca ment e, ele<br />

ai nda existe, preconceit o com as mul heres e m geral, com as mul heres di vorciadas, com os negros,<br />

com os homossexuais e com t odas as pessoas que sae m do padrão ―nor mal ‖, isto é, do modo aceit o<br />

pel a sociedade vi gent e. Essa questão já foi al vo de propaganda publicitária: ―Onde você esconde seu<br />

preconceit o?‖ De fat o reconhecendo que o preconceito existe e é uma questão enraizada nas pessoas,<br />

que precisa mos quebrar o tabu de não falar desse assunt o.


Di ant e do expost o, este estudo busca dois ícones da literat ura uni versal no int uito de mostrar, através<br />

de suas personagens, todo esse conflito e angústia da mul her numa sociedade hipócrita e machista.<br />

Dessa for ma, di vi de-se esse, e m três capít ul os; Abre-se o pri meiro capít ul o com al gu mas<br />

conceit uações a respeit o da literat ura, a seguir, por ter esse trabal ho um teor co mparati vo e por se<br />

tratar da analise de duas obras e da comparação das personagens pri nci pais, é interessante saber o que<br />

ve m a ser literat ura comparada para um mel hor prossegui ment o do trabal ho. O segundo capít ul o traz<br />

u ma observação da mul her na literat ura através dos perí odos literári os, no intuito de observar a<br />

evol ução e a trajet ória da mul her através do ol har masculi no na literat ura até o realis mo, perí odo e m<br />

que estão inseri das as obras est udadas. O terceiro capitul o traz um panora ma da vi da de Emma e de<br />

Lui za, separada ment e, e, finalizando o trabal ho, observa m-se al guns pont os convergent es e<br />

di vergent es entre as duas protagonistas, para que o própri o leitor consi ga observá-las mel hor e<br />

partilhar do mundo na época e m vi vera m essas personagens.


1 CONCEI TUANDO A LI TERATURA<br />

Na realização de um trabal ho que envol ve Literat ura é i mpresci ndí vel que ocorra um<br />

ent endi ment o sobre o que é a Literat ura e, perante tant os conceit os existent es, não há como<br />

defi ni-la por defi nitivo, faz – se necessári o iniciar pela eti mol ogi a da pal avra, ou seja, a<br />

ori ge m da palavra. Deste modo, a palavra Literatura ve m do lati m, littera, que si gnifica letra,<br />

surgi u nos pri mór di os da humani dade, quando ai nda desconheci a m a escrita e assi m a<br />

literat ura era e mpregada de for ma oral e utilizada entre os nômades, ou seja, pessoas que<br />

vi via m se desl ocando de u m l ugar para o outro, através dos pri meiros cult os religi osos.<br />

Co m a i nvenção da escrita, as paredes das cavernas começara m a receber pint uras, desenhos e<br />

sí mbol os que passara m a registrar a tradição oral. Mais tarde, surgira m outras for mas de<br />

ar mazenar estas infor mações tais como: tabul etas, óstracos (fragment o de cerâ mi ca ou pedra,<br />

nor mal ment e quebrado de um vaso) papiros e perga mi nhos e assi m as pri meiras obras<br />

literárias conheci das são registradas de escritos de composi ção advi ndas da tradição oral,<br />

poré m para Massud Moi sés não existe uma literatura oral e sobre sua posição ele ressalta o<br />

segui nte:<br />

Na verdade, soment e procede falar e m literat ura quando possuí mos<br />

docu ment os escritos ou impressos. A ri gor, trata-se de trans mi ssão, de<br />

comuni cação oral do text o literári o escrito ou i mpresso: depois que este<br />

surge, é que se processa a sua manifestação e m voz alta‖.<br />

( 1928, p. 20).<br />

Ai nda nessa perspecti va Afrâni o Couti nho afir ma que:<br />

A Literat ura, como t oda arte, é uma transfi guração do real, é a reali dade<br />

recriada através do espírito do artista e retrans mitida através da língua para<br />

as for mas, que são os gêneros, e com os quais ela toma corpo e nova<br />

realidade. Passa, então, a viver outra vi da, aut ôno ma, independent e do aut or<br />

e da experiência de realidade de onde provei o.( COUTI NHO, 1978. p. 9-10)<br />

Inúmer os são os conceitos do que seja literat ura. Terry Eagl et on aborda as defi nições que<br />

dão à Literat ura, e declara que essas defi nições são questi onáveis. Assi m não se pode ter um<br />

conceit o concret o do que seja literat ura e dessa for ma para ele, a literat ura conti nua se m um<br />

conceit o. ―Se não é possí vel ver a literat ura co mo uma categoria ―objetiva‖, descriti va,<br />

també m não é possí vel dizer que a literat ura é apenas aquil o que caprichosa ment e, quere mos<br />

cha mar de literat ura‖. ( EAGLETON, 2003, p. 22.)


Assi m como se faz necessári o conceit os para entender o que é literat ura, é i mportante saber<br />

como a literat ura é est udada para um mel hor ent endi ment o da proposta desse trabal ho, uma vez<br />

que pretende-se neste, dirigir mos o ol har para o movi ment o realista no int uit o de observar o<br />

comporta ment o social das figuras fe mi ni nas em al gumas obras desse perí odo. Dessa for ma<br />

falare mos nesse tópico sobre aquil o que ficou conheci do como movi ment os ou perí odos<br />

literári os.<br />

1. 1 - A LI TERATURA COMP ARADA.<br />

Esse trabal ho, como já foi dito, visa investi gar as figuras fe mi ni nas nas obras Madame Bovary e<br />

O Pri mo Basílio. Por se tratar da análise de duas obras de aut ores diferentes, este est udo ganha<br />

stat us de comparado. Por isso se faz i mportant e discorrer um pouco sobre a literat ura<br />

comparada, para evi denciar o cont ext o teorico metodólico no qual se e mbasará essa pesquisa.<br />

A co mparação é um fat or intrínseco do ser hu mano, é not óri o que as escol has, coment ári os e<br />

preferênci as se dão a partir da comparação, por isso, na arte, també m existe esse fenô meno. Em<br />

pri ncí pi o achava-se que literat ura comparada só poderia existir a partir de obras de diferent es<br />

línguas, no entant o observa-se que ela abrange muit os outros fat ores que vão alé m dessa i déi a<br />

como afir ma ( CARVALHAL, 2004, P. 05)<br />

No ent ant o, quando começa mos a tomar cont at o com trabal hos classificados<br />

como ―est udos comparados‖, percebe mos que essa deno mi nação acaba por<br />

rot ular investigações be m variadas que adota m diferent es met odol ogi as e<br />

que, pela di versificação dos objet os de analise, concebe m à literat ura<br />

comparada um vast o ca mpo de at uação[...]<br />

Apesar de toda compl exidade que rege a questão da literat ura comparada, fica evi dent e que o<br />

senti do está no fat o de o pesquisador utilizar mais de um obj et o de pesquisa, tent ando ver um<br />

det er mi nado aspect o nesses obj et os no senti do convergent e ou di vergent e, uma vez que<br />

―comparação não é um mét odo especifico, mas um procedi ment o ment al que favorece a<br />

generalização ou diferenci ação. É um at o lógico- for mal de pensar diferenci al(processual ment e<br />

induti vo)paralel o de uma atitude t otalizadora(dedutiva)‖. ( CARVALHAL, 2004, P. 06).<br />

Percebe-se, assi m, que o fat o de estar mos nesse est udo, confront ando personagens<br />

pr otagonistas, femi ni nos em diferent es obras do mes mo estilo, dá a esse, um aspect o<br />

comparati vo, haja vista que esse é um pont o chave para a investi gação desse trabal ho. De


acordo com Car val hal quando as comparações são o recurso pri nci pal do est udo ele toma ares<br />

de ―est udo comparado‖.<br />

É i mportante ver que a literat ura comparada surge vi ncul ada ao pensa ment o cos mopolita do<br />

sécul o XI X, e mbora esse adjetivo já seja e mpregado desde a idade media. Segundo Carval hal<br />

(2004), os est udos comparados começa m na área científica e depois se transfere para est udos<br />

literári os. Ai nda de acordo com a aut ora, esses est udos era m e mpregados em t oda Eur opa, mas<br />

é na França que esse tipo de est udo irá se fir mar.<br />

É i nteressant e ressaltar, que a comparação, mesmo nos est udos comparados, é um mei o de<br />

análise e não um obj etivo fi nal. Assi m sendo, esse est udo pretende ver a represent ação da<br />

mul her na sociedade do sécul o XI X, através da literat ura no i nt uit o de mostrar a contri bui ção do<br />

siste ma social para o adultéri o fe mi ni no e, para isso, utiliza-se aqui al gumas obras que serão<br />

citadas ao l ongo do trabalho, poré m nosso ol har se direci ona especial mente para Emma Bovar y<br />

de Fl aubert e Luisa de Eça de Queiroz, ou seja, serão comparadas duas obras no i nt uit o de<br />

ati ngir o objeti vo proposto.


2 - A MULHER NA LITERATURA<br />

Est e est udo se propõe observar como a mul her está represent ada nas obras O pri mo Basíli o de<br />

Eça de Queirós e Madame Bovary de Gust ave Flaubert. Por se tratar de duas obras realistas e<br />

esse perí odo ter como princi pal característica a visão diferenciada da mul her, ou seja, da mul her<br />

como ser humano disposto a virtudes e defeitos e para um mel hor entendi ment o do leit or, no<br />

tocant e ao nosso obj etivo, faz se necessári o e m princí pi o um passei o pel os perí odos literári os no<br />

int uit o de mostrar a visão social sobre a figura fe mini na e m cada época.<br />

Do ol har para a hist ória da literat ura, não pode mos dei xar de menci onar que a produção literária<br />

se di vi de e m fases cha madas de perí odos literári os e que nos per mite est udar e conhecer, tant o o<br />

conceit o hist órico como a visão de mundo do home m e m cada época, como ta mbé m os<br />

movi ment os literári os que:<br />

Deli mita m perí odos da historia da literat ura nas quais o cont ext o políticoeconô<br />

mi co e os fat ores sóci o cult urais se manifestam no comporta ment o,<br />

nos cost umes, na produção literária vi gent e, refletindo um conj unt o de<br />

características comuns que i mpregna m as obras dos diversos aut ores, tant o<br />

no t ocante á linguage m, quant o aos te mas e a de conceber o mundo e<br />

expressar a realidade‖.( www. gargant adaserpent e. com)<br />

Perant e o expost o, observa-se que os movi mentos literári os retrata m uma época. Segundo<br />

Massaud Moi ses, (1960, pág 20) e m 1189 ou 1198 i nicia m-se os períodos literári os e o<br />

pri meiro deles é o Trovadoris mo, marcado pel o Teocentris mo, isto é, todo saber do ho me m é<br />

centrado e m Deus. A vi da estava voltada para os val ores espirituais e a sal vação da<br />

al ma. Vi vi a-se pel o sistema feudal, siste ma econômi co e político, entre senhores e vassal os ou<br />

servos.<br />

2. 1 – TROVADORI S MO<br />

No Tr ovadoris mo a mul her é vista como deusa, a mai s bela dentre todas, o amant e posici ona-<br />

se inferi or a ela, di vi nizando-a a pont o de se estabelecer uma relação de "senhor‖ ( moça<br />

cortejada), para vassal o. O ho me m apai xonado tem cui dado com as palavras para não magoar<br />

e ne m ofender a a mada, incl usi ve, omite o nome da sua a mada que é merecedora de todas as<br />

gentilezas daquel e que a deseja. Os poetas dessa época era m cha mados de trovadores e os<br />

poe mas produzi dos eram feit os para sere m cant ados.


Em 1198 o trovador Pai o Soares Taveirós dedica a “Canti ga da Ri beirinha” a Maria Paes<br />

Ri beiro (uma mul her muito cobi çada que se tornou a mant e de D. Sancho o segundo rei de<br />

Port ugal) faz surgir o Tr ovadoris mo, já nesse perí odo pode-se ver a posição da mul her, a<br />

represent ação dela na canti ga lírico a mor osa.<br />

Canti ga da Ri beiri nha<br />

No mundo non me sei parelha,<br />

Mentre me f or como me vai,<br />

Cá j á moiro por vós, e - ai!<br />

Mi a senhor branca e ver melha.<br />

Queredes que vos retrai a<br />

Quando vos eu vi em sai a!<br />

Mau di a me levant ei,<br />

Que vos ent on non vi fea!<br />

E, mi a senhor, desd' aquel' di, ai!<br />

Me f oi a mi mui mal,<br />

E vós, filha de don Paai<br />

Moni z, e be m vos semel ha<br />

D' haver eu por vós guarvaia,<br />

Pois eu, mi a senhor, d' alfaia<br />

Nunca de vós houve ne m hei<br />

Vali a d' ua correa.<br />

Observa-se clara ment e a posição de superi ori dade da a mada, e m relação ao trovador, vale<br />

ressaltar que essa condi ção e m que o trovador se col oca era excl usi va ment e a mor osa, ist o é<br />

para convencer, sensi bilizar e despertar o ol har da mul her desejada idealizada, di vi ni zada. O<br />

mes mo a trata de ― mi a senhor‖, retratando a posição de servi dão da época. Dentro desse<br />

movi ment o, o pont o mais alto é o senti ment alismo e m que prevalecia m duas espéci es de<br />

poesia: a lírico - amorosa expressa e m duas for mas: a canti ga de a mor e a canti ga de a mi go e<br />

as canti gas satíricas represent adas pelas canti gas de escárni o e mal dizer.Segundo Massaud<br />

Moi ses:<br />

As cantigas de a mor cont em a confissão a mor osa do trovador, que padece<br />

por requestrar uma da ma inacessí vel, em conseqüência de sua condi ção<br />

social superi or ou de ele afastar para longe a preocupação com sua posse,<br />

i mpedi do pel o senti ment o espiritualizado que o domi na.<br />

(MOI SES 1999, p. 19-20).<br />

As observações do teórico pode m ser vistas no poe ma a seguir.<br />

Senhora mi nha, desde que vos vi,<br />

lutei para ocultar esta pai xão<br />

que me t omou i nteiro o coração;<br />

mas não o posso mais e deci di


que sai ba m todos o meu grande a mor,<br />

a tristeza que tenho, a i mensa dor<br />

que sofro desde o dia e m que vos vi.<br />

E quando eu vir, senhora, que o pesar<br />

que me causais me vai levar à morte,<br />

direi, chorando mi nha triste sorte:<br />

"Senhor, porque me vão assi m mat ar?"<br />

E, vendo- me tão triste e sem prazer,<br />

todos, senhora, irão compreender<br />

que só de vós me ve m este pesar.<br />

Já que assi m é, eu venho-vos rogar<br />

que queirais pel o menos consentir<br />

que passe a mi nha vi da a vos servir,<br />

e que possa dizer e m meu cant ar<br />

que esta mul her, que e m seu poder me te m,<br />

sois vós, senhora mi nha, vós, meu be m;<br />

graça mai or não ousarei rogar.<br />

-- Afonso Fernandes<br />

Nas canti gas de a mi go o eu lírico é fe mi ni no, embora fosse de aut oria masculi na, devi do à<br />

sociedade feudal e o restrito acesso da mul her aos livros, a figura fe mi ni na que as canti gas de<br />

ami go espel ha m é a i mage m da mul her inexperient e nas quest ões do a mor. Na canti ga abai xo<br />

o eu lírico la ment a a ausênci a do a mado e a tristeza pel o mes mo ter ido pra guerra ou tê-la<br />

abandonado por outra. Di ant e dessa afir mação de que o a mado fora pra guerra pode-se<br />

afir mar que está document ado a i mportância soci al da mul her na sociedade que bancava a<br />

sustentabilidade da fa mí lia quando seus a mados se envol via m nas guerras. Diferent e ment e<br />

das canti gas de a mor, não há uma relação de vassalage m di ant e do a mado ela é uma mul her<br />

do povo, ribeiri nha que chora de saudade numa confissão diante de uma ami ga, mãe ou da<br />

nat ureza como é o caso da canti ga abai xo de D. Dini z.<br />

" Ai flores, ai flores do verde pi no,<br />

se sabedes novas do meu ami go!<br />

ai Deus, e u é?<br />

Ai flores, ai flores do verde ramo,<br />

se sabedes novas do meu amado!<br />

ai Deus, e u é?<br />

Se sabedes novas do meu ami go,<br />

aquel que menti u do que pôs comi go!<br />

ai Deus, e u é?<br />

Se sabedes novas do meu amado,<br />

aquel que menti u do que mi há jurado!<br />

ai Deus, e u é?" (...)


As canti gas de a mi go chega m a ser enfadonhas repetitivas, um lament o, percebe-se<br />

cl ara ment e a dor do eu lírico a linguage m e o desespero pela falta do a mado.<br />

2. 2- HUMANI S MO<br />

Est e mo ment o hist órico-soci al é tido como um período de transição. Marca a passage m do fi m<br />

da Idade Médi a para a Idade Moder na. Foi um período caracterizado por uma humani zação da<br />

cult ura, isto é, quando surge uma cult ura preocupada com o home m, com a i nserção del e na<br />

sociedade. É diante desse cont ext o hist órico que está Gil Vi cent e, que critica, em sua obra, de<br />

for ma ferrenha, a sociedade de seu te mpo, do alto cl ero até a mais bai xa classe social.<br />

Gil Vi cent e escreveu mais de quarenta peças, dentre elas, a Farsa de Inês Pereira, na qual<br />

retrata, de for ma satírica a sociedade do seu te mpo e cont a a hist ória de uma moça que recusa<br />

os papéis pré-estabeleci dos e questi ona o desti no impost o à mul her na sociedade qui nhentista.<br />

A personage m pri nci pal, Inês, que te m, como tantas outras mul heres, um coti diano<br />

enfadonho, passa os dias bordando, fiando, cost urando, sonha casar-se, vendo no casa ment o<br />

u ma libertação dos trabalhos domésticos e idealiza uma vi da com um home m cult o, refi nado<br />

que sai ba cant ar e dançar.<br />

Inês-[...]Já tenho a vi da cansada de jazer se mpre dum cabo.(...) Esta é mais<br />

que morta. São eu coruja ou coruj o, Ou são al gum cara muj o Que não sai<br />

senão à porta?( VI CENTE, 2003, 20)<br />

Not ada ment e a obra de Gil Vi cent e mostra na sua personage m pri nci pal a revolta da mul her<br />

com sua condi ção de vi da, isto é, com sua condi ção de vi da vegetati va e ver, no casa ment o,<br />

u ma for ma de se livrar dos afazeres enfadonhos de casa. Na reali dade Inês quer ascensão<br />

social como a mai oria das pessoas da época, e o único ca mi nho para isso seria o casa ment o<br />

com um ho me m cult o e be m sucedi do.<br />

Pode-se perceber nesse perí odo uma mul her mais deci di da, menos i dealizada, uma mul her<br />

que deseja ser feliz, escol her com que m vai casar, se contrapondo a mãe que a t odo o<br />

mo ment o sugere que a filha se case com um ho me m rico, aconsel ha-a que não deve rir, ne m<br />

ol har para bai xo, re met endo ao fat o de que uma ―boa‖ moça deve ser submi ssa e não ter sua<br />

pr ópria opi nião.


Mãe (...) hás-te de pôr e m feição, e falar pouco e não rir. E mais, Inês, não<br />

muit o ol har, e muit o chão o menear, porque te jul gue m por muda, porque a<br />

moça sesuda é ua perla pera a mar. ( VI CENTE, 2003, p. 39 )<br />

Gari mpando entre os períodos literári os percebe-se que nos perí odos até o Romantis mo a<br />

mul her era retratada de for ma i dealizada, isto é, vista sob a ótica masculina que a descreve<br />

como a ver ou como deseja que ela seja.<br />

2. 3- ARCADI S MO-<br />

O Ar cadis mo foi o moviment o artístico que surgiu na met ade do sécul o XVIII, e tinha como<br />

pri nci pais características, o antropocentris mo (o ho me m t e m a liberdade para defi nir o seu<br />

desti no); a raci onali dade (preocupação com a verdade e o real, pois para os árcades, só é bel o<br />

o que é raci onal) e dessa for ma, pregava m o equilíbri o entre a razão e o senti ment o e o<br />

desenvol vi ment o social, e é nesse sécul o que conseqüent e ment e acont ece o combat e à<br />

irraci onali dade religi osa. No Arcadis mo as mulheres conti nua m sendo vistas como seres<br />

idealizados, superi ores, inal cançáveis e i mat erial, como vere mos no poe ma a seguir:<br />

Os teus ol hos espal ha m l uz di vi na,<br />

A que m a luz do Sol e m vão se atreve:<br />

Papoul a, ou rosa delicada, e fina,<br />

Te cobre as faces, que são cor de neve.<br />

Os teus cabel os são uns fios d' ouro;<br />

Teu lindo corpo bálsa mos vapora.<br />

Ah! Não, não fez o Céu, gentil Past ora,<br />

Para gl ória de Amor igual tesouro.<br />

Gr aças, Marília bela,<br />

Gr aças à mi nha Estrela!<br />

(Tomás Ant ôni o Gonzaga)<br />

No Arcadis mo há convenci onalis mo a mor oso, isto é, as situações são artificiais não é o<br />

pr ópri o poeta que m fala de si e de seus reais senti ment os, este usa sempr e pseudôni mo e<br />

quase se mpre é um pastor que confessa o seu amor por uma past ora e a convi da para<br />

aproveitar a vi da junt o à nat ureza, nesse cont ext o mostra també m o Carpe Die m 1 , para esses<br />

1 Carpe Di e m frase e m Lati m de um poe ma de Horaci o, e é popul ar ment e traduzi da para col ha o dia ou aproveite o<br />

mo ment o.


poet as o i mportante era ser feliz, longe das preocupações do dia a dia, o lema era aproveitar a<br />

vi da, se m medo, pois o fut uro pode não chegar e a nossa existência é curta, por isso deve mos<br />

vi ver com i ntensi dade e fazer com que a nossa vi da aqui na terra sej a de felici dade e<br />

realizações.<br />

2. 4 - ROMANTI S MO<br />

O Ro mantis mo se inicia na Eur opa no fi nal do sécul o XVIII, espal hando-se pel o mundo até o<br />

final do sécul o XI X. Nesse perí odo a mul her ai nda é retratada de for ma i dealizada e é ta mbé m<br />

nesse cenári o do Ro mantis mo que surge um novo público leitor, as mul heres. A partir desse<br />

mo ment o, elas tê m mai or acesso aos livros, em especial aos romances, o que não acont eci a<br />

nos perí odos anteri ores.<br />

No Ro mantis mo, o indiví duo é o centro das atenções, o be m estar, a felici dade era mais<br />

i mportante que as convenções sociais, como mostra o trecho da Obra Ci nco Mi nut os de José<br />

de Al encar: ―El a me amava. Só essa idéia e mbel ezava t udo pra mi m: a noite escura de<br />

Petrópolis parecia- me poética e o mur murejar triste das águas do canal tornava-se –me<br />

agradável ‖ ( Ci nco Mi nutos-1979 p.23) Nessa obra percebe-se ta mbé m uma mul her mais<br />

―ousada‖ com atitudes aut ôno mas, pois quando Carl ota se m conhecer o seu a mado se<br />

per miti u ser tocada pel o ho me m a que m ela gostava mes mo se m ele o conhecer, estava mais<br />

dona de si, e por al guns mo ment os, mes mo se arrependendo depois, de certa for ma, se deu a<br />

chance de se i mportar mai s consi go do que com a sociedade e m que vivia por que o a mor<br />

estava aci ma de t udo como se ver a seguir:<br />

[...] a pressão t ornou-se mais forte; senti o seu ombro t ocar de leve o meu<br />

peit o; e a mi nha mão i mpaciente encontrou uma mãozi nha delicada e<br />

mi mosa, que se dei xou apertar a medo. Assi m fasci nado ao mes mo te mpo<br />

pel a mi nha ilusão e por este cont at o vol upt uoso, esqueci- me, a pont o que,<br />

se m saber o que fazia, inclinei a cabeça e colei os meus lábi os ardent es<br />

nesse ombr o, que estre mecia de e moção.( Ci nco Mi nut os, 1979, p.08)<br />

Percebe-se que, e mbora no Ro mantis mo a mulher conti nue a ser idealizada, há al gumas<br />

exceções por parte de al guns aut ores e José de Al encar é um dos que apresent a m, e m al gu mas<br />

de suas obras, a mul her como ser dotado de senti ment os di versos, como todo ser humano e<br />

també m constitui da de defeit os e virtudes.


Outro aspect o a observar na obra aci ma é o fat o de a mul her també m sentir re morso pel os<br />

seus at os e m conseqüênci a da sociedade e m que vi via, quando Carl ota, confessa que se<br />

arrependeu de ter dei xado-se seduzir pel o amado.<br />

O mais tu sabes; eu te amava e era tão feliz de ter-te ao meu lado, de<br />

apertar a tua mão, que nem me le mbrava como te devi a parecer ridícul a<br />

u ma mul her que, se m te conhecer, te per mitia tant o. Quando nos separa mos,<br />

arrependi- me do que tinha feito.( Ci nco Mi nut os, 1979 , p. 28)<br />

Apesar de ser um escritor romântico percebe-se que nas obras de José de Al encar ele começa<br />

a mostrar a mul her como ser real de carne e osso, ser humano com desej os e desej ada e assi m<br />

mostra que o home m já não mais via a mul her como um ser di vi no, diferente ment e dos<br />

perí odos anteri ores. O home m j á não via a mul her como um ser angelical e puro e dei xava<br />

transparecer os seus desej os pela mul her a mada como pode mos ver nos trechos segui nt es da<br />

obra ―Lucí ola‖ do aut or.<br />

Passei-lhe o braço pela ci ntura e apertei-a ao peito; eu estava sentado, ela<br />

e m pé; meus lábi os encontrara m nat ural ment e o seu col o e se e mbebera m<br />

sequi osos na covi nha que se for mava m nascendo os dois sei os<br />

modesta ment e ocult os pela ca mbraia‖.( Lucí ola, 1984, p. 134 )<br />

Eu sofria a atração irresistível do gozo frui do, que provoca o meu desej o até<br />

a consunção; e conheci que essa mul her e a tornar uma necessi dade, e mbora<br />

mo ment anea ment e da mi nha vi da‖.(Lucí ola, 1984 p. 140)<br />

No Ro mance ―Lucí ola‖, do mes mo aut or o te ma central é o a mor. O que é ―ousado‖ no<br />

escritor, em se tratando dessa obra, é o fat o de sua personage m pri nci pal ser uma prostit uta, o<br />

que se percebe nesse context o é que e m mei o a sécul o XI X a literat ura se atenta para destacar,<br />

entre os outros temas a reali dade, a vi vencia da mul her na sociedade ou sendo al vo de<br />

preconceit o racial, social, alé m de mul her, já mar ginalizada pela cult ura patriarcal. No caso da<br />

pr ostituta, afetando a moral vi gent e, pode mos observar a for ma que a soci edade tratava a<br />

pr ostituta e m Lucí ola, na fala do personage m Sá quando se refere as prostitut as:<br />

- Que m é esta senhora? pergunt ei a Sá.<br />

A resposta foi o sorriso inexpri mí vel, mist ura de sarcas mo, de bono mi a e<br />

fat ui dade, que desperta nos elegant es da corte a ignorância de um a mi go,<br />

profano na difícil ciência das banali dades sociais.<br />

- Não é uma senhora, Paul o! É uma mul her bonita. Queres conhecê-la ?...


Co mpreendi e corei de mi nha si mplici dade provi nciana, que confundira a<br />

máscara hi pócrita do víci o com o modest o recat o da inocência. Só ent ão<br />

not ei que aquela moça estava só, e que a ausência de um pai, de um mari do,<br />

ou de um ir mão, devia- me ter feito suspeitar a verdade. (Lucí ola, 1984,<br />

p. 124)<br />

Em ―Lucí ola‖, Al encar faz uma critica a sociedade que renega a promi scui dade e os ví ci os<br />

mas por outro lado, é que m ali ment a a mbos. Como exe mplifica mos adiant e no trecho da obra<br />

no qual Sá fala de Lúci a a reduz a larva, ignora-a, poré m era m pessoas como Sá que<br />

sustentava m os víci os que ora renegava.<br />

Por que l he falaste nesse tom? Nat ural ment e a trataste por senhora como<br />

da pri meira vez; e lhe fizeste duas ou três barretadas. Essas borbol etas<br />

são como as outras, Paulo; quando l hes dão asas, voa m, e é be m difícil<br />

ent ão apanhá-las. O verdadeiro acredita- me, é dei xá-las arrastare m-se<br />

pel o chão no estado de larvas. A Lúci a é a mais al egre companheira que<br />

pode haver para uma noite, ou mes mo al guns dias de extravagânci a<br />

( Lucí ola, 1984 p. 232).<br />

Por outro lado a própria Luci a sent e na pele esse preconceit o e o assume perant e a sociedade,<br />

se menosprezando como ser humano, quando fala: ―– Que i mporta? Cont ant o que tenha<br />

gozado de mi nha moci dade! De que serve a vel hice às mul heres como eu?‖( Lucí ola, 1984. p.<br />

136). Observa-se ai uma certa aceitação, e mbora com um pouco de revolta, mostra que até a<br />

pr ópria Luci a é també m frut o dessa sociedade e por isso pensa dessa for ma.<br />

Lúci a se puni a por a mar Paul o, ―O a mor!. . . O amor para uma mul her como eu seria a mais<br />

terrí vel puni ção que Deus poderia infligir-lhe!‖ tant o que a mes ma sofria calada, pois mes mo<br />

sabendo que ele a a mava també m, te mi a por tudo que o mes mo enfrent aria na sociedade, por<br />

a mar uma prostituta e ta mbé m el a sabi a quant o essa relação seria sofrida, pois Paul o não<br />

confiaria nela, em virt ude do seu hist órico de vida e assi m, a consagração e admi ssão por<br />

parte de a mbos ao assumi r o a mor poderia machucá-l os, pois uma coisa era os a mi gos<br />

aceitare m que Paul o se di vertisse com uma prostituta e outra, be m diferent e era assumi-la<br />

como esposa. Paul o já dava si nal de sua desconfiança e Luci a tinha uma i déi a de como seria a<br />

vi da com al gué m que, no fundo, iria desconfiar sempr e.<br />

Pel a pri meira vez a mul her submi ssa, que te mi a ofender- me, mostrando-se<br />

ofendi da de mi nhas inj ustiças, conservava contra mi m uma quei xa, e<br />

assumi a o direito de perdoar‖. Ad mirando, aceitava todas as gradações por<br />

que passara a sua existência depois que nos conhecía mos‖.<br />

- Duvi dou de mi m! disse Lúcia fitando- me com os seus grandes ol hos<br />

lí mpi dos. (Lucí ola, 1984. p. 230).


― Tu vi ves num mundo, Paul o, onde há condi ções que serás obri gado a<br />

aceitar, cedo ou tarde; um di a sentirás a necessi dade de criar uma fa mília, e<br />

gozar das afeições domésticas‖. ( Lucí ola, 1984 p. 245).<br />

Luci a tinha plena noção da sociedade hi pócrita em que vi via e sabi a que as convenções<br />

sociais não per mitiria m ao casal vi ver e m paz. Mes mo havendo a mor de verdade entre a mbos,<br />

o conví vi o com as pessoas e, pri nci pal ment e, o de Paul o, que segura mente iria está const ant e<br />

conví vi o com pessoas que iria m criticá-l o e isso conseqüent e ment e iria afetar a vi da dos dois,<br />

gerando bri gas, desconfianças e tristezas.<br />

El a já previa que essa seria uma hist oria que não teria final feliz, pois co m a pressão e os<br />

questi ona ment os das pessoas, em al gum mo mento, Paul o não suportaria e, como para casos<br />

se m jeito a sol ução é a morte, assi m foi-se mais uma mul her que ousou viver, ser verdadeira,<br />

enfrent ar o preconceit o e vi ver pra si, vi ver pra ser feliz, mes mo que essa felici dade fosse por<br />

pouco te mpo. Luci a viveu i ntensa ment e, tendo se mpre convi cção de tudo que estava<br />

acont ecendo ao seu redor incl usi ve sobre os seus poucos dias de vi da.<br />

2. 5 - REALI S MO<br />

Surge, então, o Realis mo e m meado do sécul o XI X, um perí odo literári o que se contrapõe ao<br />

Ro mantis mo. Surgi do na França, desenvol veu-se a partir da observação da reali dade vi gent e.<br />

E começa m a surgir às pri meiras lutas sociais incl usi ve das mul heres, pois surge m as<br />

pri meiras organi zações, tendo mul heres como pi oneiras, que l utava m pel o direit o<br />

pri nci pal ment e ao vot o.<br />

Os aut ores realistas queria m mostrar a reali dade e acabar de vez com a face sonhadora e<br />

idealizada do Ro mantis mo e para isso era preciso escancarar a verdade nunca mostrada como<br />

o dia a dia das pessoas, o a mor adúltero, a falsi dade e o egoís mo humano, o home m co mo<br />

parte do mei o, como ci dadãos. Vê-se, nesse perí odo, o interesse e m analisar e desvendar os<br />

fenômenos, através da ciênci a e não mais atribuindo t udo a Deus. Agora o home m ol ha para<br />

reali dade encarando-a sem f ugir dela, como faziam os românticos. Na Eur opa, o Realis mo teve<br />

iníci o com a publicação do romance Madame Bovary (1857) de Gustave Flaubert.<br />

No Realis mo, a mul her era vista como um ser igual ao home m, com virt udes e defeit os.<br />

Embora, ai nda pel os olhos do home m, ela mostra seus senti ment os, vont ade, ansei os e


desej os. É a partir do sécul o XI X que a mul her começa a ter a ousadi a de ―vi ver, ‖ vi ver de<br />

acordo com seus pensa ment os, busca a ascensão e começa a descobrir, que para isso, te m que<br />

buscar sua independência e é justa ment e aí que começa a sua transfor mação psicol ógi ca e a<br />

transfor mação do mundo conseqüent e ment e, como ressalta Muraro:<br />

Quando Mar x criou a categoria classe social em meado do Sécul o XI X,<br />

abri u um ca mpo t otal ment e desconheci do para a ciência social de seu te mpo<br />

e acabou por transfor mar o mundo. Trazendo a luz uma multidão i mensa de<br />

opri mi dos que passara m a infl uenciar decisi va ment e nos acont eci ment os,<br />

mudando a face da hist oria dos paises, dos continent es e da própria<br />

percepção que cada indi ví duo te m no mundo. ( MURARO, 2000 p. 15)<br />

A partir do sécul o XI X, a mul her começa a descobrir-se como ci dadã, e a literat ura capt a essa<br />

transfor mação fe mi ni na e a revel a, pois após séculos de excl usão e de domi nação pel o siste ma<br />

patriarcal, a mul her reconhece sua i mportância no mundo e ver a possi bilidade de repensar<br />

sua hist oria, não aceitando mais o ―destino‖ i mpost o à condi ção fe mi ni na. Sobre isso Sal es<br />

afir ma que:<br />

A descoberta do sujeito social mul her e do ser fe mi ni no hist órico re met e ao<br />

fat o de que a hist oria das mul heres ta mbé m não é só delas, mas pode ser<br />

ext ensi va á da fa mília, da criança, do trabal ho e da literat ura, entre outras. É<br />

a hist oria do seu corpo, da sexuali dade, de suas e moções e desej os, das<br />

marcas profundas dei xadas pela vi olência, de suas loucuras e de seus<br />

a mores. ( SALES, 2000 p. 29)<br />

A literat ura realista, de certa for ma já abre essa perspecti va quando mostra a mul her dentro da<br />

condi ção de reali dade e não de idealização. A mul her como um ser i mbuí do de virt udes e<br />

defeit os como qual quer outro e esta nova mulher não cont e m mais seus ansei os sexuais,<br />

escol he o parceiro que mais lhe agrada e não o que é obri gado por convenções soci ais, como<br />

vere mos na obra Madame Bovary de Gust ave Flaubert (francês) e Pri mo Basílio de Eça de<br />

Queiroz (port uguês), pois o Realis mo procura ser o retrat o da sociedade vi gent e no sécul o<br />

XI X.<br />

Nesse perí odo literári o a mul her aparecerá nas obras do seu te mpo como prostit uta ou<br />

adúltera assi m como a sociedade a teria, ou seja, a mul her que traísse, mas conti nuasse<br />

mant endo-se esposa e mãe, se m que desse motivos para a falação da soci edade, não seria<br />

casti gada, ist o é, o proble ma estava e m a assumir seus senti ment os como se pode vê no fil me,<br />

Anna Kareni na, baseado na obra de Leon Tolst oy, no qual pode mos perceber, já no começo


do fil me, que se tratava de uma mul her infeliz, quando o própri o narrador diz: ―o medo de<br />

morrer se m conhecer o a mor era mai or do que o da própria morte, e eu não estava só, esse<br />

també m era o medo de Anna Kareni na‖.<br />

Dessa for ma pode mos afir mar que ela não a mava o esposo, que o casa ment o como tí pico da<br />

época, fora por conveniênci a e quando Ana diz para o esposo, o conde kareni n, que o<br />

casa ment o, acabou que ela a ma outra pessoa, ele não aceita a dissol ução do casa ment o, pois<br />

el e pensa na sociedade, em co mo ele seria vist o pel a sociedade, seria uma desonra pra ele ser<br />

trocado por outro homem, ser abandonado por sua mul her. Ele passa por ci ma do seu a mor<br />

pr ópri o, do seu orgul ho, dos seus senti ment os. Se analisar mos a sua fala, ele até sugere que a<br />

mul her tenha um a mant e, mas que seja cui dadosa para que ni ngué m perceba e venha a falar<br />

mal dela, que na reali dade ele estava pensando nele, em como ficaria a sua honra e m relação a<br />

sociedade.<br />

Independent e de sua condut a não posso por fi m ao nosso casa ment o. Vou<br />

ignorar o ocorri do desde que ni ngué m sai ba nada a respeit o, desde que não<br />

desgrace meu nome, se você se comportar de maneira que ne m os criados e<br />

ne m a sociedade possa m falar mal de você pode desfrutar de todos os<br />

pri vilégi os de uma esposa respeitável e poderá ficar co m o seu filho.( Anna<br />

Kareni na)<br />

Poré m Ana Kareni na, ao assumir o senti ment o, não foi aceita pel o mari do então, ela seria, a<br />

partir de ent ão uma mul her separada e aut omaticament e excl uí da da sociedade. Esse aspect o<br />

fica evi dent e e m outra cena do fil me, quando Anna abandona o mari do e vai vi ver com<br />

Vr onsky na Itália.<br />

De volta a Rússia, ambos se depara m com uma soci edade hi pócrita que não aceita a uni ão dos<br />

dois, poré m, Vr onsky poderia freqüent ar os sal ões nobres sozi nho, enquanto Anna te m que se<br />

mant er presa e m casa, privada da liberdade. Esse era o casti go i mpost o pela sociedade para a<br />

mul her que ousou vi ver seus senti ment os, sua sexuali dade, romper com os padr ões<br />

estabeleci dos às mul heres naquel a época.<br />

Anna, diante disso, vi via a angustia, a revolta de ver todos os dias o seu amado se arrumar e<br />

sair se m nenhu ma pri vação e sendo aceit o pela sociedade, enquant o ela tinha que pagar o<br />

preço a mar go pela sua atitude de honesti dade, e m não mant er um casa mento de aparênci as e<br />

não enganar o seu esposo. como vere mos na descrição desta cena entre Vronsky, a sua mãe e<br />

u ma a mi ga cha mada Petsy.


Vronsky- Est ou aqui para di zer que vej o mi nha união com a Srª Kareni na<br />

como um casa ment o. Se quisere m estar de be m comi go, deve m está de be m<br />

també m com a mi nha esposa. Nossos a mi gos ínti mos pode m e deve m aceitar<br />

nossa união.<br />

Petsy- Eu por mi m fico feliz por tere m ret ornado, posso i magi nar como<br />

Pet ersburgo pode l he parecer desi nteressante depois de tantas viagens<br />

maravil hosas.<br />

- E o di vorci o? Já sai u?<br />

Vronsky- Est ou esperando o Kareni n.<br />

Petsy –As pessoas me atirarão pedras eu sei, mas vou ver a Anna. Vou<br />

ignorar as convenções, mas outras pessoas retrógradas vão virar as costas<br />

ate que vocês esteja m casados, mas isso é tão si mpl es hoj e e m dia.<br />

- É claro que não a convi do para ir a mi nha casa. Tenho duas filhas<br />

adol escent es.<br />

Vronsky- Co mo pode dizer isso? Todos sabe m que foi a mant e do<br />

Tushevi ck.<br />

Petsy- Co mo se atreve a fazer comparações?<br />

Fi ca evi dent e diante disso que a sociedade aceitava a mul her que vi via a duali dade entre<br />

a mant e e o esposo, porém não aceitava aquela que opt ou pel o a mor, por não vi ver de mentiras<br />

e de aparências. Mais u ma vez fica claro a contri buição dessa sociedade que vi vi a de<br />

hi pocrisia e assi m contribuí a para o adultéri o fe mini no. Foi essa frieza social e a conveni ênci a<br />

de Vr onsky na sociedade, ou seja que com o fat o de Anna está presa e m casa enquant o ele se<br />

di vertia, enquant o ele podi a freqüent ar as festas e ela não, enquant o ela via o comport a ment o<br />

del e com outras mul heres, que fizera m com que Anna entrasse e m uma depressão de alt o grau<br />

e acaba por comet er suicídi o, jogando-se e mbai xo do tre m.<br />

Percebe-se, poré m, que o suicí di o de Anna não foi só de desespero pela falta de saí da daquel a<br />

situação, mas ta mbé m foi uma atitude de protesto, da não aceitação daquel a sit uação, Anna<br />

at é na hora de acabar com sua vi da é uma mul her que dei xa para o mundo seu protest o, ela<br />

não aceita essa condi ção de submi ssão.<br />

El a poderia ter escol hi do outra for ma de dar cabo de sua vi da, mas ela escol heu um l ugar<br />

publico para que t odos soubesse m do seu at o, e de certa for ma, refletisse m sobre os padr ões e<br />

a condi ção da mul her na sociedade e é isso a que se propõe o Realis mo, apresentar a verdade,<br />

retratar na literat ura a verdade da época, através de seus personagens, da emoção destes, do<br />

subj eti vis mo, como afirma Afrâni o Couti nho.


As personagens do realis mo são antes indi ví duos concret os, conheci dos, do<br />

que tipos genéricos. Os inci dent es do enredo decorre m do caráter das<br />

personagens, e os moti vos humanos domi na m a ação. São seres hu manos<br />

compl et os, vi vos cuj os moti vos e razões de ação, e moção, o Realis mo<br />

retrata e interpreta. ‖( COUTI NHO, 2004 p. 10)<br />

Dentro da perspecti va realista nos propo mos a analisar dois dos personagens mais conheci dos<br />

do Realis mo dentro desta te mática de adultéri o que são Ema Bovary, de Fl aubert e Luisa, de<br />

Eça de Queirós.


3.0- A CONTRI BUI ÇÃO DA SOCI EDADE PARA O ADULTERI O FEMI NI NO NO<br />

SECULO XI X.<br />

3. 1 EMMA E SUA I NSUPORTAVEL I NFELI CI DADE<br />

Ant es de começar, esclarece-se que as obras aqui investi gadas serão tratadas respecti va ment e<br />

de M. B para Mada me Bovar y e P. B para O Pri mo Basílio, no i nt uito de dei xar menos<br />

enfadonha as analises.<br />

Aqui nos propomos a fal ar sobre a infeliz Ema Bovary e não se pode di zer que era se m<br />

moti vo, pois, pel o seu hist órico de vi da, já percebe mos que tipo de vida tivera desde a<br />

juvent ude. Seu pai só pensava e m se livrar da filha, ―já que era mul her e não servia‖. El e<br />

dei xou transparecer isso, pois o própri o Carl os, esposo de Ema, percebeu, quando este pensa:<br />

― O Vel ho Rouault não se desgostaria de se livrar da filha que de nada lhe servia e m casa.<br />

( M. B, pág. 36)‖. Emma era uma mul her que nunca estava satisfeita com nada, nada a<br />

preenchi a, pois ela sonhava com uma vi da de gl a mour, e buscava nas coisas externas, o<br />

preenchi ment o para tal vazi o com o casa ment o. Assi m, Carl os foi sua pri meira tentativa de ter<br />

u ma vi da de sonhos, mas frustrou-se, então, desde de muit o cedo, já pensava na mort e como<br />

fi m das suas angustias.<br />

Co mprara um bl oco de papel, uma caneta e envel opes, apesar de não ter<br />

ni ngué m a que m escrever; sacudi a o pó da prateleira, ol hava-se no espel ho,<br />

pegava um livro, depois, devaneando nas entrelinhas, dei xando-o cair o<br />

col o. Ti nha desej os de viajar, de voltar para o convent o. Ambi ci onava, ao<br />

mes mo te mpo, morrer e residir em Paris.( M. B, p. 78).<br />

Carl os, por sua vez, encontrava e m Ema a oport uni dade de ter uma esposa, pois estava vi úvo<br />

e se senti ndo sozi nho, ent ão casa com Emma, mes mo não a a mando como pode mos ver no<br />

trecho segui nte:<br />

Entretant o, agora possuía, para toda a vi da, aquela mul her bonita, a que m<br />

adorava. Para ele o mundo não é ale m da sua sedosa circunferência das suas<br />

saias: achava que não a a mava o suficiente e sentia saudades dela‖.( M. B, p.<br />

48)<br />

Por outro lado Emma ta mbé m descobria após o casa ment o que não amava Carl os e se<br />

questi onava sobre felicidade, e de certa for ma idealizava o casa ment o, o home m, aquel e<br />

prí nci pe encant ado que via nos livros, homens gentis, educados a mor osos e viris.<br />

Ant es de casar, jul gara sentir amor; mas como ventura result ant e desse<br />

a mor não aparecia com certeza se enganara, pensava ela. E saber qual era, a


final o si gnificado cert o nesta vi da, das palavras felici dade, pai xão e<br />

e mbriaguez que lia tant o nos livros. ( M. B, p. 48)<br />

El a vi vera sua infância ―trancada‖ e m um convento e quase não conhecia o mundo fora del e e<br />

da fazenda, só o mundo da leitura, em que devaneava com o que lia. Qui zera vi ver e m al gu m<br />

vel ho solar, como aquelas castelãs de corpetes co mpri dos e assi m, ―que sob os ornat os das<br />

ogi vas, passava os dias co m cot ovel o apoi ado ao peit oril e o quei xo na mão , a espera de ver<br />

surgir ao extre mo horizont e al gum caval o pret o‖.(M. B, p. 51)<br />

Emma, nessa época de convent o, e conseqüent e ment e, de leitura, conheceu através dos livros,<br />

a Maria St uart por que m teve verdadeira adoração, assi m como uma admiração pel as<br />

mul heres ilustres ou i nfelizes. Di ante disso pode mos ressaltar que as leituras lhe satisfazi a m, e<br />

que desde de cedo Emma anseia uma vi da com a mor, com brilho e felici dade, vi da se m<br />

submi ssão, se m mes mi ce e começa a se deparar com sua reali dade diferent e após o<br />

casa ment o. Ela começa a se sentir frustrada e infeliz com Carl os, que em nenhu m mo ment o<br />

voltava a atenção para estes ansei os e isso cada dia ia desiludi ndo Emma, como se ver a<br />

seguir:<br />

Se Carl os[...]quizesse, se ele suspeitasse de se mel hante coisa, se o seu ol har,<br />

u ma úni ca vez, fosse ao encontro do seu pensa mento[...] Mas, a proporção que<br />

mai s se apertava a inti midade da sua vi da, mais au ment ava essa espéci e de<br />

desapego i nteri or que a desligava dele.( M. B, p.. 56)<br />

Carl os e m nenhu m mo ment o se interessava pel os pensa ment os da esposa, por seus desej os de<br />

mul her, não a dava carinho, não se i mportava co m seus probl e mas, e o relaci ona ment o dos<br />

dois se tornava cada dia mais mecâni co. ―Suas expansões havi a m-se tornado regul ares,<br />

beijava-a e m horas certas, era um hábit o como os outros é como que uma sobre mesa prevista<br />

com ant eci pação, após a monot oni a do jantar ―.( M. B, p. 58)<br />

Desse modo Emma se sentia angustiada, quando em seus pensa ment os e reflexões t omava<br />

consciência do quant o infeliz estava com aquel a situação monót ona de casa ment o, pois tinha<br />

depositado t oda a sua felici dade naquel a união, naquel e casa ment o e como tinha consci ênci a<br />

do que l he acont eceria di ante de uma separação se indagava: ― – Mas meu Deus! Para que<br />

casei? E pergunt ava a si mes ma se haveria um meio, por quais quer combi nações do acaso, de<br />

encontrar outro home m. ( M. B, p. 59)<br />

E nessa monot oni a da vi da, conti nuava a sobrevi ver entre os devanei os e e m al guns


mo ment os pensava na morte. ―Ti nha desej os de viajar, de voltar para o convent o.<br />

Ambi ci onava, ao mes mo tempo morrer e resi dir em Paris. ( M. B, p. 78).<br />

Al guns críticos dizem que Emma não sabia o que queria, observa-se, porém que ela sabi a si m!<br />

Queria ser feliz, queria uma vi da vi va, não uma existência medí ocre e sombria e era a<br />

felici dade que ela enxergava nos seus a mores escondi dos, por que na sua época a<br />

possi bilidade de escol her era re mot a, a possi bilidade de um di vórci o ne m passava pel a cabeça<br />

de Emma, e m virt ude da sociedade medí ocre e m que vi via, em que a mul her era predesti nada<br />

a casar e vi ver para o resto da vi da.<br />

Confi gura-se desse modo que Emma não se confor mava com o desti no de ser domi nada, de<br />

ser submi ssa e procurava se mpre o ―home m‖, o ―amant e‖ que pudesse tirá-la daquel e lugar já,<br />

que sozi nha não poderia seguir sua vi da, pois além da discri mi nação que sofreria sendo uma<br />

mul her separada, não saberia vi ver sozi nha, pois não conheci a o mundo. E assi m, a vi da<br />

segui a seu rumo e Emma, a mul her prendada, ora se tornava uma mul her deslei xada devi do as<br />

suas a mar guras, sua vi da triste, sua infelici dade transbor dava que ela não tinha mais atenção<br />

a nada, ne m pra casa nem pra si. ―Agora ela dei xava t udo ir ao léu, de modo que, quando sua<br />

sogra foi passar parte da quares ma e m Tost es, não pode ocultar a admiração‖.( M. B, p. 84)<br />

E é e m mei o a toda essa angustia e desprezo de si mes ma e cansaço de sua existênci a que<br />

surge Leon na sua vi da se m graça. Ho me m culto, não gostava de política, conversava sobre<br />

literat ura, gostava de ver o pôr-do-sol, total ment e o opost o do seu mari do, mas não se envol ve<br />

fisica ment e com Leon, apesar dele lhe dá atenção, querer saber sobre ela e mostrar-se<br />

interessado nos seus pensa ment os. Mas como tudo cansa, Leon cansou de a mar sozi nho e<br />

deci de ir embora. [...] ―Leon estava cansado de amar se m resultado [...] quando nenhu ma<br />

esperança a esti mul a‖. (M. B, p. 142), Emma acaba se tornando mãe de uma filha de Carl os,<br />

poré m ne m esse acont eci ment o subli me na vi da de t oda mul her, preenche o vazi o de sua<br />

existência, desejava que aquela criança que estava no seu ventre fosse um meni no, pois<br />

conhecia muit o be m o sofri ment o de ser mul her na sociedade e m que vi via.<br />

Um ho me m, ao menos é livre; pode percorrer as pai xões e os países, saltar<br />

obstácul os e gozar dos prazeres mais raros. Uma mul her anda conti nua ment e<br />

rodeada de e mpecil hos. Inerte e ao mes mo te mpo flexível, tem contra si as<br />

franquezas da carne e as dependênci as da lei.‖ ( M. B, p. 110)<br />

Ema ti nha sede e m ser feliz, tinha uma carênci a afetiva enor me e esperava que o a mor


esol vesse grande parte de sua i nfelici dade, e começava a ver e m Leon esta possi bili dade e<br />

não i nterrogava esse a mor, este senti ment o, por que, para ela, o ―a mor, no seu ent ender, devi a<br />

surgir de repent e, com ruí dos e ful gurações, tempest ade dos céus que cai sobre a vi da e<br />

resol ve, arranca as vont ades como fol has e arrebat a para o abis mo o coração i nteiro‖ ( M. B,<br />

p. 122)<br />

Dessa for ma ela se sente cul pada pel os senti ment os que sente por Leon e se arrepende por<br />

nutrir um senti ment o por outro home m, por que era casada, e esta culpa é tanta que ela<br />

começa a dar mais atenção ao esposo a se voltar para os afazeres domésticos pensando ela<br />

está se livrando das qualidades carnais. Di a após di a ela conti nuava cal ma e doce, poré m, no<br />

fundo, estava revoltada, sentia desej os de rai va, ódi o, ela se ol hava e sentia-se escondi da do<br />

mundo.<br />

Emma estava se maltratando para conseguir de si mes ma a redenção para o seu ―pecado‖, pois<br />

com isso estava maltratando seu corpo, conseqüent e ment e puni ndo - se pelos desej os que ora<br />

sentia por Leon e, dessa, pode-se dizer que a mulher, muitas vezes, não é puni da pel os seus<br />

erros e si m pel a sua sexuali dade, por querer vi ver sua sexuali dade é o que ressalta Muraro<br />

quando fala que:<br />

[...] no cristianis mo, a sexuali dade é defi nitiva ment e a cul pa da mul her. O<br />

argument o usado era o fato de que, por causa da mul her, o home m se<br />

afast ou de deus. Portant o a mul her é o instrument o do de môni o. ( MURARO,<br />

2000, p. 14).<br />

Emma era uma mul her a mar ga, sentia uma revolta interna muit o forte; revoltava-se com a<br />

vi da mesqui nha que tinha, poré m essa revolta era apenas pra si, revoltava-se contra seu corpo,<br />

seus afazeres domésticos, pela falta de paz, pela felici dade que se mpre almej ou e via os dias<br />

passare m e esta felici dade não aparecia. Toda a sua revolta e repudi o, ela transferia para o<br />

esposo, pois precisava encontrar um cul pado por toda aquel a infelici dade. At é a bondade do<br />

esposo, Carl os era al go que l he causava rai va. ―Teria queri do que Carl os a espancasse para<br />

poder com mais justiça det está-lo, vi ngar-se dele‖ ( M. B, p. 133)<br />

Emma era uma mul her tão i nfeliz e a mar ga que ne m a própria filha trazia a ela um pouco de<br />

felici dade e paz, achava a filha, Berta feia e não sentia graça nenhu ma em ser mãe e até<br />

chegou ao cumul o de maltratar a meni na:<br />

―- Dei xe- me‖! Repeti u Ema, irritada. A expressão de seu rost o assust ou a<br />

criança, que pôs a chorar.


- Ora, dei xe- me fez a moça afastando-a com o cot ovel o. Berta foi cair no pé<br />

da cômoda, contra a qui nta de cobre, feri ndo o rosto e fazendo sangue.<br />

( M. Bovary p. 140)<br />

Quando Leon vai e mbora, Emma perde seu motivo de vi ver e se arrepende por não tê-l o<br />

segurado, [...] ―ele partira, o úni co encant o de sua vi da, a úni ca esperança possí vel de uma<br />

felici dade! Por que não agarrara aquel a vent ura, quando ela lhe aparecera? ( M. B, p. 150)<br />

O fat o de Emma ter se envol vi do com Leon, mes mo sendo uma relação plat ônica, dá a ela<br />

u ma certa experiência, um pouco de idéia de como seria a vi da, vi vendo aquela experiênci a<br />

com al gué m que ela gostava de conversar, que a escut ava, que era elegante, diferent e do que<br />

el a vi via. Quando ele vai e mbora, ela no fundo se arrepende de não ter vi vi do de for ma<br />

intensa aquel e a mor. Ela não vi veu, não por não sentir vont ade de estar com el e, mas pel a sua<br />

condi ção de casada e por que ela sabia dos riscos que correria diante de u ma separação, de<br />

como ela seria execrada pela sociedade vi gent e. Di ante da i mpossi bilidade de vi ver suas<br />

e moções e desej os, após a partida de Leon, ela começa a repensar suas atitudes e mei o que se<br />

revolta com essa sociedade, praticando al guns atos como for ma de afronta aos cost umes da<br />

sua época como vere mos nos trechos segui ntes:<br />

[...] uma mul her que i mpuzera a si mes ma sacrifíci os tão penosos podi a ter<br />

fantasias.[...] penteava-se á chi nesa, com caracóis, em tranças; repartia o<br />

cabel o de lado e envol via-o para bai xo como ho mem. [...] apost ou um di a<br />

com o mari do e m como era capaz de tomar mei o copo de<br />

aguardent e[...]engoli u a aguardent e até o fi m.( M. B, p.151).<br />

E é e m mei o a esta revolta, tristeza e soli dão de Emma, por ter perdi do Leon, que surge<br />

Rodolfo Boul anger, um home m irre medi avel ment e sedut or e, como todo sedut or muit o<br />

observador das mul heres, e logo percebe a carência de Ema.<br />

[...] parece- me be m est úpido o mari do. Ela está de cert o, cansada. Que<br />

grosseiro! Traz as unhas sujas e uma barba de três dias[...]pobre moça<br />

suspira pel o a mor[...]com três palavras de galanteio aquil o será posse<br />

adorável, tenho certeza!( M.B, p. 156).<br />

Não de morara muit o para que Emma, com seu vazi o i mpreenchí vel e sua infelici dade<br />

constant e se rendesse ao char me e as investi das de Rodolfo, apesar de resistir durant e um<br />

tempo. ―[...] outras vezes para afastar os ra mos, ele passava rente dela[...]Ema sentia o j oel ho


del e roçar-l he a perna[..]sentara m-se e m um tronco caí do e Rodolfo pôs-se a falar-l he do seu<br />

a mor[...]preciso da senhora para vi ver; preciso dos seus ol hos, da sua voz, de seu<br />

pensa ment o‖.( M. B, p. 187- 189) El a se revoltara, de vez enquando, procurando evitar o ol har<br />

do rapaz.<br />

E diante da insistênci a e dos apel os de Rodolfo Ema se entrega como vere mos ver no trecho<br />

segui nte da obra.<br />

O pano de seu vestido prendeu-se ao vel udo do casaco dele. Curvou o al vo<br />

pescoço, que se dilat ou com u m suspiro; e, se mi desfaleci da, banhada e m<br />

prant o com um frê mit o longo, ocultando o rost o, el a entregou-se.( M. B,<br />

p. 189).<br />

Emma vi a nova ment e em Rodolfo as aspirações para sua felici dade, al gué m para conversar,<br />

para falar de suas a mar guras e seus sonhos, al gué m que a visse como gent e. El a tinha uma<br />

necessi dade de ser vista, de ser al gué m, tant o que pedi a para que Rodolfo l he cha masse pel o<br />

no me. ―O dia segui nte transcorreu com novas doçuras. Trocara m j ura mentos. A moça cont ou<br />

seus pesares. El e interrompi a-a para beijá-la; e ela ol hando- o com as pál pebras se mi cerradas,<br />

lhe pedi a que a cha masse pel o nome e repetisse que a a mava‖. ( M. B, p. 191)<br />

Ema não se sentia a mante, para ela era como se seu a mor fosse t udo, justificasse tudo, ela não<br />

pensava nas convenções sociais, não tinha o comporta ment o de a mant e, não tinha mal dade,<br />

queria apenas ser feliz, tant o que Rodolfo l ogo se cansa das aspirações de Ema, tão i ngênua<br />

que acreditava real ment e no a mor daquel e homem que fizera de t udo para que ela cresse nos<br />

seus senti ment os:<br />

Ade mais, ela se tornara muito senti ment al.<br />

Fora preciso trocare m-se mi ni at uras, cortare m madei xas de cabel o; e ela<br />

pedi a agora um anel, um verdadeiro anel de casa mento, e m si nal de esti ma<br />

eterna.[...] falava-l he ai nda da sua mãe e da del e. Esse a mor se m<br />

libertinage m era para o moço al go de novo que, arrancando-o de seus<br />

hábit os comuns, lhe afagava ao mes mo te mpo o orgul ho e a<br />

sensuali dade. Ent ão seguro desse a mor dei xou de se constranger e,<br />

insensi vel ment e, suas maneiras mudara m. E Ema percebeu o l odo. Não<br />

queria acreditar e m tal; redrobou de ternuras e Rodolfo cada vez mais<br />

menos ocultava a indiferença.( M. B, p. 200)<br />

Ema nessa altura, após todos os acont eci ment os de sua vi da, suas avent uras e suas frustrações,<br />

já tinha aprendi do al go que l he tocara de for ma subj eti va e pode mos perceber isso quando ela<br />

faz uma reflexão da sua vi da, começando pel a infânci a e do que vi vera até aquele mo ment o e


questi ona-se sobre a sua infelici dade e te m, pela pri meira vez, um gest o de cari nho pel a sua<br />

filha Berta.<br />

Que felici dade aquele te mpo! Que liberdade! Que esperança! Que mundo de<br />

ilusões! Nada mais valia dele agora! Ela consumira tudo nas avent uras da<br />

sua al ma, e m t odos os seus estados sucessi vos na virgi ndade, no seu<br />

casa ment o, no a mor-perdera tudo, assi m, conti nua ment e, no transcorrer de<br />

sua vi da, como viandant e que dei xa al guma coisa de sua riqueza e m t odos<br />

os pousos do ca mi nho. Mas que m a fizera tão infeliz?Onde estava a<br />

catástrofe extraordi nária que a es magara?E ela ergueu a cabeça, ol hando á<br />

sua volta, como a buscar a causa do que a fazia sofrer. Co mo eu te a mo,<br />

mi nha pobre filha, como eu te a mo!( M. B, p. 2003).<br />

Por fi m, como era de esperar, Rodolfo abandona Emma, após t odas as enrol ações, enganando-<br />

a, dizendo que a levaria para Paris, esse era o sonho del a, poré m Rodolfo, após despertar<br />

todas as suas expect ativas, escreve uma carta dando descul pas para não fugir com ela como se<br />

ver a seguir:<br />

- Va mos-disse consi go mesmo-co mece mos!<br />

E escreveu:<br />

―Corage m, Ema! Corage m! Não quero fazer a desgraça da tua existência...‖<br />

- E é verdade-refletiu.[...]deteve-se, procurando aqui uma boa saí da:<br />

-Se lhe dissesse que perdi toda mi nha fort una?... Não! E, depois isso não<br />

seria e mbaraço. daria marge m para reconciliação, mais tarde. Vá lá a gent e<br />

convencer tais mul heres!Pensou, pensou e acrescent ou:<br />

Só a idéia das tuas aflições tort ura- me. Ema! Esquece- me! Por que havi a eu<br />

de te conhecer-te?Para que havi as de ser tão bela?<br />

- Eis uma frase que se mpre produz efeito-pensou.<br />

― Ah! Se tu fosses uma dessas mul heres frívolas, como se vêe m por ai, eu<br />

poderia certa ment e, por egoís mo, tentar uma experiência, então se m peri go<br />

para ti.<br />

- El a tal vez pense que é por avareza que renunci o... Ora! Que i mport a! Tant o<br />

pi or, é preciso acabar com isso!<br />

-parece- me que é tudo. Ah! Mais uma coisa; tenho recei o de que ela ai nda<br />

venha procura- me:<br />

― Quando t u leres estas tristes linhas, estarei longe; quero agir o mais<br />

depressa possí vel, para evitar tentações de recer-te. Releu a carta. Pareceulhe<br />

boa.<br />

-Pobre mul her!-Pensou enternici do. - Vai ver que sou mais insensí vel que<br />

u ma pedra; devia levar vestígi o de lagri mas; mas não posso chorar – a cul pa<br />

é mi nha. Derra mou água em u m copo, mol hou o dedo e dei xou cair uma<br />

grande gota sobre o envel ope. ( M. B, p. 235-236).<br />

Emma di ante do que lê fica apavorada e lhe ve m nova ment e o desej o de morrer, acabar com<br />

sua existência de infelicidade.


Apoi ara-se ao vão da janela e relia a carta com acesos de cólera. Quant o<br />

mai s, poré m, prendi a nela a atenção, mais se lhe e mbaral hava m as idéias.<br />

Tor nava a vê-l o, a ouvi-lo, a abraçá-l o, sentia as batidas do coração no peit o<br />

como grandes gol pes de aríete, acelerando-se umas após outras e m<br />

interval os desi guais. [...] Por que não daria fi m a tudo? Que a sustava,<br />

ai nda?Era livre, podi a fazê-l o. Avançou e ol hou para a calçada, dizendo<br />

consi go mes ma:- Va mos, Va mos!( M. B, p. 237-238)<br />

Ema fica doent e, se entrega as dores das suas amar guras, defi nitiva mente desiste de vi ver e<br />

e m mei o a tristeza e cul pa busca fuga na religião.<br />

Co mpr ou rosári os e começou a trazer a mul et os; aspirava ter e m seu quart o,<br />

á cabeceira da ca ma, um relicário e mol durado de es meral da para beijar<br />

todas as noites [...]e quanto a le mbrança de Rodolfo, enterrara-a be m no<br />

fundo do seu coração; e lá estava, mais solene e i móvel que uma mú mi a real<br />

e m um subterrâneo.( M. B, p 246/ 247).<br />

E assi m como Emma encontrara e m Rodolfo a ―cura‖ para sua crise existencial, ver no<br />

reencontro com Leon a for ma para esquecer de vez Rodolfo, e de certa for ma, era como se<br />

esti vesse ret omando al go da vi da que ela dei xara escapar, era uma segunda chance de<br />

aproveitar aquela sensação, já que, desde o começo da sua existênci a, ela se mpre teve e m<br />

ment e que quando t odas as suas tentativas de sere m felizes fosse m frustradas, a úni ca saí da<br />

era a morte, já que seria assi m, ela não dei xa essa chance escapar e vi ve um a mor ilícit o com<br />

Leon, poré m não de morara muit o para perceber que este era igual a todos os outros, pois<br />

assi m como Rodolfo, Leon l he abandonou ta mbém. Para ocultar seus a mores ilícitos e aliviar<br />

suas dores acabou se afundado e m di vi das e nenhu m dos seus ―a mores‖ fora m capazes de<br />

aj udá-la, e é se senti ndo só e e m apur os que ela defi nitiva ment e se encoraja e encontra a fuga<br />

para sua i nsuportável infelici dade no Arsêni co.<br />

3.2- LUI SA: O MEDO DE ENFRENTAR A VI DA A MATOU.<br />

A obra de Eça de Queiroz não se furta as características da época, va mos ver e m ― O Pri mo<br />

Basílio‖ mais um triangulo a mor oso compost o por Luisa esposa de Jorge e Basílio o a mant e.<br />

Co mo t odo casa ment o, na época, o de Luisa e Jorge ta mbé m te m sua conveni ência. Ela evita<br />

de ficar solteira, e ai nda casa com um bo m partido, ta mbé m encontra e m Jor ge uma saí da para<br />

esquecer sua pai xão mal resol vi da da j uvent ude, o pri mo Basílio. Jorge por sua vez passa a ter<br />

u ma esposa bonita e inteligente, di gna de ser apresent ada a sociedade e de estar ao lado de um


ho me m como ele, be m sucedi do e inteligent e.<br />

Só que essa aparent e har moni a matri moni al vai sofrer um forte abal o, a partir do mo ment o<br />

que reaparece na vi da de Luisa, a sua pai xão antiga, seu a mor de adol escênci a, o seu pri mo<br />

Basílio.<br />

Que Luisa fora uma mulher romântica, infeliz e ingênua, já sabe mos, mas um outro aspect o a<br />

observar nesta mul her é a sua covardia, no senti do de que nunca foi capaz de contrariar seu<br />

mari do, ne m mes mo quando se tratava de sua a miga mel hor a mi ga a Leopol di na. Luisa dava<br />

se mpre descul pas para as visitas da a mi ga e m sua casa, també m não dizia para a a mi ga que<br />

não mais a queria e m sua casa, em resumo, para não desgostar a a mi ga ne m aborrecer seu<br />

mari do, ela era hi pócrita e falsa com os dois.<br />

Era verdade, tinha vi ndo a Leopol di na. Juliana mandara-a entrar... Ficara<br />

mai s contrariada! Era por causa da adresse da francesa dos chapéus. Ti nhase<br />

de morado dez mi nut os. - Que m te disse?<br />

- Foi a Juliana; que a senhora D. Leopol di na tinha estado t oda a tarde.<br />

- Toda a tarde! Que t olice! Est eve dez mi nut os, se tanto!<br />

(P. B, p. 29)<br />

Jorge, diz horrores de Leopol di na na frent e de Luisa e ela e m nenhu m mo ment o pede para que<br />

o seu esposo tenha respeito pela a mi ga, ele acaba proi bi ndo Luisa de receber Leopol di na e m<br />

sua casa.<br />

Ouve lá, é necessári o que dei xes por uma vez de receber essa criat ura. É<br />

necessári o acabar por uma vez!<br />

Luísa fez-se escarlate.<br />

- É por causa de ti! É por causa dos vizi nhos! É por causa da decência!<br />

- Mas foi a Juliana... - bal buci ou Luísa.<br />

- Mandasse-a sair outra vez. Que estavas fora! Que estavas na Chi na! Que<br />

estavas doent e!<br />

Parou, com um t om desconsolado, abri ndo os braços:<br />

- Mi nha rica filha, é que todo o mundo a conhece. É a Quebrais! É a Pão e<br />

Queij o! É uma vergonha!<br />

Cit ava-l he os seus a mantes, exasperado: o Carl os Vi egas, o magr o, de<br />

bi gode caí do, que escrevia comédi as para o Gi nási o! O Sant os Madeira, o<br />

pi cado das bexi gas, com u ma gafori nha! O Mel chior Vadi o, um gi ngão<br />

desossado, com um ol har de carneiro mort o, se mpre a fumar nu ma enor me<br />

boquil ha! O Pedro Câ mara, o bonit o! O Mendonça dos cal os! Tutti quanti!<br />

(P B, p. 30)


Luisa não defende a a mi ga e, mes mo contrariada, ai nda concorda com o mari do di zendo que<br />

el e te m razão.<br />

- Co mo se eu não percebesse que ela esteve aqui! Só pel o cheiro! Est e<br />

horrí vel cheiro de feno! Vocês fora m criadas juntas, etc.; tudo isso é muit o<br />

bo m. Hás de descul par, mas se a encontro na escada, corro-a! Corro-a!<br />

Parou um mo ment o, e comovi do:<br />

- Ora, va mos, Luísa, confessa. Tenho ou não razão?<br />

Luísa punha os bri ncos, ao espel ho, atarantada:<br />

- Tens - disse.<br />

- Ah! Be m! E sai u furi oso. ( P. B, p. 30)<br />

Todavi a Luisa grita com Juliana, pois esta é sua subordi nada, é sua criada ressaltando ai nda<br />

mai s sua covardi a, pois com o di gníssi mo esposo ela concorda e a corda arrebent a pro lado da<br />

criada, revelando as desigual dades sociais, através da condi ção submi ssa da e mpregada, tal qual<br />

a de Luisa perante o seu mari do..<br />

Luísa ficou i móvel. Uma lagri mazi nha redonda, clara, rolava-l he pel a asa<br />

do nariz assoou-se muito dol ori da ment e. Aquela Juliana! Aquel a<br />

bisbil hoteira! De má! Para fazer cizânia!<br />

Vei o-l he então uma cólera. Foi ao quart o dos engomados, atirou com a<br />

porta:<br />

- Para que foi você dizer que m esteve ou que m dei xou de estar?<br />

Juliana, muit o surpreendi da, pousou o ferro:<br />

- Pensei que não era segredo, mi nha senhora.<br />

- Está claro que não! Tola! Que m l he diz que era segredo? E para que<br />

mandou entrar? Não l he tenho dito muitas vezes que não recebo a senhora<br />

D. Leopol di na?<br />

- A senhora nunca me disse nada - replicou t oda ofendida, cheia de verdade.<br />

- Ment e! Cale-se!<br />

(P. B, p. 30)<br />

Quando Juliana descobre o romance dela com Basílio e passa a chantajeá-la, Luisa, o te mpo t odo<br />

tenta adiar as decisões e se recusa a resol ver os seus probl e mas se submet endo até os últi mos<br />

mi nut os de sua vi da, às chant agens da criada. Ela fora incapaz de enfrentar a situação,<br />

pr eferi ndo defi nhar-se a cada dia e, neste aspect o, é que se percebe a diferença entre as duas<br />

―heroí nas‖, pois diferente ment e de Ema, Luisa é de uma passi vi dade que chega a irritar o<br />

leitor. Luisa é de tal passi vi dade que era capaz de fazer qual quer coisa para que Jorge não<br />

descobrisse o seu romance com o Basílio, ela até suportaria ser mais ou menos feliz ao lado<br />

do esposo, poré m o que mai s te mi a era que ele descobrisse e a mat asse ou a mandasse para o<br />

convent o e, em mei o às lembranças dos encontros com Basílio, ela ficava i nerte e refletia<br />

sobre os acont eci ment os da sua vi da.


Se ele soubesse mat ava. Fez-se muit o páli da. Ol hava vaga ment e e m redor o<br />

casaco de vel udo de trabalho dependurado num prego; a mant a e m que ele<br />

e mbr ul hava os pés dobrada a um lado; as grandes fol has de papel de<br />

desenho na outra mesa ao fundo, e o potezi nho de tabaco, e a cai xa das<br />

pist olas!... Mat ava-a decerto!<br />

( P. B, p. 136).<br />

Al é m do medo de ser morta por Jorge, Luisa també m ti nha medo de que este lhe mandasse<br />

para o convent o e desejava que Jorge de morasse mais na sua viage m ou então que fosse<br />

mandado para mais longe, para que assi m, ela ganhasse mais tempo. Mes mo vi vendo<br />

angustiada, mes mo sendo mais ou menos feliz, el a queria prol ongar aquel e sofri ment o, por<br />

temer as conseqüênci as que sofreria pel o mari do caso este soubesse do seu a mor ilícit o com<br />

Basílio.<br />

Que faria ele, se soubesse? Mat á-la-ia? Le mbrava m- lhe as suas palavras<br />

muit o sérias, naquela noite, quando Ernestinho cont ara o final do seu<br />

dra ma... Met ê-la-ia numa carruage m, levá-la-ia a um convent o? E vi a a<br />

grossa portaria fechar-se com um ruí do funerário de ferrol hos, ol hos<br />

lúgubres est udá-la curi osament e...( P. B, p. 210)<br />

Luisa procurava descul pas se mpre que se deparava com um probl e ma, sempr e procurava uma<br />

fuga, um cul pado, uma circunstanci a, para tudo que acont eceu com ela, mas não se admitia<br />

como prot agonista de sua hist oria.<br />

E do fundo da sua nat ureza de pregui çosa vi nha-lhe uma i ndefi ni da<br />

indi gnação contra Jorge, contra Basílio, contra os senti ment os, contra os<br />

deveres, contra tudo o que a fazia agitar-se e sofrer. Que a não secasse m,<br />

Sant o Deus![...] E juntava ao acaso argument os, uns de honra, outros de<br />

senti ment o, para o a mar, para o respeitar. Tudo era por ele estar fora, na<br />

proví ncia! Se ele ali estivesse ao pé dela! Mas tão longe, e de morar-se<br />

tant o! ( O Pri mo Basílio, p.93-94).<br />

Luisa tinha tant o medo da morte, isto é, das conseqüênci as de sua aventura a mor osa com<br />

Basílio, que não percebia que a sua existência vivendo sobre t oda aquel a pressão era a pi or<br />

for ma de morrer. Na verdade o que acont eceu com Luisa foi expressão do medo e da covar di a<br />

de enfrent ar a vi da de frent e e diante disso se submet eu, até o seu li mite, as chant agens da sua<br />

criada, tant o que chegou a desejar ir por cont a própria para um convent o, lugar onde ela não<br />

queria ir de jeito nenhu m.


Luísa defi nhava-se. At é onde iria a tirania de Juliana? Era agora o seu<br />

terror. E como a odiava! Segui a-a por vezes com um olhar tão intensa ment e<br />

rancoroso, que receava que ela se voltasse subita ment e, como feri da pel as<br />

costas.[...] Às vezes vi nha-lhe uma revolta, torcia os braços, blasfe mava,<br />

debatia-se na sua desgraça, como nas mal has de u ma rede; mas, não<br />

encontrando nenhu ma sol ução, recaía numa mel ancolia áspera - e m que o<br />

seu gêni o se pervertia.[...] A vi da pesava-l he. Vi nham-l he, por mo ment os,<br />

de repent e, desej os de fugir, ir met er-se num convent o!( P. B, p. 229)<br />

O medo de vi ver de Luisa foi, de certa for ma, o que a mat ou, pois diante de suas a mar guras<br />

el a foi ficando debilitada e em conseqüênci a morria aos poucos, afi nal e m muit os mo ment os a<br />

sua covardia foi tamanha que ela desejava a morte. Desej ava morrer!...A que pont o ti nha<br />

chegado!...e foi assi m defi nhando a cada dia, tant o pel os arrependiment os como pel os<br />

maltrat os a que tinha se submeti do para que seu romance com Basílio não viesse a tona.<br />

Assi m Luisa padeceu até a morte. Mes mo depois que Jorge cont ou que já havi a descobert o<br />

tudo, através de uma carta de Basílio direci onada a Luisa e que a perdoaria, ela se entregou a<br />

mort e, porque i magi nava como seria a convi vência com Jorge. Se ant es ele já era seu ―dono‖,<br />

depois de tudo, como a trat aria? Di ant e da incerteza da vi da ela preferi u a morte.<br />

3. 3- EMA E LUI SA: CONVERGÊNCI AS E DI VERGÊNCI AS.<br />

― Mada me Bovary‖ é um r omance que reflete a reali dade do comporta ment o hu mano no<br />

sécul o XI X. Na referi da obra o aut or col oca e m cont at o com a reali dade a sonhadora Emma,<br />

que se frustra com a i mpossi bilidade de realização dos seus ansei os sentiment ais. El a sonhava<br />

com uma vi da gla mur osa ao lado do tão sonhado prí nci pe encant ado, porém, e a sua decepção<br />

com a vi da começa no casa ment o, pois o mari do e era total ment e o oposto de t udo que ela<br />

sonhara. Emma vi ve duas vezes a mores ilícitos e é abandonada pelos seus a mant es.<br />

Decepci onada, desiludi da, no fundo do poço, ela se ver i mpot ente frente a todos os seus<br />

ansei os, isto é, a i mpossibilidade de concretizá-l os e, se m mais suportar a sua existência, ela<br />

busca a saí da no suicí di o.<br />

Assi m como Madame Bovary, O Pri mo Basílio també m é um romance e m que o aut or retrata<br />

o comporta ment o humano na sociedade do sécul o XI X, e entre estes personagens está Luisa,<br />

u ma moça bonita que, como tant as outras mul heres de classe medi a da época, via o casa ment o<br />

como segurança para a vida fi nanceira e social e, por isso, se casa com Jorge, um home m que,<br />

como tant os carrega a hipocrisia masculi na como se ver no trecho segui nte:


— Est á enganada, D. Felicidade - disse Jorge, de pé diant e dela. - Fal o séri o<br />

e sou uma fera! Se enganou o mari do, sou pela morte. No abis mo, na sala,<br />

na rua, mas que a mat e. Posso lá consentir que, num caso desses, um pri mo<br />

meu, uma pessoa da mi nha fa mília, do meu sangue, se ponha a perdoar<br />

como um la mecha! Não! Mat a-a! É um pri ncí pi o de fa mília. Mat a-a quant o<br />

ant es!<br />

— Aqui te m um lápis, Sr. Ledes ma - gritou Julião, estendendo-l he uma<br />

lapiseira.<br />

O Consel heiro, então, intervei o grave:<br />

— Não - disse -, não crei o que o nosso Jorge fale sério. É muit o i nstruí do<br />

para ter idéias tão...( P. B, p. 41)<br />

Jorge achava que tinha o direito de jul gar as mulheres que tinha m a mant es, cha mando-as de<br />

pr omí scuas, devassas, mas ele própri o teve um caso passageiro e m Al ent ejo do qual apenas o<br />

a mi go Sebastião tinha conheci ment o, mas através de um engano de troca de cartas ele entrega<br />

a Luisa a carta de Jorge para ele cont ando as aventuras a mor osas.<br />

Pr ocurou-as entre outros papéis que tirou da al gi beira. Luísa fora sent ar-se<br />

no sofá; ol hava-o com o coração aos pul os, e as suas unhas i mpaci ent es<br />

raspava m devagari nho o estofo.<br />

— É verdade - dizia Sebastião, revol vendo o maço de papéis - Recebi duas;<br />

fala e m voltar; diz que está muit o secado... - E estendendo uma carta a<br />

Luísa: - Pode ver.<br />

Luísa desdobrara-a, e começava a ler; mas Sebastião, estendendo a mão<br />

preci pitada ment e:<br />

— Per dão, não é essa!<br />

— Não, dei xe ver...<br />

— Não diz nada, são negócios...<br />

— Não, quero ver!<br />

Sebastião, sentado à beira da cadeira, coçava a barba, ol hando-a, muit o<br />

contrariado. E Luísa de repent e, franzi ndo a testa:<br />

— O quê? - A leitura espal hava-l he no rost o uma surpresa irritada. -<br />

Real ment e!...<br />

— São t olices, são tolices! - mur murava Sebastião, muito ver mel ho.<br />

Luísa pôs-se então a ler alto, devagar:<br />

―Saberás, ami go Sebastião, que fiz aqui uma conquista. Não é o que se pode<br />

cha mar uma pri ncesa, porque é ne m mais ne m menos que a mul her do<br />

estanqueiro. Parece está abrasada no mais puro fogo, por este seu criado.<br />

[...] Ol ha se a Luisa soubesse dessa avent ura! De certo, o meu sucesso não<br />

pára aqui: a mul her do delegado faz- me um ol ho dos diabos!‖( P. B, p.. 202-<br />

203).<br />

Luisa era uma mul her sonhadora, frágil e romântica e m virt ude da criação que teve e da<br />

pouca vi vênci a de mundo. Logo após o casa mento com Jorge, este viaja a trabal ho e a dei xa<br />

sozi nha e m casa, ela acaba por dá vazão aos seus sonhos românticos e aos seus senti ment os


pel o anti go na morado, o Pri mo Basílio e acaba se envol vendo e moci onal ment e com o mes mo<br />

mat erializando seus sonhos de a mor romântico. Poré m ao ser descobert o o seu romance com<br />

Basílio pela sua criada co meça a lhe chant agear. Luisa se desespera ao j unt ar o seu re morso<br />

pel a traição ao mari do e a decepção de ser abandonada pel o a mant e e já estando debilitada e<br />

doent e se entrega à morte.<br />

Luisa assi m como Ema sonhava com prí nci pe encant ado, e nunca estava satisfeita com aquil o<br />

que possuía e com a vi da que tinha, diant e disso, o que l he restava era a fuga da reali dade, e<br />

esta advi nha das inúmeras leituras que fazia de ro mances que lia assi m co mo Emma. Ambas<br />

transpunha m o seu mundo real para o i magi nário, elas buscava m neste, o que o presente, a<br />

vi da real não podi a oferecer, como pode mos ver nos trechos das respecti vas obras:<br />

Ema: Quisera vi ver e m al gum vel ho solar, como aquelas castelãs de<br />

corpetes compri dos que sob os ornat os das ogi vas, passava m os dias com o<br />

cot ovel o apoi ado ao peitoril e o quei xo na mão a espera de ver surgir do<br />

extre mo horizonte al gum cavaleiro de pl uma branca gal opando e m u m<br />

caval o pret o. ( M. B. p. 51)<br />

Lui sa: Ri a-se dos trovadores, exaltara-se por Mr. de Ca mors; e os homens<br />

ideais parecia m-l he de gravata branca, nas ombreiras das salas de baile, com<br />

u m magnetis mo no ol har, devorados de pai xão tendo palavras subli mes ( P.<br />

B, p. 20)<br />

É not óri o e m a mbas que a fa mília ( Ema o pai e Luisa a mãe) queria ver as filhas casadas e<br />

por moti vos óbvi os a época, pois as filhas era m criadas para casar, para terem u ma fa mília e<br />

―a mpar o‖ de um ho me m, já que elas não trabal hava m. Isso se dá tant o no hist órico de vi da<br />

de Ema quant o na de Luisa que ao aceitar o pedido de Jorge, pensa logo:- ―Estava noi va,<br />

enfi m! Que alegria, que descanso para a ma mã‖.(O Pri mo Basílio, p. 23).<br />

Ambas casara m-se com ho mens diferent es dos que sonhava m, homens que na verdade não<br />

as a mava m, mas t odo home m que se prezasse no sécul o XI X ti nha que ter u ma mul her, com<br />

Jorge e Carl os não seria diferente. Por outro lado, el as ta mbé m não poderiam ficar solteiras,<br />

pois precisava m de um ―a mpar o‖. Jorge precisava de uma esposa e não pensou duas vezes<br />

e m casar-se com Luisa logo após conhecê-la.<br />

Conheceu Luisa, no verão, á noite, no passei o. Apaixonou-se pel os seus<br />

cabel os louros, pela sua maneira de andar, pel os seus olhos castanhos muit o<br />

grandes. No i nverno segui nte, e casou. ( P. B, p. 17)


Jorge que já tinha tido uma experiência com u ma mul her vi úva, inclusi ve por interesse<br />

financeiro, após a morte desta, se via nova ment e co m a necessi dade de ter u ma companheira.<br />

Depois, vi vera cat orze meses com uma vi úva cuj os pés, na ca ma era m fri os<br />

como gel o. Entretant o, agora, possuía, para toda a vi da, aquela mul her<br />

bonita, a que m adorava.Para ele o mundo não ia ale m da sedosa<br />

circunferência das suas saias; achava que não a a mava o suficiente e sentia<br />

saudades dela. ( M. B, p. 48).<br />

Assi m tant o Emma quanto Luisa procura m sanar sua infelici dade com amores ilícitos para<br />

fugire m da reali dade que as cerca m, um casa mento arrui nado e m cuj os maridos não l hes dão<br />

at enção e não as vêe m como mul heres com desej os e vont ades como be m ressalta Verunschk:<br />

Fl aubert, ao dizer Emma, embora o faça sob a ótica masculi na, traduz<br />

senti ment os e necessi dades que por muit o te mpo fora m negados às<br />

cha madas ― moças de fa mília‖. Senti ment os como prazer, insatifação e<br />

desej o. Emma Bovary é um ser desejante, arde numa busca que o mundo<br />

não pode suprir, busca um mundo supra-real, que não é outro senão o<br />

literári o. ( www. cronopi os. co m. br )<br />

Ema após ter se entregado ao a mor de Rodolfo sentia-se no seu mo ment o de felici dade, aliás<br />

estes são os únicos mo ment os de felici dade que ela vi vera. Ela já tinha sofrido com o fat o de<br />

não ter vi vi do um romance com Leon, pois e se privou desse deleite, em virtude da soci edade<br />

e naquel e mo ment o que aceit ou era como se tivesse se vi ngando da hi pocrisia da soci edade<br />

e m que vi via.<br />

E dizia consi go mes ma:- Tenho um a mant e! Um a mante! Delici ando-se com<br />

essa idéia, como se fora uma nova puberdade que lhe sobreviesse.Ia, afinal,<br />

possuir as alegrias do amor, a febre da felici dade, de que já<br />

desesperara. Entrava e m algo maravil hoso onde t udo era pai xão, êxtase,<br />

delírio; uma i mensi dão azul ada a envol via, os pí ncaros do senti ment o<br />

ci ntilava m sob a sua i maginação, e a vi da coti diana parecia-l he longí nqua,<br />

distante, na sombra, entre os interval os daquelas alturas. Le mbr ou-se das<br />

heroí nas dos livros que havi a lido [...] dessas mul heres adulteras [...] Ema<br />

experi ment ava uma sensação de vi ngança. Pois já não sofrera<br />

bastante?Tri unfava.[...] saboreava-o se m re morsos, sem i nqui etações, se m<br />

desassossego.( M. B, p. 191).<br />

Assi m como Emma, Luisa se sentia vi va após viver uma experiênci a de a mor e prazer com<br />

Basílio, pois sua vi da tornara-se interessant e, como se ver a seguir:<br />

Luisa diante do espel ho ol hava-se, sorria com o seu sorriso quent e, cont ent e<br />

das suas linhas, acariciando devagari nho, vol upt uosament e, a pele branca e<br />

fina [...] vei o-l he, se m moti vo, uma felici dade exuberante; achava tão


delici oso vi ver, sair, ir a encarnação, pensar no seu a mant e!...( O P. B,<br />

p. 143).<br />

Mes mo de for ma diferenci ada as duas se envol vem e m quest ões de di nheiro para sal var seus<br />

respecti vos casa ment os e conseqüent e ment e suas vi das, pois a descoberta pel os seus esposos,<br />

dos seus a mores acarretaria o fi m da vi da de a mbas. Mes mo que seus maridos l hes poupasse m<br />

a vi da, e m pl eno sécul o XI X o adultéri o seria o fim da vi da para uma mul her, porque se o fat o<br />

vi esse a publico, elas seria m expulsa da sociedade e do sei o da fa mília, e em no me da honra, o<br />

esposo com seu orgul ho feri do, poderia até mat ar a esposa.<br />

Ema por seus caprichos endi vi da-se, isto é afunda o mari do e m dí vi das co mprando present es<br />

para o a mant e, roupas para ela, se m o conheci ment o do esposo e por isso mes mo, ela foi<br />

chant agiada pel o comerciant e L’ Laureaux.<br />

Uma noite, quando se recol hia, Leon achou e m seu quart o um tapet e de<br />

vel udo e lã [...] ( M. Bovary p. 122).[...] foi assi m que ela quis ter, para dá-l o<br />

a Rodolfo, um belíssi mo chicote, expost o e m uma l oja de guarda-chuvas e m<br />

Rua. Na se mana segui nte L’ Laureaux o pôs e m cima da mesa, á sua<br />

frente.[...], mas no outro di a, ele se apresent ou com u ma fat ura de 270<br />

francos [...] A moça ficou e mbaraçadissi ma: todas as gavetas da secretaria<br />

estava m vazias; devia m mai s de uma qui nzena a Lestiboudois, dois<br />

tri mestres á criada, uma porção de outras coisas. No co meço, ela consegui u<br />

dese mbaraçar-se de L’ Heureaux; mas ele perdeu a paciência [...]seria<br />

forçado a fazê-la devol ver todas as mercadorias que havi a comprado,( M.<br />

Bovary p. 221)<br />

- Leve-as!-disse Emma.<br />

- Ora! –Isso é pra ri! Eu só lasti mo o chicote. Mas vou recla mar a seu<br />

mari do.<br />

- Não! Não!-fez ela.<br />

― Ah! Apanhei-te‖, pensou L’ Heureux.<br />

[..]ela pensava como sair daquil o , quando a cozi nheira entrou e pôs sobre o<br />

fogão um e mbr ul hi nho de papel azul[...]abri u-o. continha 15 napol eões. Era<br />

a cont a.<br />

- Ora-pensou –Carl os não ira pensar nisso.<br />

[...] em segui da ao chicote de cabo de prata dourada Rodolfo ganhou um<br />

si nete com a di visa Amor nel cor; depois uma fai xa para fazer um cachecol<br />

e , afinal uma ci garreira. (M. B. p. 221-222)<br />

Do mes mo modo, Luisa també m se desespera para arrumar di nheiro para pagar a criada<br />

Juliana, que encontra no lixo os rabiscos das cartas que Luisa escreve para Basíli o e assi m<br />

descobre o romance entre os dois e a a meaça entregar para Jorge caso esta não l he pague pel as<br />

cartas. No mo ment o que Luisa se aborrece com Juliana e a manda e mbora Juliana abre o j ogo<br />

e declara ent ão sua chantage m, começando então o martírio e o sofri ment o de Luisa


- Ol he, sabe que mais? Não est ou para a at urar! E arremessou vi olent a ment e<br />

a vassoura.<br />

- Saia! - berrou Luísa. - Saia i medi ata ment e! Ne m mai s um mo ment o e m<br />

casa!<br />

Juliana pôs-se diante dela, e com pal madas convulsi vas no peit o a voz<br />

rouca:<br />

- Hei de sair se eu quiser! Se eu quiser!<br />

- Joana! - bradou Luísa.<br />

Queria cha mar a cozi nheira, um ho me m, um policia, algué m! Mas Juliana<br />

descomposta, com o punho no ar, toda a tre mer:<br />

- A senhora não me faça sair de mi m! A senhora não me faça perder a<br />

cabeça! - E com a voz estrangul ada através dos dentes cerrados: - Ol he que<br />

ne m t odos os papéis fora m pra o lixo!<br />

Luísa recuou, gritou:<br />

- Que diz você?<br />

- Que as cartas que a senhora escreve aos seus a mant es, tenho-as eu aqui! E<br />

bat eu na al gi beira, feroz ment e.<br />

Luísa fitou-a um mo ment o com os ol hos desvairados e cai u no chão, junt o à<br />

causeuse, des mai ada.( P. B, p. 178-179).<br />

Luisa então procura Basílio, para que a mbos fugisse m, já que ela acreditava no a mor que ele<br />

di zia sentir então arruma as mal as e procura por ele, para que fosse m embora, poré m o seu<br />

a mado diz não, e neste mo ment o, ela sente o peso da decepção e m relação ao ho me m, que<br />

tantas vezes jurara amá-la. É como se tirasse m u ma venda dos seus ol hos e ela real ment e,<br />

pudesse enxergar o mundo e m que vi via, como vere mos nos trechos que segue:<br />

Luísa atirara o saco de marroqui m para o canapé, e, de um fôlego, cont oulhe<br />

a hist ória da carta apanhada nos papéis; as dele roubadas, a cena no<br />

quart o...<br />

— O que me resta é fugir. Aqui est ou. Leva- me. Tu disseste que podi as,<br />

tem-l o dito muitas vezes. Est ou pronta. Trouxe aquele saco, com o<br />

necessári o, lenço, luvas... he m?<br />

Basílio com as mãos nos bolsos, fazendo tilintar o di nheiro e as chaves,<br />

segui a at ônit o os seus gest os, as suas palavras.<br />

[...] É uma questão de di nheiro. O que ela quer é dinheiro. É ver quant o<br />

quer, e pagar-se-l he!<br />

— Não, não! - fez Luísa. - Não posso ficar! - Ti nha uma aflição na voz. A<br />

mul her venderia a carta, mas conservava o segredo; a todo o te mpo podi a<br />

falar, Jorge saber; estava perdi da; não tinha corage m de voltar para casa! -<br />

Não si nt o um mo ment o de descanso, enquant o estiver e m Lisboa. Parti mos<br />

hoj e, si m? Se não podes, amanhã. Eu vou para al gum hotel, onde ni ngué m<br />

sai ba; escondo- me esta noite. Mas, a manhã va mos. Se ele sabe, mat a- me,<br />

Basílio! Si m, dize que si m!<br />

— Agarrara-se a ele; procurava avi da ment e com os seus ol hos o<br />

consenti ment o dos dele.( P. B, p. 189).<br />

Ver-se que tant o Luisa quant o Emma fora m abandonadas por seus a mant es. Poré m percebe-se


que e m cert os mo ment os Emma de monstra uma certa rebel dia mes mo que passageira, já<br />

Luisa e m nenhu m mo ment o consegue se evi denciar com aut ono mi a sobre seus senti ment os.<br />

Basílio na verdade não amava Luisa apenas via nel a uma di versão, e se apr oveit ou do a mor<br />

que ela sentia por ele e do tédi o e soli dão ela vivi a. Em vista disso o covarde ne m t oma o<br />

pr obl e ma para si, muit o pel o contrari o, diz pra Luisa resol ver tudo, que el e apenas entraria<br />

com o di nheiro e ai nda cha ma- a de descui dada como se toda a responsabilidade daquel a<br />

fatalidade, daquel e proble ma, fosse dela. Co mo mostra o trecho segui nte:<br />

— Enfi m; oferece-l he trezent os mil réis, se quiseres. Mas pel o a mor de<br />

Deus, não faças outra; não est ou para pagar as tuas distrações a trezent os<br />

mil réis cada uma!<br />

Luísa fez-se lívi da, como se ele l he tivesse cuspi do no rost o.<br />

— Se é uma questão de di nheiro, eu o pagarei, Basílio!<br />

Não sabia como. Que l he importava! Pediria, trabal haria, empenharia... Não<br />

o aceitaria dele!<br />

Basílio encol heu os ombr os:<br />

— Est ás-te a dar ares; onde o tens tu?<br />

— Que te i mporta? - exclamou.<br />

Basílio coçou a cabeça, desesperado. E tomando-l he as mãos, com u ma<br />

i mpaciência repri mi da:<br />

— Est a mos a dizer tolices, filha, esta mos a irritar-nos... Tu não tens<br />

di nheiro.<br />

El a interrompeu-o, agarrou-lhe vi olenta ment e o braço;<br />

— Pois si m, mas fala tu a essa mul her, fala-l he tu, arranja tudo. Eu não a<br />

quero tornar a ver. Se a vejo, morro, acredita. Fala-l he tu!<br />

Basílio recuou vi va ment e, e batendo com o pé:<br />

— Est ás doi da, mul her! Se eu lhe fal o, então pede tudo, então pede- me a<br />

pel e! Isso é conti go. Eu dou-te o di nheiro, tu arranja-te!<br />

— Ne m isso me fazes?<br />

Basílio não se cont eve:<br />

— Não! Co m os diabos, não!<br />

— Adeus!<br />

— Tu estás fora de ti, Luísa!<br />

— Não. A cul pa é mi nha - di zia, descendo o véu com as mãos trê mul as eu é<br />

que devo arranjar tudo!(P. B, p. 191-192)<br />

Logo pode-se i magi nar o desespero de Luisa, neste mo ment o, pois o a mant e não a aj uda e a<br />

criada a chant ageia. Ela sent e um [...] ―senti ment o pungent e de soli dão e de abandono. Est ava<br />

só, e a vi da aparecia-l he como uma vasta planície desconheci da, coberta de densa noite,<br />

eriçada de peri gos!‖ (P. B, p. 197).<br />

Daquel e mo ment o e m diant e começa a sua saga para arru mar o di nheiro, seiscent os mil réis, e<br />

não poderia de morar, pois Jorge poderia chegar a qual quer mo ment o e ela queria sanar esse


pr obl e ma ant es de sua volta. Co meça a pensar nas pessoas que poderia m l he aj udar, poré m el a<br />

tinha consciência que t odos seus a mi gos, conseqüent e ment e a mi gos de Jorge ia m querer saber<br />

pra que ela precisaria de seiscent os mil – réis, vei o ent ão a idéia de jogar na l oteria, poré m<br />

nada ganhou e o seu desespero cada dia ia crescendo e Juliana óbvi o, ia assistindo a t udo.<br />

Co mo via que a patroa não arrumara o di nheiro, começou a fazer exi gências. Pri meiro foi à<br />

mudança de quart o, depois cômodas, roupas e por fi m não queria mais fazer os afazeres<br />

do mésticos, e Luisa, para que Jorge não not asse os serviços a fazer, começou a lavar, passar,<br />

arrumar seu própri o quarto.<br />

Em mei o aquele sofri ment o, decepções e humil hações, Luisa defi nhava, pois estava vi vendo<br />

sob forte pressão e foi até o banqueiro Castro pedir di nheiro e mprestado, mes mo não sabendo<br />

como iria pagar, ela tomou essa decisão, pois não agüent ava mais as tort uras psicol ógi cas e m<br />

que vi via, era pra ela como um t udo ou nada, naquel e mo ment o.<br />

Um outro aspect o se melhant e entre as duas ―heroínas‖ é o fat o de diante do desespero, a mbas<br />

pr ocura m pessoas se m escrúpul os nenhu m para que l hes e mprestar o di nheiro, pois os homens<br />

aos quais procura m queriam possuí-las e m troca do di nheiro, poré m nenhuma delas se vende,<br />

ne m mes mo di ant e de total desespero elas se submet e m a ter relações sexuais com homens,<br />

pel os quais não tinha m nenhu ma afi ni dade, mesmo suas vi das correndo risco. Emma por sua<br />

vez procura o tabelião asqueroso para lhe e mprestar o di nheiro, como vere mos no trecho a<br />

seguir:<br />

Mas quando ela lhe pedi u 1000 escudos, cerrou os lábi os e e m segui da<br />

declarou-se penalizadíssi mo de não haver tido e m direção dos seus haveres,<br />

pois havi a mei os muit o cômodo, mes mo para uma senhora, de fazer render<br />

di nheiro.[...] e a avançando as mãos pela manga de Ema para lhe apal par o<br />

braço. El a sentia na face o sopro de uma respiração ofegant e. Aquel e ho me m<br />

a constrangi a horri vel mente.[...] O senhor aproveita-se i mprudent e ment e da<br />

mi nha aflição! Eu sou para lasti mar não para vender! E sai u.( M. B, p. 345-<br />

346).<br />

Do mes mo modo Luisa pr ocura o banqueiro asqueroso que ant es já tinha mostrado i nteresse.<br />

[...] Ti nha o mai or prazer e m servir uma senhora tão nova, tão<br />

interessante...[...] E falando tinha lhe tomado à mão.[...] Luisa t oda<br />

constrangi da, ne m retirara a mão; [...] Agarrou –a pela ci nta, atirou-l he um<br />

beij o voraz, que quase lhe mor deu a face.[...] Di ante daquela luxuria bestial<br />

Luisa indi gnada, agarrou insti ntiva ment e de sobre a jardi neira o chicot e e<br />

deu-l he uma forte chicotada na mão.( P. B, p. 262- 263).


Pode mos observar e m ambas que não era m mul heres devassas, pois se não sentisse m respeit o<br />

pel o seu corpo e sexo fosse apenas sexo, teria m usado seus corpos para sanar as suas di vi das e<br />

assi m conti nuare m e m paz com seus devi dos esposos, poré m, elas se negara m e nas suas<br />

hist orias de a mor existiam senti ment os, existia amor e respeit o.<br />

Apesar de entre as duas haver pont os se mel hant es elas di verge m e m certas atitudes como é o<br />

caso da passi vi dade e do medo exacerbado de Luisa e a transgressão te mpor ária de Emma no<br />

jeito de se vestir e se portar. Vê-se que, cada uma do seu jeito, elas fora m exe mpl o de<br />

si nceri dade e pel o menos da parte de Emma, vê-se ta mbé m uma tentati va de aut ori dade, l ogo<br />

tol hada pel o recei o da excl usão.


CONSI DERAÇÕES FINAI S<br />

Pri miti va ment e a mul her e o home m dese mpenhava m papéis iguais na sociedade, poré m co m<br />

o desenvol vi ment o e, conseqüent e ment e, o enri queci ment o do homem, este começa a<br />

monopolizar, incl usi ve a mul her, durante mil hares de anos teve uma educação diferenci ada,<br />

educada para servir, a princí pi o ao pai e logo após, ao mari do, tendo este total posse sobre ela.<br />

Em al gumas cult uaras chegava-se ao extre mo de quando o mari do morria, mat ava-se a mul her<br />

a fi m de que esta conti nuasse a servi-lo lá no outro mundo.<br />

A mul her não era per mi tido aprender a ler, apenas lhe era m ensi nadas técni cas domésticas.<br />

El as era m educadas e induzi das a sentire m-se felizes como ―obj et os‖ dos homens, pois<br />

restava m a elas apenas aprender a ser uma boa dona de casa, uma mul her prendada, para<br />

assi m servir be m ao seu mari do. O pai muitas vezes era que m escol hia o mari do para suas<br />

filhas. As mul heres era m ―adestradas‖ para casar, pois elas só tinha m val or quando ti nha m um<br />

mari do do lado e como vi mos após as interpretações e análises das obras, estes casa ment os<br />

que não tinha m como base o senti ment o, o envol vi ment o afetivo, era apenas para dar uma<br />

satisfação a sociedades estava m fadados a abrire m brechas para os a mores ilícitos, pois a<br />

sociedade podi a calar sua voz, mas ja mais o coração das mul heres ne m mes mo no sécul o<br />

XI X.<br />

O ho me m, e m a mbas as obras, está represent ado como aquel e que domi na a mul her, quando<br />

estes excl ue m as mul heres das decisões i mportantes, tendo e m vista uma das pi ores vi ol ênci a<br />

e pré-conceit o contra ela a convi cção de que ela não pensa, restringi ndo-a apenas aos afazeres<br />

do mésticos. Poré m se algo acont ecesse, e esta por suas atitudes ferisse seu orgul ho machista,<br />

era execrada da sociedade, era taxada de i moral e devassa.<br />

A sociedade construí da a partir dos val ores patriarcais e m que cul pava se mpre a mul her pel os<br />

at os vist os como fora dos padrões e m relação aos val ores vi gent es. Os ho mens nunca era m<br />

mal vist os pela sociedade e muit o menos vist o como i morais, em especi al quando era pi vô de<br />

u m caso de adultéri o, a mul her não comet eu o ato sozi nha, poré m a cul pa era se mpre del a,<br />

excl usi va ment e dela, o a mant e saia ileso da situação, como foi o caso de Basíli o e dos<br />

a mant es de Emma..


Portant o, neste trabal ho buscou-se des mi stificar a idéia de que as mul heres era m cul padas por<br />

vi vere m a mores ilícitos e que a sociedade tinha sua parcela de cul pa no comporta ment o del as<br />

a partir do mo ment o que não dava oport uni dade de i gual dade e muit o menos de defesa, ne m<br />

de refazer suas vi das.<br />

Sai ndo do sécul o XI X o que se busca é a luta pela igual dade entre homens e mul heres, isso<br />

não quer dizer que queremos ter as mes mas atitudes que tant o repugna mos no sexo masculi no<br />

e si m a construção de uma sociedade mais respeitosa, a soma de forças para a construção de<br />

u ma soci edade mais di gna para todos os seres humanos, respeitando a opini ão de cada um/ a.<br />

Esse assunt o gera pol e mi ca, pois ai nda é pouco difundi do. Não te mos a intenção de que esse<br />

trabal ho sane as pole mi cas, mas ser apenas mais uma ferra ment a e uma bandeira para que<br />

esse te ma seja difundi do, refletido e pesquisado, para que um di a possa mos ter de fat o essa<br />

igual dade entre os sexos. Embora muitas mudanças tenha m ocorri do nesse sécul o, é preciso<br />

averi guar e refletir a fundo essas mudanças e não si mpl es ment e acreditar que as desi gual dades<br />

entre homens e mul heres, tant o na vi da social quant o nos espaços públicos e pri vados, tenha m<br />

si do erradicadas.


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