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A Revolta da Chibata e seu centenário - Fundação Perseu Abramo

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Alguns jornais tiveram duas e até três edições num único dia, tal a sede<br />

por informações de pessoas preocupa<strong>da</strong>s em saber se algum <strong>da</strong>queles tiros<br />

alcançaria suas casas ou suas próprias cabeças. Moradores fugiam do centro<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong>de para áreas mais distantes, como a Tijuca e outros subúrbios. Os<br />

marinheiros, enquanto isso, mantinham-se em posição de guerra, com lenços<br />

vermelhos nos pescoços, a bandeira <strong>da</strong> mesma cor hastea<strong>da</strong>, além de pendurar<br />

uma faixa com os dizeres “Ordem e Liber<strong>da</strong>de”.<br />

O ex-tenente e deputado federal José Carlos de Carvalho foi escolhido<br />

para intermediar conversações com os amotinados. Pegou uma barca e zarpou<br />

para um dos navios 25 . Lá chegando, pôde perceber que o navio encontrava-se<br />

completamente limpo, os camarotes permaneciam fechados e protegidos. As<br />

garrafas de aguardente foram joga<strong>da</strong>s ao mar. Era um navio com exemplar<br />

manutenção e preparado para bombardear a ci<strong>da</strong>de. Foi-lhe apresentado o<br />

marinheiro Marcelino, que recebera os golpes de chibata dias antes. O horror<br />

dessa visão foi descrita pelo deputado logo que chegou à Câmara, dizendo que<br />

as costas de Marcelino pareciam as de uma tainha “pronta para ser salga<strong>da</strong>”.<br />

Foi nessa mesma oportuni<strong>da</strong>de que o deputado também relatou as reivindicações<br />

dos marinheiros, muito bem descritas em uma lau<strong>da</strong>. O fi m dos castigos<br />

físicos no código disciplinar, a retira<strong>da</strong> de ofi ciais “incompetentes”, o aumento<br />

do soldo, a educação para os marinheiros indisciplinados e a mu<strong>da</strong>nça na<br />

tabela de serviços.<br />

Os debates sobre o assunto foram iniciados na Câmara, enquanto o presidente<br />

reunia-se com ofi ciais <strong>da</strong> Marinha e do Exército para saber se havia possibili<strong>da</strong>de<br />

de contra-ataque – plano abortado pelo poder <strong>da</strong>s imensas embarcações,<br />

que poderiam arrasar a ci<strong>da</strong>de e até mesmo o Palácio do Catete. Na<br />

Câmara as discussões eram tensas entre membros <strong>da</strong> oposição e <strong>da</strong> situação. De<br />

um lado, o senador Pinheiro Machado defendendo que o governo só ouvisse os<br />

marinheiros quando estes entregassem as armas; e, de outro, o senador Rui Barbosa<br />

procurando defender a posição dos amotinados. Havia uma clara tentativa<br />

de pôr ou retirar o governo dos ataques que receberia, por ter permitido que um<br />

grupo de marinheiros se apoderasse <strong>da</strong>s mais possantes armas navais existentes<br />

na América do Sul. Folhas de outros estados, mas também jornais portugueses,<br />

ingleses, franceses e americanos já reservavam parte <strong>da</strong>s suas primeiras páginas<br />

ao assunto. Interesses econômicos, políticos e bélicos estavam em jogo internacionalmente.<br />

O Brasil tinha a maior produção mundial de café, abastecendo<br />

milhões de xícaras em diversos países. Devia vultosos empréstimos conseguidos<br />

naquelas déca<strong>da</strong>s. Adquiriu material bélico que modifi cou a política armamentista<br />

no continente sul-americano. Por tudo isso, informações como essas eram<br />

consumi<strong>da</strong>s no exterior, no qual investidores e políticos aguar<strong>da</strong>vam apreensivos<br />

a posição do novo governo brasileiro, considera<strong>da</strong> fraca nos dias seguintes.<br />

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