Fisiologia do Exercicio_2005.pdf - Jean Peres
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A Tabela II apresenta os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s pelos atletas<br />
no teste de fl exibilidade e na medição de lactato sangüíneo,<br />
separa<strong>do</strong>s por modalidade, no que tange à fl exibilidade, o<br />
valor de lactato antes e depois da realização <strong>do</strong> exercício, bem<br />
como os valores de acúmulo de lactato sangüíneo.<br />
Discussão<br />
O Wushu apresenta como característica movimentos<br />
rápi<strong>do</strong>s e vigorosos. Mesmo quan<strong>do</strong> pratica<strong>do</strong> sob a forma<br />
de Taolu, altas demandas metabólicas podem ser alcançadas.<br />
Ribeiro et al. [19] verifi caram que a freqüência cardíaca de<br />
atletas de Wushu variou de 76 ± 7 bpm em repouso para<br />
176 ± 3 bpm imediatamente após a realização de um Taolu,<br />
e que o lactato sangüíneo destes atletas variou de 1,80 ±<br />
0,24 mmol/L em repouso para 4,38 ± 1,63 mmol/L cinco<br />
minutos após a realização <strong>do</strong> Taolu. Segun<strong>do</strong> os autores, a<br />
freqüência cardíaca <strong>do</strong>s atletas atingiu 89% da freqüência<br />
cardíaca máxima prevista para a idade e, embora o acúmulo<br />
de lactato observa<strong>do</strong> tenha si<strong>do</strong> bem inferior ao encontra<strong>do</strong><br />
em nosso estu<strong>do</strong>, os pesquisa<strong>do</strong>res concluíram que o seu<br />
aumento foi sufi ciente para que os atletas tenham alcança<strong>do</strong><br />
o limiar de lactato de 4 mmol/L [20]. Uma das razões para as<br />
diferenças encontradas no acúmulo de lactato entre o estu<strong>do</strong><br />
de Ribeiro et al. [19] e o presente estu<strong>do</strong> talvez tenha si<strong>do</strong> a<br />
meto<strong>do</strong>logia empregada em analisar o lactato cinco minutos<br />
após o exercício. Outro aspecto que deve ser leva<strong>do</strong> em conta<br />
é que estes pesquisa<strong>do</strong>res utilizaram como ambiente de coleta<br />
de da<strong>do</strong>s a prática <strong>do</strong> Wushu em um ginásio, simulan<strong>do</strong> uma<br />
competição, enquanto que o presente estu<strong>do</strong> efetivamente teve<br />
a sua coleta de da<strong>do</strong>s realizada durante um torneio real, no<br />
qual provavelmente os atletas encontravam-se naturalmente<br />
mais motiva<strong>do</strong>s.<br />
Uma das limitações <strong>do</strong> presente trabalho, que pode ser<br />
considera<strong>do</strong> um estu<strong>do</strong> piloto, é a pequena amostra utilizada.<br />
Embora tenhamos como meta o desenvolvimento de novos<br />
estu<strong>do</strong>s com amostras maiores, é preciso ressaltar que a realização<br />
de investigações que utilizam procedimentos invasivos em<br />
esportes de combate sofre difi culdades de aceitação por parte<br />
<strong>do</strong>s comitês de ética em pesquisa bem como <strong>do</strong>s próprios atletas,<br />
tornan<strong>do</strong> difícil a obtenção de grandes amostras. Ten<strong>do</strong><br />
em vista a escassez de estu<strong>do</strong>s na área da fi siologia <strong>do</strong> Wushu,<br />
esperamos que mesmo com o número reduzi<strong>do</strong> de atletas<br />
avalia<strong>do</strong>s uma importante contribuição na área das ciências<br />
<strong>do</strong> esporte possa ser feita. Uma das maneiras encontradas no<br />
presente estu<strong>do</strong> para tornar mais segura a coleta de sangue nos<br />
luta<strong>do</strong>res de Boxe Chinês foi a utilização da ponta <strong>do</strong> de<strong>do</strong><br />
como local de coleta, a qual fi cava protegida pelas luvas de<br />
combate. Nos luta<strong>do</strong>res que realizaram o Taolu este local de<br />
coleta não pode ser realiza<strong>do</strong>, pois em suas rotinas, com freqüência,<br />
os atletas batiam com as mãos no chão, o que poderia<br />
ser <strong>do</strong>loroso ten<strong>do</strong> em vista a perfuração feita para a coleta<br />
de sangue, poden<strong>do</strong> também interferir no desempenho <strong>do</strong><br />
atleta. Poderia ser questiona<strong>do</strong> se a diferença no local de coleta<br />
Revista Brasileira de <strong>Fisiologia</strong> <strong>do</strong> Exercício - Volume 4 Número 1 - janeiro/dezembro 2005<br />
de sangue infl uenciaria os resulta<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s, entretanto, ao<br />
comparar a concentração de lactato coleta<strong>do</strong> a partir de uma<br />
gota de sangue no de<strong>do</strong> <strong>do</strong> pé, de<strong>do</strong> da mão ou lóbulo da<br />
orelha em rema<strong>do</strong>res, Forsyth [21] não encontrou diferenças<br />
entre as concentrações observadas nos três pontos.<br />
Utilizan<strong>do</strong>-se as bases de da<strong>do</strong>s Scopus e PubMed através<br />
das palavras-chave relacionadas ao tema desta pesquisa, como<br />
fl exibility, blood lactate, sit and reach, anaerobic exercise entre<br />
outros termos, não foram encontra<strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s que tenham<br />
busca<strong>do</strong> analisar a relação entre o acúmulo de lactato e a fl exibilidade<br />
de atletas, o que de certa forma concede ao presente<br />
trabalho uma relativa originalidade.<br />
Por outro la<strong>do</strong>, ten<strong>do</strong> em vista que a economia de movimento<br />
é a relação entre o VO 2 e o trabalho realiza<strong>do</strong> [15],<br />
e que durante um exercício o VO 2 aumenta linearmente em<br />
relação a intensidade até alcançar o seu máximo [22] entre<br />
outros fatores pelo acúmulo de lactato sangüíneo [23], torna-se<br />
relevante para um maior entendimento <strong>do</strong>s fenômenos<br />
aborda<strong>do</strong>s neste artigo, a discussão <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s<br />
por alguns estu<strong>do</strong>s sobre a relação entre economia de corrida<br />
e fl exibilidade [9-13].<br />
Gleim et al. [10] utilizaram um índice de rigidez muscular<br />
a partir da avaliação de onze diferentes medições de fl exibilidade<br />
de tronco e membros inferiores, verifi can<strong>do</strong> que uma<br />
rigidez músculo esquelética não patológica estava associada a<br />
uma maior economia de corrida em esteira ergométrica. De<br />
forma semelhante, Craib et al.[9] verifi caram a relação entre<br />
o VO 2 em duas velocidades de corrida e nove medições de<br />
fl exibilidade de tronco e membro inferiores, concluin<strong>do</strong> que<br />
a amplitude de movimento de <strong>do</strong>rsifl exão e rotação de tronco<br />
era positivamente correlacionada com a demanda aeróbica,<br />
de forma que os atletas menos fl exíveis nestas medições eram<br />
mais econômicos devi<strong>do</strong> a uma maior estabilidade articular e<br />
menor necessidade de recrutamento de músculos estabiliza<strong>do</strong>res<br />
adicionais. Entretanto, os resulta<strong>do</strong>s sugeri<strong>do</strong>s por Jones [11]<br />
parecem ser os mais conclusivos sobre o tema. Avalian<strong>do</strong> a fl exibilidade<br />
de corre<strong>do</strong>res através <strong>do</strong> teste de sentar e alcançar, o<br />
autor verifi cou uma alta correlação entre esta variável e o VO 2 ,<br />
propon<strong>do</strong> que os atletas menos fl exíveis seriam mais econômicos<br />
devi<strong>do</strong> ao maior armazenamento e retorno da força passiva<br />
produzida pelos elementos elásticos <strong>do</strong> músculo durante a fase<br />
de encurtamento <strong>do</strong> ciclo alongamento encurtamento.<br />
Nossos resulta<strong>do</strong>s contrariam os da<strong>do</strong>s encontra<strong>do</strong>s por<br />
estes autores. Embora a especifi cidade de treinamento deva<br />
ser levada em conta, partin<strong>do</strong> de uma abordagem biológica<br />
se atletas menos fl exíveis devessem ser mais econômicos então<br />
eles também deveriam apresentar menores acúmulos de lactato<br />
após um determina<strong>do</strong> exercício, caso contrário metabolicamente<br />
esta associação estaria comprometida. No presente<br />
estu<strong>do</strong> verifi camos que os luta<strong>do</strong>res de Boxe Chinês mais<br />
fl exíveis possuíam menores acúmulos de lactato sangüíneo<br />
após a luta. Nossos da<strong>do</strong>s são parcialmente ampara<strong>do</strong>s pelo<br />
estu<strong>do</strong> de Beau<strong>do</strong>in e Blum [12] os quais não encontraram<br />
associação entre a fl exibilidade de corre<strong>do</strong>ras e a sua economia