o espelho nos contos de machado de assis e ... - Itaporanga.net
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ensinou o homem a conviver em socieda<strong>de</strong> e, para isso, é necessário haver uma aceitação<br />
mútua entre os seres. Quando essa aceitação não ocorre, sente-se vulnerável, receoso <strong>de</strong> ser<br />
expulso como membro <strong>de</strong> uma socieda<strong>de</strong> que se auto-consome, em diversos âmbitos, seja<br />
social, cultural e economicamente.<br />
Ao contrário do pensamento recorrente com relação a Narciso, ele não se<br />
apaixona por si mesmo, pois não havia a consciência <strong>de</strong> que a imagem refletida era ele<br />
mesmo, Narciso se apaixona pela possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> haver alguém além <strong>de</strong>le mesmo, pela<br />
possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um outro que o visse como um ser importante, essencial e principalmente<br />
belo. A autoestima é um dos combustíveis da vida em socieda<strong>de</strong>; é preciso algo fora<br />
aprovar o que temos para dar, ou o que realmente somos, daí, a autoestima <strong>nos</strong> mantém<br />
vivos e sadios. Quando ela não está bem alimentada, o corpo fraqueja, o espírito se esvazia<br />
e continuar vivendo se torna pe<strong>nos</strong>o, sofredor.<br />
Os homens já nascem com a condição <strong>de</strong> fazer parte <strong>de</strong> um grupo com suas<br />
regras <strong>de</strong> sobrevivência já <strong>de</strong>finidas, preestabelecidas e imutáveis, na maioria das vezes.<br />
Quando alguém tenta <strong>de</strong>struir ou <strong>de</strong>svirtuar essas regras, o grupo pune, acorrenta e tira-lhe<br />
a liberda<strong>de</strong> <strong>de</strong> ir e vir, como se seguir as regras impostas já não fosse uma forma <strong>de</strong><br />
aprisionamento. Acostuma-se à i<strong>de</strong>ia <strong>de</strong> que o ser humano é incompleto, imperfeito e para<br />
que essa condição não se mantenha, a cultura <strong>de</strong> cada povo criou a <strong>de</strong>pendência mútua <strong>de</strong><br />
aceitação e aprovação uns dos outros. Narciso precisou do amor do outro refletido na água;<br />
Jacobina sentia falta da admiração e paparicos da sua tia e <strong>de</strong> todos os seus empregados e o<br />
narrador em Guimarães Rosa receia o julgamento alheio simbolizado pelo reflexo no<br />
<strong>espelho</strong> e pelo medo do ocultismo.<br />
REFERÊNCIAS:<br />
ASSIS, Machado <strong>de</strong>. O <strong>espelho</strong> (Esboço <strong>de</strong> uma teoria da alma humana). In: Obra<br />
Completa. Vol. II. Rio <strong>de</strong> Janeiro: Nova Aguilar, 1994.<br />
CAVALCANTI, Raïssa. O mito <strong>de</strong> Narciso: o herói da consciência. São Paulo: Cultrix,<br />
1992.<br />
ROSA, João Guimarães. O <strong>espelho</strong>. In: Primeiras estórias. Nova Fronteira, 2005<br />
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