You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
3 o <strong>ano</strong>
Este material é parte integrante do livro Projeto Descobrir 3 o <strong>ano</strong>. Não pode ser vendido separadamente.<br />
ESTE LIVRO PERTENCE A:<br />
1 a edição – São Paulo, 2009<br />
2 a reimpressão<br />
1<br />
3 0<br />
ANO
Gerente editorial: Lauri Cericato<br />
Editora: Rubette R. dos Santos<br />
Editoras assistentes: Debora Missias / Érica Lamas / Andrea De Marco<br />
Revisão: Pedro Cunha Jr. (coord.) / Lilian Semenichin / Renata Fontes<br />
Licenciamento de textos: Stephanie S. Martini<br />
Colaboradores<br />
Seleção de textos: Marta Ferraz e Paula Junqueira<br />
Assistência editorial: Fábio Nunes Tomaz Garcia / Camila Marques / Suria Scapin<br />
Gerente de arte: Nair de Medeiros Barbosa<br />
Projeto gráfi co e diagramação: Hamilton Olivieri<br />
Capa: Cristina Nogueira Silva<br />
Assistente de produção: Grace Alves<br />
Visite nosso site: www.atualeditora.com.br<br />
Central de atendimento ao professor: (0xx11) 3613-3030<br />
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fi m único e exclusivo o ensino. Caso exista algum texto a respeito do<br />
qual seja necessária a inclusão de informação adicional, fi camos à disposição para o contato pertinente. Do mesmo modo, fi zemos todos os esforços para identifi car e localizar<br />
os titulares dos direitos sobre as imagens publicadas, e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.<br />
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra está sendo utilizado apenas para fi ns didáticos, não representando qualquer tipo de recomendação de<br />
produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.<br />
2
Sumário<br />
Branca Flor e Rosa Vermelha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5<br />
Conto de fadas – Irmãos Grimm<br />
As viagens de Gulliver . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8<br />
Conto clássico – Jonathan Swift<br />
Por que o sol e a lua foram morar no céu . . . . . . . . . . . . . . 11<br />
Lenda africana – Júlio Emílio Braz<br />
O coelho da lua . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14<br />
Fábula japonesa – Florence Sakade e Yoshisuke Kurosaki<br />
A perna quebrada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16<br />
Conto contemporâneo – Angelo Machado<br />
Você sabia que na África existe um vulcão coberto de neve? . . 20<br />
Informativo – Celso Dal Ré Carneiro<br />
Tesouro perdido . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22<br />
Conto tibet<strong>ano</strong><br />
Fórmulas de escolha . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25<br />
Parlenda – Renata Meirelles<br />
Mãe, me conta aquela... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 27<br />
Crônica – Edson Gabriel Garcia<br />
O aniversário do Rei . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30<br />
Conto cumulativo – Rosana Rios<br />
Bibliografi a . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 32<br />
3
Ilustradores<br />
Amanda Grazini – Branca Flor e Rosa Vermelha<br />
Ricardo Costa – As viagens de Gulliver<br />
Bruna Brito – Porque o Sol e a Lua foram morar no céu<br />
Filipe Rocha – O coelho da Lua<br />
Ricardo Dantas – A perna quebrada<br />
Cecília Iwashita – Você sabia que na África existe um vulcão coberto de neve?<br />
Camila Sampaio – O tesouro perdido<br />
Alexandre Matos – Fórmulas da escolha<br />
Orlando – Mãe, conta aquela<br />
Fábio Sgroi – O aniversário do rei<br />
4
Branca Flor e Rosa Vermelha<br />
5<br />
Irmãos Grimm<br />
Recontado por Paula Junqueira<br />
Conto de fadas<br />
ra<br />
uma vez uma viúva que morava na fl oresta com suas duas lindas<br />
fi lhas, Branca Flor e Rosa Vermelha. Deu esses nomes a suas fi lhas porque<br />
gostava muito das fl ores de seu jardim.<br />
Durante o verão as moças passeavam livremente pelos bosques. No<br />
inverno fi cavam em casa ouvindo as histórias que a mãe contava.<br />
Em uma noite de um rigoroso inverno, alguém bateu à porta. Mais do<br />
que depressa, a mãe pediu a uma das fi lhas que abrisse, pois poderia ser<br />
alguém em busca de abrigo.<br />
Ao abrir, Rosa Vermelha levou um susto. Quem batia era um enorme<br />
urso. No entanto, ele disse:<br />
— Desculpe-me, não quero incomodar. Não lhes farei mal algum, só<br />
preciso de ajuda. Estou quase congelando aqui fora.<br />
A viúva comovida permitiu que ele entrasse e o aconselhou a fi car<br />
perto da lareira.<br />
Curiosas, as três mulheres se aproximaram do urso que logo se<br />
mostrou muito gentil. Conversaram por horas a fi o.<br />
Ao amanhecer, o urso agradeceu à viúva e se foi. Mas prometeu<br />
voltar. E assim, voltava todas as noites para conversar.<br />
Um dia o urso disse para as três:<br />
— Vou fi car um tempo longe porque preciso proteger meu tesouro<br />
dos anões. A primavera logo se inicia e eles novamente tentarão me roubar.<br />
Todas fi caram muito tristes, mas tinham a esperança de reencontrá-lo<br />
um dia.<br />
Durante um passeio pela fl oresta, Branca Flor e Rosa Vermelha deram<br />
de cara com um anão. Ele parecia ser muito velho, seus olhos eram<br />
vermelhos e tinha uma longa barba branca. Sua barba estava presa na fenda<br />
de uma árvore, e ele tentava em vão se soltar. Ao ver as moças, pediu ajuda:
— Não fi quem aí paradas, façam alguma coisa!<br />
A solução que Branca Flor encontrou foi cortar<br />
a barba do anão. Ao se ver livre, o anão pegou o saco de<br />
moedas de ouro que estava no chão e falou:<br />
— Não acredito que você cortou minha barba! Eu lhe<br />
desejo sete <strong>ano</strong>s de má sorte!<br />
Branca Flor e Rosa Vermelha fi caram estarrecidas com o que<br />
aconteceu, mas continuaram a passear pela fl oresta.<br />
Mais à frente elas encontraram o anão novamente correndo<br />
perigo. Muito assustado, gritava preso pelas garras de uma águia.<br />
As moças prontamente correram para ajudá-lo. E conseguiram.<br />
Mas o anão só sabia xingá-las. Antes de sair correndo, ele pegou um saco<br />
de pedras preciosas que tinha largado no chão.<br />
No dia seguinte, Branca Flor e Rosa Vermelha encontraram o anão<br />
contando suas riquezas. Percebendo a presença das moças se encheu de<br />
raiva e voltou a xingá-las.<br />
Nesse momento o urso apareceu. Ele urrou muito alto e assustou<br />
o anão que caiu para trás, apavorado.<br />
— Por favor, não me faça mal. Fique com essas duas moças para<br />
você! Elas parecem ser muito suculentas.<br />
O urso deu uma patada no anão que morreu em seguida. As moças<br />
muito assustadas pensaram em fugir, mas o urso falou:<br />
— Branca Flor e Rosa Vermelha, por favor, não tenham medo<br />
de mim.<br />
Finalmente o encanto se quebrou e o urso se transformou em um<br />
lindo rapaz.<br />
— Na verdade sou príncipe de um reino próximo daqui. Aquele<br />
anão me enfeitiçou para roubar a minha fortuna. Com sua morte<br />
estou livre do feitiço.<br />
Ele se declarou apaixonado pela Branca Flor e Rosa<br />
Vermelha apaixonou-se pelo irmão mais novo do príncipe.<br />
A viúva foi morar com as fi lhas no castelo, mas não<br />
deixou jamais de cuidar de seu jardim. E todos<br />
os <strong>ano</strong>s brotavam nele lindas rosas,<br />
brancas e vermelhas.<br />
7
As viagens de Gulliver<br />
No reino dos pequeninos<br />
8<br />
Jonathan Swift<br />
Recontado por Lúcia Tulchinski<br />
Conto clássico<br />
esde garoto, eu sonhava em viver grandes aventuras nos mares.<br />
Filho de uma família inglesa modesta, aos catorze <strong>ano</strong>s deixei a escola e<br />
me tornei aprendiz de um cirurgião famoso. Aplicava minha mesada em<br />
aulas de navegação e de matemática.<br />
No dia 4 de maio de 1699, embarquei como cirurgião no navio<br />
Antílope, rumo aos Mares do Sul. Depois de alguns dias no mar, uma<br />
violenta tempestade destruiu a embarcação. Eu e os outros tripulantes<br />
embarcamos num bote. Porém, ele também não resistiu ao mar bravio.<br />
O mesmo destino tiveram meus companheiros.<br />
Sozinho em alto-mar, nadei um pouco até que consegui agarrar-me<br />
a um tronco. Fiquei à deriva durante uma semana, sendo arrastado pelo<br />
vento e a maré. Enfi m, avistei terra fi rme. Nadei até lá com o resto das<br />
minhas forças e caí num sono profundo.<br />
Ao acordar, levei um susto daqueles. Eu estava amarrado e cercado por<br />
criaturas humanas minúsculas, armadas de arcos e fl echas. Os pequeninos<br />
vestiam roupas estranhas e falavam uma língua incompreensível.<br />
Depois de me alimentarem, eles me conduziram até à capital do<br />
reino. Fui aprisionado num templo abandonado nos arredores da cidade.<br />
Das janelas eu podia ver campos, pastos e fl ores. Sem dúvida, o reino de<br />
Liliput era um lugar adorável.<br />
Apelidado de Homem-Montanha, tornei-me a atração local. Centenas<br />
de liliputi<strong>ano</strong>s cuidavam das minhas necessidades. Alfaiates e costureiras<br />
confeccionavam-me roupas. Súditos das aldeias próximas forneciam-me<br />
alimentos. As crianças brincavam de esconde-esconde no meu cabelo.<br />
Os mais corajosos dançavam na palma da minha mão.
Em três semanas aprendi a falar a língua local. Após prestar um<br />
juramento solene de paz ao rei, pude passear livremente pelo reino. Minha<br />
presença sempre chamava a atenção. Afi nal, os liliputi<strong>ano</strong>s mediam apenas<br />
cerca de 15 cm.<br />
De repente, a notícia de uma invasão inimiga agitou a todos. Apesar<br />
de levarem uma vida pacífi ca, os liliputi<strong>ano</strong>s tinham um inimigo bem<br />
próximo: o império de Blefuscu, ilha ao norte do reino. Preocupado com<br />
meus novos amigos, ofereci ajuda ao rei:<br />
— Se Vossa Majestade desejar, eu posso derrotar a frota naval inimiga!<br />
O rei concordou e eu entrei imediatamente em ação.<br />
Avancei no mar, munido de cordas e ganchos. Os soldados de<br />
Blefuscu não contavam com o ataque de um gigante e, aterrorizados,<br />
abandonaram as embarcações.<br />
Prendi os ganchos aos navios com facilidade. Atingido apenas por<br />
algumas fl echas, arrastei os cinquenta maiores navios inimigos até o porto<br />
de Liliput.<br />
Os liliputi<strong>ano</strong>s me receberam com entusiasmo:<br />
— Salve o Homem-Montanha!!!<br />
Animado, o rei sugeriu: — Você poderia nos ajudar a destruir de uma<br />
vez por todas os inimigos!<br />
— Desculpe-me, Majestade, mas não tenho coragem de tirar a vida<br />
de inocentes — respondi.<br />
Em pouco tempo, passei a ser considerado um criminoso por não ter<br />
concordado em destruir Blefuscu. Segundo as leis de Liliput, ingratidão era<br />
um crime capital. Praticá-la contra um benfeitor signifi cava ser considerado<br />
inimigo de todo o reino.<br />
Com minha vida em perigo, eu só pensava em salvar meu pescoço.<br />
Por sorte, durante uma caminhada na praia, encontrei um bote exatamente<br />
do meu tamanho. Embarquei nele e parti.<br />
Alguns dias depois, avistei um navio com uma bandeira inglesa. Fui<br />
conduzido a bordo, onde contei a fantástica história sobre o reino dos<br />
pequeninos. Ninguém teria acreditado em mim se eu não mostrasse<br />
algumas vacas e carneiros, que carregava no bolso.<br />
Meses depois desembarquei na Inglaterra, onde minha esposa e meus<br />
dois fi lhos receberam-me com carinho.<br />
Ouvir minhas aventuras nas terras dos pequeninos tornou-se o<br />
passatempo preferido em casa. Afi nal, ter um pai gigante não é para<br />
qualquer um.<br />
10
Por que o sol e a lua<br />
foram morar no céu<br />
11<br />
Júlio Emílio Braz<br />
Lenda africana<br />
á muito tempo, o sol e a água eram grandes amigos e viviam<br />
juntos na Terra. Habitualmente o sol visitava a água, mas esta jamais lhe<br />
retribuía a gentileza. Por fi m, o sol quis saber qual o motivo de seu<br />
desinteresse e a água respondeu que a casa do sol não era grande o<br />
bastante para que nela coubessem todos com quem vivia e, se aparecesse<br />
por lá, acabaria por despejá-lo de sua própria casa.<br />
— Caso você queira realmente que eu o visite, terá que construir uma<br />
casa bem maior do que a que tem no momento, mas desde já fi que avisado<br />
de que terá que ser algo realmente muito grande, pois o meu povo é bem<br />
numeroso e ocupa bastante espaço.<br />
O sol garantiu-lhe que poderia visitá-lo sem custo, pois trataria de<br />
tomar todas as providências necessárias para tornar o encontro agradável<br />
para ela e para todos que a acompanhassem. Chegando em casa, o sol<br />
contou à lua, sua esposa, tudo o que a água lhe pedira e ambos se<br />
dedicaram com muito esforço à construção de uma casa enorme que<br />
comportasse sua visita.<br />
Quando tudo estava pronto, convidaram a água para visitá-los.<br />
Chegando, a água ainda foi amável e perguntou:<br />
— Vocês têm certeza de que realmente podemos entrar?<br />
— Claro, amiga água — respondeu o sol.<br />
A água foi entrando, entrando e entrando, acompanhada de todos os<br />
peixes e mais uma quantidade absurda e indescritivelmente grande,<br />
incalculável mesmo, de criaturas aquáticas. Em pouco tempo a água já se<br />
encontrava na altura dos joelhos.<br />
— Vocês estão certos de que todos podem entrar? — insistiu,<br />
preocupada.
— Por favor, amiga água — insistiu a lua.<br />
Diante da insistência de seus anfi triões, a água continuou a despejar<br />
sua gente para dentro da casa do sol. A preocupação voltou quando ela<br />
atingiu a altura de um homem.<br />
— Ainda posso entrar? — insistiu — Olha que está fi cando cheio demais...<br />
— Vai entrando, minha amiga, vai entrando — o sol estava realmente<br />
muito feliz com sua visita.<br />
A água continuou jorrando, empurrando seu povo para dentro,<br />
ocupando todos os cômodos da ampla casa, inundando e, por fi m, fazendo<br />
com que o sol e a lua, sem ter mais para onde ir ou se refugiar, subissem<br />
para o céu, onde estão até hoje.<br />
12
O coelho da lua<br />
Florence Sakade e Yoshisuke Kurosaki<br />
Fábula japonesa<br />
erta vez, o Velho da Lua olhou lá de cima para uma grande fl oresta<br />
na Terra. De lá, ele viu três grandes amigos em volta de uma fogueira: o<br />
coelho, o macaco e a raposa, que conversavam animadamente.<br />
Ao ver a cena, o Velho da Lua se perguntou:<br />
— Qual dos três seria o mais bondoso?<br />
Para descobrir, ele se disfarçou de mendigo e desceu da Lua até<br />
a Terra.<br />
— Por favor, me ajudem! — disse ele aos três amigos.<br />
— Estou com muita fome!<br />
— Oh, coitado deste pobre e velho mendigo! — disseram os três, que<br />
saíram correndo para arranjar comida para ele. O macaco encontrou um<br />
monte de frutas e levou para o Velho da Lua. A raposa capturou um peixe<br />
bem grande. Mas o coelho não conseguiu encontrar coisa alguma.<br />
— Ó céus! Ó céus! O que posso fazer? — lamentou o coelho que,<br />
naquele momento, teve uma ideia.<br />
— Por favor, amigo macaco, você conseguiria juntar um pouco de<br />
lenha pra mim? — disse o coelho. Ele virou-se para a raposa e fez mais um<br />
pedido: — Poderia fazer uma fogueira com a lenha que ele trouxer?<br />
Eles fi zeram como o amigo havia pedido. Quando o fogo estava bem<br />
alto, o coelho disse ao mendigo:<br />
— Quero muito ajudá-lo a matar sua fome, mas não encontrei nada.<br />
Vou me jogar no fogo e, quando eu estiver assado, você poderá se<br />
alimentar da minha carne.<br />
Quando ele estava prestes a se jogar dentro da fogueira, o mendigo<br />
rapidamente se transformou novamente no Velho da Lua, e foi logo<br />
dizendo:<br />
14
— Você é muito bondoso, coelho. Mas nunca faça nada que possa vir<br />
a causar algum mal a si mesmo. Como você é o mais generoso de todos na<br />
fl oresta, vou levá-lo para viver comigo, em minha casa.<br />
O Velho da Lua tomou o coelho em seus braços e o carregou pelo<br />
céu até chegar à Lua. Hoje, os dois vivem em harmonia. A felicidade é<br />
tanta que eles podem até ser vistos quando a lua brilha intensamente.<br />
15
A perna quebrada<br />
16<br />
Angelo Machado<br />
Conto contemporâneo<br />
saci acordou às cinco horas da tarde. Sua mãe comentou:<br />
— Levantou cedo, fi lho.<br />
— Tenho muito trabalho hoje, mãe — exclamou ele, enquanto<br />
procurava seu cachimbo e sua carapuça vermelha. — Tenho que espantar<br />
os cavalos, abrir as porteiras da fazenda pro grado comer a horta, soltar os<br />
porcos e quebrar os ovos do galinheiro.<br />
— Isso, fi lho! Bagunça tudo bem direitinho! Um saci responsável faz<br />
é assim mesmo. Se seu pai estivesse vivo, ia fi car orgulhoso de você.<br />
Pulando numa perna só, o saci saiu pela estrada afora procurando os<br />
cavalos. Quando a Lua começou a aparecer, encontrou-os no meio do<br />
pasto. Deu um assovio e, com um salto espetacular, pulou em pé nas costas<br />
do alazão.<br />
Assustado, o cavalo começou a correr como um doido acompanhado<br />
dos outros. Enquanto corria, o saci ia fazendo nós na crina e na cauda do<br />
animal.<br />
— Hi! Hi! Hi! Vai dar um trabalhão para o capataz da fazenda<br />
desfazer todos esses nós.<br />
Em seguida, pulou para as costas de outro cavalo, fez a mesma coisa<br />
e foi pulando de um cavalo para outro, a todo galope, tudo à luz do luar.<br />
Foi quando percebeu que um dos cavalos, o Bainho, tinha a sela caída na<br />
barriga.<br />
— Santo Deus! — exclamou o saci. — Na certa, alguém ia montado<br />
naquele cavalo, a barrigueira afrouxou e ele caiu.<br />
Lembrou-se, então, de que o Bainho era o cavalo<br />
de João Paulo, o fi lho do fazendeiro.<br />
— Será que o menino caiu? Vai ver está<br />
machucado em algum lugar por aí.
Decidiu então ver o que tinha acontecido. Saci é bagunceiro, vive<br />
fazendo travessuras e brincadeiras, às vezes até de mau gosto, mas tem bom<br />
coração. Além do mais, embora nunca tivessem conversado, ele tinha uma<br />
certa simpatia por João Paulo e resolveu sair à sua procura. Depois de mais<br />
de uma hora pulando por caminhos e estradas, ouviu alguém gritando por<br />
socorro. Era o menino. Aproximou-se dele e perguntou:<br />
— O que foi?<br />
Ao ver o saci, João Paulo levou um bruta susto e começou a gritar<br />
mais alto ainda.<br />
17
— Pare de gritar! — exclamou o saci. — Não precisa ter medo. Não<br />
vou lhe fazer mal. Eu sei que a barrigueira da sela afrouxou e você caiu do<br />
cavalo.<br />
Mais calmo e surpreso de ver que o saci sabia o que havia<br />
acontecido, João Paulo falou:<br />
— É! Foi isso mesmo. Eu caí e não consigo andar. Minha perna está<br />
doendo muito.<br />
— Deixe-me examiná-la — disse o saci.<br />
João Paulo fi cou um pouco receoso de ser examinado por um saci,<br />
mas acabou deixando. O saci pegou a perna, apalpou, examinou com<br />
cuidado e disse:<br />
— Eu não entendo muito desse negócio de perna, você sabe, só tenho<br />
uma, mas acho que a sua está quebrada.<br />
— Eu também acho — disse o menino. — Por isso não consigo andar.<br />
— Vamos! Vou levá-lo para casa.<br />
Colocaram os braços um no ombro do outro e saíram andando bem<br />
devagar, dando passos ora com a perna sadia do menino, ora com a perna<br />
do saci. Finalmente chegaram à casa da fazenda. Dentro, só estava a avó de<br />
João Paulo.<br />
— Santo Deus! Onde você estava? Saiu todo mundo para procurá-lo<br />
— exclamou ela.<br />
— Caí do cavalo e quebrei a perna, vó. O saci me achou e me trouxe.<br />
Logo começaram a chegar as outras pessoas, o capataz, os vaqueiros,<br />
os pais de João Paulo, todos querendo saber o que havia acontecido. O pai<br />
de João Paulo examinou a perna. O menino gritou de dor.<br />
— Fraturou a tíbia. Uma fratura grave, temos que levar você para a<br />
cidade hoje ainda.<br />
— Eu sei, pai. O saci já me examinou e disse a mesma coisa.<br />
Só então perceberam que, no canto da sala, havia um saci. João Paulo<br />
o apresentou a seus pais.<br />
— Pai e mãe, este é o meu amigo saci. Ele me socorreu e me trouxe<br />
para casa.<br />
O fazendeiro estendeu a mão ao saci.<br />
— Muito prazer.<br />
— Muito prazer, meu senhor. Pererê, às suas ordens.<br />
— Nós somos muito gratos a você pelo que fez pelo nosso fi lho —<br />
falou a mãe de João Paulo.<br />
18
— Ora, minha senhora, não fi z mais do que minha obrigação.<br />
O fazendeiro estava desconfi ado de que aquele saci andava fazendo<br />
estripulias na fazenda, mas mesmo assim sentiu uma grande simpatia por<br />
ele. Decidiu que João Paulo partiria imediatamente para a cidade a fi m de<br />
ser medicado. Sua mãe fez rapidamente a mala. As aulas já estavam para<br />
começar e ele só voltaria à fazenda nas próximas férias.<br />
O saci acompanhou João Paulo até o carro.<br />
— Tchau, João! Cuide bem dessa perna que é coisa muito preciosa.<br />
— Tchau, Pererê! Quando eu voltar, procuro você.<br />
O carro saiu em direção à cidade. Naquele momento começava uma<br />
longa e duradoura amizade entre João Paulo e o saci-pererê.<br />
19
Você sabia que na<br />
África existe um vulcão<br />
coberto de neve?<br />
20<br />
Celso Dal Ré Carneiro<br />
Informativo<br />
Quando se fala em África, logo vem à cabeça a imagem de uma<br />
savana. Veja se você pensou em uma cena parecida: mata baixa, leões<br />
disfarçados à procura de uma presa, rinocerontes, elefantes, sol escaldante<br />
— capaz de fritar um ovo no chão — e um pouquinho de neve... Opa! Há<br />
algo errado! Neve? Na África?<br />
É mesmo difícil de acreditar, mas embaixo de todo esse calor, muito<br />
perto de leões, girafas e rinocerontes, existe um vulcão coberto de neve:<br />
o Kilimanjaro. Ele está localizado na Tanzânia, país da costa oeste do<br />
continente, e tem quase seis mil metros de altitude.<br />
Ué, mas a lava do vulcão expelida não derreteria a neve? Derreteria.<br />
Acontece que não há registros de erupções nesse vulcão. Isso porque o<br />
Kilimanjaro não é um vulcão ativo e, sim, dormente. No seu interior, há lava<br />
derretida e ele, de vez em quando, solta no ar vapor de água, poeira<br />
e gases, que parecem uma fumaça. Por isso, não é descartada a hipótese de<br />
que entre em erupção no futuro, o que causaria o fi m da camada de gelo.<br />
Mas você deve estar se perguntando: por que, afi nal, a neve se<br />
acumulou em cima do vulcão? Guarde bem para não esquecer: em locais<br />
extremamente altos, como no topo do Kilimanjaro, a temperatura média<br />
chega a ser tão fria como nos polos da Terra. Quem se aventura a escalar<br />
essa montanha começa enfrentando clima quente como o da Amazônia, até<br />
que, com a subida, a temperatura vai baixando, há chuvas e, no topo, gelo!<br />
Ali ocorre um fenômeno conhecido como “neve eterna”. Essa neve cai nos<br />
dias mais frios do inverno e não consegue ser derretida durante o resto do<br />
<strong>ano</strong>. Só que esse quadro mudou...
Há 100 <strong>ano</strong>s, o gelo cobria todo o alto da montanha — uma área de,<br />
aproximadamente, 12 quilômetros quadrados. Comparada ao que já foi,<br />
hoje ela é bem pouca. Acumula-se em cerca de dois quilômetros<br />
quadrados, ou seja, um sexto de seu tamanho original. Foi o aquecimento<br />
do planeta que fez com que, pouco a pouco, a neve eterna se derretesse.<br />
Resultado: o desaparecimento da neve no topo do Kilimanjaro,<br />
paralelamente, provocará a diminuição do volume de águas dos rios que as<br />
neves alimentam. E aí pode ocorrer o desaparecimento das fl orestas também.<br />
Se você acha que ainda vai levar tempo para isso acontecer, preste<br />
atenção: por conta das mudanças no clima na Terra, alguns cientistas<br />
preveem que o branquinho no topo do Kilimanjaro desapareça em futuro<br />
próximo, daqui a 10 ou 15 <strong>ano</strong>s. Aproveite, então, para ver depressa esse<br />
fenômeno, ainda que seja por fotos.<br />
21
Tesouro perdido Conto tibet<strong>ano</strong><br />
m pai disse a seu fi lho:<br />
Leve o meu ouro para sua casa. É seu. Mas lembre-se de que não deve<br />
confi ar em ninguém. Nem sequer na sua esposa.<br />
O pai acreditava que o fi lho — cujo nome era Sonam — soubesse seguir<br />
seu conselho e que compreendesse como acontecem as coisas no mundo.<br />
Sonam tinha um grande amigo, de nome<br />
Tamchu. Quando crianças, tinham ido juntos à escola,<br />
e, todas as tardes, brincavam do jogo de volante com o<br />
pé. Tamchu vivia na aldeia próxima, com a mulher e<br />
dois fi lhos pequenos.<br />
Certo dia, Sonam decidiu sair em<br />
peregrinação ao mosteiro santo. Antes de partir,<br />
lembrou-se de que, quando vivo, o pai lhe havia<br />
dito que não confi asse em ninguém. Mas, ao<br />
pensar no amigo Tamchu, não pôde admitir que<br />
as palavras do pai devessem ser aplicadas também<br />
a este. Não, a Tamchu, não. E assim, levou suas<br />
duas bolsas de pepitas de ouro à casa do amigo<br />
e lhe disse:<br />
— Tamchu, por favor, guarde-me<br />
o ouro enquanto eu estiver fora. Este é o<br />
ouro que meu pai me deixou, ao morrer.<br />
Tamchu respondeu:<br />
— Oh, sim, naturalmente.<br />
Guardarei o seu ouro com muito<br />
cuidado, e, quando voltar de sua<br />
peregrinação, você aqui o encontrará.<br />
22
Você não tem por que se preocupar. Somos bons amigos,<br />
não somos?<br />
E assim — continuou o monge —, passou-se um <strong>ano</strong> e Sonam<br />
voltou da sua peregrinação. Foi à casa de Tamchu e pediu ao amigo:<br />
— Você pode me devolver o ouro, Tamchu?<br />
— Oh, eu sinto tanto, Sonam! Aconteceu uma desgraça, uma<br />
grande desgraça! O ouro se converteu em areia! — respondeu Tamchu,<br />
olhando o amigo com cara de quem estava desesperado.<br />
Mas, Sonam, enquanto o amigo lhe<br />
contava o estranho acontecimento, não<br />
pareceu surpreso e, depois de alguns minutos<br />
de silêncio, disse:<br />
— Está bem, Tamchu, não se preocupe.<br />
Você fez tudo que pôde para vigiar o meu ouro.<br />
E os dois comeram juntos em paz, como<br />
se a perda do ouro tivesse sido esquecida por<br />
completo. Ao entardecer, Sonam disse ao amigo:<br />
— Tamchu, eu gostaria de cuidar dos<br />
seus fi lhos durante uns meses, já que não<br />
tenho minha própria família. Gostaria de<br />
dar-lhes boa comida e boa roupa. Eles<br />
seriam muito felizes em minha casa.<br />
— Muito boa ideia, Sonam!, disse<br />
Tamchu, pensando:<br />
Embora ele tenha perdido<br />
todo o seu ouro nas minhas mãos,<br />
ainda quer cuidar de meus fi lhos.<br />
Sem dúvida, é uma ótima pessoa.<br />
E, assim, acrescentou:<br />
Naturalmente, Sonam.<br />
Você pode levar meus fi lhos<br />
pelo tempo que quiser.<br />
23
Sonam levou as crianças para a sua casa e tratou delas muito bem.<br />
Mas comprou dois macaquinhos e pôs neles os nomes dos meninos.<br />
Durante os dias que seguiram, adestrou os monos para que, quando ele<br />
chamasse: “Tendzin, venha aqui!”, o macaquinho maior corresse para ele;<br />
e, quando chamasse: “Thupten, venha aqui!”, o macaquinho menor<br />
também fosse em direção a ele. Os macaquinhos entenderam muito bem<br />
e aprenderam muito rapidamente.<br />
Passado o tempo, quando Tamchu foi buscar os fi lhos, Sonam mostrou<br />
uma cara muito triste ao amigo:<br />
— Oh, eu sinto tanto, Tamchu — disse. Aconteceu uma desgraça,<br />
uma grande desgraça! Seus fi lhos se converteram em macacos!<br />
Tamchu fi cou muito triste e chamou os fi lhos por seus nomes.<br />
Imediatamente, apareceram os dois macaquinhos e correram para ele.<br />
Tomaram a mão de Tamchu e dançaram à sua volta, como se fossem<br />
menininhos. Tamchu fi cou desolado e perguntou ao amigo:<br />
— Sonam, que podemos fazer? Como podemos fazer com que estes<br />
macacos se convertam de novo em meus fi lhos?<br />
Sonam mostrou-se pensativo por uns instantes e depois respondeu:<br />
— Isso é fácil, meu amigo, mas vamos precisar de muito ouro.<br />
— De quanto? — perguntou Tamchu.<br />
— De umas duas bolsas de pepitas de ouro, pelo menos.<br />
— Tão logo passa, trarei as bolsas de ouro — disse Tamchu, e saiu<br />
correndo para sua casa.<br />
Mais tarde, voltou e deu o ouro ao amigo. Sonam o pegou e disse<br />
a Tamchu que esperasse enquanto ele subia ao andar de cima. No fi m de<br />
alguns momentos, desceu.<br />
— Aqui estão, Tamchu. Transformei os macacos em seres hum<strong>ano</strong>s<br />
de novo, em seus fi lhos.<br />
Tamchu fi cou encantado por recobrar seus fi lhos, mas olhou com<br />
vergonha para Sonam. Logo depois, porém, os dois amigos caíram no riso.<br />
CUIDADO COM O MEL QUE É OFERECIDO SOBRE<br />
UMA FACA AFIADA!<br />
24
Fórmulas de escolha<br />
25<br />
Renata Meirelles<br />
Parlenda<br />
A professora Mônica Aparecida Costa Silva, da cidade de Maringá,<br />
no Paraná, conta que um grupo de crianças senta em roda com os pés<br />
esticados; uma delas, no centro, canta e bate sua mão nas pontas dos pés<br />
de todos. A criança que recebe a batida correspondente à última sílaba<br />
recolhe apenas o pé escolhido, deixando o outro esticado. Assim, um a um<br />
os pés vão sendo retirados do centro, sobrando apenas uma única criança.<br />
Os versos que animam a brincadeira são os seguintes:<br />
Fui na casa do seu Mané<br />
Seu Mané não estava lá<br />
Encontrei uma cobra morta<br />
A cobra disse<br />
Que bé bé bé<br />
Tira esse pé.
Já a garotada de Vila Macedônia, no Amapá, escolhe os jogadores<br />
dizendo os seguintes versos:<br />
Bico, bico maçarico<br />
Quem te deu tamanho bico<br />
Foi a velha chicoreira<br />
Que morava na ribeira<br />
Ana, Ana, bu, bu<br />
Pelo rabo do ta, te, ti, to, tu<br />
É neto de urubu.<br />
O grupo se reúne<br />
à frente de quem dirá os versos,<br />
esticando as mãos fechadas.<br />
E o processo acontece como citado anteriormente.<br />
Na cidade de Minas Novas, em Minas Gerais, um dos versos usados<br />
pela criançada na hora de escolher quem começa o jogo é:<br />
Varre varre vassourinha<br />
Com a vassoura da rainha<br />
Sete copa, sete ouro<br />
Tira a mão da bolachinha.<br />
Na hora de brincar, o processo é mais ou menos como nas<br />
brincadeiras anteriores: todos em roda enquanto uma criança no centro diz<br />
os versos batendo na mão de cada um. A criança escolhida deve colocar<br />
uma das mãos para trás, deixando a outra no centro da roda, seguindo<br />
assim até que sobre apenas uma mão no centro da roda.<br />
26
Mãe, me conta aquela...<br />
27<br />
Edson Gabriel Garcia<br />
Crônica<br />
Pedrinho, de pijama, deitado, olhos procurando alguma coisa perdida<br />
no teto, pediu à mãe.<br />
— Mãe, me conta aquela...<br />
A mãe, deitada na cama ao lado, procurando descansar um pouco<br />
enquanto o fi lho se preparava para dormir, não teve jeito.<br />
— Aquela qual?<br />
— Aquela da Cinderela.<br />
— Ah!... Bem, era uma vez uma moça pobre e órfã que morava com<br />
a madrasta e suas três fi lhas.<br />
— Tudo isso, mãe? Tanto fi lho assim? Você não vive falando que ter<br />
mais de dois fi lhos em casa é loucura?!<br />
— ...ela era muito maltratada pela madrasta...<br />
— ...só porque queria, né, mãe? A senhora não vê na novela como as<br />
fi lhas brigam com as madrastas? Onde já se viu? Então essa moça, além de<br />
órfã e pobre, era muito boba.<br />
— As coisas boas, as melhores roupas, a comida mais gostosa, tudo era<br />
para as fi lhas dela. O resto, o que sobrava, era para a enteada. Além disso, ela<br />
vivia sempre suja, por causa dos serviços de casa e do borralho do fogão...<br />
— Borralho, mãe? O que é isso?<br />
— Borralho é o resto das brasas e cinzas da lenha que queimou e fez<br />
fogo para preparar a comida.<br />
— Fogão a lenha, mãe?<br />
— É.<br />
— Mãe, isso não existe mais. As casas só têm fogão a gás.<br />
— Bem... um dia haveria um baile no reino para o príncipe escolher<br />
sua mulher. As fi lhas da madrasta encomendaram vestidos lindíssimos para<br />
as melhores costureiras do reino.
— Elas não compraram vestidos prontos nas lojas, mãe?<br />
— Não... mandaram fazer. No dia do baile, as três moças enfeitaram-se<br />
todas, mas mesmo assim, como eram horrorosas, continuaram feias. Na hora<br />
de sair para o baile, olharam com ar de pouco caso para a irmã de criação.<br />
— E ela não falou nada, mãe?<br />
— Não, fi lho. Foi para um canto da cozinha, perto do borralho, onde<br />
era o seu lugar.<br />
— Puxa, mãe, que moça bola murcha! Tava esperando cair algum<br />
presente do céu?<br />
— Daí... de repente, apareceu uma fada madrinha e presenteou-a<br />
com um vestido lindíssimo, sapatos de cristal e uma carruagem puxada por<br />
seis cavalos brancos.<br />
— Pô, mãe, acho que você está por fora da história. Na verdade, a<br />
moça não tinha fada madrinha, coisa nenhuma. Ela foi mesmo é quebrar o<br />
maior pau com o pai dela e disse para o velho: “Olha aqui, pai, ou você<br />
me dá uns trocos para eu comprar uma roupa e ir no baile...”. Certo mãe?<br />
A mãe concordou:<br />
— É...<br />
— E ela deu mais um aperto no pai: “Que droga de pai é você, que<br />
deixa a madrasta fazer o que quer com sua fi lha!”. O pai não teve outra saída<br />
senão arrumar mais dinheiro pra fi lha comprar suas coisas. Como ela era<br />
mais bonita, foi ao baile e acabou arrumando um namorado. Certo, mãe?<br />
A mãe continuava ouvindo:<br />
—...<br />
— Depois do baile, suas irmãs comentaram: “Já era hora<br />
de arrumar um namorado, pois está fi cando velha!”. Mas esse<br />
namoro não deu certo porque o cara era muito mandão<br />
e queria mandar em tudo na vida da pobre Cinderela.<br />
Pedrinho fez uma pausa, satisfeito.<br />
— Gostou da história, mãe?<br />
A mãe não respondeu. Pedrinho tornou a perguntar:<br />
— Gostou, mãe?<br />
A mãe não respondeu, claro. Tinha dormido<br />
gostosamente na cama ao lado. Pedrinho ajeitou-se também<br />
na cama e se preparou para mais uma noite de sono e sonhos.<br />
Como em todas as outras, certamente fadas, bruxas, duendes, cinderelas<br />
e mágicos estariam fazendo parte da sua noite.<br />
29
O aniversário do Rei<br />
30<br />
Rosana Rios<br />
Conto cumulativo<br />
a véspera do aniversário do Rei, o Mago Real preparou uma baita<br />
festa. Espalhou balões pelo palácio, instalou fogos de artifício nas torres,<br />
assou um bolo mágico que acendia velas e cantava “parabéns”.<br />
Tantos encantamentos ele preparou, que fi cou muito, muito, muito<br />
cansado. À noite, tomou um copo de leite morno e foi dormir. Dormiu,<br />
dormiu, dormiu. E nada de acordar.<br />
Precisando de alguns conselhos, o Rei foi chamar o Mago logo<br />
de manhã. Quando viu o Mago ferrado no sono, bocejou,<br />
bocejou, bocejou. Fechou os olhos...<br />
e dormiu também.<br />
A Rainha, preocupada com a ausência<br />
do marido, saiu a sua procura.<br />
Encontrou o Mago ferrado no sono<br />
e o Rei dormindo. Bocejou e...<br />
dormiu também.<br />
O Príncipe foi chamar<br />
a Rainha. Viu o Mago<br />
ferrado no sono,<br />
o Rei dormindo, a<br />
Rainha roncando.<br />
Bocejou e<br />
dormiu<br />
também.
O Ministro foi chamar o Príncipe. Viu o Mago ferrado no sono, o Rei<br />
dormindo, a Rainha roncando, o Príncipe descansando. Bocejou e dormiu<br />
também.<br />
O General foi chamar o Ministro. Viu o Mago ferrado no sono,<br />
o Rei dormindo, a Rainha roncando, o Príncipe descansando, o Ministro<br />
ressonando. Bocejou e dormiu também.<br />
O Soldado foi chamar o General. Viu o Mago ferrado no sono,<br />
o Rei dormindo, a Rainha roncando, o Príncipe descansando, o Ministro<br />
ressonando, o General babando. Bocejou e dormiu também.<br />
A Camareira do palácio foi arrumar o quarto do Mago. Viu o Mago<br />
ferrado no sono, o Rei dormindo, a Rainha roncando, o Príncipe<br />
descansando, o Ministro ressonando, o General babando, o Soldado<br />
sonhando. Achou o Soldado tão bonitinho que o beijou... um beijo, dois<br />
beijos, três beijos.<br />
O Soldado acordou e chutou o General, que espirrou no Ministro,<br />
que sacudiu o Príncipe, que deu uma cotovelada na Rainha, que deu um<br />
safanão no Rei, que chamou o Mago. O Mago acordou e disse,<br />
ainda tonto de sono: – Feliz Aniversário!<br />
No mesmo instante os balões se encheram, os<br />
fogos de artifício subiram ao céu, o bolo acendeu<br />
as próprias velas e começou a cantar: –<br />
Parabéns para o Rei, nesta data querida...<br />
E foi uma baita festa, onde todos<br />
cantaram, festejaram e comeram<br />
bolo. Mas quem fi cou feliz,<br />
feliz, feliz, foi o Soldado –<br />
que dançou a noite inteira<br />
com a Camareira!<br />
Quanto ao<br />
Mago, dizem que<br />
ele nunca mais<br />
tomou leite<br />
morno...<br />
31
Bibliografi a<br />
Angelo Machado. A outra perna do saci.<br />
São Paulo: Nova Fronteira, 2001.<br />
Celso Dal Ré Carneiro. Revista Ciência Hoje das<br />
Crianças: Especial África. Rio de Janeiro: Instituto<br />
Ciência Hoje, nº 168, mai. de 2006, p. 13.<br />
Edson Gabriel Garcia. Treze contos. São Paulo:<br />
Atual, 2005.<br />
Florence Sakade e Yoshisuke Kurosaki. Histórias<br />
preferidas das crianças japonesas. São Paulo:<br />
JBC, 2005.<br />
Helen Cresswell. Contos de fadas clássicos.<br />
São Paulo: Martins Fontes, 1996.<br />
Júlio Emílio Braz. Sikulume e outros contos<br />
afric<strong>ano</strong>s. São Paulo: Pallas, 2005.<br />
Renata Meirelles. Giramundo e outros brinquedos<br />
e brincadeiras dos meninos do Brasil. São Paulo:<br />
Terceiro Nome, 2007.<br />
Contos populares do Tibete. São Paulo: Landy, s/d.<br />
Rosana Rios. O aniversário do Rei.<br />
São Paulo: Atual, 2009.<br />
32
Esta seleção<br />
de textos foi pensada para<br />
acompanhá-lo ao longo do <strong>ano</strong>.<br />
São histórias, fábulas, poesias, adivinhas,<br />
contos, lendas — estilos diversos de texto,<br />
escritos por autores diferentes, que vieram<br />
de lugares diferentes. Todos os textos<br />
estão acompanhados de lindas ilustrações,<br />
que você também vai poder apreciar.<br />
Este Meu Livro de Histórias é seu, para uma<br />
leitura prazerosa pessoal ou para que<br />
alguém leia alguma das histórias para você.<br />
Deixe que esses autores e suas histórias<br />
encantadoras façam parte de sua vida<br />
e imaginação.