QUAL A ROUPA CERTA.pdf - Webnode
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<strong>QUAL</strong> A <strong>ROUPA</strong> <strong>CERTA</strong>?<br />
SUMÁRIO<br />
Saiba como roupas e adornos podem fazer diferença em sua vida cristã<br />
Dr. Samuele Bacchiocchi<br />
Título do original em inglês: Christian Dress and Adornment<br />
Editora Tempos Ltda.<br />
Caixa Postal 54 - CEP 13295.970 Itupeva - SP<br />
Primeira Edição 3.000 exemplares<br />
Copyright © 1997 Vector Type M.P.G. Ltda.<br />
Tradução: Eunice Leme Vidal e César Luís Pagani<br />
Contracapa: Qual a Roupa Certa?<br />
Em todas as épocas homens e mulheres enfeitaram seus corpos com jóias,<br />
cosméticos e roupas de todos os tipos. Hoje, mais do que nunca, isso é fato, pois a<br />
revolução sexual desenvolveu uma poderosa indústria da moda capaz de impor<br />
suas regras com fortes apelos para o sexo, vaidade e o ego. Não é de surpreender,<br />
que na história cristã relatada na Bíblia, haja freqüentes lembranças sobre a<br />
vestimenta modesta, decente e reverente.<br />
Em "Qual a Roupa Certa?", o Dr. Bacchiocchi mostra que a roupa não faz o<br />
cristão, mas o cristão revela sua identidade, através daquilo que veste e da sua<br />
aparência. Em sua análise é enfatizado o estilo de vida de Jesus, onde a prioridade<br />
não era a atração exterior do corpo, mas a maravilhosa beleza interna, que o amor<br />
a Deus oferece. Este livro traz os ensinamentos bíblicos sobre roupas, adornos e<br />
cosméticos de uma forma clara, profunda e atual, oferecendo orientações, que ao<br />
invés de promover preconceitos, criam uma consciência clara sobre a aparência<br />
exterior dos filhos de Deus e o desejo de se libertar da vulgaridade da moda,<br />
alcançando a beleza e atração real.<br />
O Dr. Samuele Bacchiocchi foi o primeiro não católico a ser graduado na<br />
Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e atualmente além de fazer<br />
palestras em muitos países, escrever livros e pesquisar temas sempre oportunos, é<br />
professor de História de Igreja e de Teologia na Universidade Andrews em<br />
Michigan nos Estados Unidos.
Qual a Roupa Certa? 2<br />
SUMÁRIO<br />
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3<br />
Uma Visão Geral do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10<br />
Capítulo 1<br />
A Importância da Aparência Exterior . . . . . . . . . . . . 16<br />
Capítulo 2<br />
Vestuário e Ornamentos no Velho Testamento . . . . 22<br />
Capítulo 3<br />
Vestuário e Ornamentos no Novo Testamento . . . . 50<br />
Capítulo 4<br />
Vestuário e Ornamentos na História Cristã . . . . . . . 73<br />
Capítulo 5<br />
A Questão da Aliança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104<br />
Capítulo 6<br />
Trajes Unissex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146<br />
Capítulo 7<br />
Princípios Cristãos para Vestes e Ornamentos . . . 167<br />
Capítulo 8<br />
Uma Visão Prática do Vestuário Cristão . . . . . . . . 178<br />
Capítulo 9<br />
O Vestuário Masculino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
Qual a Roupa Certa? 3<br />
INTRODUÇÃO<br />
A<br />
história que envolve a criação de um livro pode às vezes ser<br />
tão interessante para os leitores como o conteúdo do próprio<br />
livro. O presente livro começou como apenas um capítulo de um estudo<br />
mais amplo que escrevi intitulado Estilo da Vida Cristã. Neste estudo<br />
mais amplo são analisados aspectos fundamentais do dia-a-dia de um<br />
cristão como: Vida devocional, trabalho e lazer, casamento, divórcio,<br />
sexo, música, esportes, filmes, dança, aborto, vestimentas e adornos.<br />
Enquanto escrevia o capítulo "Vestimenta e Adorno do Cristão", uma<br />
profunda convicção se apoderava de meu coração: que eu precisava<br />
publicar este estudo separadamente, tendo em vista sua alta relevância<br />
para a nossa Igreja Adventista do Sétimo Diz bem como para a<br />
comunidade cristã em geral.<br />
Expansão do Manuscrito Original<br />
Solicitei a alguns de meus colegas na Universidade de Andrews que<br />
avaliassem o rascunho original deste livro, que consistia de cerca de<br />
sessenta páginas. Os comentários que recebi deles foi-me de inestimável<br />
valor. Todos ficaram favoravelmente impressionados pela pesquisa que<br />
eu havia feito, mas alguns deles animaram-me a expandir alguns<br />
capítulos, traçando a correlação histórica entre o uso de jóias de alto<br />
custo, cosméticos de cores marcantes, anéis e vestimentas insinuantes de<br />
um lado, e o crescimento ou declínio espiritual das igrejas cristãs, de<br />
outro lado.<br />
Sendo um historiador da igreja por treinamento e profissão.<br />
alegremente aceitei o desafio. Senti que uma pesquisa histórica sobre<br />
como se tem vestido e ornamentado a igreja cristã em geral, e algumas<br />
denominações em particular, poderia oferecer-nos algum discernimento<br />
referente à nossa situação contemporânea. Por vários meses li<br />
extensivamente, tanto em fontes primárias como secundárias, tudo o que
Qual a Roupa Certa? 4<br />
se referisse a atitudes cristãs com respeito a vestimentas e ornamentos.<br />
Como resultado disso, meu manuscrito original de sessenta páginas<br />
expandiu-se muito, alcançando o tamanho do livro que agora você tem<br />
em mãos.<br />
Um Livro Difícil de Escrever<br />
Devo confessar que, dos dez livros que escrevi, este fui o mais<br />
difícil. Essa dificuldade deveu-se não à escassez de estudos confiáveis<br />
sobre o assunto, mas principalmente á natureza sensível do assunto. A<br />
maneira de vestir-se e ornamentar-se de uma pessoa não representa<br />
apenas sua cobertura externa; ela lhe revela o caráter interior. De fato,<br />
este estudo surpreendeu tanto a mim quanto minha esposa, fazendo-nos<br />
revisar nossa posição concernente a certos assuntos, inclusive o uso da<br />
aliança de casamento. Nenhum dos meus livros levou-me a analisar tão<br />
profundamente a minha própria alma. É portanto com muita humildade<br />
que apresento este estudo, não com o intuito de condenar alguém, mas de<br />
ajudar meus companheiros de jornada cristã, inclusive a mim mesmo, a<br />
compreender melhor e aceitar aqueles princípios que Deus nos tem<br />
revelado em Sua Palavra, com respeita à nossa aparência externa.<br />
O assunto do vestuário e do adorno é tão delicado porque mexe com<br />
aquilo que alguns indivíduos valorizam mais, ou seja, seu orgulho e<br />
vaidade. Aquilo que usamos é parte daquilo que somos. Nossa roupa e<br />
ornamentos revelam não apenas nosso nível social, econômico e<br />
educacional, mas também nossos valores morais. Aquilo que usamos<br />
conta o que gostaríamos que o mundo pensasse de nós. A maioria das<br />
pessoas quer que o mundo admire sua aparência exterior, e não que a<br />
critique. Se você expressa sua desaprovação a um amigo ou membro da<br />
igreja pelas roupas insinuantes ou jóias chamativas que ele esteja usando,<br />
é provável que ele lhe responda: "O que eu uso não é da sua conta! Se<br />
você não gosta, não olhe para mim!"
Qual a Roupa Certa? 5<br />
Tais explosões emocionais pouco ânimo produzem, para que se<br />
pregue ou se escreva sobre esse assunto tão melindroso. Essa, talvez,<br />
seja a razão porque sermões e livros que falam sobre o modo do cristão<br />
se vestir ou se adornar são tão raros. A essa altura você talvez esteja se<br />
perguntando por que eu me aventurei a escrever sobre esses assuntos.<br />
Deixe-me assegurar-lhe que certamente não é por que eu tenha um<br />
"complexo de mártir". Aprendi por experiência que escrever sobre<br />
assuntos controvertidos tem alto custo, tanto financeiro como emocional.<br />
A pessoa pude ficar emaranhada em controvérsias sem fim, perder a<br />
amizade de irmãos de fé, e sofrer penalidades econômicas.<br />
Percepção das Necessidades Sentidas<br />
Meu critério para decidir sobre o que escrever nunca tem sido a<br />
popularidade ou impopularidade do assunto, e sim minha percepção da<br />
relevância e importância para a igreja hoje. A necessidade de investigar<br />
os ensinos bíblicos referentes a vestuário e ornamentos, tem-me<br />
inquietado muitas vezes por aquilo que tenho visto e ouvido em grande<br />
número de igrejas por onde tenho ministrado; tanto na América do Norte<br />
como em outros países. Está se tornando uma cena corriqueira em muitas<br />
congregações o uso de minissaias, blusas decotadas, calças compridas,<br />
brincos, colares, braceletes, anéis a maquiagem pesada.<br />
Quando esse assunto é levado à discussão em meus seminários, no<br />
sábado à tarde, durante o período de perguntas e respostas, sempre há<br />
alguns membros que defendem o modo imodesto pelo qual se trajam<br />
dizendo: "Que mal há em usar brincos, colares, pulseiras, anéis; ou<br />
roupas da moda? Todo o mundo usa! Os adventistas não devem parecer<br />
espantalhos! As jóias fazem parte das vestimentas formais da mulher,<br />
assim como o uso da gravata faz parte do traje formal do homem. Ser<br />
cristão é muito mais do que ficar argumentando sobre jóias e roupas. Os<br />
adventistas não deviam permitir que coisas tão sem importância<br />
obscurecessem as grandes verdades da fé cristã."
Qual a Roupa Certa? 6<br />
Esses são problemas reais que confrontam todo cristão, inclusive o<br />
pastor, interessado em ajudar seus irmãos de fé a seguirem as diretrizes<br />
da Palavra de Deus, em vez dos ditames da moda. De fato, muitas vezes<br />
pastores têm-me confidenciado que se sentem impotentes frente ao<br />
crescente uso de jóias, cosméticos e vestuário imodesto em suas<br />
congregações. Alguns pastores admitem que essa tendência permissiva<br />
veio para ficar, e que não há muito que se possa fazer, senão aprender a<br />
conviver com ela.<br />
Razões para Esperança<br />
Eu não compartilho dessa visão pessimista. Tenho convicção de que<br />
a maioria dos cristãos que adorna seus corpos com cosméticos em<br />
excesso, jóias custosas e roupas para chamar a atenção, estão procurando<br />
o amor, a atenção e a aceitação de Deus e de outras pessoas. Ao<br />
descobrirem que Jesus e a comunidade de fé os amam e os aceitam como<br />
são, em sua beleza natural, eles gradualmente perdem o desejo de se<br />
enfeitar e adornar. Quando reconhecem que aquilo que Jesus mais ama<br />
neles não são seus ofuscantes ornamentos externos, nem suas roupas<br />
custosas, mas o adorno do íntimo do coração, no incorruptível traje de<br />
um espírito manso e tranqüilo (I Pedro 3:4), eles se disporão a seguir a<br />
simplicidade do estilo de vida de Jesus, até mesmo em suas roupas e<br />
aparência.<br />
Foi essa convicção que me motivou a escrever este livro. Não<br />
podemos culpar os membros da igreja por usarem o que é errado, se nós<br />
como líderes não os ajudamos a enxergar as razões bíblicas para usar o<br />
que é certo. Existem muitos membros sinceros que estão sinceramente<br />
fazendo o que é errado. Eles crêem que não há nada de errado no sexo<br />
pré-marital, contanto que os parceiros se amem. Eles sinceramente crêem<br />
que os cristãos podem assistir filmes violentos ou pornográficos,<br />
contanto que não se envolvam emocionalmente com eles. Eles<br />
sinceramente crêem que podem ouvir rock, em suas várias modalidades,
Qual a Roupa Certa? 7<br />
contanto que o ritmo não seja tão force ou as palavras não sejam muito<br />
profanas. Eles sinceramente crêem que podem se divorciar de seu<br />
cônjuge se eles não sentem mais satisfação em seu relacionamento. Eles<br />
sinceramente crêem que podem consumir uma quantidade moderada de<br />
álcool e drogas, contanto que não se viciem. Eles sinceramente crêem<br />
que podem usar diferentes tipos de jóias, contanto que não sejam<br />
berrantes ou muito caras. Esse é o tipo de pessoa que freqüentemente me<br />
pergunta: "O que há de errado com ..."<br />
Ficamos a nos perguntar: Como podem tantos cristãos ser sinceros e<br />
ainda estarem tão sinceramente equivocados em aspectos vitais do viver<br />
cristão? Parece-me que parte do problema é a falta de compreensão da<br />
reivindicação que o evangelho tem sobre a nossa vida diária. A<br />
preocupação prevalecente das igrejas evangélicas atuais é ensinar o povo<br />
como se tornar cristãos, ao invés de treiná-los em como viver a vida<br />
cristã. Parece haver uma relutância em ajudar as pessoas a<br />
compreenderem como a aceitação do evangelho afeta a maneira como<br />
comemos, bebemos, nos adornamos e nos divertimos. O resultado é,<br />
empregando as palavras de Oséias que "O Meu povo é destruído por<br />
falta de conhecimento." (Oséias 4:6)<br />
Medo do Legalismo<br />
Talvez seja o medo de ser tachado de legalista que tenha levado<br />
muitos a evitarem abordar alguns aspectos do viver cristão, tais como<br />
vestimentas e adornos. Existe um terror de que tais ensinos possam<br />
causar um senso de culpa e insegurança na mente daqueles que não<br />
vivem à altura das expectativas de Deus. Para evitar consciências<br />
perturbadas, muitos escritores e pastores preferem manter sua pregação<br />
sobre os atos e a morte de Jesus ou, em outras palavras, sobre o Seu<br />
amor e perdão incondicionais. A mensagem parece ser: '"Você não<br />
precisa sentir insegurança com respeito à sua salvação, porque Cristo já a<br />
completou. Ele o aceita independentemente da maneira como você vive
Qual a Roupa Certa? 8<br />
ou se veste. Apenas creia no que Ele já fez por você, em Sua morte, em<br />
Seu favor e você estará salvo." Essa mensagem é verdadeira mas<br />
incompleta. As boas-novas do evangelho são que Jesus nos aceita como<br />
somos, mas Ele também nos capacitará a nos tornarmos o que devemos<br />
ser.<br />
Para sermos fiéis aos preceitos bíblicos, precisarmos ensinar as<br />
pessoas não somente a professar sua fé e amor por Cristo, mas também a<br />
praticar essa fé e esse amor em sua vida diária. Essa é minha razão para<br />
escrever este livro que versa sobre a maneira cristã de se vestir e adornar.<br />
Durante os últimos vinte e cinco anos, enquanto ensinei e preguei<br />
ao redor do mundo, inúmeras vezes vi mudanças radicais na maneira de<br />
viver das pessoas que foram convencidas de que certas ações ou hábitos<br />
eram errados pelos ensinos da Bíblia e pelas persuasões do Espírito<br />
Santo. Há muitos cristãos sinceros, nas mais variadas linhas<br />
denominacionais, que desejam saber como se vive de acordo com os<br />
princípios que Deus tem revelado na Bíblia. Eles apreciam quando<br />
alguém toma tempo para mostrar-lhes através da Bíblia e de um exemplo<br />
pessoal, como é que se vive a vida cristã. É a esses cristãos sinceros que<br />
humildemente dedico este livro.<br />
Os Objetivos do Livro<br />
O objetivo deste estudo é desenvolver alguns princípios<br />
fundamentais referentes à vestimenta e à ornamentação, baseados em um<br />
cuidadoso estudo dos exemplos e alegorias bíblicas, bem como em suas<br />
admoestações com respeito a jóias, cosméticos e vestimentas.<br />
Os capítulos cinco e seis falam especificamente das dúvidas sobre a<br />
aliança de casamento e a moda unissex, em relação à sua relevância na<br />
vida cristã anual. O último capitulo resume os pontos altos deste estudo<br />
apresentando sete princípios orientadores do assunto de vestimenta e<br />
ornamentação, que emergiram da pesquisa feita com a matéria bíblica<br />
que fala sobre o assunto.
Qual a Roupa Certa? 9<br />
Meu principal objetivo ao escrever este livro é ajudar os crentes<br />
individualmente, e a igreja como um todo, a vencer a batalha contra o<br />
mundanismo na área de vestimenta e ornamentos. Creio firmemente que<br />
essa batalha não pode ser vencida com a simples publicação de<br />
resoluções. A vitória só virá quando cada cristão decidir em seu coração<br />
viver em harmonia com os princípios bíblicos de modéstia e<br />
simplicidade.<br />
O propósito deste livro é ajudar os cristãos a ganharem a batalha<br />
através de uma mais profunda compreensão e apreciação de tais<br />
princípios.<br />
Procedimento e Estilo<br />
O procedimento que segui através do livro consistiu de duas etapas<br />
principais: primeiramente examinei as passagens concernentes do Velho<br />
e do Novo Testamentos para definir quais são os princípios encontrados<br />
na Bíblia com respeito a vestimentas, cosméticos e jóias. Em segundo<br />
lugar, procurei aplicar esses princípios à situação contemporânea. Para<br />
dar a esse estudo uma perspectiva histórica, relato resumidamente a<br />
atitude cristã com respeito ao modo de vestir e ornamentar nos principais<br />
períodos da igreja, bem como dentro de algumas denominações.<br />
Quanto ao estilo do livro, procurei escrevê-lo em linguagem<br />
simples e não técnica. Para facilitar a leitura, cada capítulo é dividido em<br />
partes principais e subdividido em tópicos apropriados. Um breve<br />
resumo é apresentado ao final de cada capítulo. A menos que haja<br />
menção específica, todos os textos bíblicos foram retirados da versão da<br />
Imprensa Bíblica Brasileira, baseada na tradução de João Ferreira de<br />
Almeida.
Qual a Roupa Certa? 10<br />
UMA VISÃO GERAL DO LIVRO<br />
E<br />
m consideração àqueles leitores que apreciam um apanhado<br />
geral da estrutura e conteúdo do livro, o seguinte resumo<br />
destaca os pontos altos de cada capítulo. Como alguns capítulos contêm<br />
pesquisas históricas que podem ser enfadonhas para alguns leitores,<br />
adiciono a sugestão de quais são os trechos que alguns poderão passar<br />
por alto.<br />
Capítulo 1 – Começa com uma reflexão sobre a importância da<br />
aparência exterior, não somente no mundo de negócios, mas também na<br />
vida cristã. Nossa roupa e aparência são poderosos comunicadores não<br />
verbais, revelando não apenas nosso status socio-econômico, como<br />
também nosso caráter cristão. Eles servem de moldura para realçar a<br />
figura dAquele a quem servimos. A renovação interior que Cristo tem<br />
realizado na vida do cristão é refletida em sua aparência exterior.<br />
Capítulo 2 – Examina as passagens mais relevantes do Velho<br />
Testamento que lidam com jóias, cosméticos e roupas extravagantes. O<br />
estudo revela uma sólida associação do uso desses artigos com sedução,<br />
adultério e apostasia. Tais ligações negativas e o castigo divino<br />
resultante do uso destas coisas constituem uma solene advertência para<br />
nós. A remoção desses ornamentos exteriores é um pré-requisito para a<br />
limpeza espiritual interior e para a reconciliação com Deus. Tendo em<br />
vista o fato de que algumas pessoas encontram apoio em certas<br />
passagens do Velho Testamento para o uso moderado de jóias, recebem<br />
essas uma atenção especial, bem como os argumentos nos quais eles se<br />
baseiam.<br />
Capítulo 3 – Fundamenta os capítulos anteriores examinando<br />
passagens do Novo Testamento. O capítulo examina com atenção os<br />
trajes das duas mulheres simbólicas mencionadas no livro do<br />
Apocalipse: a grande prostituta e a noiva de Cristo. O contraste entre a<br />
aparência exterior das duas mulheres tem implicações altamente<br />
significativas para o padrões cristãos de vestimentas e ornamentos. A
Qual a Roupa Certa? 11<br />
seguir, o capítulo analisa a admoestação apostólica de Paulo e Pedro<br />
referente a vestimentas e ornamentos (I Timóteo 2:9 e 10; 1 Pedro 3:3 e 4).<br />
Os dois apóstolos contrastam o adorno apropriado das mulheres cristãs<br />
com a ornamentação inapropriada adotada pelas mulheres mundanas. Os<br />
dois apóstolos nos oferecem essencialmente a mesma lista de<br />
ornamentos impróprios para a mulher cristã. Eles reconhecem que os<br />
ornamentos resplandecentes que adornam o exterior do corpo não se<br />
compatibilizam com os ornamentos interiores do coração – o espírito<br />
manso e ações benevolentes. Com base nessas admoestações apostólicas,<br />
o estudo desenvolve alguns princípios fundamentais relevantes para o<br />
cristão de hoje.<br />
Capítulo 4 – Examina a atitude cristã relativa a vestimentas e<br />
ornamentos nos principais períodos da história da igreja. Nem todos os<br />
leitores consideram interessante esse material histórico. Alguns parecem<br />
preferir pular as duas primeiras partes do capitulo que lidam com<br />
vestimentas e ornamentos na igreja primitiva e na Idade Média, e ler<br />
apenas a terceira parte que analisa o período desde a Reforma até nossos<br />
dias. A pesquisa mostra que os cristãos não têm ficado imunes à<br />
influência das modas extravagantes de sua época, porém em cada época<br />
tem havido cristãos que se têm adornado modesta, sóbria e<br />
decentemente, como convém à piedade cristã. Uma lição importante que<br />
emerge da pesquisa da história da igreja, é que o reavivamento espiritual<br />
ou o declínio da igreja freqüentemente reflete-se na reforma do vestuário<br />
ou na extravagância dos trajes de seus membros. A história da maneira<br />
como se vestem e se adornam de muitos modos, reflete o conflito<br />
humano entre o orgulho, a concupiscência e a ambição, por um lado e a<br />
humildade, a modéstia e a generosidade por outro.<br />
Capítulo 5 – Examina inteiramente o assunto da aliança de<br />
casamento, partindo de uma ampla perspectiva histórica, cultural e<br />
bíblica. O capítulo provê informação básica sobre a evolução do<br />
significado, do uso e da influência dos anéis de dedo, tanto na Roma<br />
pagã como na história cristã. Alguns leitores podem desejar pular a
Qual a Roupa Certa? 12<br />
primeira parte do capitulo que lida com o uso de anéis de dedo através da<br />
história pagã. O capitulo dá atenção especial ao impacto religioso do<br />
anel de casamento nas igrejas Metodista, Menonita e Adventista do<br />
Sétimo Dia. Essa análise provê uma base para reflexão no final do<br />
capítulo, sobre ser ou não ser aconselhável para os cristãos o uso da<br />
aliança de casamento atualmente.<br />
Capítulo 6 – Examina a insinuação filosófica da moda unissex<br />
adotada hoje em dia, e seu impacto sobre o lar, o local de trabalho e a<br />
igreja. O estudo mostra que a força propulsora que há por trás da moda<br />
unissex, é a visão feminista de uma nova sociedade sem distinção de<br />
sexo, onde as roupas e os papéis dos homens e das mulheres não são<br />
diferenciados e permutáveis. Tal visão de uma sociedade sem distinção<br />
de gênero (sexo) é claramente condenada m Bíblia. As Escrituras<br />
ensinam-nos a respeitar as distinções de sexo na vestimenta, bem como<br />
nas funções porque eles são parte da obra da criação. As distinções de<br />
gênero são fundamentais para compreendermos quem somos e qual o<br />
papel que Deus deseja que preenchamos ou desempenhemos. O capítulo<br />
termina instando os cristãos a que respeitem a masculinidade e<br />
feminilidade que Deus lhes deu, vestindo-se de maneira a confirmar o<br />
gênero a que pertencem.<br />
Capítulo 7 – Realça mais nitidamente a relevância dos ensinos<br />
bíblicos sobre vestimentas e ornamentos para o nosso tempo, formulando<br />
sete declarações básicas e princípios que resumem os pontos principais<br />
deste estudo. Essa breve recapitulação tem a intenção de auxiliar o leitor<br />
a obter uma compreensão mais abrangente dos ensinos bíblicos<br />
fundamentais sobre vestimenta e adorno, que surgiram no decorrer de<br />
nossa investigação.<br />
Capítulo 8 – É uma contribuição de Laurel Damsteegt que fornece<br />
aplicações práticas introspectivas dos princípios de vestir-se e adornarse,<br />
como apresentados nos capítulos anteriores. Com seu estilo cativante<br />
ela apresenta dez princípios práticos que mostram distintamente como o<br />
cristão pode vestir-se para a glória de Deus. Enfatiza que vestir-se para a
Qual a Roupa Certa? 13<br />
glória de Deus não é algo terrivelmente difícil, mas que requer uma<br />
disposição sincera de nossa parte para permitir que Ele transforme<br />
nossas atitudes. Laurel encerra com um apelo para seguir a .Jesus em<br />
coisas tão pequenas como vestimentas e ornamentos. Estas "pequenas"<br />
coisas silenciosamente apelam ao mundo que vivemos para glorificar a<br />
Deus e não a nós mesmos.<br />
Capítulo 9 – É uma contribuição de Hedwig Jemison que aplica ao<br />
pastorado as recentes pesquisas feitas por variadas corporações, sobre a<br />
importância da vestimenta e da aparência. Esse trabalho foi inicialmente<br />
publicado na revista Ministry, de julho de 1910. Ela mostra que a<br />
maneira de um ministro vestir-se pode fazer a diferença entre uma<br />
recepção favorável ou desfavorável à sua mensagem. Antes de se<br />
aposentar, ela trabalhou como diretora do White State Branch Office, na<br />
Universidade Andrews. Eu respeito Hedwig Jemison como uma<br />
verdadeira mãe espiritual em Israel.<br />
Agradecimentos – É muito difícil para mim abranger todas as<br />
pessoas que contribuíram para a realização deste livro e a quem sou<br />
profundamente agradecido. Indiretamente, sinto-me endividado para<br />
com os muitos autores evangélicos que têm escrito sobre os aspectos<br />
práticos do viver cristão. Embora não poucos deles tenham abordado a<br />
questão da vestimenta e ornamentos do cristão, seus livros e artigos em<br />
assuntos correlatos têm estimulado meu raciocínio e ampliado minha<br />
abordagem deste assunto.<br />
Diretamente quero expressar minha gratidão profunda àqueles que<br />
separaram tempo, em meio ao seu intenso programa de vida, para ler<br />
cuidadosamente meus manuscritos e dar-me sugestões sobre como<br />
melhorá-los. Alguns deles escreveram várias páginas de sugestões,<br />
construtivas, enquanto que outros preferiram ver-me pessoalmente para<br />
debater nossas sugestões. A todos eles desejo expressar minha sincera<br />
gratidão por seus valiosos comentários, que me desafiaram a ampliar, e<br />
em alguns casos retificar, o conteúdo deste livro. Embora eu seja grato<br />
pelos muitos comentários e sugestões recebidas, os pontos de vista
Qual a Roupa Certa? 14<br />
expressos nesta obra são meus, e por eles assumo inteira<br />
responsabilidade.<br />
A seguinte lista de nomes pode não ser total, mas representa aqueles<br />
que se destacaram por suas preciosas contribuições: Dr. Jon Paulien, Dr.<br />
Humberto Rasi, Dr. Woodrow Whidden, Dr. Ben Schoun, Dr. Rex D.<br />
Edwards, Dr. Elmer L. Malcolm, Pr. Léo Ranzolin, Pr. Larry L.<br />
Lichtenwalter, Pr. Joel O. Topkins, Pr. Thomas J. Mostert. Pr. Bruce<br />
Johnston, Pr. Herman Bauman e Capelão David G. Hand. especiais a<br />
Madeline S. Johnston.<br />
Agradecimentos particulares a Laurel Damsteegt, pela contribuição<br />
ao oitavo capítulo, Uma Análise Prática do Vestuário de um Cristão.<br />
Sinto que o capítulo da Sra. Damsteegt adiciona equilíbrio a este estudo,<br />
ao dar sugestões e princípios práticos ao leitor sobre como trajar-se para<br />
a glória de Deus. A Sra. Damsteegt tem larga experiência.<br />
Academicamente ela possui um mestrado em Divindade e um em<br />
Ciência na área de Saúde Pública. Na prática ela tem trabalhado ao lado<br />
de seu esposo como missionários em outros países e como esposa de<br />
pastor nos Estado, Unidos. Tem cooperado com seu marido na<br />
preparação do livro "Seventh-day Adventist Believe...". Ela é a autora de<br />
muitos artigos e conduz seminários de saúde. Além de tudo isso, a Sra.<br />
Damsteegt é uma cristã de profundas convicções, irradiando o amor de<br />
Cristo. Sua disposição de contribuir para este projeto é altamente<br />
apreciada.<br />
Um terno agradecimento a Sra. Redwig Jemison, pelo seu maternal<br />
e incansável interesse e o apoio a mim dispensados. Ela me permitiu<br />
publicar dentro do capítulo nove seu artigo Clothing Men of Cloth,<br />
veiculado inicialmente na revista Ministry, em julho de 1980. Ademais,<br />
ela dedicou muito tempo para ler, corrigir e analisar construtivamente<br />
este manuscrito.<br />
Por último, porém com não menos intensidade, devo expressar<br />
meus sinceros agradecimentos à minha esposa, que tem sido minha<br />
constante fonte de encorajamento e inspiração durante os trinta e quatro
Qual a Roupa Certa? 15<br />
anos de nossa vida conjugal. Seu bom gosto em vestir-se modesta, porém<br />
elegantemente, facilitou-me o processo de compreender e escrever sobre<br />
vestimentas e ornamentos do cristão.<br />
O Anseio do Autor<br />
É meu ardente desejo que este estudo, fruto de pesquisa profunda e<br />
dedicada, possa auxiliar muitos cristãos a seguirem o estilo de vida de<br />
Jesus: um viver despretensioso e simples, inclusive na aparência pessoal<br />
e maneira de vestir. Como cristãos, revelamos a beleza de Seu caráter<br />
vestindo-nos de maneira apropriada, modesta e decente, evitando<br />
ornamentos reluzentes que atraiam a atenção. Nossa aparência exterior é<br />
uma testemunha silenciosa e constante de nossa identidade cristã. Ela<br />
mostra ao mundo que nós vivemos para glorificar a Deus e não a nós<br />
mesmos.
Qual a Roupa Certa? 16<br />
A IMPORTÂNCIA DA APARÊNCIA EXTERIOR<br />
Q<br />
uando você encontra com uma pessoa pela primeira vez, mesmo<br />
antes que ele ou ela comece a falar, poderá você dizer se é cristã<br />
por sua aparência exterior? Com freqüência fico em aeroportos<br />
esperando por alguém que me apanhe para conduzir-me aonde devo<br />
apresentar meus seminários de final de semana. Na maioria dos casos, a<br />
única coisa que sei sobre essa pessoa, é que ele ou ela é um cristão,<br />
pertencendo à Igreja Adventista do Sétimo Dia.<br />
Ao sair do portão de desembarque, fico olhando as pessoas que<br />
estão à espera de um parente ou amigo, e me pergunto: "Quem seria a<br />
pessoa que está me esperando? Quem se parece com um adventista?" Se<br />
entre aqueles que estão à espera vejo um homem de cabelos longos,<br />
usando uma camiseta com a estampa "Turma da Pesada", tenho quase<br />
certeza de que ele não está esperando por mim. Pelo mesmo raciocínio,<br />
excluo automaticamente a mulher que traje vestido curto e use jóias, ou<br />
um homem com a camisa aberta, uma corrente dourada no pescoço e<br />
cabelos à altura dos ombros. Pelo método da exclusão, eu<br />
costumeiramente encontro a pessoa que me espera entre aqueles que<br />
estão vestidos com esmero e modéstia.<br />
Você é Aquilo que Usa<br />
Nossa aparência e comportamento mostram muito mais a nosso<br />
respeito do que imaginamos. William Thourlby, um famoso consultor de<br />
vestuário, que normalmente aconselha executivos e presidentes na arte<br />
de vestir-se atraentemente para alcançar sucesso, diz que quando as<br />
pessoas encontram você pela primeira vez, eles fazem dez julgamentos a<br />
seu respeito, baseados apenas na sua aparência. Essas avaliações estão<br />
relacionadas com:<br />
1. Seu nível econômico<br />
2. Seu nível educacional
Qual a Roupa Certa? 17<br />
3. Sua confiabilidade<br />
4. Sua posição social<br />
5. Seu nível de sofisticação<br />
6. Sua herança econômica<br />
7. Sua herança social<br />
8. Sua herança educacional<br />
9. Seu sucesso<br />
10. Seu caráter moral (1)<br />
Notem que a aparência revela não apenas nosso nível social,<br />
econômico e educacional, mas também nosso caráter moral. Isso quer<br />
dizer que os trajes e o comportamento deveriam ser de particular<br />
consideração pelos cristãos que escolheram viver pelos valores morais da<br />
Bíblia. "Consciente ou inconscientemente", escreve Thourlby, "as<br />
vestimentas que usamos revelam um conjunto de crenças sobre nós<br />
mesmos que desejamos que o mundo acredite" (2)<br />
A maneira hippie de vestir revela rejeição dos valores tradicionais<br />
da sociedade. A moda sexy, que permite sobrar bem pouco para a<br />
imaginação, expressa o desejo de seduzir. A maneira executiva de se<br />
trajar, com cabelos bem penteados, terno elegante e sapatos lustrosos,<br />
reflete autoridade, dignidade e confiabilidade.<br />
O mundo dos negócios há muito reconheceu a importância que os<br />
trajes e a aparência exercem sobre o marketing de produtos, serviços e a<br />
própria imagem da empresa. Corporações grandes, tais como<br />
companhias aéreas que vendem seus serviços ao público em geral,<br />
contratam renomados consultores de vestimentas para criar o guardaroupa<br />
de seus vendedores de passagens, comissários de bordo e pilotos.<br />
Eles sabem que através da aparência de seus funcionários podem projetar<br />
ao público em geral, imagens de respeitabilidade, confiabilidade e<br />
competência profissional.<br />
Aquilo que é verdade sobre corporações, também o é sobre<br />
indivíduos. John T. Molloy, denominado pela revista Time, "o primeiro
Qual a Roupa Certa? 18<br />
engenheiro de guarda-roupa da América", despendeu dezessete anos<br />
coletando dados sobre o extraordinário impacto que a maneira como nos<br />
vestimos tem sobre as pessoas com quem nos relacionamos e<br />
trabalhamos. No seu best-seller Dress for Success, Molloy relata que<br />
bem cedo ele descobriu quão importantes o traje e a aparência são na<br />
denominação de credibilidade e aceitação. Ele verificou que pessoas bem<br />
vestidas recebem tratamento preferencial em quase todos os encontros<br />
sociais e de negócios (3).<br />
Molloy estendeu sua pesquisa sobre o impacto do código do vestir<br />
em uma grande corporação com dois ramos de negócios, um dos quais<br />
exigia o cumprimento desse código e o outro não. Depois de um ano, as<br />
secretárias e funcionários do ramo que exigia o cumprimento do código,<br />
melhoraram seu desempenho em todas as áreas, permaneciam em suas<br />
escrivaninhas mais tempo, e reduziram seus atrasos em 15% (4)<br />
É fascinante descobrir que nossa aparência exterior influencia as<br />
razões, não somente daqueles com quem nos relacionamos, mas as<br />
nossas próprias. No livro Você é Aquilo que Você Veste, William<br />
Thourlby escreveu um capítulo intitulado "Você Pode Tomar-se Aquilo<br />
Que Veste" (5). Obviamente ninguém se torna um piloto por vestir-se<br />
como tal, mas se ele estiver desalinhado e malvestido, pode gerar<br />
suspeitas sobre sua confiabilidade aos olhos dos passageiros prontos a<br />
embarcar. Isso quer dizer que se nós parecermos bem-sucedidos e<br />
profissionais, poderemos controlar a impressão que causamos às pessoas.<br />
Em conseqüência, as reações favoráveis a nosso respeito nos desafiam a<br />
viver à altura das expectativas daqueles que nos observam, ou, nas<br />
palavras de Thourlby: "você pode se tornar aquilo que usa". Se nossa<br />
aparência for profissional e competente, seremos desafiados a agir de<br />
acordo com ela.
Qual a Roupa Certa? 19<br />
Implicações na Vida do Cristão<br />
Esta extensa e atual pesquisa, explorando como adornar-nos, a fim<br />
de que nossa aparência exterior influencie as pessoas a ver-nos<br />
favoravelmente e também à organização que representamos, tem<br />
profundas implicações no viver cristão. Afinal de contas, como cristãos<br />
nós também fazemos uso de alguns instrumentos de "marketing". A<br />
diferença está no produto que oferecemos. Nosso compromisso cristão é<br />
oferecer não apenas nossas habilidades ou os produtos da companhia<br />
para a qual trabalhamos, mas principalmente nossa fé e amor por Cristo.<br />
Temos o compromisso de revelar o caráter de Cristo em nossa própria<br />
vida, para que outros sejam atraídos a Ele e O aceitem como seu<br />
Salvador pessoal.<br />
Se, como a pesquisa revelou, as vestimentas e a aparência são<br />
poderosos comunicadores não-verbais, não apenas de nosso status sócioeconômico,<br />
mas também de nossos valores morais, como cristãos<br />
precisamos ponderar sobre a melhor maneira de mostrar nossos valores<br />
cristãos aos outros, através de nossa aparência exterior? Que princípios<br />
de vestimentas e adornos deveríamos seguir para nos assegurar de que<br />
nossa aparência exterior dê um testemunho visível e silencioso de nosso<br />
relacionamento com Cristo? Para encontrar a resposta a essas<br />
indagações, dediquei muito tempo a pesquisas em bibliotecas,<br />
procurando livros e artigos que abordassem o assunto de vestes e<br />
ornamentos. Qual o meu desapontamento em verificar que havia bem<br />
pouco material nessa área. Os principais estudos do assunto haviam sido<br />
produzidos nos séculos XVIII e XIX por líderes evangelistas de renome,<br />
tais como John Wesley, Richard Baxter, Phoebe Palmer e Charles<br />
Finney. Antes de desistir, telefonei para alguns líderes de publicações<br />
cristãs para ver se, por acaso, teriam publicado algum estudo novo sobre<br />
o assunto que ainda não tivesse chegado às bibliotecas. O resultado foi<br />
um novo desapontamento.
Qual a Roupa Certa? 20<br />
A escassez de literatura recente, bem como do ensino e pregação<br />
sobre o tema, mostram que o problema não é mais encarado como índice<br />
importante do caráter cristão. Muitos cristãos crêem sinceramente que o<br />
cristianismo não consiste em formas exteriores. Por isso sentem-se livres<br />
para vestir e adornar seus corpos como preferirem, já que isso não tem<br />
nada a ver com sua espiritualidade. Não é incomum ver pessoas mesmo<br />
na igreja, vestir-se descuidada e imodestamente.<br />
O afrouxamento do código cristão sobre vestimenta e ornamentos<br />
deve ser encarado como parte de uma mudança gradual que está<br />
acontecendo neste século: Um afastamento da visão teística do mundo<br />
na qual Deus é a realidade fundamental da qual nos originamos e diante<br />
de quem somos moralmente responsáveis, em direção à visão<br />
materialística do mundo, na qual a matéria é a realidade fundamental de<br />
que nos originamos e perante a qual não temos responsabilidade.<br />
Essa transição tem produzido os valores seculares, humanísticos e<br />
hedonísticos que prevalecem em nossa sociedade atualmente. O critério<br />
para decidir-se o que é certo ou errado não é mais a revelação, mas os<br />
sentimentos e prazeres humanos. Se o uso de vestidos e ornamentos<br />
extravagantes lhes faz sentir-se bem, então deve ser correto usá-los.<br />
Infelizmente tal mentalidade hedonística está influenciando muitos<br />
cristãos sinceros. Para resistir a esse insidioso modo de pensar, os<br />
cristãos necessitam compreender e aceitar com urgência os princípios<br />
básicos de como vestir-se e adornar-se, revelados por Deus em Sua<br />
Palavra. A percepção da urgência dessa necessidade é que me motivou a<br />
envolver-me nesta pesquisa.<br />
Conclusão<br />
Roupas e aparência são poderosos comunicadores não-verbais,<br />
revelando não apenas nosso status sócio-econômico, mas também nossos<br />
valores morais. Nós somos aquilo que usamos. Isso significa que nossa<br />
aparência exterior é uma testemunha silenciosa e visível de nossos
Qual a Roupa Certa? 21<br />
valores cristãos. Como cristãos não podemos dizer: "Ninguém tem nada<br />
a ver com o jeito de minha aparência", porque nosso visual reflete-se<br />
sobre o Senhor. Minha casa, meu carro, minha aparência pessoal, o uso<br />
que faço de meu tempo e dinheiro, tudo reflete como Cristo tem<br />
transformado minha vida de dentro para fora. Quando Jesus entra em<br />
nossa vida, Ele não cobre nossos defeitos com cosméticos, mas nos<br />
limpa completamente, iniciando Seu trabalho por nosso interior. Essa<br />
renovação interna reflete-se na aparência externa.<br />
Referências do Capítulo I:<br />
1. William Thourlby. You Are What You Wear (New York, 19S0)<br />
pág. 1.<br />
2. Idem, pág. 52.<br />
3. John T. Molloy. Dress for Success (New York, 1975).<br />
4. Ibidem.<br />
5. William Thourlby. (Referência 1), págs. 52 a 59.
Qual a Roupa Certa? 22<br />
VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NO VELHO TESTAMENTO<br />
A<br />
lgumas vezes membros da igreja removem de si os cosméticos<br />
coloridos, apenas porque a igreja disse que assim deveriam<br />
fazer, e não por terem compreendido os princípios que Deus revelou para<br />
assegurar um relacionamento saudável com Ele. Tais membros têm a<br />
tendência de perguntar: "O que há de errado com meus brincos ou colar?<br />
Eles são tão imperceptíveis e baratos! O que há de errado em usar<br />
minissaia na igreja? Ela fica apenas dez centímetros acima do joelho! Eu<br />
ainda sou jovem, e é isso que todos estão usando!"<br />
Meu coração tem-se perturbado muitas vezes quando são feitas<br />
essas perguntas, pois elas revelam uma atitude negativa para com Deus.<br />
A preocupação parece ser "Quanto posso adornar e expor meu corpo e<br />
ainda ser aceito por Deus?" Essa atitude reflete um desejo de fazer<br />
apenas o mínimo necessário para a salvação.<br />
Mas um cristão genuíno não perguntará: "Quão pouco posso fazer e<br />
ainda permanecer sendo um filho de Deus?" Pelo contrário, indagará a si<br />
mesmo: "Quanto posso fazer para demonstrar minha fé, amor e<br />
comprometimento com Cristo através de minha aparência exterior?"<br />
Essa é uma abordagem positiva surgida de um coração tão cheio de amor<br />
por Deus, que procura saber como glorificá-Lo melhor em todos os<br />
aspectos de seu estilo de vida, inclusive a aparência exterior. Cristãos<br />
Com essa atitude positiva e amorosa sentem-se ansiosos para saber o que<br />
Deus tem revelado nas Escrituras com respeito a vestimentas, jóias e<br />
cosméticos. É com tal atitude que conduziremos nosso estudo, iniciandoo<br />
pelo Velho Testamento.<br />
Objetivo do Capítulo<br />
Este capítulo examina as mais reveladoras passagens do Velho<br />
Testamento que tratam de jóias, cosméticos e trajes extravagantes.<br />
Descobriremos uma ligação consistente entre o uso dessas coisas e
Qual a Roupa Certa? 23<br />
sedução, adultério e apostasia. Veremos que a remoção dos ornamentos<br />
exteriores é uma pré-condição para a limpeza espiritual interior e a<br />
reconciliação com Deus. Tendo em vista o fato de que algumas pessoas<br />
encontram apoio em certas passagens do Velho Testamento para o uso<br />
moderado de jóias, daremos atenção especial à elas e aos argumentos<br />
delas extraídos.<br />
A Roupagem de Luz<br />
O corpo humano era a coroa da criação de Deus, o mais<br />
perfeitamente planejado, o mais belo em formas e traços e o mais<br />
gracioso em expressão. Deus declarou Sua total satisfação sobre a<br />
criação de Adão e Eva, dizendo "Muito bom!" (Gên. 1:31). Em seu<br />
estado edênico, o homem e a mulher usavam apenas uma vestimenta de<br />
inocência. "Uma encantadora e suave luz, a luz de Deus, envolvia o<br />
santo par. Esta vestimenta de luz era um símbolo de seus trajes<br />
espirituais de inocência celeste. Tivessem eles permanecido leais a Deus,<br />
e essa luz teria continuado a circundá-los. Mas, quando o pecado entrou,<br />
eles cortaram sua ligação com Deus, e a luz que os tinha cercado<br />
desapareceu. Nus e envergonhados procuraram compensar a perda das<br />
vestimentas celestes, cozendo folhas de figueiras para se cobrirem". (1)<br />
Na Bíblia, as roupas ou ausência delas (nudismo) servem para<br />
representar a condição espiritual dos seres humanos perante Deus e a Sua<br />
glória. Quando Adão e Eva pecaram, repentinamente perceberam que<br />
estavam "nus" (Gên. 3:7), porque tinham perdido a roupagem de luz. Sua<br />
nudez não foi resultado da remoção de vestimentas físicas. Até aquele<br />
ponto eles nunca tinham usado nenhuma roupa. Pelo contrário, tornaramse<br />
conscientes de sua nudez no momento em que pecaram e sentiram o<br />
afastamento da gloriosa presença de Deus, a qual havia sido sua<br />
cobertura.<br />
A redenção é com freqüência representada na Bíblia como a<br />
restauração da vestimenta original de Adão e Eva: uma luz que emanava
Qual a Roupa Certa? 24<br />
da gloriosa presença de Deus. Isaías fala da restauração das vestes de luz<br />
no reino messiânico: "Nunca mais te servirá o Sol para a luz do dia, nem<br />
com o seu resplendor a Lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz<br />
perpétua e o teu Deus a tua glória" (Isaías 60:19). De maneira<br />
semelhante, o apóstolo João, em Apocalipse, compara a igreja que espera<br />
a volta de Cristo a uma noiva adornada para suas núpcias: "pois lhe foi<br />
dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho<br />
finíssimo são os atos de justiça dos santos" (Apoc. 19:8). O termo grego<br />
para "brilhante" é lampron, lampron, que literalmente quer dizer<br />
"reluzente, resplandecente" como uma lâmpada. As vestes de luz<br />
perdidas devido ao pecado, são finalmente readquiridas. A luz da glória<br />
de Deus vestirá não somente os remidos, mas a própria cidade: "A<br />
cidade não precisa nem do Sol, nem da Lua para lhe darem claridade,<br />
pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada" Apoc.<br />
21:23).<br />
A aplicação do conceito do que as vestimentas representam,<br />
estende-se além da criação e restauração, incluindo situações que<br />
ocorrem entre esses dois acontecimentos. Para receber as vestes da glória<br />
de Cristo em Sua volta, precisamos "despir-nos da velha natureza" (Efés.<br />
4:23) e "revestirmo-nos do Senhor Jesus Cristo" (Rom. 13:14). As vestes<br />
brancas de justiça que somos instados a usar nesta vida, não é nenhuma<br />
roupagem tecida em nossos próprios teares, pelos nossos esforços, mas<br />
nos é oferecida por Cristo: "Aconselho-te que de Mim compres ouro<br />
provado no fogo para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te<br />
vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos<br />
com colírio, para que vejas" (Apoc. 3:18). A nudez do pecado é coberta<br />
pelas resplendentes vestes brancas oferecidas por Cristo. Sua promessa<br />
para aqueles que "não tem sujado suas vestes" é que "eles andarão<br />
comigo em trajes brancos" (Apoc. 3:4)<br />
A referência acima é suficiente para demonstrar quão rico é o<br />
simbolismo do vestuário na Bíblia. Desde a criação até a restauração, as<br />
atividades criativa e redentora de Deus são freqüentemente representadas
Qual a Roupa Certa? 25<br />
pelo ato de cobrir a nudez de Seus filhos com as vestes de Sua justiça.<br />
Em seu livro O Simbolismo do Vestuário na Bíblia, o escritor francês<br />
Edgar Halotte realça que "a importância do vestuário não é minimizada<br />
na Bíblia. Pelo contrário, Deus, em Sua revelação, dá a ela significado<br />
espiritual". (2) O rico simbolismo do vestuário ajuda-nos a apreciar a<br />
importância que Deus atribui ao vestuário na vida do Seu povo.<br />
A Queda e a Moda<br />
A moda teve início quando nossos primeiros pais, cheios de culpa,<br />
foram expulsos do jardim do Éden. A inocência havia desaparecido, a<br />
veste de luz tinha-se desvanecido e Adão e Eva, encolhidos e tremendo<br />
de medo por sua nudez, cozeram folhas de figueira para se cobrirem.<br />
Essa veste temporária foi logo reposta pelas vestimentas de pele<br />
providenciadas pelo próprio Deus (Gên. 3:20). À medida que as pessoas<br />
se tornaram mais e mais corruptas, procuraram repor a bela simplicidade<br />
de sua inocência com invenções de tecidos, modas e ornamentos de ouro,<br />
jóias e pérolas. Quanto mais depravado o povo se tornava, mais<br />
extravagantes suas vestimentas e ornamentação.<br />
A função inicial das roupas era proteger o corpo das mudanças de<br />
clima e dos desejos lascivos. Em breve, porém, as pessoas fizeram das<br />
vestimentas e ornamentos expressão de vaidade e sexo. A auto-estima se<br />
transformou em vaidade. O desejo de reconhecimento as levou a<br />
cobrirem-se com suntuosos trajes e ornamentos custosos. Assim,<br />
vestimentas e ornamentos em breve passaram a ser indicativos de<br />
declínio espiritual e apostasia.<br />
A Remoção dos Ornamentos em Betel<br />
A evolução acima referida ajuda-nos a entender por que, no Velho<br />
Testamento, Deus freqüentemente convocava Seu povo ao arrependimento<br />
e reforma, pedindo-lhes que removessem seus ornamentos. O primeiro
Qual a Roupa Certa? 26<br />
desses episódios é encontrado em Gênesis 35:1 a 4. Deus instruiu Jacó a<br />
mudar-se com sua família de Siquém para Betel, com o intuito de<br />
conduzi-los a uma reforma espiritual. Pediu-lhe que construísse um altar<br />
no mesmo lugar onde Ele lhe havia aparecido quando fugia de seu irmão<br />
Esaú.<br />
Jacó compreendeu que havia uma grande obra a ser feita antes que<br />
os membros de sua família pudessem estar prontos para se encontrarem<br />
com Deus em Betel. Em consideração a suas esposas, Jacó havia<br />
tolerado ídolos e jóias. Esses itens provavelmente incluíam os ídolos que<br />
Raquel havia roubado de seu pai (Gên. 31:19), bem como as jóias que os<br />
filhos de Jacó haviam capturado como parte do despojo de Siquém<br />
(Gên.34:27 a 29).<br />
Querendo levar os membros de sua família a uma purificação<br />
interna, moral e espiritual, Jacó os convocou a uma purificação externa:<br />
"Então disse Jacó a sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai<br />
os deuses estranhos que há no meio de vós e purificai-vos, e mudai os<br />
vossos vestidos. E levantemo-nos e subamos a Betel; e ali farei um altar<br />
ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo<br />
no caminho que tenho andado." (Gên. 35:2 e 3).<br />
É significativo notar que Jacó sentia que os membros de sua família<br />
precisavam de uma limpeza exterior do corpo e uma mudança de trajes,<br />
antes que pudessem alcançar a experiência da limpeza interna diante do<br />
altar que ele estava prestes a construir. Presume-se que a mudança de<br />
vestes queria dizer colocar roupas que fossem não apenas limpas, mas<br />
também apropriadas para esse encontro especial com Deus. Vimos<br />
anteriormente que a pesquisa demonstrou que nos tornamos aquilo que<br />
vestimos. Isto é verdade na vida espiritual bem como na profissional.<br />
Uma aparência externa renovada e limpa desafia-nos a tornar-nos novos<br />
e limpos internamente, através da purificação de nosso corpo e mente.<br />
Talvez seja essa a razão porque orientações semelhantes foram dadas<br />
mais tarde ao povo de Israel no monte Sinai, ao prepararem-se para<br />
encontrar-se com Deus. (Êxo. 19:10)
Qual a Roupa Certa? 27<br />
A reação da casa de Jacó foi louvável: "Então, deram a Jacó todos<br />
os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes<br />
pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está<br />
junto a Siquém" (Gên. 35:4). Notemos que eles entregaram a Jacó não<br />
apenas seus ídolos, mas também suas jóias ("os brincos que estavam em<br />
suas orelhas"). Reconheceram que também esses seriam uma barreira<br />
contra o serem aceitos por Deus.<br />
Ídolos e Jóias<br />
Alguns comentaristas acham que os brincos eram em si amuletos,<br />
pequenos ídolos usados como talismãs. Isso é totalmente possível, pois<br />
muitas das jóias estavam associadas à adoração de ídolos (Isa. 3:18-21).<br />
Com freqüência as pessoas usavam aquilo que adoravam. Em seu artigo<br />
sobre "Vestimentas e Ornamentos dos Hebreus", a Nova Enciclopédia<br />
Schaff-Herzog de Conhecimentos Religiosos explica: "Uma jóia era ao<br />
mesmo tempo um amuleto. De acordo com o antigo pensamento oriental,<br />
metais e pedras preciosas pertenciam a certos deuses do mundo mineral e<br />
possuíam, portanto, um poder mágico e místico. Além disso, qualquer<br />
adorno que desviasse a atenção de seu usuário para si ainda servia como<br />
uma proteção contra o mau-olhado. Por essa razão, todas as pessoas no<br />
Oriente usam abundância de jóias. Vestígios dessa superstição são<br />
encontrados no Velho Testamento. Em Isaías 3:20, um item dentre as<br />
jóias femininas é designado como um amuleto (comparar com Gênesis<br />
35:4); e é evidente que os ornamentos nos camelos dos midianitas eram<br />
talismãs. (Juizes 8:21)" (3)<br />
Isso ainda é verdade atualmente, em especial nos países católicos,<br />
onde as pessoas gostam de usar como pendentes aquilo que adoram:<br />
cruzes, corações (de Jesus ou de Maria), e até mesmo pequenas relíquias.<br />
O mesmo acontece em muitos cultos satânicos ou da Nova Era, cujos<br />
seguidores usam os objetos que adoram, ou seja, amuletos, talismãs, e
Qual a Roupa Certa? 28<br />
vários tipos de pendentes. Normalmente a função dessas jóias é afastar<br />
forças ou espíritos maus.<br />
Juízes 8:24 sugere que o uso de brincos se originou com os<br />
ismaelitas: "... por que tinham argolas de ouro, pois eram ismaelitas". A<br />
frase sugere que brincos eram uma marca registrada dos ismaelitas e não<br />
dos israelitas. Diríamos hoje em dia que eles eram a marca registrada dos<br />
mundanos e não dos cristãos. Os membros da casa de Jacó tinham<br />
adotado um estilo de vida pagão e idólatra, mas agora Jacó os estava<br />
trazendo perante Deus em Betel para fazer expiação pelos seus pecados.<br />
Era uma ocasião de contrição e arrependimento. Eles reconheciam que<br />
os deuses estranhos e as jóias tinham de ser removidas antes que as<br />
bênçãos de Deus pudessem vir sobre eles. Para se assegurar que os<br />
membros de sua família não seriam tentados a voltar à idolatria, Jacó<br />
sabiamente enterrou os ídolos e os brincos próximos ao carvalho de<br />
Siquém, deixando-os assim para trás e prosseguindo para Betel.<br />
Um Princípio Relevante<br />
Esta história contém um princípio de grande valor para os cristãos<br />
de hoje. Se quisermos experimentar uma limpeza interna de nosso<br />
passado pecaminoso e desejarmos ter uma experiência com Deus do tipo<br />
de Betel ("Casa de Deus"), precisamos remover todos os objetos<br />
habituais de idolatria, incluindo os ornamentos usados para a glória de<br />
nosso eu e não de Deus. Para nos certificarmos de que não seremos<br />
tentados a usá-las novamente, é melhor nos livrarmos delas<br />
permanentemente em lugar de guardá-las.<br />
Remoção dos Ornamentos no Monte Horebe<br />
Uma reforma semelhante envolvendo remoção de ornamentos é<br />
relatada em Êxodo 33:1-6. O contexto é a grande apostasia que ocorreu<br />
enquanto Moisés estava no monte recebendo os Dez Mandamentos.
Qual a Roupa Certa? 29<br />
Cansados de esperar por Moisés e ansiosos por ter um deus visível para<br />
guiá-los em lugar de Moisés, alguns israelitas trouxeram seus<br />
ornamentos de ouro para Aarão, que os empregou na confecção de um<br />
bezerro de fundição, imitando um dos deuses do Egito (Êxodo 32:2-4).<br />
Enquanto ainda estava na montanha, Moisés foi avisado por Deus sobre<br />
a apostasia no acampamento. Apressou-se a descer e encontrou o povo<br />
dançando e gritando ao redor de seu ídolo.<br />
Para mostrar desaprovação por sua rebelião, Moisés lançou ao chão<br />
as tábuas de pedra, quebrando-as à vista do povo, fazendo-os entender<br />
assim que eles haviam quebrado seu concerto com Deus. Em seguida, ele<br />
queimou o ídolo de ouro com o auxílio dos levitas, para punir aqueles<br />
que persistiram na rebelião (Êxodo 32:15-29). Então Moisés subiu<br />
novamente a montanha para suplicar a Deus que perdoasse o pecado do<br />
povo. Deus assegurou a Moisés que Ele era fiel à promessa de os trazer à<br />
terra de Canaã, feita a Abraão, Isaque e Jacó, mas que a sua presença não<br />
iria mais com eles. Provavelmente a razão para isso é que se eles se<br />
rebelassem novamente, Sua presença direta significar-lhes-ia completa<br />
destruição.<br />
Quando os israelitas souberam que Deus não mais os guiaria e<br />
protegeria com Sua presença, eles se arrependeram profundamente de<br />
sua transgressão, "e ninguém colocou seus ornamentos'." (Êxodo 34:4).<br />
Os homens provavelmente estavam com braceletes e enfeites de pulso e<br />
tornozelo usados pelos homens do Egito. Isso mostra que a tentação de<br />
usar ornamentos afeta tanto os homens como as mulheres.<br />
Em resposta ao aparente arrependimento de Israel, Deus ofereceuse<br />
para reconsiderar Sua ameaça, mas pediu que os israelitas Lhe dessem<br />
uma prova da intensidade de seu arrependimento, removendo<br />
permanentemente seus ornamentos: "Porquanto o Senhor tinha dito a<br />
Moisés: Dize aos filhos de Israel: Povo obstinado és; se por um<br />
momento subir no meio de ti, te consumirei; porém agora tira de ti os<br />
teus atavios, pala que eu saiba o que te hei de fazer" (Êxodo 33:5).
Qual a Roupa Certa? 30<br />
A história sugere que os israelitas penitentes reconheceram que os<br />
ornamentos eram um sério obstáculo à sua reconciliação com Deus.<br />
Assim decidiram "livrar-se de seus ornamentos a partir do monte<br />
Horebe". Isso implica que os israelitas sinceros fizeram um compromisso<br />
de eliminar os ornamentos, para mostrar seu sincero desejo de obedecer<br />
a Deus. Essa experiência assemelha-se à dos membros da família de Jacó<br />
em Siquém. Nos dois episódios, a remoção dos ornamentos fez parte dos<br />
preparativos para a renovação do concerto com Deus.<br />
Importância Para os Nossos Dias<br />
O que podemos aprender dessa experiência? Referindo-se<br />
especificamente à experiência dos israelitas no deserto, Paulo nos lembra<br />
que "essas coisas aconteceram com eles como um aviso, porque a<br />
Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido" (I Cor.<br />
10:11). Como os israelitas do passado, nós também estamos marchando<br />
para a terra prometida. A ordem que Deus deu aos israelitas para<br />
removerem seus ornamentos antes de entrar na terra de Canaã, também<br />
se aplica a nós que estamos jornadeando para a Canaã Celeste. Se o uso<br />
de ornamentos contribuiu para que os israelitas se rebelassem contra<br />
Deus e sua remoção possibilitou a reconciliação com Ele, não seria o<br />
mesmo verdadeiro para nós hoje?<br />
Alguns leitores podem inquirir: Por que os ornamentos eram<br />
tamanha pedra de tropeço na vida espiritual dos israelitas? e por que o<br />
uso de jóias é tão prejudicial à nossa vida espiritual atualmente? Parte da<br />
resposta é que nós usamos aquilo que adoramos, e adoramos aquilo<br />
que usamos. Usamos aquilo que adoramos no sentido de que usamos o<br />
que melhor revela nossos ídolos: beleza, riqueza, status social, ou nível<br />
de sofisticação. Adoramos aquilo que usamos no sentido de veneramos<br />
as roupas, ornamentos e bugigangas que melhor alimentam nossas<br />
ambições (ídolos).
Qual a Roupa Certa? 31<br />
Você já ouviu alguém dizer "Eu adoro este vestido ou este colar!<br />
Ele contribui muito para a minha aparência ou personalidade!"<br />
Comentários como esses revelam que a principal preocupação de tais<br />
pessoas não é a adoração de Deus, mas o culto de sua própria<br />
personalidade. Isso é idolatria.. Na mesma proporção em que roupas,<br />
ornamentos, carros, casas, alvos profissionais e riqueza se tornam<br />
prioridades (os ídolos) de nossa vida, Deus é afastado de nossa<br />
existência e consciência, Essa é a razão fundamental por que os<br />
ornamentos exteriores são uma pedra de tropeço à nossa vida espiritual.<br />
A Arrogância das Filhas de Sião<br />
Outro exemplo esclarecedor de como roupas e ornamentos<br />
extravagantes incentivam o orgulho e a autoglorificação, ao invés da<br />
adoração de Deus, é encontrada em Isaías 3:16-26. Essa passagem é da<br />
mais alta significância, porque contém não apenas as descrições mais<br />
detalhadas dos vários itens das jóias e roupas finas usadas pelas mulheres<br />
abastadas de Jerusalém, mas também porque faz a mais terrível denúncia<br />
do orgulho e da altivez demonstrados através do uso desses artigos.<br />
O contexto da passagem é o anúncio do julgamento de Deus sobre<br />
Seu povo, e que ocasionará sua total humilhação e destruição. A causa<br />
do julgamento divino é que o povo abandonou a Deus. "Porque Jerusalém<br />
está arruinada e Judá, caída; porquanto sua língua e as suas obras são contra<br />
o Senhor, para desafiarem a sua gloriosa presença." (Isaías 3:8)<br />
Isaías taxativamente coloca a culpa da apostasia do povo em seus<br />
líderes e nas mulheres ricas dentre eles. Com respeito aos líderes, o<br />
profeta disse: "Porque o Dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o<br />
soberbo e altivo e contra todo aquele que se exalta para que seja abatido;<br />
contra todos os montes altos e contra todos os outeiros elevados." (Isaías<br />
3:12 e 14) Ao invés de serem os guardadores da vinha, ou seja, da nação<br />
de Israel (Isaías 5:7; 1:8; 2:1,3), os líderes civis e religiosos devoravam o<br />
povo enriquecendo-se às custas dos pobres.
Qual a Roupa Certa? 32<br />
Isaías continua sua severa reprovação focalizando agora não mais a<br />
influência negativa dos líderes, mas a das mulheres da classe alta, que<br />
possivelmente fossem as esposas e filhas dos próprios líderes.<br />
Aparentemente a razão para isso era, como realça Joseph Jensen, que "à<br />
semelhança de Amós, Isaías parece considerar as mulheres algumas<br />
vezes responsáveis pela opressão praticada por seus maridos". (4) Isso<br />
também é insinuado pela frase "as mulheres os governam" (Isaías 3:12).<br />
Carl Nagelsbach observa que o profeta condena "o exagero<br />
prevalecente da dissolução feminina, por ser não apenas pecaminoso em<br />
si, mas também a principal causa da violência e confusão social<br />
previamente mencionada, e portanto, merecedora da punição a sobrevir:<br />
doença, viuvez e exposição vergonhosa". (5)<br />
Isaías inicialmente descreve como as filhas de Sião exibem seu<br />
orgulho: "Visto que são altivas as filhas de Sião e andam de pescoço<br />
emproado, de olhares impudentes, andam a passos curtos, fazendo tinir<br />
os ornamentos de seus pés, o Senhor fará tinhosa a cabeça, das filhas de<br />
Sião, o Senhor porá a descoberto as suas vergonhas." (Isaías 3:16, 17). O<br />
orgulho interior das mulheres de Sião é demonstrado externamente pelo<br />
modo de caminhar, com as "cabeças empinadas" (6) para serem<br />
admiradas e com olhos maliciosos e andar afetado; com olhadelas que<br />
fingiam inocência, procurando atrair a atenção para si mesmas pelo<br />
tilintar de pequenos sinos presos aos seus calcanhares.<br />
A Remoção dos Símbolos do Orgulho<br />
Tal orgulho atrai a punição do Senhor, a qual poderia ser evitada<br />
pela humilhação das mulheres de Sião, através da remoção de todos os<br />
símbolos de seu orgulho e submissão a um tratamento severo: "Naquele<br />
dia o Senhor tirará o enfeite dos anéis dos artelhos, e as toucas e os<br />
ornamentos em forma de meia lua; os pendentes e os braceletes e os véus<br />
esvoaçantes; os turbantes e as cadeiazinhas para os passos, as cintas, as<br />
caixinhas de perfumes e os amuletos, os sinetes e as jóias pendentes no
Qual a Roupa Certa? 33<br />
nariz; os vestidos de festa, os mantos, os xales e as bolsas; os espelhos,<br />
as camisas finíssimas, os atavios de cabeça e os véus grandes. Será que<br />
em lugar de perfume haverá podridão, e por cinta, corda; em lugar de<br />
encrespadura de cabelos, calvície, e em lugar de veste suntuosa, silício, e<br />
marca de fogo em lugar de formosura. Os teus homens cairão à espada e<br />
os teus valentes na guerra. As tuas portas chorarão e estarão de luto;<br />
Sião, desolada, se assentará em terra" (Isaías 3:18-26).<br />
Nessas passagens encontramos a lista mais abrangente dos<br />
ornamentos e roupagem fina femininos, encontrados em toda a Bíblia.<br />
Esse fato é surpreendente, pois como destaca Franz Delitzsch, não é<br />
costume de Isaías "entrar em particularidades tão detalhadas". (7) Até<br />
mesmo Ezequiel, que tende a fornecer detalhes da ornamentação<br />
feminina (Ezequiel 16:8-14), não apresenta algo que se compare com<br />
essa descrição detalhada de Isaías. A explicação para esse fato encontrase<br />
na preocupação de Isaías em expor "o amor pelos ornamentos, que era<br />
prevalecente no tempo de Uzias e Jotão" (8), bem como as trágicas<br />
conseqüências que viriam: humilhação, sofrimento, e destruição (9).<br />
Devemos notar que a passagem inclui artigos válidos de vestuário<br />
tais como "mantas, capas, bolsas, lenços, trajes de linho". Isaías engloba<br />
esses artigos com os ornamentos pagãos usados pelas mulheres ricas da<br />
Judéia, porque todos eles serviam para exibir o seu orgulho. Seu objetivo<br />
era mostrar como o orgulho das mulheres de Jerusalém, manifestado<br />
através de seus trajes e ornamentos externos, provocaram o julgamento<br />
de Deus e fizeram com que a destruição se tornasse necessária.<br />
Importância Para os Nossos Dias<br />
Essa passagem nos ensina pelo menos três lições importantes:<br />
primeira – roupas e ornamentos suntuosos revelam orgulho interior e<br />
desejo de exaltação própria, que podem causar idolatria, adultério e<br />
apostasia. Existe íntima relação entre vestimentas e comportamento. A<br />
falta de modéstia gera impureza. A aparência sedutora das filhas de Sião
Qual a Roupa Certa? 34<br />
desencaminhou os líderes e eventualmente levou a nação à<br />
desobediência e ao castigo de Deus. Assim, uma razão importante para<br />
que evitemos ouso de ornamentos não é apenas o gasto que representam,<br />
mas especialmente sua influência negativa sobre os outros.<br />
Segunda; Deus abominou o orgulho manifestado pelo uso de<br />
ornamentos. "Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e<br />
limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de<br />
justiça e com o Espírito purificador" (Isaías 4:4). As mulheres abastadas<br />
de Jerusalém adornavam-se dos pés à cabeça com ornamentos,<br />
procurando ficar bem bonitas externamente, mas Deus viu seu orgulho<br />
interior. Obviamente, a beleza que tem valor à vista de Deus, não é<br />
aquela obtida externamente com ornamentos de ouro e vestimentas finas,<br />
mas aquela alcançada internamente "com as jóias imperecíveis de um<br />
espírito manso e quieto" (I Pedro 3:4).<br />
Literal ou Alegórico<br />
Alguns rejeitam nossas conclusões dizendo que a passagem é uma<br />
alegoria. Madelynn Jones-Haldeman, por exemplo, argumenta que a<br />
remoção dos ornamentos femininos representa não uma condenação dos<br />
ornamentos propriamente ditos ("nenhum dos ornamentos é mencionado<br />
como sendo retirado") mas a rejeição de Deus por Judá como Seu povo:<br />
"Na realidade, a remoção dos adornos femininos indica o desagrado de<br />
Deus e Sua rejeição de Judá como Seu povo. Judá é uma mulher triste,<br />
sem adornos, descasada, sem esposo" (10)<br />
Essa interpretação deixa de reconhecer que a passagem não é uma<br />
representação alegórica de como Deus rejeitou a Judá, mas uma<br />
descrição literal do que causou essa rejeição, ou seja, a influência<br />
negativa de seus líderes e das mulheres abastadas da nação. Essas são<br />
incriminadas pelo seu orgulho e altivez manifestado através de seu<br />
desenfreado amor pelos ornamentos. Elas os usavam para seduzir os<br />
homens, e assim conduziram o povo à apostasia. Em vista disso, Deus
Qual a Roupa Certa? 35<br />
manifestou sua condenação retirando das mulheres todos os seus<br />
ornamentos. Evidentemente Deus considerou os ornamentas como parte<br />
do problema e consequentemente excluiu-os. As atitudes de Deus<br />
dificilmente podem ser interpretadas como sendo um endosso ao uso de<br />
ornamentos.<br />
Julgamento e Ornamentos<br />
O contexto do julgamento nas duas passagens bíblicas que<br />
acabamos de analisar (Êxo. 33:4-6; Isaías 3:16-26) fez com que Richard<br />
M. Davidson sugerisse que "não é que o uso de jóias seja errado" (11).<br />
Ao invés disso, o que está errado é o uso de ornamentos em uma época<br />
de arrependimento e julgamento associados. "Tem-se a impressão de que<br />
em épocas de juízo investigativo e/ou executivo associados, Deus<br />
normalmente pede a Seu povo que remova seus ornamentos como um<br />
símbolo exterior num contexto de julgamento especial" (12).<br />
Com referência ao uso de ornamentos, Davidson encontrou dois<br />
princípios na Bíblia. Por um lado, "as jóias no Israel antigo, quando<br />
mencionadas favoravelmente, são quase sempre relacionadas com a<br />
ornamentação de noivas" (12). No entanto, Deus normalmente solicita ao<br />
Seu povo que remova seus ornamentos em épocas de arrependimento e<br />
julgamento associados.<br />
Ao unir estes dois princípios, Davidson chega a uma interpretação<br />
muito criativa. "É possível que desde 1884 os adventistas do sétimo dia<br />
estejam gozando do privilégio de abster-se do uso de jóias como um<br />
sinal externo especial da verdade ímpar de que são Laodicéia, 'o povo do<br />
Juízo'; de que estão vivendo no tempo do juízo investigativo? É possível<br />
que os adventistas também adotem essa postura porque, embora a igreja<br />
esteja espiritualmente desposada com Cristo (Efésios 5; II Cor. 11:2), o<br />
casamento ainda não foi consumado (Apoc. 19:7, 8)? Para aqueles que<br />
compreendem a profundidade dos pontos em questão, o uso dos<br />
ornamentos de uma noiva antes do casamento é a postura de Babilônia, a
Qual a Roupa Certa? 36<br />
prostituta (Apoc. 17:4, 5), e não da igreja verdadeira (Apoc. 12:1). Não é<br />
que seja errado usar jóias mas nós temos o privilégio de esperar para<br />
fazê-lo até a festa de casamento quando o próprio Jesus vai ornamentar<br />
Sua noiva com jóias". (13)<br />
Essa interpretação é criativa, para não dizermos mais. Ela<br />
representa uma tentativa sincera e louvável de reconciliar aquelas<br />
passagens alegóricas que falam favoravelmente com respeito às jóias,<br />
com aquelas que condenam o seu uso. Mas, ao analisarmos<br />
profundamente tal interpretação, descobrimos que ela se baseia em<br />
várias premissas errôneas.<br />
Primeiro, a igreja verdadeira representada em Apocalipse por uma<br />
noiva, prepara-se para o "casamento do Cordeiro" adornando-se não com<br />
ouro, jóias e pérolas, mas "com linho fino, brilhante e puro" (Apoc.19:8).<br />
Não apenas a noiva, mas a multidão dos remidos, que está de pé perante<br />
o trono de Deus, ornamenta-se não com enfeites de ouro ou prata, mas<br />
com "vestes brancas" (Apoc. 7:9). A visão profética que João teve da<br />
noiva da igreja) e dos remidos vestidos de linho branco, sem adornos<br />
exteriores, sugere que os ornamentos não são parte dos atavios dos filhos<br />
de Deus, seja no mundo atual, seja no mundo vindouro. Notamos que, na<br />
Criação e na restauração final, Deus reveste Seus filhos não com jóias,<br />
mas com uma veste de luz que emana do próprio Deus.<br />
Segundo, se Deus pede a Seu povo para remover seus ornamentos<br />
em épocas de arrependimento e juízo associados, é difícil crer que ele<br />
aprovaria o uso desses itens em outras ocasiões. Se os ornamentos<br />
exteriores são pedras de tropeço para o verdadeiro arrependimento e<br />
reconciliação com Deus, em épocas onde Deus convoca o Seu povo para<br />
o arrependimento, então eles também devem ser empecilhos para nossa<br />
vida espiritual em todas as ocasiões.
Qual a Roupa Certa? 37<br />
Descritivo Ao Invés de Prescritivo<br />
Terceiro, um cuidadoso estudo dessas passagens que falam<br />
favoravelmente ao uso de ornamentos, vai revelar que tais passagens são<br />
descritivas do conceito cultural de beleza prevalecente na época, e não<br />
prescritivo de como Deus deseja que Seus filhos se embelezem através<br />
do uso de ornamentos. Se deixarmos de realçar essa distinção, podemos<br />
ser levados a fazer deduções fantasiosas. Walter Kaiser, um renomado<br />
especialista em assuntos do Velho Testamento, com muita propriedade<br />
realçou que "informar ou narrar um evento nas Escrituras Sagradas não é<br />
sinônimo de aprovação, recomendação ou de tornar aquela ação ou<br />
característica digna de imitação para todos os leitores subsequentes".<br />
(14) Uma passagem descritiva ou alegórica deve ser interpretada à luz<br />
dos ensinos bíblicos explícitos e não vice-versa.<br />
Esse princípio deve ser conservado em mente ao interpretarmos<br />
passagens tais como Ezequiel 28:13. Essa é uma passagem descritiva e<br />
alegórica, mas que freqüentemente é usada para sancionar o uso de jóias:<br />
"Estavas no Éden, Jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a &1a<br />
cobertura: a sardônica, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe,<br />
a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro; a obra dos teus tambores e<br />
dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado foram<br />
preparados." (Ezequias 28:13). O raciocínio usado para tal aprovação e<br />
que como a passagem fala da maneira como Deus criou e cobriu Lúcifer<br />
com todo tipo de pedras preciosas, então Deus deve aprovar o uso de<br />
pedras preciosas para o ser humano também.<br />
Tal interpretação não consegue justificar o uso da linguagem tão<br />
altamente simbólica na passagem. A descrição ocorre no contexto da<br />
lamentação de Ezequiel pelo orgulho e arrogância do rei de Tiro, o qual<br />
Deus permitiu que chegasse a um fim temerário ("todos que te conhecem<br />
entre os povos estão espantados de ti". Ezequiel 11:19). Através da<br />
perspectiva profética, isto é, a capacidade que tem os profetas de fundir o<br />
presente com o passado ou com o futuro, Ezequiel descobre a beleza, o
Qual a Roupa Certa? 38<br />
orgulho e a destruição do rei de Tiro fazendo alusão à beleza, orgulho e<br />
destruição futura de Lúcifer, que na verdade é o instigador de todo<br />
orgulho pecaminoso.<br />
A imagem apresentada de alguém adornado com pedras preciosas é<br />
usada para transmitir a beleza de Lúcifer antes de sua rebelião e<br />
expulsão, e através da correspondência tipológica, também a beleza do<br />
rei de Tiro antes de sua queda. Sabemos que os reis usavam pedras<br />
preciosas para enfeitar não somente as suas vestes, mas até mesmo as<br />
paredes de seus palácios. A aplicação dupla é evidenciada por frases tais<br />
como "na abundância do teu comércio te encheste de violência e<br />
pecaste" (Ezequiel 28:16). Essa é uma óbvia referência ao comércio<br />
desonesto de Tiro. Não existem indicações na Bíblia de que Lúcifer<br />
tenha caído devido a práticas comerciais desonestas no Céu.<br />
Um Símbolo de Beleza<br />
Do mesmo modo, as imagens descrevendo a roupagem feita com<br />
pedras preciosas dificilmente poderá ser interpretada literalmente, como<br />
se referindo a uma real vestimenta ricamente incrustada com jóias que<br />
Deus tenha preparado para cobrir Lúcifer. Em primeiro lugar, para que<br />
Lúcifer necessitaria de tal vestimenta? Fazia frio no Céu? Em nenhum<br />
lugar na Bíblia sugere que os anjos usavam roupas ou jóias. Se isso fosse<br />
verdade, como é colocado pelo título do livreto, de que Deus aceita as<br />
jóias e as usa para embelezar Suas criaturas (15), por que então Ele não<br />
adornou os corpos de Adão e Eva com jóias?<br />
Verificamos que a cobertura do primeiro par na Criação e dos<br />
remidos na restauração final é uma veste de luz, emanando do próprio<br />
Deus. As roupas foram introduzidas para cobrir a nudez conseqüente do<br />
pecado (Gen. 3:9, 21), mas não havia necessidade de cobrir a nudez de<br />
Lúcifer no dia em que ele foi criado (Ezequiel 28:13). Se não havia<br />
necessidade de roupas para o santo par antes de terem pecado, porque<br />
Lúcifer precisaria delas? Além disso, porque Deus usaria pedras
Qual a Roupa Certa? 39<br />
preciosas de minerais da terra, (presumivelmente antes da criação da<br />
Terra com todos os seus minerais) para adornar a vestimenta destinada<br />
para um ser espiritual e celeste?<br />
À luz de tais considerações, é evidente que a descrição da cobertura<br />
de Lúcifer com pedras preciosas é usada para transmitir a sua beleza<br />
original, bem como a de seu correlato, o rei de Tiro. Em ambos os casos,<br />
a beleza levou-os ao orgulho e à queda. O uso de cenas com pedras<br />
preciosas não torna legítimo e apropriado o seu uso como ornamentos,<br />
mas simplesmente expressa a noção de beleza em uma linguagem que as<br />
pessoas compreendiam. Pedras preciosas são belas. Deus as criou para<br />
embelezarem este mundo, mas eu não encontro na Bíblia indicação de<br />
que Deus as tenha usado para embelezar corpos humanos.<br />
A idéia de embelezar um ser criado com jóias, pressupõe um<br />
reconhecimento de que aquele ser necessitava de uma melhoria, de um<br />
ajuste para completar algumas deficiências existentes. Mas a criação<br />
original de Deus, tanto do ser humano como dos seres celestes, foi<br />
perfeita em funcionalidade, em desenho e beleza. Não havia necessidade<br />
de "maquiagem" com cosméticos ou de ornamentos para cobrir possíveis<br />
defeitos ou melhorar a aparência exterior de Suas criaturas.<br />
A Cidade Santa Adornada como Uma Noiva<br />
Uma passagem alegórica semelhante, freqüentemente citada para<br />
apoiar a validade de usar ornamentos, é Apoc. 21:2. Nesta passagem,<br />
João viu "A cidade santa, a Nova Jerusalém, descendo do céu da parte de<br />
Deus, preparada como uma noiva adornada para seu esposo". A cidade<br />
é descrita como "a cidade santa, a Nova Jerusalém que descia do céu, da<br />
parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. A qual<br />
tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra<br />
preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. Tinha grande e alta<br />
muralha, doze portas, e junto às portas doze anjos, e sobre elas nomes<br />
inscritos, que são os nomes das doze tribos de Israel. Mediu também a
Qual a Roupa Certa? 40<br />
sua muralha, cento e quarenta e quatro côvados, medida de homem, isto<br />
é, de anjo. A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro<br />
puro, semelhante a vidro límpido". (Apoc. 21:2, 11, 12, 17, 18).<br />
Nessa passagem alegórica, a Nova Jerusalém é comparada a "uma<br />
noiva adornada para seu esposo". Essa comparação não tem a validade<br />
de uma declaração que permita ouso de ornamentos, mas simplesmente<br />
para ajudar as pessoas a compreenderem a beleza da Nova Terra através<br />
da analogia de uma noiva ataviada. Deus usa coisas conhecidas para<br />
comunicar lampejos das desconhecidas.<br />
O mesmo é verdadeiro sobre a descrição da parede da cidade, que<br />
media 144 cúbitos de largura, "12 mil estádios", cerca de 2.400 km<br />
(Apoc. 21:16) de altura. A sua altura é aparentemente a mesma do<br />
comprimento e da largura da cidade, porque o verso diz que "O seu<br />
comprimento, sua largura e sua altura são iguais" (Apoc. 21:16). O<br />
propósito dessa descrição não é ensinar-nos a proteger-nos<br />
eficientemente construindo paredes bem altas, mas sim assegurar-nos<br />
que a Nova Terra será um lugar de perfeita segurança. Deus usou a<br />
descrição visual de uma cidade com uma parede incrivelmente alta<br />
porque esta seria a maneira mais eficaz de comunicar às pessoas da<br />
época em que o Novo Testamento foi escrito, quão perfeita será a<br />
segurança que reinará no mundo porvir. Ao interpretarmos uma<br />
descrição visual alegórica, devemos focalizar o princípio que está sendo<br />
comunicado, em lugar de focalizar os detalhes da alegoria.<br />
O Peitoral do Sumo Sacerdote<br />
Em uma carta pessoal, um respeitável irmão de fé, líder de igreja e<br />
amigo, que graciosamente tomou tempo para avaliar o primeiro rascunho<br />
deste livro, argumentou amplamente que o éfode e o peitoral do sumo<br />
sacerdote são para ele evidências fortes de que Deus aprova o uso de<br />
ouro e jóias como ornamentos, quando apropriadamente usados. Afinal<br />
de contas, foi o próprio Deus que deu a Moisés o modelo para a
Qual a Roupa Certa? 41<br />
confecção desses dois santíssimos artigos da vestimenta sacerdotal. É<br />
necessário que façamos uma breve consideração sobre esse argumento.<br />
pois talvez outros cristãos pensem da mesma forma.<br />
O éfode era um tipo de colete feito de duas partes, uma para cobrir<br />
o peito e outra para cobrir as costas. As duas partes eram unidas por<br />
"ombreiras" (Êxodo 28:23). A função primária do éfode era segurar o<br />
peitoral que era ligado a ele através de quatro argolas (Êxodo 28:23). O<br />
peitoral era uma peça decorada com ouro, azul, púrpura, carmesim e<br />
linho fino dobrado duplamente, formando um quadrado de cerca de<br />
(10x10 polegadas). Na frente havia quatro fileiras de três pedras<br />
preciosas cada uma. Em cada pedra estava escrito o nome de uma das<br />
doze tribos de Israel (Êxodo. 28:29). Era realmente a peça central da<br />
vestimenta do sumo sacerdote.<br />
Será que o fato de ter Deus instruído Moisés a construir um peitoral<br />
tão elaborado, com doze pedras preciosas, sugere que Ele aprove o uso<br />
de jóias para todo o Seu povo? Olhando o assunto de uma outra forma,<br />
se o sumo sacerdote, que servia como modelo de comportamento para o<br />
povo, podia ser enfeitado com jóias ao ministrar no santuário perante<br />
Deus, quer isso dizer que os adoradores leigos podem também usar jóias,<br />
contanto que eles o façam com reverência e humildade?<br />
Minha resposta é NÃO! Esse argumento passa por alto a função<br />
altamente simbólica do éfode e do peitoral. Esses artigos não eram<br />
vestimentas comuns usadas pelos sacerdotes ou mesmo pelo sumo<br />
sacerdote na vida cotidiana. Somente o sumo sacerdote podia usá-las, e<br />
apenas quando entrava no interior do santuário. O sacerdote comum,<br />
enquanto ministrava no santuário usava um uniforme simples de linho<br />
branco (Êxodo 28:40-42). De acordo com o Comentário Bíblico<br />
Adventista, "é significativo que as vestimentas simples do sacerdote<br />
comum, uma túnica de linho branco, foi escolhida para 'glória e beleza',<br />
assim como o foi a do sumo sacerdote (Êxodo 28:2, 40). A cor branca é<br />
usada nas Escrituras para simbolizar pureza (Apoc. 4:4; 7:9, 14; 19:8)". (16)
Qual a Roupa Certa? 42<br />
Em outras palavras, a beleza do traje sacerdotal era a simplicidade de sua<br />
túnica de linho branco.<br />
A função das doze pedras preciosas não era embelezar o sumo<br />
sacerdote, mas revelar o interesse de Deus em cada uma das doze tribos<br />
de Israel. Como explica o mesmo comentário: "Cada pedra deveria ter<br />
escrito em si o nome de uma das doze tribos. Esses nomes gravados nas<br />
doze jóias, apropriadamente ilustram o valor que homens e mulheres têm<br />
à vista de nosso Pai Celeste. Deus considera Seu povo como gemas<br />
preciosas na caixa de jóias do Seu amor (Malaquias 3:17). Ele considera<br />
Sua igreja como uma noiva 'adornada com suas jóias' (Isaías 61:10). Ela<br />
é seu 'tesouro peculiar' (Êxodo 19:5)". (17)<br />
Em Apocalipse há uma outra ocasião onde uma ilustração<br />
semelhante é usada: as doze portas e os doze fundamentos são também<br />
feitos de pedras preciosas. Neles também estão escritos os nomes das<br />
doze tribos e os nomes dos doze apóstolos (Apoc. 21:12-14). O fato de<br />
que cada tribo e cada apóstolo tem seu nome inscrito em uma gema<br />
própria, não quer dizer que cada crente tem o direito de usar jóias;<br />
Significa porém que 'cada cristão tem sua própria personalidade, sua<br />
própria beleza aos olhos dos Céus... cada nome escrito em uma jóia<br />
separada também sugere que Deus olha para Seu povo como indivíduos<br />
distintos conhecidos, amados e protegidos por Ele (Salmos 87:5, 6;<br />
Isaías 57:15; Mateus 25:40; Lucas 15:3-10).(18) Esse é o significado das<br />
jóias do peitoral e da fundação e dos portais da Cidade Santa. Tentar<br />
extrair dessas passagens uma justificação para o uso de jóias é forçá-las a<br />
dizer o que Deus não planejou que dissessem.<br />
A Noiva Adornada Por Deus<br />
Uma outra passagem alegórica utilizada para apoiar a suposta<br />
aprovação de Deus ao uso de ornamentos exteriores, é encontrada em<br />
Ezequiel 16. Nessa passagem, o profeta usa a alegoria de uma criança<br />
enjeitada para ilustrar como Deus lida com Seu povo. Um bebê do sexo
Qual a Roupa Certa? 43<br />
feminino foi abandonado em um campo aberto no dia em que nasceu. O<br />
Senhor passou por ali e disse à criança moribunda, ainda envolta em<br />
sangue, "Viva e cresça como uma planta do campo" (v. 6, 7).<br />
Mais tarde, quando a menina se transformou em uma jovem, o Senhor<br />
a pediu em casamento, e ela se tornou Sua noiva. Para demonstrar Seu<br />
amor, Deus lavou o sangue dela, vestiu-a com Seu "tecido bordado", e a<br />
adornou com braceletes, com correntinha no pescoço, um anel em seu<br />
nariz, brincos e uma linda coroa em sua cabeça (versos 8 a 16).<br />
Infelizmente, à medida que a jovem se tornou "extremamente bela"<br />
ela veio a confiar em sua beleza e usou todo o ouro e prata que havia<br />
recebido de Deus na confecção de ídolos e na indução de homens para<br />
praticarem sexo com ela (v. 15-34). Finalmente, Deus julgou a infiel<br />
esposa e entregou-a nas mãos de seus amantes, que arrancaram dela suas<br />
roupas e suas jóias e a cortaram em pedaços (Ezequiel 16:39 e 40).<br />
Novamente poderia essa alegoria ser corretamente empregada para<br />
sancionar o uso de ornamentos porque ela retrata Deus abundantemente<br />
enfeitando sua serva? A resposta é não. Por quê? Basicamente porque o<br />
episódio, à semelhança do anterior, é uma alegoria altamente<br />
significativa emprestada de uma cultura antiga envolvendo abandono,<br />
beleza, infidelidade e castigo da mesma maneira que o apóstolo João, o<br />
Revelador, descreve a Nova Jerusalém, como "Uma noiva ataviada para<br />
o seu esposo", assim Ezequiel descreve Israel como uma jovem<br />
abandonada e adotada por Deus como Sua noiva. Nos dois episódios, os<br />
profetas utilizaram um consenso popular contemporâneo sobre beleza –<br />
uma noiva ataviada – para ilustrar a atuação da graça de Deus para com<br />
Seu povo. As referências aos enfeites das noivas foram usadas não para<br />
ensinar a validade do uso de ornamentos, mas para ilustrar a beleza do<br />
amor redentor de Deus.<br />
Uma situação semelhante aparece na parábola do homem rico e de<br />
Lázaro, que era baseada no conceito popular errôneo de que ao<br />
morrerem, os salvos iam para o seio de Abraão e os perdidos para o fogo<br />
eterno do inferno (Lucas 16:19-31). Nessa parábola Jesus utilizou esse
Qual a Roupa Certa? 44<br />
conceito popular, não para ensinar algo sobre a vida dos salvos e<br />
perdidos após a morte, mas para enfatizar a importância de usar as<br />
oportunidades que Deus nos dá na vida presente para determinar nosso<br />
destino futuro.<br />
Ao interpretarmos parábolas ou pregações alegóricas, é importante<br />
lembrar duas coisas. Primeiro, precisamos procurar a verdade<br />
fundamental, lembrando que os detalhes freqüentemente funcionam<br />
como "impulsores" para a história. No caso de Ezequiel 16, o ensino<br />
fundamental é que Israel desonrou as bênçãos (ornamentos) que Deus<br />
lhe deu e consequentemente provocou seus juízos sobre si. Segunda,<br />
detalhes de parábolas ou alegorias não devem ser usados para formular<br />
doutrinas. Somente o ensino fundamental delas, confirmado pelo<br />
princípio geral das Escrituras, deve ser considerado como base doutrinária.<br />
Revelarão Progressiva<br />
Outro princípio importante para ser lembrado é o da natureza<br />
progressiva das revelações de Deus. Mesmo que algumas passagens<br />
alegóricas do Velho Testamento pareçam falar favoravelmente ao uso de<br />
jóias, não quer dizer necessariamente que Deus aprove tal prática.<br />
Precisamos lembrar que nem tudo o que era permitido no Velho<br />
Testamento refletia o ideal de Deus para o Seu povo.<br />
Exemplos típicos são a poligamia e o divórcio, que eram permitidos<br />
nos tempos do Velho Testamento devido à insubordinação e à teimosia<br />
dos israelitas. Não verificamos condenação explícita de tais práticas no<br />
Velho Testamento. Mas ao chegarmos ao Novo Testamento, onde Cristo<br />
nos revela mais amplamente o plano de Deus para nossa vida,<br />
encontramos explícita condenação para o divórcio e a poligamia como<br />
indo contra o ideal de Deus para Seu povo. Veremos que o mesmo<br />
princípio de revelação progressiva é aplicado ao uso de ornamentos –<br />
uma prática condenada implicitamente no Velho Testamento (Gênesis
Qual a Roupa Certa? 45<br />
35:1-4; Êxodo 33:1-6; Isaías 3:16-21) e explicitamente no Novo<br />
Testamento (I Tim. 2:9, 10; I Pedro 3:3, 4).<br />
"Pintada Como Jezabel"<br />
Várias passagens no Velho Testamento falam sobre o uso de<br />
cosméticos, especialmente a pintura dos olhos. Tais cosméticos eram<br />
normalmente usados para atrair amantes ilícitos. Talvez o episódio mais<br />
conhecido referente ao uso de cosméticos coloridos, seja o de II Reis<br />
9:30, onde nos é dito o que Jezabel fez no último momento de sua vida:<br />
"E Jeú veio a Jizreel, o que ouvindo Jezabel, se pintou em volta dos<br />
olhos, e enfeitou a sua cabeça, e olhou pela janela." (II Reis 9:30). Desse<br />
texto nasceu a expressão "pintada como Jezabel".<br />
O contexto da passagem é a chegada do rei Jeú em Jizreel, depois<br />
de ter matado o filho de Jezabel, Jorão, rei de Israel, e o neto dela,<br />
Acazias, rei de Judá. Jezabel já ouvira as notícias, e ela sabia que seria a<br />
próxima. Em atitude de desafio, ela se preparou para sua hora final<br />
pintando os olhos e adornando sua cabeça. Ela usou todos os seus<br />
enfeites porque desejava parecer mais sedutora. Então tomou sua posição<br />
na janela, provavelmente sobranceira ao pátio interior do palácio, e<br />
esperou Jeú entrar. Mas Jeú não foi enganado. Quando penetrou no pátio<br />
e viu Jezabel na janela saudando-o altivamente, falou aos seus eunucos<br />
para a lançarem abaixo, o que eles fizeram. (II Reis 9:33) Que morte<br />
vergonhosa!<br />
O adorno exterior de Jezabel não era de nenhuma utilidade diante<br />
de Jeú ou de do tribunal de Deus. "Pó e pintura não cobrem a íntima<br />
corrupção do coração, nem seda ou cetim escondem horrorosas máculas<br />
da alma. Jezabel era corrupta interiormente, a despeito de seus esforços<br />
de embelezamento exterior. Deus olha para o coração e pede adornos<br />
interiores em lugar dos exteriores. (I Ped. 3:3) (19)" A sedutora aparência<br />
final de Jezabel, obtida com cosméticos e jóias, era coerente com os<br />
determinados esforços de toda a sua vida, para atrair os israelitas à
Qual a Roupa Certa? 46<br />
idolatria. Por essa razão seu nome tornou-se um símbolo de sedução na<br />
história bíblica. (Apoc. 2:20)<br />
A Alegoria das Duas Mulheres<br />
Outra passagem do Velho Testamento que fala do uso de<br />
cosméticos, é a alegoria das duas mulheres relatada em Ezequiel 23. O<br />
nome de uma delas é Oolá, que representa Samaria, e da outra é Oolibá.<br />
que representa Jerusalém (Ezequiel 23:4). Ambas eram prostitutas que<br />
não estavam satisfeitas com seus próprios maridos (Jeová), assim iam em<br />
busca de outros homens (falsos deuses). "Mandaram vir uns homens de<br />
longe; fora-lhes enviado um mensageiro, e eis que vieram; por amor<br />
deles te banhaste, coloriste os olhos e te ornaste de enfeites." (Ezeq.<br />
23:40). Quando esses homens chegaram, "... puseram braceletes nas<br />
mãos delas e, na cabeça, coroas formosas... assim passaram a freqüentar<br />
a Oolá e a Oolibá, mulheres depravadas." (Ezeq. 23:42 e 44). A alegoria<br />
encerra o anúncio do julgamento divino sobre as mulheres e suas<br />
famílias.<br />
Como Jezabel, Oolá e Oolibá pintaram seus olhos e adornaram-se<br />
com enfeites, para serem sedutoras e levar os homens a cometerem<br />
adultério com elas. Nessa alegoria, o propósito dos cosméticos e<br />
ornamentos é seduzir outros e levá-los ao adultério, que resulta em<br />
apostasia.<br />
A Mulher Desolada<br />
Como Ezequiel, Jeremias usa a alegoria de uma mulher sedutora<br />
vestida de escarlate, com ornamentos e olhos pintados, para representar a<br />
politicamente abandonada Israel, tentando em vão atrair seus primeiros<br />
aliados idólatras. "Agora, pois, ó assolada, por que te fazes assim e te<br />
vestes de escarlate, e te adornas com enfeites de ouro, e alargas os olhos
Qual a Roupa Certa? 47<br />
com pinturas, se debalde te fazes bela? Os amantes te desprezam, e<br />
procuram tirar-te a vida." (Jer. 4:30)<br />
Os exemplos citados acima revelam um padrão consistente.<br />
Mulheres que pintam sua face com cosméticos estavam sempre tentando<br />
seduzir os homens, conduzindo-os ao adultério. Elas não desejavam agir<br />
modestamente. Não estavam satisfeitas com seus próprios maridos, e<br />
assim pintavam suas faces e enfeitavam-se com ornamentos para seduzir<br />
outros homens. "Se Israel não pode atrair a espécie de atenção que<br />
deseja, então distorcerá sua verdadeira beleza, pintando sobre ela um<br />
rosto falso. Seus olhos ampliados atrairiam os adúlteros espirituais à sua<br />
tenda." (20)<br />
O sedutor e excessivo uso de cosméticos nos exemplos mencionados<br />
não deveriam ser interpretados como uma aberta condenação do uso de<br />
qualquer forma de maquiagem. As mulheres dessas passagens pintavam<br />
excessivamente suas faces para se parecerem sedutoras e sensuais. Isso<br />
não significa que a mulher cristã não deva usar qualquer cosmético para<br />
disfarçar imperfeições da pele. A chave é a intenção. Se os cosméticos<br />
são usados para pintar o rosto e criar um visual artificial que é sedutor e<br />
sensual, então seu uso é obviamente errado. Mas se os cosméticos são<br />
usados judiciosamente para cobrir imperfeições e realçar a beleza<br />
natural, então são aceitáveis.<br />
Conclusão<br />
O Velho Testamento freqüentemente associa o uso de jóias e<br />
cosméticos excessivos com sedução e adultério. Tal associação<br />
implicitamente revela a condenação divina de seu uso. Devemos<br />
lembrar-nos de que na Bíblia Deus nos revela Sua vontade para nossas<br />
vidas, não apenas por preceitos, mas também por exemplos. Os muitos<br />
negativos exemplos de sedução, adultério, apostasia, e punição divina,<br />
que resultaram do uso de jóias, cosméticos em excesso e vestidos<br />
luxuosos, constituem uma solene advertência a nós. Eles nos advertem
Qual a Roupa Certa? 48<br />
contra cobrir nossos pecaminosos corpos com jóias e extravagantes ou<br />
sedutores vestidos. Quando Jesus vem em nossas vidas, Ele não nos<br />
cobre com ornamentos perecíveis, mas restaura nosso ser total com as<br />
imperecíveis riquezas de Sua graça.<br />
Referências do Capítulo II<br />
1. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (Washington. D.C.,<br />
1940), págs. 310 a 311.<br />
2. Edgar Haulotte, Symbolism du Vêtement selon la Bible (Lyon,<br />
França, 1966), pág. 7.<br />
3. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge,<br />
ed. 1970, verbete "Dress and Ornament, Hebrew" (vol. 4, pág. 5).<br />
Para uma discussão dos cultos da Nova Era e seus símbolos<br />
ornamentais, ver Texe Marrs. New Age Cults and Religions<br />
(Austin, Texas, 1990): ver também os relevantes registros em<br />
George A. Mather e Larry. A. Nichols, editores. The Dictionary<br />
of Cults, Sects, Religions and the Occult (Grand Rapids, 1993).<br />
4. Joseph Jensen, Isaiah 1 a 39, Old Testament Message<br />
Commentary (Wilmington, Delaware, 1984), pág. 69.<br />
5. Carl Wilhelm Eduard Nagelsbach, The Prophet Isaiah<br />
Theologically and Homiletically Expounded (New York, 1906),<br />
pág. 73.<br />
6. O significado parece ser não tanto andar "com a cabeça alta",<br />
mas "com a cabeça voltada para o lado", para ver se sua<br />
elegância é notada ou não. Para uma discussão, ver John D. W.<br />
Watts, Isaiah 1 a 33, Word Biblical Commentary (Waco, Texas,<br />
1955). pág. 45<br />
7. Franz Delitzsch, Biblical Commentary e Prophecies of Isaiah<br />
(Grand Rapids, 1960). pág 144.<br />
8. Idem, pág. 145.
Qual a Roupa Certa? 49<br />
9. John D. W. Watts, Isaiah 1 a 33, Word Biblical Commentary<br />
(Waco, Texas, 1955). pág. 46.<br />
10. Madelynn Jones-Haldeman. "Adorning the Temple of God"<br />
Spectrum 20 (dezembro de 1989), pág. 50.<br />
11. Richard M. Davidson. "The Good News of Yom Kippur",<br />
Journal of the Adventist Theological Society 2 (outubro de 1991),<br />
pág. 18.<br />
12. Idem, pág. 17.<br />
13. Idem, pág. 18.<br />
14. Walter C. Kaiser, Old Testament Ethics (Grand Rapids, 1983),<br />
pág. 283.<br />
15. R. E. Francis com George E. Vandeman, God Believes in<br />
Jewelry. (Boise, Idaho, 1954).<br />
16. The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington,<br />
D.C., 1954), vol. 1, págs. 650, 651.<br />
17. Idem, pág. 645.<br />
18. Ibidem.<br />
19. The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington,<br />
D.C., 1954), vol. 2, pág. 909.<br />
20. David Neff, "How to Be a Christian and Look Good", Insight, 05<br />
de março de 1974, pág. 8.
Qual a Roupa Certa? 50<br />
VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NO NOVO TESTAMENTO<br />
O<br />
s homens que se queixam que as mulheres hoje em dia gastam<br />
muito tempo diante do espelho, maquiando-se, ornando-se de<br />
jóias e enfeitando seus corpos, deveriam sentir-se consolados em saber<br />
que nos tempos do Novo Testamento, a situação era pior. Por quê?<br />
Simplesmente por causa das mulheres das classes média e alta que<br />
tinham pouco mais que fazer do que passar o tempo. Elas não poderiam<br />
trabalhar em escritórios públicos, e não tinham nenhum trabalho fora de<br />
casa, não recebiam nenhum prêmio por realizações acadêmicas ou<br />
profissionais. Assim, despendiam seu tempo embelezando-se e<br />
colocando todas as suas expectativas na Sua aparência.<br />
O poeta romano Lucius Valerius respondeu aos moralistas que<br />
denunciaram as mulheres por seus extravagantes trajes e ornamentos,<br />
perguntando: "Por que deveriam os homens recriminar as mulheres por<br />
seus ornamentos e vestuários? As mulheres não podem ocupar cargos<br />
públicos, ou o sacerdócio, ou ganhar projeção em qualquer área; elas não<br />
têm ocupação pública. O que, então, podem elas fazer, senão dedicar seu<br />
tempo para o adorno e a vestimenta?" (1). Essas perguntas revelam uma<br />
verdade fundamental, ou seja, as pessoas que condescendem com<br />
adornos excessivos normalmente não têm objetivos mais elevados para<br />
ocupar suas mentes.<br />
Foi neste mundo de luxúria e decadência moral que nasceu o<br />
cristianismo. Uma nova classe média tinha emergido com as riquezas<br />
dos despojos de guerra. Eles queriam reafirmar seu novo status social<br />
através do uso de vestimentas custosas e abundância de jóias. Essa era a<br />
realidade tanto para homens como para mulheres. De fato, como<br />
veremos no capítulo seis, alguns homens tinham seus dedos tão cheios<br />
de anéis que eles só podiam usar as mãos para dar ordens aos seus<br />
servos. Foi nesse contexto social de contraste entre luxúria e pobreza que<br />
os cristãos foram chamados a viver sua fé. Não é incomum encontrar no<br />
Novo Testamento admoestações para que procuremos a beleza interna do
Qual a Roupa Certa? 51<br />
coração, com um espírito manso e quieto, ao invés do adorno exterior do<br />
corpo por meio de penteados elaborados, ouro, pérolas e trajes custosos.<br />
Objetivo do Capítulo<br />
Neste capítulo queremos examinar minuciosamente as admoestações<br />
apostólicas de Paulo e Pedro com respeito a vestimentas e adornos.<br />
Veremos que suas palavras contêm princípios fundamentais para os<br />
cristãos modernos. Antes de examiná-las, queremos por um momento<br />
estudar os atavios das duas mulheres simbólicas mencionadas em<br />
Apocalipse: A Grande Prostituta, e a Noiva de Cristo. Analisaremos o<br />
contraste entre a aparência exterior das duas mulheres e suas implicações<br />
para os padrões cristãos de vestimentas e ornamentos.<br />
A Grande Prostituta<br />
No livro de Apocalipse, João nos oferece um contraste entre dois<br />
tipos de adornos exteriores, através do simbolismo de duas mulheres,<br />
uma pura e a outra a "Grande Prostituta". A mulher pura representa a<br />
igreja verdadeira, que é a "noiva" do Cordeiro. Ela se prepara para o<br />
noivo e convida outros para se prepararem para "a festa de casamento do<br />
Cordeiro" (Apoc. 19:9). Em contraste, a grande prostituta representa o<br />
poder apóstata político-religioso do fim dos tempos; ela seduz os<br />
habitantes da Terra e os leva a cometer fornicação espiritual com ela.<br />
Como Jezabel, ela desfruta uma alegria sádica em derramar o sangue dos<br />
mártires, à semelhança do que faz um bêbado ao encher o seu copo de<br />
vinho ("Eu vi a mulher embriagada com o sangue dos santos" Apoc. 17:6). O<br />
contraste entre as duas mulheres é dramaticamente retratado através de<br />
sua aparência exterior. João viu a grande prostituta "vestida de púrpura e<br />
escarlate, e adornada com ouro e jóias e pérolas, segurando em sua mão<br />
um copo de ouro cheio de abominações e das impurezas de suas<br />
fornicações; e em sua testa estava escrito um nome de mistério
Qual a Roupa Certa? 52<br />
'Babilônia a grande mãe das prostitutas e das abominações da terra' e vi<br />
que a mulher estava embriagada do sangue dos santos e do sangue das<br />
testemunhas de Jesus" (Apoc. 17:4-6).<br />
Essa descrição vívida da grande prostituta nos lembra a descrição<br />
profética de Israel apóstata, enfeitada com ornamentos como uma mulher<br />
adúltera, "prostituindo-se" após os deuses pagãos (Ezeq. 23:30; 16:15;<br />
Isa. 23:17). Ela está vestida de púrpura e escarlate, as cores da luxúria e<br />
do esplendor da realeza. Escarlate na Bíblia também é a cor do pecado<br />
(Isa. 1:18; Apoc. 17:3). Ela está abundantemente adornada com ouro,<br />
jóias e pérolas. Em sua mão segura um copo dourado, e do qual faz os<br />
seus amantes beberem. O atraente copo dourado serve para seduzir os<br />
povos para se unirem à sedutora prostituta em seus perversos caminhos.<br />
É dito que a mulher tem um nome em sua testa. Autores romanos<br />
como Sêneca (2) e Juvenal (3) dizem-nos que em suas testas as<br />
prostitutas usavam um enfeite portando seus nomes. Esses enfeites com<br />
os nomes inscritos, eram a marca registrada das prostitutas. Esse é um<br />
outro detalhe vívido, usado para que possamos entender em sua<br />
amplitude, a depravação da grande prostituta.<br />
A colocação do Apocalipse, onde a grande prostituta usa<br />
ornamentos de ouro, jóias e pérolas para realizar seus propósitos<br />
sedutores, representa uma condenação implícita do seu uso. Isso é<br />
condizente com o padrão que temos verificado no Velho Testamento. A<br />
associação negativa de ornamentos com um estilo de vida sedutor e<br />
adúltero, deveria servir como um freio contra o uso desses artigos pelos<br />
cristãos.<br />
A Noiva de Cristo<br />
Em contraste com a grande prostituta ricamente adornada com ouro,<br />
jóias, pérolas e roupas extravagantes, a noiva de Cristo é adornada<br />
modestamente com linho fino puro sem ornamentos exteriores:<br />
"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas
Qual a Roupa Certa? 53<br />
são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado<br />
que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino<br />
são as justiças dos santos" (Apoc. 19:7, 8). João explica que o linho fino<br />
que vestia a noiva representa os atos de fiel obediência dos santos.<br />
A idéia de ser vestida com "atos de justiça" é muito sugestivo;<br />
veremos mais adiante que Paulo usa as mesmas imagens para descrever<br />
os ornamentos apropriados da mulher cristã (I Tim. 2:10). O significado<br />
dessa ilustração não é que os remidos se vestiram com vestimentas<br />
nupciais brancas e puras através de seus próprios atos de justiça. As<br />
vestimentas nupciais lhes foram dadas ("e foi-lhe dado que se vestisse"),<br />
e não conseguidas através de seus próprios esforços. Ainda assim deve<br />
ser notado que as vestimentas nupciais são outorgadas como um dom<br />
divino àqueles que exerceram resistência firme, que tenham guardado os<br />
mandamentos de Deus e perseverado na fé de Jesus (Apoc. 14:12).<br />
A pureza de caráter dos santos é revelada externamente, não através<br />
de ouro, jóias e pérolas, mas pelo vestido de linho fino e puro. Notemos<br />
que não apenas a noiva, mas até mesmo a grande multidão dos remidos<br />
que estão perante o trono de Deus, estão "vestidas com vestes brancas'"<br />
(Apoc. 7:9), sem ornamentos exteriores. As vestes brancas não foram<br />
conseguidas através dos atos de justiça dos remidos, mas são resultado,<br />
de serem eles lavados "no sangue do cordeiro".<br />
Relevância para os Nossos Dias<br />
Dificilmente deixaríamos de entender a lição ensinada pela<br />
aparência exterior dessas duas mulheres. Deus viu que era apropriado<br />
representar o caráter delas através de suas vestimentas porque, como<br />
vimos anteriormente, nossas roupas revelam quem nós somos. A mulher<br />
impura está vestida extravagantemente e adornada com ornamentos<br />
dispendiosos, simplesmente porque tais adornos encaixam-se bem com a<br />
representação de seu orgulho interno e esquemas sedutores. Em<br />
contraste, a mulher pura está vestida com simplicidade e modéstia, sem
Qual a Roupa Certa? 54<br />
ornamentos exteriores, simplesmente porque tais vestimentas<br />
apropriadamente representam sua humildade e pureza internas.<br />
A pergunta a ser feita hoje é: qual das duas mulheres devia servir<br />
como modelo para o nosso código de vestuário cristão? Se escolhermos<br />
o modo de se vestir da noiva de Cristo, que representa a Sua igreja à qual<br />
pertencemos, então, à semelhança dela, mostraremos a nossa pureza e<br />
consagração internas através da simplicidade e modéstia de nossa<br />
aparência exterior.<br />
Paulo e o Adorno da Mulher Cristã<br />
O contraste entre os trajes da grande prostituta apocalíptica e os<br />
trajes da noiva de Cristo aparece também nas exortações pastorais de<br />
Paulo e de Pedro. Ambos enfatizam o contraste entre os modos cristão e<br />
mundano de se adornar. As exortações que apresentam merecem<br />
cuidadosa atenção não somente porque nos fornecem alguns princípios<br />
fundamentais quanto à maneira cristã de se vestir, mas também porque<br />
nos mostram a condenação explícita do uso de jóias e vestimentas<br />
extravagantes.<br />
Paulo aborda a questão de como a mulher cristã se deve adornar<br />
dentro do contexto de sua instrução sobre a conduta na adoração pública.<br />
Depois de instruir a parte masculina da congregação a orar publicamente<br />
"levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade", isto é, com<br />
sinceridade e boa vontade para com todos, Paulo volta a sua atenção para<br />
a conduta feminina em cultos públicos: "[Eu desejo] que as mulheres, em<br />
traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira<br />
frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com<br />
boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)". (I<br />
Tim. 2:9-10).<br />
Alguns questionam a relevância dessas instruções para os cristãos<br />
na atualidade, porque entendem que elas foram dirigidas exclusivamente<br />
para a situação existente em Éfeso. Como abordo essa questão no sexto
Qual a Roupa Certa? 55<br />
capítulo do meu livro Women in the Church (Mulheres na igreja), indico<br />
a todos os leitores interessados que leiam esse capítulo para maior<br />
esclarecimento. Porém, para atender à finalidade do estudo deste livro,<br />
simplesmente direi que até mesmo uma leitura superficial de I Timóteo é<br />
suficiente para mostrar que as instruções de Paulo foram dirigidas, não<br />
apenas à igreja local de Éfeso, mas à igreja cristã como um todo. Como a<br />
epístola foi escrita por causa da necessidade criada pela influência<br />
destruidora de falsos mestres 1:3-6; 6:3-5), a preocupação de Paulo não<br />
era rebater, com detalhes, o falso ensino desses mestres, mas sim<br />
explicar à congregação, bem como aos seus líderes e ao próprio Timóteo,<br />
como os cristãos devem viver vida santa em face de ensinos heréticos e<br />
de uma sociedade depravada.<br />
Adorno Correto<br />
O contraste, nessa passagem, acontece entre o adorno da mulher<br />
cristã que professa uma fé e o da mulher mundana, cuja única ocupação<br />
é atrair a atenção para si própria. A frase, "mulheres se ataviem" sugere<br />
que Paulo não está condenando o adorno em si, contanto que ele seja do<br />
tipo adequado. A vontade de se apresentar bem perante os outros não é<br />
errada quando bem usada.<br />
Deus não condena os verdadeiros ornamentos. Ele colocou<br />
abundantemente neste mundo coisas que não são apenas úteis, mas<br />
também belas. As tonalidades das flores, a plumagem dos pássaros, o<br />
pêlo dos animais, a beleza do corpo humano com sua graciosa face,<br />
lábios bem formados e olhos brilhantes, tais coisas são de natureza<br />
ornamental, porque vão além daquilo que seria apenas útil. Deus poderia<br />
ter criado todos os frutos e vegetais na cor verde, mas Ele escolheu para<br />
eles as mais variadas cores, a fim de que nos provessem não apenas<br />
alimento, mas também beleza.<br />
O verdadeiro adorno, ou a maneira própria de se adornar é aquela<br />
que permite que a pessoa expresse seu ser real. Deve haver uma
Qual a Roupa Certa? 56<br />
consistência entre a vida interior da pessoa e sua aparência externa. Dar a<br />
impressão de humildade perante Deus enquanto ostenta um adorno<br />
extravagante é hipocrisia. O traje que usamos deve refletir a profissão<br />
que fazemos de procurar primeiro o reino de Deus em nossa vida.<br />
Paulo esclarece a natureza do adorno apropriado usando três<br />
palavras significativas: "Modestamente, com decência e bom senso". Um<br />
exame mais detalhado dessas três palavras no original grego, podem<br />
auxiliar-nos a apreciar mais profundamente os princípios fundamentais<br />
da vestimenta própria para o cristão, que são relevantes para os cristãos<br />
de nossos dias.<br />
Vestir-se Modestamente<br />
A primeira palavra grega que Paulo usou para caracterizar a<br />
maneira apropriada da mulher cristã se adornar é kosmios, traduzida na<br />
maioria das versões como "modestamente". O ponto fundamental na<br />
palavra kosmios é bem-ordenada, apropriada, dignificante. O seu<br />
significado vem da ordem manifestada no kosmos, isto é, no Universo de<br />
Deus. O bem ordenado adorno do Universo que Deus escolheu é um<br />
modelo para seguirmos em nossa aparência exterior. No que diz respeito<br />
às vestimentas, kosmios "quer dizer aquilo que é bem ordenado,<br />
decoroso, apropriado". (4)<br />
O Dicionário Teológico do Novo Testamento explica que kosmios<br />
"descreve a pessoa que disciplina a si mesmo e que pode assim sei<br />
considerada como genuinamente moralista e respeitável".(5) A<br />
autodisciplina interna e a atitude humilde da mulher cristã, transpareceu<br />
exteriormente através de uma maneira bem ordenada, digna e apropriada<br />
de se vestir. "Paulo era suficientemente perspicaz para saber," escreveu<br />
Donald Guthrie, "que a maneira de se vestir de uma mulher é um espelho<br />
de sua mente. A ostentação externa não condiz com uma abordagem de<br />
devoção e oração".(6) De maneira semelhante, Ellen White escreveu: "o<br />
caráter de uma pessoa é julgado pelo seu estilo de trajar. Um gosto
Qual a Roupa Certa? 57<br />
refinado, uma mente cultivada serão revelados através de escolhas<br />
simples e apropriadas no vestir".(7)<br />
Em seu livro Personalidade Sem Limite, Verônica Dengel comenta<br />
sobre o bom gosto no vestuário, de um modo que se assemelha à<br />
admoestação de Paulo. "O bom gosto no vestuário começa com<br />
simplicidade, prossegue com compostura e culmina com conveniência<br />
para a ocasião. ... Cores aberrantemente chamativas, tecidos e confecção<br />
inferiores, combinações desarmoniosas, contribuem para revelar mau<br />
gosto. As suas roupas devem ajustar-se apropriadamente. Se forem muito<br />
largas, deixam de ser vistosas e elegantes; se forem muito apertadas, os<br />
pontos se rompem e o tecido se estica. A simplicidade deve beirar a<br />
singeleza, mas com a distinção de ter sido alcançada por um ajuste<br />
perfeito, linhas atraentes, confecção aprimorada e completa adaptação ao<br />
tipo de figura do indivíduo. A ausência de ornamentação ajuda a realçar<br />
a beleza do tecido e do corte". (8)<br />
A admoestação de Paulo para que nos vistamos de maneira<br />
modesta, ordenada e apropriada é muito importante para homens e<br />
mulheres cristãos de hoje, uma época em que a modéstia está "por fora"<br />
e a exposição explícita é adotada. Sua admoestação nos desafia a dar a<br />
devida atenção aos nossos trajes, para nos assegurar de que eles são<br />
verdadeiramente esmerados, dignificantes, bem acabados, e que refletem<br />
verdadeiramente nossos valores morais mais íntimos. Ela nos relembra<br />
de que aquilo que usamos não apenas reflete nossos gostos e valores<br />
morais, mas também afeta nossa conduta e comportamento. A vestimenta<br />
apropriada tende a encorajar um procedimento apropriado.<br />
A Modéstia Preserva a Intimidade<br />
Deus pede que nos vistamos modestamente, não apenas para<br />
prevenir-nos contra o pecado, mas também para preservar a intimidade.<br />
As pessoas que querem cometer pecado irão fazê-lo mesmo se estiverem<br />
vestidas com modéstia. Os puritanos e os vitorianos vestiam-se com
Qual a Roupa Certa? 58<br />
extrema modéstia, mas isto não os impedia de pecar. O ato de pecar<br />
apenas exigia deles um pouco mais de determinação bem como um<br />
pouco mais de tempo para se despir, mas eles conseguiam praticá-lo. O<br />
propósito da modéstia não é apenas evitar desejos lascivos, mas também<br />
preservar algo que é muito frágil mas fundamental para a sobrevivência<br />
do relacionamento marital: a habilidade de manter um profundo e íntimo<br />
relacionamento com o cônjuge.<br />
O apelo de Deus para que nos vistamos com modéstia é na<br />
realidade um apelo para proteger e preservar nossa intimidade. Essa é<br />
uma habilidade delicada e preciosa que podemos perder com facilidade<br />
se não a protegermos. Se quisermos que nosso casamento dure a vida<br />
toda, como Deus tencionava que fosse, então marido e mulher devem<br />
trabalhar em uníssono para preservar, proteger e nutrir a intimidade. No<br />
final das contas, é a modéstia que irá preservar a alegria da intimidade<br />
muito tempo depois que os sinos do casamento pararem de tocar.<br />
Orgulho da Modéstia?<br />
A admoestação de Paulo para nos vestirmos com modéstia e bom<br />
gosto, sugere que não existe mérito especial em negligenciar a aparência<br />
pessoal adotando roupas desalinhadas, assim como não existe mérito ao<br />
adotarmos o uso de ouro, jóias e pérolas. O indivíduo pode violar o<br />
código do vestuário cristão pela negligência da aparência pessoal, tanto<br />
quanto por dar atenção excessiva à ela.<br />
Alguns se vestem para exibir seus lindos trajes, pois sentem orgulho<br />
de sua aparência pessoal. Outros usam roupas extremamente simples<br />
porque querem convencer o mundo de sua humildade. Ambos os<br />
indivíduos são orgulhosos. Um deles é orgulhoso de suas roupas,<br />
enquanto o outro é orgulhoso de sua humildade. Para evitar os dois<br />
extremos, precisamos dar atenção ao primeiro princípio do adorno
Qual a Roupa Certa? 59<br />
cristão citado por Paulo: A aparência exterior deve ser alinhada decente<br />
e apropriada para que ninguém seja ofendido por ela.<br />
Vestir-se Com Decência<br />
A segunda palavra grega que Paulo usou para caracterizar o adorno<br />
apropriado da mulher cristã é aidos, que foi traduzida de maneira variada<br />
por "decoroso" "honesto" e "decente". O termo aidos ocorre apenas<br />
nesse texto do Novo Testamento, mas seu uso é freqüente na literatura<br />
judaico-helenística (grega). Seu significado essencial é "reverência" ou<br />
"respeito". O termo é usado para expressar respeito por Deus, o rei, os<br />
idosos, o vizinho, e a justiça. (9)<br />
Como pode uma mulher cristã mostrar reverência e respeito por<br />
Deus, pelos outros e por si própria através de seus trajes? Vestindo-se<br />
com decência e sensibilidade, sem causar vergonha ou constrangimento,<br />
Deus, a si mesmo e aos outros. Cada uma das traduções mencionadas<br />
acima adiciona uma nuança ao significado básico do adorno reverente.<br />
Os vários significados complementam-se mutuamente e nos ajudam a<br />
entender mais completamente o que quer dizer vestir-se reverentemente.<br />
A admoestação de Paulo para que nos vistamos com reverência é<br />
especialmente relevante para os cristãos hoje, quando as modas<br />
modernas rejeitam a reverência e o respeito como base para relações<br />
humanas construtivas. A preocupação da moda moderna é vender seus<br />
produtos pela exploração do poderoso impulso sexual próprio ao corpo<br />
humano, mesmo que para isso tenham que colocar no mercado roupas<br />
indecentes que apenas alimentam o orgulho e o apetite sexual.<br />
A mulher cristã é chamada a vestir-se decentemente não para que<br />
seja menos atraente, mas para preservar e proteger algo frágil que pode<br />
ser facilmente perdido: sua capacidade de ter intimidade com seu<br />
marido, e a experiência que enriquece a vida de ambos. A razão para<br />
vestir-se com modéstia e decência é semelhante à razão para trancar uma<br />
casa. Nós trancamos a casa para proteger o que está dentro dela, e com
Qual a Roupa Certa? 60<br />
isto mantemos as pessoas que não pertencem a casa do lado de fora. De<br />
maneira semelhante, os cristãos devem vestir-se com modéstia è<br />
decência para proteger e preservar a intimidade do relacionamento<br />
matrimonial, pelo impedimento de intrusos vindos de fora. As roupas<br />
podem produzir reações íntimas: os nossos mais profundos sentimentos<br />
de amor, a expressão cheia de paixão de nossa sexualidade, a revelação<br />
de nosso ser íntimo. Tais reações pertencem ao relacionamento<br />
matrimonial.<br />
O propósito da modéstia e decência no trajar não é esconder-nos da<br />
vista dos outros, mas preservar a nossa intimidade para o nosso cônjuge.<br />
A modéstia e a decência devem ser respeitadas até mesmo entre marido e<br />
mulher. Uma exposição indecente mesmo dentro do casamento pode<br />
destruir o respeito mútuo e a capacidade de desfrutar uma união íntima<br />
de mente, corpo e alma.<br />
Exposição Indecente<br />
Mary Quant, a criadora da minissaia e a mais famosa estilista<br />
britânica das roupas femininas, diz que seu alvo é "vestir as mulheres de<br />
tal maneira que os homens sintam vontade de arrancar a cobertura<br />
delas".(10) Ela cria roupas que causem impacto porque ela acredita que<br />
"se as roupas não te fazem notado, então eu as considero como<br />
desperdício de dinheiro".(11) Ela criou o ditado: "Bom gosto é morte; a<br />
vulgaridade é vida".(12) Quando lhe foi perguntado: "Qual é o objetivo<br />
da moda e para onde ela está se direcionando?" Mary Quant respondeu<br />
prontamente: "sexo".(13)<br />
Em uma entrevista concedida publicada na revista Newsweek, Mary<br />
Quant explicou, em palavras tão cruas que se torna difícil citá-las. o que<br />
a mini-saia representa para ela: "Sou a única mulher que já desejou ir<br />
para a cama com um homem no meio da tarde. Qualquer mulher de bons<br />
modos, espera até que anoiteça. Bem, há muitas garotas que não querem<br />
esperar. As mini-roupas são simbólicas desse tipo de garotas".(14) A
Qual a Roupa Certa? 61<br />
sedução é também um dos alvos da linha de cosméticos que ela cria:<br />
"Toda esta decoração é colocada para seduzir um homem para ir para a<br />
cama, assim qual é a razão para retirá-la".(15)<br />
Essa admissão irreverente vinda de uma líder da moda, revelando<br />
que alvo da moda moderna nas vestimentas e cosméticos é seduzir e<br />
apelar à sensualidade, torna imperativo aos cristãos atender à admoestação<br />
de Paulo para que nos vistamos com decência, bom senso e sem trazer<br />
vergonha e constrangimento a Deus, a si mesmo e aos outros. Uma<br />
mulher cristã precisa lembrar-se de que o seu charme reside não só<br />
naquilo que ela revela mas também naquilo que ela esconde. Uma<br />
mulher que veste para exibir seus encantos físicos e sexuais, encoraja os<br />
homens a tratá-la como um objeto sexual. Vestindo-se com modéstia e<br />
decência, uma mulher pode evitar ser tratada como objeto sexual e ainda<br />
realçar qualidades espirituais de que o nosso mundo pecador tanto<br />
carece.<br />
Este é o tempo para mostrar coragem: coragem para lutar contra a<br />
vulgaridade na moda; coragem para desafiar o mau gosto reinante em<br />
nossa época; coragem para distinguir entre os caprichos da moda<br />
mutante e o estilo equilibrado que permanece; coragem para reconhecer<br />
que "a obediência à moda está, mais do que qualquer outro poder,<br />
conseguindo separar o nosso povo de Deus" (16), coragem para rejeitar<br />
as imposições sedutoras da moda e para aceitar o conselho de Deus de<br />
nos vestimos reverentemente. Este é o tempo para que os cristãos tenham<br />
coragem de aceitar o segundo princípio do adorno cristão expresso pelo<br />
apóstolo Paulo: A aparência exterior deve ser decente, dignificada,<br />
mostrando respeito por Deus por nós mesmos e pelos outros.<br />
Vista-se Sobriamente<br />
A terceira palavra grega que Paulo usou para caracterizar o adorno<br />
apropriado da mulher cristã é sophrosune, que em português é traduzida<br />
por "sobriamente", "com propriedade", "com vestimentas apropriada".
Qual a Roupa Certa? 62<br />
Essas diferentes traduções revelam a dificuldade dos tradutores de<br />
encontrar o significado conveniente de uma palavra grega que não têm<br />
um sinônimo correspondente na língua portuguesa.<br />
A palavra sophrosune é uma composição de duas palavras, "sadia<br />
(sos)" e "mente (phrenes)". Em essência essa palavra denota um estado<br />
de vigilância mental, isto é, o uso da mente para exercitar restrição,<br />
autocontrole. Nesse contexto do adorno cristão, a palavra é usada para<br />
transmitir a idéia de que mulheres cristãs devem exercer autocontrole,<br />
reprimindo qualquer desejo de usar roupas ou jóias que chamem a<br />
atenção. Como Albert Barnes explica: "A palavra usada aqui significa,<br />
com mais propriedade, sanidade; após esse significado prioritário, quer<br />
dizer também sobriedade mental, moderação de desejos e paixões.<br />
Encontra-se em oposição a tudo o que é, frívolo, e tudo que induz à<br />
excitação das paixões. A idéia é que, em sua maneira de vestir bem como<br />
em seu comportamento, as mulheres não deveriam violar o mais atrito<br />
decoro". (17)<br />
Não é de surpreender que, no grego, a palavra sophrosune que<br />
significa sobriedade e autocontrole mental, era considerada como "uma<br />
das virtudes cardeais". (18) Na verdade, é a atitude mental de<br />
autocontrole que determina todas as outras virtudes. Também não é de<br />
surpreender que, assim como Paulo, os gregos moralistas freqüentemente<br />
associavam sophrosune (autocontrole mental) com aidos (decente,<br />
comportamento respeitoso). (19) A razão para tal associação é óbvia.<br />
Todos os comportamentos decentes e respeitosos do exercício do<br />
autocontrole.<br />
Essa informação ajuda-nos a valorizar a admoestação de Paulo que<br />
as mulheres se vistam não apenas com modéstia (kosmios) e decência<br />
(aidos), mas também com sobriedade, com mente sóbria (sophrosune)<br />
Como os gregos moralistas, o apóstolo, reconhece que uma aparência<br />
externa decente e bem ordenada é o resultado de um autocontrole<br />
mental, isto é, um refrear racional e determinado dos desejos<br />
pecaminosos de exibir o nosso orgulho através de um adorno ostensivo.
Qual a Roupa Certa? 63<br />
A maneira como vivemos a vida cristã é grandemente determinada<br />
pela maneira como pensamos. "Porque, como imagina em sua alma<br />
assim ele é" (Provérbios 23:7). Paulo reconhece o papel determinante da<br />
mente sobre o estilo de vida. Em sua epístola aos Romanos, ele roga aos<br />
cristãos que não se conformem com o mundo e que sejam transformados<br />
à imagem de Deus "através da renovação da vossa mente (Romanos<br />
12:2). A renovação da mente é essencial para resistir à pressão de<br />
conformar-se com a moda sedutora de nossos dias.<br />
Paulo retrata a mulher cristã convertida como alguém que pratica i<br />
domínio próprio (sophrosune) em sua maneira de se adornar. Seu desejo<br />
não é exibir-se mas refletir a vida isenta de egoísmo de Cristo. Sua<br />
vestimenta não diz: Olhem para mim, admirem-me! Pelo contrário diz:<br />
Vejam como Cristo tem-me transformado, começando pelo meu interior.<br />
Essa visão apostólica da mulher cristã mostra alguém que exerce<br />
autocontrole por recusar chamar a atenção para si através do uso de roupas<br />
e ornamentos ostensivos, e por usar em seu lugar, roupas asseadas, de bom<br />
gosto, decentes e dignas – é particularmente aplicável à nossa época. A<br />
moda atual reina suprema, e a grande maioria dos homens e mulheres<br />
prestam-lhe culto em seu altar. Muitos cristãos seguem tão fielmente as<br />
mudanças de estação da moda, que estão dispostos até mesmo a sacrificar<br />
suas necessidades básicas para se vestirem com roupas e ornamentos da<br />
moda. Eles querem assemelhar-se aos manequins que ocupam as revistas<br />
femininas. Assim fazendo, revelam a sua insegurança interior. Não estão<br />
satisfeitos em ser o que realmente são; assim querem parecer-se com<br />
alguma outra pessoa que admiram. O que parecem esquecer é que a<br />
imagem feminina retratada nas revistas femininas não é a imagem que o<br />
reino de Deus retrata. Se deixarmos nossa vida ser guiada pelos ditames das<br />
mudanças da moda, não estaremos buscando em primeiro lugar o reino de<br />
Deus.<br />
Para resistir à tirania da moda sedutora, precisamos dar atenção ao<br />
terceiro princípio do adorno cristão: Vistam-se sobriamente, refreando<br />
qualquer desejo de usar roupas ou jóias que chamem a atenção para o eu.
Qual a Roupa Certa? 64<br />
Ornamentos Impróprios<br />
Para que não haja dúvida quanto ao que ele queria dizer através da<br />
admoestação: vistam-se de maneira ordeira, decente e sóbria, Paulo<br />
adiciona uma lista de quatro tipos de ornamentos impróprios para a<br />
mulher cristã: "não com estilos de cabelo elaborados, não embelezadas<br />
com ouro ou pérolas, ou roupas custosas, mas com boas obras como<br />
convém às santas mulheres" (I Tim. 2:9, 10). A lista começa com "estilos<br />
elaborados de cabelo" porque no mundo judeu e romano daquela época,<br />
as mulheres empregavam muito tempo no cuidado de seus cabelos,<br />
arranjando-os de várias formas, de acordo com a moda prevalecente.<br />
Enfeitavam seus cabelos com palhetas de fios de ouro ou tecidos bem<br />
trabalhados. Não nos é dito se a mulher romana gostava de usar os<br />
intrincados prendedores de cabelos de doze centímetros de comprimento<br />
criados em Corinto. "Havia tantas maneiras de adornar o cabelo como<br />
havia abelhas em Hybla. Faziam-se ondas no cabelo, tingiam-se algumas<br />
vezes de preto, mas mais freqüentemente de ruivo. Usava-se tranças,<br />
especialmente loiras ... Arcos de cabeça, presilhas e pentes eram feitos<br />
de marfim, madeira e casco de tartaruga; algumas vezes eram fabricados<br />
em ouro e enfeitados com pedras preciosas". (20)<br />
O que Paulo condena nesse verso não é pentear o cabelo de maneira<br />
asseada e própria, mas "os estilos elaborados de cabelo", entrelaçados<br />
com ornamentos que são criados para atrair a atenção. Tal estilo<br />
contraria os princípios do adorno cristão expostos aqui pelo apóstolo<br />
Paulo.<br />
Os próximos dois ornamentos impróprios mencionados por Paulo<br />
são "ouro e pérolas". Havia abundância de anéis brilhantes, bem como<br />
braceletes, enfeites para os tornozelos e brincos de pérolas que eram<br />
usados pelas mulheres seguidoras da moda. O apóstolo escreve<br />
enfaticamente contra o seu uso, porque esses itens refletem vaidade<br />
pessoal e exaltam o eu, práticas que não se coadunam com seu apelo aos
Qual a Roupa Certa? 65<br />
cristãos para serem modestos, decentes e sóbrios em seus adornos<br />
exteriores.<br />
O último ornamento impróprio mencionado por Paulo é "roupas<br />
custosas". Alguns tipos de roupa eram extremamente caras na época de<br />
Paulo. "A púrpura era a cor favorita para as roupas. Meio quilo de lã de<br />
púrpura do melhor tipo, importada de Tiro e tingida duas vezes, custava<br />
1.000 denários". (21) Considerando que um trabalhador não-especializado<br />
ganhava um denário por dia, isso representava o salário três anos de<br />
trabalho. Mesmo esse custo tão elevado não impedia as mulheres<br />
abastadas de comprar roupas e ornamentos excessivamente caros. "Em<br />
Roma, Plínio informa-nos de uma jovem, Lollia Paulina, cujo vestido de<br />
noiva custou o equivalente a 482 mil libras (cerca de USS 1.600.000)".(22)<br />
Não é de surpreender que os moralistas condenavam vestimentas<br />
extravagantes e custosas, tanto quanto Pedro e Paulo o faziam. Por<br />
exemplo, Quintiliano, o mestre romano de oratória escreveu: "Uma<br />
vestimenta de bom gosto e de aparência magnífica adiciona dignidade a<br />
quem a usa, mas trajes efeminados e luxuosos deixam de adornar o<br />
corpo, e passam a revelar apenas a sordidez da mente". (23)<br />
Paulo falou contra o uso de roupas custosas porque elas refletem<br />
vaidade, futilidade e vazio do indivíduo, bem como objetivos voltados ao<br />
eu, e algumas vezes um desejo de receber atenção imprópria do sexo<br />
oposto. Tais atitudes não são condizentes com seu apelo para a modéstia,<br />
decência e sobriedade na maneira do cristão se vestir.<br />
A menção de roupas custosas sugere vestimentas que precisam de<br />
um grande esforço para serem adquiridas. Gastos que ultrapassem o que<br />
alguém ganha, são incompatíveis com os princípios da mordomia cristã.<br />
Isso não quer dizer que roupas caras são apropriadas apenas àqueles que<br />
têm condição de comprá-las, porque como John Wesley enfatiza,<br />
"Nenhum cristão tem condição de desperdiçar qualquer pane dos talentos<br />
que Deus lhe Confiou.... Cada centavo que você economiza de suas<br />
próprias vestimentas, pode gastá-lo em vestir o nu, e em aliviar as várias<br />
necessidades dos pobres, a quem 'sempre tendes convosco'. Portanto,
Qual a Roupa Certa? 66<br />
cada centavo que você gasta desnecessariamente em sua vestimenta é na<br />
realidade um roubo daquilo que pertence a Deus e aos pobres". (24)<br />
Os Ornamentos Apropriados<br />
Depois de enumerar quatro ornamentos impróprios à mulher cristã,<br />
Paulo se apressa em mencionar os apropriados, que são "boas obras,<br />
como é próprio às mulheres que professam ser piedosas" (I Tim. 2:10). A<br />
idéia de "boas obras" serem um ornamento apropriado para o cristão<br />
lembra-nos os "atos de justiça dos santos" que revestem a noiva de<br />
Cristo. (Apoc. 19:8). A noção de estar adornada com "boas obras" é<br />
altamente sugestiva, pois uma vida de atos altruístas de beneficência,<br />
pode muito bem aprimorar a aparência externa do indivíduo. Cristãos<br />
como a madre Teresa de Calcutá, que devotaram suas vidas em favor dos<br />
necessitados, desenvolveram uma atração externa tão cativante que<br />
mesmo um caminhão lotado de pérolas não poderia produzir. "O adorno<br />
de uma mulher, em resumo, não reside no que ela coloca sobre si, mas<br />
no serviço amoroso que produz". (25)<br />
A beleza externa do serviço amoroso ("boas obras") é apropriado<br />
para mulheres que professam ser religiosas, porque seus valores são mais<br />
altos do que os das outras mulheres. As mulheres cristãs têm colocado<br />
em seus corações, não o embelezamento externo de seus corpos com<br />
ornamentos de alto custo, mas a beleza de suas almas através do amor de<br />
Deus. Elas professam ter fixado sua afeição em Cristo, seu Salvador.<br />
Elas O imitam. "Aquele que andou fazendo o bem", adornando-se com<br />
atos de benevolência. Tais ações trarão a satisfação de serem amadas e<br />
respeitadas. Nenhuma quantidade de roupas caras e jóias sofisticadas<br />
pode esconder a feiúra de uma personalidade voltada para si mesma.<br />
Paulo procurou a ligação entre a profissão interna e a prática<br />
externa. Professar fidelidade a Cristo e mesmo assim vestir-se com<br />
extravagância e imodéstia, é uma forma de hipocrisia. As mulheres
Qual a Roupa Certa? 67<br />
cristãs são mais apropriadamente adornadas através das boas obras, que<br />
correspondem à sua decisão interna em favor de Cristo.<br />
Pedro e o Adorno da Esposa Cristã<br />
O ensino de Paulo quanto ao adorno das mulheres cristãs, é em<br />
grande parte repetido por Pedro, embora em um contexto diferente.<br />
Enquanto o contexto dos ensinos de Paulo sobre o adorno cristão é o da<br />
conduta das mulheres dentro da igreja, o contexto dos ensinos de Pedro é<br />
o da conduta das mulheres dentro do lar. A marcante semelhança entre<br />
os dois ensinos serve para mostrar que os princípios da modéstia e da<br />
decência na aparência exterior, se aplicam igualmente ao lar e à igreja.<br />
Pedro deu às esposas uma admoestação dupla para ajudá-las a<br />
manter um feliz relacionamento com seus esposos e ganhá-los para<br />
Cristo, se fossem descrentes. A primeira admoestação é ter uma atitude<br />
submissa para com seu esposo, mantendo uma conduta pura e respeitosa.<br />
"Mulheres, sede vós igualmente submissas a vossos próprios maridos,<br />
para que, se eles ainda não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem<br />
palavra alguma por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o<br />
vosso honesto comportamento, cheio de temor" (I Pedro 3:1, 2).<br />
Assim como Paulo (I Cor. 7:13-16), Pedro não aconselha a esposa<br />
que mostrou coragem suficiente para se tomar cristã a deixar o seu<br />
marido, mas a ganhá-lo através de uma atitude submissa. Ela deve<br />
manifestar submissão, e não sermonizar, resmungar importunamente, ou<br />
argumentar procurando direitos iguais, mas através do testemunho<br />
silencioso da beleza atraente de sua vida. Desse jeito, ela pode quebrar a<br />
barreira do preconceito e hostilidade e ganhar o marido para Cristo.<br />
Atitude Submissa<br />
A noção da submissão da esposa ao marido é impopular em nossos<br />
dias, especialmente entre as feministas que entendem-na como um
Qual a Roupa Certa? 68<br />
equivalente de inferioridade. Mas a submissão prescrita é de função, e<br />
não de moral ou estado físico. Submissão funcional não significa<br />
inferioridade. Jesus era ontologicamente igual a Deus em natureza, e<br />
funcionalmente submisso para tornar-Se um servo. A submissão da<br />
esposa ao marido não é por temor ou inferioridade, mas pelo perfeito<br />
amor. Ela o faz porque ama a Cristo e alegremente aceita o seu papel e o<br />
papel do marido como cabeça do lar (Ver Col. 3:18; Efés. 5:22 e 23).<br />
A passagem sugere que alguns maridos, particularmente aqueles<br />
hostis à fé cristã ("que não obedecem à Palavra"), podem ser difíceis de<br />
agradar. Sob tais circunstâncias a fé da esposa e a devoção a Cristo<br />
ajudá-la-ão a ser submissa ao marido. Uma vez que seu marido não<br />
aceita a Palavra (o evangelho), ela lhe dá testemunho sem uma palavra,<br />
isto é, sem pregar a ele. Ela vive a Palavra diante de seu marido por seu<br />
puro e respeitável comportamento.<br />
Ornamentos Impróprios<br />
A segunda admoestação de Pedro é para as esposas ganharem os<br />
maridos para Cristo, não através de luxuosos ornamentos exteriores, mas<br />
pelo adorno interior de um espírito manso e quieto. "Não seja o adorno<br />
das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro,<br />
aparado de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido<br />
ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor<br />
diante de Deus." (I Ped. 3:3 e 4)<br />
Nessa passagem, Pedro segue a regra de Paulo em I Tim. 2:9 e 10,<br />
contrastando o adorno exterior do corpo das mulheres mundanas, com o<br />
ornamento interior do coração das mulheres cristãs. O enfeite exterior<br />
das mulheres mundanas consiste em "frisado de cabelos, adereços de<br />
ouro e aparato de vestuário". Essa lista corresponde essencialmente à<br />
fornecida por Paulo, que nós já examinamos. Assim isso bastará para<br />
notar que ambos os apóstolos reconhecem que estilos de cabelo que
Qual a Roupa Certa? 69<br />
atraem a atenção, ornamentos deslumbrantes e vestidos custosos não são<br />
apropriados para a mulher cristã.<br />
Os Ornamentos do Coração<br />
O positivo adorno interior da mulher cristã consiste nas graças do<br />
coração, o espírito manso e quieto que é precioso à vista de Deus. É o<br />
atavio de um temperamento calmo, uma mente alegre e um coração<br />
isento de orgulho, vaidade e agitação daqueles que buscam<br />
reconhecimento através de enfeites externos. Esse é o adorno que<br />
recomendará a mulher a Deus, a seu marido e aos outros. Esse é o<br />
adorno que não depende de batons, nem de cosméticos para a pele, mas<br />
de uma alma rendida a Deus.<br />
Pedro não está querendo dizer que a esposa cristã deveria ignorar<br />
sua aparência exterior e concentrar-se na íntima beatificação de sua<br />
alma. Nenhuma esposa pode assegurar-se da permanente afeição de seu<br />
marido, se não estiver atenta à sua aparência pessoal e ao asseio de seus<br />
hábitos. Mas, o que o homem aprecia mais em sua esposa são os<br />
ornamentos do coração: suas palavras gentis, seu espírito paciente, sua<br />
calma diante das dificuldades, sua afeição pura. Assim, a mulher que<br />
deseja obter a constante afeição do marido, deveria buscar não apenas<br />
uma bela aparência exterior, mas também uma bondosa, calma e<br />
benevolente disposição interior.<br />
Pedro conclui sua exortação expondo diante das esposas cristãs um<br />
digno exemplo de notáveis esposas dos tempos do Velho Testamento<br />
que, como Sara, esposa de Abraão, cultivavam o adorno do coração e<br />
"eram submissas a seus maridos" (I Ped. 3:5). Sara demonstrava sua<br />
deferência para com Abraão, chamando-o de senhor (I Ped. 3:6)<br />
É digno de nota que Pedro e Paulo falassem sobre o adorno das<br />
mulheres cristãs, no contexto de uma atitude de submissão. Pedro apelou<br />
a uma submissa atitude imediatamente antes e depois de mencionar o<br />
adorno das esposas cristãs, enquanto Paulo o fez após discutir o
Qual a Roupa Certa? 70<br />
ornamento das mulheres cristãs (I Tim. 2:11). Isso sugere que ambos os<br />
apóstolos reconheciam que a aparência exterior é determinada pela<br />
atitude íntima do coração. Uma atitude humilde e submissa refletir-se-á<br />
em modéstia e vestuário sóbrio, enquanto que o comportamento<br />
insubordinado e orgulhoso será manifesto numa atitude imodesta,<br />
extravagante e sedutora aparência.<br />
Conclusão<br />
O Novo Testamento ensina como os cristãos devem vestir-se,<br />
utilizando alegorias e admoestações diretas. Indiretamente nós<br />
encontramos um revelador contraste entre o adorno das duas mulheres<br />
simbólicas do livro do Apocalipse, a grande meretriz e a noiva de Cristo.<br />
A mulher impura é descrita como extravagantemente ataviada e<br />
adornada com custosos enfeites, simplesmente porque seu vestuário<br />
reflete o orgulho interior e intenções sedutoras. Em contraste, a mulher<br />
pura está vestida com simplicidade e modéstia, sem ornamentos<br />
exteriores, simplesmente porque seu vestuário representa humildade e<br />
pureza interiores. Como cristãos, seguimos o exemplo da noiva de<br />
Cristo, que é a igreja à qual pertencemos, mostrando nossa pureza e<br />
santidade interiores, mediante simplicidade e modéstia em nossa<br />
aparência exterior.<br />
Descobrimos em nosso estudo que Paulo e Pedro contrastam o<br />
adequado adorno da mulher cristã, com os impróprios ornamentos da<br />
mulher mundana (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:3 e 4). Ambos os apóstolos<br />
reconhecem que os brilhantes ornamentos do corpo são inconsistentes,<br />
quando comparados com os adornos interiores do coração.<br />
Uma análise mais detida dos termos usados por Paulo revelou três<br />
importantes princípios: 1) Os cristãos devem vestir-se de um modo<br />
modesto e bem assentado, evitando os extremos; 2) Os cristãos devem<br />
vestir-se decente e dignamente, demonstrando respeito por Deus, por si<br />
mesmos e pelos outros. 3) Os cristãos devem vestir-se sobriamente,
Qual a Roupa Certa? 71<br />
contendo qualquer desejo de exibição manifesto por trajar vestes<br />
sedutoras, usar cosméticos e joalheria. A aparência exterior é um<br />
constante e silencioso testemunho de nossa identidade cristã. Ela conta<br />
ao mundo que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />
Referências do Capítulo III<br />
1. Lucius Valerius, citado por William Barclay em The Letters of<br />
James and Peter (Philadelphia, 1960, pág. 26).<br />
2. Sêneca. Controversies 1.2.<br />
3. Juvenal. Satires 6.123.<br />
4. Albert Barnes. Thessalonians, Timothy, Titus and Philemon.<br />
Notas sobre o Novo Testamento (Grand Rapids, 1955), pág, 135.<br />
5. S. Herman Sasse. "kosmios" – Theological Dictionary of the New<br />
Testament, Gerhard Kittel, ed. (Grand Rapids, 1965), vol. 3, p. 595.<br />
6. Donald Guthrie, The Pastoral Epistles. The Tyndale New<br />
Testament Commentaries (Grand Rapids, 19S3), págs. 74-75.<br />
7. Ellen G. White, Education (Mountain View, Califórnia, 1953),<br />
pág. 245.<br />
8. Veronica Dengel, Personality Unlimited (New York, 1968),<br />
págs. 366 e 367.<br />
9. Para exemplos, ver Rudolf Bultman "aidos", The Theological<br />
Dictionary of the New Testament, Gerhard Kittel, ed. (Grand<br />
Rapids, 1964), vol. 1, pág, 17.<br />
10. Steve Dougherty, "As the Hemline Rises, so do the Fortunes of<br />
Mini Mogul Mary Quant", People Weekly, 4 de abril de 1988,<br />
pág. 108.<br />
11. "The Name That Spells Moo Fashions", Business Week, 8 de<br />
junho de 196S, pág, 119.<br />
12. Idem, pág. 108.<br />
13. "Mary Quant: London's Kooly Success Story". Reader's Digest,<br />
Junho de 1967, pág. 112
Qual a Roupa Certa? 72<br />
14. "Anything Goes: Taboos in Twilight, Newsweek, 13 de<br />
novembro de 1967, pág 76.<br />
15. Ibidem.<br />
16. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1984), vol. 4, pág. 647.<br />
17. Albert Barnes (Nota 3), pág, 135.<br />
18. Ulrich Luck, "sophrosune", Theological Dictionary of The New<br />
Testament, Gerhard Friedrich, ed. (Grand Rapids, 1971), vol. 7,<br />
pág. 1099. Idem, pág. 1098.<br />
19. William Barclay (nota 1), pág. 262.<br />
20. Ibidem.<br />
21. William Barclay, The Letters to Timothy, Titus and Philemon<br />
(Philadelphia, 1960), pág. 78.<br />
22. William Barclay (nota 1), pág. 261. Barclay cita vários<br />
moralistas que condenaram o luxo no vestir.<br />
23. Albert C. Outler, ed., The Works of John Wesley (Nashville,<br />
1986), págs. 254 e 256.<br />
24. Donald Guthrie (nota 6), pág 75.
Qual a Roupa Certa? 73<br />
VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NA HISTÓRIA CRISTÃ<br />
Q<br />
uais têm sido os padrões do vestuário e adornos cristãos no<br />
curso da história da igreja? Têm geralmente os cristãos seguido<br />
os ditames da moda ou as diretrizes da Palavra de Deus? A que extensão<br />
tem os cristãos levado os princípios de modéstia e simplicidade no vestir<br />
e adornar-se encontrados nas Escrituras? Como a atitude com relação ao<br />
vestuário e ornamentos afeta o senso de identidade e de missão da igreja?<br />
Objetivo do Capítulo<br />
Este capítulo busca encontrar as respostas a essas questões, através<br />
de breve avaliação da atitude cristã perante ornamentos e vestes, nos<br />
grandes períodos da história da igreja. Nossa pesquisa mostrará que os<br />
cristãos não têm estado imunes às modas extravagantes de seu tempo,<br />
entretanto, em cada época tem havido aqueles que se vestem com<br />
modéstia, sobriedade e decência, como cristãos piedosos. Uma<br />
importante lição que se salienta no curso de nossa pesquisa histórica, é<br />
que o reavivamento ou declínio espirituais amiúde tem-se refletido na<br />
reforma ou extravagância do vestuário dos membros da igreja. A história<br />
dos trajes e ornamentos ilustra, de muitos modos, a humana luta entre o<br />
orgulho, concupiscência e avidez de um lado, e humildade, modéstia e<br />
generosidade de outro.<br />
Primeira Parte: Trajes e Ornamentos na Igreja Primitiva<br />
O Mundo da Luxúria<br />
O cristianismo surgiu durante a idade dourada do império romano.<br />
Em 31 A.C., o imperador Augusto unificou o império ao derrotar seus<br />
competidores orientais, Marco Antônio e Cleópatra, e implantado um<br />
período de paz e prosperidade. A riqueza acumulada, proveniente dos
Qual a Roupa Certa? 74<br />
despojos de guerra, ensejou o surgimento de uma nova classe média, que<br />
exibia suas riquezas através dos luxuosos atavios e ornamentos. A antiga<br />
virtude romana da modéstia desintegrou-se sob o êxtase do luxo oriental<br />
importado. Os próprios imperadores envolveram-se nesse cortejo de<br />
devassidão. A extravagante luxúria de seu tempo foi condenada por<br />
moralistas como Cato, Sêneca, Quintiliano, Epíteto e Lúcio Valério (1).<br />
Por exemplo, o famoso orador romano Quintiliano comentou a<br />
extravagante moda de seu tempo, dizendo: "Um elegante e suntuoso<br />
vestido proporciona dignidade ao que o traja, mas vestimentas<br />
efeminadas e luxuosas fracassam em adornar o corpo e apenas revelam a<br />
sordidez da mente." (2)<br />
Enfeitar o corpo é um processo dispendioso e laborioso. Uma rica<br />
matrona (mulher casada) possuía muitos escravos treinados como<br />
cabeleireiros que podiam trabalhar em seus cabelos com pinças e tenazes<br />
de ferro aquecidas. Os cabelos eram adornados de maneiras diferentes,<br />
com fitas e broches, tranças com fios de ouro e pedras preciosas.<br />
Usavam também perucas louras. Púrpura, a cor preferida para os<br />
vestidos, era extremamente cara.<br />
"Diamantes, esmeraldas, topázios, opalas e sardônicas eram as<br />
pedras preciosas favoritas... Pérolas eram as mais procuradas. Júlio César<br />
presenteou Servília com uma pérola que hoje custaria cerca de R$<br />
80.000,00. Os brincos eram feitos de pérolas e Sêneca falou de mulheres<br />
com dois ou três "fortunas" em suas orelhas. As sandálias eram<br />
incrustadas com elas. O próprio Nero tinha uma sala cujas paredes<br />
estavam cobertas de pérolas. Plínio viu Lolia Paulina, esposa de<br />
Calígula, trajar vestes cheias de pérolas e esmeraldas que custavam, na<br />
moeda de hoje, aproximadamente, RS. 1.600.000,00."(3)<br />
A seda era tida como a mais poderosa arma de sedução, porque<br />
feita de material transparente e colante, que podia atrair a atenção. O<br />
efeito dos vestidos de seda pode ser julgado pela dura reação de Sêneca:<br />
"Ali eu vejo sedosos vestidos, se é que podem ser chamados de vestidos,<br />
que nada protegem do corpo da mulher, nem sua modéstia, impedindo-a
Qual a Roupa Certa? 75<br />
de declarar que não está nua. Esses são adquiridos por altas somas de<br />
dinheiro... de modo que as mulheres possam mostrar mais de si mesmas<br />
ao mundo, do que a seus amantes no quarto." (4)<br />
Cristãos: Semelhantes e Todavia Diferentes<br />
Foi num mundo de luxúria e decadência moral, que os cristãos<br />
primitivos foram chamados a viver e partilhar sua fé. Eles foram<br />
chamados para mostrar a pureza e a simplicidade de sua fé cristã, sendo<br />
semelhantes e todavia diferentes do resto da sociedade.<br />
Eram semelhantes porque estavam vestidos e viviam como o povo<br />
comum. Tertuliano (160-225), um influente líder da igreja, que é<br />
conhecido como o pai do cristianismo latino, respondeu à acusação de<br />
que os cristãos eram anti-sociais (misantrópicos). "Nós não somos índios<br />
bramins ou ginossofistas, que moram em florestas e se asilam da vida<br />
comum... Nós peregrinamos com vocês neste mundo, não renunciando às<br />
praças, aos açougues, aos banhos, às tendas, às fábricas, aos hotéis, nem<br />
às feiras semanais ou qualquer outro lugar de comércio. Navegamos com<br />
vocês, lutamos com vocês e lavramos o solo com vocês; da mesma<br />
maneira, unimo-nos a vocês em seus negócios – mesmo nas várias artes,<br />
tomamos pública nossas obras em benefício de vocês." (5)<br />
Entretanto, como o próprio Tertuliano expôs em grande parte de<br />
seus numerosos tratados morais, os cristãos eram diferentes por causa de<br />
sua aliança com Cristo. Eram chamados a viver neste mundo sem tomar<br />
parte de suas práticas imorais. Isso significa, por exemplo, que os<br />
cristãos não poderiam envolver-se em ocupações inconsistentes com sua fé.<br />
Em sua obra Tradição Apostólica, Hipólito de Roma (cerca de 215<br />
A.D.) mencionou algumas das ocupações proibidas aos cristãos, como:<br />
escultores e pintores de ídolos, atores e produtores de shows, gladiadores<br />
e treinadores, caçadores e shows de animais selvagens, sacerdotes e<br />
guardiões de ídolos, soldados envolvidos em combates, comandantes
Qual a Roupa Certa? 76<br />
militares, magistrados civis, prostitutos e prostitutas, encantadores,<br />
astrólogos, adivinhadores e fazedores de amuletos. (9)<br />
A diferença do estilo de vida cristão evidenciava-se através de suas<br />
vestes modestas e simples. Pedro e Paulo, como vimos, insistiam com os<br />
cristãos para não se conformarem com as modas mundanas de seus dias,<br />
embelezando-se com o frisado dos cabelos, ou ouro, pérolas ou custosos<br />
ornamentos, mas mostrassem sua separação do mundo ao adornarem-se<br />
"modesta e sensatamente, de modo próprio... como convém às mulheres<br />
que professam religião." (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:1 a 6)<br />
As Admoestações de Tertuliano<br />
O código neotestamentário de modéstia e simplicidade no vestuário.<br />
ensinado pelos apóstolos, foi seguido pelos líderes da igreja no<br />
cristianismo primitivo. Alguns exemplos servirão para ilustrar esse fato.<br />
Em 202 A.D., Tertuliano escreveu o tratado Sobre o Ornamento das<br />
Mulheres, no qual exortava as mulheres a "lançarem fora os ornamentos<br />
mundanos se desejamos os celestiais. Não amar o ouro, no qual (uma<br />
substância) estão marcados todos os pecados do povo de Israel. Vocês<br />
devem odiar aquilo que arruinou seus pais; o que era adorado por eles e<br />
os levou a abandonarem a Deus... Vão... vistam-se com os ornamentos<br />
dos profetas e apóstolos; extraiam seu testemunho da simplicidade, seu<br />
corado aspecto da modéstia: pintem seus olhos com a timidez e a boca<br />
com o silêncio; implantem em seus ouvidos a Palavra de Deus,<br />
colocando no pescoço o jugo de Cristo... Vistam-se com a seda da<br />
honradez, o fino linho da santidade, a púrpura da modéstia. Assim<br />
ornados, vocês terão a Deus como Amante!" (7) Ele aprovava as<br />
mulheres belas, bem vestidas e cuidadosas com seus cabelos e pele. O<br />
que condenava eram os vestidos sedutores e os ornamentos aplicados<br />
para atrair a atenção.<br />
Tertuliano reconhecia que os homens não estão excluídos das<br />
"ilusórias imposturas" dos vãos enfeites. Menciona especificamente a
Qual a Roupa Certa? 77<br />
prática de alguns homens pagãos '"de arrumar os cabelos e disfarçar as<br />
cãs com tinturas, de remover todos as incipientes penugens do corpo, de<br />
fixar cada cabelo em seu lugar com alguns pigmentos femininos, de polir<br />
o resto do corpo com pó ou outro elemento." (8) Reprovava o desejo dos<br />
homens de "agradar por meio de voluptuosos atrativos" como sendo<br />
"hostis à modéstia, pois onde Deus está a modéstia está, e há sobriedade,<br />
sua auxiliar e aliada." (9).<br />
Advertências de Clemente Contra o Embelezamento do Corpo<br />
Semelhantes denúncias contra vestidos e ornamentos extravagantes<br />
foram encontradas os escritos de Clemente de Alexandria (150-215 A.D.),<br />
um contemporâneo de Tertuliano, que comandou a escola catequética de<br />
Alexandria desde 190 a 202. Em seu tratado O Instrutor, Clemente chega<br />
a descrever detalhadamente os luxuosos vestidos, as sandálias com<br />
ornamentos dourados, os estilos de cabelo trabalhado, e os inúmeros<br />
ornamentos usados pelas mulheres. Ele listou os enfeites femininos,<br />
como citados no catálogo de um satírico grego: "fitas de cabelo, filetes,<br />
natrão [carbonato de sódio natural], aço, pedra-pomes, faixas, véus,<br />
pinturas, laços de pescoço, pintura nos olhos... pendentes de orelhas,<br />
jóias, brincos; cachos de malva colorida atados aos tornozelos, fivelas,<br />
broches, colares, pulseiras, selos, correntes, anéis, pó-de-arroz,<br />
ornamentos em alto relevo, pedras de sárdio e leques." (10)<br />
Clemente admirava-se: "como podiam elas transportar tal carga,<br />
não estavam preocupadas em morrer. Ó, tolo infortúnio! Ó parva<br />
demência! Desses profetizou o Espírito através de Sofonias: 'Nem a sua<br />
prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor.'<br />
Mas para aquelas mulheres que têm sido preparadas por Cristo, é<br />
conveniente adornarem-se não com ouro, mas com a Palavra, através da<br />
qual apenas o ouro vem à luz." (11)<br />
De acordo com Clemente, os cristãos não devem dizer: "Eu possuo<br />
e possuo em abundância; por que então eu não poderia usufruir dela?",
Qual a Roupa Certa? 78<br />
mas antes dizer: "Eu tenho: por que eu não poderia dar àqueles que<br />
necessitam?" (12) Continuando, ele expôs o princípio da mordomia '"É<br />
monstruoso para alguém viver em luxo, enquanto muitos estão em<br />
necessidade. Quão mais glorioso é fazer o bem a muitos, viver na<br />
suntuosidade! Quão mais sábio seria gastar o dinheiro humanos do que<br />
em jóias e ouro! Quanto mais útil é adquirir ' dignos do que ornamentos<br />
sem vida!" (13)<br />
A exemplo de Tertuliano, Clemente também advertiu contra a<br />
prática pagã do embelezamento masculino dos corpos, assim como as<br />
mulheres faziam, utilizando-se de servos para massagear seu corpo,<br />
arrancando os cabelos massa de breu, e vestindo-se de trajes finos e<br />
transparentes." que recendem perfume. Ele admoestou os homens a<br />
evitarem essas vaidades e exibir a beleza real, que vem não de retirar os<br />
cabelos, mas a lascívia. "Nosso chamado cristão", disse Clemente, "é<br />
lançar fora o velho homem (não o homem grisalho, encanecido)<br />
corrompido por sua ilusória luxúria, e ser renovado (não por tinturas e<br />
ornamentos), mas em sua mente; revestindo-se do novo homem, que é<br />
segundo Deus, criado em justiça e verdadeira santidade." (14)<br />
A Exortação de Cipriano à Modéstia<br />
Semelhantes exortações são encontradas nos escritos de Cipriano<br />
(morto em 258 A.D.), bispo de Cartago. Em seu pequeno tratado Sobre<br />
as Vestes das Virgens, ele exortou as mulheres a serem modestas em sua<br />
aparência. Ele sustentava que uma mulher imodesta não pode afirmar<br />
que pertence a Cristo. "Vestindo-se de seda e púrpura, elas não podem<br />
revestir-se de Cristo; adornadas com ouro, pérolas e colares, perderam o<br />
ornamentos do coração e do espírito." (15)<br />
Cipriano apelava às mulheres como um pai, dizendo: "Permitam<br />
que sua face permaneça incorrupta, seu pescoço sem adornos, sua figura<br />
simples; não deixem fazer perfurações nas orelhas, nem que correntes de<br />
braceletes e colares cinjam seus braços ou pescoço; deixem seus pés
Qual a Roupa Certa? 79<br />
livres de faixas douradas e os cabelos não tingidos. Os olhos,<br />
merecedores de contemplar a Deus." (16)<br />
Essas exortações revelam que muitos cristãos no segundo e terceiro<br />
séculos eram influenciados pelas extravagantes e impudentes modas de<br />
seu tempo, a despeito dos constantes apelos dos líderes da igreja com<br />
respeito à modéstia e sobriedade em sua aparência. O mesmo é verdade<br />
em nosso tempo. Muitos cristãos seguem de perto os ditames da moda<br />
despojada da mínima modéstia, mais do que as diretrizes bíblicas de<br />
modéstia decência e sobriedade.<br />
A conformidade de muitos cristãos com as modas mundanas de seu<br />
tempo não obscureceria o fato de alguns cristãos terem a coragem de<br />
rejeitá-las, trajando-se de acordo com os princípios bíblicos de modéstia<br />
e decência. Os pagãos notaram a maneira simples dos cristãos se<br />
vestirem. De fato, lemos em A Paixão de Perpétua e Felicitas, que<br />
Perpétua e outras recém-batizadas mulheres foram forçadas a vestir<br />
trajes e usar ornamentos pagãos antes de sua execução na arena de<br />
Cartago, Norte da África, em 7 de março de 203. (17) Presumivelmente,<br />
por esse ato os pagãos desejam zombar da modéstia cristã.<br />
Os Decididos Apelos de Crisóstomo à Modéstia<br />
O quarto século abriu um novo capítulo na história do cristianismo.<br />
O Edito de Milão, emitido em 313 pelo "recém-convertido" imperador<br />
Constantino, pôs fim à era de perseguição e inaugurou em seu lugar uma<br />
época de proteção imperial e prosperidade financeira para a igreja.<br />
Repentinamente, milhões de pagãos clamavam por entrar na igreja,<br />
enquanto ainda mantinham seu estilo de vida pagão.<br />
Alguém poderá sentir a enormidade dos problemas, ao ler os<br />
sermões dos líderes da igreja de então. Por exemplo, João Crisóstomo,<br />
conhecido como o grande pregador da igreja primitiva, fez várias séries<br />
de sermões entre os anos 386 e 403 nas nominalmente cidades cristãs de<br />
Antioquia e Constantinopla. Nesses sermões, Crisóstomo freqüentemente
Qual a Roupa Certa? 80<br />
apelava a homens e mulheres para vestirem-se modesta e sobriamente,<br />
evitando custosas vestes e ornamentos. (18)<br />
Em um sermão sobre Hebreus 11:37 e 38, Crisóstomo, reconhecido<br />
por suas ilustrações práticas, fez um apelo à modéstia cristã, ao comparar<br />
o vestuário cristão com o pagão, através de dois diferentes elencos de<br />
dores representando em dois teatros distintos. "Àquelas, no palco, essas<br />
coisas (vestidos extravagantes e jóias) estão adaptadas, porque tais<br />
adornos lhes pertencem, e às prostitutas, àquelas que fazem tudo para<br />
serem vistas. Deixem essa beleza a elas mesmas, que estão sobre o palco<br />
ou plataforma de danças. Pois desejam atrair todos a si. Mas a mulher<br />
que professa piedade não deve embelezar-se assim, mas de modo<br />
diferente. Você tem um meio muito melhor de ser bela. Você também é<br />
um teatro belo em si mesmo. Vista-o com esses ornamentos. Que platéia<br />
o contempla? O Céu, os anjos. Falo não de virgens apenas, mas também<br />
no mundo. Todos os que crêem em Cristo têm esse teatro. Falemos tais<br />
coisas para que possamos agradar aos espectadores. Use vestes que<br />
possam agradá-los." (19)<br />
Crisóstomo deve ter estado aflito pelos extravagantes vestidos e de<br />
alguns membros de suas congregações, porque em seu sermão sobre I<br />
Timóteo 2:9 e 10, ele desceu a detalhes ao expor o uso ouro, pérolas,<br />
custosos adornos, pintura do rosto e dos olhos, e os estilos de penteados<br />
que as mulheres usavam para fazerem-se belas. Então perguntou: "Por<br />
que vocês não usam os ornamentos que O agradam: modéstia, castidade,<br />
ordem e vestuário sóbrio? O que estão trajando é meretrício e<br />
vergonhoso. Não mais podemos distinguir entre prostitutas e virgens, tal<br />
o avanço da indecência. As vestes de uma virgem não deveria ser<br />
estudado, mas simples, sem muita elaboração, mas agora esses têm<br />
muitos artifícios para torná-los notáveis. Ó, mulher, acabe com essa<br />
estultícia. Transfira tanto cuidado para sua alma, para o adorno interior.<br />
Pois os ornamentos exteriores que a cobrem, não podem torná-la bela<br />
interiormente." (20)
Qual a Roupa Certa? 81<br />
Crisóstomo destaca-se por sua coragem em denunciar a ostentação<br />
e a extravagância dos ricos e poderosos, incluindo a imperatriz Eudóxia,<br />
conhecida por sua escandalosa exibição pública de ornamentos e<br />
suntuosos vestidos. Incapaz de silenciar essas denúncias por causa das<br />
especiais garantias dadas à igreja, Eudóxia fez-lhe ridículas acusações e<br />
Crisóstomo foi condenado ao banimento em 403.<br />
A história de Crisóstomo nos lembra que pode ser custoso ao<br />
pregador ou escritor denunciar os ornamentos e os vestidos extravagantes,<br />
uma vez que tais pregações ou escritos atingem o que algumas pessoas<br />
mais apreciam: a vaidade e o orgulho.<br />
Regras das Constituições Apostólicas Sobre Modéstia<br />
Denúncias sobre a imodéstia no trajar-se aparecem também nos<br />
escritos de outros líderes da igreja como Cirilo de Jerusalém e Basil de<br />
Cesaréia. (21) Por causa da brevidade do espaço, mencionaremos apenas<br />
um documento adicional, sem título, do quarto século, extraído de uma<br />
coleção de leis eclesiásticas datadas da última parte do quarto século, e<br />
conhecidas como "As Constituições Apostólicas". Nelas encontramos<br />
diretrizes sobre o vestuário de homens e mulheres. As regras para os<br />
homens incluem o seguinte: "Não é permitido que os cabelos sejam<br />
longos, mas antes sejam cortados curtos... Tampouco vestirão finos trajes<br />
para a sedução de quem quer que seja. Nem farão, com malévola astúcia, o<br />
uso de meias e sapatos finos, mas apenas os usarão na medida da decência e<br />
utilidade. Nenhum porá um anel de ouro em seus dedos, pois todos esses<br />
ornamentos são sinais de sensualidade, que se você nutrir ansiedade a seu<br />
respeito, não estará agindo com um homem piedoso." (22)<br />
É digno de nota que os homens são apreciados não por usarem anéis<br />
dourados em seus dedos. Em vista do fato de que nos primitivos<br />
documentos, como veremos no capítulo seis, aos cristãos era permitido<br />
usar o anel de casamento, essa proibição sugere que nesse tempo a
Qual a Roupa Certa? 82<br />
aliança abrira caminho para o uso de anéis ornamentais e,<br />
consequentemente, seu uso fora proscrito.<br />
As mulheres eram instruídas a serem fiéis a seus maridos, evitando<br />
vestidos sedutores e ornamentos. "Se você deseja ser uma das fiéis, e<br />
agradar ao Senhor, ó esposa, não adicionando enfeites para sua beleza,<br />
de forma a agradar outros homens; nem gostar de se vestir com finos<br />
adornos, trajes ou calçados para atrair a outros que são fascinados por vis<br />
coisas... Não pintar seu rosto que é obra de Deus; pois não há parte em<br />
seu corpo que necessite de adornos, porquanto todas as coisas que Deus<br />
fez são muito boas. Mas o enfeite suplementar lascivo do que já é bom, é<br />
uma afronta à bondade do Criador." (23)<br />
Os testemunhos citados envolvendo os primeiros quatro séculos<br />
revelam uma consistente preocupação por parte dos líderes da igreja,<br />
para encorajar os crentes a resistir à pressão da conformidade com as<br />
indecentes modas de seu tempo. Não era fácil em meio a uma sociedade<br />
pagã sustentar o estandarte da modéstia e decência cristã nos vestidos e<br />
ornamentos. Assim também não é fácil hoje suster esse estandarte, em<br />
nossa sociedade hedonista onde a modéstia está por fora e a exposição<br />
do corpo por dentro. As boas-novas do Evangelho é que podemos fazer<br />
isso através de Cristo que nos fortalece (Filipenses 4:13).<br />
Segunda Parte: Trajes e Ornamentos na Idade Média<br />
Com a ocupação da Europa Ocidental pelas tribos germânicas, a<br />
cultura romana foi submergida ou destruída. O período que vai do quinto<br />
ao décimo século é quase um vácuo total: até o conhecimento das vestes<br />
e ornamentos cristãos foi afetado. Dois significativos desenvolvimentos<br />
destacam-se nesse período. Primeiro, as vestes do clero tomaram-se<br />
diferentes daquelas dos leigos. Segundo, a extravagância no vestir e em<br />
ornamentar-se tornou-se um problema do clero e dos nobres, antes que<br />
dos cristãos comuns. Os últimos eram geralmente muito pobres para<br />
satisfazerem-se com custosas vestes e ornamentos.
Qual a Roupa Certa? 83<br />
Durante os primeiros cinco séculos da era cristã, os vestidos do<br />
clero não eram diferentes daqueles do laicato. Uma importante razão foi<br />
a natureza democrática do cristianismo primitivo, no qual não havia<br />
distinção de classes entre clero e laicato. Mas, no sexto século as vestes<br />
civis do clero automaticamente tornaram-se diferentes dos demais<br />
cristãos. A razão é que enquanto adotava uma túnica curta, calças e o<br />
manto igual ao dos invasores teutônicos, o clero usava uma túnica longa<br />
e a toga ou pálio dos romanos.<br />
Gregório, o Grande (590-604), não permitia que qualquer pessoa<br />
que lhe estivesse ao redor se vestisse no estilo "bárbaro". Ele desejava<br />
que sua corte se vestisse com o garbo da antiga Roma. A partir do sexto<br />
século, encontramos cânones proibindo ao clero trajar-se com vestes<br />
seculares ou comuns. Alguns têm buscado derivar o traje sacerdotal das<br />
vestes usados pelos sacerdotes do Velho Testamento, mas, mesmo a<br />
Enciclopédia Católica reconhece que: '"eles antes a desenvolveram a<br />
partir das vestimentas comuns do mundo greco-romano." (24)<br />
A evolução dos trajes sacerdotais refletem o desenvolvimento do<br />
poder sacramental dos sacerdotes no altar. O ensino de que o sacerdote,<br />
na missa, transforma os elementos da Ceia do Senhor nos reais corpo e<br />
sangue de Cristo, deu-lhe poder sobrenatural e prestígio. Ao colocar as<br />
vestes litúrgicas para a celebração da missa, o sacerdote é capaz de<br />
impressionar a congregação com seu alegado divino poder. "Com as<br />
vestimentas o sacerdote recebe o 'caráter' da Divindade. Pela troca de<br />
vestidos ele multiplica a divina força enquanto exibe seus diferentes<br />
aspectos." (25) Em essência, então, as vestes litúrgicas exaltam a<br />
superioridade do sacerdote aos olhos de sua congregação.<br />
Extravagâncias Clericais<br />
O uso de vestimentas litúrgicas para permitir que os sacerdotes<br />
projetassem uma aura de divindade pode muito bem ter contribuído para<br />
sua extravagante exibição de ornamentos e trajes dispendiosos. Se o
Qual a Roupa Certa? 84<br />
sacerdote está vestido com vestes caras, adornadas com ouro e pedras<br />
preciosas no altar, porque não poderia tal luxo ser usado nas ruas? Essa<br />
nova tendência nos ajuda a compreender por que desde o sexto século<br />
em diante as admoestações pró-modéstia no vestuário e nos ornamentos<br />
são dirigidas mais aos clérigos do que aos leigos.<br />
Em outras palavras, enquanto nos primeiros cinco séculos o clero<br />
advertia aos leigos quanto a vestir-se modestamente, a partir do sexto<br />
século a classe clerical é amiúde exortada a ser modesta em sua<br />
aparência. O Dicionário de Antigüidades Cristãs destaca que o segundo<br />
Concílio de Nicéia, em 787 A.D., condena (Cânon 15) bispos e clérigos<br />
que se destacam pela riqueza e brilhantes cores de suas vestes. Assim,<br />
Tarásio, patriarca de Constantinopla (morto em 806), ordenou a seu clero<br />
que se abstivessem de suas faixas douradas e dos ornamentos brilhantes<br />
com seda e púrpura, prescrevendo-lhe faixas de pêlo de cabra e túnicas<br />
decentes. O Concílio de Aix, em 816, investiu contra os ornamentos<br />
pessoais e o esplendor das vestes dos sacerdotes, e exortou-os a não<br />
serem esplendorosos nem desmazelados." (26)<br />
Para se ter uma idéia da extravagância das vestes clericais, alguém<br />
apenas precisa olhar alguns manuscritos da Idade Média, onde os<br />
sacerdotes vestiam-se de trajes confeccionados com ouro, jóias e<br />
custosas peles. Em seu livro, Vestidos Históricos do Clero, Geo Tyack<br />
escreveu: "O número e a magnificência das capas (vestimentas clericais)<br />
acumuladas nas catedrais e nas igrejas das grandes abadias da Inglaterra,<br />
na Idade Média, é quase inacreditável. Em Canterbury, em 1315, havia<br />
mais de sessenta capas em uso regular. Em Exeter, no ano de 1327,<br />
contavam setenta e quatro. Muitas delas eram de ouro... Conrad, abade<br />
de Canterbury, doou à catedral, em 1108, uma magnificente capa<br />
bordada em ouro, e tendo orlas com cento e quarenta sinetas de prata." (27)<br />
O que foi verdade acerca da Inglaterra, também o era para o resto<br />
da Europa Ocidental. Uma visita ao Museu Tesori Vaticani (Tesouros do<br />
Vaticano) pode ser uma visão esclarecedora para qualquer que nunca<br />
tenha visto uma inestimável coleção de vestes sacerdotais bordadas em
Qual a Roupa Certa? 85<br />
ouro e cobertas de jóias. Enquanto que o povo comum vivia em pobreza<br />
e vestia trajes grosseiros, o clero tinha vida principesca, e satisfazia-se<br />
com jóias e trajes de luxo. Se a vestimenta que usamos é indicativa de<br />
nosso caráter, então as luxuosas e extravagantes vestes e ornamentos do<br />
clero medieval, dão-nos uma boa indicação de sua apostasia.<br />
No curso desta pesquisa histórica, teremos ocasião de ver outros<br />
onde o reavivamento espiritual ou o declínio da igreja é refletido na<br />
reforma do vestuário ou na extravagância de seus membros.<br />
As Novas Extravagâncias da Classe Média<br />
A situação econômico-social começou a mudar no décimo primeiro<br />
com as Cruzadas, que fracassaram em recapturar a Terra Santa mas<br />
conseguiram abater o sistema feudal e rotas comerciais para o exterior. O<br />
resultado foi o surgimento de nova classe social composta de mercadores<br />
e artesãos, que muito tornaram-se ricos. Até então havia duas classes<br />
sociais, a composta de nobres e do clero, e os pobres, feita das demais<br />
cidades. A nova classe de "príncipes-mercadores" estava ansiosa de<br />
provar sua nobreza através das posses e bens, uma vez que não poderia<br />
fazê-lo por linhagem sangüínea. Eles adotaram o luxuoso estilo de vida<br />
dos nobres, que incluía extravagância no vestir e se ornar.<br />
Em seu livro A Itália do Terceiro Século, Charles Sedwick descreve<br />
essa extravagância nos vestidos. "Mulheres da moda vestiam-se de finas<br />
linhas, seda e brocados, brincos de prata e ouro, jóias de todos os tipos,<br />
adornos e berloques. Suas túnicas eram decotadas, para escândalo das<br />
pessoas mais austeras; usavam cabelos falsos, pintavam-se e se<br />
empoavam até o grau mais deplorável.<br />
Elas se cingiam e apertavam de forma a tornar sua silhueta mais<br />
esbelta." (28) Com poucas mudanças, essa poderia ser uma acurada<br />
descrição das mulheres amantes da moda de nossos dias.
Qual a Roupa Certa? 86<br />
Leis Suntuárias<br />
A extravagância tornou-se tão universal e a cerca de proteção da<br />
igreja contra a desordenada exibição tão audaz, que certas leis, chamadas<br />
suntuárias, foram decretadas nos países europeus e nas colônias da Nova<br />
Inglaterra, para refrear a exibição ostensiva da nova classe de ricos. (29)<br />
Essas leis regulavam a aparência pessoal ditando a espécie de vestes e<br />
ornamentos que o povo deveria pôr. Penalidades foram impostas pelo<br />
Estado ou igreja. A igreja exercia poderoso controle sobre a<br />
extravagância, porque estava intrincadamente envolvida com os casos do<br />
Estado, e com a vida diária das pessoas.<br />
O paradoxo das leis suntuárias católico-romanas é que elas eram<br />
promulgadas pelos líderes da igreja que eram os próprios suntuosos e<br />
extravagantes em vestes e ornamentos. A primeira preocupação da igreja<br />
não era sustentar os princípios bíblicos de modéstia no vestir, mas<br />
manter a distinção de classes. (30) O apoio da igreja para a classe<br />
hierárquica como aquela que ditava as regras, resultou em freqüentes<br />
conflitos entre revolucionários e a igreja.<br />
Terceira Parte: Trajes e Ornamentos<br />
Desde a Reforma Até Hoje<br />
A Reforma promoveu mudanças radicais não apenas na<br />
compreensão teológica da salvação, como também no estilo de vida<br />
prático das pessoas. Os reformadores denunciavam a ostentação da<br />
Igreja Católica, e sensibilizavam a consciência do povo com respeito às<br />
regras bíblicas de modéstia e simplicidade. Eles criam que vestes e<br />
ornamentos extravagantes conduziam aos pecados do orgulho e da<br />
sensualidade, enquanto a modéstia e revelava humildade e pureza. (31)<br />
Calvino escreveu: "Os vestidos deveriam ser regulados pela<br />
modéstia e sobriedade, pois luxo e gastos imoderados surgem do desejo<br />
de exibir-se, quer por causa do orgulho, quer pelo abandono da
Qual a Roupa Certa? 87<br />
castidade." (32) Calvino cria que a solução do problema da imodéstia no<br />
vestir estava não em promulgar legislação, mas em desenvolver uma<br />
disposição humilde, porque "onde reina a ambição interior, não haverá<br />
modéstia no traje exterior." (33)<br />
Os ensinos de Calvino indubitavelmente influenciaram as leis<br />
suntuárias, que foram promulgadas em várias cidades suíças. No livro de<br />
sua autoria, Costume e Conduta nas Leis de Basiléia, Berna e Zurique,<br />
John M. Vincent mostrou uma esclarecedora pesquisa de tais leis. Por<br />
exemplo, uma ordenança da Basiléia, em 1637, detalhava em<br />
aproximadamente vinte páginas, os tipos de vestes e ornamentos que<br />
iram proibidos ou permitidos.<br />
"Mulheres de todas as classes estão evitando ouro e bordaduras<br />
douradas, enfeites de passamanaria, cordões, laços, bordaduras, ouro,<br />
prata, ou pedras preciosas, em qualquer parte de sua roupa, coletes,<br />
adornos, faixas, sapatos luxuosos, sandálias ricas, florões (adornos de<br />
cabeça), ligas, fitas e assim por diante... Nestes tempos turbulentos,<br />
homens e mulheres devem evitar colares de pérolas, ou ostentar<br />
abertamente correntes de ouro, colares ou braceletes. Trajes<br />
ornamentados com pérolas tais como golas, blusas e camisas, lenços,<br />
guardanapos, enfeites nos cabelos, botões pendentes, lenços de pescoço,<br />
não devem ser usados." (34)<br />
Ordens como essas eram comuns em quase toda a Europa. Para<br />
compreender como o povo pôde aceitar a interferência da igreja e do<br />
vida privada, devemos lembrar que tanto a igreja como o governo eram<br />
olhados e aceitos como instituições paternalistas, unidas pelo bem-estar<br />
da população. Seja o que for que possamos pensar da igreja e do governo<br />
para legislar e interferir na vida das pessoas, o fato é que essas leis<br />
revelavam respeito pelos princípios bíblicos de modéstia no trajar e uma<br />
preocupação em auxiliar o povo a viver de acordo com eles.
Qual a Roupa Certa? 88<br />
Os Anabatistas e o Vestuário Modesto<br />
O movimento reformador iniciado por Lutero, Calvino e Zwínglio<br />
teve seu passo facilitado pelos anabatistas, que foram os precursores dos<br />
menonitas, batistas, huteritas, irmãos e amish (ramo menonita fundado<br />
por Jacob Ammann). Seu objetivo era reconquistar o estilo de vida<br />
simples do cristianismo apostólico. Eles criam que não era suficiente<br />
reformar as bases teológicas da igreja, por limpá-las das heresias<br />
contrárias às Escrituras. Era necessário também reformar a igreja no que<br />
dizia respeito aos negligenciados mandamentos no Novo Testamento.<br />
Entre esses eles encontraram o mandamento de trajar-se modestamente e<br />
evitar ornamentos ostensivos.<br />
Menno Simons, o grande líder holandês dos anabatistas, que viveu<br />
no século dezesseis, escreveu repetidas vezes sobre a necessidade de<br />
praticar a simplicidade de vida, em especial acerca de vestuário e<br />
ornamentos. Ao descrever aqueles que não adotaram seriamente o ideal<br />
neotestamentário de simplicidade, registrou: "Eles dizem que crêem mas<br />
não têm limites nem fronteiras à sua amaldiçoada altivez, tolo orgulho e<br />
pompa; exibem seda, veludo, roupas caras, anéis de ouro, correntes,<br />
cintos de prata, alfinetes e broches, blusas curiosamente enfeitadas,<br />
xales, colares, véus, aventais, calçados de veludo, chinelas e semelhantes<br />
decorações tolas." (35)<br />
Esses comentários devem ser entendidos não somente em relação<br />
aos princípios bíblicos de modéstia, como também no contexto dos<br />
extravagantes trajes e ornamentos das classes ricas. Assim foi a época da<br />
Renascença, caracterizada por um estilo de vida exibicionista em<br />
vestimentas e ornamentos. Os anabatistas foram encarregados de manter<br />
o ideal bíblico de modéstia e simplicidade no vestuário. Esse encargo<br />
tem sido preservado até os nossos dias entre os seus descendentes,<br />
chamados menonitas.<br />
Em seu esplêndido estudo, Trajes Menonitas Através de Quatro<br />
Séculos, Melvin Gingerich mostrou como a fidelidade aos ensinos
Qual a Roupa Certa? 89<br />
bíblicos e tradição cristã de modéstia e simplicidade tem capacitado os<br />
menonitas a manter sua identidade e missão. Ele encerrou seu litro<br />
destacando que "o conceito de simplicidade ainda está presente entre os<br />
menonitas da Europa e da América... Se eles permanecerem fiéis à sua<br />
herança, continuarão a sustentar esse princípio de que toda a vida,<br />
incluindo sua expressão acerca da espécie de trajes a usar, deve ser<br />
levada sob o escrutínio dos padrões do Novo Testamento referentes à<br />
humildade, mordomia, modéstia e simplicidade." (36)<br />
A Lição dos Menonitas<br />
Por causa da exatidão, devemos notar que a pressão da<br />
conformidade cultural tem sido sentida mesmo entre os menonitas. John<br />
C. Wenger, um respeitado historiador menonita, observou que nem todos<br />
os grupos de menonitas têm sido capazes de manter uma atitude nãoconformista<br />
diante das modas e costumes mundanos. Na Europa e na<br />
América do Norte, há grupos de menonitas chamados "progressistas",<br />
que gradualmente estão perdendo o senso de inconformidade perante o<br />
mundo.<br />
De acordo com Wenger, dentro de tais grupos, muito do vigor<br />
interno desapareceu como resultado do processo de conformidade<br />
cultural, especialmente nas áreas de vestuário e uso de jóias. "Eles têm<br />
permitido que o processo de acomodação cultural siga avante com<br />
pequena ou nenhuma resistência, sinceramente crendo que o cristianismo<br />
não consiste em formas exteriores; no entanto têm amiúde aprendido a<br />
subestimar o poder da sociedade contemporânea para moldar os<br />
membros da irmandade segundo os mesmos tipos de caráter, crença e<br />
prática correntes na América em geral. Isso tem resultado na perda do<br />
senso da singularidade da missão, bem como de parcial submissão das<br />
doutrinas básicas no menonismo... Eles tendem a tornar-se mais<br />
semelhantes aos protestantes americanos, do que historicamente aos<br />
menonitas como têm sido sempre." (37)
Qual a Roupa Certa? 90<br />
A perda da identidade e missão que os "progressistas" menonitas<br />
têm experimentado, como resultado de seu relaxamento dos padrões<br />
cristãos, especialmente na área de vestuário e ornamentos, constitui uma<br />
advertência para todas as igrejas quanto a experimentar a acomodação<br />
cultural.<br />
Para trocar tudo isso em miúdos, o que tem acontecido com os<br />
"progressistas" menonitas pode ocorrer com os "progressistas"<br />
adventistas ou qualquer outro grupo religioso. A sobrevivência de nossa<br />
identidade e missão é grandemente dependente da maneira como<br />
vivemos nossas crenças distintivas. Isso ocorre porque nós as praticamos<br />
como um modo de reforçar aquilo que cremos. Quando indivíduos ou<br />
igrejas tornam-se permissivos no uso de jóias e vestidos imodestos, eles<br />
também tendem a tornar relativas a validade e relevância dos princípios<br />
bíblicos que governam essa área e, em última análise, dispõem de muito<br />
pouco para afirmar sua identidade.<br />
Vestidos e Ornamentos na América Colonial<br />
O movimento reformatório iniciado com Lutero e Calvino<br />
progrediu não apenas com os anabatistas como também com os puritanos<br />
e pietistas. Os puritanos buscaram purificar a igreja da Inglaterra<br />
seguindo as linhas da reforma calvinista em Genebra. Seu "programa de<br />
purificação" era semelhante àquele dos anabatistas, no sentido da<br />
oposição aos aspectos papais da adoração, tais como pomposas<br />
vestimentas, cruzes e estátuas, pregando ainda um estilo de vida sóbrio,<br />
evitando luxos e ornamentos exteriores. Alguns deles imigraram para a<br />
América, esperando poder seguir mais estritamente as práticas do Novo<br />
Testamento, sem a incômoda interferência do governo inglês. Da<br />
tradição puritana surgiram grandes pregadores como Jonathan Edwards e<br />
George Whitefield, que tiveram destacado papel do Grande<br />
Despertamento.
Qual a Roupa Certa? 91<br />
O pietismo derivou da tradição luterana alemã, como reação ao<br />
dogmatismo luterano desprovido de vida. O objetivo do movimento era<br />
proporcionar nova vida ao luteranismo, levando os cristãos a uma<br />
experiência de salvação através da devoção pessoal, estudo da Bíblia,<br />
oração e um estilo de vida simples. O pietismo causou tremendo impacto<br />
espiritual sobre milhares de cristãos na Europa, unindo-os em pequenos<br />
grupos devocionais de estudo da Bíblia e oração. Em 24 de maio de 1738,<br />
John Wesley assistiu a um desses encontros na Rua Aldersgate, onde seu<br />
"coração foi estranhamente aquecido" e sua vida radicalmente mudada.<br />
Muitos pietistas, como os puritanos, vieram para a América e<br />
fixaram-se nas colônias da Nova Inglaterra. Eles trouxeram consigo suas<br />
convicções religiosas que incluíam modéstia e simplicidade no vestuário.<br />
Leigh Eric Schmidt pesquisou os papéis que as vestes desempenhavam<br />
na vida social e religiosa da América colonial. "Os trajes, na América<br />
primitiva, auxiliaram as ordens religiosa e social; eles contribuíram para<br />
a noção de autoridade, hierarquia, comunidade e gênero. Ao mesmo<br />
tempo, as vestimentas evocavam os significados espirituais e teológicos<br />
dentro da cultura religiosa da América de então. Imagens do sábado, do<br />
ritual, do pecado, das boas obras, da pureza, escatologia e redenção, tudo<br />
era tornado vivo através das roupas." (38)<br />
O impacto da reforma do vestuário na América colonial foi tal que a<br />
Pennsylvania, por exemplo, tornou-se conhecida como "o Estado Livre".<br />
Melvin Gingerich notou que "durante os anos recentes milhares de<br />
turistas americanos têm visitado o condado de Lancaster, na<br />
Pennsylvania, para observar a vida desse segmento do 'Povo Livre' da<br />
América. Possivelmente muitos têm voltado a New York e outras<br />
cidades apenas com uma superficial compreensão do porquê desses<br />
cidadãos, cujos ancestrais já estão radicados neste país por mais de dois<br />
séculos, não terem sido completamente absorvidos pela cultura de seu<br />
tempo, mas, em lugar, têm mantido suas vestimentas simples e estilo de<br />
vida singular." (39)
Qual a Roupa Certa? 92<br />
As Seis Razões de Wesley Para a Modéstia<br />
John Wesley salientou-se dentre os muitos pietistas e puritanos que<br />
fizeram da questão dos trajes extravagantes e dos adornos, um assunto<br />
moral premente. Seus ensinos claros e persuasivos sobre vestuário<br />
serviram de base para a política dos primeiros metodistas americanos<br />
sobre o assunto. De fato, esses ensinamentos tiveram considerável<br />
influência sobre a reforma do vestuário adotada pelos adventistas do<br />
sétimo dia. Muitos de nossos pioneiros, incluindo Ellen G. White,<br />
procederam dessa experiência metodista.<br />
Os primeiros adventistas respeitaram muito os ensinos de Wesley<br />
sobre vestidos e adornos. Isso está indicado, por exemplo, na publicação<br />
do artigo "Conselhos do Sr. Wesley Sobre Vestuário Ao Povo Chamado<br />
Metodista", em 10 de julho de 1855, na Review and Herald, o órgão<br />
oficial da Igreja Adventista. Nessa matéria, Wesley apela aos metodistas<br />
para observarem naturalidade e asseio no vestir, evitando ouro, pérolas<br />
ou custosos adornos.<br />
Em um sermão intitulado "Sobre o Vestuário", feito em 30 de<br />
dezembro de 1786, John Wesley apresentou seis razões específicas por<br />
que os cristãos metodistas não deveriam enfeitar-se "com ouro, pérolas<br />
ou dispendiosos arranjos". (40) Apresentarei de modo sumário essas<br />
razões, porque ainda são relevantes para nós hoje.<br />
A primeira razão de Wesley é que o vestir trajes luxuosos e<br />
ornamentos "cria orgulho, e onde ele já está, tende a aumentar... Nada é<br />
natural do que pensar mais em nós mesmos porque estamos com roupas<br />
melhores." Ele ilustra esse ponto, desatacando o fato de que milhares de<br />
pessoas na Inglaterra, não apenas os lordes, como também honestos<br />
comerciantes, inferem "o elevado valor de suas pessoas pelo valor de<br />
suas vestes". (41)<br />
A segunda razão é que "os trajes dispendiosos tendem a originar e<br />
aumentar a vaidade. Por vaidade entendo o amor e o desejo ser<br />
admirado e louvado... Quanto mais você condescende com esse tolo
Qual a Roupa Certa? 93<br />
desejo, mais ele cresce em você. Você tem vaidade suficiente por<br />
natureza, mas, condescendendo assim com ela, multiplica-a<br />
centuplicadamente. Oh, parem ! Visem apenas agradar a Deus e todos<br />
esses ornamentos desaparecerão." (42)<br />
A terceira razão é que "'custosos adornos tendem naturalmente a<br />
produzir irritação e toda paixão turbulenta e agitada. E é em sua<br />
verdadeira conta que o apóstolo coloca 'o adorno exterior' em direta<br />
oposição ao 'ornamento de um espírito manso e quieto'. Por irritação<br />
Wesley quer dizer tensão interior, pois ele explica que o adorno exterior<br />
torna impossível experimentar a quietude interior de espírito." (43)<br />
A quarta razão é que "ornamentos dispendiosos tendem a criar e<br />
excitar a concupiscência. Aparentemente, Wesley está pensando sobre<br />
vestidos imodestos, os quais podem inflamar as baixas paixões. "Acendese<br />
o fogo que ao mesmo tempo consome você e seus admiradores." (44)<br />
A quinta razão pode ser chamada de mordomia irresponsável. O<br />
dinheiro gasto para comprar custosos adornos não pode ser usado para<br />
ornamentar-se de boas obras como vestir o nu. A aqueles que afirmam:<br />
"Eu posso ser humilde num vestido de ouro ou de pano de saco", Wesley<br />
contra-argumenta: "Se você pudesse ser humilde ao escolher um custoso<br />
ou simples vestuário (o que eu nego prontamente), não poderia estar<br />
sendo beneficente, como abundante em boas obras. Cada centavo que<br />
você poupa em seu próprio vestuário, pode gastá-lo em vestir o nu e<br />
aliviar as variadas necessidades dos pobres." (45) Wesley aprofundou-se<br />
mais nessa razão do que em outras, presumivelmente porque reconhecia<br />
a importância da mordomia cristã, a qual é negada pelo estranho gasto de<br />
dinheiro para adornos pessoais. Àqueles que afirmavam: "Mas eu posso<br />
arcar com isso tudo", Wesley respondia: "Ó, ponha de lado para sempre<br />
essas frívolas e insensatas palavras! Nenhum cristão tem condições de<br />
esbanjar qualquer parte dos recursos que Deus lhe confiou." (46)<br />
A sexta razão de Wesley é que o adorno exterior debilita<br />
totalmente "a natureza da santidade interior". "Todo o tempo em que<br />
você está concentrado no adorno exterior, a integral obra interior do
Qual a Roupa Certa? 94<br />
Espírito Santo fica paralisada; ou certamente retrocede, embora em<br />
suaves e quase imperceptíveis passos. Em lugar de desenvolver uma<br />
mente espiritual, você mais e mais reforça a mente terrena. Se você uma<br />
vez já teve companheirismo com o Pai e o Filho, ele gradualmente<br />
declina e submerge fundo num espírito mundano, em tolos, danosos<br />
desejos e abjetos apetites. Todos esses males e milhares mais, procedem<br />
de uma raiz: satisfação própria em custosos vestidos." (47)<br />
Wesley é admirável não apenas por sua pregação franca sob o<br />
sensível tema do vestuário, mas também por seu discernimento sobre<br />
como o adorno exterior afeta a obra interna do Espírito Santo. A<br />
influência da poderosa mensagem de Wesley foi sentida não somente na<br />
Inglaterra, como também na América. O próprio Wesley diz-nos que<br />
durante sua breve estada em Savannah, na Georgia, falou a uma<br />
congregação que estava bem adornada com ouro e caras vestimentas,<br />
como aquelas que havia visto em Londres. Mas como resultado de suas<br />
irresistíveis mensagens sobre o evangelho da sinceridade, uma radical<br />
mudança ocorreu. "Todas as vezes que preguei posteriormente em<br />
Savannah, não constatei nenhum ouro nem luxuosos adornos na igreja,<br />
mas a congregação, de um modo geral, estava quase que constantemente<br />
trajada de modo natural, em linho puro ou lã." (48)<br />
Phoebe Palmer Reformadora do Vestuário<br />
A reforma do vestuário teve início com Wesley e continuidade com<br />
Phoebe Palmer (1807-1874). Ela foi uma influente metodista que deu<br />
início a um reavivamento originador de várias das principais<br />
denominações evangélicas de hoje, e pôs a base para a emergência do<br />
moderno pentecostalismo. Um estudo definitivo de sua contribuição para<br />
o cristianismo na América foi lançado recentemente por Charles Edward<br />
White." (49)<br />
Como Wesley, Phoebe Palmer cria que vestimentas e ornamentos<br />
exibicionistas constituem-se um estorvo à santidade. Ela se empenhou na
Qual a Roupa Certa? 95<br />
reforma do vestuário porque cria que vestidos e adornos extravagantes<br />
denunciam um coração dividido e dispêndio inútil de dinheiro. Pregava<br />
que aqueles que usam trajes e ornamentos ilusórios são "amantes dos<br />
prazeres mais do que de Deus" (II Tim. 3:4). Suas vidas revelam que<br />
"eles são amigos do mundo e inimigos de Deus." (Tiago 4:4) (50)<br />
Ela sabia de mulheres cristãs professas que usavam jóias que<br />
custavam acima de mil dólares. Considerava tal dispêndio do dinheiro do<br />
Senhor uma prática pagã." Citando Juízes 8:24, 'Eles usavam brincos de<br />
ouro porque eram ismaelitas', ela disse que todos os que usavam ouro ou<br />
outro tipo de jóia não eram verdadeiros israelitas mas ismaelitas. Eles se<br />
purificavam ao desfazerem-se desses despojos do paganismo<br />
'enterrando-os como a família de Jacó enterrou seus ídolos e brincos em<br />
Siquém.' (Gên. 35:4)" (51) Sua pregação levou a um grande reavivamento<br />
espiritual e contribuiu com a fundação do Movimento Santidade.<br />
O Declínio da Reforma do Vestuário<br />
Desafortunadamente, as contribuições à reforma do vestuário feitas<br />
por reavivalistas como John Wesley e Phoebe Palmer têm sido<br />
grandemente esquecidas. Muitas das igrejas evangélicas que têm suas<br />
raízes nesses pioneiros, não mais defendem os padrões de modéstia no<br />
vestir ensinados por seus fundadores. Não mais observam a aparência<br />
exterior como sendo um importante indicativo do caráter cristão. Tal<br />
mudança de atitude pode ser bem observada ao compararmos os velhos<br />
com os novos manuais de igreja.<br />
A edição de 1856 do As Doutrinas e Disciplina da igreja Episcopal<br />
Metodista, editou numa seção sobre o vestuário, a seguinte questão:<br />
"Deveríamos nós insistir nas regras sobre vestimentas? Resposta: Sem<br />
dúvida. Este não é o tempo para encorajar superfluidade no vestir.<br />
Todavia, exortemos nosso povo para conformarem-se aos preceitos<br />
apostólicos, 'não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou<br />
vestuário dispendioso' (1 Tim. 2:9)" (52).
Qual a Roupa Certa? 96<br />
A mesma afirmação é repetida e ampliada na edição de 1880, do A<br />
Disciplina da Conexão Wesleiana Metodista da América. A sentença<br />
adicional reza: "Todavia, que ninguém seja recebido na igreja até que<br />
tenha deixado de lado o uso de ouro e ornamentos superficiais." (53)<br />
Nenhuma declaração foi encontrada nos manuais dessas igrejas a<br />
partir de 1940. (54) De fato, as seções sobre vestuário encontradas no<br />
século dezenove, foram omitidas nas edições mais recentes dos manuais.<br />
Eu perguntei a alguns ministros metodistas qual a razão para o abandono<br />
da política eclesiástica sobre vestuário e adornos. Eles me disseram que a<br />
omissão reflete um processo de acomodação cultural que afeta não<br />
apenas os metodistas, mas as igrejas cristãs em geral. O resultado dessa<br />
tendência é que mais e mais cristãos hoje adornam seus corpos com<br />
vestidos extravagantes e dispendiosas jóias, sem se dar conta dos<br />
danosos efeitos dessas coisas sobre sua própria espiritualidade interior,<br />
bem como seu testemunho de Cristo para os outros.<br />
A Reforma do Vestuário na Igreja Adventista<br />
O interesse na reforma do vestuário dentro da Igreja Adventista do<br />
Sétimo Dia desenvolveu-se a partir de duas grandes preocupações: a<br />
primeira, o compromisso espiritual com Cristo, e a segunda, a saúde<br />
física. Ellen White, uma das fundadoras da igreja, repetidamente<br />
enfatizou em seus escritos a dupla função das vestes. "No vestir-se,<br />
como em todas as outras coisas mais, é nosso privilégio honrar nosso<br />
Criador. Ele deseja que nossas vestimentas sejam não apenas asseadas e<br />
saudáveis, mas apropriadas e decentes." (55)<br />
Ellen G. White cresceu como uma estrita metodista, crendo que a<br />
aparência exterior é indicativa da condição espiritual interior. Como ela<br />
mesma colocou: "Os vestidos e seus arranjos na pessoa são geralmente<br />
tidos como sendo os identificativos do homem e da mulher. Nós julgamos<br />
o caráter de uma pessoa pelo estilo de vestuário que ela veste." (56)<br />
Quando ela primeiro denunciou o uso de saias-balão, em 1860, sua razão
Qual a Roupa Certa? 97<br />
era que "Deus deseja que sejamos um povo peculiar." (57) Foi após sua<br />
visão sobre saúde, em 1863, que ela começou a associar o tema do<br />
vestuário com saúde.<br />
A necessidade da reforma do vestuário era evidente por si mesma.<br />
As mulheres da moda usavam camadas de saias longas e anáguas,<br />
pesando quase sete quilos. As longas saias arrastavam-se na poeira e<br />
sujeira das ruas e coletando germes que o povo ignorava existirem.<br />
Espartilhos apertados torturavam o diafragma, para imprimir na silhueta<br />
feminina uma cinturinha juvenil, causando freqüentes fraquezas e danos<br />
internos. Para acrescentar afronta aos estragos já feitos, na metade de<br />
1850, um suporte de aço (semelhante a uma grande gaiola) para armar as<br />
saias apareceu, fazendo com que as mulheres americanas ficassem mais<br />
desconfortáveis e imóveis. Uma senhora com esse "equipamento"<br />
necessitava de quatro ou cinco pés (1,22 a 1,51m) de espaço ao redor, e<br />
quando estava sentada em um vagão ferroviário ou em praça pública,,<br />
essa anágua de aço propiciava indecente exposição. A despeito de sua<br />
impraticabilidade e danos à saúde, a anágua era vista como tão feminina,<br />
que uma reforma no caso tornava-se muito difícil.<br />
No início de !861, Ellen White escreveu que as anáguas de aço<br />
eram "uma das abominações da terra, da qual Deus desejava livrar-nos<br />
totalmente." (58) Em 1865, com a ajuda de algumas irmãs em Battle<br />
Creek, Ellen desenhou um estilo de vestido que tencionava manter a<br />
feminilidade da mulher, enquanto libertava os quadris e a cintura das<br />
saias que se arrastavam pelo chão. Esse consistia de calças leves, afiladas<br />
nos tornozelos, para prover aquecimento às pernas. Sobre as calças havia<br />
uma saia cuja barra alcançava a base da barriga da perna, e uma túnica.<br />
Essa era sustida por alças a partir dos ombros, à maneira de<br />
suspensórios, ou abotoada na cintura, eliminando assim anáguas,<br />
espartilhos e faixas apertadas.<br />
Ellen White recomendava essa vestimenta, mas não insistia sobre<br />
ela. Não pretendia que fosse um uniforme, mas um modelo de uma<br />
simples e confortável veste. Muitas adventistas o adotaram, mas outras
Qual a Roupa Certa? 98<br />
opuseram-se a ele, porque elas estavam muito ligadas aos estilos<br />
vigentes. Houve constante controvérsia sobre o exato comprimento do<br />
vestido. Após quatro ou cinco anos, Ellen White reconheceu que a<br />
reforma do vestuário havia-se tornado divisora e estava subtraindo a<br />
atenção de causas mais importantes. Ela desistiu da idéia de promover<br />
qualquer estilo em particular, instando as mulheres adventistas a<br />
"adotarem um vestido simples, de comprimento decente... livre de<br />
desnecessários ornamentos e de laços e fitas sobre as saias." (59)<br />
Os conselhos de Ellen White sobre vestuário são típicos de seu<br />
equilíbrio e da preocupação de fazer tudo para honra de Deus. Ela<br />
apelava às mulheres adventistas, dizendo: "Vistam-se as nossas irmãs<br />
com simplicidade, como muitas fazem, tendo as vestes de material bom e<br />
durável, apropriado para esta época, e não permitam que a questão do<br />
vestuário lhes encha a mente. Nossas irmãs devem vestir-se com<br />
simplicidade. Devem trajar-se com roupas modestas, com modéstia e<br />
sobriedade. Dai ao mundo uma ilustração viva do adorno interior da<br />
graça de Deus." (60)<br />
Conclusão<br />
Esta breve pesquisa histórica mostrou que vestes e ornamentos têm<br />
sido importantes evidências de declínio ou reavivamento espiritual da igreja<br />
durante o curso de sua história. Descobrimos que em tempos de<br />
prosperidade e frouxidão moral, muitos cristãos adotaram as extravagantes<br />
modas de seu tempo, arrazoando que a fé cristã não consiste em aparência<br />
exterior. Eles subestimaram o poder das modas mundanas para moldar seu<br />
caráter de acordo com os valores seculares da sociedade. O resultado dessa<br />
acomodação cultural tem sido o desaparecimento do vigor espiritual, a<br />
subversão das doutrinas bíblicas tais como a modéstia no vestir, e a perda<br />
da identidade e da missão da igreja.<br />
Há mais de um século, Ele G. White descreveu com visão profética<br />
o que tem brotado desta breve pesquisa histórica: "Em cada época, a
Qual a Roupa Certa? 99<br />
maioria dos professos seguidores de Cristo tem desatendido àqueles<br />
preceitos que ordenam modéstia e simplicidade na conversação, no<br />
comportamento e no vestir. O resultado tem sido o mesmo – abandono<br />
dos ensinos do evangelho, que conduz à adoção das modas, costumes e<br />
princípios do mundo. A piedade vital cede lugar ao formalismo morto. A<br />
presença e o poder de Deus são retirados daqueles amantes do círculos<br />
mundanos, são encontrados com a classe de humildes adoradores, que<br />
estão dispostos a obedecer aos ensinos da Palavra Sagrada. Através de<br />
sucessivas gerações esse curso tem sido seguido. Uma após outra,<br />
diferentes denominações têm surgido e, rendendo sua simplicidade, têm<br />
perdido em grande medida seu poder inicial." (61)<br />
Através dos séculos a linha de demarcação entre a igreja e o mundo<br />
tem sido amiúde manchada, quando os cristãos têm-se conformado com<br />
o mundo no comer, beber, vestir-se, adornar-se, divertir-se, divorciar-se<br />
e casar novamente. Essa é uma particular verdade hoje em dia, porque,<br />
como Robert St. Clair notou: "Nossa distorcida cultura cria um fetiche de<br />
tais ídolos, como perfeição da beleza e talento, e ela adora o status,<br />
superioridade de prestígio e as eminentes alturas do poder monetário.<br />
Quando a igreja se adapta ao casaco justo do paganismo, a linha entre<br />
igreja e mundo torna-se crescentemente confusa." (62)<br />
A menos que a linha de demarcação entre o mundo e a igreja seja<br />
mantida, essa pode facilmente tornar-se uma típica Hollywood,<br />
sociedade de mútua admiração na qual os membros se encontram uma<br />
vez por semana para saudar- se uns aos outros em suas roupas de última<br />
moda, jóias, carros, passatempos e férias. Mas a igreja existe não para<br />
dar ao mundo uma pancadinha nas costas, mas antes para salvá-lo.<br />
Referências do capítulo IV<br />
1. Para seus comentários, ver William Barclay, The Letters of<br />
James and Peter (Philadelphia, 1960), págs. 261 a 263.<br />
2. Quintiliano, como citado por William Barclay (nota ), pág. 261.
Qual a Roupa Certa? 100<br />
3. Idem, págs. 262, 263.<br />
4. Citado por Michael e Ariane Batterberry, Fashion, The Mirror of<br />
History (New York. 1982), pág. 52.<br />
5. Tertuliano, Apology 42, The Ante-Nicene Fathers, edit.<br />
Alexander Roberts e James Donaldson (Grand Rapids, 1973),<br />
vol. 3, pág. 49.<br />
6. Hipólito, Apostolic Tradition 15, 10-12, como discutido por<br />
Robert M. Grant, Augustus to Constantine, The Thrust of the<br />
Christian Movement into the Roman World (New York, 1970),<br />
pág. 264.<br />
7. Tertuliano, On the Apparel of Woman 13, The Ante-Nicene<br />
Fathers, (Grand Rapids, 1973), vol. 4, pág. 25.<br />
8. Tertuliano, On the Apparel of Woman 8, idem, pág. 22.<br />
9. Ibidem.<br />
10. Clemente de Alexandria, The Instructor 213, The Ante-Nicene<br />
Fathers, (Grand Rapids, 1979), vol. 2, pág. 269.<br />
11. Ibidem.<br />
12. Idem, pág. 268.<br />
13. Ibidem.<br />
14. Clemente de Alexandria, The Instructor 3,3 (nota 10), págs. 275<br />
a 276.<br />
15. Cipriano, On the Dress of Virgins, 12, The Ante-Nicene Fathers,<br />
Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids, 1971),<br />
vol. 5, pág. 433.<br />
16. Cipriano, On the Dress of Virgins, 12, (note 15), pág. 435.<br />
17. The Passion of Perpetua and Felicitas, 18.<br />
18. Ver, por exemplo, Works of St. Chrysostom, Homily 89 sobre<br />
Mateus 28:62 a 64. A Select Library of the Nicene and Post-<br />
Nicene Fathers of the Christian Church, Phillip Schaff, ed.<br />
(Grand Rapids, 1971), vol. 10, pág. 528. E também Homily 8<br />
sobre 1 Timóteo 2:8 a 10, vol. 13, págs. 433 e 434.
Qual a Roupa Certa? 101<br />
19. Crisóstomo, Works of St. Chrysostom, Homily 38, Hebreus 11:37<br />
e 38, A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of<br />
the Christian Church, Phillip Schaff, ed. (Grand Rapids, 1978),<br />
vol. 14, pág. 496.<br />
20. Crisóstomo, Works of St. Chrysostom, Homily 8, I Tim. 2:9 e 10,<br />
A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the<br />
Christian Church, Phillip Schaff, ed. (Grand Rapids, 1979), vol.<br />
13, pág. 434.<br />
21. Cirilo de Jerusalém. Catecheses 4; Basil de Cesaréia, Reg. Fusius<br />
Tract. Interrog. 22.<br />
22. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 2, The Ante-Nicene<br />
Fathers, Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids,<br />
1970), vol. 7, pág. 392.<br />
23. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 3, (nota 22), pág. 395.<br />
24. The Catholic Encyclopedia, 1908, ed. s.v. "Vestments".<br />
25. The Encyclopedia of Religion and Ethics, 1914 ed. s.v. "Dress".<br />
26. A Dictionary of Christian Antiquities, 1880, ed. s.v. "Dress".<br />
27. Geo S. Tyack. Historic Dress of Clergy (London, 1897), págs. 31<br />
e 32.<br />
28. Charles Sedwig, Italy in the Thirteenth Century, citado por Frank<br />
Alvah Parson, The Psychology of Dress (New York, 1922), págs.<br />
25 e 26.<br />
29. As três grandes obras que provêem informações básicas sobre as<br />
leis suntuárias são: Kent Roberts Greenfield, Sumptuary Law in<br />
Nurberg (Baltimore, 1948); John Martin Vincent, Costume and<br />
Conduct in the Laws of Basel, Bern and Zurich, 1300- 1800<br />
(Baltimore, 1935); Baldwin Frances E., Sumptuary Legislation<br />
and Personal Regulation in England (Baltimore, 1926).<br />
30. Para discussão, ver P. Binder, Muffs and Morals, (London,<br />
1953).<br />
31. A. M. Tyrrel, "The Relationship of Certain Cultural Fact's" do<br />
Women's Costume in Boston, Massachusetts, from 1720-1740,
Qual a Roupa Certa? 102<br />
"Master's Thesis" (Virginia Polytechnic Institute and State<br />
University, 1975), págs. 51-59.<br />
32. John Calvin, The Epistles to Timothy, Titus and Philemon, trans.<br />
William Pring (Grand Rapids, 1948), pág. 66.<br />
33. Ibidem.<br />
34. John Martin Vincent (nota 29), pág. 56.<br />
35. The Complete Writings of Menno Simons (Scottsdale, PA, 1956)<br />
36. Melvin Gingerich, Mennonite Attire Through Four Centuries<br />
(Breinigsville, Pennsylvania, 1970), pág. 158.<br />
37. John Christian Wenger, The Mennonite Encyclopedia<br />
(Scottsdale, Pennsylvania, 1956), págs. 103 e 104.<br />
38. Leigh Eric Smith, "A Church-going People are a Dress-loving<br />
People, Clothes Communication and Religious Culture in Early<br />
America," Church History 58 (março de 1959), pág. 14.<br />
39. Melvin Gingerich, (nota 36), pág. 1.<br />
40. Albert C. Outler, ed., The Works of John Wesley (Nashville,<br />
1956), vol. 3, págs. 247 a 261.<br />
41. Idem, pág. 25).<br />
42. Idem,, pág. 252.<br />
43. Ibidem.<br />
44. Idem, págs. 253 e 2í4.<br />
45. Idem, pág. 254.<br />
46. Idem, pág. 256.<br />
47. Idem, págs. 256 e 257.<br />
48. John Wesley, The Works of John Wesley, A.M., 14 vols., I<br />
(London, 1872), vol. 1, pág. 474.<br />
49. Charles Edward White, The Beauty of Holiness: Phoebe Palmers<br />
as Revivalist, Feminist and Humanitarian (Grand Rapids, 1966).<br />
50. Idem, pág. 150.<br />
51. Ibidem.<br />
52. The Doctrines and Discipline of the Methodist Episcopal Church<br />
(New York, 1856), vol. 1, pág, 474.
Qual a Roupa Certa? 103<br />
53. The Discipline of Wesleyan Methodist Connection of America<br />
(Syracuse, New York, 1880), pág. 116.<br />
54. Não há nenhuma seção tratando de vestuário em 1944 e<br />
subseqüentes edições do The Doctrines and Discipline of the<br />
Methodist Episcopal Church.<br />
55. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), 1954, pág.<br />
413.<br />
56. Ibidem.<br />
57. Ellen G. White, Um Christian Experience, Views and Labors<br />
[Spiritual Gifts, vol. 2] (Battle Creek, 1860), págs. 13 e 14.<br />
58. Ellen G. White, carta a Mary Loughborough, como citado por<br />
Richard Schwartz, Light Bearers to the Remnant (Boise, Idaho,<br />
1979), pág. 111.<br />
59. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
California, 1948), vol. 4, pág, 640.<br />
60. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), 1954, pág.<br />
414.<br />
61. Ellen G. White, Messages to Young People (Washington D. C.,<br />
1930), pág. 354, citado em Review and Herald, 6 de dezembro de<br />
1881.<br />
62. Robert James S. Clair, Neurotics in the Church (Westwood, New<br />
Jersey, 1963), pág. 20.
Qual a Roupa Certa? 104<br />
A QUESTÃO DA ALIANÇA<br />
D<br />
everiam os cristãos usar aliança? Poderia um simples anel de<br />
casamento cair na categoria dos ornamentos impróprios de<br />
ouro e pérolas mencionados por Paulo e Pedro (I Tim. 2:10; I Ped. 3:3)?<br />
Essas questões têm criado intermináveis controvérsias em minha própria<br />
Igreja Adventista do Sétimo Dia, bem como em outras igrejas.<br />
Parte do problema é que o debate sobre a aliança tem sido<br />
largamente baseado em fortes sentimentos pessoais antes que sobre uma<br />
clara compreensão das questões envolvidas. Aqueles que estão a favor<br />
do uso da aliança sentem que para eles o anel é um símbolo valioso de<br />
seu estado marital e compromisso, bem como uma proteção contra os<br />
possíveis pretendentes. Por outro lado, aqueles que se opõem sentem que<br />
um anel de ouro é um ornamento proibido pelas instruções apostólicas<br />
contra o uso de ouro ou pérolas ou dispendiosos ornamentos" (I Tim.<br />
2:10; conf. I Ped. 3:3).<br />
O Objetivo Deste Capítulo<br />
Minha meta neste capítulo é não colocar em julgamento aqueles que<br />
usam ou os que não usam aliança; antes é analisar toda a questão do anel<br />
de casamento a partir de perspectiva ampla, histórica, cultural e bíblica.<br />
O capítulo tenta prover algumas informações básicas sobre a evolução<br />
do significado, do uso e influência dos anéis nas histórias de Roma pagã<br />
e da igreja cristã. Daremos especial atenção ao impacto religioso da<br />
aliança da vida das igrejas cristãs. Esses dados proverão uma base para<br />
reflexão do que é aconselhável ou não para o cristão usar aliança de<br />
casamento hoje. (1)<br />
Devo confessar que este capítulo ocasionou-me muito exame<br />
íntimo. Vindo da Itália, um país onde o uso da aliança é considerado<br />
imperativo, um signo de fidelidade ao cônjuge, eu abordei o estudo com<br />
fortes convicções pessoais, condicionadas por minha educação cultural.
Qual a Roupa Certa? 105<br />
Devo admitir que minhas convicções têm sido alteradas como resultado<br />
de leitura e reflexão sobre a evolução e impacto sócio-religioso da<br />
aliança na história pagã e cristã. Apresento minhas descobertas e<br />
reflexões, não para ajuizar a quem quer que seja, mas para prover ampla<br />
base objetivando determinar qual deveria ser a atitude cristã diante do<br />
problema.<br />
l. A Aliança na História Pagã<br />
Origem da Aliança<br />
A história da aliança está descrita na própria forma do anel: sem<br />
começo e sem fim. Ninguém pode dizer ao certo quando ela teve início.<br />
A aliança parece ter se originado com os antigos egípcios, evoluindo a<br />
partir do selo ou sinete. Porque o selo era um sinal de poder, seu<br />
portador era tido como uma pessoa de grande autoridade. Um<br />
personagem real, desejando delegar seu poder a algum de seus oficiais,<br />
entregava-lhe seu anel-sinete. Esse ato capacitava o subordinado a<br />
expedir ordens com plena autoridade real. Encontramos um bom<br />
exemplo dessa prática em Gênesis 41:42: "Então tirou Faraó o seu anel<br />
de sinete da mão e pôs na mão de José." (Ver também Ester 8:2).<br />
A transformação do anel-sinete em ornamento parece ter ocorrido<br />
também no Egito. As mulheres egípcias ricas usavam anéis de ouro em<br />
diferentes dedos. As classes pobres utilizavam anéis de materiais mais<br />
baratos, tais como prata, bronze, vidro ou cerâmica revestida com silício<br />
vitrificado e vários óxidos de cobre nas cores verde e azul. (2)<br />
Gregos, etruscos e romanos eram refinados mestres na arte de fazer<br />
anéis ornamentais. Durante o período da república romana (449 a 31<br />
a.C.), apenas anéis de ferro eram usados pela maioria dos cidadãos.<br />
Escravos eram proibidos de usar anéis. Tal política de austeridade<br />
chegou a um final no começo do período imperial (cerca de 31 A.D.).<br />
Anéis de ouro foram fabricados, mas o direito de usá-los estava restrito
Qual a Roupa Certa? 106<br />
aos embaixadores e depois ampliado aos senadores, cônsules e principais<br />
oficiais do estado.<br />
Diversas leis foram promulgadas durante o período de Roma<br />
imperial para disciplinar o uso de anéis. Plínio nos diz que o imperador<br />
Tibério exigiu que todos aqueles que não eram descendentes de cidadãos<br />
livres, mas sendo possuidores de grandes propriedades, tinham o direito<br />
de usar anéis de ouro. (3) O imperador Severo estendeu o direito do uso<br />
de anéis de ouro (jus annuli aurei ou direito ao anel de ouro) primeiro<br />
aos soldados romanos, e então aos cidadãos livres. Anéis de prata eram<br />
usados por homens libertados, isto é, escravos que tinham se tornado<br />
livres. Anéis de ferro eram usados por escravos. Sob o imperador<br />
Justiniano essas restrições foram abolidas. É interessante notar que<br />
durante a época de Roma imperial, anéis de ouro, prata e ferro eram<br />
usados de acordo com a classe social à qual se pertencia. O anel, por<br />
assim dizer, ligava a pessoa à sua classe social. (4)<br />
Anéis "Obrigatórios"<br />
O uso de um anel para ligar a pessoa à sua classe social pode ser a<br />
legendária origem da aliança. Em sua História Natural, Plínio diz que o<br />
anel foi introduzido na mitologia grega quando Prometeu atreveu-se a<br />
roubar fogo do céu para uso terrestre. Por esse crime blasfemo, Zeus<br />
acorrentou-o a uma rocha no alto das montanhas caucasianas por 30.000<br />
anos, durante os quais um abutre se alimentava diariamente com seu<br />
fígado. Após forçar a corrente por muitos anos, Prometeu finalmente<br />
rompê-la, tomando consigo uma amostra da montanha com corrente.<br />
Zeus compadeceu-se dele e o libertou. Todavia, para evitar a violação do<br />
julgamento original, foi ordenado a Prometeu que usasse da corrente<br />
como anel em um de seus dedos. Sobre esse anel foi colocado um<br />
pedaço da rocha à qual ele esteve ligado, como constante de que ele fora<br />
preso a ela. (5)
Qual a Roupa Certa? 107<br />
Aparentemente a lenda de Plínio tornou-se uma superstição que<br />
evoluiu para um costume. "Quando um escravo romano era libertado",<br />
escreveu James McCarthy, "ele recebia junto com um veste branca, um<br />
anel de ferro. O escravo havia sido preso, assim dizer, por uma<br />
caucasiana corrente de cativeiro. Quando concedida a sua liberdade, ele<br />
ainda tinha de usar, como Prometeu, um anel de ferro como recordação.<br />
Não lhe era permitido ter um anel de ouro, que naquele tempo era um<br />
emblema de cidadania." (6)<br />
O anel de noivado<br />
Os romanos foram os primeiros a usar aliança para ligar pessoas<br />
não apenas a suas classes sociais, mas também a seus companheiros<br />
maritais. Durante a cerimônia de noivado, o noivo dava à família da<br />
noiva um anel de ferro como símbolo de seu compromisso e capacidade<br />
financeira para sustentar a futura esposa. Os casamentos eram realizados<br />
sobre a mesa de negociações. Originalmente a cerimônia de noivado era<br />
mais elaborada e importante do que o rito nupcial, que era simplesmente<br />
um cumprimento do compromisso de noivado. Foi apenas mais tarde na<br />
história cristã que a aliança tornou-se parte da cerimônia de casamento.<br />
Em seu livro How it Began (Como Isso Começou), Paul Berdanier<br />
declara que o uso obrigatório do anel nas cerimônias de noivado<br />
desenvolveu-se a partir de uma antiga e supersticiosa prática, na qual um<br />
homem ligava com cordas a cintura, os pulsos e os tornozelos da mulher<br />
amada, para estar certo de que seu espírito seria mantido sob seu<br />
controle. (7) A superstição pagã cercando a origem do anel de noivado<br />
romano, não impediu os primeiros cristãos de adotar seu uso.<br />
Antes de tratarmos do uso cristão da aliança, seria bom mencionar<br />
umas poucas superstições pagãs associadas ao uso da aliança. Isso nos<br />
ajudará a pô-la em seu contexto histórico.
Qual a Roupa Certa? 108<br />
O "Poder Mágico" dos Anéis<br />
Muitas lendas têm chegado até nós acerca dos poderes mágicos dos<br />
anéis. De acordo com uma lenda popular, o rei Salomão possuía um anel<br />
que o transportava cada dia e noite até o firmamento, onde ele ouvia os<br />
segredos do Universo. Isso explica sua insondável sabedoria. Outra lenda<br />
declara que Salomão tinha seu anel ornado com pedras preciosas<br />
incomuns, das quais se servia como um espelho mágico, para que<br />
pudesse ver refletida a imagem de qualquer pessoa ou lugar que ele<br />
desejasse. "Crônicas antigas diziam que esse anel explicava seu fantástico<br />
dom de jurisprudência, como no caso das duas mulheres que reclamavam a<br />
mesma criança como sendo sua. Contemplando as profundezas do espelho,<br />
ele se informava das coisas por acontecer."(8) Pretensamente, o anel de<br />
Salomão foi mais tarde encontrado e usado por exorcistas judeus para<br />
expulsar demônios através do nariz das pessoas doentes." (9)<br />
Há também muitas histórias acerca do poder curativo dos anéis. "Os<br />
médico grego Galeno, que viveu no segundo século de nossa era,<br />
escreveu sobre amuletos de jaspe pertencente aos reis egípcios, que<br />
possuía o desenho de um dragão cercado de raios. Galeno sustentava que<br />
ele tinha um possante agente curativo para moléstias dos órgãos<br />
digestivos. Dentre os anéis medicinais estavam os "anéis de cãibra".<br />
Cria-se que eles ofereciam proteção com cãibras e outras indisposições.<br />
Eduardo, o Confessor, rei da Inglaterra no décimo primeiro século,<br />
segundo indicações, deu início ao uso dos anéis curativos. Um dia,<br />
quando o rei foi abordado por um idoso peregrino, como não tivesse<br />
dinheiro consigo, deu ao velho um anel como esmola. O peregrino, o<br />
João disfarçado, devolveu o anel ao rei dizendo que o havia abençoado e<br />
conferido-lhe poderes curativos. Desde aquele tempo até o reinado da<br />
rinha Maria, no décimo sexto século, em todas as sextas-feiras santas, os<br />
reis e rainhas ingleses abençoavam e distribuíam anéis sustentando que<br />
possuírem a cura para a epilepsia." (10)
Qual a Roupa Certa? 109<br />
Anéis Venenosos<br />
Nos tempos de Roma, os anéis eram usados não apenas para curas,<br />
como também para envenenar os outros ou a seu possuidor. Os anéis<br />
venenosos portavam um líquido venenoso numa pequena cavidade<br />
existente sob o sinete ou pedra preciosa. Uma mola estava conectada à<br />
cavidade, de tal modo que o assassino poderia desferir um fatal arranhão<br />
enquanto apertava a mão do inimigo. Esse era provavelmente elaborado<br />
a partir de um canino de cobra.<br />
O general cartaginês Aníbal ingeriu uma dose fatal de veneno de<br />
próprio anel (183 ou 182 a.C.), preferivelmente a submeter-se aos romanos.<br />
No décimo sexto século, a família Bórgia, na Itália, conhecida por suas<br />
traições, supostamente utiliza anéis venenosos para assassinar inimigos.<br />
Anéis Astrológicos<br />
A astrologia, ou a crença de que as estrelas influenciam os destinos<br />
pessoas, era popular entre caldeus, egípcios, gregos e romanos, e florescido<br />
no mundo ocidental até os nossos dias. Até o décimo século, os anéis<br />
astrológicos eram muito populares. Esses anéis surgiram da crença de que<br />
os corpos celestes têm especial influência sobre as nações, cidades e<br />
indivíduos. Eles podem afetar a aparência pessoal, o temperamento, a<br />
disposição, o caráter, a saúde e a sorte das pessoas. Para atrair o auxílio das<br />
deidades planetárias, era importante usar anéis com pedras preciosas e<br />
metais relacionados com cada um dos deuses dos sete planetas:<br />
"O Sol: um diamante ou safira colocado num anel de ouro.<br />
A Lua, um cristal incrustado num anel de prata.<br />
Mercúrio: um magneto posto em mercúrio.<br />
Vênus: uma ametista em anel de cobre.<br />
Marte: uma esmeralda em anel de ferro.<br />
Júpiter: uma cornalina posta em estanho.<br />
Saturno: uma turquesa colocada em chumbo." (11)
Qual a Roupa Certa? 110<br />
Esses vários anéis combinados com diferentes pedras preciosas<br />
eram usados de acordo com a preferência do deus planetário cuja ajuda<br />
era procurada. Um certo desenvolvimento ocorreu justo antes da<br />
fundação do cristianismo, quando os romanos adotaram a semana de sete<br />
dias observada pelos judeus, tal como ainda é em nossos dias. Antes<br />
desse tempo, os romanos usavam a semana de oito dias, conhecida como<br />
numdinum. Quando passaram a utilizar o ciclo semanal de sete dias,<br />
decidiram nomear cada dia da semana segundo o planeta-deus que<br />
pretensamente controlava o dia (Sunday, para o deus-sol; Monday para o<br />
deus-lua, e assim por diante). Os judeus costumavam chamar os dias da<br />
semana segundo seu número de ordem: primeiro dia, segundo dia, etc.)<br />
A crendice de que cada dia da semana era controlado por um deusplaneta<br />
originou o desenvolvimento dos anéis com pedras favoritas da<br />
divindade que dominava cada dia. As pessoas ricas usavam diferentes<br />
anéis, de acordo com a pedra preferida do deus-planeta controlador do<br />
dia. Apolônio de Tiana, um filósofo pitagórico do primeiro século, dános<br />
a seguinte lista de anéis com diferentes pedras preciosas, dispostas<br />
de acordo com o dia da semana, para assegurar o favor das celestiais<br />
influências:<br />
Dia Pedra Preciosa Gema-Talismã Controle Astral<br />
Domingo Diamante Pérola Sol<br />
Segunda Pérola Esmeralda Lua<br />
Terça Rubi Topázio Marte<br />
Quarta Ametista Turquesa Mercúrio<br />
Quinta Cornalina Safira Júpiter<br />
Sexta Esmeralda Rubi Vênus<br />
Sábado Turquesa Turmalina Saturno (12)<br />
Implicações da Origem Pagã dos Anéis<br />
Os poucos exemplos citados anteriormente, acerca das variadas<br />
superstições e usos idolátricos dos anéis estão bem distantes de serem
Qual a Roupa Certa? 111<br />
completos. As principais enciclopédias que consultei exibem longos<br />
artigos descrevendo o supersticioso uso de anéis como sortilégios, e<br />
como auxílio na adoração dos vários deuses pagãos. (13) O que tem sido<br />
mencionado deveria ser suficiente para mostrar que a origem dos anéis<br />
está fixada em superstições pagãs e práticas idolátricas.<br />
A origem pagã e os significados dos anéis levantam questões acerca<br />
da legitimidade de sua adoção pelos cristãos, para representar o<br />
compromisso marital. Na Bíblia, o valor dos símbolos é determinado por<br />
sua origem e significado. 0 sábado, o cordeiro pascoal e o sangue, a ceia<br />
do Senhor, o batismo e o lava-pés são símbolos legítimos porque foram<br />
estabelecidos por Deus para ajudar-nos a conceituar e internalizar<br />
realidades espirituais. Seu valor é derivado de sua divina origem, e<br />
função. Por contraste, o significado da aliança como de símbolo de<br />
compromisso conjugal acha sua origem, não na Escritura, mas na<br />
mitologia pagã e em superstições. Investir um símbolo pagão com um<br />
significado cristão, pode facilmente conduzir à secularização do próprio<br />
símbolo. Como veremos, foi exatamente o que aconteceu com o uso da<br />
aliança.<br />
Um caso ilustrativo é a adoção do guarda do domingo nos dias do<br />
cristianismo primitivo. Como já demonstrei em outras obras, um fator<br />
contribuinte para a aceitação do domingo, era a veneração pagã do dia do<br />
Sol. A tentativa dos cristãos para transformar um feriado pagão num<br />
nunca foi bem-sucedida. A despeito de todas as tentativas dos séculos<br />
pelos concílios eclesiásticos, papas e puritanos, tornar o domingo em um<br />
dia santo, a realidade histórica é que o domingo tem permanecido como<br />
um dia no qual muitas pessoas buscam seus prazeres e proveitos<br />
pessoais, antes que a presença e a paz de Deus.<br />
Em grande medida o mesmo tem sido verdadeiro a respeito da<br />
aliança. Como veremos a seguir, a despeito dos esforços feitos pelos<br />
líderes da igreja em restringir o uso de anéis a um simples anel conjugal,<br />
a realidade histórica é que muitos cristãos através dos séculos têm cedido
Qual a Roupa Certa? 112<br />
à tentação de usar toda sorte de anéis para adornar-se, antes que para<br />
expressar seu compromisso marital.<br />
Uma lição da Roma Antiga<br />
A tendência para multiplicar o uso de anéis iniciou-se na antiga<br />
Roma. De fato, a história do anel de noivado pode ser instrutiva para nós<br />
hoje. Originalmente, como já mencionado, o anel de noivado era um<br />
simples anel de ferro, mas rapidamente evoluiu em bem trabalhados<br />
anéis dourados. A Enciclopédia Britânica declara: "A oferta do anel para<br />
assinalar um noivado é um costume procedente de antiga Roma. O anel<br />
provavelmente era uma simples garantia de que o contrato seria<br />
cumprido. Nos tempos de Plínio (cerca do ano 70 A.D.) havia o costume<br />
de exigir um anel de feno, mas o anel de ouro foi introduzido no curso<br />
do segundo século. Esse uso, que era assim de origem puramente<br />
secular, recebeu a sanção eclesiástica. A fórmula da bênção do anel<br />
existe desde o século décimo primeiro." (15)<br />
Tertuliano (160-225 A.D.), um advogado pagão que se tornou um<br />
influente líder da igreja, lamentava a extravagância nas vestes e<br />
ornamentos que era muito evidente entre os romanos de seu tempo.<br />
Recomendava aos velhos romanos que encorajassem a modéstia,<br />
condenando os enfeites de ouro, exceto a aliança de casamento: "Não<br />
vejo agora qualquer diferença entre os vestidos das matronas e das<br />
prostitutas. Com respeito às mulheres, aquelas leis de seus pais,<br />
empregadas para encorajar a modéstia e a sobriedade caíram em desuso."<br />
(16)<br />
As "leis de seus pais" que restringiam o uso do ouro apenas à<br />
aliança, eram presumivelmente leis ultrapassadas na primeira parte do<br />
segundo século, como notamos, no tempo de Plínio (cerca do ano 70 de<br />
nossa era) apenas era permitido o uso de uma simples aliança de ferro.<br />
Em outras palavras, o que se iniciara como um singelo anel de<br />
casamento para expressar o compromisso conjugal, desenvolveu-se, até
Qual a Roupa Certa? 113<br />
o final do segundo século, num elaborado anel de ouro para demonstrar<br />
riqueza, orgulho e vaidade. Veremos que a mesma coisa ocorreu na<br />
igreja cristã.<br />
James McCarthy observou a razão para essa evolução: "O problema<br />
com os romanos, bem como com outros enamorados de algo, é que eles<br />
começaram a exagerar no uso de anéis. Eles cobriam os dedos com e]es.<br />
Alguns usavam diferentes anéis para o verão e o inverno. Eram<br />
imoderados não somente no número de anéis usados, mas também em<br />
seu tamanho. Mesmo os dedos menores tinham pesados anéis de ouro,<br />
que eram usados nos dias mais cinzentos do império. Até anéis de<br />
grandes dimensões para os polegares eram exibidos. Esses seriam como<br />
que uma rápida antevisão da inevitável queda do império romano." (17)<br />
McCarthy continua notando que a despeito das denúncias do<br />
moralistas a seus patrícios contra o uso de muitos anéis, "esses<br />
continuaram a ser usados e Roma continuou a cair. Roma caiu e os anéis<br />
continuaram. Se há uma moral aqui eu não sei dizer." (18) Realmente, há<br />
uma moral, porque aconteceu na história de Roma imperial e tem-se<br />
repetido na história do cristianismo.<br />
2. A Aliança na História Cristã<br />
Anéis na Bíblia<br />
A Bíblia não dá qualquer indicação de que a aliança era usada como<br />
anel de noivado ou de núpcias. O anel-sinete é o primeiro tipo<br />
mencionado no Livro Sagrado. Quando Tamar disfarçou-se de prostituta<br />
para seduzir a Judá, seu sogro, ela lhe pediu como garantia da promessa<br />
de envio de um cabrito do rebanho, o selo (anel), o cajado, e o cordão.<br />
Jeremias nos diz que os israelitas usavam o anel-sinete na mão direita<br />
22:24). Esse anel era usado para selar vários contratos. Ele era um<br />
símbolo de autoridade, dignidade e estado social (Tia. 2:2). Faraó deu<br />
seu anel-sinete a José, como símbolo de autoridade (Gên. 41:42).
Qual a Roupa Certa? 114<br />
Semelhantemente, Assuero deu seu anel a Hamã para selar o decreto<br />
(Ester 3:10 e 12). No retorno do filho pródigo, esse recebeu de seu pai<br />
um anel como símbolo de dignidade (Lucas. 15:22).<br />
Os anéis mencionados na Bíblia são anéis-sinetes, usados como<br />
símbolo de autoridade e dignidade. Aos romanos é creditado o<br />
pioneirismo no uso de anéis-sinetes como aliança de noivado. Os judeus<br />
e os cristãos copiaram a prática dos romanos. Uma vez que o cerimônia<br />
de noivado usualmente envolvia uma dádiva do noivo em dinheiro ou<br />
um objeto de valor à noiva, foi natural a transição desse dote para a<br />
aliança.<br />
O Anel de Noivado no Cristianismo Primitivo<br />
Desconhece-se como os primeiros cristãos adotaram o costume<br />
romano do anel de noivado. Não há qualquer menção de anéis de<br />
noivado em o Novo Testamento, aparentemente porque o costume não<br />
havia ainda tido início. Os primeiros anéis cristãos de noivado foram<br />
encontrados nas catacumbas romanas, ou em cemitérios subterrâneos<br />
foram da cidade de Roma, cerca de 200 A.D. (19) Por volta desse<br />
mesmo tempo, temos os testemunhos de Tertuliano e Clemente de<br />
Alexandria sobre o uso do anel de noivado pelos cristãos. À luz dessas<br />
evidências arqueológicas e literárias, podemos pensar que os cristãos<br />
aceitaram o costume do anel de noivado na última parte do segundo<br />
século.<br />
O material mais comum encontrado nas catacumbas é o bronze,<br />
embora alguns anéis de ferro tenham permanecido. "Como regra, os<br />
anéis de ouro entre os cristãos primitivos eram raros. O uso de ricos e<br />
numerosos ornamentos não estava de acordo com os ensinos da igreja<br />
primitiva." (20) Contrariamente à moda pagã de usar um "anel próximo a<br />
cada junta, os cristãos dos primeiros séculos usavam apenas um anel – a<br />
aliança." (21)
Qual a Roupa Certa? 115<br />
É interessante notar que aqueles cristãos seguiam o costume<br />
romano do anel da cerimônia de noivado, antes dos serviços nupciais. A<br />
razão para isso parece ser que, originalmente, o casamento não era a<br />
cerimônia sofisticada que vemos hoje, "mas uma simples afirmação de<br />
amor mútuo e obediência." (22) Em outras palavras, rituais de noivado<br />
eram bem mais trabalhados do que os de casamento. Mesmo o noivado,<br />
como explica Joseph Bingham, "era uma inocente cerimônia, já<br />
observada pelos romanos antes do início do cristianismo, e em certa<br />
medida aceito pelos judeus, por isso que admitido pelos cristãos como<br />
ritos esponsais sem qualquer oposição ou contradição." (23)<br />
O Propósito da Aliança<br />
A razão porque os cristãos não se opuseram à adoção do anel de<br />
noivado, é porque percebiam não ser ele um ornamento mas um símbolo<br />
do compromisso marital. Eles não anteviam que o anel de noivado<br />
pudesse eventualmente tentar os cristãos a seguir o exemplo dos pagãos<br />
no uso de toda sorte de anéis ornamentais.<br />
Tertuliano, embora conhecido como rigoroso na promoção de<br />
estritos padrões de conduta e condenando o uso de jóias, parece ter<br />
aprovado o uso da aliança. Notamos primeiramente que Tertuliano<br />
lamentava a adoção, pelas mulheres romanas, de ornamentos sedutores,<br />
mas recomendava aos romanos mais idosos para ensinar a elas "modéstia<br />
e sobriedade", pela condenação do uso de ouro "salvo nos dedos, o qual,<br />
com o anel de noivado, seu marido podia garantir-se." (24) Essa<br />
passagem sugere que Tertuliano via a aliança não como um adorno<br />
impróprio, mas como uma evidência de modéstia e como um símbolo de<br />
sagrada garantia a cada cônjuge.<br />
Semelhante ponto de vista foi expresso por Clemente de Alexandria,<br />
um contemporâneo de Tertuliano que liderou a escola catequética<br />
(batismal) de Alexandria de 190 a 202. Em seu livro O Instrutor,<br />
Clemente atingiu considerável extensão ao explanar por que as mulheres
Qual a Roupa Certa? 116<br />
cristãs não deveriam usar vestidos luxuosos, anéis, brincos ou elaborados<br />
estilos de penteado, e "manchar suas faces com os traiçoeiros<br />
estratagemas de astutas dissimulações." (25)<br />
Em meio ao seu tratamento de vários e impróprios ornamentos<br />
cristãos, ele escreveu sua aprovação do anel de sinete como o único<br />
permitido. "A Palavra (Cristo) permite-lhes (às mulheres) o uso de um<br />
anel de ouro. Não é esse para ornamento, mas para selar coisas que são<br />
dignas de serem mantidas seguras em casa, no exercício de seus deveres<br />
como donas de casa." (26)<br />
A função "seladora" do anel sugere que ele era um anel-sinete,<br />
funcionava também como anel marital ou aliança. É evidente que no<br />
tempo de Clemente o anel era feito de ouro. Isso dizer que o início do<br />
costume de usar um simples anel de ferro, compromisso de noivado,<br />
parte do primeiro século. "Mesmo então", escreveu Plínio, o Velho, em<br />
seu livro História Natural (70 A.D.), "o anel nupcial era feito de ferro e<br />
sem jóias". (27)<br />
Para Clemente, o propósito do anel não era ornamental ("Não é para<br />
ornamento"), mas de uso prático e protetor. Era prático porque esse anelsinete<br />
que o marido lhe deu para selar bens "que devem ser mantidos<br />
seguros em casa". Se um servo fugisse com alguns bens domésticos, o<br />
selo sobre eles provaria a propriedade. O anel-sinete usado pela esposa<br />
representava a autoridade que seu marido a ela delegara, para governar<br />
todas as coisas da casa.<br />
Era protetor porque servia como "uma ligação de casta modéstia,<br />
receio de que, em sua inconstância, elas não deslizassem da verdade."<br />
(28) O anel-sinete era o único permitido às mulheres cristãs. "Ele (Cristo)<br />
permitiu-nos o sinete com esse único propósito. Outros anéis devem ser<br />
lançados fora, pois, de acordo com as Escrituras, 'o conhecimento é o<br />
ornamento dourado de um homem sábio'." (29)
Qual a Roupa Certa? 117<br />
Anéis das Cerimônias Matrimoniais<br />
O uso de anéis nas cerimônias matrimoniais é apontado desde a<br />
primeira parte do quarto século. (30) "Todavia, a primeira descrição<br />
explícita do uso do anel vem de Isidoro de Sevilha, que tornou-se<br />
arcebispo daquela cidade em 595. Ele escreveu: "O anel é dado pelo<br />
esposo à sua esposa, quer como sinal de mútua fidelidade e ainda mais<br />
para unir seus corações nesse compromisso. Ele é posto no quarto dedo<br />
por causa de certa veia, que como é dito, flui daí até o coração." (31)<br />
A crença de que o quarto dedo (contado a partir do polegar) tem a<br />
vena amoris, a veia do amor correndo diretamente para o coração é,<br />
obviamente, pura superstição. O dedo anular partilha da mesma rota ao<br />
coração que outros dedos. A despeito da origem dessa superstição, o<br />
costume de usar o anel matrimonial no quarto dedo da mão esquerda tem<br />
prevalecido em muitos países hoje em dia.<br />
Anéis Episcopais<br />
Conhecendo a atração que os anéis têm exercido sobre o povo, não<br />
é de surpreender que o clero também adotou o uso de anéis. Os mais<br />
famosos anéis eclesiásticos são os episcopais, que eram conferidos aos<br />
bispos recém-eleitos, e o anel do pescador usado pelo papa. O último<br />
deriva seu nome da pedra preciosa que carrega, com a gravação de Pedro<br />
num barco puxando a rede de pescar.<br />
O anel episcopal, como explica A Enciclopédia Católica, "era,<br />
estritamente falando, um ornamento episcopal concedido no rito de<br />
consagração e era observado como sendo emblemático do noivado do<br />
bispo com a igreja." (32) A fórmula gregoriana; ainda usada na entrega<br />
do anel, diz: "Recebe o anel, que representa o selo da fé, pelo qual tu,<br />
adornando-te a ti mesmo com fé imaculada, possas manter pura a palavra<br />
empenhada que juraste à esposa de Deus, Sua santa Igreja." (33) A idéia
Qual a Roupa Certa? 118<br />
da fidelidade conjugal é também simbolicamente representada nos anéis<br />
episcopais.<br />
É digno de nota que a mesma enciclopédia traça a origem do anel<br />
episcopal desde o anel dourado usado pelos antigos sacerdotes pagãos,<br />
consagrados à adoração de Júpiter: "Sabendo como sabemos, de que nos<br />
dias de Roma pagã cada flamen Dialis (sacerdote de Júpiter) tinha, como<br />
os senadores, o privilégio de usar um anel de ouro, não é de surpreender<br />
a evidência encontrada no quarto século, de que os anéis eram usados<br />
pelos bispos cristãos." (34) A mesma fonte, todavia, questiona a validade<br />
da evidência do quarto século, argumentando em substituição, que a<br />
primeira e inequívoca evidência vem do decreto baixado pelo papa<br />
Bonifácio IV, em 610, em que os monges elevados à dignidade episcopal<br />
eram obrigados a usar o anel. (35)<br />
Bispos e papas amavam tanto seus anéis que desejavam ser<br />
sepultados com eles. Isso explica a esplêndida coleção de anéis<br />
episcopais encontrados nos sarcófagos papais. A influência do<br />
paganismo é evidente em muitos dos anéis episcopais, uma vez que eles<br />
são confeccionados com antigas pedras usadas pelos pagãos, gravadas<br />
com símbolos pagãos.<br />
Com referência aos anéis episcopais, A Enciclopédia Britânica diz:<br />
"Em muitos casos a antiga gema era montada no anel episcopal e amiúde<br />
era adicionada uma inscrição no receptáculo de ouro da gema, dando<br />
nomes cristãos a figuras pagãs." (36) Em outros casos, de acordo com a<br />
mesma fonte, nenhuma mudança era feita na gravação pagã e "a gema<br />
parecia ter sido meramente observada como um ornamento sem<br />
significado." (37)<br />
Influência Levedante<br />
A influência pagã sobre o uso cristão de anéis é evidente, não<br />
apenas nas gravações sobre os anéis episcopais, como também na<br />
proliferação anéis ornamentais nas mãos de leigos e clérigos. O que
Qual a Roupa Certa? 119<br />
aconteceu em Roma pagã foi repetido na igreja cristã. O anel de noivado<br />
que começou como um simples elo de ferro para expressar fidelidade<br />
conjugal, rapidamente evoluiu em elaborados anéis de ouro com pedras<br />
preciosas, para demonstrar riqueza, orgulho e vaidade. Isso foi<br />
verdadeiro não apenas para os leigos, mas também para o clero.<br />
A Enciclopédia Britânica afirma: "No décimo quinto e décimo<br />
séculos, os bispos usavam com freqüência quatro anéis na mão<br />
complementando a farta joalheria fixada nas costas de cada (38) Essa<br />
imagem dos líderes da igreja enfeitados e adereçado com anéis de ouro,<br />
pedras preciosas e vestimentas bordadas em ouro, em rematado contraste<br />
com o chamado apostólico para trajarem vestes modestas, sem "ouro ou<br />
pérolas ou custosos ornamentos" (I Tim. 2:9; conf. I Ped. 3:3).<br />
É obvio que quando os líderes da igreja se enamoraram dos anéis de<br />
ouro, jóias e dispendiosos ornamentos, eles não mais poderiam, em boa<br />
consciência, admoestar o povo a ser modesto em seus adornos exteriores.<br />
Isso explica porque, como vimos no capítulo três, durante a Idade Média<br />
as admoestações à modéstia no vestir e no adornar-se eram feitas mais<br />
aos clérigos do que aos leigos.<br />
Olhando ao passado, a partir de um vantajoso ponto de vista<br />
histórico, pode-se ver a levedante influência da aliança. A concessão que<br />
os líderes da igreja fizeram aos cristãos, para que usassem apenas a<br />
aliança de casamento, logo tornou-se pretexto para o uso de toda espécie<br />
de anéis ornamentais. No século quarto a proliferação de anéis assumiu<br />
alarmantes proporções, que a chamada Constituição Apostólica<br />
proscreveu o uso de anéis: "Nenhum de vós ponha um anel de ouro nos<br />
dedos; pois todos esses ornamentos são sinais de lascívia, a qual, se vós<br />
estiverdes solícitos sobre um modo indecente, não agireis como convém<br />
a um bom homem." (39) Aparentemente essa lei eclesiástica foi logo<br />
esquecida, porque, como vimos, mesmo os verdadeiros líderes da igreja<br />
adornavam-se com anéis de ouro e pedras preciosas.
Qual a Roupa Certa? 120<br />
A História se Repete<br />
O dito de que a história se repete aplica-se de modo especial ao anel<br />
de casamento ou aliança. O que aconteceu na igreja primitiva e durante a<br />
Idade Média tem-se repetido na história interna de muitas denominações<br />
que derivaram da Reforma. Temos visto que na igreja dos primeiros<br />
tempos, o uso do anel marital evoluiu através de três fases. Na primeira<br />
delas, no período apostólico, aparentemente não existia o uso do anel. Na<br />
segunda, compreendendo o segundo e terceiro séculos, o uso estava<br />
restrito a um anel simples e barato, que servia também de anel-sinete<br />
para confirmar decisões e propósitos. Na etapa final, do quarto século em<br />
diante houve proliferação de toda espécie de anéis ornamentos e jóias.<br />
Essa regra que proibia o uso do anel marital no primeira fase, de<br />
uso simples na segunda, e de todas as espécies de anéis ornamentais na<br />
terceira, tem ocorrido na história particular de várias denominações<br />
procedentes da Reforma. Para apreciarmos mais plenamente a ocorrência<br />
dessa regra, veremos a história do anel de casamento ou aliança dentro<br />
das igrejas metodista, menonita e adventista do sétimo dia.<br />
A Aliança na Igreja Metodista<br />
Desde o princípio do movimento metodista, John Wesley (1703 a<br />
1791), advogava a simplicidade no vestuário e a abstenção de jóias em<br />
geral e anéis em particular. Em seu Conselho ao Povo Chamado<br />
Metodista, Com Respeito ao Vestuário, ele escreveu: "Não usem ouro,<br />
pérolas ou pedras preciosas... Não aconselho às mulheres usarem anéis,<br />
brincos e colares." (40) Wesley foi fundo para dar suporte bíblico à sua<br />
posição, citando entre outras passagens as palavras de Pedro, "Não seja o<br />
adorno das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços<br />
de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração,<br />
unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande<br />
valor diante de Deus." (I Pedro 3:3 e 4)
Qual a Roupa Certa? 121<br />
As pregações de Wesley obtiveram resultados. Na Inglaterra e na os<br />
metodistas vestiam-se como um povo simples, sem jóias ou anéis. Na<br />
Conferência Episcopal da Igreja Metodista, em 1784, a questão foi<br />
proposta: "Deveremos nós insistir nas regras concernentes ao vestuário?"<br />
A resposta foi: "De todas as maneiras! Não é o tempo de encorajar<br />
superfluidade no vestuário. Portanto, não dêem bilhetes a ninguém, até<br />
que tenham abandonado os ornamentos supérfluos... Não isentem<br />
nenhum caso, nem mesmo da mulher casada... Não admitam aqueles que<br />
usam anéis." (41). Naquele tempo eram dados bilhetes para admissão ao<br />
serviço da comunhão. Os que não cumpriam com esse alto padrão da<br />
igreja, não eram admitidos a esse serviço. Essa política soa irrazoável a<br />
muitos, hoje em dia. Precisamos essa postura no contexto social do<br />
décimo oitavo século na América, onde a igreja controlava o estilo de<br />
vida de seus membros.<br />
A regra original concernente a vestuário e ornamentos tornou-se do<br />
manual da igreja metodista, conhecido como Doutrinas e Disciplina da<br />
Igreja Metodista e continuou com essa forma até 1852. Os primeiros<br />
metodistas levavam a sério as admoestações de seu fundador. Eles<br />
viviam um estilo de vida simples, evitando jogos, danças, e jóias,<br />
incluindo anéis.<br />
A Adoção do Anel de Casamento (Aliança)<br />
A primeira menção do anel de casamento como opção à cerimônia<br />
matrimonial, ocorreu no manual metodista conhecido como Disciplina,<br />
em 1872: "Se as partes desejarem, o homem poderá entregar o anel ao<br />
ministro, que o devolverá a ele, que colocará no terceiro dedo da mão<br />
esquerda da mulher. E o homem dirá à mulher, repetindo as palavras do<br />
ministro: 'Com este anel eu te esposo e com minhas boas palavras eu te<br />
doto; em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." (42)<br />
Um ano mais tarde, a igreja presbiteriana seguiu o exemplo dos<br />
metodistas mudando seu manual para permitir o uso do anel de
Qual a Roupa Certa? 122<br />
casamento na cerimônia matrimonial: "Se eles [o casal] desejarem<br />
utilizar o anel, o ministro primeiramente o tomará e depois o entregará<br />
ao homem, para que o coloque no quarto dedo da mão esquerda da<br />
esposa." (43)<br />
Gradualmente outras denominações relaxaram seus padrões de<br />
vestuário e ornamentos, permitindo o uso de anéis e jóias em geral.<br />
Na última parte do décimo nono século, o uso do anel em<br />
cerimônias matrimoniais tornou-se muito popular na América. Um livro<br />
sobre etiqueta, publicado em 1881, diz: "Todas as igrejas, atualmente,<br />
aceitam o anel e variam o sentimento de sua adoção para acomodá-lo aos<br />
costumes e idéias de seus próprios ritos." (44) Essa declaração não é<br />
realmente exata, porque houve igrejas que não usavam o anel na<br />
cerimônia matrimonial. Os adventistas do sétimo dia são um caso em<br />
particular.<br />
Precisa ser reconhecido, todavia, que mesmo aquelas igrejas que<br />
não aprovaram o uso do anel matrimonial, tiveram dificuldade em coibir<br />
seu uso entre os membros. Escrevendo sobre a igreja menonita, Melvin<br />
Gingerich mencionou: "Exemplos de anéis matrimoniais eram usados na<br />
igreja pelas mulheres casadas, durante a última parte do décimo nono<br />
século, desde a ocidental Pennsylvania até Iowa e o Missouri, embora<br />
isso não fosse uma prática usual." (45)<br />
A igreja metodista sustentou a bandeira de Wesley sobre vestuário e<br />
ornamentos até 1852. (46) Após essa data o manual metodista não mais<br />
regulamentava os vestuário e as jóias do clero e do povo. Muitos clérigos<br />
metodistas que eu consultei sobre a questão, confirmaram-me que o tema<br />
das jóias não tem sido, de há muito, um assunto mencionado em suas<br />
igrejas. Nenhuma medida disciplinar é tomada diante dos que usam jóias<br />
em excelso. Dean Kelly, um erudito metodista, vai mais longe ao dizer<br />
que: "por décadas não tem havido nada que pudesse ser feito para expelir<br />
o mal da igreja metodista." (47)
Qual a Roupa Certa? 123<br />
A lei de Wesley<br />
O resultado do afrouxamento dos padrões da igreja em certas áreas<br />
como vestuário, ornamentos e recreação, é a perda do senso de<br />
identidade e missão da igreja. A razão é que esses membros se<br />
identificam mais com os valores da sociedade secular do que com os dos<br />
fundadores de sua igreja. No mesmo grau que essas igrejas tornam-se<br />
prósperas e permissivas quanto ao estilo de vida, experimentam declínio<br />
espiritual e de membros.<br />
No clássico livro Por Que as Igrejas Conservadoras Estão<br />
Crescendo?, Dean Kelly chama esse ciclo de "A Lei de Wesley". "John<br />
Wesley, o fundador do movimento (metodista), sintetizou esse processo<br />
no que podemos chamar de Lei de Wesley. 'Quando o número de ricos<br />
aumenta, a essência da religião decresce na mesma proporção'. Portanto,<br />
não vejo como seja possível, na natureza das coisas, qualquer<br />
reavivamento religioso perdurar por muito tempo. Pois a religião deve<br />
necessariamente produzir diligência e sobriedade, e esses não podem<br />
fabricar ricos. Mas como os ricos crescem, assim o orgulho, a ira e o<br />
amor ao mundo em todos os seus ramos... Não há jeito de evitar isso,<br />
essa continua decadência da religião pura?" (48)<br />
Wesley compreendeu com admirável clareza o que causa o<br />
crescimento ou o declínio da igreja. O cumprimento de sua "visão<br />
profética" pode ser visto na história de muitas igrejas, incluindo a própria<br />
igreja metodista. De fato, a Igreja Metodista Unida é uma das seis<br />
maiores igrejas protestantes, que em anos recentes tem experimentado<br />
um consistente e significativo declínio em sua congregação, em<br />
matrículas nas escolas paroquiais e no número de missionários alémmar.<br />
(49)<br />
Para reverter essa tendência, Kelly propõe três medidas que podem<br />
ser sintetizadas conforme segue: primeira, a igreja precisa esclarecer<br />
suas metas, convicções principais e padrões de estilo de vida. Segunda, a<br />
igreja precisa decidir como reforçar seus padrões. Terceira, a igreja
Qual a Roupa Certa? 124<br />
precisa comunicar efetivamente suas crenças e normas aos membros (ato<br />
interno) e aos outros (ato externo)." (50)<br />
Uma Advertência à Igreja Adventista<br />
O que aconteceu na igreja metodista deve servir de advertência aos<br />
adventistas. Kelly, embora metodista, destacou esse ponto num artigo<br />
intitulado "Como os Adventistas Podem Parar de Crescer". Sua resposta<br />
é simples, contudo profunda: "Ser como os metodistas". (51) De acordo<br />
com Kelly, tudo que os adventistas necessitam para deter seu<br />
crescimento e começar a declinar é enfatizar que os padrões da igreja<br />
respeitantes a vestuário, abstinência, dieta, dízimo, etc., "não são<br />
necessários à salvação". Tal ênfase produz a queda da igreja porque ela<br />
"priva a fé de sua única e necessária textura, prática e custo". (52)<br />
À luz dessas observações, é evidente que os padrões da igreja que<br />
afetam áreas sensíveis como vestuário e jóias, podem contribuir para o<br />
crescimento ou declínio da igreja. Crentes que observam altos padrões,<br />
estão constantemente se lembrando de seu chamado e missão no mundo.<br />
O Uso de Jóias na Igreja Menonita<br />
Como os antigos metodistas, os menonitas têm mantido<br />
historicamente uma rígida defesa contra o uso de jóias, incluindo a<br />
aliança. Em seu livro Adornos Menonitas Através de Quatro Séculos,<br />
Melvin Gingerich observou que "pelo menos trinta e nove conferências<br />
passaram entre 1864 e 1949, metade das quais ocorreu após 1918." (53)<br />
Os artigos de joalheria a serem evitados incluíam "alianças, anéis de ouro,<br />
pérolas, braceletes, broches, alfinetes, colares e anéis de noivado" (54) "Em<br />
alguns casos, era feita uma tentativa para distinguir entre o anel ornamental<br />
e o utilitário (nas jóias), e apenas o primeiro foi proibido." (55)<br />
Gingerich admite que não foi fácil para a igreja menonita forçar sua<br />
política contra a jóias, especialmente quanto à aliança ou anel de
Qual a Roupa Certa? 125<br />
casamento. "Talvez a luta mais difícil em reforçar os regulamentos<br />
acima tem a ver com o anel de casamento... Enquanto os menonitas<br />
permaneceram como um povo rural e viviam em comunidades sólidas,<br />
não houve muita necessidade das esposas declararem seu estado marital<br />
ao público. Mas quando os homens começaram a ter outras profissões e<br />
viajar para cidades distantes de sua robusta comunidade, os casais se<br />
convenceram de que o uso da aliança como símbolo e aviso protetor era<br />
essencial." (56)<br />
O uso da aliança entre os menonitas tem-se acelerado desde a<br />
Segunda Grande Guerra Mundial, de acordo com Gingerich. "Desde a<br />
Segunda Guerra, a crescente urbanização dos menonitas tem tornado<br />
mais dificultoso para eles manter seus costumes distintivos, incluindo a<br />
prática de não usar alianças ou anéis de casamento, e como resultado, em<br />
muitas congregações esse uso é agora comum, não apenas às mulheres<br />
como também a seus maridos." (57)<br />
Historicamente descobrimos que a aceitação do anel de casamento<br />
ou aliança abriu a porta ao uso de toda espécie de jóia. Gingerich<br />
reconhece essa tendência na própria igreja menonita. "Junto com ele (o<br />
anel) veio o crescente uso de outras formas de jóias." (58) Reconhecendo<br />
a implicação dessa tendência para a igreja menonita, Gingerich insta com<br />
sua igreja a continuar a dar ênfase à importância à condução da vida<br />
cristã "sob o exame dos padrões do Novo Testamento referentes à<br />
humildade, mordomia, modéstia e simplicidade." (59)<br />
3. O Anel de Casamento (Aliança ) na História da<br />
Igreja Adventista do Sétimo Dia<br />
O anel de casamento tem sido um tema sensível na história da<br />
Igreja Adventista do Sétimo Dia. É importante lembrar que Ellen White<br />
e outros líderes adventista procederam da igreja metodista e outras que<br />
tinham uma firme posição contra o uso de jóias, incluindo anéis. Como
Qual a Roupa Certa? 126<br />
essas igrejas afrouxaram sua postura na última metade do décimo nono<br />
século, os adventistas sentiram-se pressionados a seguir essa tendência.<br />
A situação que os adventistas confrontam está refletida em um<br />
artigo intitulado "A Prática do Uso do Ouro", publicado na Review and<br />
Herald, em 1869. O autor, Daniel Bordeau, um franco-americano que<br />
trabalhava com a população francesa no Canadá, nos Estados Unidos e<br />
na Europa, escreveu: "Há não muitos anos, após o uso de ouro ser<br />
considerado pecado pelos batistas, metodistas e outras denominações, eu<br />
me lembro quando os batistas, aos quais eu pertencia, que fruíam mais<br />
do Espírito de Deus do que agora, fizeram uma regra empenhar-se com<br />
amor no trabalho com aqueles membros que se adornavam com ouro.<br />
Mas, já desde há muito, diferentes denominações têm passado por<br />
grandes mudanças nesse ponto, e quase universalmente adotado a prática<br />
do uso de ouro e outros ornamentos vãos." (60)<br />
Um fator que contribuiu para essa tendência foi a chegada de<br />
sucessivas levas de imigrantes às praias da América, na última parte do<br />
século passado. Incompreensivelmente, esses imigrantes trouxeram<br />
consigo seus costumes, incluindo o uso de jóias, especialmente da<br />
aliança. Várias denominações adaptaram-se à nova situação tomando<br />
uma atitude permissiva perante o uso de jóias.<br />
A nova e crescente igreja adventista sentiu a mesma pressão.<br />
Assim, não é surpresa que Ellen White tenha falado sobre o uso de jóias.<br />
Ele contou a história de uma senhora recentemente batizada, que se<br />
desfizera de custosa joalheria. Durante uma visita a Battle Creek essa<br />
nova conversa ficou surpresa em ver suas irmãs de fé usando variadas<br />
espécies de jóias. Um dia ela visitou uma irmã que ocupara uma posição<br />
de responsabilidade numa instituição adventista de Battle Creek. No<br />
curso da conversação, ela manifestou a intenção de dispor de algumas<br />
jóias que ainda guardava em seu baú e colocar o produto da venda no<br />
tesouro do Senhor. A irmã de mais experiência tentou dissuadi-la<br />
dizendo: "Por que vendê-las? Eu as usaria se fossem minhas." Para<br />
demonstrar o que queria dizer, mostrou um anel que usava, e que lhe fora
Qual a Roupa Certa? 127<br />
dado por uma descrente. E então comentou: "Nós não somos tão<br />
escrupulosos como antes." A mulher recém-convertida estava atônita,<br />
mas decidiu apegar-se ao princípio bíblico de modéstia e simplicidade<br />
que aceitara ao unir-se à igreja adventista.<br />
Influência Negativa Sobre os Outros<br />
Essa história revela a razão fundamental por que Ellen White<br />
aconselhou os adventistas contra o uso de jóias, ou seja, a influência<br />
negativa sobre os outros. Em 1881 ela escreveu: "Aqui o Senhor, através<br />
de Seu apóstolo, expressamente fala contra o uso de ouro (I Tim. 2:9 e 10).<br />
Que aqueles que têm tido semelhante experiência, não levem outros a<br />
desviar-se desse ponto por seu exemplo. Esse anel que circunda vosso<br />
dedo, embora simples, é de todo inútil, e seu uso exerce errônea<br />
influência sobre outros." (62)<br />
Chamar um anel simples de inútil pode soar um pouco duro, mas<br />
precisamos compreender que esse comentário foi feito dentro do<br />
contexto daquele tempo. Na América, os anéis são usados primeiramente<br />
como ornamentos. O uso do anel em cerimônias matrimoniais, como<br />
temos visto, é ainda uma opção em muitas igrejas americanas. Como<br />
vimos, Ellen White não condenou a aliança ou anel de casamento "em<br />
países onde o costume seja imperioso." (63) Consequentemente, o anel<br />
simples que ela tinha em mente era muito semelhante a um anel<br />
ornamental. Tais anéis eram inúteis porque não possuíam uso prático.<br />
Usar anéis ornamentais ou outra espécie de jóia era para Ellen White,<br />
não apenas uma fuga "dos ensinos simples da Bíblia", (64) como<br />
também uma influência negativa sobre outras pessoas.<br />
Ellen White compreendeu a importante verdade de que o<br />
cristianismo é mais facilmente aprendido do que ensinado. Através do<br />
seu ministério ela apelou à simplicidade e modéstia, de forma a atrair o<br />
povo a Cristo. "Vistamo-nos com modéstia, tomando-se essa um meio<br />
para podermos ser recebidos aonde quer que formos. Jóias e vestidos
Qual a Roupa Certa? 128<br />
caros não nos proporcionarão influência, mas o ornamento de um<br />
espírito manso e quieto que resulta da dedicação ao serviço de Cristo<br />
dar-nos-á poder com Deus." (65)<br />
Influência Negativa Sobre Si Mesmo<br />
A segunda importante razão pela qual Ellen White aconselhou os<br />
adventistas contra o uso de jóias e vestimentas extravagantes é que elas<br />
estimulam a vaidade e o orgulho. "Aqueles que se apegam aos<br />
ornamentos proibidos na Palavra de Deus acariciam orgulho e vaidade<br />
no coração. Eles desejam atrair a atenção. Seus vestidos dizem: 'Olhemme,<br />
admirem-me.' Assim a vaidade inerente à natureza humana é<br />
fortemente aumentada pela indulgência. Quando a mente está<br />
determinada em agradar a Deus apenas, todos os inúteis ornatos da<br />
pessoa desaparecerão." Indulgência com a vaidade e o orgulho ao exibir<br />
jóias e custosos vestidos "extinguem o desejo de fazer o bem" (67),<br />
porque quando o povo se torna obcecado em embelezar seu corpo, eles<br />
têm menos interesse, tempo ou dinheiro para as necessidades de outros.<br />
Mordomia Responsável<br />
O que já vimos conduz à terceira razão pela qual Ellen White<br />
advertiu aos adventistas a que não usassem ouro, ou seja, a mordomia<br />
responsável. Ela cria firmemente que Deus nos chama para sermos<br />
mordomos responsáveis de nosso tempo, saúde e dinheiro. "Cada dólar<br />
poupado pela negação própria de inúteis ornamentos, pode ser dado aos<br />
necessitados ou colocado no tesouro do Senhor para suster o evangelho,<br />
enviar missionários a países distantes e multiplicar publicações para<br />
levar raios de luz às almas que estão nas trevas do erro. Cada dólar usado<br />
desnecessariamente priva o gastador da preciosa oportunidade de fazer o<br />
bem." (68)
Qual a Roupa Certa? 129<br />
Como Wesley, Ellen White era muito conscienciosa das necessidades<br />
dos pobres e da igreja infante. Ela economizava cada dólar para atender<br />
às necessidades dos programas de expansão da igreja. Via seu dinheiro<br />
como propriedade de Deus para ser gasto judiciosamente. "Quanto<br />
dinheiro é gasto para agradar às suas ilusões e obter a admiração de<br />
corações tão vazios como o seu próprio? Ele é dinheiro de Deus. Quanto<br />
bem poderias ter feito com ele!" (69)<br />
A Declaração do Anel de Casamento<br />
A preocupação de Ellen White com respeito à mordomia<br />
responsável ajuda-nos a compreender sua posição sobre o anel de<br />
casamento ou aliança. Deveria ser notado que, ao contrário do que<br />
muitos adventistas pensam, o anel de casamento não era um assunto<br />
constante na mente de Ellen White. Isso é mostrado pelo fato de que em<br />
todos os seus escritos (cerca de 100.000 páginas), encontramos apenas<br />
uma simples e explícita declaração sobre o anel de casamento.<br />
Essa importante afirmação apareceu primeiramente em uma carta<br />
que ela escreveu em 1982, de Melbourne, Austrália, endereçada a "Meus<br />
Caros Irmãos e Irmãs." Esse dito foi posteriormente publicado em 1923,<br />
numa compilação intitulada "Testemunhos Especiais Para Ministros e<br />
Obreiros", em português, Testemunhos Para Ministros e Obreiros<br />
Evangélicos, no capítulo "Economia a Ser Praticada em Todas as<br />
Coisas." (70) Nesse tempo, Ellen White estava na Austrália orientando o<br />
começo da obra adventista nesse vasto continente. O número de membros<br />
era pequeno, 376, para ser mais específico, (71) e as necessidades eram<br />
muitas. A igreja enfrentava aperto financeiro, enquanto o programa de<br />
construção de uma casa publicadora estava tendo início.<br />
A situação financeira era tão crítica que cada centavo era necessário<br />
para aliviá-la. Ela lamentava o fato de que, a despeito das aperturas<br />
financeiras, muitos membros estavam gastando seu dinheiro em móveis<br />
extravagantes, alimento e vestuário, em lugar de pô-lo nos tesouros da
Qual a Roupa Certa? 130<br />
igreja. Os missionários americanos que lutavam para viver com um<br />
salário escasso, estavam sendo envolvidos, e compravam dispendiosos<br />
anéis de casamento apenas para atender a costumes.<br />
No contexto dessa dificultosa e complicada situação, Ellen White<br />
redigiu esta declaração acerca do anel de casamento (aliança): "Alguns<br />
têm levado uma pesada carga ao usar aliança, sentindo que as nossas<br />
esposas (dos americanos) de ministros deveriam conformar-se a esse<br />
costume. Tudo isso é desnecessário. Tenham as esposas dos ministros o<br />
dourado laço que una suas almas a Jesus Cristo, um puro e santo caráter.<br />
o verdadeiro amor, a brandura e a piedade, que são frutos nascidos da<br />
árvore cristã, e sua influência estará segura em qualquer lugar. O fato de<br />
que a inobservância do costume produz observações não é um bom<br />
motivo para adotá-lo. Os americanos podem tornar compreensível sua<br />
posição, declarando simplesmente que esse costume não é tido como<br />
obrigatório em nosso país. Não necessitamos usar esse sinal, pois não<br />
somos infiéis ao nosso voto matrimonial, e o uso do anel não seria<br />
evidência de que somos leais. Sinto profundamente que esse processo<br />
levedante de conformidade aos costumes e modas, parece estar se<br />
espalhando entre nós. Nenhum centavo deve ser gasto num aro de ouro<br />
para testificar que somos casados." (72)<br />
Essa mensagem está claramente endereçada aos missionários<br />
americanos na Austrália, que nunca tinham usado alianças antes, porque<br />
na América ela não é obrigatório. Ellen White sentiu que ali não havia<br />
nenhuma necessidade de esses missionários comprarem anéis. Seu<br />
conselho estava baseado em quatro principais considerações: primeira,<br />
não era difícil aos missionários americanos explicarem porque não<br />
usavam aliança, uma vez que não era seu costume nacional. Segunda, o<br />
costume era irrelevante, porque usar um anel não era prova de fidelidade<br />
conjugal. Terceira, o dinheiro gasto nas alianças poderia ser usado para<br />
atender a urgentes necessidades financeiras da igreja. Quarta, alianças<br />
poderia tomar-se um processo levedante para encorajar conformidade
Qual a Roupa Certa? 131<br />
com os costumes e modas". Essas foram legítimas considerações que, em<br />
grande extensão, são hoje relevantes.<br />
Reforma Gradual<br />
É importante notar que Ellen White respeitava, sem contudo<br />
endossar, o costume da aliança em países onde era tido como imperioso.<br />
Sua declaração continua: "Em países onde o costume for imperativo, não<br />
devemos condenar aqueles que usam aliança; deixem-nos usar se podem<br />
fazê-lo conscienciosamente, mas que nossos missionários não sintam que<br />
o uso da aliança aumentará sua influência em um jota ou til. Se eles são<br />
cristãos, isso será manifesto em sua semelhança de caráter com Cristo,<br />
em suas palavras, obras, lar e na associação com outros.<br />
A frase "se eles podem fazê-lo conscienciosamente" sugere que<br />
Ellen White não deu um silencioso endosso ao uso da aliança, mesmo<br />
em países onde ele era um imperativo social. O "se" sugere que mesmo<br />
em tais países alguns podem ter dificuldade em conciliar o uso com sua<br />
consciência. Isso pode ser verdadeiro quando a consciência é iluminada<br />
pela plena compreensão da origem, significado e impacto espiritual da<br />
aliança ou anel de casamento.<br />
Confesso pessoalmente que eu mesmo teria usado aliança<br />
conscienciosamente (embora eu nunca o tenha feito), porque via o<br />
assunto através dos óculos de minha cultural italiana, como um símbolo<br />
de estado marital. Pela mesma razão nunca dissuadi minha esposa do uso<br />
da aliança. Todavia, agora que aprendi sobre sua origem pagã, seu<br />
impacto negativo na história do cristianismo e potencial levedante sobre<br />
minha vida espiritual e de outros, nunca consideraria o uso da aliança de<br />
boa consciência. Gostaria que minha esposa também viesse a considerar<br />
a aliança sob uma perspectiva diferente.<br />
Ellen White compreendeu essa importante verdade: uma bemsucedida<br />
reforma precisa ser conduzida de um modo não muito rápido,<br />
para que o povo possa compreender novas verdades. Eis porque ela não
Qual a Roupa Certa? 132<br />
fez diretas objeções a que nossos membros usassem a aliança na Europa<br />
e na Austrália. Entendeu que levaria tempo para eles compreenderem "o<br />
processo levedante" da aliança. Sua filosofia é bem expressada no<br />
conselho que deu sobre a reforma alimentar, que é aplicável à reforma do<br />
vestuário. "Não devemos ir mais depressa do que podemos, para levar<br />
conosco aqueles cujas consciências e intelectos estão convencidos das<br />
verdades que advogamos. Devemos encontrar o povo onde ele está.<br />
Alguns de nós têm levado muitos para chegar até sua presente posição na<br />
reforma de saúde. Essa é uma obra vagarosa. Temos fortes apetites a<br />
enfrentar... Em termos de reforma, é melhor estar um passo atrás do que<br />
adiante. E se houver erros, que eles sejam em favor do povo." (74)<br />
O Respeito de Ellen White Aos Costumes Locais<br />
William C. White, filho de Ellen White, relata dois episódios que<br />
ilustram o respeito de sua mãe (mas não aprovação) pelo costume local<br />
do uso da aliança. O primeiro aconteceu na Europa, onde Ellen trabalhou<br />
de 1885 a 1887. Em 1885, na Basiléia, um ministro adventista estava<br />
pregando numa noite contra o uso de jóias, incluindo anéis. Uma senhora<br />
o interrompeu para perguntar se a aliança estava incluída. Sem hesitar,<br />
ele respondeu: "Sim, tudo." Esse incidente levantou considerável<br />
controvérsia, porque na Europa a aliança não é vista como ornamento.<br />
Quando o assunto foi levado a Ellen White, de acordo com seu filho<br />
William que estava presente ao local. "Ela disse que onde o uso da<br />
aliança era exigido por costume como prova de lealdade, nossos<br />
pregadores não deveriam insistir no assunto, mas pô-lo de lado." (75)<br />
Referindo-se a idêntico episódio ocorrido num lugar onde o uso era<br />
considerado imperativo, William C. White escreveu novamente em outra<br />
carta: "Ela (Ellen White) disse que era correto discernir a diferença entre<br />
anéis como ornamento e como prova de lealdade ao marido." (76)<br />
Notemos que tal diferença aplica-se aos países onde a aliança é requerida<br />
por costume.
Qual a Roupa Certa? 133<br />
O segundo episódio envolve o próprio William C. White. Enquanto<br />
na Austrália trabalhando com sua mãe, ele encontrou uma jovem senhora<br />
chamada Ethel May Lacey, por quem se apaixonou. Ela era inglesa e<br />
vivia na Tasmânia. Seu pai era aposentado pela polícia britânica. Sua<br />
família e amigos entendiam a aliança como essencial. Sabendo da<br />
objeção de Ellen White ao uso de aliança pelos missionários americanos,<br />
Ethel decidiu conversar com sua futura sogra acerca do assunto. Logo<br />
depois ela relatou a conversa a seu noivo. "Willie, sua mãe disse que não<br />
se oporia a que eu usasse." (77) Após terem se estabelecido em seu novo<br />
lar, onde todos os conheciam, ela retirou sua aliança e nunca mais a<br />
usou, porque não se sentia confortável com ela." (78)<br />
À luz dessa experiência, William C. White explicou que sua mãe<br />
não se opunha "ao uso da aliança como sinal de lealdade naqueles países<br />
e entre o povo onde tal costume se acha bem estabelecido, e que seu<br />
abandono seria universalmente incompreendido." (79)<br />
Essas considerações conduzem-nos à conclusão de que Ellen White<br />
nunca imaginou que seus conselhos sobre a aliança devessem tornar-se<br />
uma regra para todo adventista ao redor do mundo. Em países onde o uso<br />
era imperativo, ela deixou o assunto à decisão da consciência individual,<br />
para seguir ou não o costume. Entretanto, ela não hesitava em expressar<br />
sua grande preocupação de que o uso do anel poderia contribuir com o<br />
"processo levedante", e encorajar conformidade com a moda. E essa<br />
inquietação não era infundada. Temos encontrado referências históricas<br />
de que a permissão ao uso da aliança tem dado a muitos o pretexto para<br />
uso de anéis ornamentais, brincos, colares, braceletes, etc. Veremos que<br />
esse "processo levedante" afeta também a igreja adventista.<br />
Concepções Adventistas Desde 1925<br />
O uso da aliança em cerimônias de casamento tornou-se bem<br />
estabelecido na maioria das igrejas protestantes americanas, durante a<br />
primeira parte do século vinte. Alguns adventistas também praticavam a
Qual a Roupa Certa? 134<br />
cerimônia do anel. Para discorrer sobre tal prática, que teria sancionado o<br />
uso difundido da aliança e, eventualmente, de anéis ornamentais, no<br />
Concílio Outonal de 1925, os líderes da igreja votaram uma ação, que<br />
mais tarde seria incluída no Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia:<br />
"Votado que... desaprovamos o anel cerimonial (aliança) e os ministros<br />
que oficiam casamentos de crentes com descrentes, ou entre aqueles que<br />
não são de nossa fé." (80) Essa declaração apareceu em muitas edições<br />
do Manual da Igreja, até 1951.<br />
A desaprovação da aliança pelo Manual da Igreja não reduziria o<br />
uso de jóias, especialmente anéis. Isso levou os líderes na América do<br />
Norte a reconsiderar a questão três anos após o Concílio outonal de<br />
1935. Nesse tempo eles se expressaram mais explicitamente: "Os<br />
membros de nossa igreja têm sido desde o início um povo simples.<br />
Nosso padrão exige o abandono de jóias, especialmente os artigos<br />
mencionados nas Escrituras e no Espírito de Profecia, tais como anéis,<br />
brincos, braceletes e colares; apelamos a uma maior lealdade a esses<br />
princípios divinamente revelados." (81)<br />
Essa declaração não faz menção específica da aliança,<br />
aparentemente porque naquele tempo o problema na igreja era mais o<br />
uso de jóias em geral do que a aliança em si. A situação foi logo mudada.<br />
Quando a aliança ganhou popularidade na sociedade americana, durante<br />
a Segunda Guerra Mundial, pelas razões abaixo citadas, um crescente<br />
número de adventistas na América do Norte também começou a usá-la.<br />
Para desestimular o crescente costume, uma nova declaração<br />
mencionando especificamente a aliança, foi apresentada na edição do<br />
Manual da Igreja de 1951. Ela estava amplamente baseada no conselho<br />
dado por Ellen White em 1892, e restringia o uso da aliança àqueles<br />
países onde tal costume era imperioso: "Em alguns países o costume do<br />
uso da aliança de casamento é considerado obrigatório, tendo-se tornado, na<br />
mente do povo, um critério de virtude e assim não é tido como ornamento.<br />
Sob tais circunstâncias, não temos disposição de condenar a prática." (82)
Qual a Roupa Certa? 135<br />
A Aprovação da Aliança na América do Norte<br />
A política restritiva do Manual da Igreja de 1951, perdurou na<br />
América até 1986. Nesse ano, o Concílio da Divisão Norte-Americana<br />
votou suspender a restrição e permitir aos membros da igreja nos Estados<br />
Unidos a possibilidade de uso de uma aliança simples, como em outras<br />
partes do mundo. A declaração reza: "Votado reconhecer que, em<br />
harmonia com a posição tomada no Manual da Igreja, págs. 145 e 146,<br />
alguns membros na Divisão Norte-Americana, bem como em outras<br />
partes do mundo, sintam que usar uma simples aliança é um símbolo de<br />
fidelidade ao voto matrimonial, e declarar que tais pessoas devem ser<br />
plenamente aceitas na congregação e nos serviços da igreja." (83)<br />
Muitos fatores contribuíram para a revogação da restrição sobre o<br />
uso da aliança na América do Norte. Desde 1951, grande número de<br />
adventistas tem vindo à América, procedentes de países onde o uso da<br />
aliança é socialmente indispensável. Em muitos casos esses irmãos têm<br />
continuado a usar a aliança na América. Há também muitos adventistas<br />
americanos que crêem que usar aliança tem-se tomado imperativo na<br />
América, como acontece em outros países. Consequentemente, eles<br />
sustentam que a concessão feita por Ellen White em 1892 para os "países<br />
onde o costume é imperativo", é agora aplicável à América do Norte.<br />
Não há dúvida de que o costume da aliança tem ganho terreno nos<br />
Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial. Em seu livro, Anéis<br />
Através dos Tempos, James McCarthy dá razão ao seu desenvolvimento:<br />
"Com a ocorrência da Segunda Guerra, o lar nunca pareceu tão precioso<br />
ao jovem; nunca ele se apegou tão acerbamente ao lar e à esposa e a tudo<br />
o que o casamento significava. Os noivos começaram insistindo na<br />
cerimônia da troca de alianças. A aliança era tudo o que eles podiam<br />
levar para a guerra. As noivas desejavam que seus maridos soldados<br />
tivessem alguma lembrança apropriada de seu estado civil, enquanto<br />
vagavam pelo mundo." (84)
Qual a Roupa Certa? 136<br />
A popularidade da aliança tem crescido nos Estados Unidos desde a<br />
Segunda Guerra, promovendo o surgimento de novas indústrias<br />
dedicadas exclusivamente a criar novos tipos de anéis. Hoje, a maioria<br />
das alianças não são mais simples anéis de ouro, sem jóias, mas têm<br />
todas as espécies de formas, incrustadas de diamantes e outras pedras<br />
preciosas. Segundo os joalheiros que consultei, cerca de 90% das<br />
alianças vendidas possuem diamantes ou outras pedras preciosas. Isso<br />
significa que apenas 10% do povo adquirem alianças simples. Os<br />
joalheiros disseram-me que alianças simples estão ficando fora de moda,<br />
e daqui a não muito tempo serão coisa do passado. Assim, não pode mais<br />
ser dito que as alianças não são mais um ornamento, porque em sua<br />
maioria elas vêm com diamantes e outras gemas. Alianças artisticamente<br />
trabalhadas são dispendiosos ornamentos, sem consonância com os<br />
princípios bíblicos de modéstia e simplicidade.<br />
O "Processo Levedante"<br />
O crescimento da popularidade dos anéis está influenciando os<br />
adventistas da América e além-mar. Meu ministério itinerante por várias<br />
partes do mundo, expõe-me constantemente a realidade do "processo<br />
levedante" de conformidade com as jóias da moda. Em nossas grandes<br />
igrejas está se tornando uma experiência comum para mim, cumprimentar<br />
membros da igreja que usam não somente anéis de diamante, mas<br />
também brincos, braceletes e colares.<br />
Lembro-me de que em minha meninice, na Itália, nossos irmãos<br />
usavam apenas uma aliança simples. Quão diverso é hoje em dia!<br />
Recentemente preguei em algumas das grandes igrejas ao norte da Itália,<br />
Áustria, Suíça, Dinamarca, Noruega e Inglaterra. Em todo lugar vi um<br />
crescente número de membros profusamente adornados com jóias,<br />
incluindo alianças trabalhadas. A situação não é diferente na América do<br />
Norte. O comentário que ouço freqüentemente é que as jóias não são<br />
mais um tema de preocupação da igreja.
Qual a Roupa Certa? 137<br />
A intenção dessas observações não é julgar motivos daqueles<br />
irmãos que usam anéis de diamante e outros tipos de jóias. Minha<br />
experiência tem sido que muitos desses membros são muito sinceros e<br />
não dão muita importância às jóias que usam. Eles as usam em ocasiões<br />
formais, como ditado pela etiqueta social. Necessariamente não fazem<br />
delas ídolos, e estão dispostos a removê-las quanto compreenderem os<br />
princípios de modéstia, simplicidade e mordomia.<br />
Antes de mais nada, meu intento é mostrar que Ellen White tinha<br />
razão ao "preocupar-se profundamente com esse levedante processo" (85)<br />
de conformidade ao mundo, em pequenas coisas como a simples aliança.<br />
Esta pesquisa sobre a história da aliança, ou anel de casamento em<br />
algumas igrejas cristãs, tem mostrado que pequenas coisas tais como<br />
uma aliança de casamento, podem abrir a porta a grandes<br />
comprometimentos, por tentar o povo a usar outras espécies de jóias.<br />
Conclusão<br />
Nós propusemos duas questões no início: (1) Poderiam os cristãos<br />
usar aliança de casamento? (2) A aliança simples estaria inclusa na<br />
categoria dos impróprios ornamentos de ouro e pérolas mencionados por<br />
Paulo e Pedro?<br />
Temos buscado por respostas a essas questões restaurando a história<br />
do anel, primeiro na Roma antiga e então nas igrejas cristãs. O que temos<br />
aprendido dessa pesquisa histórica pode ser sumariado em cinco grandes<br />
pontos:<br />
Primeiro – A origem do anel é encontrada na mitologia pagã e nas<br />
práticas idolátricas. Utilizar um símbolo pagão com significado sagrado<br />
pode facilmente conduzir à secularização do próprio símbolo. Um caso<br />
específico é a adoção do Dia do Sol como o dia do Senhor, que<br />
rapidamente tornou-se um feriado antes que um dia santo.<br />
Segundo – Os romanos introduziram o uso de um simples anel de<br />
ferro para "ligar" o compromisso de noivado de dois namorados.
Qual a Roupa Certa? 138<br />
Todavia, vimos que o singelo anel de noivado logo evoluiu para<br />
elaborados anéis de ouro para ornar todos os dedos.<br />
Terceiro – O que aconteceu na Roma pagã repetiu-se na igreja<br />
cristã. Descobrimos que na igreja primitiva o uso do anel marital passou<br />
por três fases principais. Na primeira, do período apostólico, não houve,<br />
ao que tudo indica, uso do anel. Na segunda, entre o segundo e terceiro<br />
séculos, houve uso restrito apenas a um simples e barato anel conjugal.<br />
Na fase final, do quarto século em diante, houve proliferação de todas as<br />
espécies de anéis ornamentais e jóias.<br />
Quarto – O que ocorreu na igreja primitiva tem-se repetido nas<br />
modernas denominações. Os dois exemplos que consideramos, das<br />
igrejas metodista e menonita, mostraram a mesma regra. No primeiro<br />
estágio, não eram permitidos jóias e anéis de casamento. No segundo, foi<br />
feita uma concessão ao uso da aliança. No estágio final, a concessão ao<br />
uso da aliança tornou-se um pretexto para ostentação de todas as<br />
espécies de jóias, incluindo anéis ornamentais.<br />
Quinto – O que ocorreu nas igrejas metodista e menonita, tem<br />
ocorrido também na igreja adventista. O exemplo é similar. Na primeira<br />
fase da igreja adventista, nenhuma jóia ou aliança era usada. Na segunda,<br />
a concessão foi feita apenas à aliança naqueles países onde o uso era<br />
imperativo. Na fase final, a concessão estendeu-se aos membros da<br />
igreja da América do Norte. O resultado dessa evolução é um<br />
estabelecido crescimento no uso de várias espécies de jóias, incluindo<br />
anéis ornamentais.<br />
Em suma, a lição histórica é evidente. Na história de Roma e da<br />
igreja cristã, os anéis de casamento têm exercido uma corruptora<br />
influência, por tentar o povo a usar anéis ornamentais e outros tipos de<br />
jóia. Os anéis parecem exercer quase que uma fatal atração. O povo pode<br />
tornar-se tão enamorado de sua aliança, que se sinta facilmente tentado a<br />
aumentar o número de anéis em seus dedos e "melhorar" seu estilo.<br />
À luz dessas descobertas, qual seria nossa resposta à primeira<br />
questão: "Deveriam os cristãos usar aliança?" A resposta é: Os cristãos
Qual a Roupa Certa? 139<br />
podem usar aliança se eles puderem fazê-lo conscienciosamente,<br />
naquelas culturas onde o costume for imperativo. À segunda questão.<br />
"Poderia a aliança ser enquadrada na categoria de impróprios<br />
ornamentos de ouro e pérolas mencionados por Paulo e Pedro? A<br />
resposta é esta: Historicamente uma aliança simples não tem sido<br />
observada como ornamento, mas a história também nos ensina que ela<br />
não permanece simples por muito tempo, mas evolui para anéis mais<br />
elaborados incrustados de pedras preciosas.<br />
Advertência Final<br />
Rápidas mudanças culturais estão tendo lugar hoje. Em muitos<br />
países ocidentais a velha visão do casamento como sagrado, indissolúvel,<br />
comprometido por toda a vida, está sendo desafiada e substituída por<br />
uma nova visão secular como um contrato social facilmente dissolúvel<br />
através de um processo legal. Verdadeiramente, o divórcio não é mais<br />
uma moléstia americana, mas espalhou-se rapidamente na maioria dos<br />
países cristãos desenvolvidos. O resultado é que a aliança está<br />
gradualmente perdendo seu significado de mútua fidelidade "até que a<br />
morte os separe", e está se tornando mais e mais um mero ornamento.<br />
Ademais, o povo hoje não está mais satisfeito com uma simples<br />
aliança de ouro, mas deseja anéis mais sofisticados, com diamantes e<br />
outras gemas. A aliança está se tornando relíquia do passado. Isso<br />
significa que as alianças transformaram-se em custosos ornamentos, em<br />
completa dissonância com os princípios bíblicos da modéstia e<br />
simplicidade. À luz dessas tendências, usar a aliança pode rapidamente<br />
tornar-se inapropriado para os cristãos, mesmo em países onde<br />
tradicionalmente tem sido um sinal de virtude.<br />
Muitos insistem que as jóias em geral e os anéis em particular são<br />
coisas de somenos importância, que não deveria obscurecer assuntos<br />
mais relevantes. Eu concordo. Há mais coisas concernentes ao<br />
cristianismo do que jóias e anéis. Isso é porque eles recebem cobertura
Qual a Roupa Certa? 140<br />
limitada na Bíblia. Por outro lado, a Bíblia e a História revelam que o<br />
amor às jóias tem resultado em declínio e apostasia. Uma vez que a<br />
aliança é uma coisa pequena, por que não retirá-la do dedo, a menos que<br />
seja um imperativo social? Porque não usar em seu lugar "o vínculo<br />
dourado que une (nossas) almas a Jesus Cristo, um puro e santo caráter,<br />
o verdadeiro amor e a mansidão e a piedade que são frutos nascidos na<br />
árvore cristã, e (nossa) influência será segura em qualquer lugar." (86)<br />
Referências do Capítulo V<br />
1. Sobre o afrouxamento do padrão concernente a jóias entre alguns<br />
grupos menonitas, ver Melvin Gingerich, Mennonite Attire<br />
Through Four Centuries (Breinigsville, Pennsylvania, 1970),<br />
págs. 142 a 144. Para a mesma tendência entre os metodistas. ver<br />
The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977, no verbete<br />
"Dress".<br />
2. Para posterior informação, ver The Encyclopedia Britannica, ed.<br />
1926, verbete "Ring".<br />
3. Plínio, Natural History 23,8.<br />
4. Ver The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring".<br />
5. Ibidem.<br />
6. James Remington McCarthy. Rings Through the Ages (New<br />
York. 1945), pág. 5.<br />
7. Paul Berdanier. How It Began, como citado por James<br />
Remington McCarthy (nota 6), pág. 6.<br />
8. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 6.<br />
9. Josefo. Antiquities of the Jews, 8,2,5. Para ampla discussão do<br />
uso de anéis e outros amuletos como atrativos, ver Encyclopedia<br />
of Religious and Ethics, edição de 1914. James Hastings. ed.,<br />
verbete "Charms and Amulets (Christian)", vol. 3, págs. 413 a<br />
430.
Qual a Roupa Certa? 141<br />
10. The Encyclopedia Americana, ed. 1944, verbete "Ring", (vol. 23,<br />
pág. 531).<br />
11. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 26.<br />
12. Como citado por James Remington McCarthy (nota 6), pág. 30.<br />
13. Além das enciclopédias mencionadas acima, ver The<br />
Encyclopedia of Religious, Mircea Eliade, ed. 1987, verbete<br />
"Jewelry", também Encyclopedia of Religious and Ethics, James<br />
Hastings, ed. 1913, verbete "Charms and Amulets".<br />
14. Ver minha dissertação doutoral From Sabbath to Sunday, a<br />
Historical Investigation of the Origin of Sunday in Early<br />
Christianity (Roma, Imprensa da Pontifícia Universidade<br />
Gregoriana, 1977), capítulos 8 e 9.<br />
15. The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring" (vol. 23,<br />
pág. 351).<br />
16. Tertuliano, Apology 6. The Ante-Nicene Fathers, Alexander<br />
Roberts e J. Donaldson editores (Grand Rapids, 1973), vol. 3,<br />
pág. 22.<br />
17. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 26.<br />
18. Idem, pág. 67.<br />
19. Churchill Babington. "Rings" A Dictionary of Christian<br />
Antiquities (Londres. 1908), vol. pág. 1, 1794.<br />
20. Ibidem.<br />
21. Ibidem.<br />
22. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 152.<br />
23. Joseph Bingham, The Antiquities of Christian Church, livro 22,<br />
3, 5, como citado no A Dictionary of Christian Antiquities (nota<br />
1), vol. 3, pág. 22.<br />
24. Tertuliano, Apology (nota 16), vol. 3, pág. 22 Ver também<br />
Tertuliano, On Idolatry 16. The Ante-Nicene Fathers, (Grand<br />
Rapids, 1973), vol. 3, pág. 71.<br />
25. Clemente de Alexandria, The Instructor 3, 11 (nota 24), vol. 2,<br />
pág. 285.
Qual a Roupa Certa? 142<br />
26. Ibidem.<br />
27. Plínio, o Velho, Natural History 33,1.<br />
28. Clemente de Alexandria, The Instructor 3, 33 (nota 24), vol. 2,<br />
pág. 286.<br />
29. Idem. pág. 285.<br />
30 Para exemplos, ver A Dictionary of Christian Antiquities (nota 1),<br />
vol. 2, pág. 1807 e 1808.<br />
31. Isidoro de Sevilha, De Ecclesiasticis Officiis, 2,20, citado em A<br />
Dictionary of Christian Antiquities (nota 19), vol. 2, pág. 1808.<br />
32. The Catholic Encyclopedia, ed. 1926, ed. 1908, verbete "Rings".<br />
33. Ibidem.<br />
34. Ibidem.<br />
35. Ibidem.<br />
36. The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring", vol. 23,<br />
p. 350).<br />
37. Ibidem.<br />
38. Idem, pág. 351.<br />
39. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 2, The Ante-Nicene<br />
Fathers, Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids,<br />
1970), vol. 7, pág. 392.<br />
40. Citado na The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977,<br />
verbete "Dress", (vol. 2, pág. 717).<br />
41. Idem, pág. 718. Ver também The Doctrines and Discipline of the<br />
Methodist Church (New York, 1835), pág. 88.<br />
42. The Doctrines and Discipline of the Methodist Church (New<br />
York, 1872), pág. 272, ênfase suprida.<br />
43. Manual of Presbyterian Law and Usage (Washington, D.C.,<br />
1873), pág. 285, ênfase suprida.<br />
44. Our Deportment (Detroit, 1881), pág 19.<br />
45. Melvin Gingerich, (nota 1), pág. 143.<br />
46. The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977, verbete<br />
"Dress", (vol. 2, pág. 718).
Qual a Roupa Certa? 143<br />
47. Dean M. Kelly, "How Adventism Can Stop Growing", Adventists<br />
Affirm (Spring, 1991), pág. 56.<br />
48. Dean M. Kelly, Why Conservative Churches Are Growing (New<br />
York, 1972), pág. 55.<br />
49. Idem, págs. 1 a 10. Kelly fornece quadros informativos<br />
mostrando o declínio numérico da congregação, das matriculas<br />
nas escolas paroquiais e do número de missionários no Exterior.<br />
Estatísticas mais recentes são encontradas em The World<br />
Christian Encyclopedia (New York, 1982)<br />
50. Dean M. Kelly, (nota 48), pág. 57.<br />
51. Dean M. Kelly, "How Adventism Can Stop Growing", Adventists<br />
Affirm (Spring, 1991), pág. 49. O artigo foi originalmente<br />
publicado em Ministry, fevereiro de 1982.<br />
52. Idem, pág. 48.<br />
53. Melvin Gingerich, (nota 1), pág. 142.<br />
54. Idem, pág. 143.<br />
55. Ibidem.<br />
56. Idem, ênfase suprida.<br />
57. Idem. pág. 144.<br />
58. Ibidem.<br />
59. Idem, pág. 158<br />
60. Daniel T. Bordeau. "How Practice of Wearing Gold" Review and<br />
Herald (5 de outubro de 1869). pág. 117.<br />
61. Ellen G. White, Selected Messages, vol. 3 (Hagerstown.<br />
Maryland, 1980), págs. 246 a 247.<br />
62. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 4, pág. 630.<br />
63. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 4, pág. 180.<br />
64. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 4, pág. 630.
Qual a Roupa Certa? 144<br />
65. Ellen G. White, Selected Messages, vol. 3 (Hagerstown.<br />
Maryland, 1980), págs. 249.<br />
66. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 4, pág. pág. 645.<br />
67. Ibidem.<br />
68. Idem, págs. 645. 646.<br />
69. Idem, pág. 646.<br />
70. A declaração foi publicada em Testimonies to the Ministers,<br />
(Mountain View, California, 1958) vol. 4, págs. 180, 181.<br />
71. General Conference Bulletin, 1889, págs. 47 a 50.<br />
72. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 4, págs. 180 e 181.<br />
73. Idem, pág. 181, ênfase suprida.<br />
74. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />
California, 1958) vol. 3, págs. 20 e 21.<br />
75. William C. White, carta a D. C. Babckock, 6 de agosto de 1913,<br />
pág. 1.<br />
76. William C. White, carta a J. W. Siler, 9 de agosto de 1916.<br />
77. Ethel May Lacey, carta a William C. White, 13 de fevereiro de<br />
1895.<br />
78. Ibidem.<br />
79. William C. White, carta a W. E. Ingle, Sanatório, Califórnia, 14<br />
de abril de 1913.<br />
80. A declaração aparece primeiramente em Seventh-Day Adventist<br />
Manual, (Washington, D.C., 1932), pág. 175.<br />
81. Actions of Autumn Council Committee from the General<br />
Conference, Louisville, Kentucky, 29 de outubro a 5 de<br />
novembro de 1935, pág. 24<br />
82. Seventh-Day Adventist Manual, (Washington, D.C., 1951), pág.<br />
202. Essa declaração foi publicada sem qualquer mudança de<br />
texto em todas as edições do Manual da Igreja, de 1951 até 1990.
Qual a Roupa Certa? 145<br />
83. 1986 Year-end Meeting of the North American Division (de 5 a<br />
11 de novembro de 1986), págs. 24 e 25.<br />
84. James Remington McCarthy (nota 6). pág. 182.<br />
85. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (nota 63) vol. 4,<br />
págs. 180 e 181.<br />
86. Idem, pág. 180.
Qual a Roupa Certa? 146<br />
TRAJES UNISSEX<br />
U<br />
ma significativa tendência de nossos tempos é embotar as<br />
distinções de gênero no vestuário. "Desde o Éden", escreveu<br />
Charles Winick em seu livro The New People: Desexualization in<br />
American Life, "a coisa mais provocante sobre cada sexo tem sido que<br />
ele pareça e cheire diferente um do outro. Mulheres com maneiras de<br />
homens, cujos trajes fazem-nas parecer maiores e mais fortes... Homens<br />
retribuindo às mulheres, cujos trajes leves e justos insinuam-lhe<br />
discretamente as curvas, e cujo perfume era promessa." (1)<br />
"Vive la Similarité!"<br />
Hoje o mundo da moda não mais proclama: "Vive la difference!",<br />
mas "Vive la similarité!" De fato, a similaridade entre os estilos de<br />
cabelo e vestuário de homens e mulheres tornou-se tão grande que<br />
algumas pessoas se divertem no fato de que ninguém pode sempre estar<br />
certo se dois jovens caminhando pela calçada são ambos rapazes ou<br />
garotas, ou um de cada.<br />
Winick ilustra a similaridade de estilos referindo-se ao jogo "Uma<br />
dama no escuro", no qual o herói nota que o traje da heroína é igual ao<br />
seu próprio. "Precisamos ir ao mesmo alfaiate", diz ele. (2) E comenta:<br />
"Cada sexo tem estado adotando de modo crescente as modas e as<br />
características secundárias externas do outro no último quarto de século,<br />
desde o jogo Moss Hart. Se o vestir-se torna-se mais interssexual,<br />
podemos necessitar das indicações 'Ele' e 'Ela' nas roupas, para sermos<br />
capazes de falar com os participantes sem um cartão de contagem." (3)<br />
Objetivo Deste Capítulo<br />
Este capítulo examina a camuflada filosofia da moda unissex e seu<br />
impacto sobre o lar, o trabalho e a igreja. Consideraremos a resposta que
Qual a Roupa Certa? 147<br />
o cristão deve dar à moda unissex, e como aplicar os princípios bíblicos<br />
da distinção de sexos à seleção do vestuário.<br />
A Visão Andrógina<br />
A força condutora por trás da moda unissex de nosso tempo é a<br />
visão feminista da nova sociedade sem distinção de sexos, comumente<br />
conhecida como Sociedade Andrógina. O termo andrógino combina as<br />
palavras gregas andros (macho) e gume (fêmea). Ele descreve o<br />
indivíduo que integra ambas as características de macho e fêmea.<br />
As feministas afirmam que homens e mulheres são essencialmente<br />
os mesmos, exceto pela diferença dos órgãos reprodutores. Outras<br />
diferenças percebidas são todas culturalmente induzidas, dizem. A razão<br />
pela qual as meninas brincam com bonecas e os meninos com carrinhos<br />
não é natural, mas educacional. Para adquirir uma autêntica humanidade,<br />
de acordo com as feministas, é necessário destruir os estereótipos<br />
sexuais, incluindo a distinção de gêneros no vestir. Esse ideal é a nova<br />
androgenia, que para as feministas, contém a promessa de uma nova<br />
sociedade onde os papéis dos homens e das mulheres são indiferençáveis<br />
e intercambiáveis. As feministas vêem essa utópica sociedade sem<br />
gêneros como imperativa para conseguir a liberação das mulheres de seu<br />
papel submisso. "Conquanto sejam poucas as que buscam a<br />
unissexualidade", conforme Roland Martinson, "há muitas que seguem<br />
pelos caminhos do homem crendo ser isso uma liberação." (4)<br />
As feministas têm sido bem-sucedidas em vender sua visão<br />
revolucionária de uma sociedade andrógina. Vemos isso não somente na<br />
popular moda unissex, como em outras áreas. Allan Carlson documenta<br />
o impacto da visão andrógina em quatro segmentos de nossa sociedade:<br />
"1) Em 1980, 72% dos profissionais da saúde mental ... descrevem um<br />
adulto saudável, maduro, socialmente competente, como andrógino.<br />
2) Os livros escolares absorveram a revolução feminista e promovem o<br />
ideal andrógino. 3) Teólogos de linha denominacional protestante
Qual a Roupa Certa? 148<br />
identificam-se agora com a androginia. A principal teóloga feminista,<br />
Rosemary Reuther defende destemidamente em Sexismo e a Voz de<br />
Deus, Perante a Teologia Feminista: "Por muitos anos as funções<br />
seccionais da Sociedade de Literatura Bíblica dedicou muitos de seus<br />
documentos à promoção de aspectos do feminismo como androginia.<br />
4) A androginia tem feito alguns avanços no setor empresarial e mesmo<br />
nos serviços militares." (5)<br />
Aparência Unissex<br />
As feministas estão explorando diferentes modos de criar uma<br />
sociedade sem gêneros. Por exemplo, Sandra Bem, uma psicóloga da<br />
Universidade de Cornell, tem tentado formar suas próprias crianças<br />
sistematicamente sem gênero, isto é, sem consciência de gênero. Em<br />
uma entrevista com Don Monkerud, um repórter da revista Omni, Sandra<br />
disse que ela e seu marido "procuram eliminar os estereótipos sexuais de<br />
seu próprio comportamento, partilhando tarefas familiares, banho com as<br />
crianças, fazendo o jantar juntos e dando-lhes caminhõezinhos e bonecas<br />
independentemente de sexo." (6)<br />
"Aos quatro anos de idade, Jeremy, o filho de Sandra, usa<br />
prendedores de cabelo na escola maternal. Um dia, um rapazote<br />
constantemente lhe dizia que apenas meninas usam prendedores. Jeremy<br />
tentou explicar que usar prendedores não faz um garoto ou uma garota, e<br />
sim apenas a genitália. Finalmente, frustrado, ele baixou suas calças para<br />
mostrar que era menino. Isso não mudou o pensamento de seu amigo que<br />
continuava dizendo: "apenas meninas usam prendedores de cabelo" (7)<br />
Esse episódio humorístico ilustra a confusão proveniente de forçar<br />
uma aparência unissexual. As feministas crêem que essa confusão é parte<br />
do preço a ser pago para construir uma sociedade sem gêneros, que,<br />
segundo alegam, permitirá a total expressão do potencial humano.<br />
Na mostra de moda primaveril, em 1970, na cidade de Paris, Diana<br />
escreveu para a revista Saturday Review: "E já se foi – ou está indo – a
Qual a Roupa Certa? 149<br />
diferença sócio-sexual entre homens e mulheres em termos de vestes e<br />
penteados. Ao mesmo tempo em que confesso não ter qualquer amor<br />
pelo total desasseio de muitos jovens, uma vez que vejo nisso uma<br />
depreciação as por seu criticismo da cultura, na qual diferenciados estilos<br />
de penteados e vestidos, desenhados não por Deus mas pelo homem,<br />
foram tratados como se fossem apenas realidades biológicas. Como<br />
entendo, ou pelo menos como o espero, o que quer que reduza as falsas<br />
separações entre homens e mulheres, está fadado a reduzir suas suspeitas<br />
e hostilidades, a assim lhes permite total expressão potencialidades<br />
humanas." (8)<br />
Unissex na Busca da Igualdade<br />
A subjacente suposição é que a diferenciação de vestes e penteados<br />
não é intento divino e contribui para a dominação masculina.<br />
Consequentemente, é imperioso eliminar tais distinções de gênero para<br />
conseguir a emancipação da mulher. James Laver sustenta: "Numa<br />
sociedade patriarcal, na qual o homem é dominante, as vestes de homens<br />
e mulheres são totalmente diferentes. Mas na sociedade matriarcal, na<br />
qual a mulher é dominante, as vestes usadas pelos dois sexos tornam-se<br />
mais e mais semelhantes." (9)<br />
A moda unissex, que se tornou popular na América nos anos<br />
sessenta, reflete a tentativa das mulheres de conseguir igualdade com os<br />
homens. Em seu livro Historic Costume, Katherine Lester escreveu<br />
acerca da emergente moda unissex durante a década de sessenta: "Com<br />
muitas mulheres usando calças e muitos homens vestindo ousados trajes<br />
e penteados, as modas para ambos os sexos tornaram-se semelhantes.<br />
Essa tendência, chamada 'unissex', veio com o movimento pró igualdade<br />
sexual e econômica entre homens e mulheres, e nublou os tradicionais<br />
papéis do homem e da mulher na sociedade." (10)<br />
A fim de conseguir igualdade com os homens, as feministas<br />
promoveram modas masculinas para as mulheres. "A conhecida Dra.
Qual a Roupa Certa? 150<br />
Mary Walker, vestida constantemente com roupas masculinas, promoveu<br />
a igualdade dos sexos, fundando uma colônia feminina chamada 'Eva<br />
sem Adão' para provar que a anatomia da mulher é semelhante à do<br />
homem. (11)<br />
Os homens também adotaram estilos femininos. Durante os anos<br />
sessenta, os homens usaram "roupas e penteados que primeiramente<br />
pensava-se serem femininos. Em parte, isso era um mecanismo para<br />
chamar a atenção, para ser notado. Não apenas grupos musicais como os<br />
Beatles e os Rolling Stones, mas também nas artes e no teatro aceitou-se<br />
essa aparência feminilizada." (12) "Durante 1984", escreveu Don<br />
Monkerud, "Boy George poderia jovialmente falar em rede nacional de<br />
TV dizendo: 'Quero agradecer à América, por reconhecer um bom drag<br />
queen [homem travestido com roupas femininas] quando vêem um."' (13)<br />
A Importância da Distinção de Sexos<br />
A despeito de sua popularidade, a tentativa de eliminar as distinções<br />
de gêneros ou sexos no vestuário, bem como em seus papéis, é<br />
claramente condenada na Bíblia. As Escrituras ensinam respeito pela<br />
distinção de gêneros, bem como em seus papéis funcionais, porque ela é<br />
parte da ordem da Criação. Não é engraçado para o homem vestir-se<br />
como mulher, ou vice-versa, porque Deus pretendeu que haveria clara<br />
diferença na aparência exterior do homem e da mulher. Isso é<br />
amplamente ensinado em Deuteronômio 22:5: "A mulher não usará<br />
roupa de homem, nem o homem veste peculiar à mulher; porque<br />
qualquer que faz tais cousas é abominável ao Senhor teu Deus."<br />
Alguns interpretam essa lei como dirigida contra uma simulada<br />
troca de sexo para propósitos imorais. A maioria dos comentaristas<br />
questiona essa interpretação porque "nenhum dado histórico foi<br />
encontrado para apoiar tal suposição." (14) Como Keil e Delitzch<br />
notaram: "O propósito imediato dessa proibição não é prevenir a<br />
licenciosidade ou opor-se a práticas idolátricas ... mas manter a santidade
Qual a Roupa Certa? 151<br />
da distinção de sexos, que foi estabelecida pela criação de homem e<br />
mulher, e em relação à qual Israel não pecara. Cada violação ou remoção<br />
dessa diferença ... é artificial, e ainda uma abominação ao Senhor." (15)<br />
Essa interpretação é apoiada pelas estipulações dos versos 9 a 11, que<br />
proíbem a amálgama de diferentes espécies de sementes ou animais,<br />
evitar sua confusão e preservá-los intactos como Deus os criou.<br />
A Bíblia dá grande importância à preservação da distinção dos<br />
gêneros, não apenas no vestuário, mas também nos papéis funcionais. A<br />
razão, como tenho demonstrado em estudos prévios, (16) é que essa<br />
distinção é fundamental para nossa compreensão de quem somos e que<br />
papel Deus deseja que cumpramos. Há profundos inter-relacionamentos<br />
entre vestimentas e comportamentos, que são edificados dentro de nosso<br />
estilo. Um traje envolve costume, e o "hábito" que vestimos está ligado<br />
aos nossos hábitos.<br />
Natureza ou Educação<br />
A tentativa de eliminar a diferença de sexos no vestuário e nos<br />
papéis funcionais, origina-se da concepção de que tais distinções são<br />
largamente o resultado da educação antes que da natureza,<br />
comportamento aprendido, antes que biológico. Para colocar de modo<br />
diferente: a distinção de gêneros é antes cultural do que criacional.<br />
Assim, é necessário modificar ou eliminar os fatores culturais e sociais,<br />
tais como vestidos, que favorecem as diferenças no comportamento dos<br />
sexos, de forma a tornar real a sociedade andrógina.<br />
É notável que a credibilidade dessa visão popular andrógina, está<br />
caindo hoje, mesmo entre os cientistas feministas. "A espantosa verdade<br />
sobre a revolução andrógina", escreveu Allan Carlson, "é que ela é<br />
teórica e cientificamente infundada. Uma pesquisa honesta feita na<br />
última década mostrou conclusivamente que a androginia psicológica é<br />
um embuste." (17) Carlson apóia essa devastadora assertiva em fontes
Qual a Roupa Certa? 152<br />
científicas bem documentadas, incluindo uma vasta série de artigos,<br />
relatórios de pesquisas e compêndios.<br />
Um dos autores que Carlson menciona é Melvin Konner, que nos<br />
tem dado um amplo tratamento sobre o assunto. Embora um convicto<br />
evolucionista, simpático às aspirações feministas andróginas. Konner<br />
reconhece que "as diferenças de sexos no comportamento são mais<br />
biológicas que culturais." (18)<br />
Os Sexos São Irremediavelmente Diferentes<br />
Konner lista os nomes de onze "distinguidas cientistas que<br />
devotaram suas vidas ao estudo da mente, dos hormônios ou<br />
comportamento, do humano e animal." (19) Cada uma dessas mulheres<br />
esteve envolvida no movimento feminista, em nível de pesquisa<br />
acadêmica, e cada uma delas concorda, sem exceção que "as diferenças<br />
de sexo no comportamento... tem base que é, em parte, biológica." (20)<br />
De acordo com Konner, "essas mulheres estão praticando um ato<br />
balanceado de formidáveis proporções. Elas continuam a lutar, em<br />
particular e em público, por iguais direitos e igual tratamento para<br />
pessoas de ambos os sexos; ao mesmo tempo, descobrem e relatam<br />
evidências de que os sexos são irremediavelmente diferentes; de que<br />
após o sexismo ser totalmente dispensável; após as diferenças em<br />
experimentos terem desaparecido do espartilho de barbatana, haverá<br />
ainda alguma coisa [grifo do autor] diferente, algo que é ensinado em<br />
biologia." (21)<br />
Helen Block Lewis é um bom exemplo de uma erudita feminista<br />
que reconhece que as diferenças de sexo no comportamento derivam<br />
mais do biológico do que de fatores culturais. Falando numa conferência<br />
de líderes feministas eruditas num encontro da Academia de Ciências,<br />
em 29 de janeiro de 1977, Helen disse: "Estou ciente de que a noção de<br />
diferenças geneticamente determinadas entre os sexos, não é coisa da<br />
moda, desde que elas não sejam usadas para promover a submissão da
Qual a Roupa Certa? 153<br />
mulher. Mas, parece-me inútil errar por ignorância dos fatores genéticos,<br />
apenas porque eles têm sido distorcidos. Eu, por exemplo, costumo crer<br />
que é impossível, no presente clima social de inferioridade da mulher,<br />
obter qualquer resultado significativo acerca das diferenças de<br />
comportamento geneticamente determinado entre os sexos... Após fazer<br />
pesquisas para o meu livro, mudei de idéia." (22) A razão, diz ela, é que<br />
"quando ocorre a diferenciação entre os sexos, a diferença entre ter um<br />
XX ou um XY, como vigésimo terceiro par de cromossomos, é<br />
tremendamente poderosa." (23)<br />
Recuperar a Masculinidade e Feminilidade Bíblicas<br />
É encorajador notar que algumas eruditas feministas reconhecem<br />
que a diferença comportamental dos gêneros, a qual a Bíblia descreve e<br />
prescreve como parte da ordem de Deus na Criação, deriva mais da<br />
biologia do que da educação e treinamento. Não necessitamos esperar<br />
pelas cientistas feministas para descobrir essa verdade. Afinal de contas,<br />
esse é um ensino bíblico fundamental que tem sido aceito historicamente.<br />
Homens e mulheres são biológica, psicológica e funcionalmente diferentes.<br />
A Bíblia nos ensina a respeito dessas diferenças. A tentativa de eliminálas<br />
deve ser vista como uma perversão da ordem criadora de Deus.<br />
Como cristãos devemos rejeitar o incoerente ideal feminista, como<br />
Elisabeth Elliot colocou "reduza-se todos os seres humanos a um simples<br />
nível – uma irreconhecível, incolor, assexuada e devastada terra, onde a<br />
regra e a submissão sejam observadas como maldições, onde os papéis<br />
do homem e da mulher sejam tidos como partes de uma máquina,<br />
substituíveis, intercambiáveis, e ajustáveis, e onde o cumprimento seja<br />
assunto de pura política, coisas como igualdade e direitos." (24) Essa não<br />
é a visão bíblica de feminilidade e masculinidade, nem a visão dos<br />
inspirados poetas e da literatura. A visão cristã provém do modo<br />
misterioso pelo qual Deus criou o homem e a mulher diferentes entre si,<br />
todavia, complementando-se. Quando aceitamos a visão bíblica, não
Qual a Roupa Certa? 154<br />
podemos concordar com a idéia de que feminilidade e masculinidade são<br />
assunto de condicionamento cultural, de estereótipos perpetrados pela<br />
tradição.<br />
É lamentável que a distinção de sexos tenha sido usada para<br />
promover a subjugação da mulher. Deploramos os abusos praticados<br />
pelo homem contra a mulher, e não nos esqueçamos, pela mulher contra<br />
o homem, porque todos pecaram. Isso mostra que vivemos num mundo<br />
caído, onde o pecado mareou a harmoniosa distinção de gênero e o<br />
relacionamento que Deus criou. Como cristãos, devemos trabalhar<br />
redentoramente para corrigir as injustiças. Precisamos fazer isso, todavia,<br />
não pela eliminação das distinções de sexo no vestuário ou nos papéis;<br />
antes, pela erradicação dos abusos introduzidos e praticados por falíveis<br />
seres humanos. O que o homem e a mulher necessitam hoje é não se<br />
tornar sem gênero, unissex na aparência e no comportamento, mas<br />
redescobrir o ideal bíblico de masculinidade e feminilidade.<br />
Elisabeth Elliot sabiamente observou: "O mundo busca a felicidade<br />
através da auto-afirmação. O cristão sabe que a satisfação é encontrada<br />
na auto-entrega. 'Se um homem perder a sua vida por Minha causa', disse<br />
Jesus, 'achá-la-á.' A verdadeira liberdade da mulher cristão reside no<br />
outro lado de uma ponte muito pequena – humilde obediência – mas essa<br />
ponte conduz a uma amplitude de vida jamais sonhada pelos libertadores<br />
deste mundo, ao lugar onde a diferenciação entre os sexos estabelecida<br />
por Deus, não é ofuscada, mas celebrada, onde nossas desigualdades são<br />
vistas como essenciais à imagem de Deus, por isso está no macho e na<br />
fêmea, no macho como macho, na fêmea como fêmea, e não como duas<br />
idênticas e intermutáveis metades, que a imagem de Deus é<br />
manifestada." (25)<br />
Vestimentas Unissex e a Confusão de Identidade<br />
Adulterar a distinção de sexos pode trazer terríveis conseqüências.<br />
Quando mexemos com masculinidade e feminilidade, estamos lidando,
Qual a Roupa Certa? 155<br />
como C. S. Lewis colocou, com "vivas e terríveis sombras das<br />
realidades, completamente além de nosso controle e grandemente além<br />
de nosso conhecimento direto." (26)<br />
Historicamente, os trajes têm servido para definir nossa masculinidade<br />
ou feminilidade. Observamos no capítulo 1 que as vestes não apenas<br />
definem nossa identidade ("Você é o que veste."), mas também nos<br />
ajudam a desenvolver uma nova identidade ("Você se torna o que<br />
veste."). Isso significa que quando nublamos as distinções de sexo no<br />
vestir, gradualmente perdemos nossa identidade masculina ou feminina e<br />
experimentamos uma crise de identidade.<br />
Michael Levin, professor de filosofia no City College de New York,<br />
asseverou: "Há uma profunda e perdurável diferença entre os sexos e<br />
muito da atual infelicidade provém da tentativa de transformar mulheres<br />
em pseudo-homens... Ninguém se assenta para escolher sua personalidade.<br />
Isso é um modo idiota de adotá-la. Você recebe sua personalidade, em<br />
geral, quando nasce." (27)<br />
Charles Winick destacou que a confusão acerca de nossa identidade<br />
é projetada na enevoada distinção de gêneros no vestir. "A forma hoje<br />
preferida para ambos os sexos é um ajustamento perdido e sem forma,<br />
que expressa e reforça a indistinção de masculinidade e feminilidade. O<br />
vestir-se além desses limites aprofunda o conflito interno e a confusão de<br />
cada sexo em cumprir seu papel." (28)<br />
É interessante de se notar que as mulheres tornaram-se mais<br />
masculinas em sua aparência, e os homens mais femininos. O resultado é<br />
que alguns homens desejam ser cortejados pelas mulheres, antes de<br />
cortejarem-nas por si mesmos. De acordo com Winick, "os homens<br />
contemporâneos podem usar alegremente vestes coloridas, perfumes e<br />
jóias, como uma reflexão de sua crescente tendência de se tornarem<br />
objetos, de preferência a tomarem a iniciativa da corte." (29)<br />
Há cerca de um século, Ellen White reconheceu as sérias<br />
implicações morais e sociais da roupa assexuada. Em 1867, ela escreveu:<br />
"Deus designou que houvesse ampla distinção entre as vestes do homem
Qual a Roupa Certa? 156<br />
e da mulher, e considerou o assunto de suficiente importância ao dar<br />
explícitas direções em relação a isso, pois a mesma roupa usada por<br />
ambos os sexos causa confusão e grande aumento do crime." (30)<br />
Confusão no Lar<br />
A confusão começa no lar, quando as crianças não mais podem<br />
dizer quem deve vestir calças, se mamãe ou papai. "Após todas as<br />
brincadeiras sobre quem deve usar calças numa família americana, na<br />
verdade descobre-se que não há nada para rir. Talvez apenas as calças<br />
dos fabricantes são divertidas, agora que as lojas de roupas femininas<br />
podem vender mais calças do que saias." (31)<br />
Há mais de trinta anos, quando a moda unissex estava ainda em sua<br />
infância, Eloise Curtis, uma estilista de roupas infantis e vestidos,<br />
advertiu sobre o problema da confusão no lar: "Em muitos lares não mais<br />
há visíveis diferenças entre os sexos. A mulher usando calças,<br />
subconscientemente usa um pouco de características masculinas na<br />
aproximação com seu bebê. O bebê, nada mais vendo ao redor do que<br />
calças, fica confuso sobre onde começa sua mãe e onde seu pai deixa de<br />
sê-lo." (32)<br />
Confusão no Trabalho e na Igreja<br />
A confusão continua no trabalho, onde em muitas ocupações as<br />
mulheres se vestem como homens, e delas se espera um desempenho<br />
com a mesma força física do homem.<br />
Perturba-me, por exemplo, quando a companhia entregadora envia<br />
uma mulher à minha casa, para apanhar uma grande carga de livros a ser<br />
enviada além-mar, algumas vezes consistindo em mais de cem caixas,<br />
cada uma pesando cerca de dezoito quilos. Pessoalmente penso que têm<br />
mais peso do que uma mulher possa erguer e carregar. Quando pergunto:<br />
"Por que sua companhia não envia um homem para levar caixas tão
Qual a Roupa Certa? 157<br />
pesadas? a resposta é simples: "Nós queremos o trabalho e esperamos<br />
trabalhar como homens.'" E para prová-lo, elas usam as mesmas calças<br />
marrons usadas pelos homens.<br />
Mas permanece o fato de que mulheres não são homens. Elas são<br />
biológica, psicológica e fisicamente diferentes dos homens. Como<br />
cristãos, somos chamados a respeitar essas distinções estabelecidas por<br />
Deus na criação, tratando mulheres como mulheres e não como homens.<br />
A confusão também está presente na igreja, onde algumas mulheres<br />
usam calças de terno como homens e, não se surpreendam, outras<br />
desejam servir no papel masculino de anciãos, uma palavra que<br />
literalmente significa "homem idoso". Achei triste e engraçado ao<br />
mesmo tempo descobrir que em algumas igrejas adventistas italianas que<br />
visitei, algumas mulheres foram ordenadas como "anziano" antes que<br />
"anziana", isto é, como um ancião, em lugar de anciã.<br />
Na língua italiana, como em todas as línguas latinas, os adjetivos<br />
podem ser masculinos ou femininos, dependendo do final. Isso significa<br />
que um homem velho é anziano, com "o", enquanto que uma mulher<br />
idosa é anziana, com "a" final. Gramaticalmente falando, o adjetivo<br />
masculino anziano não pode ser usado para mulher. Assim, ordenar uma<br />
mulher para ser anziano, é não apenas antibíblico, mas também uma<br />
contradição de gêneros. Quando perguntei: "Por que vocês estão usando<br />
a forma masculina anziano para mulheres? a resposta foi: "Porque as<br />
mulheres desejam servir na igreja no papel de liderança dos homens, e<br />
não no submisso papel de mulheres."<br />
Um Sinal de Rebelião<br />
Tudo isso mostra que vivemos em um mundo em rebelião contra<br />
Deus, um mundo no qual homens e mulheres desejam encontrar<br />
realização tentando assumir papéis que Deus nunca pretendeu dar-lhes.<br />
O resultado da rebelião é confusão de gêneros, não somente em papéis,<br />
como também no vestir. A mulher que deseja agir semelhantemente ao
Qual a Roupa Certa? 158<br />
homem, vestir-se-á como um homem porque, como vimos, a roupa é o<br />
espelho da mente. O que vestimos revela quem somos ou desejamos ser.<br />
Cruzar a linha divisória entre os gêneros produz confusão. Muitos não<br />
mais parecem conhecer onde termina o homem e começa a mulher.<br />
Em meu livro, Women in the Church, examinei em certa extensão<br />
as passagens bíblicas que nos ensinam a respeitar as distinções dos<br />
papéis sexual e funcional entre homem e mulher, no lar e na igreja. Essas<br />
distinções são refletidas e reforçadas pela diferença nos trajes de homens<br />
e mulheres. Os cristãos devem reconhecer as tentativas modernas de<br />
abolir essas diferenças, através da popularidade dos vestidos unissex,<br />
como ação satânica para destruir a ordem e a beleza da criação de Deus.<br />
Roupas unissex são indícios de moléstia moral da sociedade.<br />
Winick Observou: "Silhuetas tendem a ser bem definidas, ombros largos<br />
e cintura delgada, quando a moralidade é rígida, como nos dias dos<br />
espartanos, saxões, Cromwell e rainha Vitória. Nos tempos em que há<br />
menos moral, porém mais incerta e complexa como nos dias de Luís<br />
XIV, no período eduardiano, nos anos vinte, e nos anos do pós-guerra,<br />
uma silhueta nebulosa parece ser preferida por homens e mulheres." (33)<br />
A confusão moral e social de nosso tempo é projetada no vestuário<br />
assexuado. Essa tendência explica porque "o interesse no uso de roupas<br />
do sexo oposto é de rápido crescimento e um certo número de revistas<br />
são dedicadas à matéria."(34) O travestismo está se tornando mais<br />
notório e aceito hoje, porque, como Winick ponderou, "os trajes normais<br />
já contêm tanto que é tomado do outro sexo. A existência de um grupo<br />
substancial que deseja vestir-se com mais roupas do sexo oposto,<br />
parecendo uma paródia travestida, sugere que as vestes unissex está indo<br />
ao encontro das necessidades contemporâneas." (35)<br />
Desafortunadamente, esse encontro é com as necessidades daqueles<br />
que, para usar as próprias palavras de Paulo, "Deus os entregou a paixões<br />
infames ... porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas<br />
relações íntimas, por outro contrário à natureza". (Rom. 1:26)
Qual a Roupa Certa? 159<br />
A Resposta Cristã<br />
Qual seria a resposta cristã à moda unissex, que representa, se não a<br />
abolição das distinções de sexo, uma proximidade perigosa a que temos<br />
chegado? Consideremos as calças compridas como exemplo, uma vez<br />
que são a mais notória adaptação das vestes masculinas pela mulher, em<br />
nossa cultura ocidental. Deveria ser notado que há culturas hoje, em<br />
especial no Oriente, em que as calças são usadas mais pelas mulheres do<br />
que pelos homens. Historicamente também, de acordo com Bernard<br />
Rudofsky, "mais mulheres do que homens usaram calças" (36)<br />
Por muitos séculos, na cultura ocidental, as calças têm estado<br />
ligadas aos homens. No passado, as mulheres fizeram algumas tentativas<br />
para usar calças, mas isso não perdurou por muito tempo. Por exemplo,<br />
em 1850, as bloomers (calças folgadas para mulher que chegavam até os<br />
joelhos), foram promovidas como "um símbolo das tentativas femininas<br />
para obter igualdade com os homens". (37) Esse esforço, entretanto, não<br />
durou muito, e as bloomers "foram seguidas por trajes bem femininos...<br />
amplas saias "varredoras". (38)<br />
Hoje a situação é diferente. As calças tornaram-se artigo permanente<br />
do vestuário da mulher. Isso é indicado pela impressionante lista de<br />
calças que as mulheres usam: calças largas, calças justas, calças coladas,<br />
bermudas, calças bufantes, slacks, minicalças, "boca de sino", culotes,<br />
pantalonas, calças de salto (equitação) ou jeans. Segundo essa tendência,<br />
não deveria a mulher cristã usar qualquer tipo de calças, quer seja ao<br />
redor da casa, quer em passeios com a família, numa caminhada pelo<br />
campo, ou durante os frios dias de inverno? Faria diferença o tipo de<br />
calças que a mulher usa?<br />
Propor que nenhum tipo de calças seja usado pelas mulheres, seja<br />
qual for a ocasião, implicaria que as calças são pecaminosas de per si,<br />
não importando que tipo ou forma elas têm. Se isso fosse verdadeiro,<br />
ninguém poderia usar calças, incluindo os homens. Mas o problema não
Qual a Roupa Certa? 160<br />
está com as calças, uma vez que em algumas culturas elas são artigo<br />
feminino de vestuário. O problema não é a calça, mas seu pretenso uso.<br />
A mulher pode usar as quentes calças de lã durante os frios dias de<br />
inverno para proteger-se, ou ela pode usar bermudas de algodão durante<br />
os passeios de verão com a família, porque são mais práticas do que as<br />
saias. Por outro lado, a mulher não pode usar calças sensuais ou estreitas<br />
para ser sedutora, ou escolher calças largas de terno na maior parte do<br />
tempo, porque deseja projetar um tipo masculino de personalidade.<br />
As Roupas na Bíblia<br />
A intenção da lei deuteronômica (Deut. 22:5) não é proibir o uso de<br />
artigos de vestuário que se pareçam com roupas do outro sexo, mas<br />
manter distinção entre os sexos. Um estudo sobre o vestuário nos tempos<br />
bíblicos revela que houve uma surpreendente similaridade entre as vestes<br />
do homem e da mulher. De fato, ambos os sexos usavam o mesmo tipo<br />
básico de vestimenta: uma roupa de baixo (kethoneth, em hebraico e<br />
chiton, em grego) e outra veste sobre essa (simlah, em hebraico e<br />
himation, em grego).<br />
A distinção entre vestuários pode ser notada em Mateus 5:40, onde<br />
Jesus diz: "e ao que demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe<br />
também a capa." O reclamante, cria-se, exigia apenas a capa (chiton),<br />
isto é, a mais barata veste de baixo. Todavia, Jesus recomenda que o<br />
reclamado a deixar àquele também o manto (himation), que era o mais<br />
custoso traje exterior.<br />
As Vestes de Baixo e de Cima<br />
A veste de baixo era uma longa túnica usada por ambos os sexos<br />
nos tempos bíblicos. Ela era uma veste básica que homens e mulheres<br />
usavam cada dia. A famosa pintura de Beni-hasan provê uma boa<br />
ilustração dessa roupa. Uma reprodução dessa obra aparece no capa
Qual a Roupa Certa? 161<br />
interna do Seventh-Day Adventist Bible Dictionary. A ilustração mostra<br />
um grupo de 37 palestinos chegando ao Egito a fim de comerciar<br />
pigmento negro para pintura dos olhos. Seus trajes são, provavelmente,<br />
muito semelhantes àqueles usados por Abraão e sua família. O líder do<br />
grupo e dois homens que o acompanham, exibem túnicas coloridas que<br />
vão desde os ombros até os joelhos, mas deixam os braços e um dos<br />
ombros livres.<br />
As quatro mulheres mostradas na pintura usam roupas bastantes<br />
coloridas, semelhantes aos trajes masculinos. As maiores diferenças<br />
estão nas roupas das mulheres, que são algumas polegadas mais longas,<br />
indo abaixo dos joelhos. Na parte superior, elas circundam o pescoço,<br />
cobrindo assim mais plenamente o corpo. Exibem ainda complexos<br />
modelos, com figuras em azul e vermelho tecidas na veste. Em outros<br />
termos, as mulheres usavam a mesma espécie de túnicas que os homens,<br />
mas essas eram mais coloridas, umas poucas polegadas mais longas e<br />
cobriam mais completamente seus corpos.<br />
A roupa de cima, uma túnica, ou mais comumente, um manto<br />
semelhante ao moderno xale, cobria todo o corpo. Um manto era usado<br />
em ocasiões especiais (I Sam. 15:27; 24:4 e 11). Tamar, irmã de<br />
Absalão, "trazia ela uma túnica talar de mangas compridas, porque assim<br />
se vestiam as donzelas filhas do rei". (II Sam. 13:18). Essa parece ter<br />
sido uma roupa especialmente desenhada para as filhas do rei. O manto<br />
escarlate que os soldados romanos puseram sobre Cristo, era outro tipo<br />
de veste de cima (Mat. 27:28; João 19:2 e 5). Parece não ter havido<br />
diferença substancial entre as vestes exteriores usadas por homens e<br />
mulheres.<br />
Em vista da notável semelhança entre as vestes de homens e<br />
mulheres nos tempos bíblicos, parece justo concluir que a preocupação<br />
da lei deuteronômica não era condenar qualquer semelhança de estilo<br />
entre roupas de homens e mulheres, mas o vestir aquilo que era usado<br />
pelo sexo oposto. A diferença de estilo entre a túnica usada por homens e
Qual a Roupa Certa? 162<br />
mulheres pode ter sido pequena, pelo menos de nosso ponto de vista,<br />
mais suficiente para manter a distinção entre os sexos.<br />
Aplicando o Princípio da Distinção de Sexos<br />
A Bíblia não nos diz que estilo de roupa homens e mulheres<br />
deveriam usar. Ela reconhece que o estilo é ditado pelo clima e pela<br />
cultura. O que a Bíblia nos ensina, contudo, é respeitar a diferença de<br />
sexo no vestir, como estabelecidas por qualquer cultura. Esse é o<br />
princípio que deveria nortear-nos na seleção de nossas roupas.<br />
Em vista da tendência da moda moderna eliminar a diferenças de<br />
gêneros no vestir (uma propensão que é abominável a Deus; ver Deut.<br />
22:5), é imperioso para os cristãos averiguar onde podem comprar suas<br />
roupas. Essa roupa ajudar-me-á a afirmar meu gênero, ou far-me-á<br />
parecer que pertenço ao sexo oposto? Todas as vezes que você sente que<br />
um certo tipo de roupa não pertence ao seu gênero, siga sua consciência.<br />
Não o compre, mesmo que esteja na moda.<br />
Calças Femininas<br />
Como o princípio bíblico de distinção de sexos pode ser aplicado à<br />
questão das calças compridas? Três pontos necessitam ser levados em<br />
consideração.<br />
Primeiro, devemos lembrar-nos de que até tempos recentes na<br />
cultura ocidental, as calças eram um artigo usado exclusivamente por<br />
homens. Não me recordo de ter visto uma garota usando calças<br />
compridas, enquanto eu crescia em Roma, na Itália. A despeito de sua<br />
popularidade, na cultura ocidental as calças ainda são vistas como "a<br />
mais visível adaptação das vestes masculinas na mulher" (39) Isso<br />
significa que as calças ainda têm conotação masculina e não afirma<br />
distinção de gêneros. Assim, como regra geral nos países ocidentais, as
Qual a Roupa Certa? 163<br />
calças não devem ser usadas pelas mulheres cristãs com vestimenta<br />
formal, especialmente nos serviços da igreja.<br />
Segundo, há circunstâncias em que é mais prático e conveniente<br />
para as mulheres cristãs usarem calças compridas. Isso é verdade, por<br />
exemplo, durante os frios dias de inverno, quando trabalhando em casa<br />
ou nas saídas da família, andando de bicicleta ou praticando esportes.<br />
Nessas circunstâncias as calças provêem mais conforto e proteção do que<br />
as saias, sem necessariamente fazer perigar a distinção de gêneros. Sob<br />
essas circunstâncias, usar calças não seria condenável, podendo ser<br />
modestas e apropriadas à ocasião.<br />
Terceiro, as mulheres cristãs deveriam escolher calças que afirmem seu<br />
gênero e sejam decentes. A tendência hoje é tornar as calças compridas<br />
femininas, as mais masculinas possível. Por exemplo, o zíper das calças das<br />
mulheres é comumente colocado da esquerda para a frente, como nas calças<br />
masculinas. "Hoje, as calças são mais masculinizadas do que a rígida<br />
geometria de Courrèges, com os estilistas americanos moldando calças<br />
confeccionadas para serem usadas com blazers (paletós) de aberturas laterais e<br />
botões de latão." (40) Outra tendência é tornar as calças femininas sedutoras.<br />
Por exemplo, calças sensuais e calças apertadas, que deixam muito pouco<br />
espaço para a imaginação. A mulher cristã precisa resistir a essas tendências<br />
ao escolher vestir apenas calças que sejam modestas e femininas. A beleza da<br />
mulher reside não no que ela revela, mas no que oculta.<br />
Hoje não é fácil seguir os princípios bíblicos de distinção de gêneros<br />
no vestir, quando as modernas modas parecem inclinadas a abolir tais<br />
distinções. Mas viver pelos princípios bíblicos nunca foi fácil. Ainda é<br />
nosso dever cristão não nos conformarmos com os valores pervertidos,<br />
estilos e práticas de nossa sociedade hedonista, mas ser uma transformadora<br />
influência neste mundo, através do capacitador poder de Deus.<br />
Conclusão<br />
A força condutora por detrás da moda unissex de nosso tempo é a<br />
visão feminista de uma nova sociedade sem sexos, onde os trajes e os
Qual a Roupa Certa? 164<br />
papéis do homem e da mulher sejam indiferençáveis e intercambiáveis.<br />
As feministas consideram essa utópica sociedade sem sexos essencial à<br />
libertação de seu submisso papel.<br />
Descobrimos que a visão feminista de uma sociedade sem gêneros<br />
definidos é claramente condenada na Bíblia. As Escrituras ensinam-nos de<br />
modo muito explícito a respeitar as distinções de gênero no vestir, bem<br />
como nos papéis funcionais, porque eles são parte da ordem da Criação. A<br />
razão é que as distinções de sexo são fundamentais para nosso compreensão<br />
de quem somos e que papel Deus deseja que cumpramos.<br />
Como cristãos deveríamos ser agradecidos a Deus pelos gêneros<br />
masculino e feminino que Ele nos concedeu. A mulher deveria ser<br />
agradecida por Deus tê-la feito mulher, marcantemente diferente do<br />
homem, e ainda plena de grande valor no plano de Deus para a família, a<br />
sociedade e o mundo. Semelhantemente, o homem deveria ser<br />
agradecido a Deus que o fez um homem, notavelmente diferente da<br />
mulher, e contudo de grande valor no plano de Deus para a família, a<br />
sociedade e o mundo.<br />
Num tempo quando a moda moderna é tendente a eliminar as<br />
distinções de sexo no vestir e nos papéis funcionais, é premente para os<br />
cristãos, respeitarem a masculinidade e a feminilidade dados por Deus,<br />
vestindo-se de modo a afirmar sua identidade de gênero.<br />
Referências do Capítulo VI<br />
1. Charles Winick, The New People: Desexualization in American<br />
Life (New York), 1968), pág. 262.<br />
2. Idem, pág. 263.<br />
3. Ibidem.<br />
4. Roland Martinson. "Androgyny and Beyond", Word and World,<br />
a Fall, 1985, pág. 373.<br />
5. Allan Carlson. "The Androgyny Hoax: On the Blending of Men and<br />
Women and the Corruption of Science by Ideology", em Persuasion
Qual a Roupa Certa? 165<br />
at Work (Rockford, 1986). Os quatro pontos são sintetizados por<br />
Robert D. Culver, em "Does Recent Scientific Research Overturn the<br />
Claims of Radical Feminism and Support the Biblical Norms of<br />
Human Sexuality?" Journal of the Evangelical Theological Society<br />
(Março de 1987), pág. 42.<br />
6. Don Monkerud, "Blurring the Lines: Androgyny on Trial", Omni,<br />
outubro de 1990, pág. 83<br />
7. Ibidem.<br />
8. Diane Trilling, "Female Biology in a Male Culture", Saturday<br />
Review, 10 de outubro de 1970, pág. 40.<br />
9. James Laver, Taste and Fashion (London. 1937), pág. 29.<br />
10. Katherine Morris Lester c Rose Netzorg Kerr, Historic Costume<br />
(Peoria, Illinois, 1977), pág. 288.<br />
11. Citado em Mary Lou Rosencranz, Clothing Concepts: A Social-<br />
Psychological Approach (New York, 1972), pág. 202.<br />
12. Idem, pág. 175.<br />
13. Don Monkerud (nota 6), pág. 86.<br />
14. J. Ridderbos, Deuteronomy (Grand Rapids, 1984), pág. 233. Ver<br />
também The Interpreter's Bible (Nashville, 1981), vol. 2, pág. 464;<br />
The Expositor's Bible Commentary (Grand Rapids, 1992), vol. 3, pág.<br />
135.<br />
15. C. F. Keil e F. Delitzch. Biblical Commentary of the Old Testament<br />
(Grand Rapids, 1952), vol. 4. pág. 409. Em caráter semelhante. J.<br />
Ridderbos escreveu: "Essas proibições são destinadas a inspirar<br />
respeito pela ordem posta por Deus na Criação, e para a distinção<br />
entre os sexos e espécies que ela apresenta" (nota 14, pág. 135).<br />
16. Samuele Bacchiocchi, The Marriage Covenant (Berrien Springs.<br />
Michigan, 1994), págs. 120 a 154; também Women in the Church<br />
(Berrien Springs, 1992). págs. 110 a 141.<br />
17. Allan Carlson (nota 5), pág. 6.<br />
18. Melvin Konner, The Tangled Wing: Biological Constraints on<br />
the Human Spirit (New York, 1982), págs. 100 a 106.
Qual a Roupa Certa? 166<br />
19. Idem, pág. 106<br />
20. Ibidem.<br />
21. Idem, pág. 107.<br />
22. Hellen Block Lewis, "Psychology and Gender", em Genes and<br />
Gender, E. Tobach e B. Bosoff, edits. (New York, 1978), pág. 72.<br />
23. Ibidem.<br />
24. Elisabeth Elliot. "The Essence of Femininity: A Personal Perspective",<br />
em Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to<br />
Evangelical Feminism, John Piper e Wayne Grudem, edits. (Wheaton,<br />
Illinois. 1991), pág. 397.<br />
25. Idem, págs. 398, 399.<br />
26. C. S. Lewis. "Priestesses in the Church? " em God in the Dock:<br />
Essays on Theology and Ethics, Walter Hooper, ed. (Grand<br />
Rapids, 1970), pág. 239.<br />
27. Michael Levin como citado por Don Monkerud (nota 6), pág. 83.<br />
28. Charles Winick, (nota 1), pág. ?64.<br />
29. Ibidem.<br />
30. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), vol. 1, pág. 460.<br />
31. Charles Winick (nota 1), pág. 229.<br />
32. San Francisco Chronicle, 26 de setembro de 1961, pág. 9.<br />
33. Charles Winick (nota 1). págs. 263, 264.<br />
34. Idem, pág. 267.<br />
35. Ibidem.<br />
36. Bernard Rudofsky, Are Clothes Modern? (Chicago, 1947), pág. 156.<br />
37. Mary Lou Rosencranz, (nota 11), pág. 170<br />
38. Ibidem.<br />
39. Idem, pág. 227.<br />
40. Idem, pág. 229.
Qual a Roupa Certa? 167<br />
PRINCÍPIOS CRISTÃOS PARA VESTES E ORNAMENTOS<br />
E<br />
m cada época homens e mulheres têm-se adornado e enfeitado<br />
com jóias. O desejo de adornar o corpo com cosméticos<br />
coloridos, custosas jóias e vestimentas atraentes tem deixado intocados a<br />
poucos. Assim, não é de surpreender que nossa pesquisa tenha encontrado,<br />
através da histórica bíblica e cristã, freqüentes chamados ao vestir-se<br />
modesta e decentemente, sem faiscantes jóias ou luxuosos vestidos.<br />
Para trazer no devido foco a relevância dos ensinos bíblicos sobre<br />
vestuário e ornamentos para o nosso tempo, procurarei formular sete<br />
declarações básicas do princípio que sumaria o relevo deste estudo. Esta<br />
breve revisão ajudará o leitor a obter uma melhor vista geral dos ensinos<br />
bíblicos fundamentais sobre vestuário e ornamentos, que surgem no<br />
curso de nossa investigação.<br />
Primeiro Princípio – Vestimentas e aparência são um importante<br />
indicativo do caráter cristão. Vestimentas e aparência são os mais<br />
poderosos comunicadores não-verbais, não apenas de nosso estado<br />
sócio-econômico, mas também de nossos valores morais. Somos o que<br />
vestimos. Isso quer dizer que nossa aparência exterior é um indicativo<br />
importante do caráter cristão. A Bíblia reconhece a importância do<br />
vestuário e ornamentos, como está indicado por numerosas histórias,<br />
alegorias e admoestações, que temos encontrado com respeito a adornos<br />
apropriados ou não.<br />
Nossa aparência exterior é um visível e silencioso testemunho dos<br />
valores cristãos que adotamos. Algumas pessoas se vestem e enfeitam<br />
seus corpos com vestidos caros e jóias para agradarem-se a si mesmos,<br />
Elas desejam ser admiradas por sua riqueza, poder e status social.<br />
Algumas estão na vanguarda da moda para agradar aos outros. Desejam<br />
ser aceitas por seus pares por se vestirem como eles. O cristão, entretanto,<br />
veste-se para agradar a Deus. O vestuário é importante para o cristão<br />
porque serve como moldura para revelar a figura dAquele a quem serve.
Qual a Roupa Certa? 168<br />
"Não há melhor maneira", escreveu Ellen White", "de você poder<br />
deixar sua luz brilhar sobre outros, do que na simplicidade de seu vestuário<br />
e conduta. Pode mostrar a todos que, em comparação com as coisas eternas,<br />
você faz uma avaliação apropriada das coisas desta vida." (1)<br />
Como cristãos não podemos dizer: "O que eu pareço não importa a<br />
ninguém!", porque o que nós parecemos se reflete sobre nosso Senhor.<br />
Minha casa, meu carro, minha aparência pessoal, o uso que faço do<br />
tempo e do dinheiro, tudo reflete como Cristo mudou minha vida.<br />
Quando Jesus vem em nossa vida, Ele não cobre nossas imperfeições<br />
com pó compacto, mas nos limpa totalmente operando em nossa alma.<br />
Essa renovação interior transparece em nossa aparência exterior.<br />
A testemunha mais eficiente da mudança que Cristo operou no<br />
íntimo, não é o sorriso pintado nos lábios de uma mulher sedutora, mas<br />
uma radiante face de uma dama cristã vestida decorosamente. Uma<br />
sofisticadíssima, engalanada e produzida aparência, com faiscantes jóias<br />
e extravagantes vestes, revela não a espontânea radiância de uma<br />
personalidade centrada em Deus, mas a estudada e artificial imagem de<br />
uma individualidade egocêntrica.<br />
Segundo Princípio – Adornar nossos corpos com coloridos<br />
cosméticos e luxuosas vestes revela orgulho e vaidade, que são<br />
destrutivos a nós e aos outros. Temos visto essa verdade ressaltada<br />
implicitamente por muitos exemplos negativos, e explicitamente pelas<br />
advertências apostólicas de Paulo e Pedro. Isaías reprova as ricas<br />
mulheres judias por seu orgulho manifesto no adorno de seus corpos,<br />
desde a cabeça até os pés, com rutilantes jóias e custosos trajes. Elas<br />
seduziam os líderes, que por sua vez conduziam a nação à desobediência<br />
e à punição divina (Isaías 3:16 a 26).<br />
Jezabel destaca-se na Bíblia por seus determinados esforços para<br />
seduzir os israelitas à idolatria. A corrupção de seu coração é revelada<br />
pela tentativa que fez, mesmo em sua hora derradeira, ao pintar seus<br />
olhos para a chegada do novo rei, Jeú (II Reis 9:30). Mas o rei não fora
Qual a Roupa Certa? 169<br />
enganado e ela teve morte ignominiosa. Por causa de seu nome, tornouse<br />
um símbolo de sedução na história bíblica (Apoc. 2:20).<br />
Ezequiel dramatiza a apostasia de Israel e Judá através da alegoria<br />
de duas mulheres: Oolá e Oolibá, que, como Jezabel, pintaram seus<br />
olhos e se embelezaram com ornamentos para levar os homens a<br />
cometerem adultério com elas (Ezeq. 23). Nessa alegoria encontramos<br />
novamente cosméticos e ornamentos associados à sedução, adultério,<br />
apostasia e punição divina.<br />
Jeremias também usa a alegoria de uma sedutora mulher vestida<br />
com os olhos pintados e ornada com jóias, para representar Israel<br />
politicamente abandonado, que inutilmente buscava atrair seus aliados<br />
idólatras (Jer. 4:30). Aqui, novamente, cosméticos e jóias são usados<br />
para seduzir os homens e levá-los a atos adulterinos.<br />
O retrato profético do apóstata Israel como uma mulher adúltera,<br />
cheia de jóias e corrompendo-se com deuses pagãos, é evocado pela<br />
descrição de João, o revelador, da grande meretriz vestida de escarlate, e<br />
adornada com "ouro, jóias e pérolas" (Apoc. 17:4). Essa mulher impura,<br />
que representa o poder político-religioso apóstata dos dias finais, induz<br />
os habitantes da Terra a cometer fornicação com ela. Por contraste, a<br />
noiva de Cristo, que representa a igreja pura, está trajada modestamente,<br />
em puro e fino linho, sem ornamentos (Apoc. 19:7 e 8).<br />
No Velho e Novo Testamentos, encontramos um consistente padrão<br />
sobre o uso de cosméticos coloridos, brilhantes jóias e sedutores vestidos<br />
com o fito de seduzir. Tal regra revela implicitamente a condenação de<br />
seu uso por Deus. O que é subentendido através de exemplos negativos,<br />
reiterado positivamente pelos dois grandes apóstolos Pedro e Paulo, sua<br />
condenação do uso de jóias e caros vestidos.<br />
Descobrimos que os apóstolos contrastam o adorno apropriado das<br />
mulheres cristãs com os inadequados ornamentos das mulheres<br />
mundanas. Ambos os apóstolos dão-nos essencialmente a mesma lista<br />
dos enfeites ilícitos para a mulher cristã. Eles incluem atraentes jóias e<br />
luxuosos trajes (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:3 e 4). Reconhecem que os
Qual a Roupa Certa? 170<br />
ornamentos exteriores do corpo são inconsistentes com os lídimos<br />
ornamentos do coração, o espírito manso e as boas<br />
Terceiro Princípio – Para experimentar íntima renovação e<br />
reconciliação com Deus, é necessário remover os habituais objetos<br />
idolátricos, incluindo jóias e ornamentos. Essa verdade foi-nos revelada<br />
através da experiência da família de Jacó em Siquém, e dos israelitas no<br />
monte Horebe. Em ambos os exemplos os ornamentos foram removidos<br />
para efetuar uma reconciliação com Deus.<br />
Em Siquém, Jacó convocou os membros de sua família para lançar<br />
fora seus ídolos exteriores e ornamentos (Gên. 35:2 e 3), como um meio<br />
de se prepararem para uma limpeza espiritual no altar que ele, Jacó,<br />
pretendia construir em Betel. A resposta foi louvável: "Então deram a<br />
Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos, e as argolas que<br />
lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que<br />
está junto a Siquém." (Gên. 35:4)<br />
No monte Horebe, Deus exigiu que os israelitas removessem seus<br />
ornamentos, como prova de sincero arrependimento por adorarem o<br />
bezerro de ouro: "... tira, pois, de ti os atavios, para que Eu saiba o que te<br />
hei de fazer." (Êxo. 33:5). Novamente a resposta do povo foi positiva:<br />
"Então os filhos de Israel tiraram de si os seus atavios desde o monte de<br />
Horebe em diante." (Êxo. 33:6) Notamos que a frase "... desde o monte<br />
de Horebe em diante" implica que os israelitas arrependidos fizeram um<br />
compromisso com Deus para abolir o uso de ornamentos, de forma a<br />
demonstrar seu sincero desejo de obedecer a Deus. Em Siquém e no<br />
monte Horebe, a remoção da joalheria ornamental foi preparatória para a<br />
renovação do concerto com Deus.<br />
Essas experiências nos ensinam que o uso de jóias ornamentais<br />
contribui para a rebelião contra Deus por levar à autoglorificação e que<br />
sua remoção facilita a reconciliação com Deus por encorajar uma atitude<br />
humilde. Assim, é importante para nós lembrar-nos que para experimentar<br />
o reavivamento e reforma espirituais, necessitamos despojar-nos dos
Qual a Roupa Certa? 171<br />
ídolos que adoramos, quer sejam jóias, cosméticos, vestidos imodestos,<br />
metas profissionais, carros ou casas, e substituindo-os pela devoção a Deus.<br />
Quarto Princípio – Os cristãos devem vestir-se de modo decente e<br />
modesto, demonstrando respeito por Deus, por si mesmos e pelos outros.<br />
Esse princípio é encontrado no uso que Paulo faz dos termos kosmios,<br />
kosmios e aidos, aidos – "bem-ordenado" e "decente" – para descrever o<br />
adequado adorno da mulher cristã (I Tim. 2:9). Com referência ao<br />
vestuário, os termos significam que os cristãos devem vestir-se de modo<br />
bem-ordenado, decoroso, decente, sem causar vergonha ou tristeza a<br />
Deus, e embaraço a si mesmos e aos outros.<br />
Podemos violar o código cristão de vestuário modesto pela<br />
negligência da aparência pessoal, bem como por dedicar excessiva<br />
atenção a ela. "Vistam-se elegantemente e com decoro", aconselha Ellen<br />
White. "mas não fazendo de si mesmo o objeto de observação, quer<br />
trajando-se com exagero ou de um modo relaxado e desalinhado. Ajam<br />
de tal modo como se o olhar do Céu estivesse sobre vocês, e que estão<br />
vivendo sob a aprovação ou desaprovação de Deus." (2)<br />
Vestir-se modesta e decentemente implica que os trajes devem<br />
prover suficiente cobertura para o corpo, de modo que os outros não<br />
fiquem embaraçados ou tentados. Esse princípio é hoje especialmente<br />
importante, quando as modas modernas rejeitam a modéstia e a decência<br />
como base para um construtivo relacionamento humano. A preocupação<br />
da moderna indústria da moda é vender vestidos, jóias e cosméticos pela<br />
exploração dos poderosos impulsos sexuais, embora isso signifique<br />
produtos indecentes que somente alimentam o orgulho e a sensualidade.<br />
A Bíblia explicitamente condena o olhar cobiçoso: "Eu, porém, vos<br />
digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no<br />
coração já adulterou com ela." (Mat. 5:28) Os vestidos reveladores<br />
criados pela moderna indústria da moda, desperta paixões baixas no<br />
coração do observador, e muito contribui para a depravação de nossos
Qual a Roupa Certa? 172<br />
tempos. Por vestir-se modestamente, a mulher cristã desempenha um<br />
papel-chave na manutenção da moralidade pública.<br />
Deus nos conclama a vestirmo-nos modesta e decentemente, não<br />
apenas para evitar o pecado como também para preservar a intimidade.<br />
As pessoas que desejam pecar, pecarão não importa quão modestamente<br />
os outros se trajam. O propósito da modéstia é não apenas coibir desejos<br />
pecaminosos, mas também preservar algo que é muito frágil e todavia<br />
fundamental à sobrevivência do relacionamento marital: a habilidade de<br />
manter um profundo e íntimo relacionamento entre os cônjuges. Se o<br />
casamento é para toda a vida como Deus pretende que seja, então marido<br />
e mulher devem trabalhar juntos para preservar, proteger e alimentar a<br />
intimidade. Quando tudo é dito e feito com modéstia, preservará o gozo<br />
da intimidade por muito tempo além do toque dos sinos de casamento.<br />
A admoestação apostólica para vestirmo-nos modesta e<br />
decentemente, convoca-nos a rejeitar os sedutores ditames da moda,<br />
escolhendo em seu lugar refletir em nossa aparência exterior a beleza<br />
natural da simplicidade e elevada pureza.<br />
Quinto Princípio – Os cristãos devem vestir-se sobriamente,<br />
contendo qualquer desejo de se exibirem mediante o uso de trajes<br />
sedutores, cosméticos e jóias. Esse princípio é encontrado no uso que<br />
Paulo faz do termo sophrosune, sophrosune = moderadamente, para<br />
descrever o adequado adorno cristão (I Tim. 2:9). Descobrimos que o<br />
termo denota uma atitude mental de autocontrole, que determina todas as<br />
outras virtudes. Paulo reconhece que o autocontrole é indispensável ao<br />
cristão, para que seja capaz de vestir-se modesta e decentemente. A<br />
razão é que vestimentas modestas e decentes derivam do exercício do<br />
domínio próprio.<br />
Paulo concebe a mulher cristã como alguém que se veste com<br />
sobriedade, restringindo seu desejo de exibir-se através de elaborados<br />
penteados, ouro, pérolas e vestidos luxuosos (I Tim. 2:9). Sua aparência<br />
não diz: "Olhem-me; admirem-me", mas "Olhem como Cristo
Qual a Roupa Certa? 173<br />
transformou-me". A mulher cristã que foi libertada da preocupação de<br />
ser objeto de admiração, não temerá usar o mesmo vestido com<br />
assiduidade, se esse for bem feito, conservador e lhe cair bem.<br />
O apelo do apóstolo para que o cristão se vista sobriamente,<br />
abstendo-se do uso de penteados complexos, jóias e vestidos<br />
extravagantes, é particularmente relevante para os nossos dias quando a<br />
moda reina suprema e muitos estão adorando em seu altar. Ellen White<br />
nos lembra que "aqueles que adoram no altar da moda possuem pouca<br />
força de caráter... Eles vivem sem nenhum propósito elevado, e suas<br />
vidas não atingem um objetivo digno. Encontramos em todo lugar<br />
mulheres cuja mente e coração são absorvidos por seu amor ao vestuário<br />
e à exibição. A alma da feminilidade é apoucada, apequenada, e seus<br />
pensamentos são centralizados em seu pobre e desprezível ego" (3)<br />
A advertência de Paulo que restringe o desejo de comprar ou vestir<br />
"roupas dispendiosas" (I Tim. 2:9) também aponta para prática da<br />
mordomia cristã. Gastos que vão além de nossos meios são<br />
incompatíveis com o princípio cristão de mordomia. Mesmo que<br />
tivermos condições de comprar vestidos caros, não podemos nos permitir<br />
gastar os meios que Deus nos concedeu, enquanto há muitas flagrantes<br />
necessidades a satisfazer, atingindo os não-alcançados com o evangelho<br />
e auxiliar os necessitados.<br />
"Economia prática", escreveu Ellen White, "em vosso dispêndio de<br />
meios no vestir. Lembrai-vos de que aquilo que vestis está<br />
constantemente exercendo influência sobre aqueles com quem entrais em<br />
contato. Não sejais pródigos com vossos meios, que são grandemente<br />
"necessitados em muitos lugares. Não gasteis o dinheiro do Senhor para<br />
satisfazer o gosto por roupas caras." (4)<br />
Sexto Princípio – O uso de anéis não é compatível com os<br />
princípios bíblicos de modéstia; historicamente eles têm tentado o povo<br />
a usar outros tipos de jóias. Esse princípio é derivado da desaprovação<br />
bíblica ao uso de jóias ornamentais (I Tim. 2:9; I Ped. 3:3 e 4; Gên. 35:2
Qual a Roupa Certa? 174<br />
a 4; Êxo. 33: 3 a 5). O único anel mencionado algumas vezes na Bíblia é<br />
o anel-sinete (Jer. 22:24; Gên. 41:42; Est. 3:10; Lucas 15:22), que era<br />
usado para selar documentos e contratos. O uso do anel-sinete não é<br />
condenado na Bíblia, presumivelmente porque era tido como um<br />
instrumento de autoridade antes que um ornamento.<br />
Descobrimos que o anel de noivado foi o primeiro anel de ferro<br />
simples usados pelos romanos para "selar" o compromisso conjugal de<br />
duas pessoas que se amavam. Rapidamente, porém, o anel transformouse<br />
num elaborado anel ornamental de ouro, usado praticamente em todos<br />
os dedos. O que aconteceu na antiga Roma repetiu-se mais tarde na<br />
história da igreja cristã. Na igreja primitiva o uso do anel de casamento<br />
passou por três fases principais. Na primeira, dentro do período<br />
apostólico, não há evidências de que o anel marital tenha sido usado. Na<br />
segunda, que compreendeu o segundo e terceiro séculos, permitiu-se o<br />
uso restrito de um anel simples. Na fase final, do quarto século em<br />
diante, houve proliferação de todas as espécies de anéis ornamentais de<br />
ouro com pedras preciosas, para mostrar riqueza, orgulho e vaidade. Isso<br />
foi verdadeiro não apenas com respeito aos leigos, mas também ao clero.<br />
Os líderes da igreja enfeitavam-se e usavam anéis de ouro, pedras<br />
preciosas e vestimentas trabalhadas em ouro.<br />
O que ocorreu na igreja primitiva repetiu-se posteriormente nas<br />
modernas denominações. Os dois exemplos que consideramos, os<br />
metodistas e os menonitas, demonstram a mesma regra. Na primeira<br />
fase, nenhuma jóia ou aliança eram permitidas. Na segunda, uma<br />
concessão foi feita sobre o uso de alianças. Na fase final, a liberação da<br />
aliança tornou-se pretexto para o uso de todas as espécies de jóias,<br />
incluindo anéis ornamentais.<br />
A conduta na Igreja Adventista do Sétimo Dia foi muito<br />
semelhante. Na primeira etapa, quando corriam os primeiros dias do<br />
adventismo, nenhuma jóia ou aliança era usada. Na segunda, permissão<br />
para o uso da aliança apenas nos países onde o costume era bem<br />
estabelecido. Na etapa final, a concessão para o uso de uma simples
Qual a Roupa Certa? 175<br />
aliança foi estendida, em 1986, aos membros das igrejas na América. O<br />
resultado dessa evolução é o surgimento, entre os adventistas, do<br />
costume de usar diferentes tipos de jóias, incluindo anéis ornamentais.<br />
A lição da história é evidente. Os anéis parecem exercer quase que<br />
fatal atração. O povo torna-se tão atraído pelos anéis que é facilmente<br />
tentado ao uso de jóias em geral. Para prevenir essa situação, é<br />
aconselhável não usar aliança, a menos que seja um imperativo social.<br />
Em seu lugar podemos usar "o dourado vínculo que une nossas almas a<br />
Jesus Cristo, um puro e santo caráter, o verdadeiro amor, mansidão e<br />
piedade, que são frutos nascidos da árvore cristã, e nossa influência será<br />
certa em qualquer lugar." (5)<br />
Sétimo Princípio – Os cristãos devem respeitar a distinção de sexos,<br />
usando roupas que afirmem sua identidade masculina ou feminina. O<br />
princípio é claramente ensinado pela lei encontrada em Deuteronômio<br />
22:5, que proíbe o uso de vestes do sexo oposto. Descobrimos que a<br />
Bíblia dá grande importância à preservação da diferença de sexos no<br />
vestuário, bem como nos papéis funcionais, porque isso é fundamental à<br />
nossa compreensão de quem somos e que papel Deus deseja que<br />
cumpramos.<br />
As roupas definem nossa identidade e nos ajudam a desenvolvê-la.<br />
Não somente é verdade que somos o que vestimos, mas também que nos<br />
tomamos o que vestimos. A mulher que deseja agir como homem, vestirse-á<br />
como ele. Semelhantemente, o homem que deseja ser tratado como<br />
mulher, usará itens femininos como jóias, perfume e vestidos sofisticados.<br />
Isso significa que quando distorcemos a distinção de gêneros pelo uso de<br />
roupas unissex, gradualmente perdemos nossa identidade masculina ou<br />
feminina, e entramos em crise e na confusão de papéis.<br />
Sabemos que a confusão de papéis está presente no lar, no trabalho<br />
e na igreja, tornando difícil dizer onde termina o papel do homem e<br />
começa o da mulher. Os cristãos precisam reconhecer as modernas<br />
tentativas da abolição das distinções de sexo, especialmente através da
Qual a Roupa Certa? 176<br />
popularização de roupas comuns a ambos os sexos, como um esforço<br />
satânico para destruir a ordem e a beleza da criação de Deus.<br />
A Bíblia não nos diz que estilo de roupas homens e mulheres devem<br />
usar, porque reconhece que o estilo é ditado pelo clima e pela cultura. A<br />
Bíblia nos ensina a respeitar a distinção de gêneros no vestuário, como<br />
conhecida dentro de nossa própria cultura. Isso significa que como<br />
cristãos necessitamos perguntar-nos ao comprar roupas: Será que este<br />
artigo de vestuário afirma minha identidade sexual ou faz-me parecer<br />
que pertenço ao sexo oposto? Sempre que você sentir que certo tipo de<br />
traje não pertence a seu gênero, siga sua consciência: não o compre<br />
mesmo que esteja na moda.<br />
Num tempo quando a moda parece inclinada a abolir a distinção de<br />
gêneros, não é sempre fácil para o cristão encontrar roupas que afirmem<br />
sua identidade de gênero. Mas, nunca foi fácil viver pelos princípios<br />
bíblicos. Ainda é nosso dever não nos conformarmos com os pervertidos<br />
valores e estilos de nossa sociedade, mas ser uma transformadora<br />
influência neste mundo através do poder habilitador de Deus.<br />
Conclusão<br />
Roupas não fazem um cristão. Mas os cristãos revelam sua<br />
identidade mediante suas roupas e aparência. A Bíblia não prescreve<br />
uma roupa padronizada para os homens e mulheres usarem, mas os<br />
chama a seguir a simplicidade e o despretensioso estilo de vida de Jesus<br />
em nossas roupas e aparência.<br />
Seguir a Jesus em nosso vestir significa ficar à parte da multidão<br />
não portando, ornamentando e "produzindo" nosso corpo como o<br />
restante faz. Isso exige coragem. Coragem de não se conformar com as<br />
imposições da moda, mas ser transformado pelas diretrizes Palavra de<br />
Deus (Rom. 12:2). Coragem para distinguir entre a caprichosa moda que<br />
muda e o sensato estilo que permanece. Coragem para revelar a<br />
amabilidade do caráter de Cristo, não pela externa decoração de seus
Qual a Roupa Certa? 177<br />
corpos "com ouro, pérolas ou custosos vestidos" (I Tim. 2:9), mas pelo<br />
embelezamento interior de nossas almas com as graças do coração, o<br />
manso e quieto espírito que é precioso à vista de (I Ped. 3:4). Coragem<br />
para vestir-se, não glorificando a si mesmo pelo vestir brilhantes jóias e<br />
roupas sedutoras, mas para exaltar a Deus no uso de vestimentas<br />
modestas, decentes e sóbrias.<br />
A aparência exterior é um constante e silencioso testemunho de<br />
nossa identidade cristã. Possa ela dizer ao mundo que vivemos para<br />
glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />
Referências do Capítulo VII<br />
1. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), vol. 3, pág. 376.<br />
2. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), pág. 415.<br />
3. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), vol. 4, pág. 644.<br />
4. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), pág. 421.<br />
5. Ellen G. White, Testimonies to Ministers (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), pág. 180.
Qual a Roupa Certa? 178<br />
UMA VISÃO PRÁTICA DO VESTUÁRIO CRISTÃO<br />
Por Laurel Damsteegt<br />
Sobre a Autora<br />
Laurel Damsteegt nasceu em Bangkok, na Tailândia, filha dos<br />
médicos-missionários Ethel e Roger Nelson. Ela passou a maior parte de<br />
sua infância em Bangkok, mas foi para Singapura para os seus primeiros<br />
dois anos de educação secundária.<br />
Laurel graduou-se em teologia no Atlantic Union College. Durante<br />
as primaveras ela obtinha experiência trabalhando no New England<br />
Memorial Hospital como capelã.<br />
A Sra. Damsteegt obteve seu Mestrado em Divindade na<br />
Universidade de Andrews em 1977, e um MSPH na Universidade de<br />
Loma Linda, em 1978. Enquanto no seminário, ela conheceu seu marido,<br />
P. Gerard Damsteegt, que estava concluindo sua dissertação doutoral.<br />
Casaram-se em 1976.<br />
Os Damsteegts trabalharam juntos no ministério em muitos lugares.<br />
Serviram primeiramente na Potomac Conference como casal pastoral, e<br />
então em Bangkok, Tailândia, como capelães, educadores de saúde e<br />
pastores, e finalmente em Seul, Coréia, estabelecendo-se no Soul<br />
Winning Institute.<br />
Em 1985, os Damsteegts retornaram de sua missão e a Sra.<br />
Damsteegt assistiu seu marido na produção do livro "Nisto Cremos".<br />
Quando, em 1988, o Dr. Damsteegt começou a ensinar História da<br />
Igreja no Seminário Teológico da Universidade de Andrews, Laurel<br />
focalizou seu ativo ministério em criar seus dois filhos, Joelle e Pieter.<br />
Sua presente atividade ela considera o mais elevado de todos os<br />
chamados.<br />
O modo como nós nos vestimos é um assunto muito sensível.<br />
Poucos temas são mais pessoais do que o que comemos e como nos
Qual a Roupa Certa? 179<br />
vestimos. Sobre nenhuma matéria encontramos mais resistência do que<br />
nos hábitos pessoais que envolvem nossa vida diária.<br />
Podemos necessariamente não nos sentir bem sobre o que comemos<br />
e vestimos, e ainda sentirmo-nos altamente protegidos. Entendemos uma<br />
observação critica sobre dieta ou vestuário como dirigidas ao núcleo real<br />
do que somos, porque achamo-nos incapazes de separar a nós mesmos<br />
de nosso exterior. Aqui está um clássico exemplo do por quê a filosofia<br />
da pessoa holística (integral) – de que corpo, mente e alma são uma só<br />
coisa – é verdadeira. O corpo expressa a alma e a alma o corpo. Aqui não<br />
há dicotomia (divisão). Sensibilidade sobre o vestuário tem existido<br />
desde que as vestes de luz desapareceram e nós começamos a costurar<br />
nossas próprias folhas de figueira.<br />
Objetivo do Capítulo<br />
O alvo deste ensaio é duplo. Primeiro, esforçar-me-ei para colocar<br />
claramente a filosofia cristã do vestuário e adornos. Segundo, proporei<br />
alguns princípios práticos no vestir. De muitas maneiras este ensaio se<br />
empenhará em aplicar, de modo prático, os princípios de vestuário e<br />
adornos que apareceram nos capítulos precedentes.<br />
Primeira Parte: A Filosofia Cristã do Vestuário<br />
Vestindo-se para Agradar a Outros<br />
Será o vestuário, algo de caráter estritamente pessoal? Visto-me<br />
segundo meu critério somente? Realmente não! Embora sejamos<br />
responsáveis pelo que vestimos, não há dúvida de que nos trajamos mais<br />
para impressionar os outros do que a nós mesmos. Por que uma mulher<br />
se sujeitaria a par de sapatos com saldos de sete centímetros de altura,<br />
beliscando seus calcanhares? Provavelmente não é porque ame o<br />
conforto, mas porque sente que eles lhe dão certo destaque. Se acha que
Qual a Roupa Certa? 180<br />
o namorado parece triste, um discreto e felpudo suéter torna-se a escolha<br />
para o próximo encontro. Entrevistas de emprego exigem certo<br />
profissionalismo e, nominalmente, alguém nunca pensaria em usar jeans<br />
e uma suada e desbotada camisa, não importando quão limpa e<br />
confortável ela pudesse parecer. A maior parte do que se veste não é de<br />
preferência pessoa. Vestimo-nos para agradar a outros.<br />
Vestindo-se para Agradar a Deus<br />
Os cristãos se vestem para agradar não apenas aos outros, mas a<br />
Alguém especial. Porque escolhemos a Jesus como Senhor (Col. 2:6),<br />
visamos a agradar a Deus em cada aspecto de nossa vida, inclusive no<br />
vestir. Alguns dizem: "Deus não se interessa no que aparento ser. Ele<br />
ama a mim e não às minhas roupas." De fato, Deus ama as pessoas, não<br />
importa quão pobremente vestidas ou mal vestidas estão. O amor de<br />
Deus não depende do que vestimos (ou de quem nós somos). Não<br />
podemos fazê-Lo amar-nos mais pelo que vestimos.<br />
Viemos a Cristo justamente como estamos, mas não devemos<br />
permanecer assim. Porque amamos ao Senhor, ansiamos agradá-Lo de<br />
todos os modos possíveis. Damo-nos a Ele incondicionalmente para que<br />
opere transformações em nós. Isso envolve mudanças radicais que nada<br />
tem a ver com nossa aceitação de Sua parte, mas de O aceitarmos.<br />
Porque O amamos tão ternamente, desejamos agradá-Lo em todas as<br />
coisas que fazemos, incluindo nossa aparência exterior.<br />
Aprendendo a Agradar o Senhor<br />
Descobrimos o que agrada a Deus examinando Sua Palavra e<br />
submetendo-nos à Sua vontade revelada. Essa não é uma obra sombria,<br />
fatigante. De fato, porque Lhe temos dado nosso coração, Ele o devolve<br />
totalmente transformado (Ezeq. 11:19, 20; 36:26 e 27).
Qual a Roupa Certa? 181<br />
As coisas que usamos para adorar vemo-las impróprias. Nosso novo<br />
coração deleita- se em fazer exatamente o que Ele aprecia. Nossos gostos<br />
são mudados, nossa natureza alterada (Sal. 40:8). Então se Ele, tanto<br />
quanto um amigo íntimo, deseja algo, apresso-me em fazer exatamente o<br />
que me ordena. Não por medo ou por força, mas porque eu mesmo<br />
realmente o prefiro. Dessa forma, ao fazer o que eu quero, finalmente<br />
faço Sua vontade. "Se consentirmos, Ele de tal modo Se identificará com<br />
nossos pensamentos e objetivos, assim harmonizando nossos corações e<br />
mentes com Sua vontade, que quando O obedecermos, estaremos<br />
atendendo a nossos próprios impulsos. A vontade, refinada e santificada,<br />
encontrará o mais alto deleite em estar a Seu serviço." ( l )<br />
Esse é o milagre do novo coração, a essência do Novo Concerto. E<br />
o que é melhor: sou capaz de fazer exatamente como Ele quer. Nada é<br />
difícil para Deus! "Quando a vontade do homem coopera com a vontade<br />
de Deus, torna-se onipotente. O que quer que seja feito sob Seu<br />
comando, pode ser plenamente cumprido em Sua força. Todas as Suas<br />
ordens são capacitações." (2)<br />
Naturalmente, se nossos coração não foram mudados, Sua vontade<br />
é dura, difícil. Temos de lutar contra nós mesmos (o que realmente<br />
preferimos) para agradá-Lo. Isso, de fato, é legalismo. Eis aqui um teste.<br />
Você poderia encontrar algo nas Escrituras que lhe é extremamente<br />
desagradável? Isso pode indicar que você necessita reavaliar com<br />
franqueza algumas questões básicas: Tenho eu verdadeiramente dado<br />
meu coração a Jesus? É Ele o Senhor da minha vida'? "Não há utilidade<br />
em dizer-te que não deves vestir isto ou aquilo, pois se o amor dessas<br />
coisas vãs está em teu coração, o abandono de teus ornamentos será<br />
apenas como cortar a folhagem de uma árvore. As inclinações do<br />
coração natural novamente dominariam. Tu deves ter consciência das<br />
tuas próprias." (3)<br />
Daí por que vestuário e ornamentos (e outros padrões "incidentais")<br />
podem tornar-se um índice do que realmente ocorre no interior. A não<br />
submissão de pequenos pontos pode ser sintomática de lealdades
Qual a Roupa Certa? 182<br />
divididas, que necessitam ser reexaminadas honestamente. Roupas<br />
podem afetar sua devoção de maneiras sutis e silenciosas. É melhor ouvir<br />
prontamente quando o Espírito Santo sussurrar-lhe um tocante pedido.<br />
Não Julgar pela Aparência<br />
Crer que nossa aparência exterior é uma revelação de nosso caráter<br />
não nos dá o direito de julgar os outros pelo que pareçam ser. Jesus nos<br />
diz: "Não julgueis". Nós nunca podemos saber como o bondoso Pastor<br />
está conduzindo os outros. O que Ele pede a você pode ser mais do que<br />
me permitiu entender. Não fomos chamados para ser a consciência de<br />
alguém. O mesmo Deus que o conduz em sua peregrinação, pode guiar<br />
também seu amigo ou colega.<br />
"Há muitos que tentam corrigir a vida de outros atacando o que<br />
consideram hábitos errôneos. Eles vão àqueles que pensam estar em erro e<br />
apontam-lhes os defeitos. Dizem: 'Você não pode vestir-se desse jeito.'<br />
Tentam arrancar os ornamentos ou o que quer que lhes pareça ofensivo, mas<br />
não buscam firmar a mente na verdade. Aqueles que procuram corrigir os<br />
outros devem apresentar os atrativos de Jesus. Eles deveriam falar de Seu<br />
amor e compaixão, apresentar Seu exemplo e sacrifício, revelar Seu Espírito, e<br />
não necessitam tocar no assunto do vestuário, de modo algum. Não há<br />
necessidade de fazer da questão do vestuário o principal ponto de sua religião.<br />
Há algo mais elevado a falar. Falem de Cristo, e quando o coração estiver<br />
convertido, tudo o que está em desarmonia com a Palavra de Deus será<br />
deixado." (4)<br />
Não podemos nos permitir julgar as pessoas por suas roupas e<br />
adornos. Para onde Jesus olhava quando ceava com prostitutas e<br />
publicanos? Certamente não era para sua aparência exterior. Nós<br />
necessitamos aprender a olhar os corações, justamente como Jesus fez.<br />
Ele viu as profundas necessidades e ministrava aos feridos com um terno<br />
amor. Ele via potencial para o reino de Deus em todo lugar e olhava<br />
além do exterior. Ministrava aos corações (Mat. 21:31 e 32)
Qual a Roupa Certa? 183<br />
As Pessoas Nos Julgam Pela Aparência<br />
Nossa vocação cristã não é julgar os outros por sua aparência, mas<br />
temos a obrigação de revelar Cristo aos outros por nosso parecer<br />
exterior. Esse é o paradoxo do estilo de vida cristã. Não nos atrevemos a<br />
julgar os outros por sua aparência, contudo, ousamos não nos tornar<br />
pedra de tropeço aos outros por nossa aparência. Embora os outros não<br />
possam ler nosso coração, podem ler nossas roupas, penteado e<br />
maquiagem. Nossa aparência torna-se uma poderosa declaração para<br />
Cristo. Se professamos ser cristãos, então as pessoas têm o direito de ver<br />
a modéstia e simplicidade da vida de Cristo refletidas em cada aspecto<br />
de nossas vidas, incluindo nossa aparência. Não podemos apresentar-lhes<br />
um quadro confuso.<br />
Recapitulando, nós não temos licença para julgar a quem quer que<br />
seja por sua aparência, mas os outros têm o direito de esperar ver os<br />
ideais de Cristo refletidos em nosso comportamento e aparência.<br />
Podemos não gostar disso, mas é a maneira como a vida do cristão<br />
funciona.<br />
A Necessidade de Padrões no Vestuário<br />
Uma comunidade de fé necessita de um padrão para regrar seu<br />
vestuário e adornos, ou essa é uma questão que deve ser deixada à<br />
consciência individual?<br />
Para se ter unidade num corpo de crentes, necessita-se de padrões<br />
comuns. Os adventistas do sétimo dia definem suas normas pelos ensinos<br />
da Palavra de Deus. Assim, o respeito pelo padrão bíblico é imperioso<br />
para preservar a identidade e a unidade adventistas. "Todo assunto de<br />
vestuário precisa ser estritamente observado, seguindo-se rigorosamente<br />
a regra bíblica. A moda tem sido a deusa que governa o mundo, e<br />
amiúde insinua-se na igreja. A igreja precisa tornar a Palavra de Deus a
Qual a Roupa Certa? 184<br />
sua norma, e os pais deveriam pensar inteligentemente sobre esse<br />
assunto.'" (5)<br />
Com freqüência, grandes empresas têm incorporado códigos de<br />
vestuário porque entendem que sua imagem é refletida na aparência de<br />
seus funcionários. Elas crêem que as pessoas agem conforme suas roupas<br />
e que a reputação da companhia não é apenas estabelecida pelos seus<br />
produtos, mas por seus representantes. Essas grandes corporações<br />
mantêm um padrão para os seus empregados. Ninguém precisa ser um<br />
empregador, mas se desejar sê-lo, a obediência é requerida. (6)<br />
Semelhantemente, devemos manter os padrões bíblicos sobre<br />
vestuário em nossa igreja, se desejarmos refletir a imagem de nosso<br />
Mestre. Mas aqui está o problema. A preocupação com a aparência, sem<br />
correta motivação interior, tem apanhado alguns na armadilha do<br />
legalismo. Assim, como cristãos, como tratamos o sensível assunto do<br />
vestuário e dos ornamentos? Poderia a igreja definir com detalhes o que<br />
os membros devem vestir no lar, no trabalho, no lazer e na igreja? Tal<br />
abordagem foi usado pelos fariseus e o resultado foi uma religião vazia e<br />
sem amor.<br />
Consideremos Três Possíveis Opções:<br />
1ª.) Podemos educar. Muitos cristãos sabem muito pouco acerca<br />
do que a Bíblia ensina sobre como viver, incluindo como vestir-se para<br />
Cristo. Uma razão é a atual tendência de reduzir o cristianismo a uma<br />
profissão, antes que uma prática. É fácil para o pastor pregar acerca do<br />
amor de Cristo, antes que sobre os reclamos de Cristo na vida de Seus<br />
seguidores.<br />
Isso é precisamente o que este livro pretende: ajudar os cristãos a<br />
compreenderem como refletir a Cristo em sua aparência. Incidentalmente,<br />
quando os pastores pregam sobre assuntos como os padrões cristãos para<br />
o vestuário e os adornos, eles estão educando e não nos culpando. Não<br />
deveríamos nos intimidar ante os sermões de instrução. Deveríamos,
Qual a Roupa Certa? 185<br />
sim, acata-los. Demos aos nossos pastores a liberdade de educar-nos<br />
sobre como seguir a Jesus nos aspectos práticos da vida cristã como<br />
vestuário, regime alimentar, mordomia, saúde, diversões, ética de<br />
trabalho e vida devocional.<br />
2ª.) Podemos Pedir um Coração Novo. Educação não é suficiente.<br />
Algumas vezes as pessoas aceitarão intelectualmente, mas não<br />
existencialmente a validade dos princípios bíblicos de vestuário e<br />
ornamentos. Com a mente dizem: "O que a Bíblia me ensina nesta área é<br />
verdadeiro". Mas com seu coração declaram: "Não estou preparado para<br />
abandonar jóias e vestidos sensuais.'"<br />
O remédio é estar disposto a deixar que Deus recrie um novo<br />
coração dentro de nós, diariamente, a cada momento, para que fiquemos<br />
ansiosos por Seus ensinamentos. "Dar-lhes-ei coração para que Me<br />
conheçam, que Eu Sou o Senhor; eles serão o Meu povo, e Eu serei o Seu<br />
Deus; porque se voltarão para Mim de todo o seu coração." (Jer. 24:7)<br />
Precisamos orar por uma renovação interior, para que possamos<br />
verdadeiramente viver de cada palavra que procede da boca de Deus. Até<br />
experimentarmos essa renovação, não podemos testemunhar efetivamente<br />
por Cristo. O povo odeia a hipocrisia, mas aprecia um reflexo consistente<br />
da imagem de Cristo em nossa vida.<br />
"Se nos humilharmos diante de Deus, e formos bondosos e corteses.<br />
ternos e piedosos, haverá cem conversões à verdade onde agora vemos<br />
apenas uma. Mas, embora professemos estar convertidos portamos<br />
conosco o fardo do ego, que temos como muito precioso para ser<br />
abandonado. É nosso privilégio depor essa carga aos pés de Cristo e em<br />
seu lugar receber o caráter e a semelhança de Cristo. O Salvador está<br />
esperando por nós para fazer isso." (7)<br />
3ª.) Podemos Amar os Cristãos Imaturos. Nem todos vêem as<br />
coisas do modo como nós. Alguns não vêem nada errado no uso de<br />
brincos, colares, braceletes, anéis ou minissaias. Eles raciocinam que o<br />
cristianismo é mais do que jóias e roupas. Como deveríamos nos<br />
relacionar com essas pessoas? A resposta é simples. Nos os amamos do
Qual a Roupa Certa? 186<br />
jeito que são porque temos a Jesus no coração. Jesus freqüentemente<br />
discordava de Seu povo, mas lágrimas fluíram de Seus olhos quando<br />
contemplou a endurecida Jerusalém. Podemos orar para nos tornarmos<br />
uma extensão de Seu amante coração, mesmo diante daqueles que não<br />
vivem de acordo com os ideais de Cristo para suas vidas.<br />
Segunda Parte: Dez Princípios Para<br />
Vestuário e Adornos Cristãos<br />
Jesus realmente tem algumas preferências sobre o modo de nos<br />
vestirmos e ornarmos nosso corpo. Os capítulos precedentes mostraram<br />
que a Bíblia repetidamente chama-nos a atenção para os preceitos e<br />
exemplos do vestir modesto e decente, sem jóias resplendentes ou<br />
luxuosos vestidos. Dos ensinos da Escritura podemos criar um quadro de<br />
como agradar a Deus, mesmo nos detalhes de nossa aparência. Nesse<br />
ponto podemos encontrar dez princípios práticos que tentarei descrever:<br />
Princípio Primeiro – O motivo cristão para o vestir não é<br />
agradar-se ou aos outros, mas glorificar a Deus. As pessoas vestem-se<br />
por diferentes razões, mesmo que não estejam conscientes disso.<br />
Alguns vestem-se para si mesmos. Esse motivo insidioso é básico<br />
para muitos hoje em dia. Vestem seus corpos e os adornam porque<br />
desejam ser admirados como pessoas distintas. Outros clamam por<br />
atenção extra para sustentar sua autoconfiança. Para obter atenção, uns<br />
poucos vão a extremos vestindo sutilmente pequenos itens do vestuário.<br />
Desejam alertar as pessoas para o fato de que eles são individualistas.<br />
Alguém pode usar uma encantadora blusa para ser notado; outro,<br />
podem pôr uma saia sem botões sobre calças coladas ao corpo, para<br />
convidar os assobios. Tudo aponta para o mesmo motivo. Egos ansiosos<br />
de serem apreciados ou, pelo menos, notados. Mas Paulo adverte:<br />
"Portanto, se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as cousas lá do alto,<br />
onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do<br />
alto, não nas que são aqui da Terra. Fazei, pois, morrer a vossa natureza
Qual a Roupa Certa? 187<br />
terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno, e a<br />
avareza, que é idolatria." (Col. 3:1, 2 e 5)<br />
Alguns se vestem para agradar a outros. Pressões semelhantes não<br />
se verificam apenas entre as crianças e adolescentes. Adultos de todas as<br />
idades participam. A moda é uma senhora tirana. Quer seja no tamanho<br />
de um colar, ou na largura de uma gravata, no comprimento de uma saia,<br />
na uniformidade das amplas calças usadas num piquenique, a pressão lá<br />
está e nós sucumbiremos a ela em variados graus.<br />
Um cristão se veste para glorificar a Deus. Os cristãos estão<br />
preocupados acerca do vestuário porque ele molda seu caráter e exibe<br />
uma bela pintura dAquele a quem servem. Como um compositor de<br />
hinos disse: "Queremos simplesmente ser um meio transparente, para<br />
mostrar Tua glória." (8) A meta do cristão é "fazer tudo para a glória de<br />
Deus" (I Cor. 10:31).<br />
Somos "cartas vivas" que são conhecidas e lidas por todos (II Cor.<br />
3:2 e 3). Se a aparência não combina com a condição da alma, criamos<br />
confusão. Cuidemos em não nos tornar uma desculpa para aqueles que<br />
estão no desvio da rebelião (Mat. 18:6; Rom. 14:13 a 15; 1 Cor. 10:33)<br />
Você pode ter um coração puro e amar a Jesus, mas se usar uma saia<br />
curta e bermudas justas, pode estar certa de que os homens a olharão não<br />
pensando em Jesus.<br />
Noutro extremo, mesmo um pregador bem vestido pode tornar-se<br />
uma distração, se usar roupas caras sempre bem combinadas, sempre na<br />
crista da moda, e trocá-las cada fim de semana, mostrando infinita<br />
variedade. Alguns da congregação notarão suas roupas mais que suas<br />
pregações. Necessitamos de cautela ao nos expormos de qualquer forma.<br />
Se não há mostras do ego no vestir-se, os espectadores crerão que<br />
há mais em sua vida do que os olhos podem ver.<br />
Princípio Segundo – Um cristão deveria vestir-se e agir de modo<br />
modesto, cobrindo adequadamente o corpo e evitando dificuldades ou<br />
tentação. (I Tim. 2:9) Deus criou Adão e Eva com coberturas de luz, que<br />
eles perderam quando cometeram pecado. Com o frio e a escuridão veio
Qual a Roupa Certa? 188<br />
o reconhecimento da nudez e eles imediatamente sentiram necessidade<br />
de cobrir-se (Gên. 3:7). Nudez nas Escrituras tornou-se símbolo de<br />
vazio, de pecado, de apostasia, ou da tentativa de salvar-se a si mesmo<br />
(Êxo. 32:25: Deut. 28:48; II Crôn. 28:19; Jó 1:21; Isa. 2:2 a 4; Oséias 2:3;<br />
Mat. 25:36; Apoc. 3:17 e 18). A Bíblia jamais usa a nudez em sentido<br />
positivo.<br />
Deus fez os primeiros vestidos duráveis, diferentes das folhas de<br />
figueira antes utilizadas, e os vestiu como símbolo da boa disposição<br />
divina de cobrir nosso vazio e indigência (Rute 3:9; Ezeq. 16:8;<br />
Mat.22:11 e 12; Apoc. 3:18). (9)<br />
Cuidadosas instruções foram dadas em várias partes da Bíblia sobre<br />
como cobrir o corpo para que não apareça a nudez (Êxo. 20:26; 28:42).<br />
Contudo, a exposição do corpo tornou-se característica da moda<br />
moderna. os estilistas buscam cortar e ajustar, para exibir o corpo por<br />
meio de uma grande variedade de modos. Mesmo pessoas que estão<br />
cobertas completamente podem ser imodestas, se suas roupas são<br />
apertadas ou finas e as expõem de qualquer maneira.<br />
De quem é a falta por assédio sexual? Está em falta quem usa<br />
vestidos sensuais? Ou o assediador é culpado? Algumas vezes não nos<br />
sentimos responsabilizados pela cobiça que provocamos. Não raro, as<br />
mulheres são totalmente ingênuas com respeito ao modo como seus<br />
vestidos afetam os homens. Saias curtas atraem atenção para as pernas;<br />
fendas nas saias ou blusas são sugestivas e fazem o jogo do "pega-pega".<br />
Decotes permitem muito pouco à imaginação. Possivelmente poucos<br />
homens cristãos são capazes de resistir a pensamentos lascivos e<br />
obscenos, mas os homens mundanos nem mesmo tentam.<br />
Alguém disse uma vez que ele não compreendia "por que a mulher<br />
diz que vestir uma minissaia a faz sentir-se mais como uma mulher,<br />
todavia não espera que eu me sinta mais homem. Creio que as mulheres<br />
têm o direito de usar qualquer coisa que queiram, onde queiram, mas<br />
ajudem-me a compreender por que eu ainda pretendo olhá-las nos olhos.<br />
Em nossa era moderna, seja sabido que não é porque as mulheres não
Qual a Roupa Certa? 189<br />
ouvem lascivos e obscenos ditos, isso signifique que os homens não<br />
estão tendo pensamentos lascivos e obscenos." (10)<br />
Para os cristãos isso é coisa muito séria. Jesus disse: "Qualquer que<br />
olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou<br />
com ela." (Mat. 5:28) Pense no dano de defraudar um irmão por vestir<br />
uma roupa reduzida. Quem seduz quem?<br />
O que é modéstia? Certamente ela inclui cobrir o corpo<br />
adequadamente, com vestimentas agradáveis, decorosas, decentes e bem<br />
ordenadas. Mas modéstia deve também considerar nosso comportamento.<br />
Podemos ser modestos no vestir e imodestos em nossa conduta.<br />
Por exemplo, o vestido de noiva não assegura um comportamento<br />
casto. Todos as maneiras de namoro e comportamento impróprio têm<br />
lugar com pessoas que usam alianças o tempo todo. Como pode um<br />
cristão lidar com namoro e excessos? Pelo comportamento cuidadoso<br />
que não encoraje pequenas conversas de galanteios.<br />
Quando estou numa nova situação, digamos, no avião, onde alguém<br />
pode perguntar-se se sou casado ou não porque não uso aliança, costumo<br />
criar uma conversa casual com alguém, acerca de meu marido e filhos. É<br />
recomendável e vital que sejamos bondosos, amigáveis e solícitos,<br />
mantendo cuidadoso decoro. Esse tipo de modéstia é protetor.<br />
Princípio Terceiro – O adorno exterior de um cristão reflete a<br />
simplicidade, naturalidade e consistência da vida cristã. O elevado<br />
ideal na imagem de um cristão amável é a beleza da simplicidade. Como<br />
Jesus disse no monte, Ele tocava e apanhava uma simples flor. Como<br />
olhava atentamente para sua corola de variados matizes e intensidades,<br />
sua forma exata e linhas perfeitas! Jesus observou que Salomão em todo<br />
o seu extravagante e impressivo garbo, não pôde expressar o encanto de<br />
uma simples flor do campo.<br />
Então Jesus fez uma de Suas capacitadoras promessas. Deus está<br />
muito mais interessado em você e em mim do que nas flores silvestres.<br />
Assim como Ele cuida de suas necessidades, "quanto mais a vós outros,
Qual a Roupa Certa? 190<br />
homens de pequena fé?'' (Mat. 6:30) Deus prometeu providenciar nossas<br />
roupas, não de maneira vaidosa, mas com simplicidade e adequação.<br />
Algumas vezes Deus toma providências através de súbitas e<br />
inesperadas doações de coisas que nunca poderíamos ter (algumas vezes<br />
usadas); ou tornando as vestes quase tão duráveis como os calçados dos<br />
israelitas. Deus provê, e cada dom precisa ser reconhecido como vindo<br />
diretamente dEle, o Autor de todas as boas coisas.<br />
Uma discussão sobre o uso de cosméticos deve ter sua base no<br />
princípio da simplicidade. O Criador nos fez com nossas próprias cores.<br />
Uma condição saudável traz cor às nossas faces e brilho aos nossos<br />
cabelos. Quem usa uma consistente maquiagem bloqueia a cor natural.<br />
Quando não se maquia, sua pele fica esbranquiçada, os lábios pálidos, os<br />
olhos mortiços. Mesmo para nós que não estamos acostumados vê-la<br />
desse jeito, ela é realmente mais pálida do que seria se abandonasse os<br />
cosméticos e permitisse que seu Criador naturalmente a colorisse. Os<br />
homens normalmente não usam cosméticos e são mais corados.<br />
A mulher que não usa cosméticos nunca está preocupada com<br />
desagradáveis iluminações artificiais e lâmpadas fluorescentes. Não se<br />
aflige com a chuva ou neve estragando a base e as bochechas com rouge,<br />
ou a retirada do batom enquanto come, ou em danificar a maquiagem se<br />
algumas lágrimas correrem pela face. Ela é sempre ela mesma. E quem<br />
se incomoda se em alguns momentos de felicidade algumas rugas se<br />
formam nos olhos ou ao redor da boca? Nem sequer precisa preocupar-se<br />
com aquelas brancas e embaraçantes raízes de cabelo que exibe a cada<br />
semana. Cabelos grisalhos falam de experiência e maturidade (Prov.<br />
16:31). Isso é lindo!<br />
Ser natural permite que a pessoa mostre alegria e paz interior que<br />
extravasa. Ser artificial acoberta tudo o que possui naturalidade. E<br />
certamente é mais saudável não cobrir os poros da pele. (11) Vestidos e<br />
penteados simples, um rosto "maquiado" por Deus podem ser atraentes,<br />
embora não pretendam atrair a atenção dos outros. Se eles nos<br />
incomodam, talvez precisemos perguntar por que desejamos chamar a
Qual a Roupa Certa? 191<br />
atenção. Não ter um perfil ou silhueta escultural pode ser seguro, literal e<br />
espiritualmente. Mas, naturalidade não significa desalinho.<br />
Princípio Quarto – As roupas e a aparência do cristão devem ser<br />
asseadas e bem cuidadas. Algumas vezes temos a idéia de que<br />
simplicidade é desleixo. Não é! Nem é desalinho. Tomar tempo para<br />
passar um ferro elétrico sobre a saia é importante (obrigatório se for<br />
algodão). Cozer um botão na roupa pode levar alguns minutos. Coloque<br />
uma caixa de costura junto à sua poltrona favorita, onde você possa<br />
apanhá-la quando está falando ao telefone ou apenas sentada. Não vamos<br />
parecer espantalhos, mesmo em casa.<br />
"Irmãs, quando em seu trabalho, não ponham um vestido que as<br />
fana parecer como corvos assustados no milharal. É mais gratificante a<br />
seus maridos e filhos vê-las num atraente e bem alinhado vestido, do que<br />
a meros visitantes ou estranhos. Algumas esposas e mães parecem pensar<br />
que não importa o que aparentem quando em seu trabalho, ou quando<br />
estão com seus maridos e filhos, mas são extremamente cuidadosas ao<br />
vestir-se com gosto aos olhos daqueles que não têm nenhum interesse<br />
particular nelas. Não são a estima e o amor do marido e filhos algo a ser<br />
mais prezado do que a admiração de estranhos ou amigos comuns?" (12)<br />
Asseio não é uma opção. Como diz o velho adágio: "A limpeza<br />
anda próxima da piedade." Não representaremos bem a Jesus com sujeira<br />
e vestidos desarrumados. De fato, se você está num trabalho de<br />
construção ou trabalhando no jardim, então há lugar para a sujeira. Mas<br />
quando você entra em casa, tome um banho e cuide-se bem, por amor a<br />
Jesus.<br />
Princípio Quinto – Um cristão pode evitar a extravagância e<br />
todavia escolher roupas bonitas e de boa qualidade, elegantes e duráveis.<br />
Somos mordomos do pouco ou do muito que Deus nos confiou. Somos<br />
chamados a viver com os meios que necessitamos e canalizar o restante<br />
para onde quer que Ele nos apontar.<br />
Alguns vão às compras e adquirem os vestidos mais baratos que<br />
podem encontrar. Para eles esse pode ser o melhor caminho. Por
Qual a Roupa Certa? 192<br />
exemplo, as crianças perdem as roupas muito rapidamente. Por isso não<br />
são compradas mercadorias de alta qualidade, salvo se elas puderem ser<br />
usadas por duas ou mais temporadas, ou dadas a um parente.<br />
Comprar roupas para um adulto é diferente. Desde que não haja<br />
drásticas alterações no corpo (uma gravidez, por exemplo), podemos<br />
usá-las por anos. Especialmente em climas sazonais, onde elas são<br />
vestidas apenas durante alguns meses ao ano, a pessoa pode usá-las ano<br />
após ano, se possuem bom gosto e qualidade. "Nosso vestuário,<br />
conquanto modesto e simples, deveria ser de boa qualidade, de cores<br />
firmes e adequado à sua finalidade. Deve ser escolhido pela durabilidade<br />
antes que pelo estilo." (13)<br />
Se alguém gasta um pouco mais de tempo numa pesquisa de lojas<br />
para saber o que é melhor, pode encontrar vestidos bonitos, de bom<br />
caimento e duráveis. Primeiramente, escolha roupas de qualidade que<br />
não requeiram muita manutenção e de estilo clássico. Elas podem<br />
parecer caras à primeira vista, mas pouparão tempo e dinheiro por muito<br />
tempo.<br />
A extravagância provém do excesso. Não é extravagância ter roupa<br />
de boa qualidade, bom caimento, agradáveis e confortáveis de vestir.<br />
Mas se o guarda-roupa está cheio de belos e bons vestidos que frio<br />
somos capazes de usar por meses ou anos, então é tempo de suspender as<br />
compras e talvez pensar em alguém do seu tamanho, com quem você<br />
poderia partilhar as bênçãos de Deus.<br />
Se você tem tudo o que necessita, nada compre até ter necessidade<br />
real. Resista à tentação de comprar porque há boas promoções na loja.<br />
Não se deixe tentar pelas vitrinas ou pelos intermináveis catálogos. Você<br />
sempre vê uma coisa mais que precisa ter. Não gaste o dinheiro do<br />
Senhor para satisfazer desejos extravagantes, '"A auto-negação no vestir<br />
é parte do dever cristão. Vestir-se de modo simples e abster-se do uso de<br />
jóias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé" (14)<br />
Princípio Sexto – O vestuário deve assegurar a saúde do corpo,<br />
protegendo em lugar de maltratá-lo. Deus projetou nossos corpos de um
Qual a Roupa Certa? 193<br />
modo maravilhoso. Os órgãos interrelacionados com funções tão<br />
silenciosas e suaves, que raramente os levamos em conta, a menos que<br />
tenhamos problemas de saúde. Isso é ingratidão! Atenção à saúde<br />
pessoal está muito distante de ser egoísmo; é uma maneira de ser grato a<br />
Deus por Seu trabalho e redenção.<br />
O vestuário deve promover a circulação corporal. O corpo é um<br />
intrincado sistema de órgãos e uma rede de complexos nervos todos<br />
alimentados com o oxigênio trazido pelo sangue, Por causa de nosso<br />
sistema circulatório ser totalmente involuntário, temo-lo como garantido.<br />
Vestidos apertados constringem a circulação e causam não somente<br />
desconforto imediato (com o corpo dizendo: "Por favor, ouçam-me!"),<br />
mas algumas vezes danos a longo prazo nos órgãos ou vasos sangüíneos.<br />
No século passado, espartilhos e cintas foram grandemente<br />
responsáveis por disfunções dos órgãos abdominais. É evidente que não<br />
vamos aos extremos desses dias, mas ocasionalmente usamos uma cinta<br />
estreita ou elástica, bem como a auréola elástica de algumas meias ou<br />
artigos de malha, ou ainda roupas de baixo coladas. Tenha piedade de<br />
seu sistema! Dê-lhe espaço para circulação. Isso é muito mais importante<br />
do que o conforto dos vestidos. Escolha roupas com cinturas que sejam<br />
adequadas, malhas que sejam quentes e laváveis, jaquetas que não<br />
impeçam o livre movimento dos braços ou que amarrotem, capas que<br />
protejam plenamente o corpo e sejam quentes. Essas são excelentes<br />
escolhas em prol da saúde.<br />
Ficar aquecida em nas estações frias é uma consideração muito<br />
importante para a circulação adequada. As extremidades devem estar tão<br />
aquecidas quanto o tronco. (15) Contudo, quão freqüentemente nos<br />
aventuramos na neve sem a cobertura conveniente. Nestes dias as<br />
malharias estão começando a fabricar artigos práticos como roupas de<br />
baixo térmicas. Tire vantagem de manter-se aquecida. As pernas<br />
precisam estar adequadamente protegidas e isso pode ser feito tão<br />
facilmente pelo uso de saias longas e modernas roupas de baixo. Então,<br />
com botas de cano alto, um cachecol de lã dobrado confortavelmente ao
Qual a Roupa Certa? 194<br />
redor do pescoço e grossas luvas, alguém pode apreciar as maravilhas do<br />
inverno, sem sofrer seus ataques. (16)<br />
Cobrir a cabeça é outra importante (antiquada?) medida. No<br />
inverno, enormes quantidades de calor são perdidas na cabeça. O rosto e<br />
as orelhas podem sofrer severas exposições também. Escolha um gorro<br />
próprio que cubra a cabeça sem prejudicar os cabelos. Algumas jaquetas<br />
e capas possuem um capuz que pode ser usado. No verão um chapéu<br />
próprio para a estação ajuda a manter a cabeça resfriada quando você<br />
está trabalhando fora. Trate seu cérebro com muito respeito.<br />
Os sapatos precisam ser confortáveis. Dedos apertados, carbúnculo<br />
(doença infecciosa causada por uma bactéria, a bacillus anthracis, que<br />
produz lesões na pele), calos e calosidades, joanetes, são maneiras do<br />
corpo dizer: "Trate-me bem, torne-me confortável, eu lhe darei vigor por<br />
todo o dia!" Calçados que sejam macios e tenham um bom arco para<br />
suporte da planta do pé, podem de início ser caros, mas se mostrarão<br />
econômicos e úteis em durabilidade. Eles ajudam a prevenir a fadiga<br />
geral.<br />
Princípio Sétimo – O cristão deve usar roupas apropriadas para a<br />
ocasião. "Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo<br />
propósito debaixo do céu", disse certa vez Salomão (Ecles. 3:1). Melhor<br />
sumário de conveniência não poderia ser feito. Uma pessoa veste no<br />
jardim o que não poderia nem pensar em usar na igreja ou num encontro<br />
de negócios. O que é apropriado no inverno certamente não o seria no<br />
sufocante calor do verão. Ao andar de bicicleta pelas ruas alguém<br />
provavelmente usaria algo diferente do que num jantar fora de casa.<br />
Conveniência implica em bom senso e em colocar juntos, num quadro<br />
bem balanceado, todos os outros princípios. Alguém poderia estar tão<br />
saudável num vestido, que a graça simples e a beleza se perderiam.<br />
A cultura de diferentes países desempenham uma parte importante<br />
em determinar qual a vestimenta apropriada. No Oriente Médio há países<br />
onde as mulheres cobrem tudo, exceto os olhos, e há que se exercer<br />
extremo cuidado e respeito por isso. Em outros países o povo se veste
Qual a Roupa Certa? 195<br />
tão elegantemente que as desleixados e amadas T-shirts (camisas jeans)<br />
americanas, se tomariam motivo de riso. Aqui necessitamos de bom siso.<br />
O que é apropriado para os homens, nem sempre o é para as<br />
mulheres, mesmo que a cultura comum o permita. A confusão nessa<br />
distinção é anualmente tendenciosa. Como cristãos precisamos deixar<br />
claro que há diferença entre as vestes do homem e da mulher. Como<br />
demonstrado no capítulo seis, a Escritura claramente nos ensina a<br />
respeitar a distinção de gêneros no vestir, bem como nos papéis<br />
funcionais, porque ela é parte da ordem da Criação. Distinção de gêneros<br />
é fundamental para nossa compreensão de quem somos e que papel Deus<br />
deseja que desempenhemos. Não devemos permitir-nos eliminá-la.<br />
"Há uma crescente tendência de estarem as mulheres em seus trajes<br />
e aparência, tão próximas do sexo oposto quanto possível, e modelar<br />
seus trajes conforme os do homem, mas Deus diz que isso é abominação.<br />
'Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com<br />
modéstia e bom senso..." (I Tim. 2:9)... Deus designou que houvesse<br />
plena distinção entre o vestuário dos homens e da mulheres, e tem<br />
considerado ser matéria de importância suficiente para dar explícitas<br />
instruções sobre sua observância; pois o mesmo traje usado por ambos os<br />
sexos causaria confusão e grande aumento do crime." (17)<br />
Princípio Oitavo – O vestuário cristão deve ser decente e belo,<br />
revelando estilo e graça. O vestuário do cristão deve ter boa aparência.<br />
E pode ser belo. Não precisamos vestir-nos de modo desgracioso, e que<br />
afaste as pessoas de nós. Isso seria difamatório a Deus também (18)<br />
Ninguém deveria jamais ser levado a dizer: "Eu não gostaria de ser um<br />
cristão! Veja que roupas horríveis Deus os faz usar!"<br />
O que vestimos pode deixar transparecer que Deus ama o belo ou<br />
Ele não teria enchido este mundo com tal variedade de belas cores. Que<br />
Ele aprecia a ordem ou não teria criado o complexo Universo com seus<br />
desenhos e movimentos. Que Ele ama a simplicidade ou que não nos<br />
teria provido belos e saborosos frutos, grãos e vegetais.
Qual a Roupa Certa? 196<br />
A beleza no vestuário começa com o estilo antes que com a moda.<br />
Algumas pessoas crêem equivocadamente que só a moda é estilo. Não é,<br />
embora penetre quase que totalmente a sociedade. (19) A moda vem e<br />
vai, mas o estilo permanece. Alguém disse certa vez: "Novidades são<br />
armadilhas! A moda é excitante, transitória, novidadeira; o estilo é<br />
equilíbrio, permanente, consistente; o bom desenho não envelhece."<br />
Moda é quase sinônimo de temporário. Se os estilistas fizessem uma<br />
moda permanente, poriam a si próprios fora de seus lucrativos negócios.<br />
A indústria da moda é altamente abastecida pelo consumismo. Seu alvo é<br />
satisfazer a ilusão do momento.<br />
Por outro lado, roupas com estilo não se tornam facilmente<br />
antiquadas. São como peças de arte. Dizem algo, têm propósito.<br />
Conquanto não devamos fechar os olhos à moda que hoje existe e<br />
amanhã se vai, podemos apreciar o estilo sensato. Os estilos clássicos ou<br />
tradicionais têm sido apropriados por anos e nunca estarão fora de moda.<br />
Princípio Nono – Adotar guarda-roupa prático, que seja adaptado<br />
a você e ao seu estilo de vida. O primeiro passo no desenvolvimento de<br />
um guarda-roupa prático e de bom gosto, é decidir como o tempo de<br />
alguém deve ser usado. É a maior parte da semana gasta num escritório ?<br />
Você despende a maior parte de seu tempo cuidando de bebês em casa?<br />
Você é um trabalhador braçal? Você usa boa parte de seu tempo em<br />
atividades físicas, nos spas ou jogando tênis.<br />
Se você está pensando no bebê durante todo o dia, provavelmente<br />
não necessitará de seis tailleurs. Mas nada deveria levá-la a "suar" dia e<br />
noite. Vista-se belamente, mesmo para o bebê. A família aprecia pais<br />
bem vestidos no lar, e não apenas quando saem de casa. Isso faz com que<br />
as crianças se sintam muito importantes também.<br />
Alguém pode querer ter um visual clássico para evitar a<br />
transitoriedade da moda. Pára as mulheres um guarda-roupa básico pode<br />
consistir em: um tailleur de bom caimento, um vestido básico, um<br />
vestido para jantares, uma capa ou manteaux, um par de sapatos e bolsa<br />
que combine. Se cuidadosamente escolhido, um blazer pode ser usado
Qual a Roupa Certa? 197<br />
com os demais itens. É melhor comprar roupas clássicas para cada<br />
temporada.<br />
O que é básico? Um verdadeiro guarda-roupa básico consiste de<br />
roupas de linhas simples, estilos tradicionais com cores combinadas.<br />
Essas cores básicas são: negra, marrom, azul-marinho, cinza e bege.<br />
Cores e linhas são vitais para comunicar presença e autoridade. Nos anos<br />
setenta, John T. Molloy escreveu os clássicos volumes Dress for Success<br />
e Women's Dress for Success Book. Conquanto estejamos a mais de vinte<br />
anos desse tempo, os princípios ainda são tidos como válidos hoje.<br />
Muitos desses princípios aplicam-se ao vestuário cristão, com destaque<br />
para a qualidade clássica e a simplicidade no vestir.<br />
Desde que a extensa pesquisa de Molloy foi publicada, a análise das<br />
cores tornou-se em voga na década de oitenta. A análise de cores pode<br />
ser útil em auxiliar diferentes tipos de pele a encontrar cores que melhor<br />
se harmonizem com eles. (20) Quando alguém encontra a cor básica que<br />
lhe vai bem, então a adota e combina suas roupas a partir dela. A<br />
vantagem disso é que ninguém necessita ter dúzias de sapatos e bolsas<br />
para manter um guarda-roupa próprio. Sapatos em cores básicas podem<br />
ajudar a manter uma paleta de uma cor só.<br />
Você acha que nenhum combina com os artigos de vestuário que<br />
está experimentando? Não o compre porque provavelmente não se ajusta<br />
ao seu esquema de cores. Se você se dá bem com cores terrenas<br />
(marrons) não se sinta por azul-marinho e negro. Ou se lhe caem melhor<br />
tons acinzentados não os misture com marrons.<br />
Após você montar seu próprio guarda-roupa, escolha cores que<br />
combinem com ele e acrescente variedades. Você não precisa ficar com<br />
as cores básicas. Mas esteja certa de que tudo o que escolher estará<br />
combinando com o fundamento que você estabeleceu com o básico, e<br />
seu guarda-roupa será coerente.<br />
Alguns desses princípios também se aplicam aos homens, mesmo<br />
com respeito a cores e ao guarda-roupa básico. Os homens podem<br />
começar com um ou dois bons ternos, duas camisas brancas (o branco é
Qual a Roupa Certa? 198<br />
clássico), e escolher duas outras listradas ou de cor pastel (nunca<br />
vermelha ou rosa). Um blazer de boa qualidade e um par de calças bem<br />
confeccionadas que formem contraste, ampliarão as possibilidades. Uma<br />
capa bege impermeável tem maior durabilidade, a despeito da análise de<br />
cor. Sapatos marrons ou pretos podem ser polidos e mantidos belos.<br />
Mais importante é a gravata que, mais do qualquer outro item, determina<br />
como as pessoas olham "o status, a credibilidade, a e a capacidade do<br />
homem." (21)<br />
O vestuário para a igreja depende muito do tipo de atividade que<br />
alguém exerce. Se a mulher vai à plataforma, o comprimento de sua saia<br />
necessita ser suficiente, para que ela não tenha de puxá-las. Se alguém<br />
trabalha na divisão infantil, roupas laváveis, que não amarrotem, podem<br />
ser úteis.<br />
A função principal das vestimentas na igreja não é atrair a atenção<br />
para si próprio, mas propiciar um clima de adoração. "Todos deveriam<br />
ser ensinados a serem asseados, limpos e bem-arrumados em seu<br />
vestuário, sem contudo serem indulgentes com aquilo que é totalmente<br />
impróprio para o santuário. Não deveria haver nenhuma exibição de<br />
vestuário, pois isso encoraja a irreverência. A atenção do povo é com<br />
freqüência chamada para ele, e assim pensamentos são introduzidos, os<br />
quais não deveriam ter lugar no coração dos adoradores. Deus não é alvo<br />
de seus pensamentos, centro da adoração; e algo que desvie a atenção do<br />
solene e sagrado serviço é uma ofensa a Ele." (22)<br />
Distrações causadas pelas roupas do professo adorador são estorvos<br />
à adoração. Por outro lado, o sábado é um dia especial e mostramos<br />
respeito por Deus ao vestir nosso melhor, não para parecer bem por<br />
nossa própria causa, mas como um verdadeiro ato de adoração. (23)<br />
Princípio Décimo – Ao vestir as crianças, os pais cristãos<br />
deveriam escolher roupas apropriadas à idade, que sejam confortáveis,<br />
simples, asseadas e elegantes. Os princípios no vestir as crianças são os<br />
mesmos que para os adultos, com muito poucas exceções. Escolha<br />
roupas que sejam confortáveis, asseadas, simples e elegantes. Encoraje
Qual a Roupa Certa? 199<br />
na criança hábitos de asseio e ordem enquanto ainda são pequenas,<br />
porque são eles mais difíceis de se desenvolver em tempos posteriores.<br />
Os adolescentes já começam desejando ser tais quais os adultos,<br />
justo nestes dias em que a linha divisória entre as fases está sendo trazida<br />
mais para trás. As crianças estão usando sapatos de salto alto,<br />
maquiagem ou modas adultas. Como costuma acontecer, os pequenas<br />
divertem-se com comportamentos adultos, e isso pode tornar-se<br />
problemático para o desenvolvimento e a moralidade das crianças. "Os<br />
pequenos deveriam ser educados na simplicidade infantil... Eles não<br />
deveriam forçados à maturidade precoce, mas reter o maior tempo<br />
possível a frescura e a graça de seus primeiros anos." (24) Abençoada a<br />
criança que pode permanecer criança e desfrutar mais tempo sua<br />
infância.<br />
David Elkind, em The Hurried Child (A Criança Apressada), explica<br />
como as roupas afetam o processo de amadurecimento: "Três ou quatro<br />
décadas atrás, meninos pré-púberes (com idade antecedente à puberdade)<br />
usavam calções e calças curtas até começarem a se barbear; usar um par<br />
de calças longas era um verdadeiro rito de passagem. Às meninas não era<br />
permitido usar maquiagem ou meias transparentes até que chegassem à<br />
adolescência. Para ambos os sexos, o vestuário de crianças era uma coisa<br />
à parte. Isso indicava aos adultos que eles deveriam ser tratados<br />
diferentemente, talvez indulgentemente; isso tornava fácil às crianças<br />
agirem como crianças." (25)<br />
Hoje a indústria da moda tem as crianças sob sua alça de mira.<br />
Mesmo aquelas em idade pré-escolar têm-se vestido como adultos em<br />
miniatura. "Desde macacões até camisas, os desenhistas da moda puseram<br />
à disposição um enorme sortimento de roupas em escala para as crianças.<br />
Juntamente com essas, há uma ampla escolha de correspondentes atitudes,<br />
tais como aquelas dos modelistas de jeans para adolescentes." (26)<br />
A maioria da sociedade pensa que isso é apenas engraçadinho. No<br />
entanto, vestuário precoce convida a uma alusão ao adulto. Carregados<br />
em plena idade jovem com as implicações da cultura adulta, a criança
Qual a Roupa Certa? 200<br />
não tem refúgio, exceto para desenvolver-se precocemente e adotar<br />
comportamentos que estão além de sua idade.<br />
"Quando as crianças se vestem como adultos, são mais semelhantes<br />
a esses em comportamento e imitam-lhes as ações. É difícil andar como<br />
um adulto usando calções de veludo, que fazem um barulho engraçado.<br />
Mas garotos em calças compridas podem andar como homens e meninas<br />
em jeans apertados podem andar como mulheres. É mais difícil hoje<br />
reconhecer que as crianças são crianças e não miniaturas de adultos,<br />
porque as crianças se vestem e se movimentam como adultos." (27)<br />
As crianças também precisam compreender o valor do dinheiro.<br />
Roupas com etiquetas famosas parecem ser tão vitais às crianças, que<br />
elas não compreendem o custo financeiro disso sobre o orçamento<br />
familiar. Elas necessitam ser estimuladas a apreciar as roupas simples e<br />
modestas. Isso as ajudará a tornar-se indivíduos e não vítimas de<br />
pressões. (28)<br />
O Adorno Interior<br />
Talvez tenhamos falado com pormenores de que a bela aparência<br />
está em perigo de se perder. É o adorno interior de um espírito manso e<br />
quieto que tem grande valor à vista de Deus (I Ped. 3:1 a 8). "Se o<br />
coração estiver convertido, isso será visto na aparência exterior. Se<br />
Cristo for em nós a esperança da glória, descobriremos tais encantos<br />
nEle, que a alma ficará enamorada. A Ele se apegará escolhendo amá-Lo<br />
e na Sua contemplação o eu será esquecido. Jesus será exaltado e<br />
adorado, e o eu abatido e humilhado." (29)<br />
Tem-se dito com freqüência que o que nós somos é mais importante<br />
do que o que vestimos. Mas, será que podemos separar essas duas coisas?<br />
Não refletimos o que somos pelo que vestimos? Está Deus realmente<br />
preocupado com o que vestimos? Se Ele nos deu diretrizes, é evidente<br />
que sim. "Mas, uma vez que o vestir é um aspecto menor da vida cristã",
Qual a Roupa Certa? 201<br />
dizem alguns, "porque ser exigente? Vamos nos ater aos aspectos<br />
essenciais da salvação e não nos preocuparmos com minúcias."<br />
Tais pensamentos ignoram o interesse de Deus nas pequenas<br />
orientações. Foi pequena coisa que Deus pediu a Adão e Eva: por favor,<br />
não comam dessa árvore (há muitas outras das quais vocês podem<br />
comer). Quando Naamã veio a Eliseu para ser curado, ficou irado porque<br />
foi-lhe ordenado que se lavasse num lamacento rio local. Então seu servo<br />
lhe fez uma pergunta que ecoa até os dias de hoje: "Meu pai", iniciou<br />
respeitosamente, "se o profeta te houvesse mandado fazer alguma grande<br />
coisa, tu não a terias feito?" (II Reis 5:13) Se ele houvesse pedido<br />
grandes somas de dinheiro, ou uma peregrinação, algo verdadeiramente<br />
difícil, tu terias cumprido. Aqui ele pediu algo fácil.<br />
Conclusão<br />
Vestir-se para a glória de Deus não é algo terrivelmente dificultoso.<br />
Mas exige disposição de nossa parte permitir que Ele mude nossas<br />
atitudes. Necessitamos estar dispostos a usar Seu ouro: "Aconselho-te<br />
que de Mim compres ouro provado no fogo para que te enriqueças: e<br />
vestes brancas para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez,<br />
e unjas teus olhos com colírio, para que vejas." (Apoc. 3:18) Ele deseja<br />
cobrir-nos. Ele deseja adornar-nos internamente com Seus próprios<br />
encantos e beleza. Porém, nossa disposição é indispensável para que Seu<br />
poder opere.<br />
"O apóstolo apresenta o adorno interior em contraste com o<br />
exterior, e diz-nos aquilo que o grande Deus valoriza. O exterior é<br />
corruptível. Mas um espírito manso e quieto, o desenvolvimento de um<br />
caráter belamente simétrico, nunca se deteriora. É um adorno que não<br />
perece. À vista do Criador de todas as coisas que são valiosas, amáveis e<br />
belas, é declarado ser de grande preço." (30)<br />
Algum dia Jesus abrirá aqueles portais de pérola receberá Seus<br />
queridos. O que Ele dirá? "Bem está, bom e fiel servo, foste fiel no
Qual a Roupa Certa? 202<br />
pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." (Mat.<br />
25:21) Que possamos estar dispostos a seguir a Jesus nas pequenas<br />
coisas como roupas e adornos, os quais silentemente dizem ao mundo<br />
que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />
Referências do Capítulo VIII<br />
1. Ellen G. White, Desire of Ages (Mountain View, Califórnia,<br />
1940), pág. 668.<br />
2. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (Takoma Park, MD,<br />
1942), pág. 333.<br />
3. Ellen G. White, Review and Herald, 10 de maio de 1892.<br />
4. Ellen G. White, Evangelism (Washington D.C., 1970), pág. 282;<br />
conf. Ellen G. White, Child Guidance (Washington D.C., 1982),<br />
pág. 429: "Fale do amor e da humildade de Jesus, mas não<br />
estimulem os irmãos e irmãs envolver-se em discussões sobre<br />
pequenas faltas na aparência uns dos outros. Alguns se deleitam<br />
nessa obra, e quando suas mentes estão voltadas nessa direção,<br />
começam a sentir que devem tornar-se os corregedores da igreja.<br />
Assentam-se na cadeira de juiz, e tão logo olhem para seus<br />
irmãos e irmãs, descobrem algo para criticar. Esse é um dos mais<br />
efetivos meios de tornarem mentes estreitas e anões espirituais.<br />
Deus terá que fazê-los descer da cadeira de juiz, pois Ele nunca<br />
os colocou ali."<br />
5. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), vol. 3, pág. 430. Ver também Ellen G. White,<br />
Messages to Young People (Nashville, 1930), pág. 354:"A razão<br />
humana tem sempre buscado evadir-se ou pôr de lado as simples<br />
e diretas instruções da Palavra de Deus. Em cada época, a<br />
maioria dos professos seguidores de Cristo tem desobedecido a<br />
esses preceitos que recomendam negação própria e humildade,<br />
que requerem modéstia e simplicidade na conversação,
Qual a Roupa Certa? 203<br />
comportamento e vestuário. O resultado tem sempre sido o<br />
mesmo – o abandono dos ensinos do evangelho que leva à<br />
adoção das modas, costumes e princípios mundanos. A piedade<br />
vital cede lugar ao formalismo morto. A presença e o poder de<br />
Deus, retirados dos amantes dos círculos mundanos, são<br />
encontrados com os humildes adoradores, que estão dispostos a<br />
obedecer aos ensinos da Santa Palavra. Através das sucessivas<br />
gerações, esse curso tem sido seguido. Uma após outra,<br />
diferentes denominações têm surgido e, abandonando sua<br />
simplicidade, perderam. em grande parte, o poder primitivo"<br />
6. John T. Molloy, New Dress for Success (New York, 1988), pág.<br />
33.<br />
7. Ellen G. White, Testimonies for the Church (nota 5), vol. 9, págs.<br />
189 e 190.<br />
8. Frances Ridley Havergal, "Live Out Thy Life Within Me",<br />
Seventh-day Adventist Church Hymnal (Washington D.C., 1985).<br />
pág. 316.<br />
9. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (nota 2), págs. 311, 312,<br />
combina a descrição de Gênesis 3 e Mateus 22. Ali, as folhas da<br />
figueira são mostradas ser um símbolo das obras humanas e as<br />
vestes de Deus, um símbolo da justiça de Cristo. "Quando nós<br />
nos submetemos a Cristo, o coração se une ao Seu, a Vontade<br />
imerge em Sua Vontade, a mente toma-se uma com a Sua, os<br />
pensamentos são levados cativos a Ele; vivemos a Sua vida. Isto<br />
é o que significa estar vestido com as vestes de Sua justiça. Então<br />
o Senhor, ao olhar-nos, vê não uma veste de folhas de figueira,<br />
não a nudez e a deformidade do pecado, mas Sua própria<br />
vestimenta de justiça, que é a perfeita obediência à lei de Jeová."<br />
10. Courtland Milloy, "A Lecher's Prayer", Saturday Post, 29 de<br />
setembro de 1987. pág. B3.<br />
11. "Muitos estão ignorantemente afetando sua saúde e arriscando<br />
sua vida pelo uso de cosméticos. Eles estão roubando das faces o
Qual a Roupa Certa? 204<br />
rubor da saúde, e então suprem a deficiência com cosméticos.<br />
Quando essas se aquecem, o veneno é absorvido pelos poros da<br />
pele, e lançado na comente sangüínea." (Ellen G. White, Review<br />
and Herald, Vol. 38, número 18, 17 de outubro de 1871, pág. 110).<br />
12. Ellen G. White, Adventist Home (Nashville, 1952), págs. 252,<br />
253.<br />
13. Ellen G. White, Ministry of Healing (Mountain View,<br />
Califórnia, 1940), pág. 288.<br />
14. Ellen G. White, Child Guidance (nota 4). pág. 428.<br />
"Deveríamos vestir-nos simplesmente e com bom gosto, mas,<br />
minhas irmãs, quando vocês estão comprando ou confeccionando<br />
seu próprio vestuário e das crianças, pensem na obra da vinha do<br />
Senhor, que ainda está esperando ser feita ... Pratiquem economia<br />
no dispêndio de meios para vestir-se. Lembrem-se de que o que<br />
vocês vestem está constantemente exercendo influência sobre<br />
aqueles com quem vocês entram em contato. Não esbanjem os<br />
meios que são grandemente necessários em outros lugares. Não<br />
gastem o dinheiro do Senhor para agradar ao gosto por vestidos<br />
caros." Idem págs. 420, 421.<br />
15. "Outro mal fomentado pelo uso, é a desigual distribuição do<br />
vestuário, de modo que, enquanto algumas partes do corpo estão<br />
mais agasalhadas do que precisam, outras se acham<br />
insuficientemente vestidas. Os pés e os membros, estando<br />
afastados dos órgãos vitais, devem ser especialmente protegidos<br />
do frio por suficiente roupa. É impossível gozar saúde quando as<br />
extremidades estão habitualmente frias: pois se há muito pouco<br />
sangue nelas, terá de haver excesso noutras partes do corpo.<br />
Saúde perfeita requer perfeita circulação: isto, porém, não se<br />
pode ter, quando três ou quatro vezes mais agasalho é usado<br />
sobre o corpo, onde se encontram os órgãos vitais, do que nos<br />
membros" Ellen G. White, Ministry of Healing (nota 13), pág. 293.
Qual a Roupa Certa? 205<br />
16. "O vestido deve adaptar-se facilmente, não impedindo a<br />
circulação do sangue, nem uma respiração livre, ampla e natural.<br />
Devem os pés ser devidamente protegidos do frio e da umidade<br />
Vestidos dessa maneira, podemos fazer exercício ao ar livre,<br />
mesmo no orvalho da manhã ou da noite, ou depois de cair uma<br />
chuva ou neve, sem temer resfriar-nos." Ellen G. White, Child<br />
Guidance, pág. 425. Ver também, Ministry of Healing, págs. 290<br />
a 293.<br />
17. Ellen G. White, Testimonies, vol. 1, págs. 457 a 460.<br />
18. Ellen G. White, Child Guidance, pág. 413: "No vestir, como em<br />
tocas as outras coisas, é nosso privilégio honrar a nosso Criador.<br />
Ele deseja que nosso vestuário seja não apenas asseado e<br />
saudável, mas apropriado e decente."<br />
19. Ellen G. White, ver Ministry of Healing, pág. 291: "Foi o<br />
adversário de todo o bem, que instigou à invenção das sempre<br />
mutáveis modas. Coisa alguma deseja ele tanto como ocasionar a<br />
Deus pesar e desonra mediante a miséria e a ruína dos seres<br />
humanos. Um dos meios por que ele o consegue mais eficazmente,<br />
são as invenções da moda, que enfraquecem o corpo da mesma<br />
maneira que debilitam a mente e amesquinham a alma."<br />
20. Uma das mais populares análises cromáticas é a que foi feita<br />
por Carole Jackson, Color Me Beautiful (New York, 1980). Ver<br />
págs. 153 a 162, sobre o guarda-roupa básico das mulheres.<br />
Também, Color for Men (New York, 1984). Ver págs. 97 a 102,<br />
para o "guarda-roupa de sobrevivência para os homens" com<br />
cores apropriadas. "O gosto deve ser manifesto pelas cores.<br />
Uniformidade nesse aspecto é tanto desejável como conveniente.<br />
A cor da pele, todavia, precisa ser levada em conta." Ellen G.<br />
White, em Healthful Living (Battle Creek, Michigan, 1987), pág.<br />
120.<br />
21. John T. Molloy, pág. 93. Para maiores detalhes na compra e<br />
escolha, ver págs. 41 a 149.
Qual a Roupa Certa? 206<br />
22. Ellen G. White, Testimonies, vol. 5, pág. 499.<br />
23. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />
Califórnia, 1948), pág 355. "Muitos necessitam de instrução<br />
sobre como deveriam aparecer na assembléia para adoração no<br />
sábado. Não deveriam entrar na presença de Deus com vestuário<br />
comum usado durante a semana. Todos deveriam possuir uma<br />
roupa especial para o sábado, quando assistindo aos serviços na<br />
casa de Deus. Conquanto não devamos estar em conformidade<br />
com as modas mundanas, não devemos ser indiferentes em<br />
cuidar de nossa aparência exterior. Devemos ser asseados e bem<br />
arrumados, embora sem adornos. Os filhos de Deus devem ser<br />
puros por dentro e por fora."<br />
24. Ellen G. White, Counsels to Parents, Teachers and Students<br />
(Mountain View, Califórnia, 1943), pág. 142.<br />
25. David Elkind. The Hurried Child (Reading, Massachusetts,<br />
1981), pág. 8.<br />
26. Ibidem.<br />
27. Idem, págs. 8 e 9.<br />
28. "Ensinai-lhes (aos filhos) a distinguir entre o que é sensato e o<br />
que não o é em matéria de vestuário, e dai-lhes roupas que sejam<br />
próprias e simples. Como um povo que se prepara para a breve<br />
volta de Cristo. devemos dar ao mundo um exemplo de traje<br />
modesto, em contraste com a moda reinante do dia. Falai sobre<br />
essas coisas, e planejai sabiamente o que fareis, então ponde em<br />
prática vossos planos, em vossa família. Determinai ser<br />
orientados por princípios mais elevados que as noções e desejos<br />
de vossos filhos" (Ellen White, Child Guidance, págs. 424 e 425)<br />
29. Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek, Michigan, 1945),<br />
vol. 2, pág. 263.<br />
30. Ellen G. White, My Life Today (Washington, D.C., 1952), pág.<br />
123.
Qual a Roupa Certa? 207<br />
O VESTUÁRIO MASCULINO<br />
Por Hedwig Jemison<br />
Sobre a Autora<br />
H<br />
edwig Jemison foi secretária-assistente dos Depositários de<br />
Ellen G. White, e serviu como diretora do Escritório Sucursal<br />
dos Depositários de Ellen G. White na Universidade de Andrews, até sua<br />
aposentadoria. Ela nasceu em Portland, no Oregon, e estudou no Colégio<br />
União do Pacífico e no Colégio União de Colúmbia, na área de<br />
administração de negócios e religião. Em 1980 recebeu o grau honorário<br />
de Mestre em Divindade, do Seminário Teológico Adventista do Sétimo<br />
Dia das Filipinas.<br />
Antes de tornar-se diretora do Escritório Sucursal dos Depositários<br />
de Ellen G. White na Universidade de Andrews, a Sra. Jemison atuou<br />
como secretária de Arthur L. White, dos Depositários de Ellen G. White<br />
em Washington, D.C., e de W. G. C. Murdoch, deão do Seminário da<br />
Andrews. Envolvida em extensas viagens para representar os<br />
Depositários White, a Sra. Jemison estabeleceu centros de pesquisa<br />
White na Inglaterra, Austrália, México, Argentina, Filipinas, Índia e<br />
África do Sul.<br />
A Sra. Jemison compilou quatro livros de meditações matinais,<br />
extraídos dos escritos de Ellen G. White, intitulados: Minha Consagração<br />
Hoje, Filhos e Filhas de Deus, Refletindo a Cristo, e Exaltai-O. Também<br />
escreveu vários artigos para publicações denominacionais e apresentou<br />
um trabalho sobre o papel da mulher na igreja, na Conferência Geral de<br />
Camp Mohaven, em 1974.<br />
Ela foi eleita membro honorário da Associação Dietética Adventista<br />
do Sétimo Dia, em 1977, e recebeu em 1980 o Prêmio Charles Elliot<br />
Weniger, por Excelência em Educação.<br />
Atualmente, Hedwig Jemison vive em Berrien Springs, onde está<br />
ativamente envolvida em vários programas comunitários patrocinados
Qual a Roupa Certa? 208<br />
pela igreja. Tem uma filha, Barbara Jemison Myers, que vive em<br />
Greenville, Tennessee.<br />
O capítulo seguinte é uma cópia do artigo com o mesmo título,<br />
publicado no O Ministério Adventista, em julho de 1980.<br />
Entende você que o vestuário é um dos mais importantes fatores<br />
que afetam seu ministério? "Vestuário? Absurdo!" Mas antes de você<br />
rejeitar a idéia, considere esta declaração:<br />
"Quando você encontra uma pessoa pela primeira vez, antes que<br />
você abra a boca, ela o julgou pela aparência e comportamento." –<br />
Forrest H. Frantz Sr., The Miracle Success System (West Nyack, New<br />
York, Parker Publishing Co. Inc.). A primeira impressão é feita num<br />
período incrivelmente curto de tempo – talvez uns trinta segundos – e<br />
nesse intervalo há realmente pouco mais a avaliar.<br />
Hoje, pesquisas muito confiáveis podem documentar em detalhes<br />
como as vestes femininas afetam nossas percepções acerca de quem as<br />
usa. John T. Molloy, autor do best-seller Dress for Success (para<br />
homens), gastou dezessete anos colecionando tais dados. Sua pesquisa<br />
inclui as opiniões conscientes e inconscientes de mais de quinze mil<br />
pessoas, constituindo-se assim numa ampla seção de cruzamento do<br />
público em geral.<br />
"Somos precondicionados pelo nosso ambiente", diz Molloy, "e o<br />
vestuário que usamos é uma parte integrante desse ambiente. A maneira<br />
como nos vestimos tem considerável impacto sobre as pessoas que<br />
encontramos, e afetaram o modo como nos tratam."<br />
Como poderemos evitar erros ao escolher o vestuário? A solução,<br />
diz Molloy, um professor que se tornou consultor administrativo, é<br />
pesquisar na escolha do vestuário.<br />
Estudos sobre comunicação verbal e não-verbal mostram que a nãoverbal<br />
tem fortes efeitos. Assim, roupas e aparência (comunicadores nãoverbais)<br />
reforçam as impressões verbais ou contradizem-nas<br />
(freqüentemente as anulam). O executivo que se veste de modo
Qual a Roupa Certa? 209<br />
conservador não tem de explicar sua autoridade. Seus trajes o fazem por<br />
ele. De fato, aqueles que adotam um visual conservador assumem a<br />
autoridade que vem com ele. Molloy primeiramente descobriu que o<br />
valor da roupa do homem é importante em determinar sua credibilidade<br />
e aceitação. As pessoas bem vestidas recebem tratamento preferencial<br />
em quase todos os encontros sociais e de negócios. Se você não o crê,<br />
experimente quando sai às compras.<br />
Molloy, reconhecido como "o primeiro engenheiro de guardaroupas<br />
da América", na revista Time, fez intensas e extensas pesquisas<br />
com a capa de chuva. Há duas cores de capas vendidas na América –<br />
bege e negra . Molloy testou 1.362 pessoas mostrando-lhes quase que<br />
idênticas fotos de dois homens com a mesma postura e com os mesmos<br />
ternos, camisas, gravatas e sapatos. A única diferença era a cor de suas<br />
capas de chuva. Aos participantes da pesquisa foi pedido que<br />
escolhessem a mais interessante das duas. A capa bege foi a escolhida,<br />
com 1.118 votos ou 87%.<br />
Seguindo os resultados desse teste, Molloy e dois de seus amigos<br />
vestiram capas beges por um mês. No mês seguinte usaram as negras.<br />
No fim de cada período eles catalogavam as atitudes das pessoas para<br />
com eles. Esses três homens concordaram que a capa bege criava<br />
impressão mais favorável nos observadores, vendedores de calçados e<br />
homens de negócios que encontravam.<br />
Finalmente Molloy escolheu um grupo de vinte e cinco escritórios<br />
comerciais e foram a cada um deles com um exemplar do The Wall<br />
Street Journal, pedindo à secretária que lhes permitisse entregá-los<br />
pessoalmente à pessoa responsável. Quando eles usavam as capas beges,<br />
entregaram os jornais numa só manhã. Usando a capa negra, demoraram<br />
um dia e meio para entregar os vinte e cinco jornais.<br />
Molloy conduziu pesquisa complementar em uma grande<br />
corporação que possuía duas sucursais. Uma delas impunha normas<br />
sobre vestuário, a outra não. As secretárias do escritório que não tinha o<br />
código, chegavam atrasadas ou ficavam ausentes de três a cinco por
Qual a Roupa Certa? 210<br />
cento mais que aquelas que trabalhavam na sucursal que o impunha,<br />
permanecendo em suas mesas quatro por cento menos e despendendo<br />
cinco por cento menos tempo em suas máquinas de escrever.<br />
Após um ano de o código de vestuário ter sido implantado no<br />
escritório que não o possuía anteriormente, os funcionários melhoraram<br />
sua performance em cada área. Eles permaneciam em suas mesas por<br />
mais tempo e seu registro de atrasos caiu quinze por cento.<br />
Quando Molloy iniciou seus testes, fotografou uma dúzia de<br />
homens trajados com cores bem combinadas, conservadoras e padrões<br />
harmônicos. Então fez o mesmo com outros doze homens vestidos ao<br />
estilo mais contemporâneo, tal como normalmente encontrado nas lojas.<br />
Quando as fotografias foram comparadas, de 70 a 80% das pessoas<br />
testadas preferiram os homens com vestuário mais conservador como<br />
mais bem vestidos, embora mais da metade dos entrevistados não fossem<br />
conservadores em matéria de vestuário. Mesmo 70 a 80% dos<br />
entrevistados que se vestiam com combinações de cores e estilos mais<br />
modernos, não tiveram respostas com mudanças significativas.<br />
O fato de que as cores, padrões e combinações de vestuário que<br />
conseguiram resultados mais positivos com a maioria da população<br />
serem todas tradicionais e conservadoras, não causou grande surpresa a<br />
Molloy. Os mais bem-sucedidos homens de negócios usam trajes<br />
conservadores por anos, e provavelmente o farão por muitos anos ainda.<br />
Quando Molloy confirmou esse "efeito de familiaridade", testou o<br />
posteriormente usando camisas e gravatas. Ele pediu a trezentas pessoas<br />
que julgassem um grupo de camisas e gravatas tradicionais e a outro<br />
grupo, posto que não-tradicionais, não eram bizarras. Os objetos foram<br />
agrupados de modo a contar cada combinação como mostrando bom e<br />
mau gostos ou neutros. Oitenta e sete por cento escolheu as combinações<br />
tradicionais como de bom gosto. Setenta por cento escolhe as modernas<br />
combinações como sendo de mau gosto.<br />
Molloy conduziu mais testes experimentais com gravatas do que<br />
com qualquer outro artigo. "Quer você goste ou não, creia ou não", diz
Qual a Roupa Certa? 211<br />
ele, "sua gravata, mais do que qualquer outro aspecto de sua aparência,<br />
determinará como as pessoas vêem sua credibilidade, personalidade e<br />
capacidade." Essas pesquisas não deixam dúvida de que a gravata<br />
simboliza respeitabilidade e responsabilidade. Existem centenas de<br />
padrões para gravatas, mas somente poucas são adequadas ao vestuário<br />
profissional. Ilustrações disso aparecem na nova edição (1988) do livro<br />
de Molloy, New Dress for Success. Quando propriamente ajustada, o tipo<br />
de gravata deveria vir apenas até a fivela do cinto. Assim sua altura<br />
determinará o comprimento da gravata que você necessita e como lhe dar<br />
um laço. No mundo dos negócios, o laço da gravata produz muitos<br />
efeitos negativos. Se o laço é feito ao modo esportivo, as mesmas regras<br />
são recomendadas para todas as outras gravatas.<br />
Em todos os testes, as camisas mais aceitáveis são, e continuarão a<br />
ser as brancas e as de cores mais claras. Elas provocam melhores<br />
respostas quanto à credibilidade e eficiência. Se as cores forem<br />
propriamente escolhidas, combinarão com cada terno e gravata. Azulclaro<br />
é ainda a mais popular das cores sólidas para camisas. Camisas cor<br />
rosa e alfazema são muito femininas e produzem reações masculinas<br />
negativas. De acordo com Molloy, a pesquisa mostra que o homem<br />
nunca deveria usar camisas vermelhas, não importa quem seja e o que<br />
faça.<br />
Qual deve ser o comprimento das mangas da camisa? Molloy dá o<br />
seguinte e abrangente aviso: "Você nunca, jamais, enquanto viver, use<br />
uma camisa de mangas curtas para qualquer propósito de negócios, não<br />
importa se você é o office-boy ou o presidente." A pesquisa mostra que<br />
homens que usam camisas de mangas curtas têm secretárias que chegam<br />
tarde ao trabalho, 125% mais freqüentemente, e atrasam na volta do<br />
almoço 135% mais do que as secretárias daqueles que usam camisas de<br />
mangas longas.<br />
Molloy é freqüentemente perguntado sobre se há alguma<br />
característica comum a todos os executivos bem-sucedidos. Ele
Qual a Roupa Certa? 212<br />
responde: "Na maioria há: eles sempre têm seu cabelo penteado e seus<br />
sapatos polidos. E esperam o mesmo dos outros homens."<br />
Ele faz duas importantes declarações em seu livro:<br />
"Se eu tiver que transmitir nada além da mensagem de que o<br />
vestuário deveria ser usado como uma ferramenta, então teria sido bemsucedido<br />
em meus objetivos.<br />
"Se o leitor aceitou minha segunda mensagem, de que a beleza não<br />
é o nome de um jogo, a eficiência é – então sou um homem<br />
perfeitamente feliz."<br />
Felizmente, o custo não é um fator significativo no vestuário<br />
prósucesso. Molloy coloca que se o homem sabe como escolher<br />
vestuário, pode, sem aumento substancial em seus gastos com roupas,<br />
mostrar-se bem em todas as ocasiões. Depois de anos de tabulação de<br />
pesquisas, ele dispôs o que fazer e o que não fazer, que tornam possível<br />
para qualquer homem vestir-se de um modo que garantirá sua eficiência.<br />
Muitos homens já o sabem através de seu inato conhecimento do bom<br />
gosto.<br />
Algumas das pesquisas de Molloy envolveram ministros e seu<br />
vestuário. Ele mostrou fotografias de homens trajados de vários modos, e<br />
pediu aos pesquisados para identificarem os ministros. Sua imagem de<br />
um pastor era a de um homem trajado com ternos escuros (negros),<br />
azuis-marinhos, ou cinza-escuros, e camisas brancas combinadas com<br />
gravatas conservadoras. Eles raramente identificaram homens com<br />
vestimentas sociais de três peças (paletó, colete e calças), como pastores.<br />
A informação é significativa, por causa do papel da expectativa. Se<br />
as pessoas esperam que um homem de particular profissão se vista de<br />
certa maneira, estão mais inclinados a crer e confiar nele, se aparecer<br />
com a roupa aguardada.<br />
A pesquisa também incluiu fotos de dúzias de homens identificados<br />
como clérigos vestindo tudo, desde trajes clericais até roupas de laser.<br />
Molloy perguntou aos pesquisados quais ministros eles consideravam<br />
eficientes, simpáticos, bem-educados, etc. Então mandou-os escolher as
Qual a Roupa Certa? 213<br />
fotografias de homens que eles mais e menos gostariam de ter como seus<br />
pastores. Em ambos os testes eles escolheram homens em trajes mais<br />
conservadores, ternos de duas peças, como seus favoritos.<br />
Surpreendentemente, muitos homens de negócios rejeitaram "clérigos"<br />
usando ternos de três peças, camisas listradas, bem como aqueles que<br />
estavam usando trajes esportivos.<br />
As primeiras pesquisas mostraram que os clérigos que não usam<br />
trajes com características clericais conservadoras, eram menos efetivos<br />
em seu ministério do que aqueles que usavam trajes próprios. Poderia ser<br />
que o modo como os ministros se trajam tem algum peso sobre as<br />
atividades evangelísticas?<br />
William Thourlby escreveu recentemente: "À parte das profissões<br />
ligadas a entretenimento e publicidade, os grandes executivos das mais<br />
conservadoras organizações usam trajes tradicionais que não chamam a<br />
atenção para si mesmos. Serena confiança é parte do visual. De fato, seja<br />
cauteloso com todos os itens do vestuário, e você será cumprimentado<br />
por ele, a menos que você venda roupas. Você deve mostrar que sua<br />
mente está posta nos negócios e não em suas roupas." (Sky, janeiro de<br />
1980)<br />
Todavia, devemos lembrar que muitos clérigos executam uma<br />
variedade de tarefas e lidam com uma massa heterogênea de público.<br />
Obviamente, eles não vestiriam um terno para ajudar na construção da<br />
igreja, ou quando acompanham um grupo de jovens à praia. A primeira<br />
regra do vestuário é bom senso.<br />
As seguintes palavras foram escritas em 1871, muito antes de<br />
Molloy e suas pesquisas: "É importante que o modo do ministro seja<br />
modesto e digno, ao lidar com as santas e elevadas verdades que ensina.<br />
Que uma favorável impressão seja feita sobre aqueles que são<br />
naturalmente inclinados à religião. Cuidado no vestir é um item muito<br />
importante...<br />
"Tecidos negros ou escuros são mais adequados a um ministro no<br />
púlpito, e farão melhor impressão sobre o povo do que o faria uma
Qual a Roupa Certa? 214<br />
combinação de duas ou três diferentes cores... O traje próprio será uma<br />
recomendação da verdade aos descrentes. Será um sermão em si<br />
mesmo...<br />
"Um ministro negligente em suas vestes fere o bom gosto e as<br />
sensibilidades mais refinadas... A perda de algumas almas, no final, terá<br />
sido traçada pelo desasseio do ministro. O primeiro aparecimento afetou<br />
o povo desfavoravelmente, porque eles não viram qualquer ligação entre<br />
sua aparência e as verdades que apresentou. Seu vestuário depunha<br />
contra ele, e a impressão deixada era de que o povo a quem ele<br />
representava era descuidado grupo que não se importava com nada<br />
acerca de suas roupas, e seus ouvintes nada precisam fazer como tal<br />
classe de pessoas...<br />
"Nossas palavras, nossas ações, nosso comportamento, nosso<br />
vestuário, tudo deve pregar. Não apenas com nossas palavras deveríamos<br />
nós falar ao povo, mas tudo o que diz respeito à nossa pessoa deveria ser<br />
um sermão a eles, que justas impressões podem ser causadas sobre eles,<br />
e que a verdade falada pode ser levadas por eles para seus lares. Assim<br />
nossa fé ficará sob melhor luz diante da comunidade." (Ellen G. White,<br />
Testimonies, vol. 2, págs. 610, 613, 618)