Querido John - Le Livros

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16.04.2013 Views

Dear John Nicholas Sparks "Lembra quando nós fomos para Atlanta e foi você que achou aquele níquel de cabeça de búfalo que nós procuramos por anos?" ele começou. "Aquele dia que tiraram a nossa foto? Eu nunca vou esquecer o quanto você estava animado. Me lembrou do meu pai e eu." Eu sacudi a cabeça, toda a frustração da vida com o meu pai vindo à superfície. "Eu estou de saco cheio e cansado de ouvir sobre moedas!" Eu gritei pra ele. "Não quero nunca mais ouvir falar sobre isso! Você devia vender essa maldita coleção e fazer outra coisa. Qualquer coisa!" Meu pai não disse nada, mas eu nunca esquecerei a sua expressão de dor quando ele finalmente se virou e se arrastou de volta até sua toca. Eu tinha machucado ele, e embora tenha dito a mim mesmo que não queria fazer isso, lá no fundo eu sabia que estava mentindo pra mim mesmo. A partir daí meu pai raramente puxou o assunto das moedas de novo. Nem eu. Se tornou um enorme abismo entre nós, e nos deixou sem nada a dizer um ao outro. Alguns dias depois me dei conta de que a nossa única fotografia tinha desaparecido, como se ele acreditasse que até mesmo a mínima lembrança de moedas me ofenderia. Naquele tempo provavelmente me ofenderia, e mesmo eu supondo que ele tinha jogado a foto fora, essa descoberta não me incomodou nem um pouco. Crescendo, eu nunca considerei entrar no exército. Apesar do fato de que o leste da Carolina do Norte é uma da áreas mais militarmente densas do país-você pode ver sete bases em algumas horas de passeio de carro por Wilmington-eu costumava pensar que a vida militar era para perdedores. Quem queria passar a vida recebendo ordem de um bando de homens de uniforme com crew-cut?* Eu não, e tirando os caras do ROTC**, nem muitas pessoas na minha escola. Ao invés disso, muitos que tinham sido bons alunos iam para a Universidade da Carolina do Norte ou para a North Carolina State, enquanto as crianças que não tinham sido bons estudantes ficavam pra trás, vagabundeando de um péssimo emprego a outro, bebendo cerveja e saindo por aí, e evitando a qualquer custo alguma coisa que

Dear John Nicholas Sparks requeresse uma sombra de responsabilidade. *Um tipo de corte de cabelo que é bem curtinho, tipo militar mesmo, sabem? Procurei uma tradução, mas a melhorzinha que eu achei foi "corte de cabelo à escovinha", aí não dá né? **Reserve Officer Training Corps, Subdivisão de Treinamento de Oficiais da Reserva, um tipo de colégio militar. Eu caí na última categoria. Nos dois primeiros anos depois da formatura, eu tive uma sucessão de empregos, trabalhando como garçom no Outback Steakhouse, recolhendo canhotos de ingressos no cinema local, carregando e descarregando caixas na Staples, fazendo panquecas na Waffle House, e trabalhando como caixa em alguns lugares turísticos que vendiam porcarias para as pessoas de fora da cidade. Eu gastava cada centavo que ganhava, não tinha nenhuma ilusão sobre ascender na escala profissional, e acabei sendo despedido de todo trabalho que eu tive. Por um tempo, eu não me importava. Estava vivendo minha vida. Eu era profissional em surfar e dormir até tarde, e visto que eu ainda estava vivendo em casa, nada do que eu ganhava era necessário pra coisas como aluguel ou comida ou seguro ou preparação para o futuro. Além disso, nenhum dos meus amigos estava melhor do que eu. Eu não me lembro de ser particularmente infeliz, mas depois de um tempo fiquei cansado da minha vida. Não a parte do surf - em 1996, os furacões Bertha e Fran atingiram a costa, e aquelas foram algumas das melhores ondas em anos - mas ir pro bar Leroy's depois do surf. Eu comecei a perceber que toda noite era a mesma. Eu bebia cerveja e esbarrava com alguém que conhecia da escola, e eles perguntavam o que eu estava fazendo e eu lhes dizia, e eles me contavam o que estavam fazendo, e não precisava ser um gênio pra se dar conta de que os dois estavam na estrada mais rápida pra lugar nenhum. Mesmo se eles tivessem suas próprias casas, o que eu não tinha, eu nunca acreditei neles quando me contavam que gostavam de seus trabalhos como cavadores de valeta ou limpadores de janela ou transportadores de Porta Potti*, porque eu sabia muito bem que nenhum desses trabalhos era o tipo de ocupação que eles cresceram sonhando em ter. Eu posso ter sido preguiçoso na sala de aula, mas eu não era burro. *Vaso sanitário portátil.

Dear <strong>John</strong> Nicholas Sparks<br />

"<strong>Le</strong>mbra quando nós fomos para Atlanta e foi você que achou aquele níquel de cabeça<br />

de búfalo que nós procuramos por anos?" ele começou. "Aquele dia que tiraram a nossa foto?<br />

Eu nunca vou esquecer o quanto você estava animado. Me lembrou do meu pai e eu."<br />

Eu sacudi a cabeça, toda a frustração da vida com o meu pai vindo à superfície.<br />

"Eu estou de saco cheio e cansado de ouvir sobre moedas!" Eu gritei pra ele. "Não<br />

quero nunca mais ouvir falar sobre isso! Você devia vender essa maldita coleção e fazer outra<br />

coisa. Qualquer coisa!"<br />

Meu pai não disse nada, mas eu nunca esquecerei a sua expressão de dor quando ele<br />

finalmente se virou e se arrastou de volta até sua toca. Eu tinha machucado ele, e embora<br />

tenha dito a mim mesmo que não queria fazer isso, lá no fundo eu sabia que estava mentindo<br />

pra mim mesmo. A partir daí meu pai raramente puxou o assunto das moedas de novo. Nem<br />

eu. Se tornou um enorme abismo entre nós, e nos deixou sem nada a dizer um ao outro.<br />

Alguns dias depois me dei conta de que a nossa única fotografia tinha desaparecido,<br />

como se ele acreditasse que até mesmo a mínima lembrança de moedas me ofenderia.<br />

Naquele tempo provavelmente me ofenderia, e mesmo eu supondo que ele tinha jogado a<br />

foto fora, essa descoberta não me incomodou nem um pouco.<br />

Crescendo, eu nunca considerei entrar no exército. Apesar do fato de que o leste da<br />

Carolina do Norte é uma da áreas mais militarmente densas do país-você pode ver sete bases<br />

em algumas horas de passeio de carro por Wilmington-eu costumava pensar que a vida<br />

militar era para perdedores. Quem queria passar a vida recebendo ordem de um bando de<br />

homens de uniforme com crew-cut?* Eu não, e tirando os caras do ROTC**, nem muitas<br />

pessoas na minha escola. Ao invés disso, muitos que tinham sido bons alunos iam para a<br />

Universidade da Carolina do Norte ou para a North Carolina State, enquanto as crianças que<br />

não tinham sido bons estudantes ficavam pra trás, vagabundeando de um péssimo emprego a<br />

outro, bebendo cerveja e saindo por aí, e evitando a qualquer custo alguma coisa que

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