Querido John - Le Livros

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16.04.2013 Views

Dear John Nicholas Sparks ele me assegurou. Ele estava tentando convencê-lo havia algum tempo-, mas ele se recusava até eu voltar de licença. Por alguma razão, o medico explicou, meu pai estava determinado a me receber em sua casa uma ultima vez. Essa constatação foi esmagadora e, no taxi do aeroporto, tentei me convencer de que o médico estava exagerando. Mas não estava. Meu pai não conseguiu levantar do sofá quando abri a porta, e fiquei perplexo ao perceber que ele parecia ter envelhecido trinta anos durante o ano que ficamos sem nos ver. Sua pele estava acinzentada, e fiquei chocado com o quanto ele emagrecera. Com um nó na garganta, coloquei a mala para dentro. ―Oi papai‖, disse. De inicio, não tive certeza de que ele me reconhecera, mas por fim ouvi um sussurro áspero. ―Oi John.‖ Fui até o sofá e sentei-me ao lado dele. ―Você esta bem?‖ ―Bem‖, foi tudo o que ele disse, e ficamos um longo tempo assim, em silêncio. Finalmente levantei-me para inspecionar a cozinha, mas me assustei com o que vi. Havia latas de sopa vazias empilhadas por todos os lados, manchas no fogão e pratos embolorados amontoados na pia. O lixo estava superlotado. Obviamente a casa não era limpa há dias. Pilhas de correspondência fechadas inundavam a pequena mesa da cozinha. Meu primeiro impulso foi sair imediatamente para confrontar a vizinha que prometera cuidar dele. Mas isso teria que esperar. Primeiro, achei uma lata de sopa de frango e macarrão e esquentei-a no fogão imundo. Enchi uma tigela e levei para meu pai em uma bandeja. Ele sorriu fracamente, e notei sua gratidão. Ele comeu tudo, raspando o prato. Enchi outra tigela, cada vez mais irritado, imaginado a quanto tempo ele estava sem comer. Quando ele terminou o segundo prato, ajudei-o a deitar novamente no sofá, onde ele adormeceu em poucos minutos.

Dear John Nicholas Sparks A vizinha não estava, então passei a maior parte da tarde limpando a casa, começando pela cozinha e o banheiro. Fui trocar os lençóis da cama e descobri que estavam sujos. Fechei os olhos abafando a vontade de torcer o pescoço da vizinha. Quando a casa ficou razoavelmente limpa, sentei-me na sala de estar observando meu pai dormir. Ele aprecia tão pequeno debaixo do cobertor, e quando comecei acariciar seus cabelos, alguns fios saíram na minha mão. Comecei a chorar, com a certeza de que meu pai estava morrendo. Foi a primeira vez que chorei naquele ano, e a única vez na minha vida que chorei por mau pai, mas por muito tempo as lágrimas não cessariam. Sabia que ele era um homem bom, um homem amável, e apesar da vida difícil que levara, havia dado o seu melhor para me criar. Nunca levantou a mão com raiva, e comecei a me atormentar pensando em todos os anos que havia desperdiçado culpando-o. Lembrei-me de minhas duas ultimas visitas, e doeu pensar que nunca mais dividiríamos momentos como aqueles. Mais tarde, carreguei meu pai até a cama. Ele estava leve, muito leve. Ajeitei os cobertores sobre ele e fiz minha cama no chão ao lado, ouvindo sua dificuldade para respirar e seus chiados. Ele acordou com tosse no meio da noite e não conseguia parar de tossir. Quando estava pronto para levá-lo ao hospital, a tosse finalmente cedeu. Ele ficou aterrorizado quando percebeu aonde eu pretendia levá-lo. ―Ficar... aqui‖, confessou, com a voz fraca. ―Não quero ir‖. Eu estava dividido, mas ao final decidi não levá-lo. Para um homem de rotina, percebi, o hospital não era apenas um lugar estranho, era também uma zona perigosa de demandava mais energia do que ele dispunha. Foi então que percebi que ele novamente havia sujado os lençóis. Quando a vizinha apareceu no dia seguinte, suas primeiras palavras foram um pedido

Dear <strong>John</strong> Nicholas Sparks<br />

ele me assegurou. Ele estava tentando convencê-lo havia algum tempo-, mas ele se recusava<br />

até eu voltar de licença. Por alguma razão, o medico explicou, meu pai estava determinado a<br />

me receber em sua casa uma ultima vez.<br />

Essa constatação foi esmagadora e, no taxi do aeroporto, tentei me convencer de que o<br />

médico estava exagerando. Mas não estava. Meu pai não conseguiu levantar do sofá quando<br />

abri a porta, e fiquei perplexo ao perceber que ele parecia ter envelhecido trinta anos durante<br />

o ano que ficamos sem nos ver. Sua pele estava acinzentada, e fiquei chocado com o quanto<br />

ele emagrecera. Com um nó na garganta, coloquei a mala para dentro.<br />

―Oi papai‖, disse.<br />

De inicio, não tive certeza de que ele me reconhecera, mas por fim ouvi um sussurro<br />

áspero. ―Oi <strong>John</strong>.‖<br />

Fui até o sofá e sentei-me ao lado dele. ―Você esta bem?‖<br />

―Bem‖, foi tudo o que ele disse, e ficamos um longo tempo assim, em silêncio.<br />

Finalmente levantei-me para inspecionar a cozinha, mas me assustei com o que vi.<br />

Havia latas de sopa vazias empilhadas por todos os lados, manchas no fogão e pratos<br />

embolorados amontoados na pia. O lixo estava superlotado. Obviamente a casa não era limpa<br />

há dias. Pilhas de correspondência fechadas inundavam a pequena mesa da cozinha. Meu<br />

primeiro impulso foi sair imediatamente para confrontar a vizinha que prometera cuidar dele.<br />

Mas isso teria que esperar.<br />

Primeiro, achei uma lata de sopa de frango e macarrão e esquentei-a no fogão imundo.<br />

Enchi uma tigela e levei para meu pai em uma bandeja. Ele sorriu fracamente, e notei sua<br />

gratidão. Ele comeu tudo, raspando o prato. Enchi outra tigela, cada vez mais irritado,<br />

imaginado a quanto tempo ele estava sem comer. Quando ele terminou o segundo prato,<br />

ajudei-o a deitar novamente no sofá, onde ele adormeceu em poucos minutos.

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