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O bondinho que é ícone de uma cidade - Casa Do Brasil

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Cantos com encanto<br />

O <strong>bondinho</strong> <strong>que</strong> <strong>é</strong> <strong>ícone</strong> <strong>de</strong> <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong><br />

E<br />

m 1912, a inauguração <strong>de</strong> um caminho<br />

a<strong>é</strong>reo no Rio <strong>de</strong> Janeiro era, por fim, a<br />

materialização <strong>de</strong> <strong>uma</strong> i<strong>de</strong>ia concebida<br />

4 anos antes pelo engenheiro brasileiro<br />

Augusto Ferreira Ramos, <strong>que</strong> se tornaria<br />

mundialmente famoso: o <strong>bondinho</strong> do Pão <strong>de</strong><br />

Açúcar.<br />

Marca registrada da Cida<strong>de</strong> Maravilhosa, o<br />

morro do Pão <strong>de</strong> Açúcar <strong>é</strong> <strong>uma</strong> montanha<br />

<strong>de</strong>spida <strong>de</strong> vegetação em sua quase<br />

totalida<strong>de</strong>. É um bloco único <strong>de</strong> <strong>uma</strong> rocha<br />

proveniente do granito, <strong>que</strong> sofreu alteração<br />

por pressão e temperatura, possui ida<strong>de</strong><br />

superior a 600 milhões <strong>de</strong> anos e<br />

<strong>é</strong> circundado por <strong>uma</strong> vegetação<br />

característica do clima tropical,<br />

especificamente um resquício <strong>de</strong> Mata<br />

Atlântica com esp<strong>é</strong>cies nativas <strong>que</strong> em outros<br />

pontos da vegetação litorânea brasileira já<br />

foram extintas.<br />

Há várias versões históricas a respeito da<br />

origem do nome Pão <strong>de</strong> Açúcar. Segundo o<br />

historiador Vieira Fazenda, foram os<br />

portugueses <strong>que</strong> <strong>de</strong>ram esse nome, pois<br />

durante o apogeu do cultivo da cana-<strong>de</strong>açúcar<br />

no <strong>Brasil</strong> (s<strong>é</strong>culos XVI e XVII), após a<br />

cana ser espremida e o caldo fervido e<br />

apurado, os blocos <strong>de</strong> açúcar eram colocados<br />

em <strong>uma</strong> forma <strong>de</strong> barro cônica para<br />

# 11 – novembro 2012<br />

transportá-lo para a Europa, <strong>que</strong> era<br />

<strong>de</strong>nominada pão <strong>de</strong> açúcar. A semelhança do<br />

penhasco carioca com a<strong>que</strong>la forma <strong>de</strong> barro<br />

teria originado o nome. O penedo teve ao<br />

correr do tempo, cronologicamente, os<br />

seguintes nomes: “Pau-nh-açuquã” da língua<br />

Tupi, dado pelos Tamoios, os primitivos<br />

habitantes da Baía <strong>de</strong> Guanabara,<br />

significando “morro alto, isolado e pontudo”;<br />

“Pot <strong>de</strong> beurre” dado pelos franceses<br />

invasores da primeira leva; “Pão <strong>de</strong> Sucar”<br />

dado pelos primeiros colonizadores<br />

portugueses; “Pot <strong>de</strong> Sucre” dado pelos<br />

franceses invasores da segunda leva.<br />

O nome Pão <strong>de</strong> Açúcar se generalizou a partir<br />

da segunda meta<strong>de</strong> do s<strong>é</strong>culo XIX, quando o<br />

Rio <strong>de</strong> Janeiro recebeu as missões artísticas<br />

do <strong>de</strong>senhista e pintor alemão Johann Moritz<br />

Rugendas e do artista gráfico francês Jean<br />

Baptiste Debret <strong>que</strong>, em magníficos<br />

<strong>de</strong>senhos e gravuras, exaltaram a beleza do<br />

Pão <strong>de</strong> Açúcar. Por sua forma <strong>de</strong> ogiva,<br />

localização privilegiada, presença na história<br />

da cida<strong>de</strong> e original acesso ao seu cume, o<br />

Pão <strong>de</strong> Açúcar <strong>é</strong> um marco natural, histórico<br />

e turístico da cida<strong>de</strong> do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Marco natural, por<strong>que</strong> seu pico está na<br />

entrada da Baía <strong>de</strong> Guanabara, sendo<br />

referência visual para os navegadores <strong>que</strong>,<br />

do mar ou do ar, o procuram por estar<br />

localizado na periferia da cida<strong>de</strong>.<br />

Marco histórico, por<strong>que</strong> aos seus p<strong>é</strong>s, Estácio<br />

<strong>de</strong> Sá, em 1º <strong>de</strong> março <strong>de</strong> 1565, fundou a<br />

Cida<strong>de</strong> <strong>de</strong> São Sebastião do Rio <strong>de</strong> Janeiro.<br />

Estácio <strong>de</strong> Sá chegou ao Rio <strong>de</strong> Janeiro em<br />

28 <strong>de</strong> fevereiro <strong>de</strong> 1565 e no dia 1º <strong>de</strong> março<br />

lançou os fundamentos da cida<strong>de</strong>, entre os<br />

morros Cara <strong>de</strong> Cão e Pão <strong>de</strong> Açúcar, por ser<br />

local <strong>de</strong> mais fácil <strong>de</strong>fesa. O local permitia,<br />

não só a observação <strong>de</strong> qual<strong>que</strong>r movimento<br />

<strong>de</strong> entrada e saída <strong>de</strong> embarcações da baía,<br />

como facultava a visão interna <strong>de</strong> todos os<br />

possíveis invasores.<br />

JornalDa<strong>Casa</strong> <strong>é</strong> <strong>uma</strong> publicação <strong>de</strong> <strong>Casa</strong><strong>Do</strong><strong>Brasil</strong>. www.casadobrasil.com.uy<br />

Editor: Leonardo Moreira. Mail: jornal@casadobrasil.com.uy


Marco turístico, por<strong>que</strong> a inauguração do<br />

telef<strong>é</strong>rico do Pão <strong>de</strong> Açúcar em 1912,<br />

projetou o nome do <strong>Brasil</strong> no exterior. O<br />

telef<strong>é</strong>rico do Pão <strong>de</strong> Açúcar foi o terceiro a ser<br />

construído no mundo e o primeiro em<br />

perímetro urbano, alavancando o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento do turismo nacional.<br />

O primeiro “camarote carril” transportava 17<br />

passageiros, seu interior era forrado e tinha<br />

bancos, <strong>que</strong> com o tempo foram retirados,<br />

alterando a sua capacida<strong>de</strong> para 24 pessoas.<br />

Outros materiais foram trocados, mas a<br />

cabine manteve o formato por 60 anos. Pela<br />

semelhança com os bon<strong>de</strong>s <strong>que</strong> circulavam<br />

pela cida<strong>de</strong>, o povo apelidou a nova atração<br />

<strong>de</strong> “<strong>bondinho</strong>”.<br />

Na d<strong>é</strong>cada <strong>de</strong> 1970 foram duplicadas as<br />

linhas em cada trecho. Cada estação<br />

consumiu, em m<strong>é</strong>dia, mil metros cúbicos <strong>de</strong><br />

concreto, equivalente à construção <strong>de</strong> um<br />

edifício <strong>de</strong> <strong>de</strong>z andares, e foram encravadas<br />

na rocha dos morros por cerca <strong>de</strong> 300<br />

chumbadores. O novo sistema começou a<br />

funcionar no dia 29 <strong>de</strong> outubro <strong>de</strong> 1972, com<br />

dois <strong>bondinho</strong>s em cada linha, circulando em<br />

vai-vem (jig-back) e aumentando a<br />

capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> transporte do telef<strong>é</strong>rico <strong>de</strong><br />

115 para 1.360 passageiros por hora.<br />

Os <strong>bondinho</strong>s rolam ao longo <strong>de</strong> dois cabostrilho<br />

<strong>de</strong> aço, fixos nas estações, com 50 mm<br />

<strong>de</strong> diâmetro cada, constituídos por 92 fios <strong>de</strong><br />

aço enrolados. As estações motrizes estão<br />

situadas no Morro da Urca e todo sistema <strong>é</strong><br />

movido a eletricida<strong>de</strong>. Diariamente os cabos<br />

são lubrificados.<br />

O <strong>bondinho</strong> sai <strong>de</strong> 20 em 20 minutos, e <strong>é</strong> o<br />

único no mundo com as faces laterais<br />

totalmente transparentes <strong>de</strong>vido ao acrílico<br />

utilizado, "plexi glass", <strong>de</strong> tecnologia <strong>de</strong><br />

aviação.<br />

A velocida<strong>de</strong> <strong>é</strong> regulável, chegando a 6<br />

metros/segundo no primeiro percurso -Praia<br />

Vermelha/Morro da Urca, a 220 m <strong>de</strong> altura-<br />

e a 10 m/s no trajeto entre os altos do Morro<br />

da Urca/Pão <strong>de</strong> Açúcar, a 396 m <strong>de</strong> altura,<br />

percorrendo-se cada estágio em apenas 3<br />

minutos.<br />

# 11 – novembro 2012<br />

O <strong>de</strong>senho dos <strong>bondinho</strong>s, medindo 5,40 x 3<br />

m, em forma <strong>de</strong> bolha ou diamante, com<br />

estrutura em duralumínio, <strong>é</strong> exclusivo do Pão<br />

<strong>de</strong> Açúcar. O percurso <strong>é</strong> todo programado e<br />

controlado por equipamento eletrônico, <strong>que</strong><br />

faz a aceleração e <strong>de</strong>saceleração do carro.<br />

<strong>Do</strong>is pain<strong>é</strong>is indicam a localização exata dos<br />

<strong>bondinho</strong>s em caso <strong>de</strong> neblina e revelam<br />

qual<strong>que</strong>r <strong>de</strong>feito <strong>que</strong> esteja ocorrendo. O<br />

dispositivo <strong>de</strong> controle eletrônico do sistema<br />

impe<strong>de</strong> <strong>que</strong> o carro dê partida se ocorrer<br />

qual<strong>que</strong>r alteração em um dos seus 47 itens<br />

<strong>de</strong> segurança, como por exemplo, vento<br />

acima do limite permitido (65 km/h).<br />

O passeio tem como cenário 360º <strong>de</strong><br />

paisagens <strong>de</strong>slumbrantes, tais como: as<br />

praias do Leme, Copacabana, Ipanema,<br />

Flamengo, Leblon; Pedra da Gávea, o<br />

imponente maciço da Tijuca e o Corcovado,<br />

com a imagem do Cristo Re<strong>de</strong>ntor; Baía da<br />

Guanabara, com a enseada <strong>de</strong> Botafogo;<br />

centro da Cida<strong>de</strong>; Aeroporto Santos Dumont;<br />

Ilha do Governador; Niterói; Ponte Rio- Niterói;<br />

e, ao fundo a Serra do Mar, com o pico "Dedo<br />

<strong>de</strong> Deus".<br />

Pois <strong>é</strong>, o Pão <strong>de</strong> Açúcar <strong>é</strong> um dos mais<br />

famosos cartões postais do <strong>Brasil</strong> e <strong>uma</strong> das<br />

sete maravilhas do Rio. E, nos seus primeiros<br />

cem anos, o <strong>bondinho</strong> permitiu <strong>que</strong> cerca <strong>de</strong><br />

40 milhões <strong>de</strong> pessoas botassem o p<strong>é</strong> nele.


Ao p<strong>é</strong> da letra<br />

Detalhes<br />

Menos rebeldia e mais romantismo,<br />

essa seria a tendência<br />

gradativamente adotada no<br />

repertório <strong>de</strong> Roberto Carlos a partir do final<br />

da Jovem Guarda. Tal tendência já se mostra<br />

bem acentuada no seu elepê <strong>de</strong> 1971,<br />

quando o cantor aos 30 anos, casado e pai<br />

<strong>de</strong> família, procura conquistar um novo<br />

público, digamos, mais amadurecido. E o faz<br />

por meio <strong>de</strong> canções como “Detalhes”, <strong>uma</strong><br />

das melhores <strong>de</strong> sua parceria com Erasmo<br />

Carlos.<br />

Em seis partes cantadas sobre <strong>uma</strong> mesma<br />

melodia, a composição trata das confissões<br />

<strong>de</strong> um nostálgico personagem, <strong>que</strong> relembra<br />

um antigo amor, ao mesmo tempo em <strong>que</strong> dá<br />

conselhos à ex-amada. Em tom <strong>de</strong> dor-<strong>de</strong>cotovelo,<br />

o cantor inaugura assim <strong>uma</strong> volta<br />

às músicas românticas <strong>que</strong> faziam sucesso<br />

nas d<strong>é</strong>cadas <strong>de</strong> 1940, com Nelson Gonçalves<br />

e Lúcio Alves, e <strong>de</strong> 1950, com Cauby Peixoto,<br />

<strong>Do</strong>lores Duran, Ângela Maria e Maysa. Nesse<br />

período e com músicas como essa, o Rei se<br />

transformou no artista mais popular do <strong>Brasil</strong><br />

em todos os tempos.<br />

Não adianta nem tentar me es<strong>que</strong>cer<br />

durante muito tempo em sua vida<br />

eu vou viver...<br />

<strong>de</strong>talhes tão pe<strong>que</strong>nos <strong>de</strong> nós dois<br />

são coisas muito gran<strong>de</strong>s prá es<strong>que</strong>cer<br />

e a toda hora vão estar presentes<br />

você vai ver...<br />

Se um outro cabeludo aparecer na sua rua<br />

e isto lhe trouxer sauda<strong>de</strong>s minhas<br />

a culpa <strong>é</strong> sua...<br />

o ronco barulhento do seu carro<br />

a velha calça <strong>de</strong>sbotada ou coisa assim<br />

imediatamente você vai lembrar <strong>de</strong> mim...<br />

Eu sei <strong>que</strong> um outro <strong>de</strong>ve estar falando<br />

ao seu ouvido<br />

palavras <strong>de</strong> amor como eu falei<br />

mas eu duvido<br />

duvido <strong>que</strong> ele tenha tanto amor<br />

e at<strong>é</strong> os erros do meu português ruim<br />

e nessa hora você vai lembrar <strong>de</strong> mim...<br />

# 11 – novembro 2012<br />

A noite envolvida no silêncio do seu quarto<br />

antes <strong>de</strong> dormir você procura o meu retrato<br />

mas da moldura não sou eu <strong>que</strong>m lhe sorri<br />

mas você vê o meu sorriso mesmo assim<br />

e tudo isso vai fazer você lembrar <strong>de</strong> mim...<br />

Se algu<strong>é</strong>m tocar seu corpo como eu<br />

não diga nada<br />

não vá dizer meu nome sem <strong>que</strong>rer<br />

a pessoa errada...<br />

pensando ter amor nesse momento<br />

<strong>de</strong>sesperada você tenta at<strong>é</strong> o fim<br />

e at<strong>é</strong> nesse momento você vai lembrar <strong>de</strong> mim...<br />

Eu sei <strong>que</strong> esses <strong>de</strong>talhes vão sumir na longa<br />

estrada<br />

do tempo <strong>que</strong> transforma todo amor em quase<br />

nada<br />

mas "quase" tamb<strong>é</strong>m <strong>é</strong> mais um <strong>de</strong>talhe<br />

um gran<strong>de</strong> amor não vai morrer assim<br />

por isso <strong>de</strong> vez em quando você vai<br />

Vai lembrar <strong>de</strong> mim...<br />

Não adianta nem tentar me es<strong>que</strong>cer<br />

durante muito muito tempo em sua vida<br />

eu vou viver<br />

não, não adianta nem tentar me es<strong>que</strong>cer...<br />

Discos on<strong>de</strong> ouvir<br />

Roberto Carlos – Roberto Carlos (1971)<br />

Cauby Peixoto – Superstar (1972)<br />

Emílio Santiago – Aquarela brasileira 6 (1993)<br />

Maria Bethânia – Ao vivo (1995)<br />

Erasmo Carlos – É preciso saber viver (1996)


Telinhas e telonas<br />

Os encantos do cor<strong>de</strong>l<br />

U<br />

ma nova telenovela brasileira chega as<br />

telinhas uruguaias. Trata-se <strong>de</strong> “Cor<strong>de</strong>l<br />

Encantado” (segunda a sexta-feira, 18<br />

horas, canal 12), <strong>uma</strong> fábula sobre<br />

dois universos distintos, <strong>que</strong> inspiraram esta<br />

história: os contos <strong>de</strong> fadas e as lendas<br />

heróicas do sertão brasileiro. De um lado,<br />

<strong>uma</strong> nova leitura dos contos da Bela<br />

Adormecida, Cin<strong>de</strong>rela, Rapunzel e Branca <strong>de</strong><br />

Neve, tantas vezes recontados com sucesso<br />

no cinema e na literatura. <strong>Do</strong> outro, a<br />

incursão no mito do herói sertanejo, tendo<br />

como base a figura do "cangaceiro gentilhomem"<br />

<strong>que</strong>, ao contrário <strong>de</strong> um matador<br />

cruel representa, nas palavras <strong>de</strong> Câmara<br />

Cascudo, "o nosso bandoleiro romântico,<br />

esp<strong>é</strong>cie matuta <strong>de</strong> Robin Hood... <strong>de</strong>fensor<br />

dos fracos, dos velhos oprimidos, das moças<br />

ultrajadas, das crianças agredidas."<br />

A união <strong>de</strong>sses imaginários será<br />

representada pelo romance <strong>de</strong> Açucena<br />

(Bianca Bin), <strong>uma</strong> cabocla brejeira criada por<br />

lavradores no nor<strong>de</strong>ste do <strong>Brasil</strong>, sem saber<br />

<strong>que</strong> <strong>é</strong> a princesa <strong>de</strong> <strong>uma</strong> casta real europ<strong>é</strong>ia,<br />

# 11 – novembro 2012<br />

e Jesuíno (Cauã Reymond), um jovem<br />

sertanejo, <strong>que</strong> fica proscrito ao ser<br />

i<strong>de</strong>ntificado como o filho legítimo do<br />

cangaceiro mais temido e respeitado da<br />

região. Quando a família real vem da Europa,<br />

em busca da her<strong>de</strong>ira do trono, o amor dos<br />

dois ficará ameaçado.<br />

O contraste entre a pompa da nobreza<br />

europ<strong>é</strong>ia e o arcaísmo do sertão nor<strong>de</strong>stino<br />

nas d<strong>é</strong>cadas <strong>de</strong> 1910 a 1930, dá ensejo a<br />

gran<strong>de</strong>s embates, amores românticos,<br />

situações <strong>de</strong> humor e intrigas palacianas.<br />

Para incrementar o caráter fantasioso e<br />

aventureiro, a história se inicia com <strong>uma</strong><br />

expedição da família real ao <strong>Brasil</strong>, em busca<br />

<strong>de</strong> um tesouro escondido pelo fundador do<br />

reino <strong>de</strong> Seráfia, <strong>Do</strong>m Serafim -inspirada na<br />

famosa expedição científica do ex-presi<strong>de</strong>nte<br />

americano, Theodore Roosevelt, e do<br />

Marechal Rondon à selva amazônica em<br />

1914-. A busca pelo tesouro recomeçou 20<br />

anos <strong>de</strong>pois, acirrando a disputa entre as<br />

várias facções <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r na fictícia Brogodó.


“Cor<strong>de</strong>l Encantado” cita <strong>de</strong> Guimarães Rosa e<br />

Graciliano Ramos a Jorge Amado, João Cabral<br />

<strong>de</strong> Melo Neto e Ariano Suassuna, autores <strong>que</strong><br />

se encontram com os contos <strong>de</strong> fadas e os<br />

"tesouros da juventu<strong>de</strong>", como “Os Três<br />

Mos<strong>que</strong>teiros” e “O Homem da Máscara <strong>de</strong><br />

Ferro”.<br />

Alg<strong>uma</strong>s referências literárias e históricas em<br />

personagens <strong>de</strong> Cor<strong>de</strong>l Encantado:<br />

- Her<strong>de</strong>iro do rei do cangaço, Jesuíno <strong>é</strong> um<br />

justiceiro proscrito tal qual Robin Hood.<br />

- Setembrino (Glic<strong>é</strong>rio Rosário) conquista um<br />

amor por causa dos versos <strong>que</strong> assina com<br />

pseudônimo, como fez Cyrano <strong>de</strong> Bergerac,<br />

personagem da peça <strong>de</strong> Edmond Rostand.<br />

- A chegada dos monarcas <strong>de</strong> Seráfia a<br />

Brogodó <strong>é</strong> <strong>uma</strong> clara alusão à vinda da<br />

Família Real Portuguesa ao <strong>Brasil</strong>, em 1808,<br />

<strong>de</strong> modo <strong>que</strong> um paralelo po<strong>de</strong> ser traçado<br />

entre a figura do Rei Augusto (Carmo Dalla<br />

Vecchia) e D. Pedro I.<br />

- O cangaceiro Herculano (<strong>Do</strong>mingos<br />

Montagner) e o profeta Migu<strong>é</strong>zim (Matheus<br />

Nachtergaele) remetem aos próprios Lampião<br />

e Antonio Conselheiro.<br />

- A <strong>de</strong>stemida jornalista Pen<strong>é</strong>lope (Paula<br />

Burlamaqui) e seu empenho por <strong>uma</strong><br />

reportagem sobre Herculano, <strong>é</strong> <strong>uma</strong><br />

referência ao fotógrafo Benjamim Abrahão<br />

Botto, <strong>que</strong> registrou imagens <strong>de</strong> Lampião nos<br />

anos <strong>de</strong> 1920.<br />

- O Príncipe Felipe (Jayme Matarazzo) e a<br />

Princesa Aurora -não por acaso- têm os<br />

mesmos nomes dos príncipes <strong>de</strong> “A Bela<br />

Adormecida”. E não falta à princesa o direito<br />

ao sono profundo do conto <strong>de</strong> fadas.<br />

- Ao achar <strong>que</strong> Jesuíno está morto, Açucena<br />

toma <strong>uma</strong> poção não se importando se<br />

morresse junto com ele, o <strong>que</strong> faz lembrar<br />

Romeu e Julieta.<br />

- A triste Antônia (Luísa Val<strong>de</strong>taro), donzela<br />

mantida presa em seu quarto, lembra<br />

Rapunzel na torre. Só faltam os longos<br />

cabelos.<br />

- Maria Cesária (Lucy Ramos), por um<br />

momento, lembra Cin<strong>de</strong>rela.<br />

- O Du<strong>que</strong> Petrus (Felipe Camargo),<br />

<strong>de</strong>saparecido e dado como morto, na<br />

verda<strong>de</strong> <strong>é</strong> vítima <strong>de</strong> <strong>uma</strong> intriga real e preso a<br />

<strong>uma</strong> máscara <strong>de</strong> ferro para <strong>que</strong> não fosse<br />

reconhecido -como o personagem <strong>de</strong><br />

# 11 – novembro 2012<br />

Alexandre D<strong>uma</strong>s em seu clássico romance-.<br />

- Mais tar<strong>de</strong>, este homem da máscara <strong>de</strong><br />

ferro vai se refugiar nas coxias do cinema <strong>de</strong><br />

Brogodó, pois era tido com <strong>uma</strong> figura<br />

misteriosa, quase um fantasma -<strong>uma</strong> alusão<br />

ao “Fantasma da Ópera”-.<br />

- Assim como na história original, ele<br />

<strong>de</strong>sperta o amor <strong>de</strong> <strong>uma</strong> bela mulher,<br />

sensibilizada pela sua figura horrenda e<br />

inofensiva, o <strong>que</strong> não <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> ser <strong>uma</strong><br />

referência à outra obra: “A Bela e a Fera”.<br />

- <strong>Do</strong>ralice (Nathália Dill) chega a se disfarçar<br />

<strong>de</strong> homem para ingressar no bando <strong>de</strong><br />

justiceiros chefiados por Jesuíno. Em tudo -<br />

inclusive na caracterização- lembra Diadorim,<br />

personagem <strong>de</strong> Guimarães Rosa em “Gran<strong>de</strong><br />

Sertão: Veredas”. Mas <strong>Do</strong>ralice, como no mito<br />

da heroína guerreira, tamb<strong>é</strong>m remetia às<br />

figuras <strong>de</strong> Joana D'Arc e Anita Garibaldi.<br />

Uma super-produção com est<strong>é</strong>tica<br />

cinematográfica, “Cor<strong>de</strong>l Encantado” foi a<br />

primeira novela gravada em 24 quadros,<br />

tecnologia na qual a câmera tira 24 fotos por<br />

segundo, como nas filmagens <strong>de</strong> cinema -em<br />

geral as novelas são gravadas a 30 quadros<br />

por segundo-.<br />

Com gravações na França e em Sergipe,<br />

“Cor<strong>de</strong>l Encantado” teve no Projac (Rio <strong>de</strong><br />

Janeiro) <strong>uma</strong> cida<strong>de</strong> cenográfica <strong>de</strong> 22 mil<br />

metros quadrados, criada pelo arquiteto João<br />

Irênio. Ela era composta pelos fictícios<br />

municípios nor<strong>de</strong>stinos <strong>de</strong> Brogodó e Vila<br />

Cruz.<br />

A produção <strong>de</strong> arte trouxe <strong>uma</strong> riquíssima<br />

coleção <strong>de</strong> objetos para enfeitar as cenas.<br />

Des<strong>de</strong> as toalhas <strong>de</strong> fuxico <strong>de</strong> Brogodó at<strong>é</strong> as<br />

luxuosas mantas em tons vermelho, vinho e<br />

dourado <strong>de</strong> Seráfia, <strong>que</strong> <strong>de</strong>ram o to<strong>que</strong><br />

especial da produtora <strong>de</strong> arte Ana Maria<br />

Magalhães e equipe. "Cor<strong>de</strong>l teve <strong>uma</strong><br />

licença po<strong>é</strong>tica <strong>que</strong> contribuiu muito para <strong>que</strong><br />

a gente se sentisse à vonta<strong>de</strong> para brincar.<br />

Nós fizemos <strong>uma</strong> brinca<strong>de</strong>ira entre os<br />

elementos dos anos 10, 20 e 30 e colocamos<br />

na novela", contou ela.<br />

Desta<strong>que</strong> para a presença no elenco do<br />

diretor teatral Jos<strong>é</strong> Celso Martinez Corrêa,<br />

<strong>que</strong> nunca havia atuado em <strong>uma</strong> telenovela.


Presentes<br />

Or<strong>que</strong>stra Filarmônica <strong>de</strong> Minas Gerais, 28<br />

<strong>de</strong> outubro no Teatro Solis<br />

E<br />

m seu quinto ano <strong>de</strong> vida, a Or<strong>que</strong>stra<br />

Filarmônica <strong>de</strong> Minas Gerais se orgulha<br />

<strong>de</strong> já estar entre as melhores<br />

or<strong>que</strong>stras do <strong>Brasil</strong>. Criada para tornar-se<br />

um grupo <strong>de</strong> excelência artística, a Or<strong>que</strong>stra,<br />

em sua programação, apresenta ao público<br />

obras essenciais do repertório sinfônico e<br />

produções contemporâneas. Neste curto<br />

tempo, a Or<strong>que</strong>stra foi reconhecida com dois<br />

importantes prêmios brasileiros: seu diretor<br />

artístico e regente titular, maestro Fabio<br />

Mechetti (foto), recebeu o Prêmio Carlos<br />

Gomes 2009 como Melhor Regente<br />

<strong>Brasil</strong>eiro; e a Or<strong>que</strong>stra foi eleita o melhor<br />

grupo musical erudito <strong>de</strong> 2010 pela<br />

Associação Paulista <strong>de</strong> Críticos <strong>de</strong> Artes<br />

(APCA).<br />

Des<strong>de</strong> sua criação, a Filarmônica <strong>de</strong> Minas<br />

Gerais visitou 18 cida<strong>de</strong>s brasileiras e 49<br />

cida<strong>de</strong>s mineiras. Em 2012 a Or<strong>que</strong>stra<br />

continua com suas apresentações regulares<br />

no Palácio das Artes, em Belo Horizonte,<br />

turnês, Concertos para a Juventu<strong>de</strong>,<br />

Clássicos no Par<strong>que</strong> e Concertos Didáticos.<br />

Tamb<strong>é</strong>m se apresenta nos principais eventos<br />

<strong>de</strong> música clássica do <strong>Brasil</strong>, como o Festival<br />

Internacional <strong>de</strong> Inverno <strong>de</strong> Campos do<br />

Jordão (SP) e Festival Internacional <strong>de</strong><br />

Música Colonial <strong>Brasil</strong>eira e Música Antiga <strong>de</strong><br />

Juiz <strong>de</strong> Fora (MG). Em outubro, a Filarmônica<br />

<strong>de</strong> Minas Gerais realizou sua primeira turnê<br />

internacional com cinco concertos no Chile,<br />

Argentina e Uruguai.<br />

# 11 – novembro 2012<br />

Arthur Moreira Lima, 5 <strong>de</strong> novembro no<br />

Auditorio Nacional A<strong>de</strong>la Reta <strong>de</strong>l Sodre<br />

Nascido no Rio <strong>de</strong> Janeiro, Moreira Lima<br />

começou a estudar piano aos seis anos, e já<br />

aos nove tocava um concerto <strong>de</strong> Mozart com<br />

a Or<strong>que</strong>stra Sinfônica <strong>Brasil</strong>eira. Projetou-se<br />

internacionalmente no Concurso Chopin <strong>de</strong><br />

Varsóvia e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, ele tem gravado e<br />

feito turnês solo ou com gran<strong>de</strong>s or<strong>que</strong>stras<br />

em todos os continentes, lotando as<br />

principais salas <strong>de</strong> concertos do mundo.<br />

No repertório: Bach, Beethoven, Mozart,<br />

Tchaikovsky, Liszt, Gnattali, Villa-Lobos,<br />

Pixinguinha, Piazzolla. A crítica mundial o<br />

consi<strong>de</strong>ra extraordinário int<strong>é</strong>rprete e não tem<br />

poupado elogios à beleza da sua sonorida<strong>de</strong><br />

e ao seu gran<strong>de</strong> virtuosismo.<br />

Tocar Chopin e Mozart em praça pública, em<br />

praia ou n<strong>uma</strong> favela com a mesma<br />

<strong>de</strong>dicação com a qual enfrenta as plat<strong>é</strong>ias<br />

mais exigentes e sisudas do mundo tocando<br />

Nazareth e Pixinguinha <strong>é</strong>, para Moreira Lima,<br />

<strong>uma</strong> <strong>que</strong>stão <strong>de</strong> princípio. Na busca da<br />

<strong>de</strong>mocratização da música, Arthur criou “Um<br />

Piano pela Estrada”, um projeto <strong>de</strong> inclusão<br />

social e musical <strong>que</strong> leva a gran<strong>de</strong> música <strong>de</strong><br />

concerto aos mais diversos públicos. Com<br />

seu Caminhão Teatro (foto), <strong>que</strong> transforma o<br />

baú carroceria em palco em apenas <strong>uma</strong><br />

hora, com 45 m² <strong>de</strong> área <strong>de</strong> cena, Moreira<br />

Lima já realizou <strong>de</strong>s<strong>de</strong> 2002, mais <strong>de</strong> 400<br />

apresentações, levando sua arte a quase um<br />

milhão <strong>de</strong> pessoas, em cerca <strong>de</strong> 180.000 km<br />

<strong>de</strong> percurso por todos os cantos do <strong>Brasil</strong>.


Estilos musicais<br />

Rock <strong>Brasil</strong> – 1983-1986<br />

E<br />

m 1983, o rock não era mais um<br />

estranho no ninho da música brasileira,<br />

conquistando generosos espaços na<br />

imprensa e levando as gravadoras a per<strong>de</strong>r<br />

seu medo <strong>de</strong> contratar bandas. A gravação <strong>de</strong><br />

Ney Matogrosso para “Pro Dia Nascer Feliz”<br />

apresentaria ao país o Barão Vermelho e sua<br />

promissora dupla <strong>de</strong> compositores: Roberto<br />

Frejat e Cazuza. O LP “Rock Voador” revelou o<br />

Kid Abelha e Suas Abóboras Selvagens e o<br />

guitarrista <strong>de</strong> blues-rock Celso Blues Boy.<br />

Uma das bandas <strong>que</strong> tinha sua fita <strong>de</strong>mo<br />

executadas na Rádio Fluminense, o<br />

Paralamas do Sucesso, gravou seu primeiro<br />

LP, “Patrulha Noturna”. Mas <strong>que</strong>m<br />

arrebentaria a boca do balão na<strong>que</strong>le ano<br />

seria um outro ex-Vímana: o inglês Richard<br />

Court, o Ritchie. Sua música, “Menina<br />

Veneno”, um elegante tecnopop puxado por<br />

mo<strong>de</strong>rnos teclados, ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 800 mil<br />

cópias, um sucesso para o Rock <strong>Brasil</strong>, <strong>que</strong><br />

conquistava o respeito comercial e gerava,<br />

como contrapeso, <strong>uma</strong> s<strong>é</strong>rie <strong>de</strong> produtos<br />

<strong>de</strong>scartáveis, como o Absyntho (“Ursinho<br />

Blau Blau”), Grafite (“Mamma Maria”) e Bom<br />

Bom (“Vamos A La Playa”).<br />

Fenômeno at<strong>é</strong> então predominantemente<br />

carioca, o rock começa a fervilhar tamb<strong>é</strong>m<br />

em São Paulo, <strong>que</strong> sacudida<br />

simultaneamente pelos punks e pelo<br />

movimento <strong>de</strong> vanguarda musical (<strong>de</strong> Arrigo<br />

Barnab<strong>é</strong>, Itamar Assumpção, Rumo,<br />

Premeditando o Bre<strong>que</strong> e Língua <strong>de</strong> Trapo),<br />

revelou os Titãs (ex-Titãs do Iê-Iê), um octeto<br />

com aproximação new wave-tropicalista do<br />

rock. Era a ponta-<strong>de</strong>-lança <strong>de</strong> um rock<br />

paulistano, <strong>de</strong> nomes como o Magazine, o<br />

pós-punk Ira! e o irreverente Ultraje a Rigor.<br />

Gravado num estúdio <strong>de</strong> jingles, o primeiro e<br />

homônimo LP dos Titãs, com as músicas<br />

“Sonífera Ilha”, “Marvin” e “Go Back” (música<br />

sobre poema do tropicalista Torquato Neto)<br />

saiu em 1984, um ano repleto <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s<br />

lançamentos do Rock <strong>Brasil</strong>. A começar por<br />

“Seu Espião”, estr<strong>é</strong>ia do Kid Abelha (da<br />

vocalista e sex symbol Paula Toller), <strong>que</strong><br />

ven<strong>de</strong>u mais <strong>de</strong> 150 mil cópias, e “O Passo<br />

# 11 – novembro 2012<br />

do Lui”, segundo dos Paralamas do Sucesso.<br />

Paralamas e Kid surfaram a crista das ondas<br />

<strong>de</strong> rádio na<strong>que</strong>le ano, <strong>que</strong> ainda teve discos<br />

como “Tudo Azul” (Lulu Santos), “Ronaldo Foi<br />

Pra Guerra” (Lobão e Os Ronaldos), “Maior<br />

Abandonado” (último disco do Barão<br />

Vermelho com Cazuza) e “Phodas C” (L<strong>é</strong>o<br />

Jaime). As bandas e artistas cada vez mais se<br />

tornavam íntimos dos programas televisivos<br />

<strong>de</strong> auditório. Ao mesmo tempo, o cinema<br />

<strong>de</strong>tectava o fenômeno do Rock <strong>Brasil</strong> com o<br />

filme “Bete Balanço”, <strong>de</strong> Lael Rodrigues, com<br />

música tema do Barão Vermelho.<br />

Se o Rock <strong>Brasil</strong> passava <strong>uma</strong> imagem<br />

romântica e i<strong>de</strong>alista, tudo iria mudar a partir<br />

<strong>de</strong> janeiro <strong>de</strong> 1985, graças a um<br />

acontecimento crucial: o Rock In Rio, 10 dias<br />

<strong>de</strong> som e luz num terreno <strong>de</strong> 300 mil metros<br />

quadrados na Barra da Tijuca, no <strong>que</strong> acabou<br />

por ser o maior concerto <strong>de</strong> rock <strong>de</strong> todos os<br />

tempos, com um público estimado em um<br />

milhão e meio <strong>de</strong> pessoas. Ao lado <strong>de</strong> 14 dos<br />

mais importantes astros internacionais da<br />

<strong>é</strong>poca (Queen, Iron Mai<strong>de</strong>n, Rod Stewart,<br />

Ozzy Osbourne, AC/DC, Yes, Scorpions, entre<br />

outros), estavam valorosos veteranos da MPB<br />

e a nova rapaziada: Blitz, Barão Vermelho,<br />

Lulu Santos, Paralamas e Kid Abelha.<br />

No maior palco <strong>de</strong> suas iniciantes carreiras,<br />

as bandas não titubearam. O resultado foi<br />

<strong>que</strong> o rock entrou na or<strong>de</strong>m do dia (para a<br />

mídia e as gravadoras), o <strong>Brasil</strong> na rota das<br />

turnês das bandas internacionais e os<br />

ro<strong>que</strong>iros locais tiveram noções <strong>de</strong><br />

profissionalismo e <strong>de</strong> espetáculo muito úteis<br />

para quando fossem percorrer o país com<br />

seus shows. Auto-estima em alta, a juventu<strong>de</strong><br />

<strong>que</strong> viu as novas bandas brasileiras fazerem<br />

bonito ao lado dos ídolos estrangeiros, ainda<br />

presenciou, em meio ao festival, a eleição <strong>de</strong><br />

Tancredo Neves como o primeiro presi<strong>de</strong>nte<br />

civil no <strong>Brasil</strong> <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o golpe militar <strong>de</strong> 1964.<br />

Findava <strong>uma</strong> era.<br />

O Rock <strong>Brasil</strong> <strong>que</strong> emergiu em 1985 se<br />

apresentou ousado, contestador,


multifacetado e geograficamente disperso.<br />

De São Paulo vieram dois dos maiores êxitos<br />

comerciais do ano. Um <strong>de</strong>les, o álbum “Nós<br />

Vamos Invadir Sua Praia”, do Ultraje a Rigor.<br />

O outro nome foi o RPM, <strong>que</strong>, embalado pelo<br />

estouro da música “Louras Geladas”, lançou<br />

seu LP <strong>de</strong> estr<strong>é</strong>ia “Revoluções Por Minuto”. A<br />

banda li<strong>de</strong>rada pelo vocalista e baixista Paulo<br />

Ricardo (o primeiro sex symbol masculino do<br />

Rock <strong>Brasil</strong> dos 80) resolveu partir para <strong>uma</strong><br />

superprodução: o show “Rádio Pirata”,<br />

dirigido por Ney Matogrosso. Nunca se havia<br />

visto algo como aquilo no <strong>Brasil</strong>: efeitos <strong>de</strong><br />

raio laser, gelo seco, sofisticado equipamento<br />

<strong>de</strong> som e a explosão <strong>de</strong> sensualida<strong>de</strong> <strong>de</strong><br />

Paulo Ricardo. O show correu o <strong>Brasil</strong>,<br />

aumentando brutalmente a popularida<strong>de</strong> do<br />

grupo, <strong>que</strong> se viu forçado pela gravadora a<br />

embarcar num disco ao vivo, com a versão <strong>de</strong><br />

“London, London” (Caetano Veloso) <strong>que</strong> já<br />

começava a ser tocada nas rádios. Lançado<br />

em 1986, “Rádio Pirata Ao Vivo” se tornou o<br />

recordista <strong>de</strong> vendas –<strong>de</strong> qual<strong>que</strong>r gênero–<br />

no <strong>Brasil</strong>: 2,2 milhões <strong>de</strong> cópias. Em pouco<br />

tempo, vergado pela pressão <strong>de</strong> ser <strong>uma</strong><br />

sensação nacional, pelas disputas internas e<br />

pelo abuso no consumo <strong>de</strong> drogas, o RPM<br />

ainda gravou mais um LP (“RPM”, 1987, <strong>de</strong><br />

vendagem <strong>de</strong>cepcionante em relação ao do<br />

disco anterior) e acabou em 1989.<br />

No mesmo mês do Rock in Rio, Legião<br />

Urbana apresentava ao país a po<strong>é</strong>tica <strong>de</strong><br />

Renato Russo (oriundo da banda punk Aborto<br />

El<strong>é</strong>trico), em letras nas quais a realida<strong>de</strong> dos<br />

"Filhos da Revolução" (termo empregado na<br />

música “Geração Coca-Cola”), estava<br />

expressa em seus anseios, medos e<br />

reivindicações. A Legião era a primeira das<br />

bandas <strong>de</strong> Brasília influenciadas pelo punk<br />

rock, <strong>que</strong> viriam tomar <strong>de</strong> assalto a mídia;<br />

outras como Capital Inicial, Plebe Ru<strong>de</strong>, Finis<br />

Africae e Detrito Fe<strong>de</strong>ral logo chegariam.<br />

Tamb<strong>é</strong>m <strong>de</strong> origem punk e <strong>de</strong>slocada do eixo<br />

Rio-São Paulo, apareceria o Camisa <strong>de</strong><br />

Vênus, cáustica turma <strong>de</strong> baianos li<strong>de</strong>rada<br />

pelo vocalista Marcelo Nova, <strong>que</strong> <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />

um LP sem gran<strong>de</strong> repercussão, eles<br />

estourariam com “Eu Não Matei Joana D’Arc”.<br />

Em São Paulo, os ecos do punk seriam<br />

responsáveis por <strong>uma</strong> outra banda <strong>de</strong><br />

# 11 – novembro 2012<br />

relevância a vir à luz em 1985, com o disco<br />

<strong>de</strong> estr<strong>é</strong>ia “Mudança <strong>de</strong> Comportamento”: o<br />

Ira!, do guitarrista Edgard Scandurra e o<br />

vocalista Nasi. Enquanto isso, o un<strong>de</strong>rground<br />

paulista fervilhava, com bandas <strong>que</strong><br />

investiram em trabalhos inspirados no poprock<br />

inglês <strong>de</strong> vanguarda e podiam ser<br />

encontrados mais nas páginas <strong>de</strong> jornais e<br />

revistas <strong>que</strong> nas rádios: Chance e Ness,<br />

Mercenárias e Smack, Fellini e Voluntários da<br />

Pátria. O selo in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte Baratos Afins<br />

lançava os discos <strong>de</strong> toda essa rapaziada,<br />

antecipando em pelo menos <strong>de</strong>z anos a<br />

realida<strong>de</strong> dos pe<strong>que</strong>nos selos <strong>que</strong> ajudaram<br />

a fazer do rock alternativo um fenômeno. Em<br />

contraponto, o Rio <strong>de</strong> Janeiro ficava famoso<br />

com os álbuns “Sessão da Tar<strong>de</strong>”, <strong>de</strong> L<strong>é</strong>o<br />

Jaime, “Educação Sentimental” <strong>de</strong> Kid Abelha<br />

e o ex-Barão Vermelho, Cazuza, com o seu<br />

primeiro álbum solo, “Exagerado”.<br />

1986 foi um ano <strong>de</strong> consolidação artística e<br />

fartura <strong>de</strong> lançamentos: a explosão <strong>de</strong><br />

consumo proporcionada pelo Plano Cruzado<br />

fez a festa das gravadoras, <strong>que</strong> começaram a<br />

contratar qual<strong>que</strong>r banda <strong>que</strong> cheirasse a<br />

rock. Uma coletânea –“Rock Gran<strong>de</strong> do Sul”,<br />

só <strong>de</strong> bandas <strong>de</strong> Porto Alegre– revelou os<br />

Engenheiros do Hawaii, <strong>que</strong> no mesmo ano<br />

lançariam o seu primeiro LP, ironicamente<br />

intitulado “Longe Demais das Capitais”. Na<br />

mesma coletânea estava a banda <strong>de</strong><br />

inspiração punk-hardcore Replicantes.<br />

Tamb<strong>é</strong>m estrearam na<strong>que</strong>le ano em álbum<br />

os cariocas do Biquini Cavadão (“Cida<strong>de</strong>s em<br />

Torrente”), a Plebe Ru<strong>de</strong> (“O Concreto Já<br />

Rachou”), o Capital Inicial (“Capital Inicial”) e<br />

os Inocentes (com “Pânico em SP”, primeiro<br />

disco do punk brasileiro a ser lançado por<br />

<strong>uma</strong> gran<strong>de</strong> gravadora).<br />

Três, por<strong>é</strong>m, seriam os discos do Rock <strong>Brasil</strong><br />

a arrebatar a atenção <strong>de</strong> público e crítica por<br />

sua força e novida<strong>de</strong>. Com “Selvagem”, os<br />

Paralamas do Sucesso fizeram <strong>uma</strong><br />

ambiciosa conexão <strong>Brasil</strong>-Jamaica-Inglaterra-<br />

África via música negra. Já em “<strong>Do</strong>is”, a<br />

Legião Urbana se revelou mais lírica e<br />

acústica. Por fim, com “Cabeça Dinossauro”,<br />

os Titãs <strong>de</strong>ram sua guinada punk, num lance<br />

<strong>que</strong> parecia arriscado, mas <strong>que</strong> lhes garantiu<br />

credibilida<strong>de</strong> ro<strong>que</strong>ira e retorno comercial.

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