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A Revolta da Chibata e seu centenário - Fundação Perseu Abramo

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pressão foi grande sobre o carnavalesco Luís Orlando e a direção <strong>da</strong> agremiação.<br />

Duas partes do projeto inicial foram retira<strong>da</strong>s, funcionários do Ministério<br />

e marinheiros desistiram de sair e o samba-enredo foi alterado. Para<br />

Morel, isso ocorreu pelas ligações <strong>da</strong>s escolas com “bicheiros, trafi cantes de<br />

tóxico e exploradores de lenocínio”. Isso tirou <strong>da</strong> direção o poder de reação,<br />

pois não “tinha autori<strong>da</strong>de moral, sequer, para estabelecer um diálogo” 47 .<br />

Na déca<strong>da</strong> de 1980 e com a liber<strong>da</strong>de parcial de expressão, mais três<br />

livros foram lançados e melhoraram ain<strong>da</strong> mais nosso entendimento <strong>da</strong> revolta.<br />

Mário Maestri e Marcos Silva publicaram dois livros voltados a um<br />

público mais vasto, menor que o de Morel, mas que sintetizavam a história<br />

<strong>da</strong> revolta e contribuíam com outras perspectivas, como o racismo, no livro<br />

de Maestri, e a repercussão na imprensa operária, no caso de Marcos Silva 48 .<br />

Paulo Ricardo de Moraes, jornalista gaúcho, explorou a história <strong>da</strong> revolta<br />

no livro didático, no sentido de questionar a forma e o espaço em que era<br />

reproduzi<strong>da</strong> nesses compêndios 49 . Foram livros importantes nessa primeira<br />

metade <strong>da</strong> déca<strong>da</strong> de 1980, para a popularização e manutenção <strong>da</strong> memória,<br />

haja vista que o regime militar ain<strong>da</strong> estava vigente e a livre opinião era um<br />

ato perigoso.<br />

No ano do <strong>centenário</strong> <strong>da</strong> abolição, um único livro veio a público, e<br />

curiosamente foi redigido pelo vice-almirante Hélio Leôncio Martins. Digo<br />

curiosamente por esperar que nesse ano surgissem também contribuições de<br />

movimentos sociais organizados. Contudo, era o ano de Zumbi, e João Cândido<br />

ain<strong>da</strong> não fi gurava como herói negro.<br />

Sabendo <strong>da</strong> sua fi liação à Marinha e to<strong>da</strong> a tradição que a instituição<br />

envolve, avisou que <strong>seu</strong> trabalho não era uma “história ofi cial” do evento,<br />

ou seja, que ele não respondia pela Arma<strong>da</strong>, mas por <strong>seu</strong> próprio intento. O<br />

almirante redigiu um trabalho com pesquisa, equilibrado nas questões que<br />

levaram à revolta. Nesse processo de re<strong>da</strong>ção, ele deixou alguns espaços em<br />

que a defesa dos ofi ciais era latente, e pouca crítica à Marinha <strong>da</strong> época foi<br />

apresenta<strong>da</strong> 50 .<br />

A memória <strong>da</strong> <strong>Revolta</strong> na déca<strong>da</strong> de 1990 e nos anos 2000, cresceu<br />

enormemente 51 . O regime militar não mais impedia e a identifi cação de João<br />

Cândido e dos marinheiros negros com movimentos sociais voltados para a<br />

luta contra as desigual<strong>da</strong>des raciais e o não respeito aos direitos humanos,<br />

tornou-se reali<strong>da</strong>de. Uma organização civil volta<strong>da</strong> para a questão é a União<br />

de Mobilização Nacional pela Anistia (UMNA), forma<strong>da</strong> pelos envolvidos na<br />

antiga Associação dos Marinheiros e Fuzileiros Navais do Brasil (AMFNB) e<br />

de outras armas como as <strong>da</strong> Aeronáutica e do Exército. São indivíduos que<br />

não foram anistiados na lei de 1979 – a maior parte foi expulsa <strong>da</strong> Marinha<br />

após a assembleia no Sindicato dos Metalúrgicos – e durante déca<strong>da</strong>s tiveram<br />

Nº 5, Ano 4, 2010 34

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