o espelho nos contos de machado de assis e ... - Itaporanga.net
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ilustre. Semelhante a que acontece na mitologia, segundo Raïssa Cavalcanti (1992, p. 21),<br />
“Narciso representa a cegueira do amor, e a escolha pela beleza do corpo, no lugar da<br />
beleza divina”. Dessa forma, não se ouvem mais elogios, pois o reflexo no <strong>espelho</strong> agrada<br />
aos olhos, como se a voz da tia ainda pu<strong>de</strong>sse ser ouvida, ou seja, a audição é substituída<br />
pela visão, dois sentidos primordiais para a conquista, a paixão e a vaida<strong>de</strong>.<br />
A psicologia explica e prova através <strong>de</strong> pesquisas que só vemos aquilo que <strong>nos</strong><br />
interessa ver. Como os elogios, o tratamento especial e a adulação da tia contaminaram o<br />
inconsciente do jovem alferes, este só via a imagem eminente, antes tão valorizada. Diante<br />
disso, po<strong>de</strong>-se comprovar que Jacobina esquece-se <strong>de</strong> observar seu eu pessoal e foca<br />
apenas na personalida<strong>de</strong> masculina formada pelo uniforme. Neste momento, o <strong>espelho</strong><br />
sequestra a persona e <strong>de</strong>volve o homem criado pela aparência social.<br />
3. O Espelho <strong>de</strong> Guimarães Rosa<br />
No conto <strong>de</strong> mesmo título <strong>de</strong> Guimarães Rosa, parte integrante do livro<br />
Primeiras Estórias (2005), assim como no conto supracitado, os fatos são experiências do<br />
narrador. Neste, o narrador afirma que há os <strong>espelho</strong>s bons e maus, os que favorecem e os<br />
que traem, como por exemplo, as fotografias. “Os olhos, por enquanto, são a porta do<br />
engano; duvi<strong>de</strong> <strong>de</strong>les, dos seus, não <strong>de</strong> mim”. O narrador faz analogia à mitologia <strong>de</strong><br />
Narciso e Tirésias, quando este tem a premonição do que irá acontecer a Narciso. É para se<br />
ter medo dos <strong>espelho</strong>s!<br />
Nosso interlocutor diz que, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> menino, sempre evitou os <strong>espelho</strong>s, pois<br />
acreditava que o reflexo <strong>de</strong> uma pessoa no <strong>espelho</strong> fosse a própria alma. A alma do <strong>espelho</strong><br />
– esplêndida metáfora. Outros i<strong>de</strong>ntificam a alma como a sombra do corpo. Quando<br />
alguém morria, era costume tapar os <strong>espelho</strong>s. Em rituais, os vi<strong>de</strong>ntes a utilizam como a<br />
bola <strong>de</strong> cristal, utensílio <strong>de</strong> previsão <strong>de</strong> futuros fatos.<br />
O narrador começa a explicar sua repulsa ao <strong>espelho</strong>, quando da ocasião <strong>de</strong><br />
ver-se em dois <strong>espelho</strong>s, um em frente ao outro, e o reflexo ter-lhe causado espanto.<br />
Depois <strong>de</strong> perceber-se, começou a buscar-se, ou melhor, “o eu por <strong>de</strong>trás <strong>de</strong> mim”.<br />
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