16.04.2013 Views

memorial de tempo e espaço - embap

memorial de tempo e espaço - embap

memorial de tempo e espaço - embap

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ<br />

DEPARTAMENTO DE PESQUISA<br />

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA<br />

FRANCIANE DE SOUSA ROCHA<br />

MEMORIAL DE TEMPO E ESPAÇO - EMBAP<br />

CURITIBA<br />

2012


ESCOLA DE MÚSICA E BELAS ARTES DO PARANÁ<br />

DEPARTAMENTO DE PESQUISA<br />

PROJETO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA<br />

FRANCIANE DE SOUSA ROCHA<br />

MEMORIAL DE TEMPO E ESPAÇO - EMBAP<br />

CURITIBA<br />

2012<br />

Relatório referente aos resultados finais do Projeto<br />

<strong>de</strong> Iniciação Científica vinculado ao programa<br />

PIC-Embap, da Escola <strong>de</strong> Música e Belas Artes do<br />

Paraná.<br />

Orientação do Prof. Dr. José Eliézer Mikosz e coorientação<br />

da Profa. MS Paula Vizaco Rigo C.<br />

Tramujas.<br />

2


AGRADECIMENTOS<br />

Agra<strong>de</strong>ço imensamente aos meus orientadores José Eliézer Mikosz e Paula Vizaco<br />

Rigo C. Tramujas, pela paciência que tiveram ao me direcionar <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o início <strong>de</strong>sta pesquisa.<br />

À Fundação Araucária pelo apoio financeiro. Aos meus familiares que sempre sustentaram<br />

minhas i<strong>de</strong>ias e que me <strong>de</strong>ram todo apoio necessário. Aos amigos e colegas que tive a oportunida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> conversar sobre a pesquisa e que ajudaram com varias sugestões. Ao Professor Carlos<br />

Alberto <strong>de</strong> Assis, a Professora Rossana Glovatski Cor<strong>de</strong>iro Guimarães e a Aluna Ane Karoline<br />

Peichó, que contribuíram com seus <strong>de</strong>poimentos na entrevista feita para esta pesquisa.<br />

3


“Os <strong>espaço</strong>s amados nem sempre querem ficar fechados! Eles se <strong>de</strong>sdobram. Parece<br />

que se transportam facilmente para outros lugares, para outros <strong>tempo</strong>s, para planos<br />

diferentes <strong>de</strong> sonhos e lembranças.”<br />

Gaston Bachelard<br />

4


RESUMO<br />

A pesquisa aqui proposta tem como objetivo fazer uma analogia do prédio histórico da EM-<br />

BAP com “a casa” em A Poética do <strong>espaço</strong>, relacionando conceitos <strong>de</strong> memória, imaginação,<br />

<strong>de</strong>vaneio e imagem poética, propostos por Bachelard. É uma pesquisa <strong>de</strong>scritiva 1 , que usa<br />

métodos <strong>de</strong> pesquisa bibliográfica, pesquisa <strong>de</strong> campo e estudos <strong>de</strong> <strong>de</strong>poimentos e imagens.<br />

Na conclusão <strong>de</strong>sse processo, se propõe uma exposição relacionada com o assunto.<br />

1<br />

As pesquisas <strong>de</strong>scritivas têm como objetivo primordial a <strong>de</strong>scrição das características <strong>de</strong> <strong>de</strong>terminada<br />

população ou fenômeno ou então, o estabelecimento <strong>de</strong> relações entre variáveis. (GIL 2002, p.42)<br />

5


SUMÁRIO<br />

RESUMO.................................................................................................................................................................5<br />

SUMÁRIO................................................................................................................................................................6<br />

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................................7<br />

CONCEITOS PROPOSTOS POR BACHELARD..............................................................................................9<br />

Memória e imaginação...........................................................................................................................9<br />

A imagem poética...................................................................................................................................9<br />

Duração x <strong>tempo</strong>...................................................................................................................................10<br />

ANALOGIA PROPOSTA....................................................................................................................................10<br />

DEPOIMENTOS...................................................................................................................................................11<br />

Entrevistado: Professor Carlos Alberto <strong>de</strong> Assis.................................................................................11<br />

Entrevistada: Aluna Ane Karoline Peichó............................................................................................13<br />

Entrevistada: Professora Rossana Glovatski Cor<strong>de</strong>iro Guimarães...................................................14<br />

ESTUDOS E COMPARAÇÕES DAS ENTREVISTAS...................................................................................15<br />

EXPOSIÇÃO.........................................................................................................................................................18<br />

Ambientação............................................................................................................................................19<br />

Fotografias...............................................................................................................................................19<br />

CONCLUSÃO.......................................................................................................................................................22<br />

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................................................24<br />

6


INTRODUÇÃO<br />

Atualmente a Escola <strong>de</strong> Música e Belas Artes do Paraná encontra-se dividida em três<br />

prédios alugados, localizados nas ruas Benjamin Constant, Comendador Macedo e Francisco<br />

Torres. Antes ela se localizava na Rua Emiliano Perneta 179, no centro da cida<strong>de</strong>, em condi-<br />

ções improvisadas, falta <strong>de</strong> <strong>espaço</strong> e ambientes precisando <strong>de</strong> reformas. Por tais motivos foi<br />

criado um projeto para a construção <strong>de</strong> um prédio novo naquele local, preservando apenas a<br />

fachada que é <strong>de</strong> interesse histórico. No ano <strong>de</strong> 2010, a EMBAP então se mudou <strong>de</strong>sse prédio<br />

para que o processo <strong>de</strong> reforma e construção iniciasse. O projeto do prédio novo começou a<br />

ser avaliado e o Governo do Estado calculou que a licitação sairia na meta<strong>de</strong> do mesmo ano,<br />

mas <strong>de</strong>morou mais que o previsto. Atualmente os procedimentos estão em andamento. 2<br />

Conversando com colegas, também estudantes da EMBAP, foi possível perceber o<br />

quanto sentiram por saírem <strong>de</strong> lá e quantas boas lembranças começaram a ser contadas e recontadas<br />

entre eles. A partir <strong>de</strong>stes relatos, surgiu a i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> fazer um último registro fotográfico<br />

do prédio, como uma <strong>de</strong>spedida, já que o local <strong>de</strong> origem, <strong>de</strong>pois das reformas, não teria<br />

o mesmo aspecto nem o mesmo valor sentimental, sobrando apenas os registros feitos até então<br />

e o da memória dos que circularam por ali.<br />

Figura 1 - Renato Calliari - 19/09/2011.<br />

Figura 2 - Paula Rigo - 19/09/2011.<br />

2 Disponível em:http://www.<strong>embap</strong>.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=374 Acessado em: 02 abril 2012.<br />

7


A partir <strong>de</strong>sses acontecimentos, iniciou-se esta pesquisa, procurando fazer uma analogia<br />

do prédio histórico da EMBAP com “a casa” <strong>de</strong> Bachelard em A Poética do <strong>espaço</strong>. Essa<br />

analogia se <strong>de</strong>fine a partir dos estudos comparativos feitos através das entrevistas feitas com<br />

dois professores e uma aluna, relacionadas com os conceitos <strong>de</strong> Bachelard sobre memória,<br />

imaginação, imagem poética e <strong>de</strong>vaneio, que comprovam que a poética do <strong>espaço</strong> proposta no<br />

livro, po<strong>de</strong> ser aplicada no caso da Escola <strong>de</strong> Música e Belas Artes do Paraná. Para um reforço<br />

<strong>de</strong>sta pesquisa sugere-se uma exposição embasada no estudo aqui feito. Se propõe duas<br />

instalações que dão referência ao <strong>espaço</strong> do hall <strong>de</strong> entrada da EMBAP e também, algumas<br />

fotos que incentivam o expectador ao <strong>de</strong>vaneio poético.<br />

8


CONCEITOS PROPOSTOS POR BACHELARD<br />

Memória e imaginação<br />

Segundo Bachelard, as moradas <strong>de</strong> nossa vida, que são os lugares on<strong>de</strong> mais vivemos<br />

e frequentamos, têm o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> evocar <strong>de</strong>vaneios que, através <strong>de</strong> uma imagem poética, clareiam<br />

a memória e fazem nos lembrar <strong>de</strong> nossa infância, <strong>de</strong> nosso passado, <strong>de</strong> acontecimentos e<br />

objetos que se encontravam nesses lugares. Bachelard cita que:<br />

Abordando as imagens da casa com o cuidado <strong>de</strong> não romper a solidarieda<strong>de</strong> entre a<br />

memória e a imaginação, po<strong>de</strong>mos esperar transmitir toda a elasticida<strong>de</strong> psicológica<br />

<strong>de</strong> uma imagem que nos comove a graus <strong>de</strong> profundida<strong>de</strong> insuspeitos. (BACHE-<br />

LARD 2005, p. 26).<br />

Nessas recordações, não se po<strong>de</strong> separar a memória da imaginação, elas trabalham<br />

juntas constituindo a comunhão da lembrança e da imagem.<br />

A imagem poética<br />

A imagem poética não tem a sua origem nas lembranças do passado, mas no momento<br />

em que ela surge, ela nos permite evocá-lo. Ela vem da alma do artista, é algo inovador, que<br />

repercute em cada alma <strong>de</strong> uma forma nova e diferente. Bachelard refere que “a imagem poética<br />

não está sujeita a um impulso. Não é o eco <strong>de</strong> um passado. É antes o inverso: "Com a<br />

explosão <strong>de</strong> uma imagem, o passado longínquo ressoa <strong>de</strong> ecos e já não vemos em que profun<strong>de</strong>zas<br />

esses ecos vão repercutir e morrer.” Em outro trecho diz que “o poeta não me confere o<br />

passado <strong>de</strong> sua imagem e, no entanto, ela se enraíza imediatamente em mim.” (BACHELARD<br />

2005, p. 2) Po<strong>de</strong>-se então dizer que é através da origem <strong>de</strong> uma imagem nova 3 que se po<strong>de</strong><br />

criar um mundo imaginário através do <strong>de</strong>vaneio 4 .<br />

3<br />

A imagem poética nova – uma simples imagem! – torna-se assim simplesmente, uma origem absoluta, uma origem <strong>de</strong> consciência.<br />

Nas horas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s achados, uma imagem poética po<strong>de</strong> ser o germe <strong>de</strong> um mundo, o germe <strong>de</strong> um universo imaginado<br />

diante do <strong>de</strong>vaneio <strong>de</strong> um poeta. (BACHELARD 2006, p. 1)<br />

4 O <strong>de</strong>vaneio é uma fuga para fora do real, nem sempre encontrando um mundo irreal consciente. (BACHELARD 2006, p. 5)<br />

9


Duração x <strong>tempo</strong><br />

Nessa condição, o que provoca a lembrança é o <strong>espaço</strong>, pois o <strong>tempo</strong> não registra a<br />

duração concreta. A duração <strong>de</strong> um <strong>de</strong>vaneio não tem um <strong>tempo</strong> <strong>de</strong>terminado, é um <strong>tempo</strong><br />

abstrato. Bachelard cita que “Em seus mil alvéolos, o <strong>espaço</strong> retém o <strong>tempo</strong> comprimido. É<br />

essa a função do <strong>espaço</strong>. [...] Aqui o <strong>espaço</strong> é tudo, pois o <strong>tempo</strong> já não anima a memória. –<br />

coisa estranha! – não registra a duração concreta [...].” E reforça que é pelo <strong>espaço</strong> on<strong>de</strong> en-<br />

contramos os “belos fósseis <strong>de</strong> uma duração concretizados em longos estágios.” Sendo que,<br />

“mais importante do que <strong>de</strong>terminar datas, é no <strong>espaço</strong> que po<strong>de</strong>mos conhecer e localizar nos-<br />

sa intimida<strong>de</strong>.” (BACHELARD 2005, p. 28-29)<br />

ANALOGIA 5 PROPOSTA<br />

Po<strong>de</strong>-se então dizer que a EMBAP faz parte do imaginário dos estudantes, professores<br />

e servidores, gravando imagens na memória <strong>de</strong> todos que nela estudaram e trabalharam. Buscando<br />

então, a analogia proposta neste trabalho entre o prédio da EMBAP com a casa como<br />

<strong>de</strong>scrito por Bachelard, po<strong>de</strong>mos inferir que o prédio tem gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> evocação das lembranças:<br />

Nosso objetivo está claro agora: preten<strong>de</strong>mos mostrar que a casa é uma das maiores<br />

(forças) <strong>de</strong> integração para os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem.<br />

Nessa integração, o princípio <strong>de</strong> ligação é o <strong>de</strong>vaneio. (BACHELARD 2005, p. 26)<br />

No caso do estudo feito em cima das memórias do prédio antigo da EMBAP, po<strong>de</strong>mos<br />

i<strong>de</strong>ntificar tais lembranças através dos <strong>de</strong>poimentos <strong>de</strong> dois professores e uma aluna que estudaram/trabalharam<br />

na antiga se<strong>de</strong>. As perguntas feitas na entrevista pu<strong>de</strong>ram incentivar o aparecimento<br />

<strong>de</strong> imagens poéticas no imaginário dos entrevistados, que acarretam lembranças e<br />

<strong>de</strong>vaneios, surgindo um universo imaginado diante da imagem, propiciando assim a criação<br />

<strong>de</strong> uma poética. Nesta pesquisa usa-se tal poética como inspiração para uma futura exposição<br />

visando estimular seus visitantes a participarem <strong>de</strong>sse imaginário e <strong>de</strong>vaneio.<br />

5 Esclarece Reverdy que a imagem, fruto da associação <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, nasce da ligação <strong>de</strong> realida<strong>de</strong>s mais ou menos afastadas; a<br />

"analogia", portanto, "é um meio <strong>de</strong> criação, é uma existência <strong>de</strong> relações. (MELLO 2002, p. 95)<br />

10


DEPOIMENTOS<br />

Como supracitado, para analisar o <strong>de</strong>senvolvimento da obtenção <strong>de</strong>ssas imagens da<br />

memória, foram realizadas entrevistas com dois professores e uma aluna que já estudaram/trabalharam<br />

na EMBAP, no prédio histórico da Emiliano Perneta, com perguntas que<br />

buscaram incentivar a lembranças do ambiente e a <strong>de</strong>screvê-lo.<br />

Entrevistado: Professor Carlos Alberto <strong>de</strong> Assis<br />

O professor Assis comentou que estudou na EMBAP em 1984, retornando em 1991<br />

quando passou em um concurso e que continua dando aulas até hoje na instituição. Trabalha<br />

na área <strong>de</strong> música e dá aula <strong>de</strong> disciplinas teóricas.<br />

1- Quais são as lembranças mais importantes da época em que esteve estudando/trabalhando<br />

na EMBAP?<br />

Bom, o que eu mais me lembro <strong>de</strong> lá, eu acho que era essa congregação com os colegas, com<br />

os alunos. A cantina ficava em um lugar muito estratégico, sempre no meio do caminho, então<br />

tinha sempre uma circulação muito gran<strong>de</strong> <strong>de</strong> pessoas ali. Tem aquele Hall também, que era<br />

um <strong>espaço</strong> muito propício ao encontro, a conversa e a festas. Uma coisa que, para mim pessoalmente<br />

marcou muito, foi sempre esse diálogo entre as áreas, claro eu tive meus colegas da<br />

área <strong>de</strong> música, mas sempre tive muitos amigos da área <strong>de</strong> artes visuais, a gente estava sempre<br />

trocando idéias ali, e isso meio que se per<strong>de</strong>u aqui, é um prédio mais frio, não tem <strong>espaço</strong> <strong>de</strong><br />

convivência e essa dispersão que aconteceu prejudicou nesse sentido! Então eu acho que a<br />

memória maior que eu tenho é essa, uma congregação maior entre as pessoas, tanto <strong>de</strong> professores,<br />

quanto entre professores e alunos.<br />

2- Como a estrutura da Escola se encontrava?<br />

O prédio da Emiliano sempre teve um charme, um carisma muito gran<strong>de</strong>, mas por outro lado,<br />

tinha um problema muito sério <strong>de</strong> <strong>espaço</strong>. O prédio em si, não era um <strong>espaço</strong> a<strong>de</strong>quado para a<br />

Escola, para uma escola. Tinha vários problemas <strong>de</strong> divisão, <strong>de</strong> estrutura e eu acho que o pior<br />

estado <strong>de</strong> lá era a questão <strong>de</strong> estrutura. É aquela coisa <strong>de</strong> casa velha, né? Que não tinha uma<br />

11


manutenção assim, mais cuidada. Eu me lembro mais ou menos como funcionava a oficina <strong>de</strong><br />

música em janeiro, era uma coisa mais restrita lá no Solar do Barão, era uma coisa mais familiar,<br />

mas <strong>de</strong>pois a coisa vai crescendo <strong>de</strong>mais e a estrutura não comporta, não suporta. E eu<br />

acho que o pior da escola era isso, essa sufocação, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r crescer, <strong>de</strong> não po<strong>de</strong>r se expandir,<br />

não ter essas condições. Acho que o principal problema era esse.<br />

Na escola sempre existiu duas correntes muito fortes <strong>de</strong> pensamento. Uma corrente era muito<br />

tradicionalista, que sempre quis manter o prédio como se<strong>de</strong>, como estrutura própria da escola,<br />

e a outra corrente que pensava em transformar esse <strong>espaço</strong> da Emiliano em um centro cultural,<br />

num centro <strong>de</strong> exposição e <strong>de</strong> teatro. Eu já vi vários projetos, várias maquetes e várias<br />

tentativas, só que o terreno lá tem problema técnico, o terreno é pequeno, então, mesmo que<br />

construa uma coisa, chega uma hora que a escola não tem pra on<strong>de</strong> se expandir mais, fica engessado.<br />

Então o objetivo é manter o prédio como uma estrutura histórica, como uma estrutura<br />

artística, como um centro artístico na cida<strong>de</strong> e transformar esse <strong>espaço</strong> num <strong>espaço</strong> cultural,<br />

tanto que a escola possa usar (Artes Visuais e Música) quanto a comunida<strong>de</strong> também, com o<br />

teatro, com o centro <strong>de</strong> exposição. Isso seria bastante legal!<br />

3- Você po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>screver algum lugar em especial <strong>de</strong> lá?<br />

Tinham vários lugares especiais lá. Acho que os dois lugares mais marcantes eram a cantina, a<br />

pare<strong>de</strong> ficava no meio do caminho, todo mundo tinha que passar por ali, e o Hall <strong>de</strong> entrada,<br />

que como era um ponto central ali na escola, virava um ponto <strong>de</strong> encontro dos professores e<br />

alunos e era um ponto <strong>de</strong> movimentação muito gran<strong>de</strong>. Tinha o recanto também, que foi chamado<br />

recanto Dona Zulmira, que ficava lá no fundo, também era um ponto <strong>de</strong> encontro, o<br />

pessoal se reunia ali pra trocar uma i<strong>de</strong>ia, para fumar. Algumas salas tinham um carisma, como<br />

aquela sala que ficava no sótão, lá em cima, contavam muita história, eu acho que era a<br />

sala mais carismática da escola.<br />

4- Você po<strong>de</strong> me contar alguma estória relacionada à EMBAP?<br />

Qualquer estória sempre vai ter a imagem da Dona Zulmira. A Dona Zulmira foi uma figura<br />

patrimônio da escola. A noite, a gente estava dando aula e ela ficava na porta esperando para<br />

fechar, porque ela fazia questão <strong>de</strong> fechar todas as janelas e portas. Como ela morava lá, ela<br />

contava muitas estórias <strong>de</strong> barulhos que ela ouvia, do pessoal que se reunia ali dos antigos,<br />

que já tinham passado “pro andar <strong>de</strong> cima” e que se reuniam lá para fazer suas conferências.<br />

12


Essas eram as estórias mais comuns lá. A Dona Zulmira sempre contava histórias dos gran<strong>de</strong>s<br />

professores que passaram pela escola, que ela conheceu todos eles, toda aquela turma dos<br />

gran<strong>de</strong>s mestres. Ela sempre contou muitas histórias <strong>de</strong>les e dos alunos que passaram pela<br />

escola também. Eu acho que ela era uma espécie <strong>de</strong> memória viva da Escola!<br />

Entrevistada: Aluna Ane Karoline Peichó<br />

1- Quais são as lembranças mais importantes da época em que esteve estudando/trabalhando<br />

na EMBAP?<br />

O que eu mais me lembro da EMBAP é que todo mundo se encontrava, era um lugar pequeno,<br />

mas apesar disso as pessoas se encontravam no corredor, na cantina, todo mundo se conhecia,<br />

a gente interagia com os outros cursos, não era só com quem era da nossa sala. E era todo<br />

mundo mais unido, eu acho!<br />

2- Como a estrutura da Escola se encontrava?<br />

As salas eram pequenas, tinham a estrutura bem precária, a gente não tinha material para <strong>de</strong>senho,<br />

as pranchetas eram todas riscadas. A sala <strong>de</strong> escultura não tinha pia <strong>de</strong>scente, tava bem<br />

ruim, no chão dava pra pegar argila, não tinha saída <strong>de</strong> emergência, se tivesse algum aci<strong>de</strong>nte<br />

todo mundo sei lá, ia morrer. A sala <strong>de</strong> antropologia que era subterrânea sempre alagava, tinha<br />

umas janelinhas que davam para rua que entrava muita poeira. Tinha rato, barata, lagarto<br />

e “jacaré”. Quem tivesse fazendo prova <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho técnico e do lado tivessem fazendo uma<br />

prova <strong>de</strong> piano, não tinha condições, não tinha como se concentrar.<br />

3- Você po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>screver algum lugar em especial <strong>de</strong> lá?<br />

Um lugar bem especial era a cantina porque era on<strong>de</strong> todo mundo se encontrava, ela ficava no<br />

meio do caminho <strong>de</strong> qualquer sala e todo mundo se via lá, passava para tomar um café e conversar.<br />

Também tinha um lugar on<strong>de</strong> as pessoas iam fumar, nem podia fumar, mas todo mundo<br />

ia lá fumar. Eu não fumava, que fique bem claro! Todo mundo ia lá, era um <strong>espaço</strong> meio<br />

amplo, cabia bastante gente, às vezes não! Mas era legal porque às vezes rolava Chorinho,<br />

tinham umas coisas legais, era o lugar on<strong>de</strong> o pessoal <strong>de</strong> Música e <strong>de</strong> Artes Visuais podiam se<br />

encontrar e conversar.<br />

4- Você po<strong>de</strong> me contar alguma estória relacionada a EMBAP?<br />

13


As estórias! As lendas da EMBAP! Eu não conheci muitas, mas eu já ouvi falar que a Dona<br />

Zulmira teve uns casos românticos com os artistas que passaram pela Belas, até com alguns<br />

professores, que eu prefiro não citar nomes, porque eu não tenho certeza! Mas eu acho que é<br />

isso! Bom, <strong>de</strong>pois que ela morreu também, eu acho que todo mundo sentia a presença <strong>de</strong>la<br />

que era muito forte!<br />

Entrevistada: Professora Rossana Glovatski Cor<strong>de</strong>iro Guimarães<br />

1- Quais são as lembranças mais importantes da época em que esteve estudando/trabalhando<br />

na EMBAP?<br />

Então, eu acho que as lembranças mais importantes que eu trago da época em que eu estu<strong>de</strong>i<br />

na Belas, era o clima criativo que existia entre os alunos, o pessoal era muito interessado em<br />

fazer arte, em criar, em conversar e em se comunicar! Existia uma maior aproximação entre as<br />

pessoas, a troca <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ias, <strong>de</strong> informações, mostrando trabalhos, era um clima propício à criativida<strong>de</strong>!<br />

2- Como a estrutura da Escola se encontrava?<br />

Quando eu estu<strong>de</strong>i na Belas, que foi <strong>de</strong> 77 á 80, a estrutura da Belas era a mesma que hoje em<br />

dia. Provavelmente <strong>de</strong>ve ter envelhecido, mas não aparenta diferença. Eu voltei em 94 para<br />

dar aula na Belas e praticamente estava a mesma coisa.<br />

3- Você po<strong>de</strong> me <strong>de</strong>screver algum lugar em especial <strong>de</strong> lá?<br />

Eu sempre gostei muito da Belas! Mesmo sendo aquele prédio antigo, estragado, tinha um<br />

clima gostoso! Então eu me lembro das salas com um prazer, com amor. Mesmo daquela época<br />

que eu estudava, a gente gostava <strong>de</strong> tudo, a gente gostava da cantina, a gente gostava da<br />

sala <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>lagem que trabalhávamos muito. Eu acho que eu gostava das aulas em geral!<br />

4- Você po<strong>de</strong> me contar alguma estória relacionada a EMBAP?<br />

Naquela época, a gente tinha uma liberda<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> na escola. A gente expunha nos<br />

corredores, fazia música na cantina, então todo mundo se encontrava. Era um ambiente bem<br />

alegre, bem criativo, bem comunicativo. A cantina tinha uma relevância muito gran<strong>de</strong> porque<br />

a gente fazia música lá! Todo mundo cantava, dançava, tocava violão e isso a gente sente falta<br />

hoje em dia!<br />

14


ESTUDOS E COMPARAÇÕES DAS ENTREVISTAS<br />

Para comprovar a ligação entre os conceitos propostos por Bachelard quando se trata da casa<br />

on<strong>de</strong> moramos no passado, e características similares com a instituição EMBAP, buscaram-se<br />

nos <strong>de</strong>poimentos essas tais características.<br />

O professor Carlos <strong>de</strong> Assis trabalhando agora em um local novo, que é o prédio alugado da<br />

EMBAP, comenta que na se<strong>de</strong> antiga, localizada na Emiliano, existia “uma congregação maior<br />

entre as pessoas (alunos e professores), e que isso se per<strong>de</strong>u quando a Belas se mudou para<br />

um prédio que, segundo ele, é mais frio e que não tem <strong>espaço</strong> <strong>de</strong> convivência”. Segundo Bachelard,<br />

quando estamos em uma casa nova, e nos lembramos da antiga, vivemos fixações <strong>de</strong><br />

felicida<strong>de</strong>. No caso da lembrança do professor Assis, ele se fixa na felicida<strong>de</strong> que sentia ao<br />

interagir com colegas <strong>de</strong> trabalho e alunos na se<strong>de</strong> antiga da EMBAP. Todo um passado vem<br />

viver pelo sonho, numa nova casa: “levamos para a casa nova todos nossos <strong>de</strong>uses domésticos”.<br />

(BACHELARD 2005, p. 25)<br />

Quando, na nova casa, retornam as lembranças das antigas moradas, transportandonos<br />

ao pais da infância imóvel, imóvel como o i<strong>memorial</strong>. Vivemos fixações, fixações<br />

<strong>de</strong> felicida<strong>de</strong>. [...] Algo fechado <strong>de</strong>ve guardar as lembranças conservando-lhes<br />

seus valores <strong>de</strong> imagem. (BACHELARD 2005, p. 25-26)<br />

Através das respostas do Professor Assis e da Aluna Ane Karoline na terceira questão, nota-se<br />

novamente a fixação <strong>de</strong> felicida<strong>de</strong> ao interagir com colegas em um <strong>de</strong>terminado aposento da<br />

EMBAP, como a cantina, o hall <strong>de</strong> entrada e o recanto dona Zulmira. Po<strong>de</strong>mos dizer que a<br />

principal característica contida nas lembranças trazidas através dos <strong>espaço</strong>s (aposentos da<br />

EMBAP) é a felicida<strong>de</strong> ao socializar-se com os colegas, sentimento que se dispersa na se<strong>de</strong><br />

alugada provisoriamente. Po<strong>de</strong>mos encontrar também, tais características no <strong>de</strong>poimento da<br />

professora Rossana Guimarães ao respon<strong>de</strong>r a quarta pergunta do questionário:<br />

Naquela época, a gente tinha uma liberda<strong>de</strong> muito gran<strong>de</strong> na escola. A gente expunha<br />

nos corredores, fazia música na cantina, então todo mundo se encontrava. Era<br />

um ambiente bem alegre, bem criativo, bem comunicativo. A cantina tinha uma relevância<br />

muito gran<strong>de</strong> porque a gente fazia música lá! Todo mundo cantava, dançava,<br />

tocava violão e isso a gente sente falta hoje em dia! (GUIMARÃES, p 14)<br />

Quando a casa se complica um pouco, ela tem refúgios cada vez mais bem caracterizados que<br />

voltamos a eles durante toda a vida em nossos <strong>de</strong>vaneios, “por conseguinte, todos os abrigos,<br />

15


todos os refúgios, todos os aposentos tem valores oníricos consoantes.” (BACHELARD 2005,<br />

p. 25)<br />

Logicamente, é graças à casa que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nossas lembranças estão<br />

guardadas; e quando a casa se complica um pouco, quando tem um porão e um sótão,<br />

cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgios cada vez mais bem caracterizados.<br />

A eles regressamos durante toda a vida, em nossos <strong>de</strong>vaneios. (BACHE-<br />

LARD 2005, p. 28)<br />

Na terceira questão que se pe<strong>de</strong> para <strong>de</strong>screver um lugar em especial <strong>de</strong> lá, o Professor Assis e<br />

a Aluna Ane Karoline citam lugares em comum, são os refúgios caracterizados das lembranças<br />

dos dois. O professor Assis comenta que “ Tinham vários lugares especiais lá, que os dois<br />

lugares mais marcantes era a cantina e o Hall <strong>de</strong> entrada.” E logo <strong>de</strong>pois comenta que também<br />

tinha o “recanto, que foi chamado recanto Dona Zulmira, que ficava lá no fundo”. A Aluna<br />

Ane Karoline também fala que “um lugar bem especial era a cantina porque era on<strong>de</strong> todo<br />

mundo se encontrava, e também tinha um lugar on<strong>de</strong> as pessoas iam fumar que era legal porque<br />

às vezes rolava Chorinho, tinham umas coisas legais, era o lugar on<strong>de</strong> o pessoal <strong>de</strong> Música<br />

e <strong>de</strong> Artes Visuais podiam se encontrar e conversar.” (Esse ultimo local se refere ao recanto<br />

Dona Zulmira mencionado por Assis). O professor Assis dá ênfase ao sótão quando respon<strong>de</strong><br />

essa pergunta: “Algumas salas tinham um carisma, como aquela sala que ficava no<br />

sótão, lá em cima, contavam muita história, eu acho que era a sala mais carismática da escola.”<br />

O sótão segundo Bachelard são “andares elevados, o sonhador os edifica e os reedifica<br />

bem edificados. Com os sonhos na altitu<strong>de</strong> clara estamos, convém repetir, na zona racional<br />

dos projetos intelectualizados”. (BACHELARD 2005, p. 37)<br />

Na segunda pergunta, o professor Assis começa a resposta assim: “O prédio da Emiliano<br />

sempre teve um charme, um carisma muito gran<strong>de</strong> [...]”. Nota-se nesse trecho, uma valorização<br />

<strong>de</strong> imagem, que nesse caso é o Prédio da Emiliano (antiga se<strong>de</strong>), po<strong>de</strong> ser um valor aumentado<br />

pela imaginação, segundo Bachelard “[...] a imaginação aumenta os valores das imagens.”<br />

(BACHELARD 2005, P 23) Lembrando também, que ao abordarmos uma imagem, a<br />

memória sempre está ligada com a imaginação. (BACHELARD 2005, p. 26)<br />

Na quarta questão, que se pe<strong>de</strong> para contar alguma estória relacionada a EMBAP, as respostas<br />

contém muitas características oníricas. O gran<strong>de</strong> exemplo é a Dona Zulmira, zeladora que<br />

morava na se<strong>de</strong> e cuidava do local. As estórias da Dona Zulmira estão vivas até hoje e a ima-<br />

16


gem <strong>de</strong>la 6 é passada <strong>de</strong> geração para geração. O que provoca essas <strong>de</strong>terminadas lembranças é<br />

o local (antiga se<strong>de</strong>), a presença <strong>de</strong>la está pelos aposentos do prédio. Ela foi mencionada na<br />

resposta da Aluna Ane Karoline Peichó nesse trecho: “[...] eu já ouvi falar que a Dona Zulmira<br />

teve uns casos românticos com os artistas que passaram pela Belas, até com alguns professores<br />

[...] . Bom, <strong>de</strong>pois que ela morreu também, eu acho que todo mundo sentia a presença<br />

<strong>de</strong>la que era muito forte!” E também na resposta do Professor Assis:<br />

Qualquer estória sempre vai ter a imagem da Dona Zulmira. A Dona Zulmira foi<br />

uma figura patrimônio da escola. A noite, a gente tava dando aula e ela ficava na<br />

porta esperando para fechar, porque ela fazia questão <strong>de</strong> fechar todas as janelas e<br />

portas. Como ela morava lá, ela contava muitas estórias <strong>de</strong> barulhos que ela ouvia,<br />

do pessoal que se reunia ali dos antigos, que já tinham passado “pro andar <strong>de</strong> cima”<br />

e que se reuniam lá para fazer suas conferências. Essas eram as estórias mais comuns<br />

lá. A Dona Zulmira sempre contava histórias dos gran<strong>de</strong>s professores que passaram<br />

pela escola, que ela conheceu todos eles, toda aquela turma dos gran<strong>de</strong>s mestres.<br />

Ela sempre contou muitas histórias <strong>de</strong>les e dos alunos que passaram pela escola<br />

também. Eu acho que ela era uma espécie <strong>de</strong> memória viva da Escola! (ASSIS, p.<br />

12)<br />

Po<strong>de</strong>-se então dizer que a EMBAP tem seus aposentos, seus refúgios nas lembranças <strong>de</strong> seus<br />

professores e alunos, e que tais refúgios, po<strong>de</strong>m ser acessados durante a vida inteira <strong>de</strong>les.<br />

Através das respostas obtidas, po<strong>de</strong>mos i<strong>de</strong>ntificar que as lembranças <strong>de</strong>sses lugares foram<br />

boas, e elas remeteram ao convívio mais afetivo entre os colegas na se<strong>de</strong> antiga da EMBAP,<br />

se comparado a se<strong>de</strong> nova. Por essa memória positiva ser bastante viva em relação ao prédio<br />

antigo, criou-se nesta pesquisa uma proposta <strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong>ssa atmosfera através <strong>de</strong> uma<br />

exposição que será mais bem explicada no próximo capítulo.<br />

Uma imagem muito importante para a memória do prédio histórico foi a Dona Zulmira, moradora<br />

e zeladora da EMBAP. Através <strong>de</strong> sua imagem, os alunos e professores criam seus<br />

<strong>de</strong>vaneios sobre ela e também sobre os <strong>espaço</strong>s da EMBAP.<br />

6 [...] a imagem é um meio <strong>de</strong> expressão e <strong>de</strong> comunicação que nos vincula às tradições mais antigas<br />

e ricas <strong>de</strong> nossa cultura. (JOLY 1996, p. 135)<br />

17


EXPOSIÇÃO<br />

Para complementar esta pesquisa, se propõe a realização <strong>de</strong> uma exposição simulando<br />

o <strong>espaço</strong> EMBAP através <strong>de</strong> uma instalação que dê margem para o <strong>de</strong>vaneio do observador,<br />

principalmente para aqueles que frequentavam o lugar. Fazer com que o principal objetivo da<br />

exposição seja o <strong>de</strong> instigar as pessoas a viajarem através das sensações para o passado, e assim<br />

estimular a imaginação. Que a exposição seja causadora <strong>de</strong> bem estar 7 , do <strong>de</strong>spertar da<br />

intimida<strong>de</strong>, e para que seja assim, caminhar a inspiração e a criação das obras para algo sugestivo,<br />

que <strong>de</strong>sperte muito sutilmente <strong>de</strong>terminadas sensações <strong>de</strong> aconchego, <strong>de</strong> familiar e <strong>de</strong><br />

belo 8 . O universo imaginário criado pelo observador será influenciado pela imagem poética<br />

contida na obra. A intenção não é simplesmente convidar o expectador a visitar o passado do<br />

lugar, e sim a reencontrá-lo intimamente, a buscá-lo <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> si mesmo, a sonhar com esse<br />

lugar:<br />

O excesso do pitoresco <strong>de</strong> uma morada po<strong>de</strong> ocultar a sua intimida<strong>de</strong>. Isso é verda<strong>de</strong><br />

na vida; e mais ainda no <strong>de</strong>vaneio. As verda<strong>de</strong>iras casas da lembrança, as casas on<strong>de</strong><br />

os nossos sonhos nos conduzem, as casas ricas <strong>de</strong> um fiel onirismo, rejeitam qualquer<br />

<strong>de</strong>scrição. Descrevê-la seria mandar visitá-las. Do presente po<strong>de</strong>-se talvez dizer<br />

tudo, mas do passado! A casa primordial e oniricamente <strong>de</strong>finitiva <strong>de</strong>ve guardar sua<br />

penumbra. (BACHELARD 2005, p.32)<br />

Para alcançar tal objetivo po<strong>de</strong>mos trabalhar tanto com imagens subjetivas, que representam<br />

apenas algum <strong>de</strong>talhe inspirador, como po<strong>de</strong>mos trabalhar com imagens exatas, mas<br />

que precisam ser bem trabalhadas e convidativas, pois “o <strong>de</strong>senho objetivo, <strong>de</strong>sligado <strong>de</strong><br />

qualquer <strong>de</strong>vaneio, é um documento rígido e estável que marca uma biografia. Mas essa representação,<br />

se pelo menos <strong>de</strong>monstrar habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> <strong>de</strong>senho, talento <strong>de</strong> representação, [...] a<br />

simples apreciação da expressão [...] prolonga-se em contemplação e em <strong>de</strong>vaneio.” (BA-<br />

CHELARD 1957, p. 64) O importante é que a imagem poética tenha a sua verda<strong>de</strong>ira função:<br />

causar através <strong>de</strong> sua criação, o <strong>de</strong>vaneio poético.<br />

7 Aliás, é bastante surpreen<strong>de</strong>nte o fato <strong>de</strong> que, mesmo na casa confortável, a consciência do bem-estar apela para as comparações<br />

com os animais em seus refúgios. (BACHELARD 2006, p. 104)<br />

8 [...] <strong>de</strong>vaneio poético: tudo, por ele e nele, se torna belo. [...] O <strong>de</strong>vaneio poético nos dá o mundo dos mundos. O <strong>de</strong>vaneio<br />

poético é um <strong>de</strong>vaneio cósmico. É uma abertura para um mundo belo, para mundos belos. (BACHELARD 2006, p. 13)<br />

18


Ambientação<br />

Sugere-se para a exposição, uma ambientação que lembre o Hall <strong>de</strong> entrada:<br />

Figura 4 – Renato Calliari – 19/09/2011<br />

Fotografias<br />

Figura 3 – Paula Rigo – 19/09/2011.<br />

Figura 5 – Franciane Rocha – 19/09/2011<br />

A imagem fotográfica é um ótimo veículo para causar o <strong>de</strong>vaneio poético. Martine Joly<br />

nos explica que "a fotografia, mais do que qualquer outra imagem, po<strong>de</strong> gerar o sonho e a<br />

ficção." (JOLY 1996, p. 122)<br />

19


Expor algumas fotos que sejam subjetivas:<br />

Figura 6 – Anna<br />

Rodrigues - 2011<br />

Figura 10 – Franciane<br />

Rocha – 2011<br />

Figura 14 – Anna Rodrigues<br />

– 2011<br />

Figura 18 – Renato<br />

Calliari - 2011<br />

Figura 7 – Anna Rodrigues<br />

– 2011<br />

Figura 11 – Renato Calliari<br />

– 2011<br />

Figura 15 – Renato Calliari<br />

– 2011<br />

Figura 19 – Paula<br />

Rigo - 2011<br />

Figura 8 – Franciane<br />

Rocha - 2011<br />

Figura 12 – Renato<br />

Calliari – 2011<br />

Figura 16 – Franciane<br />

Rocha - 2011<br />

Figura 9 – Franciane<br />

Rocha 2011<br />

Figura 13 – Paula Rigo<br />

– 2011<br />

Figura 17 – Franciane<br />

Rocha – 2011<br />

20


Expor algumas fotos exatas que sejam mais convidativas :<br />

Figura 20- Renato Calliari – 19/09/2011<br />

Figura 22- Renato Calliari – 19/09/2011<br />

Figura 24 – Renato Calliari – 19/09/2011<br />

Figura 21 – Renato Calliari – 19/09/2011<br />

Figura 23 – Paula Rigo – 19/09/2011<br />

21


CONCLUSÃO<br />

Concluindo este estudo, as lembranças do prédio histórico da EMBAP mais comuns<br />

entre os três entrevistados da pesquisa <strong>de</strong> campo, são lembranças boas, <strong>de</strong> comunhão entre<br />

colegas, <strong>de</strong> aposentos e lugares que eram pontos <strong>de</strong> encontro entre eles e que são os refúgios<br />

bem caracterizados em suas lembranças, alojados em suas mentes para que sempre voltem<br />

através do <strong>de</strong>vaneio poético. 9 Uma personagem muito importante para a memória da Escola,<br />

foi a dona Zulmira, que viveu na EMBAP até falecer em 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 2009. 10 Por viver<br />

tanto <strong>tempo</strong> na Escola, ela foi um arquivo vivo <strong>de</strong> memórias e por isto a imagem <strong>de</strong>la 11 é ótima<br />

para gerar <strong>de</strong>vaneios e tem um valor onírico muito importante. Nota-se nas entrevistas<br />

uma gran<strong>de</strong> empolgação do professor Carlos Alberto <strong>de</strong> Assis e da aluna Ane Karoline Peichó,<br />

ao falarem sobre ela, o que comprova que sua imagem se renova e passa <strong>de</strong> geração para<br />

geração da EMBAP.<br />

A proposta <strong>de</strong> exposição sugerida nesta pesquisa será utilizada pela turma <strong>de</strong> licenciatura<br />

em <strong>de</strong>senho do 3º ano, em uma exposição que acontecerá do dia 10 ao dia 17 <strong>de</strong> setembro,<br />

na sala <strong>de</strong> exposição da EMBAP na Rua Francisco Torres. A realização <strong>de</strong>ssa exposição<br />

é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância para o fechamento <strong>de</strong>sta pesquisa, pois materializará a proposta da<br />

poética do <strong>espaço</strong> aqui estudada, através da arte. Esta exposição terá como objetivo principal,<br />

provocar através <strong>de</strong> suas imagens poéticas <strong>de</strong> <strong>espaço</strong>, o <strong>de</strong>vaneio em seus visitantes, abrindo<br />

um leque <strong>de</strong> possibilida<strong>de</strong>s da criação <strong>de</strong> uma re<strong>de</strong> onírica <strong>de</strong> imagens. Estes conceitos <strong>de</strong><br />

9<br />

Logicamente, é graças à casa que um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> nossas lembranças estão guardadas; e quando a casa se complica<br />

um pouco, quando tem um porão e um sótão, cantos e corredores, nossas lembranças têm refúgios cada vez mais bem caracterizados.<br />

A eles regressamos durante toda a vida, em nossos <strong>de</strong>vaneios. (BACHELARD 2005, p. 28)<br />

10 Disponível em: http://www.<strong>embap</strong>.pr.gov.br/modules/noticias/makepdf.php?storyid=104 Acessado em: 06 agosto 2012.<br />

11<br />

A imagem poética não está sujeita a um impulso. Não é o eco <strong>de</strong> um passado. É antes o inverso: Com a explosão <strong>de</strong> uma<br />

imagem, o passado longínquo ressoa <strong>de</strong> ecos e já não vemos em que profun<strong>de</strong>zas esses ecos vão repercutir e morrer. (BA-<br />

CHELARD 2005, p.2)<br />

22


possibilida<strong>de</strong>s imaginárias sugeridos para uma futura exposição, já são <strong>de</strong> certa forma, muito<br />

utilizados na con<strong>tempo</strong>raneida<strong>de</strong>. Rah<strong>de</strong> 12 , em sua pesquisa <strong>de</strong> Pós Graduação, comenta que:<br />

O con<strong>tempo</strong>râneo que estamos vivenciando, ao contrário <strong>de</strong> momentos anteriores,<br />

vem aceitando as mais diversas mudanças, nada negando mas questionando e agregando<br />

em si variados estilos imagísticos, compondo-se, assim, <strong>de</strong> muitos fractais, <strong>de</strong><br />

hibridações <strong>de</strong> variadas técnicas gráfico/plásticas. (RAHDE 2006, p. 2)<br />

Por fim, po<strong>de</strong>-se dizer que a própria pesquisa aqui realizada traz um conjunto <strong>de</strong> imagens<br />

poéticas criadas por um conjunto <strong>de</strong> <strong>de</strong>vaneios que repercutem por quem a pesquisa alcançar,<br />

afinal a reflexão sobre essa pesquisa nos remete a <strong>de</strong>vanear em torno <strong>de</strong> lugares e <strong>espaço</strong>s<br />

da EMBAP, e atinge até mesmo os que não a conheceram. Po<strong>de</strong>-se dizer que as imagens<br />

estudadas aqui, repercutirão e jamais cessarão sempre que houver alguém para receber a<br />

imagem nova que se inspira, e assim abrem-se as portas do mundo imaginário on<strong>de</strong> a memória<br />

e a imaginação trabalham juntas.<br />

O imaginário dos lugares nostálgicos são recorrentes nos seres humanos, que sempre<br />

lembram com alegria <strong>de</strong> alguns lugares que remetem a antigas lembranças, como a casa on<strong>de</strong><br />

se passou a infância, a escola on<strong>de</strong> se estudou, o parque on<strong>de</strong> namorava, a faculda<strong>de</strong> que frequentou,<br />

etc. Isso vêm se revelando em uma forma <strong>de</strong> comunicação iconográfica, on<strong>de</strong> Rah<strong>de</strong><br />

nos explica que essa comunicação é “perpassada por imaginários culturais <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong><br />

em mutação o que, por suposto, vem modificando significados sociais e culturais.” (RAHDE<br />

2006, p. 2).<br />

12<br />

Dra em Educação FACED/PUCRS. Profa. Titular da Pontifícia Universida<strong>de</strong> Católica do Rio Gran<strong>de</strong> do Sul (PPGCom/<br />

FAMECOS/PUCRS ). Linha <strong>de</strong> Pesquisa: Cultura Midiática e Tecnologias do Imaginário (CMTI).<br />

23


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS<br />

BACHELARD, Gaston. A poética do <strong>espaço</strong>. São Paulo: Martins Fontes, 2005.<br />

BACHELARD, Gaston. A poética do <strong>de</strong>vaneio. São Paulo: Martins Fontes, 2006.<br />

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos <strong>de</strong> pesquisa. São Paulo: Editora Atlas S.A,<br />

2002.<br />

RAHDE, Maria Beatriz Furtado. Comunicação visual e imaginários culturais iconográficos<br />

do con<strong>tempo</strong>râneo. Rio Gran<strong>de</strong> do Sul: E Compos, Revista da Associação Nacional dos<br />

Programas <strong>de</strong> Pós-Graduação em Comunicação, 2006.<br />

MELLO, Ana Maria Lisboa <strong>de</strong>. Poesia e Imaginário. Porto Alegre, EDIPUCRS, 2002.<br />

JOLY, Martine. Introdução à analise da imagem. Campinas, Papirus Editora, 1996.<br />

Sítios pesquisados:<br />

http://www.<strong>embap</strong>.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=374 Acessado em: 02 abril<br />

2012.<br />

http://www.<strong>embap</strong>.pr.gov.br/modules/noticias/makepdf.php?storyid=104 Acessado em: 06<br />

agosto 2012.<br />

24

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!