Querido John - Le Livros

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Dear John Nicholas Sparks espararei ela aparecer. Ela não poderá me ver, é claro. No exército, você aprende a se camuflar nos seus arredores, e eu aprendi bem, porque eu não tinha nenhum desejo de morrer em algum depósito de lixo estrangeiro no meio do deserto do Iraque. Mas eu tinha que voltar para essa pequena cidade montanhosa da Carolina do Norte para descobrir o que aconteceu. Quando uma pessoa coloca alguma coisa em movimento, há um sentimento de mal-estar, quase arrependimento, até você descobrir a verdade. Mas disso eu estou certo: Savannah nunca saberá que eu estou aqui hoje. Uma parte de mim dói só com o pensamento de ela estar tão perto e ainda assim tão intocável, mas a história dela e a minha são diferentes agora. Não foi fácil pra mim aceitar essa simples verdade, porque houve um tempo em que nossas histórias eram as mesmas, mas isso foi há seis anos e duas vidas atrás. Há lembranças para nós dois, é claro, mas eu aprendi que as memórias podem ter uma presença física, quase viva, e nisso, Savannah e eu somos diferentes também. Se as dela são as estrelas no céu da noite, as minhas são os espaços vazios entre elas. E diferente dela, eu tenho sido sobrecarregado com perguntas que eu tenho feito a mim mesmo mil vezes desde a última vez que nós estivemos juntos. Por que eu fiz o que fiz? E eu faria de novo? Fui eu, você sabe, quem acabou tudo. Nas árvores ao meu redor, as folhas estão só começando a lentamente mudar pra cor de fogo, reluzindo enquanto o sol espia sobre o horizonte. Os pássaros começaram seus cânticos matinais, e o ar está perfumado com o aroma de pinho e terra; diferente do aroma de mar e sal da minha cidade natal. Logo, a porta da frente se abre, e é aí que eu a vejo. Apesar da distância entre nós, eu me pego prendendo a respiração enquanto ela caminha em direção ao amanhecer. Ela se espreguiça descendo os degraus da frente e segue para o outro lado. Além dela, o pasto dos cavalos brilha como um oceano verde, e ela passa pelo portão que leva até ele. Um cavalo solta um cumprimento, assim como outro, e meu primeiro pensamento é que Savannah parece muito pequena para estar se movendo tão facilmente entre eles. Mas ela sempre foi confortável com cavalos, e eles eram confortáveis com ela. Meia dúzia deles mordiscam a grama perto da estaca da cerca, e Midas, o Arabian whitesocked* dela dispara para um lado. Eu cavalguei com ela uma vez, felizmente sem danos, e eu estava me

Dear John Nicholas Sparks segurando como podia, lembro de pensar que ela parecia tão relaxada na sela que poderia estar assistindo televisão. Savannah leva um tempo pra cumprimentar Midas agora. Ela esfrega o nariz dele enquanto murmura algo, dá tapinhas nas coxas dele, e quando se vira, ele empina as orelhas enquanto ela segue em direção ao celeiro. *Raça de cavalo. Ela desaparece, então emerge mais uma vez, carregando dois sacos-grãos de aveia, eu acho. Ela segura os sacos em cima de duas estacas da cerca, e alguns dos cavalos trotam em direção a elas. Quando ela dá um passo atrás para dar espaço, eu vejo seu cabelo esvoaçar na brisa antes que ela pegue uma sela e um freio. Enquanto Midas come, ela o prepara para a corrida, e alguns minutos depois ela o está guiando para fora do pasto, em direção às trilhas da floresta, com a mesma aparência que ela tinha seis anos atrás. Eu sei que não é verdade - a vi de perto ano passado e notei as primeiras linhas finas começando a se formar ao redor dos seus olhos - mas o prisma pelo qual eu a enxergo permanece pra mim inalterado. Para mim, ela sempre terá 21 anos e eu sempre terei 23. Minha estação fica na Alemanha; eu ainda tenho que ir à Fallujah ou a Bagdá ou receber a carta dela, que eu li na estação da estrada de ferro de Samawah nas primeiras semanas da minha campanha; eu ainda tenho que voltar pra casa depois dos eventos que mudaram o curso da minha vida. Agora, com 29 anos, eu às vezes me pergunto sobre as escolhas que fiz. O exército se tornou a única vida que eu conheço. Não sei se eu deveria estar irritado ou contente com esse fato; na maioria do tempo, eu me encontro alternando entre os dois sentimentos, dependendo do dia. Quando as pessoas perguntam, digo a elas que sou um grunhido, e não estou mentindo. Ainda vivo em uma base na Alemanha, tenho talvez cem mil dólares em economias e não tenho um encontro há anos. Eu não surfo mais, mesmo quando estou de licença, mas nos meus dias de folga eu dirijo minha Harley para o norte ou para o sul, pra onde quer que o meu humor me levar. A Harley foi à única coisa melhor que eu já comprei pra mim mesmo, embora tenha custado uma fortuna naquele tempo. Combina comigo, desde que eu me tornei um tipo de solitário. A maioria dos meus amigos deixaram o serviço, mas eu provavelmente vou ser mandado de

Dear <strong>John</strong> Nicholas Sparks<br />

espararei ela aparecer. Ela não poderá me ver, é claro. No exército, você aprende a se<br />

camuflar nos seus arredores, e eu aprendi bem, porque eu não tinha nenhum desejo de morrer<br />

em algum depósito de lixo estrangeiro no meio do deserto do Iraque. Mas eu tinha que voltar<br />

para essa pequena cidade montanhosa da Carolina do Norte para descobrir o que aconteceu.<br />

Quando uma pessoa coloca alguma coisa em movimento, há um sentimento de mal-estar,<br />

quase arrependimento, até você descobrir a verdade.<br />

Mas disso eu estou certo: Savannah nunca saberá que eu estou aqui hoje.<br />

Uma parte de mim dói só com o pensamento de ela estar tão perto e ainda assim tão<br />

intocável, mas a história dela e a minha são diferentes agora. Não foi fácil pra mim aceitar<br />

essa simples verdade, porque houve um tempo em que nossas histórias eram as mesmas, mas<br />

isso foi há seis anos e duas vidas atrás. Há lembranças para nós dois, é claro, mas eu aprendi<br />

que as memórias podem ter uma presença física, quase viva, e nisso, Savannah e eu somos<br />

diferentes também. Se as dela são as estrelas no céu da noite, as minhas são os espaços<br />

vazios entre elas. E diferente dela, eu tenho sido sobrecarregado com perguntas que eu tenho<br />

feito a mim mesmo mil vezes desde a última vez que nós estivemos juntos. Por que eu fiz o<br />

que fiz? E eu faria de novo? Fui eu, você sabe, quem acabou tudo.<br />

Nas árvores ao meu redor, as folhas estão só começando a lentamente mudar pra cor de<br />

fogo, reluzindo enquanto o sol espia sobre o horizonte. Os pássaros começaram seus cânticos<br />

matinais, e o ar está perfumado com o aroma de pinho e terra; diferente do aroma de mar e<br />

sal da minha cidade natal. Logo, a porta da frente se abre, e é aí que eu a vejo. Apesar da<br />

distância entre nós, eu me pego prendendo a respiração enquanto ela caminha em direção ao<br />

amanhecer. Ela se espreguiça descendo os degraus da frente e segue para o outro lado. Além<br />

dela, o pasto dos cavalos brilha como um oceano verde, e ela passa pelo portão que leva até<br />

ele. Um cavalo solta um cumprimento, assim como outro, e meu primeiro pensamento é que<br />

Savannah parece muito pequena para estar se movendo tão facilmente entre eles. Mas ela<br />

sempre foi confortável com cavalos, e eles eram confortáveis com ela. Meia dúzia deles<br />

mordiscam a grama perto da estaca da cerca, e Midas, o Arabian whitesocked* dela dispara<br />

para um lado. Eu cavalguei com ela uma vez, felizmente sem danos, e eu estava me

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