DIA 20 DE OUTUBRO - Redetec

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16.04.2013 Views

metas e, a partir delas, foi definido um conjunto de projetos a serem financiados pelos fundos do governo para pesquisa e desenvolvimento. Foi uma rede orquestrada pelo próprio governo, onde todos esses atores se conectaram e usaram esse instrumento como um mecanismo de identificação de quais eram os gargalos e quais as necessidades a serem desenvolvidas. Para terminar, eu gostaria de colocar o que é importante para que isso seja implementado, para que essa metodologia de rede possa ser desenvolvida. É importante que se definam, com muita clareza, as áreas de interesse e o escopo de cada um desses roadmaps. Para onde vai essa visão e o que vai estar ali dentro? Definir os atores a serem contemplados, se toda a cadeia, se apenas os concorrentes, se apenas a universidade. Quais tipos de perspectivas eu quero trazer para a construção desse tipo de instrumento? Promover a construção coletiva do roadmap. Coletivo é uma palavra chave. O poder desse tipo de instrumento está em se trazer diversidade e integrar as diversidades ao longo do tempo. Definir o conjunto de iniciativas, metas e prioridades de ação que precisarão de desenvolvimento dentro daquela rede. E planejar os projetos, os recursos a serem alocados. Essa lógica é um conjunto de passos para que você possa utilizar esse instrumento como um mecanismo de governança de uma rede de desenvolvimento. Para isso, é importante tanto acompanhar a evolução desse ambiente, desse conjunto de iniciativas desenvolvidas, quanto executar e controlar esse conjunto de tarefas. Obviamente isso tem que se manter vivo. Ao longo dos anos, tem que se garantir que essa visão continua valendo, continua sendo atualizada. Quem quiser mais informação, aqui temos um blog sobre esse assunto que está sendo razoavelmente atualizado, ou também o meu e­mail para contato. Muito obrigado. DEBATE RICARDO PEREIRA Achei a apresentação clara e didática, como são, em geral, as apresentações do Rafael. Seria muito interessante que o pessoal da FINEP estivesse aqui, já que eles estão estimulando a parceria dos NITs, uns com os outros, sob a forma de redes. Por estar aqui coordenando esta mesa, eu já queria fazer uma indagação ao Rafael. Logo no começo, você mencionou que, entre as características de rede, seria possível encontrar redes verticalizadas e redes mais horizontais. Para mim, como leigo, me parece que quanto mais horizontal a rede, mais fácil o fluxo de informações, ou mais efetividade ela consegue nas suas ações. O equilíbrio entre os nós das redes, entre os parceiros, isso faz algum sentido para uma rede ou você pode ter redes diferenciadas com parceiros grandes, pequenos e com vários níveis de hierarquização nas decisões? Como isso funcionaria? RAFAEL CLEMENTE Isso vai depender muito do propósito pelo qual aquela rede está sendo desenvolvida e da própria característica desses atores. Se imaginarmos o caso que todos usam para comentar, a Petrobras. É impossível fazer uma rede onde a Petrobras não tenha uma preponderância maior em relação aos outros atores colocados naquela rede? Aposto que vários fornecedores têm todo o interesse de estar numa mesma rede na qual eles possam 170

acessar conhecimento. O que é chave para isso é a forma pela qual aquele determinado ator vai exercer poder. Existe um estudo muito interessante, de um autor chamado Jeffrey Dyer, que trata da lógica de como a Toyota gerenciava a sua rede de fornecimento, da qual participavam outras empresas e a própria Toyota. A General Motors, por exemplo, gerenciava essa rede. Ali tem algumas indicações muito interessantes do ponto de vista de como ela desenvolvia a confiança naquela rede. Uma das características que a Toyota usava para garantir a confiança naquela rede é que se algum fornecedor desenvolvesse um determinado componente para um veículo, ele tinha um contrato por todo o ciclo de vida daquele componente daquele determinado veículo. Isso era um mecanismo que estimulava o fornecedor a se engajar nas ações de desenvolvimento. Em outras montadoras, se a empresa âncora pedisse para os fornecedores desenvolverem algo, quando um determinado design era selecionado, ela falava que iria colocar de novo na rede para ver quem daria o menor preço. Quando isso era feito, os outros atores da rede pensavam: para que investir no desenvolvimento de algo se aquele ator vai adotar um comportamento oportunista? Uma questão chave nessa linha é como esses atores vão criar mecanismos de incentivo para que esses comportamentos oportunistas possam ser evitados. Sem dúvida, numa rede horizontal, a tendência é ter um fluxo maior de informação. Mesmo assim, ainda existe uma série de entraves. Isso, do ponto de vista de propriedade intelectual, tem várias implicações. O conhecimento gerado será dividido como? No momento em que essa colaboração acabar, quem tem direito ao quê? Com quem fica o nome e o direito de propriedade? São questões que devem ser definidas à priori. PLATÉIA Você tocou num ponto que me parece uma preocupação, não sei qual é a vivência da situação. Quando você diz que dentro da inovação aberta o pesquisador pode ser naturalmente procurado diretamente ou pode acessar alguma demanda. Isso é uma questão muito delicada no caso das universidades públicas, pela relação de trabalho que existe. Como você jogou a questão, isso suscitou que talvez alguma vivência do seu trabalho pudesse trazer uma luz nesse sentido, a par de todos os marcos regulatórios, de resoluções internas, mas como as coisas caminham na prática. RAFAEL CLEMENTE Eu lembro uma vez que eu estava dando aula sobre isso, e uma das pessoas que estava assistindo à aula me disse que tinha recebido um e­mail de um desses portais para que ela pudesse se inscrever como alguém para resolver problemas. A pessoa ficou super entusiasmada com isso. Ela não tinha parado para pensar em todas essas questões que você levantou agora. Eu quis saber quais eram os incentivos, e a pessoa me disse que as suas competências seriam muito melhor utilizadas. Ela tinha um leque de competências X em que usava um percentual disso, e ficou entusiasmada com a possibilidade de ter um desafio diferente. Mas onde ela vai resolver esse problema? Num laboratório público que é onde ela efetivamente trabalha. Quem vai pagar por aquele desenvolvimento que ela está fazendo? Ela vai utilizar recurso público para resolver um problema de uma determinada organização? Isso certamente é um problema, mas eu vejo isso muito mais como algo que precisa ter um papel de mostrar para o pesquisador que se ele acha que individualmente vai receber trinta mil dólares de recompensa e será algo muito relevante, isso na lógica geral pode ser muito mais se ele tiver alguém avaliando efetivamente aquilo que está sendo desenvolvido por ele, tendo um poder de negociar com competência maior com essa empresa. Isso não é tão problema das empresas que estão criando esse tipo de mecanismos, elas estão fazendo isso porque precisam acessar isso e estão criando soluções para tal, mas isso é muito mais um desafio para que as próprias instituições criem 171

acessar conhecimento. O que é chave para isso é a forma pela qual aquele determinado<br />

ator vai exercer poder. Existe um estudo muito interessante, de um autor chamado Jeffrey<br />

Dyer, que trata da lógica de como a Toyota gerenciava a sua rede de fornecimento, da qual<br />

participavam outras empresas e a própria Toyota. A General Motors, por exemplo,<br />

gerenciava essa rede. Ali tem algumas indicações muito interessantes do ponto de vista de<br />

como ela desenvolvia a confiança naquela rede. Uma das características que a Toyota<br />

usava para garantir a confiança naquela rede é que se algum fornecedor desenvolvesse um<br />

determinado componente para um veículo, ele tinha um contrato por todo o ciclo de vida<br />

daquele componente daquele determinado veículo. Isso era um mecanismo que estimulava<br />

o fornecedor a se engajar nas ações de desenvolvimento. Em outras montadoras, se a<br />

empresa âncora pedisse para os fornecedores desenvolverem algo, quando um<br />

determinado design era selecionado, ela falava que iria colocar de novo na rede para ver<br />

quem daria o menor preço. Quando isso era feito, os outros atores da rede pensavam: para<br />

que investir no desenvolvimento de algo se aquele ator vai adotar um comportamento<br />

oportunista? Uma questão chave nessa linha é como esses atores vão criar mecanismos de<br />

incentivo para que esses comportamentos oportunistas possam ser evitados. Sem dúvida,<br />

numa rede horizontal, a tendência é ter um fluxo maior de informação. Mesmo assim, ainda<br />

existe uma série de entraves. Isso, do ponto de vista de propriedade intelectual, tem várias<br />

implicações. O conhecimento gerado será dividido como? No momento em que essa<br />

colaboração acabar, quem tem direito ao quê? Com quem fica o nome e o direito de<br />

propriedade? São questões que devem ser definidas à priori.<br />

PLATÉIA<br />

Você tocou num ponto que me parece uma preocupação, não sei qual é a vivência<br />

da situação. Quando você diz que dentro da inovação aberta o pesquisador pode ser<br />

naturalmente procurado diretamente ou pode acessar alguma demanda. Isso é uma questão<br />

muito delicada no caso das universidades públicas, pela relação de trabalho que existe.<br />

Como você jogou a questão, isso suscitou que talvez alguma vivência do seu trabalho<br />

pudesse trazer uma luz nesse sentido, a par de todos os marcos regulatórios, de resoluções<br />

internas, mas como as coisas caminham na prática.<br />

RAFAEL CLEMENTE<br />

Eu lembro uma vez que eu estava dando aula sobre isso, e uma das pessoas que<br />

estava assistindo à aula me disse que tinha recebido um e­mail de um desses portais para<br />

que ela pudesse se inscrever como alguém para resolver problemas. A pessoa ficou super<br />

entusiasmada com isso. Ela não tinha parado para pensar em todas essas questões que<br />

você levantou agora. Eu quis saber quais eram os incentivos, e a pessoa me disse que as<br />

suas competências seriam muito melhor utilizadas. Ela tinha um leque de competências X<br />

em que usava um percentual disso, e ficou entusiasmada com a possibilidade de ter um<br />

desafio diferente. Mas onde ela vai resolver esse problema? Num laboratório público que é<br />

onde ela efetivamente trabalha. Quem vai pagar por aquele desenvolvimento que ela está<br />

fazendo? Ela vai utilizar recurso público para resolver um problema de uma determinada<br />

organização? Isso certamente é um problema, mas eu vejo isso muito mais como algo que<br />

precisa ter um papel de mostrar para o pesquisador que se ele acha que individualmente vai<br />

receber trinta mil dólares de recompensa e será algo muito relevante, isso na lógica geral<br />

pode ser muito mais se ele tiver alguém avaliando efetivamente aquilo que está sendo<br />

desenvolvido por ele, tendo um poder de negociar com competência maior com essa<br />

empresa. Isso não é tão problema das empresas que estão criando esse tipo de<br />

mecanismos, elas estão fazendo isso porque precisam acessar isso e estão criando<br />

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