Querido John - Le Livros

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16.04.2013 Views

Dear John Nicholas Sparks No entanto, eu estava preocupado com ele. Nas caminhadas, ele respirava com dificuldade. Quando sugeri que vinte minutos talvez fosse muito tempo, mesmo em ritmo lento, ele respondeu que, segundo o médico, vinte minutos eram tudo de que ele precisava, e sabia que não poderia fazer nada para convencê-lo do contrario. Depois da caminhada, ele ficava muito mais cansado do que deveria e levava cerca de uma hora para que a cor de suas bochechas voltasse ao normal. Conversei com o médico, e as notícias não eram o que eu esperava. O coração do meu pai, ele me disse, sofrera um grande dano, e, na opinião dele, era um grande milagre ele estar de pé. Falta de exercício seria ainda pior. Pode ter sido essa conversa com o médico, ou talvez eu só quisesse melhorar meu relacionamento com meu pai, mas o fato é que, nessas duas visitas, nos demos muito melhor do que antes. Em vez de pressioná-lo constantemente para conversar, simplesmente me sentava com ele em seu escritório lendo um livro ou fazendo palavras cruzadas, enquanto ele examinava moedas. Havia algo pacífico e honesto nessa falta de expectativas, e acho que meu pai lentamente estava aprendendo a lidar com a nova situação entre nós. Às vezes, eu o pegava a me espreitar como se fôssemos estranhos. Passávamos horas juntos, a maioria em silêncio, e foi assim, de um jeito quieto e despretensioso, que finalmente nos tornamos amigos. Muitas vezes desejei que meu pai não tivesse jogado fora nossa fotografia, e quando chegou a hora de voltar à Alemanha, percebi que sentiria mais saudades do que nunca. O outono de 2004 passou lentamente, assim como o inverno e a primavera de 2005. A vida se arrastou sem grandes acontecimentos. Ocasionalmente, os boatos do meu eventual regresso ao Iraque interrompiam a monotonia dos dias, a idéia de voltar pouco me afetava. Iraque, tudo bem também. Mantinha-me informado sobre o que acontecia no Oriente Médio como todo mundo, mas assim que desligava a televisão ou colocava o jornal de lado, minha mente vagava para outros assuntos. Eu tinha vinte e oito anos então, e não conseguia evitar a sensação de que, embora tivesse experimentado mais coisas do que a maioria das pessoas da minha idade, minha vida ainda estava em suspenso. Entrei no exercito para amadurecer, embora fosse possível

Dear John Nicholas Sparks argumentar que sim, às vezes me perguntava de isso de fato ocorrera. Eu não tinha casa nem carro; além de meu pai, estava completamente sozinho no mundo. Enquanto meus colegas recheavam suas carteiras com fotografias de filhos e esposas, na minha havia um único instantâneo desbotado de uma mulher que eu amara e perdera. Ouvia os soldados falarem de suas esperanças para o futuro, enquanto eu não tinha qualquer plano. Às vezes me perguntava o que meus homens pensariam sobre a minha vida, pois, em certos momentos, notava que eles me olhavam com curiosidade. Nunca contei a eles sobre meu passado ou abri informações pessoais. Eles não sabiam sobre Savannah, meu pai ou minha amizade com Tony. Essas lembranças eram minhas e só minhas, pois aprendi que PE melhor manter algumas coisas em segredo. **** Em março de 2005, meu pai teve um segundo ataque cardíaco, que levou a uma pneumonia e a outra temporada na UTI. Depois que Le foi liberado, começou a tomar um medicamento que o impedia de dirigir, mas a assistente social do hospital ma ajudou a encontrar alguém para comprar os mantimentos de que ele necessitava. Em abril, ele voltou para o hospital, onde foi informado que teria que desistir de suas caminhadas diárias. Em maio, ele estava tomando uma dúzia de comprimidos diferentes por dia e passava a maior parte do tempo na cama. Suas cartas tornaram-se praticamente ilegíveis, não só porque ele estava fraco, mas também porque suas mãos começaram a tremer. Depois de insistir e implorar ao telefone,convenci uma vizinha- uma enfermeira que trabalhava no hospital local- a cuidar dele regularmente, e suspirei aliviado contando os dias até minha licença em junho. Mas a doença do meu pai continuou a se agravar nas semanas seguintes, e pelo telefone percebia um cansaço que parecia aumentara cada vez que falava com ele. Pela segunda vez na vida, pedi uma transferência para casa. Meu comandante foi mais simpático do que antes. Nós chegamos a procurar- eu até preenchi os documentos para ser enviado a Fort Bragg para treinamento aéreo-, mas quando conversei novamente com o médico, fui informado que minha proximidade não ajudaria muito meu pai e que eu deveria considerar a hipótese de interná-lo em uma clínica. Meu precisava de mais cuidados do que poderia receber em casa,

Dear <strong>John</strong> Nicholas Sparks<br />

argumentar que sim, às vezes me perguntava de isso de fato ocorrera. Eu não tinha casa nem<br />

carro; além de meu pai, estava completamente sozinho no mundo. Enquanto meus colegas<br />

recheavam suas carteiras com fotografias de filhos e esposas, na minha havia um único<br />

instantâneo desbotado de uma mulher que eu amara e perdera. Ouvia os soldados falarem de<br />

suas esperanças para o futuro, enquanto eu não tinha qualquer plano. Às vezes me perguntava<br />

o que meus homens pensariam sobre a minha vida, pois, em certos momentos, notava que<br />

eles me olhavam com curiosidade. Nunca contei a eles sobre meu passado ou abri<br />

informações pessoais. Eles não sabiam sobre Savannah, meu pai ou minha amizade com<br />

Tony. Essas lembranças eram minhas e só minhas, pois aprendi que PE melhor manter<br />

algumas coisas em segredo.<br />

****<br />

Em março de 2005, meu pai teve um segundo ataque cardíaco, que levou a uma<br />

pneumonia e a outra temporada na UTI. Depois que <strong>Le</strong> foi liberado, começou a tomar um<br />

medicamento que o impedia de dirigir, mas a assistente social do hospital ma ajudou a<br />

encontrar alguém para comprar os mantimentos de que ele necessitava. Em abril, ele voltou<br />

para o hospital, onde foi informado que teria que desistir de suas caminhadas diárias. Em<br />

maio, ele estava tomando uma dúzia de comprimidos diferentes por dia e passava a maior<br />

parte do tempo na cama. Suas cartas tornaram-se praticamente ilegíveis, não só porque ele<br />

estava fraco, mas também porque suas mãos começaram a tremer. Depois de insistir e<br />

implorar ao telefone,convenci uma vizinha- uma enfermeira que trabalhava no hospital local-<br />

a cuidar dele regularmente, e suspirei aliviado contando os dias até minha licença em junho.<br />

Mas a doença do meu pai continuou a se agravar nas semanas seguintes, e pelo telefone<br />

percebia um cansaço que parecia aumentara cada vez que falava com ele. Pela segunda vez<br />

na vida, pedi uma transferência para casa. Meu comandante foi mais simpático do que antes.<br />

Nós chegamos a procurar- eu até preenchi os documentos para ser enviado a Fort Bragg para<br />

treinamento aéreo-, mas quando conversei novamente com o médico, fui informado que<br />

minha proximidade não ajudaria muito meu pai e que eu deveria considerar a hipótese de<br />

interná-lo em uma clínica. Meu precisava de mais cuidados do que poderia receber em casa,

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