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<strong>QUAL</strong> A <strong>ROUPA</strong> <strong>CERTA</strong>?<br />

SUMÁRIO<br />

Saiba como roupas e adornos podem fazer diferença em sua vida cristã<br />

Dr. Samuele Bacchiocchi<br />

Título do original em inglês: Christian Dress and Adornment<br />

Editora Tempos Ltda.<br />

Caixa Postal 54 - CEP 13295.970 Itupeva - SP<br />

Primeira Edição 3.000 exemplares<br />

Copyright © 1997 Vector Type M.P.G. Ltda.<br />

Tradução: Eunice Leme Vidal e César Luís Pagani<br />

Contracapa: Qual a Roupa Certa?<br />

Em todas as épocas homens e mulheres enfeitaram seus corpos com jóias,<br />

cosméticos e roupas de todos os tipos. Hoje, mais do que nunca, isso é fato, pois a<br />

revolução sexual desenvolveu uma poderosa indústria da moda capaz de impor<br />

suas regras com fortes apelos para o sexo, vaidade e o ego. Não é de surpreender,<br />

que na história cristã relatada na Bíblia, haja freqüentes lembranças sobre a<br />

vestimenta modesta, decente e reverente.<br />

Em "Qual a Roupa Certa?", o Dr. Bacchiocchi mostra que a roupa não faz o<br />

cristão, mas o cristão revela sua identidade, através daquilo que veste e da sua<br />

aparência. Em sua análise é enfatizado o estilo de vida de Jesus, onde a prioridade<br />

não era a atração exterior do corpo, mas a maravilhosa beleza interna, que o amor<br />

a Deus oferece. Este livro traz os ensinamentos bíblicos sobre roupas, adornos e<br />

cosméticos de uma forma clara, profunda e atual, oferecendo orientações, que ao<br />

invés de promover preconceitos, criam uma consciência clara sobre a aparência<br />

exterior dos filhos de Deus e o desejo de se libertar da vulgaridade da moda,<br />

alcançando a beleza e atração real.<br />

O Dr. Samuele Bacchiocchi foi o primeiro não católico a ser graduado na<br />

Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma e atualmente além de fazer<br />

palestras em muitos países, escrever livros e pesquisar temas sempre oportunos, é<br />

professor de História de Igreja e de Teologia na Universidade Andrews em<br />

Michigan nos Estados Unidos.


Qual a Roupa Certa? 2<br />

SUMÁRIO<br />

Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3<br />

Uma Visão Geral do Livro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10<br />

Capítulo 1<br />

A Importância da Aparência Exterior . . . . . . . . . . . . 16<br />

Capítulo 2<br />

Vestuário e Ornamentos no Velho Testamento . . . . 22<br />

Capítulo 3<br />

Vestuário e Ornamentos no Novo Testamento . . . . 50<br />

Capítulo 4<br />

Vestuário e Ornamentos na História Cristã . . . . . . . 73<br />

Capítulo 5<br />

A Questão da Aliança . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104<br />

Capítulo 6<br />

Trajes Unissex . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 146<br />

Capítulo 7<br />

Princípios Cristãos para Vestes e Ornamentos . . . 167<br />

Capítulo 8<br />

Uma Visão Prática do Vestuário Cristão . . . . . . . . 178<br />

Capítulo 9<br />

O Vestuário Masculino . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207


Qual a Roupa Certa? 3<br />

INTRODUÇÃO<br />

A<br />

história que envolve a criação de um livro pode às vezes ser<br />

tão interessante para os leitores como o conteúdo do próprio<br />

livro. O presente livro começou como apenas um capítulo de um estudo<br />

mais amplo que escrevi intitulado Estilo da Vida Cristã. Neste estudo<br />

mais amplo são analisados aspectos fundamentais do dia-a-dia de um<br />

cristão como: Vida devocional, trabalho e lazer, casamento, divórcio,<br />

sexo, música, esportes, filmes, dança, aborto, vestimentas e adornos.<br />

Enquanto escrevia o capítulo "Vestimenta e Adorno do Cristão", uma<br />

profunda convicção se apoderava de meu coração: que eu precisava<br />

publicar este estudo separadamente, tendo em vista sua alta relevância<br />

para a nossa Igreja Adventista do Sétimo Diz bem como para a<br />

comunidade cristã em geral.<br />

Expansão do Manuscrito Original<br />

Solicitei a alguns de meus colegas na Universidade de Andrews que<br />

avaliassem o rascunho original deste livro, que consistia de cerca de<br />

sessenta páginas. Os comentários que recebi deles foi-me de inestimável<br />

valor. Todos ficaram favoravelmente impressionados pela pesquisa que<br />

eu havia feito, mas alguns deles animaram-me a expandir alguns<br />

capítulos, traçando a correlação histórica entre o uso de jóias de alto<br />

custo, cosméticos de cores marcantes, anéis e vestimentas insinuantes de<br />

um lado, e o crescimento ou declínio espiritual das igrejas cristãs, de<br />

outro lado.<br />

Sendo um historiador da igreja por treinamento e profissão.<br />

alegremente aceitei o desafio. Senti que uma pesquisa histórica sobre<br />

como se tem vestido e ornamentado a igreja cristã em geral, e algumas<br />

denominações em particular, poderia oferecer-nos algum discernimento<br />

referente à nossa situação contemporânea. Por vários meses li<br />

extensivamente, tanto em fontes primárias como secundárias, tudo o que


Qual a Roupa Certa? 4<br />

se referisse a atitudes cristãs com respeito a vestimentas e ornamentos.<br />

Como resultado disso, meu manuscrito original de sessenta páginas<br />

expandiu-se muito, alcançando o tamanho do livro que agora você tem<br />

em mãos.<br />

Um Livro Difícil de Escrever<br />

Devo confessar que, dos dez livros que escrevi, este fui o mais<br />

difícil. Essa dificuldade deveu-se não à escassez de estudos confiáveis<br />

sobre o assunto, mas principalmente á natureza sensível do assunto. A<br />

maneira de vestir-se e ornamentar-se de uma pessoa não representa<br />

apenas sua cobertura externa; ela lhe revela o caráter interior. De fato,<br />

este estudo surpreendeu tanto a mim quanto minha esposa, fazendo-nos<br />

revisar nossa posição concernente a certos assuntos, inclusive o uso da<br />

aliança de casamento. Nenhum dos meus livros levou-me a analisar tão<br />

profundamente a minha própria alma. É portanto com muita humildade<br />

que apresento este estudo, não com o intuito de condenar alguém, mas de<br />

ajudar meus companheiros de jornada cristã, inclusive a mim mesmo, a<br />

compreender melhor e aceitar aqueles princípios que Deus nos tem<br />

revelado em Sua Palavra, com respeita à nossa aparência externa.<br />

O assunto do vestuário e do adorno é tão delicado porque mexe com<br />

aquilo que alguns indivíduos valorizam mais, ou seja, seu orgulho e<br />

vaidade. Aquilo que usamos é parte daquilo que somos. Nossa roupa e<br />

ornamentos revelam não apenas nosso nível social, econômico e<br />

educacional, mas também nossos valores morais. Aquilo que usamos<br />

conta o que gostaríamos que o mundo pensasse de nós. A maioria das<br />

pessoas quer que o mundo admire sua aparência exterior, e não que a<br />

critique. Se você expressa sua desaprovação a um amigo ou membro da<br />

igreja pelas roupas insinuantes ou jóias chamativas que ele esteja usando,<br />

é provável que ele lhe responda: "O que eu uso não é da sua conta! Se<br />

você não gosta, não olhe para mim!"


Qual a Roupa Certa? 5<br />

Tais explosões emocionais pouco ânimo produzem, para que se<br />

pregue ou se escreva sobre esse assunto tão melindroso. Essa, talvez,<br />

seja a razão porque sermões e livros que falam sobre o modo do cristão<br />

se vestir ou se adornar são tão raros. A essa altura você talvez esteja se<br />

perguntando por que eu me aventurei a escrever sobre esses assuntos.<br />

Deixe-me assegurar-lhe que certamente não é por que eu tenha um<br />

"complexo de mártir". Aprendi por experiência que escrever sobre<br />

assuntos controvertidos tem alto custo, tanto financeiro como emocional.<br />

A pessoa pude ficar emaranhada em controvérsias sem fim, perder a<br />

amizade de irmãos de fé, e sofrer penalidades econômicas.<br />

Percepção das Necessidades Sentidas<br />

Meu critério para decidir sobre o que escrever nunca tem sido a<br />

popularidade ou impopularidade do assunto, e sim minha percepção da<br />

relevância e importância para a igreja hoje. A necessidade de investigar<br />

os ensinos bíblicos referentes a vestuário e ornamentos, tem-me<br />

inquietado muitas vezes por aquilo que tenho visto e ouvido em grande<br />

número de igrejas por onde tenho ministrado; tanto na América do Norte<br />

como em outros países. Está se tornando uma cena corriqueira em muitas<br />

congregações o uso de minissaias, blusas decotadas, calças compridas,<br />

brincos, colares, braceletes, anéis a maquiagem pesada.<br />

Quando esse assunto é levado à discussão em meus seminários, no<br />

sábado à tarde, durante o período de perguntas e respostas, sempre há<br />

alguns membros que defendem o modo imodesto pelo qual se trajam<br />

dizendo: "Que mal há em usar brincos, colares, pulseiras, anéis; ou<br />

roupas da moda? Todo o mundo usa! Os adventistas não devem parecer<br />

espantalhos! As jóias fazem parte das vestimentas formais da mulher,<br />

assim como o uso da gravata faz parte do traje formal do homem. Ser<br />

cristão é muito mais do que ficar argumentando sobre jóias e roupas. Os<br />

adventistas não deviam permitir que coisas tão sem importância<br />

obscurecessem as grandes verdades da fé cristã."


Qual a Roupa Certa? 6<br />

Esses são problemas reais que confrontam todo cristão, inclusive o<br />

pastor, interessado em ajudar seus irmãos de fé a seguirem as diretrizes<br />

da Palavra de Deus, em vez dos ditames da moda. De fato, muitas vezes<br />

pastores têm-me confidenciado que se sentem impotentes frente ao<br />

crescente uso de jóias, cosméticos e vestuário imodesto em suas<br />

congregações. Alguns pastores admitem que essa tendência permissiva<br />

veio para ficar, e que não há muito que se possa fazer, senão aprender a<br />

conviver com ela.<br />

Razões para Esperança<br />

Eu não compartilho dessa visão pessimista. Tenho convicção de que<br />

a maioria dos cristãos que adorna seus corpos com cosméticos em<br />

excesso, jóias custosas e roupas para chamar a atenção, estão procurando<br />

o amor, a atenção e a aceitação de Deus e de outras pessoas. Ao<br />

descobrirem que Jesus e a comunidade de fé os amam e os aceitam como<br />

são, em sua beleza natural, eles gradualmente perdem o desejo de se<br />

enfeitar e adornar. Quando reconhecem que aquilo que Jesus mais ama<br />

neles não são seus ofuscantes ornamentos externos, nem suas roupas<br />

custosas, mas o adorno do íntimo do coração, no incorruptível traje de<br />

um espírito manso e tranqüilo (I Pedro 3:4), eles se disporão a seguir a<br />

simplicidade do estilo de vida de Jesus, até mesmo em suas roupas e<br />

aparência.<br />

Foi essa convicção que me motivou a escrever este livro. Não<br />

podemos culpar os membros da igreja por usarem o que é errado, se nós<br />

como líderes não os ajudamos a enxergar as razões bíblicas para usar o<br />

que é certo. Existem muitos membros sinceros que estão sinceramente<br />

fazendo o que é errado. Eles crêem que não há nada de errado no sexo<br />

pré-marital, contanto que os parceiros se amem. Eles sinceramente crêem<br />

que os cristãos podem assistir filmes violentos ou pornográficos,<br />

contanto que não se envolvam emocionalmente com eles. Eles<br />

sinceramente crêem que podem ouvir rock, em suas várias modalidades,


Qual a Roupa Certa? 7<br />

contanto que o ritmo não seja tão force ou as palavras não sejam muito<br />

profanas. Eles sinceramente crêem que podem se divorciar de seu<br />

cônjuge se eles não sentem mais satisfação em seu relacionamento. Eles<br />

sinceramente crêem que podem consumir uma quantidade moderada de<br />

álcool e drogas, contanto que não se viciem. Eles sinceramente crêem<br />

que podem usar diferentes tipos de jóias, contanto que não sejam<br />

berrantes ou muito caras. Esse é o tipo de pessoa que freqüentemente me<br />

pergunta: "O que há de errado com ..."<br />

Ficamos a nos perguntar: Como podem tantos cristãos ser sinceros e<br />

ainda estarem tão sinceramente equivocados em aspectos vitais do viver<br />

cristão? Parece-me que parte do problema é a falta de compreensão da<br />

reivindicação que o evangelho tem sobre a nossa vida diária. A<br />

preocupação prevalecente das igrejas evangélicas atuais é ensinar o povo<br />

como se tornar cristãos, ao invés de treiná-los em como viver a vida<br />

cristã. Parece haver uma relutância em ajudar as pessoas a<br />

compreenderem como a aceitação do evangelho afeta a maneira como<br />

comemos, bebemos, nos adornamos e nos divertimos. O resultado é,<br />

empregando as palavras de Oséias que "O Meu povo é destruído por<br />

falta de conhecimento." (Oséias 4:6)<br />

Medo do Legalismo<br />

Talvez seja o medo de ser tachado de legalista que tenha levado<br />

muitos a evitarem abordar alguns aspectos do viver cristão, tais como<br />

vestimentas e adornos. Existe um terror de que tais ensinos possam<br />

causar um senso de culpa e insegurança na mente daqueles que não<br />

vivem à altura das expectativas de Deus. Para evitar consciências<br />

perturbadas, muitos escritores e pastores preferem manter sua pregação<br />

sobre os atos e a morte de Jesus ou, em outras palavras, sobre o Seu<br />

amor e perdão incondicionais. A mensagem parece ser: '"Você não<br />

precisa sentir insegurança com respeito à sua salvação, porque Cristo já a<br />

completou. Ele o aceita independentemente da maneira como você vive


Qual a Roupa Certa? 8<br />

ou se veste. Apenas creia no que Ele já fez por você, em Sua morte, em<br />

Seu favor e você estará salvo." Essa mensagem é verdadeira mas<br />

incompleta. As boas-novas do evangelho são que Jesus nos aceita como<br />

somos, mas Ele também nos capacitará a nos tornarmos o que devemos<br />

ser.<br />

Para sermos fiéis aos preceitos bíblicos, precisarmos ensinar as<br />

pessoas não somente a professar sua fé e amor por Cristo, mas também a<br />

praticar essa fé e esse amor em sua vida diária. Essa é minha razão para<br />

escrever este livro que versa sobre a maneira cristã de se vestir e adornar.<br />

Durante os últimos vinte e cinco anos, enquanto ensinei e preguei<br />

ao redor do mundo, inúmeras vezes vi mudanças radicais na maneira de<br />

viver das pessoas que foram convencidas de que certas ações ou hábitos<br />

eram errados pelos ensinos da Bíblia e pelas persuasões do Espírito<br />

Santo. Há muitos cristãos sinceros, nas mais variadas linhas<br />

denominacionais, que desejam saber como se vive de acordo com os<br />

princípios que Deus tem revelado na Bíblia. Eles apreciam quando<br />

alguém toma tempo para mostrar-lhes através da Bíblia e de um exemplo<br />

pessoal, como é que se vive a vida cristã. É a esses cristãos sinceros que<br />

humildemente dedico este livro.<br />

Os Objetivos do Livro<br />

O objetivo deste estudo é desenvolver alguns princípios<br />

fundamentais referentes à vestimenta e à ornamentação, baseados em um<br />

cuidadoso estudo dos exemplos e alegorias bíblicas, bem como em suas<br />

admoestações com respeito a jóias, cosméticos e vestimentas.<br />

Os capítulos cinco e seis falam especificamente das dúvidas sobre a<br />

aliança de casamento e a moda unissex, em relação à sua relevância na<br />

vida cristã anual. O último capitulo resume os pontos altos deste estudo<br />

apresentando sete princípios orientadores do assunto de vestimenta e<br />

ornamentação, que emergiram da pesquisa feita com a matéria bíblica<br />

que fala sobre o assunto.


Qual a Roupa Certa? 9<br />

Meu principal objetivo ao escrever este livro é ajudar os crentes<br />

individualmente, e a igreja como um todo, a vencer a batalha contra o<br />

mundanismo na área de vestimenta e ornamentos. Creio firmemente que<br />

essa batalha não pode ser vencida com a simples publicação de<br />

resoluções. A vitória só virá quando cada cristão decidir em seu coração<br />

viver em harmonia com os princípios bíblicos de modéstia e<br />

simplicidade.<br />

O propósito deste livro é ajudar os cristãos a ganharem a batalha<br />

através de uma mais profunda compreensão e apreciação de tais<br />

princípios.<br />

Procedimento e Estilo<br />

O procedimento que segui através do livro consistiu de duas etapas<br />

principais: primeiramente examinei as passagens concernentes do Velho<br />

e do Novo Testamentos para definir quais são os princípios encontrados<br />

na Bíblia com respeito a vestimentas, cosméticos e jóias. Em segundo<br />

lugar, procurei aplicar esses princípios à situação contemporânea. Para<br />

dar a esse estudo uma perspectiva histórica, relato resumidamente a<br />

atitude cristã com respeito ao modo de vestir e ornamentar nos principais<br />

períodos da igreja, bem como dentro de algumas denominações.<br />

Quanto ao estilo do livro, procurei escrevê-lo em linguagem<br />

simples e não técnica. Para facilitar a leitura, cada capítulo é dividido em<br />

partes principais e subdividido em tópicos apropriados. Um breve<br />

resumo é apresentado ao final de cada capítulo. A menos que haja<br />

menção específica, todos os textos bíblicos foram retirados da versão da<br />

Imprensa Bíblica Brasileira, baseada na tradução de João Ferreira de<br />

Almeida.


Qual a Roupa Certa? 10<br />

UMA VISÃO GERAL DO LIVRO<br />

E<br />

m consideração àqueles leitores que apreciam um apanhado<br />

geral da estrutura e conteúdo do livro, o seguinte resumo<br />

destaca os pontos altos de cada capítulo. Como alguns capítulos contêm<br />

pesquisas históricas que podem ser enfadonhas para alguns leitores,<br />

adiciono a sugestão de quais são os trechos que alguns poderão passar<br />

por alto.<br />

Capítulo 1 – Começa com uma reflexão sobre a importância da<br />

aparência exterior, não somente no mundo de negócios, mas também na<br />

vida cristã. Nossa roupa e aparência são poderosos comunicadores não<br />

verbais, revelando não apenas nosso status socio-econômico, como<br />

também nosso caráter cristão. Eles servem de moldura para realçar a<br />

figura dAquele a quem servimos. A renovação interior que Cristo tem<br />

realizado na vida do cristão é refletida em sua aparência exterior.<br />

Capítulo 2 – Examina as passagens mais relevantes do Velho<br />

Testamento que lidam com jóias, cosméticos e roupas extravagantes. O<br />

estudo revela uma sólida associação do uso desses artigos com sedução,<br />

adultério e apostasia. Tais ligações negativas e o castigo divino<br />

resultante do uso destas coisas constituem uma solene advertência para<br />

nós. A remoção desses ornamentos exteriores é um pré-requisito para a<br />

limpeza espiritual interior e para a reconciliação com Deus. Tendo em<br />

vista o fato de que algumas pessoas encontram apoio em certas<br />

passagens do Velho Testamento para o uso moderado de jóias, recebem<br />

essas uma atenção especial, bem como os argumentos nos quais eles se<br />

baseiam.<br />

Capítulo 3 – Fundamenta os capítulos anteriores examinando<br />

passagens do Novo Testamento. O capítulo examina com atenção os<br />

trajes das duas mulheres simbólicas mencionadas no livro do<br />

Apocalipse: a grande prostituta e a noiva de Cristo. O contraste entre a<br />

aparência exterior das duas mulheres tem implicações altamente<br />

significativas para o padrões cristãos de vestimentas e ornamentos. A


Qual a Roupa Certa? 11<br />

seguir, o capítulo analisa a admoestação apostólica de Paulo e Pedro<br />

referente a vestimentas e ornamentos (I Timóteo 2:9 e 10; 1 Pedro 3:3 e 4).<br />

Os dois apóstolos contrastam o adorno apropriado das mulheres cristãs<br />

com a ornamentação inapropriada adotada pelas mulheres mundanas. Os<br />

dois apóstolos nos oferecem essencialmente a mesma lista de<br />

ornamentos impróprios para a mulher cristã. Eles reconhecem que os<br />

ornamentos resplandecentes que adornam o exterior do corpo não se<br />

compatibilizam com os ornamentos interiores do coração – o espírito<br />

manso e ações benevolentes. Com base nessas admoestações apostólicas,<br />

o estudo desenvolve alguns princípios fundamentais relevantes para o<br />

cristão de hoje.<br />

Capítulo 4 – Examina a atitude cristã relativa a vestimentas e<br />

ornamentos nos principais períodos da história da igreja. Nem todos os<br />

leitores consideram interessante esse material histórico. Alguns parecem<br />

preferir pular as duas primeiras partes do capitulo que lidam com<br />

vestimentas e ornamentos na igreja primitiva e na Idade Média, e ler<br />

apenas a terceira parte que analisa o período desde a Reforma até nossos<br />

dias. A pesquisa mostra que os cristãos não têm ficado imunes à<br />

influência das modas extravagantes de sua época, porém em cada época<br />

tem havido cristãos que se têm adornado modesta, sóbria e<br />

decentemente, como convém à piedade cristã. Uma lição importante que<br />

emerge da pesquisa da história da igreja, é que o reavivamento espiritual<br />

ou o declínio da igreja freqüentemente reflete-se na reforma do vestuário<br />

ou na extravagância dos trajes de seus membros. A história da maneira<br />

como se vestem e se adornam de muitos modos, reflete o conflito<br />

humano entre o orgulho, a concupiscência e a ambição, por um lado e a<br />

humildade, a modéstia e a generosidade por outro.<br />

Capítulo 5 – Examina inteiramente o assunto da aliança de<br />

casamento, partindo de uma ampla perspectiva histórica, cultural e<br />

bíblica. O capítulo provê informação básica sobre a evolução do<br />

significado, do uso e da influência dos anéis de dedo, tanto na Roma<br />

pagã como na história cristã. Alguns leitores podem desejar pular a


Qual a Roupa Certa? 12<br />

primeira parte do capitulo que lida com o uso de anéis de dedo através da<br />

história pagã. O capitulo dá atenção especial ao impacto religioso do<br />

anel de casamento nas igrejas Metodista, Menonita e Adventista do<br />

Sétimo Dia. Essa análise provê uma base para reflexão no final do<br />

capítulo, sobre ser ou não ser aconselhável para os cristãos o uso da<br />

aliança de casamento atualmente.<br />

Capítulo 6 – Examina a insinuação filosófica da moda unissex<br />

adotada hoje em dia, e seu impacto sobre o lar, o local de trabalho e a<br />

igreja. O estudo mostra que a força propulsora que há por trás da moda<br />

unissex, é a visão feminista de uma nova sociedade sem distinção de<br />

sexo, onde as roupas e os papéis dos homens e das mulheres não são<br />

diferenciados e permutáveis. Tal visão de uma sociedade sem distinção<br />

de gênero (sexo) é claramente condenada m Bíblia. As Escrituras<br />

ensinam-nos a respeitar as distinções de sexo na vestimenta, bem como<br />

nas funções porque eles são parte da obra da criação. As distinções de<br />

gênero são fundamentais para compreendermos quem somos e qual o<br />

papel que Deus deseja que preenchamos ou desempenhemos. O capítulo<br />

termina instando os cristãos a que respeitem a masculinidade e<br />

feminilidade que Deus lhes deu, vestindo-se de maneira a confirmar o<br />

gênero a que pertencem.<br />

Capítulo 7 – Realça mais nitidamente a relevância dos ensinos<br />

bíblicos sobre vestimentas e ornamentos para o nosso tempo, formulando<br />

sete declarações básicas e princípios que resumem os pontos principais<br />

deste estudo. Essa breve recapitulação tem a intenção de auxiliar o leitor<br />

a obter uma compreensão mais abrangente dos ensinos bíblicos<br />

fundamentais sobre vestimenta e adorno, que surgiram no decorrer de<br />

nossa investigação.<br />

Capítulo 8 – É uma contribuição de Laurel Damsteegt que fornece<br />

aplicações práticas introspectivas dos princípios de vestir-se e adornarse,<br />

como apresentados nos capítulos anteriores. Com seu estilo cativante<br />

ela apresenta dez princípios práticos que mostram distintamente como o<br />

cristão pode vestir-se para a glória de Deus. Enfatiza que vestir-se para a


Qual a Roupa Certa? 13<br />

glória de Deus não é algo terrivelmente difícil, mas que requer uma<br />

disposição sincera de nossa parte para permitir que Ele transforme<br />

nossas atitudes. Laurel encerra com um apelo para seguir a .Jesus em<br />

coisas tão pequenas como vestimentas e ornamentos. Estas "pequenas"<br />

coisas silenciosamente apelam ao mundo que vivemos para glorificar a<br />

Deus e não a nós mesmos.<br />

Capítulo 9 – É uma contribuição de Hedwig Jemison que aplica ao<br />

pastorado as recentes pesquisas feitas por variadas corporações, sobre a<br />

importância da vestimenta e da aparência. Esse trabalho foi inicialmente<br />

publicado na revista Ministry, de julho de 1910. Ela mostra que a<br />

maneira de um ministro vestir-se pode fazer a diferença entre uma<br />

recepção favorável ou desfavorável à sua mensagem. Antes de se<br />

aposentar, ela trabalhou como diretora do White State Branch Office, na<br />

Universidade Andrews. Eu respeito Hedwig Jemison como uma<br />

verdadeira mãe espiritual em Israel.<br />

Agradecimentos – É muito difícil para mim abranger todas as<br />

pessoas que contribuíram para a realização deste livro e a quem sou<br />

profundamente agradecido. Indiretamente, sinto-me endividado para<br />

com os muitos autores evangélicos que têm escrito sobre os aspectos<br />

práticos do viver cristão. Embora não poucos deles tenham abordado a<br />

questão da vestimenta e ornamentos do cristão, seus livros e artigos em<br />

assuntos correlatos têm estimulado meu raciocínio e ampliado minha<br />

abordagem deste assunto.<br />

Diretamente quero expressar minha gratidão profunda àqueles que<br />

separaram tempo, em meio ao seu intenso programa de vida, para ler<br />

cuidadosamente meus manuscritos e dar-me sugestões sobre como<br />

melhorá-los. Alguns deles escreveram várias páginas de sugestões,<br />

construtivas, enquanto que outros preferiram ver-me pessoalmente para<br />

debater nossas sugestões. A todos eles desejo expressar minha sincera<br />

gratidão por seus valiosos comentários, que me desafiaram a ampliar, e<br />

em alguns casos retificar, o conteúdo deste livro. Embora eu seja grato<br />

pelos muitos comentários e sugestões recebidas, os pontos de vista


Qual a Roupa Certa? 14<br />

expressos nesta obra são meus, e por eles assumo inteira<br />

responsabilidade.<br />

A seguinte lista de nomes pode não ser total, mas representa aqueles<br />

que se destacaram por suas preciosas contribuições: Dr. Jon Paulien, Dr.<br />

Humberto Rasi, Dr. Woodrow Whidden, Dr. Ben Schoun, Dr. Rex D.<br />

Edwards, Dr. Elmer L. Malcolm, Pr. Léo Ranzolin, Pr. Larry L.<br />

Lichtenwalter, Pr. Joel O. Topkins, Pr. Thomas J. Mostert. Pr. Bruce<br />

Johnston, Pr. Herman Bauman e Capelão David G. Hand. especiais a<br />

Madeline S. Johnston.<br />

Agradecimentos particulares a Laurel Damsteegt, pela contribuição<br />

ao oitavo capítulo, Uma Análise Prática do Vestuário de um Cristão.<br />

Sinto que o capítulo da Sra. Damsteegt adiciona equilíbrio a este estudo,<br />

ao dar sugestões e princípios práticos ao leitor sobre como trajar-se para<br />

a glória de Deus. A Sra. Damsteegt tem larga experiência.<br />

Academicamente ela possui um mestrado em Divindade e um em<br />

Ciência na área de Saúde Pública. Na prática ela tem trabalhado ao lado<br />

de seu esposo como missionários em outros países e como esposa de<br />

pastor nos Estado, Unidos. Tem cooperado com seu marido na<br />

preparação do livro "Seventh-day Adventist Believe...". Ela é a autora de<br />

muitos artigos e conduz seminários de saúde. Além de tudo isso, a Sra.<br />

Damsteegt é uma cristã de profundas convicções, irradiando o amor de<br />

Cristo. Sua disposição de contribuir para este projeto é altamente<br />

apreciada.<br />

Um terno agradecimento a Sra. Redwig Jemison, pelo seu maternal<br />

e incansável interesse e o apoio a mim dispensados. Ela me permitiu<br />

publicar dentro do capítulo nove seu artigo Clothing Men of Cloth,<br />

veiculado inicialmente na revista Ministry, em julho de 1980. Ademais,<br />

ela dedicou muito tempo para ler, corrigir e analisar construtivamente<br />

este manuscrito.<br />

Por último, porém com não menos intensidade, devo expressar<br />

meus sinceros agradecimentos à minha esposa, que tem sido minha<br />

constante fonte de encorajamento e inspiração durante os trinta e quatro


Qual a Roupa Certa? 15<br />

anos de nossa vida conjugal. Seu bom gosto em vestir-se modesta, porém<br />

elegantemente, facilitou-me o processo de compreender e escrever sobre<br />

vestimentas e ornamentos do cristão.<br />

O Anseio do Autor<br />

É meu ardente desejo que este estudo, fruto de pesquisa profunda e<br />

dedicada, possa auxiliar muitos cristãos a seguirem o estilo de vida de<br />

Jesus: um viver despretensioso e simples, inclusive na aparência pessoal<br />

e maneira de vestir. Como cristãos, revelamos a beleza de Seu caráter<br />

vestindo-nos de maneira apropriada, modesta e decente, evitando<br />

ornamentos reluzentes que atraiam a atenção. Nossa aparência exterior é<br />

uma testemunha silenciosa e constante de nossa identidade cristã. Ela<br />

mostra ao mundo que nós vivemos para glorificar a Deus e não a nós<br />

mesmos.


Qual a Roupa Certa? 16<br />

A IMPORTÂNCIA DA APARÊNCIA EXTERIOR<br />

Q<br />

uando você encontra com uma pessoa pela primeira vez, mesmo<br />

antes que ele ou ela comece a falar, poderá você dizer se é cristã<br />

por sua aparência exterior? Com freqüência fico em aeroportos<br />

esperando por alguém que me apanhe para conduzir-me aonde devo<br />

apresentar meus seminários de final de semana. Na maioria dos casos, a<br />

única coisa que sei sobre essa pessoa, é que ele ou ela é um cristão,<br />

pertencendo à Igreja Adventista do Sétimo Dia.<br />

Ao sair do portão de desembarque, fico olhando as pessoas que<br />

estão à espera de um parente ou amigo, e me pergunto: "Quem seria a<br />

pessoa que está me esperando? Quem se parece com um adventista?" Se<br />

entre aqueles que estão à espera vejo um homem de cabelos longos,<br />

usando uma camiseta com a estampa "Turma da Pesada", tenho quase<br />

certeza de que ele não está esperando por mim. Pelo mesmo raciocínio,<br />

excluo automaticamente a mulher que traje vestido curto e use jóias, ou<br />

um homem com a camisa aberta, uma corrente dourada no pescoço e<br />

cabelos à altura dos ombros. Pelo método da exclusão, eu<br />

costumeiramente encontro a pessoa que me espera entre aqueles que<br />

estão vestidos com esmero e modéstia.<br />

Você é Aquilo que Usa<br />

Nossa aparência e comportamento mostram muito mais a nosso<br />

respeito do que imaginamos. William Thourlby, um famoso consultor de<br />

vestuário, que normalmente aconselha executivos e presidentes na arte<br />

de vestir-se atraentemente para alcançar sucesso, diz que quando as<br />

pessoas encontram você pela primeira vez, eles fazem dez julgamentos a<br />

seu respeito, baseados apenas na sua aparência. Essas avaliações estão<br />

relacionadas com:<br />

1. Seu nível econômico<br />

2. Seu nível educacional


Qual a Roupa Certa? 17<br />

3. Sua confiabilidade<br />

4. Sua posição social<br />

5. Seu nível de sofisticação<br />

6. Sua herança econômica<br />

7. Sua herança social<br />

8. Sua herança educacional<br />

9. Seu sucesso<br />

10. Seu caráter moral (1)<br />

Notem que a aparência revela não apenas nosso nível social,<br />

econômico e educacional, mas também nosso caráter moral. Isso quer<br />

dizer que os trajes e o comportamento deveriam ser de particular<br />

consideração pelos cristãos que escolheram viver pelos valores morais da<br />

Bíblia. "Consciente ou inconscientemente", escreve Thourlby, "as<br />

vestimentas que usamos revelam um conjunto de crenças sobre nós<br />

mesmos que desejamos que o mundo acredite" (2)<br />

A maneira hippie de vestir revela rejeição dos valores tradicionais<br />

da sociedade. A moda sexy, que permite sobrar bem pouco para a<br />

imaginação, expressa o desejo de seduzir. A maneira executiva de se<br />

trajar, com cabelos bem penteados, terno elegante e sapatos lustrosos,<br />

reflete autoridade, dignidade e confiabilidade.<br />

O mundo dos negócios há muito reconheceu a importância que os<br />

trajes e a aparência exercem sobre o marketing de produtos, serviços e a<br />

própria imagem da empresa. Corporações grandes, tais como<br />

companhias aéreas que vendem seus serviços ao público em geral,<br />

contratam renomados consultores de vestimentas para criar o guardaroupa<br />

de seus vendedores de passagens, comissários de bordo e pilotos.<br />

Eles sabem que através da aparência de seus funcionários podem projetar<br />

ao público em geral, imagens de respeitabilidade, confiabilidade e<br />

competência profissional.<br />

Aquilo que é verdade sobre corporações, também o é sobre<br />

indivíduos. John T. Molloy, denominado pela revista Time, "o primeiro


Qual a Roupa Certa? 18<br />

engenheiro de guarda-roupa da América", despendeu dezessete anos<br />

coletando dados sobre o extraordinário impacto que a maneira como nos<br />

vestimos tem sobre as pessoas com quem nos relacionamos e<br />

trabalhamos. No seu best-seller Dress for Success, Molloy relata que<br />

bem cedo ele descobriu quão importantes o traje e a aparência são na<br />

denominação de credibilidade e aceitação. Ele verificou que pessoas bem<br />

vestidas recebem tratamento preferencial em quase todos os encontros<br />

sociais e de negócios (3).<br />

Molloy estendeu sua pesquisa sobre o impacto do código do vestir<br />

em uma grande corporação com dois ramos de negócios, um dos quais<br />

exigia o cumprimento desse código e o outro não. Depois de um ano, as<br />

secretárias e funcionários do ramo que exigia o cumprimento do código,<br />

melhoraram seu desempenho em todas as áreas, permaneciam em suas<br />

escrivaninhas mais tempo, e reduziram seus atrasos em 15% (4)<br />

É fascinante descobrir que nossa aparência exterior influencia as<br />

razões, não somente daqueles com quem nos relacionamos, mas as<br />

nossas próprias. No livro Você é Aquilo que Você Veste, William<br />

Thourlby escreveu um capítulo intitulado "Você Pode Tomar-se Aquilo<br />

Que Veste" (5). Obviamente ninguém se torna um piloto por vestir-se<br />

como tal, mas se ele estiver desalinhado e malvestido, pode gerar<br />

suspeitas sobre sua confiabilidade aos olhos dos passageiros prontos a<br />

embarcar. Isso quer dizer que se nós parecermos bem-sucedidos e<br />

profissionais, poderemos controlar a impressão que causamos às pessoas.<br />

Em conseqüência, as reações favoráveis a nosso respeito nos desafiam a<br />

viver à altura das expectativas daqueles que nos observam, ou, nas<br />

palavras de Thourlby: "você pode se tornar aquilo que usa". Se nossa<br />

aparência for profissional e competente, seremos desafiados a agir de<br />

acordo com ela.


Qual a Roupa Certa? 19<br />

Implicações na Vida do Cristão<br />

Esta extensa e atual pesquisa, explorando como adornar-nos, a fim<br />

de que nossa aparência exterior influencie as pessoas a ver-nos<br />

favoravelmente e também à organização que representamos, tem<br />

profundas implicações no viver cristão. Afinal de contas, como cristãos<br />

nós também fazemos uso de alguns instrumentos de "marketing". A<br />

diferença está no produto que oferecemos. Nosso compromisso cristão é<br />

oferecer não apenas nossas habilidades ou os produtos da companhia<br />

para a qual trabalhamos, mas principalmente nossa fé e amor por Cristo.<br />

Temos o compromisso de revelar o caráter de Cristo em nossa própria<br />

vida, para que outros sejam atraídos a Ele e O aceitem como seu<br />

Salvador pessoal.<br />

Se, como a pesquisa revelou, as vestimentas e a aparência são<br />

poderosos comunicadores não-verbais, não apenas de nosso status sócioeconômico,<br />

mas também de nossos valores morais, como cristãos<br />

precisamos ponderar sobre a melhor maneira de mostrar nossos valores<br />

cristãos aos outros, através de nossa aparência exterior? Que princípios<br />

de vestimentas e adornos deveríamos seguir para nos assegurar de que<br />

nossa aparência exterior dê um testemunho visível e silencioso de nosso<br />

relacionamento com Cristo? Para encontrar a resposta a essas<br />

indagações, dediquei muito tempo a pesquisas em bibliotecas,<br />

procurando livros e artigos que abordassem o assunto de vestes e<br />

ornamentos. Qual o meu desapontamento em verificar que havia bem<br />

pouco material nessa área. Os principais estudos do assunto haviam sido<br />

produzidos nos séculos XVIII e XIX por líderes evangelistas de renome,<br />

tais como John Wesley, Richard Baxter, Phoebe Palmer e Charles<br />

Finney. Antes de desistir, telefonei para alguns líderes de publicações<br />

cristãs para ver se, por acaso, teriam publicado algum estudo novo sobre<br />

o assunto que ainda não tivesse chegado às bibliotecas. O resultado foi<br />

um novo desapontamento.


Qual a Roupa Certa? 20<br />

A escassez de literatura recente, bem como do ensino e pregação<br />

sobre o tema, mostram que o problema não é mais encarado como índice<br />

importante do caráter cristão. Muitos cristãos crêem sinceramente que o<br />

cristianismo não consiste em formas exteriores. Por isso sentem-se livres<br />

para vestir e adornar seus corpos como preferirem, já que isso não tem<br />

nada a ver com sua espiritualidade. Não é incomum ver pessoas mesmo<br />

na igreja, vestir-se descuidada e imodestamente.<br />

O afrouxamento do código cristão sobre vestimenta e ornamentos<br />

deve ser encarado como parte de uma mudança gradual que está<br />

acontecendo neste século: Um afastamento da visão teística do mundo<br />

na qual Deus é a realidade fundamental da qual nos originamos e diante<br />

de quem somos moralmente responsáveis, em direção à visão<br />

materialística do mundo, na qual a matéria é a realidade fundamental de<br />

que nos originamos e perante a qual não temos responsabilidade.<br />

Essa transição tem produzido os valores seculares, humanísticos e<br />

hedonísticos que prevalecem em nossa sociedade atualmente. O critério<br />

para decidir-se o que é certo ou errado não é mais a revelação, mas os<br />

sentimentos e prazeres humanos. Se o uso de vestidos e ornamentos<br />

extravagantes lhes faz sentir-se bem, então deve ser correto usá-los.<br />

Infelizmente tal mentalidade hedonística está influenciando muitos<br />

cristãos sinceros. Para resistir a esse insidioso modo de pensar, os<br />

cristãos necessitam compreender e aceitar com urgência os princípios<br />

básicos de como vestir-se e adornar-se, revelados por Deus em Sua<br />

Palavra. A percepção da urgência dessa necessidade é que me motivou a<br />

envolver-me nesta pesquisa.<br />

Conclusão<br />

Roupas e aparência são poderosos comunicadores não-verbais,<br />

revelando não apenas nosso status sócio-econômico, mas também nossos<br />

valores morais. Nós somos aquilo que usamos. Isso significa que nossa<br />

aparência exterior é uma testemunha silenciosa e visível de nossos


Qual a Roupa Certa? 21<br />

valores cristãos. Como cristãos não podemos dizer: "Ninguém tem nada<br />

a ver com o jeito de minha aparência", porque nosso visual reflete-se<br />

sobre o Senhor. Minha casa, meu carro, minha aparência pessoal, o uso<br />

que faço de meu tempo e dinheiro, tudo reflete como Cristo tem<br />

transformado minha vida de dentro para fora. Quando Jesus entra em<br />

nossa vida, Ele não cobre nossos defeitos com cosméticos, mas nos<br />

limpa completamente, iniciando Seu trabalho por nosso interior. Essa<br />

renovação interna reflete-se na aparência externa.<br />

Referências do Capítulo I:<br />

1. William Thourlby. You Are What You Wear (New York, 19S0)<br />

pág. 1.<br />

2. Idem, pág. 52.<br />

3. John T. Molloy. Dress for Success (New York, 1975).<br />

4. Ibidem.<br />

5. William Thourlby. (Referência 1), págs. 52 a 59.


Qual a Roupa Certa? 22<br />

VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NO VELHO TESTAMENTO<br />

A<br />

lgumas vezes membros da igreja removem de si os cosméticos<br />

coloridos, apenas porque a igreja disse que assim deveriam<br />

fazer, e não por terem compreendido os princípios que Deus revelou para<br />

assegurar um relacionamento saudável com Ele. Tais membros têm a<br />

tendência de perguntar: "O que há de errado com meus brincos ou colar?<br />

Eles são tão imperceptíveis e baratos! O que há de errado em usar<br />

minissaia na igreja? Ela fica apenas dez centímetros acima do joelho! Eu<br />

ainda sou jovem, e é isso que todos estão usando!"<br />

Meu coração tem-se perturbado muitas vezes quando são feitas<br />

essas perguntas, pois elas revelam uma atitude negativa para com Deus.<br />

A preocupação parece ser "Quanto posso adornar e expor meu corpo e<br />

ainda ser aceito por Deus?" Essa atitude reflete um desejo de fazer<br />

apenas o mínimo necessário para a salvação.<br />

Mas um cristão genuíno não perguntará: "Quão pouco posso fazer e<br />

ainda permanecer sendo um filho de Deus?" Pelo contrário, indagará a si<br />

mesmo: "Quanto posso fazer para demonstrar minha fé, amor e<br />

comprometimento com Cristo através de minha aparência exterior?"<br />

Essa é uma abordagem positiva surgida de um coração tão cheio de amor<br />

por Deus, que procura saber como glorificá-Lo melhor em todos os<br />

aspectos de seu estilo de vida, inclusive a aparência exterior. Cristãos<br />

Com essa atitude positiva e amorosa sentem-se ansiosos para saber o que<br />

Deus tem revelado nas Escrituras com respeito a vestimentas, jóias e<br />

cosméticos. É com tal atitude que conduziremos nosso estudo, iniciandoo<br />

pelo Velho Testamento.<br />

Objetivo do Capítulo<br />

Este capítulo examina as mais reveladoras passagens do Velho<br />

Testamento que tratam de jóias, cosméticos e trajes extravagantes.<br />

Descobriremos uma ligação consistente entre o uso dessas coisas e


Qual a Roupa Certa? 23<br />

sedução, adultério e apostasia. Veremos que a remoção dos ornamentos<br />

exteriores é uma pré-condição para a limpeza espiritual interior e a<br />

reconciliação com Deus. Tendo em vista o fato de que algumas pessoas<br />

encontram apoio em certas passagens do Velho Testamento para o uso<br />

moderado de jóias, daremos atenção especial à elas e aos argumentos<br />

delas extraídos.<br />

A Roupagem de Luz<br />

O corpo humano era a coroa da criação de Deus, o mais<br />

perfeitamente planejado, o mais belo em formas e traços e o mais<br />

gracioso em expressão. Deus declarou Sua total satisfação sobre a<br />

criação de Adão e Eva, dizendo "Muito bom!" (Gên. 1:31). Em seu<br />

estado edênico, o homem e a mulher usavam apenas uma vestimenta de<br />

inocência. "Uma encantadora e suave luz, a luz de Deus, envolvia o<br />

santo par. Esta vestimenta de luz era um símbolo de seus trajes<br />

espirituais de inocência celeste. Tivessem eles permanecido leais a Deus,<br />

e essa luz teria continuado a circundá-los. Mas, quando o pecado entrou,<br />

eles cortaram sua ligação com Deus, e a luz que os tinha cercado<br />

desapareceu. Nus e envergonhados procuraram compensar a perda das<br />

vestimentas celestes, cozendo folhas de figueiras para se cobrirem". (1)<br />

Na Bíblia, as roupas ou ausência delas (nudismo) servem para<br />

representar a condição espiritual dos seres humanos perante Deus e a Sua<br />

glória. Quando Adão e Eva pecaram, repentinamente perceberam que<br />

estavam "nus" (Gên. 3:7), porque tinham perdido a roupagem de luz. Sua<br />

nudez não foi resultado da remoção de vestimentas físicas. Até aquele<br />

ponto eles nunca tinham usado nenhuma roupa. Pelo contrário, tornaramse<br />

conscientes de sua nudez no momento em que pecaram e sentiram o<br />

afastamento da gloriosa presença de Deus, a qual havia sido sua<br />

cobertura.<br />

A redenção é com freqüência representada na Bíblia como a<br />

restauração da vestimenta original de Adão e Eva: uma luz que emanava


Qual a Roupa Certa? 24<br />

da gloriosa presença de Deus. Isaías fala da restauração das vestes de luz<br />

no reino messiânico: "Nunca mais te servirá o Sol para a luz do dia, nem<br />

com o seu resplendor a Lua te alumiará; mas o Senhor será a tua luz<br />

perpétua e o teu Deus a tua glória" (Isaías 60:19). De maneira<br />

semelhante, o apóstolo João, em Apocalipse, compara a igreja que espera<br />

a volta de Cristo a uma noiva adornada para suas núpcias: "pois lhe foi<br />

dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho<br />

finíssimo são os atos de justiça dos santos" (Apoc. 19:8). O termo grego<br />

para "brilhante" é lampron, lampron, que literalmente quer dizer<br />

"reluzente, resplandecente" como uma lâmpada. As vestes de luz<br />

perdidas devido ao pecado, são finalmente readquiridas. A luz da glória<br />

de Deus vestirá não somente os remidos, mas a própria cidade: "A<br />

cidade não precisa nem do Sol, nem da Lua para lhe darem claridade,<br />

pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada" Apoc.<br />

21:23).<br />

A aplicação do conceito do que as vestimentas representam,<br />

estende-se além da criação e restauração, incluindo situações que<br />

ocorrem entre esses dois acontecimentos. Para receber as vestes da glória<br />

de Cristo em Sua volta, precisamos "despir-nos da velha natureza" (Efés.<br />

4:23) e "revestirmo-nos do Senhor Jesus Cristo" (Rom. 13:14). As vestes<br />

brancas de justiça que somos instados a usar nesta vida, não é nenhuma<br />

roupagem tecida em nossos próprios teares, pelos nossos esforços, mas<br />

nos é oferecida por Cristo: "Aconselho-te que de Mim compres ouro<br />

provado no fogo para que te enriqueças; e vestidos brancos, para que te<br />

vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez; e que unjas os teus olhos<br />

com colírio, para que vejas" (Apoc. 3:18). A nudez do pecado é coberta<br />

pelas resplendentes vestes brancas oferecidas por Cristo. Sua promessa<br />

para aqueles que "não tem sujado suas vestes" é que "eles andarão<br />

comigo em trajes brancos" (Apoc. 3:4)<br />

A referência acima é suficiente para demonstrar quão rico é o<br />

simbolismo do vestuário na Bíblia. Desde a criação até a restauração, as<br />

atividades criativa e redentora de Deus são freqüentemente representadas


Qual a Roupa Certa? 25<br />

pelo ato de cobrir a nudez de Seus filhos com as vestes de Sua justiça.<br />

Em seu livro O Simbolismo do Vestuário na Bíblia, o escritor francês<br />

Edgar Halotte realça que "a importância do vestuário não é minimizada<br />

na Bíblia. Pelo contrário, Deus, em Sua revelação, dá a ela significado<br />

espiritual". (2) O rico simbolismo do vestuário ajuda-nos a apreciar a<br />

importância que Deus atribui ao vestuário na vida do Seu povo.<br />

A Queda e a Moda<br />

A moda teve início quando nossos primeiros pais, cheios de culpa,<br />

foram expulsos do jardim do Éden. A inocência havia desaparecido, a<br />

veste de luz tinha-se desvanecido e Adão e Eva, encolhidos e tremendo<br />

de medo por sua nudez, cozeram folhas de figueira para se cobrirem.<br />

Essa veste temporária foi logo reposta pelas vestimentas de pele<br />

providenciadas pelo próprio Deus (Gên. 3:20). À medida que as pessoas<br />

se tornaram mais e mais corruptas, procuraram repor a bela simplicidade<br />

de sua inocência com invenções de tecidos, modas e ornamentos de ouro,<br />

jóias e pérolas. Quanto mais depravado o povo se tornava, mais<br />

extravagantes suas vestimentas e ornamentação.<br />

A função inicial das roupas era proteger o corpo das mudanças de<br />

clima e dos desejos lascivos. Em breve, porém, as pessoas fizeram das<br />

vestimentas e ornamentos expressão de vaidade e sexo. A auto-estima se<br />

transformou em vaidade. O desejo de reconhecimento as levou a<br />

cobrirem-se com suntuosos trajes e ornamentos custosos. Assim,<br />

vestimentas e ornamentos em breve passaram a ser indicativos de<br />

declínio espiritual e apostasia.<br />

A Remoção dos Ornamentos em Betel<br />

A evolução acima referida ajuda-nos a entender por que, no Velho<br />

Testamento, Deus freqüentemente convocava Seu povo ao arrependimento<br />

e reforma, pedindo-lhes que removessem seus ornamentos. O primeiro


Qual a Roupa Certa? 26<br />

desses episódios é encontrado em Gênesis 35:1 a 4. Deus instruiu Jacó a<br />

mudar-se com sua família de Siquém para Betel, com o intuito de<br />

conduzi-los a uma reforma espiritual. Pediu-lhe que construísse um altar<br />

no mesmo lugar onde Ele lhe havia aparecido quando fugia de seu irmão<br />

Esaú.<br />

Jacó compreendeu que havia uma grande obra a ser feita antes que<br />

os membros de sua família pudessem estar prontos para se encontrarem<br />

com Deus em Betel. Em consideração a suas esposas, Jacó havia<br />

tolerado ídolos e jóias. Esses itens provavelmente incluíam os ídolos que<br />

Raquel havia roubado de seu pai (Gên. 31:19), bem como as jóias que os<br />

filhos de Jacó haviam capturado como parte do despojo de Siquém<br />

(Gên.34:27 a 29).<br />

Querendo levar os membros de sua família a uma purificação<br />

interna, moral e espiritual, Jacó os convocou a uma purificação externa:<br />

"Então disse Jacó a sua família, e a todos os que com ele estavam: Tirai<br />

os deuses estranhos que há no meio de vós e purificai-vos, e mudai os<br />

vossos vestidos. E levantemo-nos e subamos a Betel; e ali farei um altar<br />

ao Deus que me respondeu no dia da minha angústia, e que foi comigo<br />

no caminho que tenho andado." (Gên. 35:2 e 3).<br />

É significativo notar que Jacó sentia que os membros de sua família<br />

precisavam de uma limpeza exterior do corpo e uma mudança de trajes,<br />

antes que pudessem alcançar a experiência da limpeza interna diante do<br />

altar que ele estava prestes a construir. Presume-se que a mudança de<br />

vestes queria dizer colocar roupas que fossem não apenas limpas, mas<br />

também apropriadas para esse encontro especial com Deus. Vimos<br />

anteriormente que a pesquisa demonstrou que nos tornamos aquilo que<br />

vestimos. Isto é verdade na vida espiritual bem como na profissional.<br />

Uma aparência externa renovada e limpa desafia-nos a tornar-nos novos<br />

e limpos internamente, através da purificação de nosso corpo e mente.<br />

Talvez seja essa a razão porque orientações semelhantes foram dadas<br />

mais tarde ao povo de Israel no monte Sinai, ao prepararem-se para<br />

encontrar-se com Deus. (Êxo. 19:10)


Qual a Roupa Certa? 27<br />

A reação da casa de Jacó foi louvável: "Então, deram a Jacó todos<br />

os deuses estrangeiros que tinham em mãos e as argolas que lhes<br />

pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que está<br />

junto a Siquém" (Gên. 35:4). Notemos que eles entregaram a Jacó não<br />

apenas seus ídolos, mas também suas jóias ("os brincos que estavam em<br />

suas orelhas"). Reconheceram que também esses seriam uma barreira<br />

contra o serem aceitos por Deus.<br />

Ídolos e Jóias<br />

Alguns comentaristas acham que os brincos eram em si amuletos,<br />

pequenos ídolos usados como talismãs. Isso é totalmente possível, pois<br />

muitas das jóias estavam associadas à adoração de ídolos (Isa. 3:18-21).<br />

Com freqüência as pessoas usavam aquilo que adoravam. Em seu artigo<br />

sobre "Vestimentas e Ornamentos dos Hebreus", a Nova Enciclopédia<br />

Schaff-Herzog de Conhecimentos Religiosos explica: "Uma jóia era ao<br />

mesmo tempo um amuleto. De acordo com o antigo pensamento oriental,<br />

metais e pedras preciosas pertenciam a certos deuses do mundo mineral e<br />

possuíam, portanto, um poder mágico e místico. Além disso, qualquer<br />

adorno que desviasse a atenção de seu usuário para si ainda servia como<br />

uma proteção contra o mau-olhado. Por essa razão, todas as pessoas no<br />

Oriente usam abundância de jóias. Vestígios dessa superstição são<br />

encontrados no Velho Testamento. Em Isaías 3:20, um item dentre as<br />

jóias femininas é designado como um amuleto (comparar com Gênesis<br />

35:4); e é evidente que os ornamentos nos camelos dos midianitas eram<br />

talismãs. (Juizes 8:21)" (3)<br />

Isso ainda é verdade atualmente, em especial nos países católicos,<br />

onde as pessoas gostam de usar como pendentes aquilo que adoram:<br />

cruzes, corações (de Jesus ou de Maria), e até mesmo pequenas relíquias.<br />

O mesmo acontece em muitos cultos satânicos ou da Nova Era, cujos<br />

seguidores usam os objetos que adoram, ou seja, amuletos, talismãs, e


Qual a Roupa Certa? 28<br />

vários tipos de pendentes. Normalmente a função dessas jóias é afastar<br />

forças ou espíritos maus.<br />

Juízes 8:24 sugere que o uso de brincos se originou com os<br />

ismaelitas: "... por que tinham argolas de ouro, pois eram ismaelitas". A<br />

frase sugere que brincos eram uma marca registrada dos ismaelitas e não<br />

dos israelitas. Diríamos hoje em dia que eles eram a marca registrada dos<br />

mundanos e não dos cristãos. Os membros da casa de Jacó tinham<br />

adotado um estilo de vida pagão e idólatra, mas agora Jacó os estava<br />

trazendo perante Deus em Betel para fazer expiação pelos seus pecados.<br />

Era uma ocasião de contrição e arrependimento. Eles reconheciam que<br />

os deuses estranhos e as jóias tinham de ser removidas antes que as<br />

bênçãos de Deus pudessem vir sobre eles. Para se assegurar que os<br />

membros de sua família não seriam tentados a voltar à idolatria, Jacó<br />

sabiamente enterrou os ídolos e os brincos próximos ao carvalho de<br />

Siquém, deixando-os assim para trás e prosseguindo para Betel.<br />

Um Princípio Relevante<br />

Esta história contém um princípio de grande valor para os cristãos<br />

de hoje. Se quisermos experimentar uma limpeza interna de nosso<br />

passado pecaminoso e desejarmos ter uma experiência com Deus do tipo<br />

de Betel ("Casa de Deus"), precisamos remover todos os objetos<br />

habituais de idolatria, incluindo os ornamentos usados para a glória de<br />

nosso eu e não de Deus. Para nos certificarmos de que não seremos<br />

tentados a usá-las novamente, é melhor nos livrarmos delas<br />

permanentemente em lugar de guardá-las.<br />

Remoção dos Ornamentos no Monte Horebe<br />

Uma reforma semelhante envolvendo remoção de ornamentos é<br />

relatada em Êxodo 33:1-6. O contexto é a grande apostasia que ocorreu<br />

enquanto Moisés estava no monte recebendo os Dez Mandamentos.


Qual a Roupa Certa? 29<br />

Cansados de esperar por Moisés e ansiosos por ter um deus visível para<br />

guiá-los em lugar de Moisés, alguns israelitas trouxeram seus<br />

ornamentos de ouro para Aarão, que os empregou na confecção de um<br />

bezerro de fundição, imitando um dos deuses do Egito (Êxodo 32:2-4).<br />

Enquanto ainda estava na montanha, Moisés foi avisado por Deus sobre<br />

a apostasia no acampamento. Apressou-se a descer e encontrou o povo<br />

dançando e gritando ao redor de seu ídolo.<br />

Para mostrar desaprovação por sua rebelião, Moisés lançou ao chão<br />

as tábuas de pedra, quebrando-as à vista do povo, fazendo-os entender<br />

assim que eles haviam quebrado seu concerto com Deus. Em seguida, ele<br />

queimou o ídolo de ouro com o auxílio dos levitas, para punir aqueles<br />

que persistiram na rebelião (Êxodo 32:15-29). Então Moisés subiu<br />

novamente a montanha para suplicar a Deus que perdoasse o pecado do<br />

povo. Deus assegurou a Moisés que Ele era fiel à promessa de os trazer à<br />

terra de Canaã, feita a Abraão, Isaque e Jacó, mas que a sua presença não<br />

iria mais com eles. Provavelmente a razão para isso é que se eles se<br />

rebelassem novamente, Sua presença direta significar-lhes-ia completa<br />

destruição.<br />

Quando os israelitas souberam que Deus não mais os guiaria e<br />

protegeria com Sua presença, eles se arrependeram profundamente de<br />

sua transgressão, "e ninguém colocou seus ornamentos'." (Êxodo 34:4).<br />

Os homens provavelmente estavam com braceletes e enfeites de pulso e<br />

tornozelo usados pelos homens do Egito. Isso mostra que a tentação de<br />

usar ornamentos afeta tanto os homens como as mulheres.<br />

Em resposta ao aparente arrependimento de Israel, Deus ofereceuse<br />

para reconsiderar Sua ameaça, mas pediu que os israelitas Lhe dessem<br />

uma prova da intensidade de seu arrependimento, removendo<br />

permanentemente seus ornamentos: "Porquanto o Senhor tinha dito a<br />

Moisés: Dize aos filhos de Israel: Povo obstinado és; se por um<br />

momento subir no meio de ti, te consumirei; porém agora tira de ti os<br />

teus atavios, pala que eu saiba o que te hei de fazer" (Êxodo 33:5).


Qual a Roupa Certa? 30<br />

A história sugere que os israelitas penitentes reconheceram que os<br />

ornamentos eram um sério obstáculo à sua reconciliação com Deus.<br />

Assim decidiram "livrar-se de seus ornamentos a partir do monte<br />

Horebe". Isso implica que os israelitas sinceros fizeram um compromisso<br />

de eliminar os ornamentos, para mostrar seu sincero desejo de obedecer<br />

a Deus. Essa experiência assemelha-se à dos membros da família de Jacó<br />

em Siquém. Nos dois episódios, a remoção dos ornamentos fez parte dos<br />

preparativos para a renovação do concerto com Deus.<br />

Importância Para os Nossos Dias<br />

O que podemos aprender dessa experiência? Referindo-se<br />

especificamente à experiência dos israelitas no deserto, Paulo nos lembra<br />

que "essas coisas aconteceram com eles como um aviso, porque a<br />

Escritura diz: Todo aquele que nele crer não será confundido" (I Cor.<br />

10:11). Como os israelitas do passado, nós também estamos marchando<br />

para a terra prometida. A ordem que Deus deu aos israelitas para<br />

removerem seus ornamentos antes de entrar na terra de Canaã, também<br />

se aplica a nós que estamos jornadeando para a Canaã Celeste. Se o uso<br />

de ornamentos contribuiu para que os israelitas se rebelassem contra<br />

Deus e sua remoção possibilitou a reconciliação com Ele, não seria o<br />

mesmo verdadeiro para nós hoje?<br />

Alguns leitores podem inquirir: Por que os ornamentos eram<br />

tamanha pedra de tropeço na vida espiritual dos israelitas? e por que o<br />

uso de jóias é tão prejudicial à nossa vida espiritual atualmente? Parte da<br />

resposta é que nós usamos aquilo que adoramos, e adoramos aquilo<br />

que usamos. Usamos aquilo que adoramos no sentido de que usamos o<br />

que melhor revela nossos ídolos: beleza, riqueza, status social, ou nível<br />

de sofisticação. Adoramos aquilo que usamos no sentido de veneramos<br />

as roupas, ornamentos e bugigangas que melhor alimentam nossas<br />

ambições (ídolos).


Qual a Roupa Certa? 31<br />

Você já ouviu alguém dizer "Eu adoro este vestido ou este colar!<br />

Ele contribui muito para a minha aparência ou personalidade!"<br />

Comentários como esses revelam que a principal preocupação de tais<br />

pessoas não é a adoração de Deus, mas o culto de sua própria<br />

personalidade. Isso é idolatria.. Na mesma proporção em que roupas,<br />

ornamentos, carros, casas, alvos profissionais e riqueza se tornam<br />

prioridades (os ídolos) de nossa vida, Deus é afastado de nossa<br />

existência e consciência, Essa é a razão fundamental por que os<br />

ornamentos exteriores são uma pedra de tropeço à nossa vida espiritual.<br />

A Arrogância das Filhas de Sião<br />

Outro exemplo esclarecedor de como roupas e ornamentos<br />

extravagantes incentivam o orgulho e a autoglorificação, ao invés da<br />

adoração de Deus, é encontrada em Isaías 3:16-26. Essa passagem é da<br />

mais alta significância, porque contém não apenas as descrições mais<br />

detalhadas dos vários itens das jóias e roupas finas usadas pelas mulheres<br />

abastadas de Jerusalém, mas também porque faz a mais terrível denúncia<br />

do orgulho e da altivez demonstrados através do uso desses artigos.<br />

O contexto da passagem é o anúncio do julgamento de Deus sobre<br />

Seu povo, e que ocasionará sua total humilhação e destruição. A causa<br />

do julgamento divino é que o povo abandonou a Deus. "Porque Jerusalém<br />

está arruinada e Judá, caída; porquanto sua língua e as suas obras são contra<br />

o Senhor, para desafiarem a sua gloriosa presença." (Isaías 3:8)<br />

Isaías taxativamente coloca a culpa da apostasia do povo em seus<br />

líderes e nas mulheres ricas dentre eles. Com respeito aos líderes, o<br />

profeta disse: "Porque o Dia do Senhor dos Exércitos será contra todo o<br />

soberbo e altivo e contra todo aquele que se exalta para que seja abatido;<br />

contra todos os montes altos e contra todos os outeiros elevados." (Isaías<br />

3:12 e 14) Ao invés de serem os guardadores da vinha, ou seja, da nação<br />

de Israel (Isaías 5:7; 1:8; 2:1,3), os líderes civis e religiosos devoravam o<br />

povo enriquecendo-se às custas dos pobres.


Qual a Roupa Certa? 32<br />

Isaías continua sua severa reprovação focalizando agora não mais a<br />

influência negativa dos líderes, mas a das mulheres da classe alta, que<br />

possivelmente fossem as esposas e filhas dos próprios líderes.<br />

Aparentemente a razão para isso era, como realça Joseph Jensen, que "à<br />

semelhança de Amós, Isaías parece considerar as mulheres algumas<br />

vezes responsáveis pela opressão praticada por seus maridos". (4) Isso<br />

também é insinuado pela frase "as mulheres os governam" (Isaías 3:12).<br />

Carl Nagelsbach observa que o profeta condena "o exagero<br />

prevalecente da dissolução feminina, por ser não apenas pecaminoso em<br />

si, mas também a principal causa da violência e confusão social<br />

previamente mencionada, e portanto, merecedora da punição a sobrevir:<br />

doença, viuvez e exposição vergonhosa". (5)<br />

Isaías inicialmente descreve como as filhas de Sião exibem seu<br />

orgulho: "Visto que são altivas as filhas de Sião e andam de pescoço<br />

emproado, de olhares impudentes, andam a passos curtos, fazendo tinir<br />

os ornamentos de seus pés, o Senhor fará tinhosa a cabeça, das filhas de<br />

Sião, o Senhor porá a descoberto as suas vergonhas." (Isaías 3:16, 17). O<br />

orgulho interior das mulheres de Sião é demonstrado externamente pelo<br />

modo de caminhar, com as "cabeças empinadas" (6) para serem<br />

admiradas e com olhos maliciosos e andar afetado; com olhadelas que<br />

fingiam inocência, procurando atrair a atenção para si mesmas pelo<br />

tilintar de pequenos sinos presos aos seus calcanhares.<br />

A Remoção dos Símbolos do Orgulho<br />

Tal orgulho atrai a punição do Senhor, a qual poderia ser evitada<br />

pela humilhação das mulheres de Sião, através da remoção de todos os<br />

símbolos de seu orgulho e submissão a um tratamento severo: "Naquele<br />

dia o Senhor tirará o enfeite dos anéis dos artelhos, e as toucas e os<br />

ornamentos em forma de meia lua; os pendentes e os braceletes e os véus<br />

esvoaçantes; os turbantes e as cadeiazinhas para os passos, as cintas, as<br />

caixinhas de perfumes e os amuletos, os sinetes e as jóias pendentes no


Qual a Roupa Certa? 33<br />

nariz; os vestidos de festa, os mantos, os xales e as bolsas; os espelhos,<br />

as camisas finíssimas, os atavios de cabeça e os véus grandes. Será que<br />

em lugar de perfume haverá podridão, e por cinta, corda; em lugar de<br />

encrespadura de cabelos, calvície, e em lugar de veste suntuosa, silício, e<br />

marca de fogo em lugar de formosura. Os teus homens cairão à espada e<br />

os teus valentes na guerra. As tuas portas chorarão e estarão de luto;<br />

Sião, desolada, se assentará em terra" (Isaías 3:18-26).<br />

Nessas passagens encontramos a lista mais abrangente dos<br />

ornamentos e roupagem fina femininos, encontrados em toda a Bíblia.<br />

Esse fato é surpreendente, pois como destaca Franz Delitzsch, não é<br />

costume de Isaías "entrar em particularidades tão detalhadas". (7) Até<br />

mesmo Ezequiel, que tende a fornecer detalhes da ornamentação<br />

feminina (Ezequiel 16:8-14), não apresenta algo que se compare com<br />

essa descrição detalhada de Isaías. A explicação para esse fato encontrase<br />

na preocupação de Isaías em expor "o amor pelos ornamentos, que era<br />

prevalecente no tempo de Uzias e Jotão" (8), bem como as trágicas<br />

conseqüências que viriam: humilhação, sofrimento, e destruição (9).<br />

Devemos notar que a passagem inclui artigos válidos de vestuário<br />

tais como "mantas, capas, bolsas, lenços, trajes de linho". Isaías engloba<br />

esses artigos com os ornamentos pagãos usados pelas mulheres ricas da<br />

Judéia, porque todos eles serviam para exibir o seu orgulho. Seu objetivo<br />

era mostrar como o orgulho das mulheres de Jerusalém, manifestado<br />

através de seus trajes e ornamentos externos, provocaram o julgamento<br />

de Deus e fizeram com que a destruição se tornasse necessária.<br />

Importância Para os Nossos Dias<br />

Essa passagem nos ensina pelo menos três lições importantes:<br />

primeira – roupas e ornamentos suntuosos revelam orgulho interior e<br />

desejo de exaltação própria, que podem causar idolatria, adultério e<br />

apostasia. Existe íntima relação entre vestimentas e comportamento. A<br />

falta de modéstia gera impureza. A aparência sedutora das filhas de Sião


Qual a Roupa Certa? 34<br />

desencaminhou os líderes e eventualmente levou a nação à<br />

desobediência e ao castigo de Deus. Assim, uma razão importante para<br />

que evitemos ouso de ornamentos não é apenas o gasto que representam,<br />

mas especialmente sua influência negativa sobre os outros.<br />

Segunda; Deus abominou o orgulho manifestado pelo uso de<br />

ornamentos. "Quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião, e<br />

limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de<br />

justiça e com o Espírito purificador" (Isaías 4:4). As mulheres abastadas<br />

de Jerusalém adornavam-se dos pés à cabeça com ornamentos,<br />

procurando ficar bem bonitas externamente, mas Deus viu seu orgulho<br />

interior. Obviamente, a beleza que tem valor à vista de Deus, não é<br />

aquela obtida externamente com ornamentos de ouro e vestimentas finas,<br />

mas aquela alcançada internamente "com as jóias imperecíveis de um<br />

espírito manso e quieto" (I Pedro 3:4).<br />

Literal ou Alegórico<br />

Alguns rejeitam nossas conclusões dizendo que a passagem é uma<br />

alegoria. Madelynn Jones-Haldeman, por exemplo, argumenta que a<br />

remoção dos ornamentos femininos representa não uma condenação dos<br />

ornamentos propriamente ditos ("nenhum dos ornamentos é mencionado<br />

como sendo retirado") mas a rejeição de Deus por Judá como Seu povo:<br />

"Na realidade, a remoção dos adornos femininos indica o desagrado de<br />

Deus e Sua rejeição de Judá como Seu povo. Judá é uma mulher triste,<br />

sem adornos, descasada, sem esposo" (10)<br />

Essa interpretação deixa de reconhecer que a passagem não é uma<br />

representação alegórica de como Deus rejeitou a Judá, mas uma<br />

descrição literal do que causou essa rejeição, ou seja, a influência<br />

negativa de seus líderes e das mulheres abastadas da nação. Essas são<br />

incriminadas pelo seu orgulho e altivez manifestado através de seu<br />

desenfreado amor pelos ornamentos. Elas os usavam para seduzir os<br />

homens, e assim conduziram o povo à apostasia. Em vista disso, Deus


Qual a Roupa Certa? 35<br />

manifestou sua condenação retirando das mulheres todos os seus<br />

ornamentos. Evidentemente Deus considerou os ornamentas como parte<br />

do problema e consequentemente excluiu-os. As atitudes de Deus<br />

dificilmente podem ser interpretadas como sendo um endosso ao uso de<br />

ornamentos.<br />

Julgamento e Ornamentos<br />

O contexto do julgamento nas duas passagens bíblicas que<br />

acabamos de analisar (Êxo. 33:4-6; Isaías 3:16-26) fez com que Richard<br />

M. Davidson sugerisse que "não é que o uso de jóias seja errado" (11).<br />

Ao invés disso, o que está errado é o uso de ornamentos em uma época<br />

de arrependimento e julgamento associados. "Tem-se a impressão de que<br />

em épocas de juízo investigativo e/ou executivo associados, Deus<br />

normalmente pede a Seu povo que remova seus ornamentos como um<br />

símbolo exterior num contexto de julgamento especial" (12).<br />

Com referência ao uso de ornamentos, Davidson encontrou dois<br />

princípios na Bíblia. Por um lado, "as jóias no Israel antigo, quando<br />

mencionadas favoravelmente, são quase sempre relacionadas com a<br />

ornamentação de noivas" (12). No entanto, Deus normalmente solicita ao<br />

Seu povo que remova seus ornamentos em épocas de arrependimento e<br />

julgamento associados.<br />

Ao unir estes dois princípios, Davidson chega a uma interpretação<br />

muito criativa. "É possível que desde 1884 os adventistas do sétimo dia<br />

estejam gozando do privilégio de abster-se do uso de jóias como um<br />

sinal externo especial da verdade ímpar de que são Laodicéia, 'o povo do<br />

Juízo'; de que estão vivendo no tempo do juízo investigativo? É possível<br />

que os adventistas também adotem essa postura porque, embora a igreja<br />

esteja espiritualmente desposada com Cristo (Efésios 5; II Cor. 11:2), o<br />

casamento ainda não foi consumado (Apoc. 19:7, 8)? Para aqueles que<br />

compreendem a profundidade dos pontos em questão, o uso dos<br />

ornamentos de uma noiva antes do casamento é a postura de Babilônia, a


Qual a Roupa Certa? 36<br />

prostituta (Apoc. 17:4, 5), e não da igreja verdadeira (Apoc. 12:1). Não é<br />

que seja errado usar jóias mas nós temos o privilégio de esperar para<br />

fazê-lo até a festa de casamento quando o próprio Jesus vai ornamentar<br />

Sua noiva com jóias". (13)<br />

Essa interpretação é criativa, para não dizermos mais. Ela<br />

representa uma tentativa sincera e louvável de reconciliar aquelas<br />

passagens alegóricas que falam favoravelmente com respeito às jóias,<br />

com aquelas que condenam o seu uso. Mas, ao analisarmos<br />

profundamente tal interpretação, descobrimos que ela se baseia em<br />

várias premissas errôneas.<br />

Primeiro, a igreja verdadeira representada em Apocalipse por uma<br />

noiva, prepara-se para o "casamento do Cordeiro" adornando-se não com<br />

ouro, jóias e pérolas, mas "com linho fino, brilhante e puro" (Apoc.19:8).<br />

Não apenas a noiva, mas a multidão dos remidos, que está de pé perante<br />

o trono de Deus, ornamenta-se não com enfeites de ouro ou prata, mas<br />

com "vestes brancas" (Apoc. 7:9). A visão profética que João teve da<br />

noiva da igreja) e dos remidos vestidos de linho branco, sem adornos<br />

exteriores, sugere que os ornamentos não são parte dos atavios dos filhos<br />

de Deus, seja no mundo atual, seja no mundo vindouro. Notamos que, na<br />

Criação e na restauração final, Deus reveste Seus filhos não com jóias,<br />

mas com uma veste de luz que emana do próprio Deus.<br />

Segundo, se Deus pede a Seu povo para remover seus ornamentos<br />

em épocas de arrependimento e juízo associados, é difícil crer que ele<br />

aprovaria o uso desses itens em outras ocasiões. Se os ornamentos<br />

exteriores são pedras de tropeço para o verdadeiro arrependimento e<br />

reconciliação com Deus, em épocas onde Deus convoca o Seu povo para<br />

o arrependimento, então eles também devem ser empecilhos para nossa<br />

vida espiritual em todas as ocasiões.


Qual a Roupa Certa? 37<br />

Descritivo Ao Invés de Prescritivo<br />

Terceiro, um cuidadoso estudo dessas passagens que falam<br />

favoravelmente ao uso de ornamentos, vai revelar que tais passagens são<br />

descritivas do conceito cultural de beleza prevalecente na época, e não<br />

prescritivo de como Deus deseja que Seus filhos se embelezem através<br />

do uso de ornamentos. Se deixarmos de realçar essa distinção, podemos<br />

ser levados a fazer deduções fantasiosas. Walter Kaiser, um renomado<br />

especialista em assuntos do Velho Testamento, com muita propriedade<br />

realçou que "informar ou narrar um evento nas Escrituras Sagradas não é<br />

sinônimo de aprovação, recomendação ou de tornar aquela ação ou<br />

característica digna de imitação para todos os leitores subsequentes".<br />

(14) Uma passagem descritiva ou alegórica deve ser interpretada à luz<br />

dos ensinos bíblicos explícitos e não vice-versa.<br />

Esse princípio deve ser conservado em mente ao interpretarmos<br />

passagens tais como Ezequiel 28:13. Essa é uma passagem descritiva e<br />

alegórica, mas que freqüentemente é usada para sancionar o uso de jóias:<br />

"Estavas no Éden, Jardim de Deus; toda a pedra preciosa era a &1a<br />

cobertura: a sardônica, o topázio, o diamante, a turquesa, o ônix, o jaspe,<br />

a safira, o carbúnculo, a esmeralda e o ouro; a obra dos teus tambores e<br />

dos teus pífaros estava em ti; no dia em que foste criado foram<br />

preparados." (Ezequias 28:13). O raciocínio usado para tal aprovação e<br />

que como a passagem fala da maneira como Deus criou e cobriu Lúcifer<br />

com todo tipo de pedras preciosas, então Deus deve aprovar o uso de<br />

pedras preciosas para o ser humano também.<br />

Tal interpretação não consegue justificar o uso da linguagem tão<br />

altamente simbólica na passagem. A descrição ocorre no contexto da<br />

lamentação de Ezequiel pelo orgulho e arrogância do rei de Tiro, o qual<br />

Deus permitiu que chegasse a um fim temerário ("todos que te conhecem<br />

entre os povos estão espantados de ti". Ezequiel 11:19). Através da<br />

perspectiva profética, isto é, a capacidade que tem os profetas de fundir o<br />

presente com o passado ou com o futuro, Ezequiel descobre a beleza, o


Qual a Roupa Certa? 38<br />

orgulho e a destruição do rei de Tiro fazendo alusão à beleza, orgulho e<br />

destruição futura de Lúcifer, que na verdade é o instigador de todo<br />

orgulho pecaminoso.<br />

A imagem apresentada de alguém adornado com pedras preciosas é<br />

usada para transmitir a beleza de Lúcifer antes de sua rebelião e<br />

expulsão, e através da correspondência tipológica, também a beleza do<br />

rei de Tiro antes de sua queda. Sabemos que os reis usavam pedras<br />

preciosas para enfeitar não somente as suas vestes, mas até mesmo as<br />

paredes de seus palácios. A aplicação dupla é evidenciada por frases tais<br />

como "na abundância do teu comércio te encheste de violência e<br />

pecaste" (Ezequiel 28:16). Essa é uma óbvia referência ao comércio<br />

desonesto de Tiro. Não existem indicações na Bíblia de que Lúcifer<br />

tenha caído devido a práticas comerciais desonestas no Céu.<br />

Um Símbolo de Beleza<br />

Do mesmo modo, as imagens descrevendo a roupagem feita com<br />

pedras preciosas dificilmente poderá ser interpretada literalmente, como<br />

se referindo a uma real vestimenta ricamente incrustada com jóias que<br />

Deus tenha preparado para cobrir Lúcifer. Em primeiro lugar, para que<br />

Lúcifer necessitaria de tal vestimenta? Fazia frio no Céu? Em nenhum<br />

lugar na Bíblia sugere que os anjos usavam roupas ou jóias. Se isso fosse<br />

verdade, como é colocado pelo título do livreto, de que Deus aceita as<br />

jóias e as usa para embelezar Suas criaturas (15), por que então Ele não<br />

adornou os corpos de Adão e Eva com jóias?<br />

Verificamos que a cobertura do primeiro par na Criação e dos<br />

remidos na restauração final é uma veste de luz, emanando do próprio<br />

Deus. As roupas foram introduzidas para cobrir a nudez conseqüente do<br />

pecado (Gen. 3:9, 21), mas não havia necessidade de cobrir a nudez de<br />

Lúcifer no dia em que ele foi criado (Ezequiel 28:13). Se não havia<br />

necessidade de roupas para o santo par antes de terem pecado, porque<br />

Lúcifer precisaria delas? Além disso, porque Deus usaria pedras


Qual a Roupa Certa? 39<br />

preciosas de minerais da terra, (presumivelmente antes da criação da<br />

Terra com todos os seus minerais) para adornar a vestimenta destinada<br />

para um ser espiritual e celeste?<br />

À luz de tais considerações, é evidente que a descrição da cobertura<br />

de Lúcifer com pedras preciosas é usada para transmitir a sua beleza<br />

original, bem como a de seu correlato, o rei de Tiro. Em ambos os casos,<br />

a beleza levou-os ao orgulho e à queda. O uso de cenas com pedras<br />

preciosas não torna legítimo e apropriado o seu uso como ornamentos,<br />

mas simplesmente expressa a noção de beleza em uma linguagem que as<br />

pessoas compreendiam. Pedras preciosas são belas. Deus as criou para<br />

embelezarem este mundo, mas eu não encontro na Bíblia indicação de<br />

que Deus as tenha usado para embelezar corpos humanos.<br />

A idéia de embelezar um ser criado com jóias, pressupõe um<br />

reconhecimento de que aquele ser necessitava de uma melhoria, de um<br />

ajuste para completar algumas deficiências existentes. Mas a criação<br />

original de Deus, tanto do ser humano como dos seres celestes, foi<br />

perfeita em funcionalidade, em desenho e beleza. Não havia necessidade<br />

de "maquiagem" com cosméticos ou de ornamentos para cobrir possíveis<br />

defeitos ou melhorar a aparência exterior de Suas criaturas.<br />

A Cidade Santa Adornada como Uma Noiva<br />

Uma passagem alegórica semelhante, freqüentemente citada para<br />

apoiar a validade de usar ornamentos, é Apoc. 21:2. Nesta passagem,<br />

João viu "A cidade santa, a Nova Jerusalém, descendo do céu da parte de<br />

Deus, preparada como uma noiva adornada para seu esposo". A cidade<br />

é descrita como "a cidade santa, a Nova Jerusalém que descia do céu, da<br />

parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. A qual<br />

tem a glória de Deus. O seu fulgor era semelhante a uma pedra<br />

preciosíssima, como pedra de jaspe cristalina. Tinha grande e alta<br />

muralha, doze portas, e junto às portas doze anjos, e sobre elas nomes<br />

inscritos, que são os nomes das doze tribos de Israel. Mediu também a


Qual a Roupa Certa? 40<br />

sua muralha, cento e quarenta e quatro côvados, medida de homem, isto<br />

é, de anjo. A estrutura da muralha é de jaspe; também a cidade é de ouro<br />

puro, semelhante a vidro límpido". (Apoc. 21:2, 11, 12, 17, 18).<br />

Nessa passagem alegórica, a Nova Jerusalém é comparada a "uma<br />

noiva adornada para seu esposo". Essa comparação não tem a validade<br />

de uma declaração que permita ouso de ornamentos, mas simplesmente<br />

para ajudar as pessoas a compreenderem a beleza da Nova Terra através<br />

da analogia de uma noiva ataviada. Deus usa coisas conhecidas para<br />

comunicar lampejos das desconhecidas.<br />

O mesmo é verdadeiro sobre a descrição da parede da cidade, que<br />

media 144 cúbitos de largura, "12 mil estádios", cerca de 2.400 km<br />

(Apoc. 21:16) de altura. A sua altura é aparentemente a mesma do<br />

comprimento e da largura da cidade, porque o verso diz que "O seu<br />

comprimento, sua largura e sua altura são iguais" (Apoc. 21:16). O<br />

propósito dessa descrição não é ensinar-nos a proteger-nos<br />

eficientemente construindo paredes bem altas, mas sim assegurar-nos<br />

que a Nova Terra será um lugar de perfeita segurança. Deus usou a<br />

descrição visual de uma cidade com uma parede incrivelmente alta<br />

porque esta seria a maneira mais eficaz de comunicar às pessoas da<br />

época em que o Novo Testamento foi escrito, quão perfeita será a<br />

segurança que reinará no mundo porvir. Ao interpretarmos uma<br />

descrição visual alegórica, devemos focalizar o princípio que está sendo<br />

comunicado, em lugar de focalizar os detalhes da alegoria.<br />

O Peitoral do Sumo Sacerdote<br />

Em uma carta pessoal, um respeitável irmão de fé, líder de igreja e<br />

amigo, que graciosamente tomou tempo para avaliar o primeiro rascunho<br />

deste livro, argumentou amplamente que o éfode e o peitoral do sumo<br />

sacerdote são para ele evidências fortes de que Deus aprova o uso de<br />

ouro e jóias como ornamentos, quando apropriadamente usados. Afinal<br />

de contas, foi o próprio Deus que deu a Moisés o modelo para a


Qual a Roupa Certa? 41<br />

confecção desses dois santíssimos artigos da vestimenta sacerdotal. É<br />

necessário que façamos uma breve consideração sobre esse argumento.<br />

pois talvez outros cristãos pensem da mesma forma.<br />

O éfode era um tipo de colete feito de duas partes, uma para cobrir<br />

o peito e outra para cobrir as costas. As duas partes eram unidas por<br />

"ombreiras" (Êxodo 28:23). A função primária do éfode era segurar o<br />

peitoral que era ligado a ele através de quatro argolas (Êxodo 28:23). O<br />

peitoral era uma peça decorada com ouro, azul, púrpura, carmesim e<br />

linho fino dobrado duplamente, formando um quadrado de cerca de<br />

(10x10 polegadas). Na frente havia quatro fileiras de três pedras<br />

preciosas cada uma. Em cada pedra estava escrito o nome de uma das<br />

doze tribos de Israel (Êxodo. 28:29). Era realmente a peça central da<br />

vestimenta do sumo sacerdote.<br />

Será que o fato de ter Deus instruído Moisés a construir um peitoral<br />

tão elaborado, com doze pedras preciosas, sugere que Ele aprove o uso<br />

de jóias para todo o Seu povo? Olhando o assunto de uma outra forma,<br />

se o sumo sacerdote, que servia como modelo de comportamento para o<br />

povo, podia ser enfeitado com jóias ao ministrar no santuário perante<br />

Deus, quer isso dizer que os adoradores leigos podem também usar jóias,<br />

contanto que eles o façam com reverência e humildade?<br />

Minha resposta é NÃO! Esse argumento passa por alto a função<br />

altamente simbólica do éfode e do peitoral. Esses artigos não eram<br />

vestimentas comuns usadas pelos sacerdotes ou mesmo pelo sumo<br />

sacerdote na vida cotidiana. Somente o sumo sacerdote podia usá-las, e<br />

apenas quando entrava no interior do santuário. O sacerdote comum,<br />

enquanto ministrava no santuário usava um uniforme simples de linho<br />

branco (Êxodo 28:40-42). De acordo com o Comentário Bíblico<br />

Adventista, "é significativo que as vestimentas simples do sacerdote<br />

comum, uma túnica de linho branco, foi escolhida para 'glória e beleza',<br />

assim como o foi a do sumo sacerdote (Êxodo 28:2, 40). A cor branca é<br />

usada nas Escrituras para simbolizar pureza (Apoc. 4:4; 7:9, 14; 19:8)". (16)


Qual a Roupa Certa? 42<br />

Em outras palavras, a beleza do traje sacerdotal era a simplicidade de sua<br />

túnica de linho branco.<br />

A função das doze pedras preciosas não era embelezar o sumo<br />

sacerdote, mas revelar o interesse de Deus em cada uma das doze tribos<br />

de Israel. Como explica o mesmo comentário: "Cada pedra deveria ter<br />

escrito em si o nome de uma das doze tribos. Esses nomes gravados nas<br />

doze jóias, apropriadamente ilustram o valor que homens e mulheres têm<br />

à vista de nosso Pai Celeste. Deus considera Seu povo como gemas<br />

preciosas na caixa de jóias do Seu amor (Malaquias 3:17). Ele considera<br />

Sua igreja como uma noiva 'adornada com suas jóias' (Isaías 61:10). Ela<br />

é seu 'tesouro peculiar' (Êxodo 19:5)". (17)<br />

Em Apocalipse há uma outra ocasião onde uma ilustração<br />

semelhante é usada: as doze portas e os doze fundamentos são também<br />

feitos de pedras preciosas. Neles também estão escritos os nomes das<br />

doze tribos e os nomes dos doze apóstolos (Apoc. 21:12-14). O fato de<br />

que cada tribo e cada apóstolo tem seu nome inscrito em uma gema<br />

própria, não quer dizer que cada crente tem o direito de usar jóias;<br />

Significa porém que 'cada cristão tem sua própria personalidade, sua<br />

própria beleza aos olhos dos Céus... cada nome escrito em uma jóia<br />

separada também sugere que Deus olha para Seu povo como indivíduos<br />

distintos conhecidos, amados e protegidos por Ele (Salmos 87:5, 6;<br />

Isaías 57:15; Mateus 25:40; Lucas 15:3-10).(18) Esse é o significado das<br />

jóias do peitoral e da fundação e dos portais da Cidade Santa. Tentar<br />

extrair dessas passagens uma justificação para o uso de jóias é forçá-las a<br />

dizer o que Deus não planejou que dissessem.<br />

A Noiva Adornada Por Deus<br />

Uma outra passagem alegórica utilizada para apoiar a suposta<br />

aprovação de Deus ao uso de ornamentos exteriores, é encontrada em<br />

Ezequiel 16. Nessa passagem, o profeta usa a alegoria de uma criança<br />

enjeitada para ilustrar como Deus lida com Seu povo. Um bebê do sexo


Qual a Roupa Certa? 43<br />

feminino foi abandonado em um campo aberto no dia em que nasceu. O<br />

Senhor passou por ali e disse à criança moribunda, ainda envolta em<br />

sangue, "Viva e cresça como uma planta do campo" (v. 6, 7).<br />

Mais tarde, quando a menina se transformou em uma jovem, o Senhor<br />

a pediu em casamento, e ela se tornou Sua noiva. Para demonstrar Seu<br />

amor, Deus lavou o sangue dela, vestiu-a com Seu "tecido bordado", e a<br />

adornou com braceletes, com correntinha no pescoço, um anel em seu<br />

nariz, brincos e uma linda coroa em sua cabeça (versos 8 a 16).<br />

Infelizmente, à medida que a jovem se tornou "extremamente bela"<br />

ela veio a confiar em sua beleza e usou todo o ouro e prata que havia<br />

recebido de Deus na confecção de ídolos e na indução de homens para<br />

praticarem sexo com ela (v. 15-34). Finalmente, Deus julgou a infiel<br />

esposa e entregou-a nas mãos de seus amantes, que arrancaram dela suas<br />

roupas e suas jóias e a cortaram em pedaços (Ezequiel 16:39 e 40).<br />

Novamente poderia essa alegoria ser corretamente empregada para<br />

sancionar o uso de ornamentos porque ela retrata Deus abundantemente<br />

enfeitando sua serva? A resposta é não. Por quê? Basicamente porque o<br />

episódio, à semelhança do anterior, é uma alegoria altamente<br />

significativa emprestada de uma cultura antiga envolvendo abandono,<br />

beleza, infidelidade e castigo da mesma maneira que o apóstolo João, o<br />

Revelador, descreve a Nova Jerusalém, como "Uma noiva ataviada para<br />

o seu esposo", assim Ezequiel descreve Israel como uma jovem<br />

abandonada e adotada por Deus como Sua noiva. Nos dois episódios, os<br />

profetas utilizaram um consenso popular contemporâneo sobre beleza –<br />

uma noiva ataviada – para ilustrar a atuação da graça de Deus para com<br />

Seu povo. As referências aos enfeites das noivas foram usadas não para<br />

ensinar a validade do uso de ornamentos, mas para ilustrar a beleza do<br />

amor redentor de Deus.<br />

Uma situação semelhante aparece na parábola do homem rico e de<br />

Lázaro, que era baseada no conceito popular errôneo de que ao<br />

morrerem, os salvos iam para o seio de Abraão e os perdidos para o fogo<br />

eterno do inferno (Lucas 16:19-31). Nessa parábola Jesus utilizou esse


Qual a Roupa Certa? 44<br />

conceito popular, não para ensinar algo sobre a vida dos salvos e<br />

perdidos após a morte, mas para enfatizar a importância de usar as<br />

oportunidades que Deus nos dá na vida presente para determinar nosso<br />

destino futuro.<br />

Ao interpretarmos parábolas ou pregações alegóricas, é importante<br />

lembrar duas coisas. Primeiro, precisamos procurar a verdade<br />

fundamental, lembrando que os detalhes freqüentemente funcionam<br />

como "impulsores" para a história. No caso de Ezequiel 16, o ensino<br />

fundamental é que Israel desonrou as bênçãos (ornamentos) que Deus<br />

lhe deu e consequentemente provocou seus juízos sobre si. Segunda,<br />

detalhes de parábolas ou alegorias não devem ser usados para formular<br />

doutrinas. Somente o ensino fundamental delas, confirmado pelo<br />

princípio geral das Escrituras, deve ser considerado como base doutrinária.<br />

Revelarão Progressiva<br />

Outro princípio importante para ser lembrado é o da natureza<br />

progressiva das revelações de Deus. Mesmo que algumas passagens<br />

alegóricas do Velho Testamento pareçam falar favoravelmente ao uso de<br />

jóias, não quer dizer necessariamente que Deus aprove tal prática.<br />

Precisamos lembrar que nem tudo o que era permitido no Velho<br />

Testamento refletia o ideal de Deus para o Seu povo.<br />

Exemplos típicos são a poligamia e o divórcio, que eram permitidos<br />

nos tempos do Velho Testamento devido à insubordinação e à teimosia<br />

dos israelitas. Não verificamos condenação explícita de tais práticas no<br />

Velho Testamento. Mas ao chegarmos ao Novo Testamento, onde Cristo<br />

nos revela mais amplamente o plano de Deus para nossa vida,<br />

encontramos explícita condenação para o divórcio e a poligamia como<br />

indo contra o ideal de Deus para Seu povo. Veremos que o mesmo<br />

princípio de revelação progressiva é aplicado ao uso de ornamentos –<br />

uma prática condenada implicitamente no Velho Testamento (Gênesis


Qual a Roupa Certa? 45<br />

35:1-4; Êxodo 33:1-6; Isaías 3:16-21) e explicitamente no Novo<br />

Testamento (I Tim. 2:9, 10; I Pedro 3:3, 4).<br />

"Pintada Como Jezabel"<br />

Várias passagens no Velho Testamento falam sobre o uso de<br />

cosméticos, especialmente a pintura dos olhos. Tais cosméticos eram<br />

normalmente usados para atrair amantes ilícitos. Talvez o episódio mais<br />

conhecido referente ao uso de cosméticos coloridos, seja o de II Reis<br />

9:30, onde nos é dito o que Jezabel fez no último momento de sua vida:<br />

"E Jeú veio a Jizreel, o que ouvindo Jezabel, se pintou em volta dos<br />

olhos, e enfeitou a sua cabeça, e olhou pela janela." (II Reis 9:30). Desse<br />

texto nasceu a expressão "pintada como Jezabel".<br />

O contexto da passagem é a chegada do rei Jeú em Jizreel, depois<br />

de ter matado o filho de Jezabel, Jorão, rei de Israel, e o neto dela,<br />

Acazias, rei de Judá. Jezabel já ouvira as notícias, e ela sabia que seria a<br />

próxima. Em atitude de desafio, ela se preparou para sua hora final<br />

pintando os olhos e adornando sua cabeça. Ela usou todos os seus<br />

enfeites porque desejava parecer mais sedutora. Então tomou sua posição<br />

na janela, provavelmente sobranceira ao pátio interior do palácio, e<br />

esperou Jeú entrar. Mas Jeú não foi enganado. Quando penetrou no pátio<br />

e viu Jezabel na janela saudando-o altivamente, falou aos seus eunucos<br />

para a lançarem abaixo, o que eles fizeram. (II Reis 9:33) Que morte<br />

vergonhosa!<br />

O adorno exterior de Jezabel não era de nenhuma utilidade diante<br />

de Jeú ou de do tribunal de Deus. "Pó e pintura não cobrem a íntima<br />

corrupção do coração, nem seda ou cetim escondem horrorosas máculas<br />

da alma. Jezabel era corrupta interiormente, a despeito de seus esforços<br />

de embelezamento exterior. Deus olha para o coração e pede adornos<br />

interiores em lugar dos exteriores. (I Ped. 3:3) (19)" A sedutora aparência<br />

final de Jezabel, obtida com cosméticos e jóias, era coerente com os<br />

determinados esforços de toda a sua vida, para atrair os israelitas à


Qual a Roupa Certa? 46<br />

idolatria. Por essa razão seu nome tornou-se um símbolo de sedução na<br />

história bíblica. (Apoc. 2:20)<br />

A Alegoria das Duas Mulheres<br />

Outra passagem do Velho Testamento que fala do uso de<br />

cosméticos, é a alegoria das duas mulheres relatada em Ezequiel 23. O<br />

nome de uma delas é Oolá, que representa Samaria, e da outra é Oolibá.<br />

que representa Jerusalém (Ezequiel 23:4). Ambas eram prostitutas que<br />

não estavam satisfeitas com seus próprios maridos (Jeová), assim iam em<br />

busca de outros homens (falsos deuses). "Mandaram vir uns homens de<br />

longe; fora-lhes enviado um mensageiro, e eis que vieram; por amor<br />

deles te banhaste, coloriste os olhos e te ornaste de enfeites." (Ezeq.<br />

23:40). Quando esses homens chegaram, "... puseram braceletes nas<br />

mãos delas e, na cabeça, coroas formosas... assim passaram a freqüentar<br />

a Oolá e a Oolibá, mulheres depravadas." (Ezeq. 23:42 e 44). A alegoria<br />

encerra o anúncio do julgamento divino sobre as mulheres e suas<br />

famílias.<br />

Como Jezabel, Oolá e Oolibá pintaram seus olhos e adornaram-se<br />

com enfeites, para serem sedutoras e levar os homens a cometerem<br />

adultério com elas. Nessa alegoria, o propósito dos cosméticos e<br />

ornamentos é seduzir outros e levá-los ao adultério, que resulta em<br />

apostasia.<br />

A Mulher Desolada<br />

Como Ezequiel, Jeremias usa a alegoria de uma mulher sedutora<br />

vestida de escarlate, com ornamentos e olhos pintados, para representar a<br />

politicamente abandonada Israel, tentando em vão atrair seus primeiros<br />

aliados idólatras. "Agora, pois, ó assolada, por que te fazes assim e te<br />

vestes de escarlate, e te adornas com enfeites de ouro, e alargas os olhos


Qual a Roupa Certa? 47<br />

com pinturas, se debalde te fazes bela? Os amantes te desprezam, e<br />

procuram tirar-te a vida." (Jer. 4:30)<br />

Os exemplos citados acima revelam um padrão consistente.<br />

Mulheres que pintam sua face com cosméticos estavam sempre tentando<br />

seduzir os homens, conduzindo-os ao adultério. Elas não desejavam agir<br />

modestamente. Não estavam satisfeitas com seus próprios maridos, e<br />

assim pintavam suas faces e enfeitavam-se com ornamentos para seduzir<br />

outros homens. "Se Israel não pode atrair a espécie de atenção que<br />

deseja, então distorcerá sua verdadeira beleza, pintando sobre ela um<br />

rosto falso. Seus olhos ampliados atrairiam os adúlteros espirituais à sua<br />

tenda." (20)<br />

O sedutor e excessivo uso de cosméticos nos exemplos mencionados<br />

não deveriam ser interpretados como uma aberta condenação do uso de<br />

qualquer forma de maquiagem. As mulheres dessas passagens pintavam<br />

excessivamente suas faces para se parecerem sedutoras e sensuais. Isso<br />

não significa que a mulher cristã não deva usar qualquer cosmético para<br />

disfarçar imperfeições da pele. A chave é a intenção. Se os cosméticos<br />

são usados para pintar o rosto e criar um visual artificial que é sedutor e<br />

sensual, então seu uso é obviamente errado. Mas se os cosméticos são<br />

usados judiciosamente para cobrir imperfeições e realçar a beleza<br />

natural, então são aceitáveis.<br />

Conclusão<br />

O Velho Testamento freqüentemente associa o uso de jóias e<br />

cosméticos excessivos com sedução e adultério. Tal associação<br />

implicitamente revela a condenação divina de seu uso. Devemos<br />

lembrar-nos de que na Bíblia Deus nos revela Sua vontade para nossas<br />

vidas, não apenas por preceitos, mas também por exemplos. Os muitos<br />

negativos exemplos de sedução, adultério, apostasia, e punição divina,<br />

que resultaram do uso de jóias, cosméticos em excesso e vestidos<br />

luxuosos, constituem uma solene advertência a nós. Eles nos advertem


Qual a Roupa Certa? 48<br />

contra cobrir nossos pecaminosos corpos com jóias e extravagantes ou<br />

sedutores vestidos. Quando Jesus vem em nossas vidas, Ele não nos<br />

cobre com ornamentos perecíveis, mas restaura nosso ser total com as<br />

imperecíveis riquezas de Sua graça.<br />

Referências do Capítulo II<br />

1. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (Washington. D.C.,<br />

1940), págs. 310 a 311.<br />

2. Edgar Haulotte, Symbolism du Vêtement selon la Bible (Lyon,<br />

França, 1966), pág. 7.<br />

3. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge,<br />

ed. 1970, verbete "Dress and Ornament, Hebrew" (vol. 4, pág. 5).<br />

Para uma discussão dos cultos da Nova Era e seus símbolos<br />

ornamentais, ver Texe Marrs. New Age Cults and Religions<br />

(Austin, Texas, 1990): ver também os relevantes registros em<br />

George A. Mather e Larry. A. Nichols, editores. The Dictionary<br />

of Cults, Sects, Religions and the Occult (Grand Rapids, 1993).<br />

4. Joseph Jensen, Isaiah 1 a 39, Old Testament Message<br />

Commentary (Wilmington, Delaware, 1984), pág. 69.<br />

5. Carl Wilhelm Eduard Nagelsbach, The Prophet Isaiah<br />

Theologically and Homiletically Expounded (New York, 1906),<br />

pág. 73.<br />

6. O significado parece ser não tanto andar "com a cabeça alta",<br />

mas "com a cabeça voltada para o lado", para ver se sua<br />

elegância é notada ou não. Para uma discussão, ver John D. W.<br />

Watts, Isaiah 1 a 33, Word Biblical Commentary (Waco, Texas,<br />

1955). pág. 45<br />

7. Franz Delitzsch, Biblical Commentary e Prophecies of Isaiah<br />

(Grand Rapids, 1960). pág 144.<br />

8. Idem, pág. 145.


Qual a Roupa Certa? 49<br />

9. John D. W. Watts, Isaiah 1 a 33, Word Biblical Commentary<br />

(Waco, Texas, 1955). pág. 46.<br />

10. Madelynn Jones-Haldeman. "Adorning the Temple of God"<br />

Spectrum 20 (dezembro de 1989), pág. 50.<br />

11. Richard M. Davidson. "The Good News of Yom Kippur",<br />

Journal of the Adventist Theological Society 2 (outubro de 1991),<br />

pág. 18.<br />

12. Idem, pág. 17.<br />

13. Idem, pág. 18.<br />

14. Walter C. Kaiser, Old Testament Ethics (Grand Rapids, 1983),<br />

pág. 283.<br />

15. R. E. Francis com George E. Vandeman, God Believes in<br />

Jewelry. (Boise, Idaho, 1954).<br />

16. The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington,<br />

D.C., 1954), vol. 1, págs. 650, 651.<br />

17. Idem, pág. 645.<br />

18. Ibidem.<br />

19. The Seventh-day Adventist Bible Commentary (Washington,<br />

D.C., 1954), vol. 2, pág. 909.<br />

20. David Neff, "How to Be a Christian and Look Good", Insight, 05<br />

de março de 1974, pág. 8.


Qual a Roupa Certa? 50<br />

VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NO NOVO TESTAMENTO<br />

O<br />

s homens que se queixam que as mulheres hoje em dia gastam<br />

muito tempo diante do espelho, maquiando-se, ornando-se de<br />

jóias e enfeitando seus corpos, deveriam sentir-se consolados em saber<br />

que nos tempos do Novo Testamento, a situação era pior. Por quê?<br />

Simplesmente por causa das mulheres das classes média e alta que<br />

tinham pouco mais que fazer do que passar o tempo. Elas não poderiam<br />

trabalhar em escritórios públicos, e não tinham nenhum trabalho fora de<br />

casa, não recebiam nenhum prêmio por realizações acadêmicas ou<br />

profissionais. Assim, despendiam seu tempo embelezando-se e<br />

colocando todas as suas expectativas na Sua aparência.<br />

O poeta romano Lucius Valerius respondeu aos moralistas que<br />

denunciaram as mulheres por seus extravagantes trajes e ornamentos,<br />

perguntando: "Por que deveriam os homens recriminar as mulheres por<br />

seus ornamentos e vestuários? As mulheres não podem ocupar cargos<br />

públicos, ou o sacerdócio, ou ganhar projeção em qualquer área; elas não<br />

têm ocupação pública. O que, então, podem elas fazer, senão dedicar seu<br />

tempo para o adorno e a vestimenta?" (1). Essas perguntas revelam uma<br />

verdade fundamental, ou seja, as pessoas que condescendem com<br />

adornos excessivos normalmente não têm objetivos mais elevados para<br />

ocupar suas mentes.<br />

Foi neste mundo de luxúria e decadência moral que nasceu o<br />

cristianismo. Uma nova classe média tinha emergido com as riquezas<br />

dos despojos de guerra. Eles queriam reafirmar seu novo status social<br />

através do uso de vestimentas custosas e abundância de jóias. Essa era a<br />

realidade tanto para homens como para mulheres. De fato, como<br />

veremos no capítulo seis, alguns homens tinham seus dedos tão cheios<br />

de anéis que eles só podiam usar as mãos para dar ordens aos seus<br />

servos. Foi nesse contexto social de contraste entre luxúria e pobreza que<br />

os cristãos foram chamados a viver sua fé. Não é incomum encontrar no<br />

Novo Testamento admoestações para que procuremos a beleza interna do


Qual a Roupa Certa? 51<br />

coração, com um espírito manso e quieto, ao invés do adorno exterior do<br />

corpo por meio de penteados elaborados, ouro, pérolas e trajes custosos.<br />

Objetivo do Capítulo<br />

Neste capítulo queremos examinar minuciosamente as admoestações<br />

apostólicas de Paulo e Pedro com respeito a vestimentas e adornos.<br />

Veremos que suas palavras contêm princípios fundamentais para os<br />

cristãos modernos. Antes de examiná-las, queremos por um momento<br />

estudar os atavios das duas mulheres simbólicas mencionadas em<br />

Apocalipse: A Grande Prostituta, e a Noiva de Cristo. Analisaremos o<br />

contraste entre a aparência exterior das duas mulheres e suas implicações<br />

para os padrões cristãos de vestimentas e ornamentos.<br />

A Grande Prostituta<br />

No livro de Apocalipse, João nos oferece um contraste entre dois<br />

tipos de adornos exteriores, através do simbolismo de duas mulheres,<br />

uma pura e a outra a "Grande Prostituta". A mulher pura representa a<br />

igreja verdadeira, que é a "noiva" do Cordeiro. Ela se prepara para o<br />

noivo e convida outros para se prepararem para "a festa de casamento do<br />

Cordeiro" (Apoc. 19:9). Em contraste, a grande prostituta representa o<br />

poder apóstata político-religioso do fim dos tempos; ela seduz os<br />

habitantes da Terra e os leva a cometer fornicação espiritual com ela.<br />

Como Jezabel, ela desfruta uma alegria sádica em derramar o sangue dos<br />

mártires, à semelhança do que faz um bêbado ao encher o seu copo de<br />

vinho ("Eu vi a mulher embriagada com o sangue dos santos" Apoc. 17:6). O<br />

contraste entre as duas mulheres é dramaticamente retratado através de<br />

sua aparência exterior. João viu a grande prostituta "vestida de púrpura e<br />

escarlate, e adornada com ouro e jóias e pérolas, segurando em sua mão<br />

um copo de ouro cheio de abominações e das impurezas de suas<br />

fornicações; e em sua testa estava escrito um nome de mistério


Qual a Roupa Certa? 52<br />

'Babilônia a grande mãe das prostitutas e das abominações da terra' e vi<br />

que a mulher estava embriagada do sangue dos santos e do sangue das<br />

testemunhas de Jesus" (Apoc. 17:4-6).<br />

Essa descrição vívida da grande prostituta nos lembra a descrição<br />

profética de Israel apóstata, enfeitada com ornamentos como uma mulher<br />

adúltera, "prostituindo-se" após os deuses pagãos (Ezeq. 23:30; 16:15;<br />

Isa. 23:17). Ela está vestida de púrpura e escarlate, as cores da luxúria e<br />

do esplendor da realeza. Escarlate na Bíblia também é a cor do pecado<br />

(Isa. 1:18; Apoc. 17:3). Ela está abundantemente adornada com ouro,<br />

jóias e pérolas. Em sua mão segura um copo dourado, e do qual faz os<br />

seus amantes beberem. O atraente copo dourado serve para seduzir os<br />

povos para se unirem à sedutora prostituta em seus perversos caminhos.<br />

É dito que a mulher tem um nome em sua testa. Autores romanos<br />

como Sêneca (2) e Juvenal (3) dizem-nos que em suas testas as<br />

prostitutas usavam um enfeite portando seus nomes. Esses enfeites com<br />

os nomes inscritos, eram a marca registrada das prostitutas. Esse é um<br />

outro detalhe vívido, usado para que possamos entender em sua<br />

amplitude, a depravação da grande prostituta.<br />

A colocação do Apocalipse, onde a grande prostituta usa<br />

ornamentos de ouro, jóias e pérolas para realizar seus propósitos<br />

sedutores, representa uma condenação implícita do seu uso. Isso é<br />

condizente com o padrão que temos verificado no Velho Testamento. A<br />

associação negativa de ornamentos com um estilo de vida sedutor e<br />

adúltero, deveria servir como um freio contra o uso desses artigos pelos<br />

cristãos.<br />

A Noiva de Cristo<br />

Em contraste com a grande prostituta ricamente adornada com ouro,<br />

jóias, pérolas e roupas extravagantes, a noiva de Cristo é adornada<br />

modestamente com linho fino puro sem ornamentos exteriores:<br />

"Regozijemo-nos, e alegremo-nos, e demos-Lhe glória; porque vindas


Qual a Roupa Certa? 53<br />

são as bodas do Cordeiro, e já a sua esposa se aprontou. E foi-lhe dado<br />

que se vestisse de linho fino, puro e resplandecente; porque o linho fino<br />

são as justiças dos santos" (Apoc. 19:7, 8). João explica que o linho fino<br />

que vestia a noiva representa os atos de fiel obediência dos santos.<br />

A idéia de ser vestida com "atos de justiça" é muito sugestivo;<br />

veremos mais adiante que Paulo usa as mesmas imagens para descrever<br />

os ornamentos apropriados da mulher cristã (I Tim. 2:10). O significado<br />

dessa ilustração não é que os remidos se vestiram com vestimentas<br />

nupciais brancas e puras através de seus próprios atos de justiça. As<br />

vestimentas nupciais lhes foram dadas ("e foi-lhe dado que se vestisse"),<br />

e não conseguidas através de seus próprios esforços. Ainda assim deve<br />

ser notado que as vestimentas nupciais são outorgadas como um dom<br />

divino àqueles que exerceram resistência firme, que tenham guardado os<br />

mandamentos de Deus e perseverado na fé de Jesus (Apoc. 14:12).<br />

A pureza de caráter dos santos é revelada externamente, não através<br />

de ouro, jóias e pérolas, mas pelo vestido de linho fino e puro. Notemos<br />

que não apenas a noiva, mas até mesmo a grande multidão dos remidos<br />

que estão perante o trono de Deus, estão "vestidas com vestes brancas'"<br />

(Apoc. 7:9), sem ornamentos exteriores. As vestes brancas não foram<br />

conseguidas através dos atos de justiça dos remidos, mas são resultado,<br />

de serem eles lavados "no sangue do cordeiro".<br />

Relevância para os Nossos Dias<br />

Dificilmente deixaríamos de entender a lição ensinada pela<br />

aparência exterior dessas duas mulheres. Deus viu que era apropriado<br />

representar o caráter delas através de suas vestimentas porque, como<br />

vimos anteriormente, nossas roupas revelam quem nós somos. A mulher<br />

impura está vestida extravagantemente e adornada com ornamentos<br />

dispendiosos, simplesmente porque tais adornos encaixam-se bem com a<br />

representação de seu orgulho interno e esquemas sedutores. Em<br />

contraste, a mulher pura está vestida com simplicidade e modéstia, sem


Qual a Roupa Certa? 54<br />

ornamentos exteriores, simplesmente porque tais vestimentas<br />

apropriadamente representam sua humildade e pureza internas.<br />

A pergunta a ser feita hoje é: qual das duas mulheres devia servir<br />

como modelo para o nosso código de vestuário cristão? Se escolhermos<br />

o modo de se vestir da noiva de Cristo, que representa a Sua igreja à qual<br />

pertencemos, então, à semelhança dela, mostraremos a nossa pureza e<br />

consagração internas através da simplicidade e modéstia de nossa<br />

aparência exterior.<br />

Paulo e o Adorno da Mulher Cristã<br />

O contraste entre os trajes da grande prostituta apocalíptica e os<br />

trajes da noiva de Cristo aparece também nas exortações pastorais de<br />

Paulo e de Pedro. Ambos enfatizam o contraste entre os modos cristão e<br />

mundano de se adornar. As exortações que apresentam merecem<br />

cuidadosa atenção não somente porque nos fornecem alguns princípios<br />

fundamentais quanto à maneira cristã de se vestir, mas também porque<br />

nos mostram a condenação explícita do uso de jóias e vestimentas<br />

extravagantes.<br />

Paulo aborda a questão de como a mulher cristã se deve adornar<br />

dentro do contexto de sua instrução sobre a conduta na adoração pública.<br />

Depois de instruir a parte masculina da congregação a orar publicamente<br />

"levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade", isto é, com<br />

sinceridade e boa vontade para com todos, Paulo volta a sua atenção para<br />

a conduta feminina em cultos públicos: "[Eu desejo] que as mulheres, em<br />

traje decente, se ataviem com modéstia e bom senso, não com cabeleira<br />

frisada e com ouro, ou pérolas, ou vestuário dispendioso, porém com<br />

boas obras (como é próprio às mulheres que professam ser piedosas)". (I<br />

Tim. 2:9-10).<br />

Alguns questionam a relevância dessas instruções para os cristãos<br />

na atualidade, porque entendem que elas foram dirigidas exclusivamente<br />

para a situação existente em Éfeso. Como abordo essa questão no sexto


Qual a Roupa Certa? 55<br />

capítulo do meu livro Women in the Church (Mulheres na igreja), indico<br />

a todos os leitores interessados que leiam esse capítulo para maior<br />

esclarecimento. Porém, para atender à finalidade do estudo deste livro,<br />

simplesmente direi que até mesmo uma leitura superficial de I Timóteo é<br />

suficiente para mostrar que as instruções de Paulo foram dirigidas, não<br />

apenas à igreja local de Éfeso, mas à igreja cristã como um todo. Como a<br />

epístola foi escrita por causa da necessidade criada pela influência<br />

destruidora de falsos mestres 1:3-6; 6:3-5), a preocupação de Paulo não<br />

era rebater, com detalhes, o falso ensino desses mestres, mas sim<br />

explicar à congregação, bem como aos seus líderes e ao próprio Timóteo,<br />

como os cristãos devem viver vida santa em face de ensinos heréticos e<br />

de uma sociedade depravada.<br />

Adorno Correto<br />

O contraste, nessa passagem, acontece entre o adorno da mulher<br />

cristã que professa uma fé e o da mulher mundana, cuja única ocupação<br />

é atrair a atenção para si própria. A frase, "mulheres se ataviem" sugere<br />

que Paulo não está condenando o adorno em si, contanto que ele seja do<br />

tipo adequado. A vontade de se apresentar bem perante os outros não é<br />

errada quando bem usada.<br />

Deus não condena os verdadeiros ornamentos. Ele colocou<br />

abundantemente neste mundo coisas que não são apenas úteis, mas<br />

também belas. As tonalidades das flores, a plumagem dos pássaros, o<br />

pêlo dos animais, a beleza do corpo humano com sua graciosa face,<br />

lábios bem formados e olhos brilhantes, tais coisas são de natureza<br />

ornamental, porque vão além daquilo que seria apenas útil. Deus poderia<br />

ter criado todos os frutos e vegetais na cor verde, mas Ele escolheu para<br />

eles as mais variadas cores, a fim de que nos provessem não apenas<br />

alimento, mas também beleza.<br />

O verdadeiro adorno, ou a maneira própria de se adornar é aquela<br />

que permite que a pessoa expresse seu ser real. Deve haver uma


Qual a Roupa Certa? 56<br />

consistência entre a vida interior da pessoa e sua aparência externa. Dar a<br />

impressão de humildade perante Deus enquanto ostenta um adorno<br />

extravagante é hipocrisia. O traje que usamos deve refletir a profissão<br />

que fazemos de procurar primeiro o reino de Deus em nossa vida.<br />

Paulo esclarece a natureza do adorno apropriado usando três<br />

palavras significativas: "Modestamente, com decência e bom senso". Um<br />

exame mais detalhado dessas três palavras no original grego, podem<br />

auxiliar-nos a apreciar mais profundamente os princípios fundamentais<br />

da vestimenta própria para o cristão, que são relevantes para os cristãos<br />

de nossos dias.<br />

Vestir-se Modestamente<br />

A primeira palavra grega que Paulo usou para caracterizar a<br />

maneira apropriada da mulher cristã se adornar é kosmios, traduzida na<br />

maioria das versões como "modestamente". O ponto fundamental na<br />

palavra kosmios é bem-ordenada, apropriada, dignificante. O seu<br />

significado vem da ordem manifestada no kosmos, isto é, no Universo de<br />

Deus. O bem ordenado adorno do Universo que Deus escolheu é um<br />

modelo para seguirmos em nossa aparência exterior. No que diz respeito<br />

às vestimentas, kosmios "quer dizer aquilo que é bem ordenado,<br />

decoroso, apropriado". (4)<br />

O Dicionário Teológico do Novo Testamento explica que kosmios<br />

"descreve a pessoa que disciplina a si mesmo e que pode assim sei<br />

considerada como genuinamente moralista e respeitável".(5) A<br />

autodisciplina interna e a atitude humilde da mulher cristã, transpareceu<br />

exteriormente através de uma maneira bem ordenada, digna e apropriada<br />

de se vestir. "Paulo era suficientemente perspicaz para saber," escreveu<br />

Donald Guthrie, "que a maneira de se vestir de uma mulher é um espelho<br />

de sua mente. A ostentação externa não condiz com uma abordagem de<br />

devoção e oração".(6) De maneira semelhante, Ellen White escreveu: "o<br />

caráter de uma pessoa é julgado pelo seu estilo de trajar. Um gosto


Qual a Roupa Certa? 57<br />

refinado, uma mente cultivada serão revelados através de escolhas<br />

simples e apropriadas no vestir".(7)<br />

Em seu livro Personalidade Sem Limite, Verônica Dengel comenta<br />

sobre o bom gosto no vestuário, de um modo que se assemelha à<br />

admoestação de Paulo. "O bom gosto no vestuário começa com<br />

simplicidade, prossegue com compostura e culmina com conveniência<br />

para a ocasião. ... Cores aberrantemente chamativas, tecidos e confecção<br />

inferiores, combinações desarmoniosas, contribuem para revelar mau<br />

gosto. As suas roupas devem ajustar-se apropriadamente. Se forem muito<br />

largas, deixam de ser vistosas e elegantes; se forem muito apertadas, os<br />

pontos se rompem e o tecido se estica. A simplicidade deve beirar a<br />

singeleza, mas com a distinção de ter sido alcançada por um ajuste<br />

perfeito, linhas atraentes, confecção aprimorada e completa adaptação ao<br />

tipo de figura do indivíduo. A ausência de ornamentação ajuda a realçar<br />

a beleza do tecido e do corte". (8)<br />

A admoestação de Paulo para que nos vistamos de maneira<br />

modesta, ordenada e apropriada é muito importante para homens e<br />

mulheres cristãos de hoje, uma época em que a modéstia está "por fora"<br />

e a exposição explícita é adotada. Sua admoestação nos desafia a dar a<br />

devida atenção aos nossos trajes, para nos assegurar de que eles são<br />

verdadeiramente esmerados, dignificantes, bem acabados, e que refletem<br />

verdadeiramente nossos valores morais mais íntimos. Ela nos relembra<br />

de que aquilo que usamos não apenas reflete nossos gostos e valores<br />

morais, mas também afeta nossa conduta e comportamento. A vestimenta<br />

apropriada tende a encorajar um procedimento apropriado.<br />

A Modéstia Preserva a Intimidade<br />

Deus pede que nos vistamos modestamente, não apenas para<br />

prevenir-nos contra o pecado, mas também para preservar a intimidade.<br />

As pessoas que querem cometer pecado irão fazê-lo mesmo se estiverem<br />

vestidas com modéstia. Os puritanos e os vitorianos vestiam-se com


Qual a Roupa Certa? 58<br />

extrema modéstia, mas isto não os impedia de pecar. O ato de pecar<br />

apenas exigia deles um pouco mais de determinação bem como um<br />

pouco mais de tempo para se despir, mas eles conseguiam praticá-lo. O<br />

propósito da modéstia não é apenas evitar desejos lascivos, mas também<br />

preservar algo que é muito frágil mas fundamental para a sobrevivência<br />

do relacionamento marital: a habilidade de manter um profundo e íntimo<br />

relacionamento com o cônjuge.<br />

O apelo de Deus para que nos vistamos com modéstia é na<br />

realidade um apelo para proteger e preservar nossa intimidade. Essa é<br />

uma habilidade delicada e preciosa que podemos perder com facilidade<br />

se não a protegermos. Se quisermos que nosso casamento dure a vida<br />

toda, como Deus tencionava que fosse, então marido e mulher devem<br />

trabalhar em uníssono para preservar, proteger e nutrir a intimidade. No<br />

final das contas, é a modéstia que irá preservar a alegria da intimidade<br />

muito tempo depois que os sinos do casamento pararem de tocar.<br />

Orgulho da Modéstia?<br />

A admoestação de Paulo para nos vestirmos com modéstia e bom<br />

gosto, sugere que não existe mérito especial em negligenciar a aparência<br />

pessoal adotando roupas desalinhadas, assim como não existe mérito ao<br />

adotarmos o uso de ouro, jóias e pérolas. O indivíduo pode violar o<br />

código do vestuário cristão pela negligência da aparência pessoal, tanto<br />

quanto por dar atenção excessiva à ela.<br />

Alguns se vestem para exibir seus lindos trajes, pois sentem orgulho<br />

de sua aparência pessoal. Outros usam roupas extremamente simples<br />

porque querem convencer o mundo de sua humildade. Ambos os<br />

indivíduos são orgulhosos. Um deles é orgulhoso de suas roupas,<br />

enquanto o outro é orgulhoso de sua humildade. Para evitar os dois<br />

extremos, precisamos dar atenção ao primeiro princípio do adorno


Qual a Roupa Certa? 59<br />

cristão citado por Paulo: A aparência exterior deve ser alinhada decente<br />

e apropriada para que ninguém seja ofendido por ela.<br />

Vestir-se Com Decência<br />

A segunda palavra grega que Paulo usou para caracterizar o adorno<br />

apropriado da mulher cristã é aidos, que foi traduzida de maneira variada<br />

por "decoroso" "honesto" e "decente". O termo aidos ocorre apenas<br />

nesse texto do Novo Testamento, mas seu uso é freqüente na literatura<br />

judaico-helenística (grega). Seu significado essencial é "reverência" ou<br />

"respeito". O termo é usado para expressar respeito por Deus, o rei, os<br />

idosos, o vizinho, e a justiça. (9)<br />

Como pode uma mulher cristã mostrar reverência e respeito por<br />

Deus, pelos outros e por si própria através de seus trajes? Vestindo-se<br />

com decência e sensibilidade, sem causar vergonha ou constrangimento,<br />

Deus, a si mesmo e aos outros. Cada uma das traduções mencionadas<br />

acima adiciona uma nuança ao significado básico do adorno reverente.<br />

Os vários significados complementam-se mutuamente e nos ajudam a<br />

entender mais completamente o que quer dizer vestir-se reverentemente.<br />

A admoestação de Paulo para que nos vistamos com reverência é<br />

especialmente relevante para os cristãos hoje, quando as modas<br />

modernas rejeitam a reverência e o respeito como base para relações<br />

humanas construtivas. A preocupação da moda moderna é vender seus<br />

produtos pela exploração do poderoso impulso sexual próprio ao corpo<br />

humano, mesmo que para isso tenham que colocar no mercado roupas<br />

indecentes que apenas alimentam o orgulho e o apetite sexual.<br />

A mulher cristã é chamada a vestir-se decentemente não para que<br />

seja menos atraente, mas para preservar e proteger algo frágil que pode<br />

ser facilmente perdido: sua capacidade de ter intimidade com seu<br />

marido, e a experiência que enriquece a vida de ambos. A razão para<br />

vestir-se com modéstia e decência é semelhante à razão para trancar uma<br />

casa. Nós trancamos a casa para proteger o que está dentro dela, e com


Qual a Roupa Certa? 60<br />

isto mantemos as pessoas que não pertencem a casa do lado de fora. De<br />

maneira semelhante, os cristãos devem vestir-se com modéstia è<br />

decência para proteger e preservar a intimidade do relacionamento<br />

matrimonial, pelo impedimento de intrusos vindos de fora. As roupas<br />

podem produzir reações íntimas: os nossos mais profundos sentimentos<br />

de amor, a expressão cheia de paixão de nossa sexualidade, a revelação<br />

de nosso ser íntimo. Tais reações pertencem ao relacionamento<br />

matrimonial.<br />

O propósito da modéstia e decência no trajar não é esconder-nos da<br />

vista dos outros, mas preservar a nossa intimidade para o nosso cônjuge.<br />

A modéstia e a decência devem ser respeitadas até mesmo entre marido e<br />

mulher. Uma exposição indecente mesmo dentro do casamento pode<br />

destruir o respeito mútuo e a capacidade de desfrutar uma união íntima<br />

de mente, corpo e alma.<br />

Exposição Indecente<br />

Mary Quant, a criadora da minissaia e a mais famosa estilista<br />

britânica das roupas femininas, diz que seu alvo é "vestir as mulheres de<br />

tal maneira que os homens sintam vontade de arrancar a cobertura<br />

delas".(10) Ela cria roupas que causem impacto porque ela acredita que<br />

"se as roupas não te fazem notado, então eu as considero como<br />

desperdício de dinheiro".(11) Ela criou o ditado: "Bom gosto é morte; a<br />

vulgaridade é vida".(12) Quando lhe foi perguntado: "Qual é o objetivo<br />

da moda e para onde ela está se direcionando?" Mary Quant respondeu<br />

prontamente: "sexo".(13)<br />

Em uma entrevista concedida publicada na revista Newsweek, Mary<br />

Quant explicou, em palavras tão cruas que se torna difícil citá-las. o que<br />

a mini-saia representa para ela: "Sou a única mulher que já desejou ir<br />

para a cama com um homem no meio da tarde. Qualquer mulher de bons<br />

modos, espera até que anoiteça. Bem, há muitas garotas que não querem<br />

esperar. As mini-roupas são simbólicas desse tipo de garotas".(14) A


Qual a Roupa Certa? 61<br />

sedução é também um dos alvos da linha de cosméticos que ela cria:<br />

"Toda esta decoração é colocada para seduzir um homem para ir para a<br />

cama, assim qual é a razão para retirá-la".(15)<br />

Essa admissão irreverente vinda de uma líder da moda, revelando<br />

que alvo da moda moderna nas vestimentas e cosméticos é seduzir e<br />

apelar à sensualidade, torna imperativo aos cristãos atender à admoestação<br />

de Paulo para que nos vistamos com decência, bom senso e sem trazer<br />

vergonha e constrangimento a Deus, a si mesmo e aos outros. Uma<br />

mulher cristã precisa lembrar-se de que o seu charme reside não só<br />

naquilo que ela revela mas também naquilo que ela esconde. Uma<br />

mulher que veste para exibir seus encantos físicos e sexuais, encoraja os<br />

homens a tratá-la como um objeto sexual. Vestindo-se com modéstia e<br />

decência, uma mulher pode evitar ser tratada como objeto sexual e ainda<br />

realçar qualidades espirituais de que o nosso mundo pecador tanto<br />

carece.<br />

Este é o tempo para mostrar coragem: coragem para lutar contra a<br />

vulgaridade na moda; coragem para desafiar o mau gosto reinante em<br />

nossa época; coragem para distinguir entre os caprichos da moda<br />

mutante e o estilo equilibrado que permanece; coragem para reconhecer<br />

que "a obediência à moda está, mais do que qualquer outro poder,<br />

conseguindo separar o nosso povo de Deus" (16), coragem para rejeitar<br />

as imposições sedutoras da moda e para aceitar o conselho de Deus de<br />

nos vestimos reverentemente. Este é o tempo para que os cristãos tenham<br />

coragem de aceitar o segundo princípio do adorno cristão expresso pelo<br />

apóstolo Paulo: A aparência exterior deve ser decente, dignificada,<br />

mostrando respeito por Deus por nós mesmos e pelos outros.<br />

Vista-se Sobriamente<br />

A terceira palavra grega que Paulo usou para caracterizar o adorno<br />

apropriado da mulher cristã é sophrosune, que em português é traduzida<br />

por "sobriamente", "com propriedade", "com vestimentas apropriada".


Qual a Roupa Certa? 62<br />

Essas diferentes traduções revelam a dificuldade dos tradutores de<br />

encontrar o significado conveniente de uma palavra grega que não têm<br />

um sinônimo correspondente na língua portuguesa.<br />

A palavra sophrosune é uma composição de duas palavras, "sadia<br />

(sos)" e "mente (phrenes)". Em essência essa palavra denota um estado<br />

de vigilância mental, isto é, o uso da mente para exercitar restrição,<br />

autocontrole. Nesse contexto do adorno cristão, a palavra é usada para<br />

transmitir a idéia de que mulheres cristãs devem exercer autocontrole,<br />

reprimindo qualquer desejo de usar roupas ou jóias que chamem a<br />

atenção. Como Albert Barnes explica: "A palavra usada aqui significa,<br />

com mais propriedade, sanidade; após esse significado prioritário, quer<br />

dizer também sobriedade mental, moderação de desejos e paixões.<br />

Encontra-se em oposição a tudo o que é, frívolo, e tudo que induz à<br />

excitação das paixões. A idéia é que, em sua maneira de vestir bem como<br />

em seu comportamento, as mulheres não deveriam violar o mais atrito<br />

decoro". (17)<br />

Não é de surpreender que, no grego, a palavra sophrosune que<br />

significa sobriedade e autocontrole mental, era considerada como "uma<br />

das virtudes cardeais". (18) Na verdade, é a atitude mental de<br />

autocontrole que determina todas as outras virtudes. Também não é de<br />

surpreender que, assim como Paulo, os gregos moralistas freqüentemente<br />

associavam sophrosune (autocontrole mental) com aidos (decente,<br />

comportamento respeitoso). (19) A razão para tal associação é óbvia.<br />

Todos os comportamentos decentes e respeitosos do exercício do<br />

autocontrole.<br />

Essa informação ajuda-nos a valorizar a admoestação de Paulo que<br />

as mulheres se vistam não apenas com modéstia (kosmios) e decência<br />

(aidos), mas também com sobriedade, com mente sóbria (sophrosune)<br />

Como os gregos moralistas, o apóstolo, reconhece que uma aparência<br />

externa decente e bem ordenada é o resultado de um autocontrole<br />

mental, isto é, um refrear racional e determinado dos desejos<br />

pecaminosos de exibir o nosso orgulho através de um adorno ostensivo.


Qual a Roupa Certa? 63<br />

A maneira como vivemos a vida cristã é grandemente determinada<br />

pela maneira como pensamos. "Porque, como imagina em sua alma<br />

assim ele é" (Provérbios 23:7). Paulo reconhece o papel determinante da<br />

mente sobre o estilo de vida. Em sua epístola aos Romanos, ele roga aos<br />

cristãos que não se conformem com o mundo e que sejam transformados<br />

à imagem de Deus "através da renovação da vossa mente (Romanos<br />

12:2). A renovação da mente é essencial para resistir à pressão de<br />

conformar-se com a moda sedutora de nossos dias.<br />

Paulo retrata a mulher cristã convertida como alguém que pratica i<br />

domínio próprio (sophrosune) em sua maneira de se adornar. Seu desejo<br />

não é exibir-se mas refletir a vida isenta de egoísmo de Cristo. Sua<br />

vestimenta não diz: Olhem para mim, admirem-me! Pelo contrário diz:<br />

Vejam como Cristo tem-me transformado, começando pelo meu interior.<br />

Essa visão apostólica da mulher cristã mostra alguém que exerce<br />

autocontrole por recusar chamar a atenção para si através do uso de roupas<br />

e ornamentos ostensivos, e por usar em seu lugar, roupas asseadas, de bom<br />

gosto, decentes e dignas – é particularmente aplicável à nossa época. A<br />

moda atual reina suprema, e a grande maioria dos homens e mulheres<br />

prestam-lhe culto em seu altar. Muitos cristãos seguem tão fielmente as<br />

mudanças de estação da moda, que estão dispostos até mesmo a sacrificar<br />

suas necessidades básicas para se vestirem com roupas e ornamentos da<br />

moda. Eles querem assemelhar-se aos manequins que ocupam as revistas<br />

femininas. Assim fazendo, revelam a sua insegurança interior. Não estão<br />

satisfeitos em ser o que realmente são; assim querem parecer-se com<br />

alguma outra pessoa que admiram. O que parecem esquecer é que a<br />

imagem feminina retratada nas revistas femininas não é a imagem que o<br />

reino de Deus retrata. Se deixarmos nossa vida ser guiada pelos ditames das<br />

mudanças da moda, não estaremos buscando em primeiro lugar o reino de<br />

Deus.<br />

Para resistir à tirania da moda sedutora, precisamos dar atenção ao<br />

terceiro princípio do adorno cristão: Vistam-se sobriamente, refreando<br />

qualquer desejo de usar roupas ou jóias que chamem a atenção para o eu.


Qual a Roupa Certa? 64<br />

Ornamentos Impróprios<br />

Para que não haja dúvida quanto ao que ele queria dizer através da<br />

admoestação: vistam-se de maneira ordeira, decente e sóbria, Paulo<br />

adiciona uma lista de quatro tipos de ornamentos impróprios para a<br />

mulher cristã: "não com estilos de cabelo elaborados, não embelezadas<br />

com ouro ou pérolas, ou roupas custosas, mas com boas obras como<br />

convém às santas mulheres" (I Tim. 2:9, 10). A lista começa com "estilos<br />

elaborados de cabelo" porque no mundo judeu e romano daquela época,<br />

as mulheres empregavam muito tempo no cuidado de seus cabelos,<br />

arranjando-os de várias formas, de acordo com a moda prevalecente.<br />

Enfeitavam seus cabelos com palhetas de fios de ouro ou tecidos bem<br />

trabalhados. Não nos é dito se a mulher romana gostava de usar os<br />

intrincados prendedores de cabelos de doze centímetros de comprimento<br />

criados em Corinto. "Havia tantas maneiras de adornar o cabelo como<br />

havia abelhas em Hybla. Faziam-se ondas no cabelo, tingiam-se algumas<br />

vezes de preto, mas mais freqüentemente de ruivo. Usava-se tranças,<br />

especialmente loiras ... Arcos de cabeça, presilhas e pentes eram feitos<br />

de marfim, madeira e casco de tartaruga; algumas vezes eram fabricados<br />

em ouro e enfeitados com pedras preciosas". (20)<br />

O que Paulo condena nesse verso não é pentear o cabelo de maneira<br />

asseada e própria, mas "os estilos elaborados de cabelo", entrelaçados<br />

com ornamentos que são criados para atrair a atenção. Tal estilo<br />

contraria os princípios do adorno cristão expostos aqui pelo apóstolo<br />

Paulo.<br />

Os próximos dois ornamentos impróprios mencionados por Paulo<br />

são "ouro e pérolas". Havia abundância de anéis brilhantes, bem como<br />

braceletes, enfeites para os tornozelos e brincos de pérolas que eram<br />

usados pelas mulheres seguidoras da moda. O apóstolo escreve<br />

enfaticamente contra o seu uso, porque esses itens refletem vaidade<br />

pessoal e exaltam o eu, práticas que não se coadunam com seu apelo aos


Qual a Roupa Certa? 65<br />

cristãos para serem modestos, decentes e sóbrios em seus adornos<br />

exteriores.<br />

O último ornamento impróprio mencionado por Paulo é "roupas<br />

custosas". Alguns tipos de roupa eram extremamente caras na época de<br />

Paulo. "A púrpura era a cor favorita para as roupas. Meio quilo de lã de<br />

púrpura do melhor tipo, importada de Tiro e tingida duas vezes, custava<br />

1.000 denários". (21) Considerando que um trabalhador não-especializado<br />

ganhava um denário por dia, isso representava o salário três anos de<br />

trabalho. Mesmo esse custo tão elevado não impedia as mulheres<br />

abastadas de comprar roupas e ornamentos excessivamente caros. "Em<br />

Roma, Plínio informa-nos de uma jovem, Lollia Paulina, cujo vestido de<br />

noiva custou o equivalente a 482 mil libras (cerca de USS 1.600.000)".(22)<br />

Não é de surpreender que os moralistas condenavam vestimentas<br />

extravagantes e custosas, tanto quanto Pedro e Paulo o faziam. Por<br />

exemplo, Quintiliano, o mestre romano de oratória escreveu: "Uma<br />

vestimenta de bom gosto e de aparência magnífica adiciona dignidade a<br />

quem a usa, mas trajes efeminados e luxuosos deixam de adornar o<br />

corpo, e passam a revelar apenas a sordidez da mente". (23)<br />

Paulo falou contra o uso de roupas custosas porque elas refletem<br />

vaidade, futilidade e vazio do indivíduo, bem como objetivos voltados ao<br />

eu, e algumas vezes um desejo de receber atenção imprópria do sexo<br />

oposto. Tais atitudes não são condizentes com seu apelo para a modéstia,<br />

decência e sobriedade na maneira do cristão se vestir.<br />

A menção de roupas custosas sugere vestimentas que precisam de<br />

um grande esforço para serem adquiridas. Gastos que ultrapassem o que<br />

alguém ganha, são incompatíveis com os princípios da mordomia cristã.<br />

Isso não quer dizer que roupas caras são apropriadas apenas àqueles que<br />

têm condição de comprá-las, porque como John Wesley enfatiza,<br />

"Nenhum cristão tem condição de desperdiçar qualquer pane dos talentos<br />

que Deus lhe Confiou.... Cada centavo que você economiza de suas<br />

próprias vestimentas, pode gastá-lo em vestir o nu, e em aliviar as várias<br />

necessidades dos pobres, a quem 'sempre tendes convosco'. Portanto,


Qual a Roupa Certa? 66<br />

cada centavo que você gasta desnecessariamente em sua vestimenta é na<br />

realidade um roubo daquilo que pertence a Deus e aos pobres". (24)<br />

Os Ornamentos Apropriados<br />

Depois de enumerar quatro ornamentos impróprios à mulher cristã,<br />

Paulo se apressa em mencionar os apropriados, que são "boas obras,<br />

como é próprio às mulheres que professam ser piedosas" (I Tim. 2:10). A<br />

idéia de "boas obras" serem um ornamento apropriado para o cristão<br />

lembra-nos os "atos de justiça dos santos" que revestem a noiva de<br />

Cristo. (Apoc. 19:8). A noção de estar adornada com "boas obras" é<br />

altamente sugestiva, pois uma vida de atos altruístas de beneficência,<br />

pode muito bem aprimorar a aparência externa do indivíduo. Cristãos<br />

como a madre Teresa de Calcutá, que devotaram suas vidas em favor dos<br />

necessitados, desenvolveram uma atração externa tão cativante que<br />

mesmo um caminhão lotado de pérolas não poderia produzir. "O adorno<br />

de uma mulher, em resumo, não reside no que ela coloca sobre si, mas<br />

no serviço amoroso que produz". (25)<br />

A beleza externa do serviço amoroso ("boas obras") é apropriado<br />

para mulheres que professam ser religiosas, porque seus valores são mais<br />

altos do que os das outras mulheres. As mulheres cristãs têm colocado<br />

em seus corações, não o embelezamento externo de seus corpos com<br />

ornamentos de alto custo, mas a beleza de suas almas através do amor de<br />

Deus. Elas professam ter fixado sua afeição em Cristo, seu Salvador.<br />

Elas O imitam. "Aquele que andou fazendo o bem", adornando-se com<br />

atos de benevolência. Tais ações trarão a satisfação de serem amadas e<br />

respeitadas. Nenhuma quantidade de roupas caras e jóias sofisticadas<br />

pode esconder a feiúra de uma personalidade voltada para si mesma.<br />

Paulo procurou a ligação entre a profissão interna e a prática<br />

externa. Professar fidelidade a Cristo e mesmo assim vestir-se com<br />

extravagância e imodéstia, é uma forma de hipocrisia. As mulheres


Qual a Roupa Certa? 67<br />

cristãs são mais apropriadamente adornadas através das boas obras, que<br />

correspondem à sua decisão interna em favor de Cristo.<br />

Pedro e o Adorno da Esposa Cristã<br />

O ensino de Paulo quanto ao adorno das mulheres cristãs, é em<br />

grande parte repetido por Pedro, embora em um contexto diferente.<br />

Enquanto o contexto dos ensinos de Paulo sobre o adorno cristão é o da<br />

conduta das mulheres dentro da igreja, o contexto dos ensinos de Pedro é<br />

o da conduta das mulheres dentro do lar. A marcante semelhança entre<br />

os dois ensinos serve para mostrar que os princípios da modéstia e da<br />

decência na aparência exterior, se aplicam igualmente ao lar e à igreja.<br />

Pedro deu às esposas uma admoestação dupla para ajudá-las a<br />

manter um feliz relacionamento com seus esposos e ganhá-los para<br />

Cristo, se fossem descrentes. A primeira admoestação é ter uma atitude<br />

submissa para com seu esposo, mantendo uma conduta pura e respeitosa.<br />

"Mulheres, sede vós igualmente submissas a vossos próprios maridos,<br />

para que, se eles ainda não obedecem à Palavra, sejam ganhos sem<br />

palavra alguma por meio do procedimento de sua esposa, ao observar o<br />

vosso honesto comportamento, cheio de temor" (I Pedro 3:1, 2).<br />

Assim como Paulo (I Cor. 7:13-16), Pedro não aconselha a esposa<br />

que mostrou coragem suficiente para se tomar cristã a deixar o seu<br />

marido, mas a ganhá-lo através de uma atitude submissa. Ela deve<br />

manifestar submissão, e não sermonizar, resmungar importunamente, ou<br />

argumentar procurando direitos iguais, mas através do testemunho<br />

silencioso da beleza atraente de sua vida. Desse jeito, ela pode quebrar a<br />

barreira do preconceito e hostilidade e ganhar o marido para Cristo.<br />

Atitude Submissa<br />

A noção da submissão da esposa ao marido é impopular em nossos<br />

dias, especialmente entre as feministas que entendem-na como um


Qual a Roupa Certa? 68<br />

equivalente de inferioridade. Mas a submissão prescrita é de função, e<br />

não de moral ou estado físico. Submissão funcional não significa<br />

inferioridade. Jesus era ontologicamente igual a Deus em natureza, e<br />

funcionalmente submisso para tornar-Se um servo. A submissão da<br />

esposa ao marido não é por temor ou inferioridade, mas pelo perfeito<br />

amor. Ela o faz porque ama a Cristo e alegremente aceita o seu papel e o<br />

papel do marido como cabeça do lar (Ver Col. 3:18; Efés. 5:22 e 23).<br />

A passagem sugere que alguns maridos, particularmente aqueles<br />

hostis à fé cristã ("que não obedecem à Palavra"), podem ser difíceis de<br />

agradar. Sob tais circunstâncias a fé da esposa e a devoção a Cristo<br />

ajudá-la-ão a ser submissa ao marido. Uma vez que seu marido não<br />

aceita a Palavra (o evangelho), ela lhe dá testemunho sem uma palavra,<br />

isto é, sem pregar a ele. Ela vive a Palavra diante de seu marido por seu<br />

puro e respeitável comportamento.<br />

Ornamentos Impróprios<br />

A segunda admoestação de Pedro é para as esposas ganharem os<br />

maridos para Cristo, não através de luxuosos ornamentos exteriores, mas<br />

pelo adorno interior de um espírito manso e quieto. "Não seja o adorno<br />

das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços de ouro,<br />

aparado de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração, unido<br />

ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande valor<br />

diante de Deus." (I Ped. 3:3 e 4)<br />

Nessa passagem, Pedro segue a regra de Paulo em I Tim. 2:9 e 10,<br />

contrastando o adorno exterior do corpo das mulheres mundanas, com o<br />

ornamento interior do coração das mulheres cristãs. O enfeite exterior<br />

das mulheres mundanas consiste em "frisado de cabelos, adereços de<br />

ouro e aparato de vestuário". Essa lista corresponde essencialmente à<br />

fornecida por Paulo, que nós já examinamos. Assim isso bastará para<br />

notar que ambos os apóstolos reconhecem que estilos de cabelo que


Qual a Roupa Certa? 69<br />

atraem a atenção, ornamentos deslumbrantes e vestidos custosos não são<br />

apropriados para a mulher cristã.<br />

Os Ornamentos do Coração<br />

O positivo adorno interior da mulher cristã consiste nas graças do<br />

coração, o espírito manso e quieto que é precioso à vista de Deus. É o<br />

atavio de um temperamento calmo, uma mente alegre e um coração<br />

isento de orgulho, vaidade e agitação daqueles que buscam<br />

reconhecimento através de enfeites externos. Esse é o adorno que<br />

recomendará a mulher a Deus, a seu marido e aos outros. Esse é o<br />

adorno que não depende de batons, nem de cosméticos para a pele, mas<br />

de uma alma rendida a Deus.<br />

Pedro não está querendo dizer que a esposa cristã deveria ignorar<br />

sua aparência exterior e concentrar-se na íntima beatificação de sua<br />

alma. Nenhuma esposa pode assegurar-se da permanente afeição de seu<br />

marido, se não estiver atenta à sua aparência pessoal e ao asseio de seus<br />

hábitos. Mas, o que o homem aprecia mais em sua esposa são os<br />

ornamentos do coração: suas palavras gentis, seu espírito paciente, sua<br />

calma diante das dificuldades, sua afeição pura. Assim, a mulher que<br />

deseja obter a constante afeição do marido, deveria buscar não apenas<br />

uma bela aparência exterior, mas também uma bondosa, calma e<br />

benevolente disposição interior.<br />

Pedro conclui sua exortação expondo diante das esposas cristãs um<br />

digno exemplo de notáveis esposas dos tempos do Velho Testamento<br />

que, como Sara, esposa de Abraão, cultivavam o adorno do coração e<br />

"eram submissas a seus maridos" (I Ped. 3:5). Sara demonstrava sua<br />

deferência para com Abraão, chamando-o de senhor (I Ped. 3:6)<br />

É digno de nota que Pedro e Paulo falassem sobre o adorno das<br />

mulheres cristãs, no contexto de uma atitude de submissão. Pedro apelou<br />

a uma submissa atitude imediatamente antes e depois de mencionar o<br />

adorno das esposas cristãs, enquanto Paulo o fez após discutir o


Qual a Roupa Certa? 70<br />

ornamento das mulheres cristãs (I Tim. 2:11). Isso sugere que ambos os<br />

apóstolos reconheciam que a aparência exterior é determinada pela<br />

atitude íntima do coração. Uma atitude humilde e submissa refletir-se-á<br />

em modéstia e vestuário sóbrio, enquanto que o comportamento<br />

insubordinado e orgulhoso será manifesto numa atitude imodesta,<br />

extravagante e sedutora aparência.<br />

Conclusão<br />

O Novo Testamento ensina como os cristãos devem vestir-se,<br />

utilizando alegorias e admoestações diretas. Indiretamente nós<br />

encontramos um revelador contraste entre o adorno das duas mulheres<br />

simbólicas do livro do Apocalipse, a grande meretriz e a noiva de Cristo.<br />

A mulher impura é descrita como extravagantemente ataviada e<br />

adornada com custosos enfeites, simplesmente porque seu vestuário<br />

reflete o orgulho interior e intenções sedutoras. Em contraste, a mulher<br />

pura está vestida com simplicidade e modéstia, sem ornamentos<br />

exteriores, simplesmente porque seu vestuário representa humildade e<br />

pureza interiores. Como cristãos, seguimos o exemplo da noiva de<br />

Cristo, que é a igreja à qual pertencemos, mostrando nossa pureza e<br />

santidade interiores, mediante simplicidade e modéstia em nossa<br />

aparência exterior.<br />

Descobrimos em nosso estudo que Paulo e Pedro contrastam o<br />

adequado adorno da mulher cristã, com os impróprios ornamentos da<br />

mulher mundana (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:3 e 4). Ambos os apóstolos<br />

reconhecem que os brilhantes ornamentos do corpo são inconsistentes,<br />

quando comparados com os adornos interiores do coração.<br />

Uma análise mais detida dos termos usados por Paulo revelou três<br />

importantes princípios: 1) Os cristãos devem vestir-se de um modo<br />

modesto e bem assentado, evitando os extremos; 2) Os cristãos devem<br />

vestir-se decente e dignamente, demonstrando respeito por Deus, por si<br />

mesmos e pelos outros. 3) Os cristãos devem vestir-se sobriamente,


Qual a Roupa Certa? 71<br />

contendo qualquer desejo de exibição manifesto por trajar vestes<br />

sedutoras, usar cosméticos e joalheria. A aparência exterior é um<br />

constante e silencioso testemunho de nossa identidade cristã. Ela conta<br />

ao mundo que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />

Referências do Capítulo III<br />

1. Lucius Valerius, citado por William Barclay em The Letters of<br />

James and Peter (Philadelphia, 1960, pág. 26).<br />

2. Sêneca. Controversies 1.2.<br />

3. Juvenal. Satires 6.123.<br />

4. Albert Barnes. Thessalonians, Timothy, Titus and Philemon.<br />

Notas sobre o Novo Testamento (Grand Rapids, 1955), pág, 135.<br />

5. S. Herman Sasse. "kosmios" – Theological Dictionary of the New<br />

Testament, Gerhard Kittel, ed. (Grand Rapids, 1965), vol. 3, p. 595.<br />

6. Donald Guthrie, The Pastoral Epistles. The Tyndale New<br />

Testament Commentaries (Grand Rapids, 19S3), págs. 74-75.<br />

7. Ellen G. White, Education (Mountain View, Califórnia, 1953),<br />

pág. 245.<br />

8. Veronica Dengel, Personality Unlimited (New York, 1968),<br />

págs. 366 e 367.<br />

9. Para exemplos, ver Rudolf Bultman "aidos", The Theological<br />

Dictionary of the New Testament, Gerhard Kittel, ed. (Grand<br />

Rapids, 1964), vol. 1, pág, 17.<br />

10. Steve Dougherty, "As the Hemline Rises, so do the Fortunes of<br />

Mini Mogul Mary Quant", People Weekly, 4 de abril de 1988,<br />

pág. 108.<br />

11. "The Name That Spells Moo Fashions", Business Week, 8 de<br />

junho de 196S, pág, 119.<br />

12. Idem, pág. 108.<br />

13. "Mary Quant: London's Kooly Success Story". Reader's Digest,<br />

Junho de 1967, pág. 112


Qual a Roupa Certa? 72<br />

14. "Anything Goes: Taboos in Twilight, Newsweek, 13 de<br />

novembro de 1967, pág 76.<br />

15. Ibidem.<br />

16. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1984), vol. 4, pág. 647.<br />

17. Albert Barnes (Nota 3), pág, 135.<br />

18. Ulrich Luck, "sophrosune", Theological Dictionary of The New<br />

Testament, Gerhard Friedrich, ed. (Grand Rapids, 1971), vol. 7,<br />

pág. 1099. Idem, pág. 1098.<br />

19. William Barclay (nota 1), pág. 262.<br />

20. Ibidem.<br />

21. William Barclay, The Letters to Timothy, Titus and Philemon<br />

(Philadelphia, 1960), pág. 78.<br />

22. William Barclay (nota 1), pág. 261. Barclay cita vários<br />

moralistas que condenaram o luxo no vestir.<br />

23. Albert C. Outler, ed., The Works of John Wesley (Nashville,<br />

1986), págs. 254 e 256.<br />

24. Donald Guthrie (nota 6), pág 75.


Qual a Roupa Certa? 73<br />

VESTUÁRIO E ORNAMENTOS NA HISTÓRIA CRISTÃ<br />

Q<br />

uais têm sido os padrões do vestuário e adornos cristãos no<br />

curso da história da igreja? Têm geralmente os cristãos seguido<br />

os ditames da moda ou as diretrizes da Palavra de Deus? A que extensão<br />

tem os cristãos levado os princípios de modéstia e simplicidade no vestir<br />

e adornar-se encontrados nas Escrituras? Como a atitude com relação ao<br />

vestuário e ornamentos afeta o senso de identidade e de missão da igreja?<br />

Objetivo do Capítulo<br />

Este capítulo busca encontrar as respostas a essas questões, através<br />

de breve avaliação da atitude cristã perante ornamentos e vestes, nos<br />

grandes períodos da história da igreja. Nossa pesquisa mostrará que os<br />

cristãos não têm estado imunes às modas extravagantes de seu tempo,<br />

entretanto, em cada época tem havido aqueles que se vestem com<br />

modéstia, sobriedade e decência, como cristãos piedosos. Uma<br />

importante lição que se salienta no curso de nossa pesquisa histórica, é<br />

que o reavivamento ou declínio espirituais amiúde tem-se refletido na<br />

reforma ou extravagância do vestuário dos membros da igreja. A história<br />

dos trajes e ornamentos ilustra, de muitos modos, a humana luta entre o<br />

orgulho, concupiscência e avidez de um lado, e humildade, modéstia e<br />

generosidade de outro.<br />

Primeira Parte: Trajes e Ornamentos na Igreja Primitiva<br />

O Mundo da Luxúria<br />

O cristianismo surgiu durante a idade dourada do império romano.<br />

Em 31 A.C., o imperador Augusto unificou o império ao derrotar seus<br />

competidores orientais, Marco Antônio e Cleópatra, e implantado um<br />

período de paz e prosperidade. A riqueza acumulada, proveniente dos


Qual a Roupa Certa? 74<br />

despojos de guerra, ensejou o surgimento de uma nova classe média, que<br />

exibia suas riquezas através dos luxuosos atavios e ornamentos. A antiga<br />

virtude romana da modéstia desintegrou-se sob o êxtase do luxo oriental<br />

importado. Os próprios imperadores envolveram-se nesse cortejo de<br />

devassidão. A extravagante luxúria de seu tempo foi condenada por<br />

moralistas como Cato, Sêneca, Quintiliano, Epíteto e Lúcio Valério (1).<br />

Por exemplo, o famoso orador romano Quintiliano comentou a<br />

extravagante moda de seu tempo, dizendo: "Um elegante e suntuoso<br />

vestido proporciona dignidade ao que o traja, mas vestimentas<br />

efeminadas e luxuosas fracassam em adornar o corpo e apenas revelam a<br />

sordidez da mente." (2)<br />

Enfeitar o corpo é um processo dispendioso e laborioso. Uma rica<br />

matrona (mulher casada) possuía muitos escravos treinados como<br />

cabeleireiros que podiam trabalhar em seus cabelos com pinças e tenazes<br />

de ferro aquecidas. Os cabelos eram adornados de maneiras diferentes,<br />

com fitas e broches, tranças com fios de ouro e pedras preciosas.<br />

Usavam também perucas louras. Púrpura, a cor preferida para os<br />

vestidos, era extremamente cara.<br />

"Diamantes, esmeraldas, topázios, opalas e sardônicas eram as<br />

pedras preciosas favoritas... Pérolas eram as mais procuradas. Júlio César<br />

presenteou Servília com uma pérola que hoje custaria cerca de R$<br />

80.000,00. Os brincos eram feitos de pérolas e Sêneca falou de mulheres<br />

com dois ou três "fortunas" em suas orelhas. As sandálias eram<br />

incrustadas com elas. O próprio Nero tinha uma sala cujas paredes<br />

estavam cobertas de pérolas. Plínio viu Lolia Paulina, esposa de<br />

Calígula, trajar vestes cheias de pérolas e esmeraldas que custavam, na<br />

moeda de hoje, aproximadamente, RS. 1.600.000,00."(3)<br />

A seda era tida como a mais poderosa arma de sedução, porque<br />

feita de material transparente e colante, que podia atrair a atenção. O<br />

efeito dos vestidos de seda pode ser julgado pela dura reação de Sêneca:<br />

"Ali eu vejo sedosos vestidos, se é que podem ser chamados de vestidos,<br />

que nada protegem do corpo da mulher, nem sua modéstia, impedindo-a


Qual a Roupa Certa? 75<br />

de declarar que não está nua. Esses são adquiridos por altas somas de<br />

dinheiro... de modo que as mulheres possam mostrar mais de si mesmas<br />

ao mundo, do que a seus amantes no quarto." (4)<br />

Cristãos: Semelhantes e Todavia Diferentes<br />

Foi num mundo de luxúria e decadência moral, que os cristãos<br />

primitivos foram chamados a viver e partilhar sua fé. Eles foram<br />

chamados para mostrar a pureza e a simplicidade de sua fé cristã, sendo<br />

semelhantes e todavia diferentes do resto da sociedade.<br />

Eram semelhantes porque estavam vestidos e viviam como o povo<br />

comum. Tertuliano (160-225), um influente líder da igreja, que é<br />

conhecido como o pai do cristianismo latino, respondeu à acusação de<br />

que os cristãos eram anti-sociais (misantrópicos). "Nós não somos índios<br />

bramins ou ginossofistas, que moram em florestas e se asilam da vida<br />

comum... Nós peregrinamos com vocês neste mundo, não renunciando às<br />

praças, aos açougues, aos banhos, às tendas, às fábricas, aos hotéis, nem<br />

às feiras semanais ou qualquer outro lugar de comércio. Navegamos com<br />

vocês, lutamos com vocês e lavramos o solo com vocês; da mesma<br />

maneira, unimo-nos a vocês em seus negócios – mesmo nas várias artes,<br />

tomamos pública nossas obras em benefício de vocês." (5)<br />

Entretanto, como o próprio Tertuliano expôs em grande parte de<br />

seus numerosos tratados morais, os cristãos eram diferentes por causa de<br />

sua aliança com Cristo. Eram chamados a viver neste mundo sem tomar<br />

parte de suas práticas imorais. Isso significa, por exemplo, que os<br />

cristãos não poderiam envolver-se em ocupações inconsistentes com sua fé.<br />

Em sua obra Tradição Apostólica, Hipólito de Roma (cerca de 215<br />

A.D.) mencionou algumas das ocupações proibidas aos cristãos, como:<br />

escultores e pintores de ídolos, atores e produtores de shows, gladiadores<br />

e treinadores, caçadores e shows de animais selvagens, sacerdotes e<br />

guardiões de ídolos, soldados envolvidos em combates, comandantes


Qual a Roupa Certa? 76<br />

militares, magistrados civis, prostitutos e prostitutas, encantadores,<br />

astrólogos, adivinhadores e fazedores de amuletos. (9)<br />

A diferença do estilo de vida cristão evidenciava-se através de suas<br />

vestes modestas e simples. Pedro e Paulo, como vimos, insistiam com os<br />

cristãos para não se conformarem com as modas mundanas de seus dias,<br />

embelezando-se com o frisado dos cabelos, ou ouro, pérolas ou custosos<br />

ornamentos, mas mostrassem sua separação do mundo ao adornarem-se<br />

"modesta e sensatamente, de modo próprio... como convém às mulheres<br />

que professam religião." (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:1 a 6)<br />

As Admoestações de Tertuliano<br />

O código neotestamentário de modéstia e simplicidade no vestuário.<br />

ensinado pelos apóstolos, foi seguido pelos líderes da igreja no<br />

cristianismo primitivo. Alguns exemplos servirão para ilustrar esse fato.<br />

Em 202 A.D., Tertuliano escreveu o tratado Sobre o Ornamento das<br />

Mulheres, no qual exortava as mulheres a "lançarem fora os ornamentos<br />

mundanos se desejamos os celestiais. Não amar o ouro, no qual (uma<br />

substância) estão marcados todos os pecados do povo de Israel. Vocês<br />

devem odiar aquilo que arruinou seus pais; o que era adorado por eles e<br />

os levou a abandonarem a Deus... Vão... vistam-se com os ornamentos<br />

dos profetas e apóstolos; extraiam seu testemunho da simplicidade, seu<br />

corado aspecto da modéstia: pintem seus olhos com a timidez e a boca<br />

com o silêncio; implantem em seus ouvidos a Palavra de Deus,<br />

colocando no pescoço o jugo de Cristo... Vistam-se com a seda da<br />

honradez, o fino linho da santidade, a púrpura da modéstia. Assim<br />

ornados, vocês terão a Deus como Amante!" (7) Ele aprovava as<br />

mulheres belas, bem vestidas e cuidadosas com seus cabelos e pele. O<br />

que condenava eram os vestidos sedutores e os ornamentos aplicados<br />

para atrair a atenção.<br />

Tertuliano reconhecia que os homens não estão excluídos das<br />

"ilusórias imposturas" dos vãos enfeites. Menciona especificamente a


Qual a Roupa Certa? 77<br />

prática de alguns homens pagãos '"de arrumar os cabelos e disfarçar as<br />

cãs com tinturas, de remover todos as incipientes penugens do corpo, de<br />

fixar cada cabelo em seu lugar com alguns pigmentos femininos, de polir<br />

o resto do corpo com pó ou outro elemento." (8) Reprovava o desejo dos<br />

homens de "agradar por meio de voluptuosos atrativos" como sendo<br />

"hostis à modéstia, pois onde Deus está a modéstia está, e há sobriedade,<br />

sua auxiliar e aliada." (9).<br />

Advertências de Clemente Contra o Embelezamento do Corpo<br />

Semelhantes denúncias contra vestidos e ornamentos extravagantes<br />

foram encontradas os escritos de Clemente de Alexandria (150-215 A.D.),<br />

um contemporâneo de Tertuliano, que comandou a escola catequética de<br />

Alexandria desde 190 a 202. Em seu tratado O Instrutor, Clemente chega<br />

a descrever detalhadamente os luxuosos vestidos, as sandálias com<br />

ornamentos dourados, os estilos de cabelo trabalhado, e os inúmeros<br />

ornamentos usados pelas mulheres. Ele listou os enfeites femininos,<br />

como citados no catálogo de um satírico grego: "fitas de cabelo, filetes,<br />

natrão [carbonato de sódio natural], aço, pedra-pomes, faixas, véus,<br />

pinturas, laços de pescoço, pintura nos olhos... pendentes de orelhas,<br />

jóias, brincos; cachos de malva colorida atados aos tornozelos, fivelas,<br />

broches, colares, pulseiras, selos, correntes, anéis, pó-de-arroz,<br />

ornamentos em alto relevo, pedras de sárdio e leques." (10)<br />

Clemente admirava-se: "como podiam elas transportar tal carga,<br />

não estavam preocupadas em morrer. Ó, tolo infortúnio! Ó parva<br />

demência! Desses profetizou o Espírito através de Sofonias: 'Nem a sua<br />

prata nem o seu ouro os poderá livrar no dia da indignação do Senhor.'<br />

Mas para aquelas mulheres que têm sido preparadas por Cristo, é<br />

conveniente adornarem-se não com ouro, mas com a Palavra, através da<br />

qual apenas o ouro vem à luz." (11)<br />

De acordo com Clemente, os cristãos não devem dizer: "Eu possuo<br />

e possuo em abundância; por que então eu não poderia usufruir dela?",


Qual a Roupa Certa? 78<br />

mas antes dizer: "Eu tenho: por que eu não poderia dar àqueles que<br />

necessitam?" (12) Continuando, ele expôs o princípio da mordomia '"É<br />

monstruoso para alguém viver em luxo, enquanto muitos estão em<br />

necessidade. Quão mais glorioso é fazer o bem a muitos, viver na<br />

suntuosidade! Quão mais sábio seria gastar o dinheiro humanos do que<br />

em jóias e ouro! Quanto mais útil é adquirir ' dignos do que ornamentos<br />

sem vida!" (13)<br />

A exemplo de Tertuliano, Clemente também advertiu contra a<br />

prática pagã do embelezamento masculino dos corpos, assim como as<br />

mulheres faziam, utilizando-se de servos para massagear seu corpo,<br />

arrancando os cabelos massa de breu, e vestindo-se de trajes finos e<br />

transparentes." que recendem perfume. Ele admoestou os homens a<br />

evitarem essas vaidades e exibir a beleza real, que vem não de retirar os<br />

cabelos, mas a lascívia. "Nosso chamado cristão", disse Clemente, "é<br />

lançar fora o velho homem (não o homem grisalho, encanecido)<br />

corrompido por sua ilusória luxúria, e ser renovado (não por tinturas e<br />

ornamentos), mas em sua mente; revestindo-se do novo homem, que é<br />

segundo Deus, criado em justiça e verdadeira santidade." (14)<br />

A Exortação de Cipriano à Modéstia<br />

Semelhantes exortações são encontradas nos escritos de Cipriano<br />

(morto em 258 A.D.), bispo de Cartago. Em seu pequeno tratado Sobre<br />

as Vestes das Virgens, ele exortou as mulheres a serem modestas em sua<br />

aparência. Ele sustentava que uma mulher imodesta não pode afirmar<br />

que pertence a Cristo. "Vestindo-se de seda e púrpura, elas não podem<br />

revestir-se de Cristo; adornadas com ouro, pérolas e colares, perderam o<br />

ornamentos do coração e do espírito." (15)<br />

Cipriano apelava às mulheres como um pai, dizendo: "Permitam<br />

que sua face permaneça incorrupta, seu pescoço sem adornos, sua figura<br />

simples; não deixem fazer perfurações nas orelhas, nem que correntes de<br />

braceletes e colares cinjam seus braços ou pescoço; deixem seus pés


Qual a Roupa Certa? 79<br />

livres de faixas douradas e os cabelos não tingidos. Os olhos,<br />

merecedores de contemplar a Deus." (16)<br />

Essas exortações revelam que muitos cristãos no segundo e terceiro<br />

séculos eram influenciados pelas extravagantes e impudentes modas de<br />

seu tempo, a despeito dos constantes apelos dos líderes da igreja com<br />

respeito à modéstia e sobriedade em sua aparência. O mesmo é verdade<br />

em nosso tempo. Muitos cristãos seguem de perto os ditames da moda<br />

despojada da mínima modéstia, mais do que as diretrizes bíblicas de<br />

modéstia decência e sobriedade.<br />

A conformidade de muitos cristãos com as modas mundanas de seu<br />

tempo não obscureceria o fato de alguns cristãos terem a coragem de<br />

rejeitá-las, trajando-se de acordo com os princípios bíblicos de modéstia<br />

e decência. Os pagãos notaram a maneira simples dos cristãos se<br />

vestirem. De fato, lemos em A Paixão de Perpétua e Felicitas, que<br />

Perpétua e outras recém-batizadas mulheres foram forçadas a vestir<br />

trajes e usar ornamentos pagãos antes de sua execução na arena de<br />

Cartago, Norte da África, em 7 de março de 203. (17) Presumivelmente,<br />

por esse ato os pagãos desejam zombar da modéstia cristã.<br />

Os Decididos Apelos de Crisóstomo à Modéstia<br />

O quarto século abriu um novo capítulo na história do cristianismo.<br />

O Edito de Milão, emitido em 313 pelo "recém-convertido" imperador<br />

Constantino, pôs fim à era de perseguição e inaugurou em seu lugar uma<br />

época de proteção imperial e prosperidade financeira para a igreja.<br />

Repentinamente, milhões de pagãos clamavam por entrar na igreja,<br />

enquanto ainda mantinham seu estilo de vida pagão.<br />

Alguém poderá sentir a enormidade dos problemas, ao ler os<br />

sermões dos líderes da igreja de então. Por exemplo, João Crisóstomo,<br />

conhecido como o grande pregador da igreja primitiva, fez várias séries<br />

de sermões entre os anos 386 e 403 nas nominalmente cidades cristãs de<br />

Antioquia e Constantinopla. Nesses sermões, Crisóstomo freqüentemente


Qual a Roupa Certa? 80<br />

apelava a homens e mulheres para vestirem-se modesta e sobriamente,<br />

evitando custosas vestes e ornamentos. (18)<br />

Em um sermão sobre Hebreus 11:37 e 38, Crisóstomo, reconhecido<br />

por suas ilustrações práticas, fez um apelo à modéstia cristã, ao comparar<br />

o vestuário cristão com o pagão, através de dois diferentes elencos de<br />

dores representando em dois teatros distintos. "Àquelas, no palco, essas<br />

coisas (vestidos extravagantes e jóias) estão adaptadas, porque tais<br />

adornos lhes pertencem, e às prostitutas, àquelas que fazem tudo para<br />

serem vistas. Deixem essa beleza a elas mesmas, que estão sobre o palco<br />

ou plataforma de danças. Pois desejam atrair todos a si. Mas a mulher<br />

que professa piedade não deve embelezar-se assim, mas de modo<br />

diferente. Você tem um meio muito melhor de ser bela. Você também é<br />

um teatro belo em si mesmo. Vista-o com esses ornamentos. Que platéia<br />

o contempla? O Céu, os anjos. Falo não de virgens apenas, mas também<br />

no mundo. Todos os que crêem em Cristo têm esse teatro. Falemos tais<br />

coisas para que possamos agradar aos espectadores. Use vestes que<br />

possam agradá-los." (19)<br />

Crisóstomo deve ter estado aflito pelos extravagantes vestidos e de<br />

alguns membros de suas congregações, porque em seu sermão sobre I<br />

Timóteo 2:9 e 10, ele desceu a detalhes ao expor o uso ouro, pérolas,<br />

custosos adornos, pintura do rosto e dos olhos, e os estilos de penteados<br />

que as mulheres usavam para fazerem-se belas. Então perguntou: "Por<br />

que vocês não usam os ornamentos que O agradam: modéstia, castidade,<br />

ordem e vestuário sóbrio? O que estão trajando é meretrício e<br />

vergonhoso. Não mais podemos distinguir entre prostitutas e virgens, tal<br />

o avanço da indecência. As vestes de uma virgem não deveria ser<br />

estudado, mas simples, sem muita elaboração, mas agora esses têm<br />

muitos artifícios para torná-los notáveis. Ó, mulher, acabe com essa<br />

estultícia. Transfira tanto cuidado para sua alma, para o adorno interior.<br />

Pois os ornamentos exteriores que a cobrem, não podem torná-la bela<br />

interiormente." (20)


Qual a Roupa Certa? 81<br />

Crisóstomo destaca-se por sua coragem em denunciar a ostentação<br />

e a extravagância dos ricos e poderosos, incluindo a imperatriz Eudóxia,<br />

conhecida por sua escandalosa exibição pública de ornamentos e<br />

suntuosos vestidos. Incapaz de silenciar essas denúncias por causa das<br />

especiais garantias dadas à igreja, Eudóxia fez-lhe ridículas acusações e<br />

Crisóstomo foi condenado ao banimento em 403.<br />

A história de Crisóstomo nos lembra que pode ser custoso ao<br />

pregador ou escritor denunciar os ornamentos e os vestidos extravagantes,<br />

uma vez que tais pregações ou escritos atingem o que algumas pessoas<br />

mais apreciam: a vaidade e o orgulho.<br />

Regras das Constituições Apostólicas Sobre Modéstia<br />

Denúncias sobre a imodéstia no trajar-se aparecem também nos<br />

escritos de outros líderes da igreja como Cirilo de Jerusalém e Basil de<br />

Cesaréia. (21) Por causa da brevidade do espaço, mencionaremos apenas<br />

um documento adicional, sem título, do quarto século, extraído de uma<br />

coleção de leis eclesiásticas datadas da última parte do quarto século, e<br />

conhecidas como "As Constituições Apostólicas". Nelas encontramos<br />

diretrizes sobre o vestuário de homens e mulheres. As regras para os<br />

homens incluem o seguinte: "Não é permitido que os cabelos sejam<br />

longos, mas antes sejam cortados curtos... Tampouco vestirão finos trajes<br />

para a sedução de quem quer que seja. Nem farão, com malévola astúcia, o<br />

uso de meias e sapatos finos, mas apenas os usarão na medida da decência e<br />

utilidade. Nenhum porá um anel de ouro em seus dedos, pois todos esses<br />

ornamentos são sinais de sensualidade, que se você nutrir ansiedade a seu<br />

respeito, não estará agindo com um homem piedoso." (22)<br />

É digno de nota que os homens são apreciados não por usarem anéis<br />

dourados em seus dedos. Em vista do fato de que nos primitivos<br />

documentos, como veremos no capítulo seis, aos cristãos era permitido<br />

usar o anel de casamento, essa proibição sugere que nesse tempo a


Qual a Roupa Certa? 82<br />

aliança abrira caminho para o uso de anéis ornamentais e,<br />

consequentemente, seu uso fora proscrito.<br />

As mulheres eram instruídas a serem fiéis a seus maridos, evitando<br />

vestidos sedutores e ornamentos. "Se você deseja ser uma das fiéis, e<br />

agradar ao Senhor, ó esposa, não adicionando enfeites para sua beleza,<br />

de forma a agradar outros homens; nem gostar de se vestir com finos<br />

adornos, trajes ou calçados para atrair a outros que são fascinados por vis<br />

coisas... Não pintar seu rosto que é obra de Deus; pois não há parte em<br />

seu corpo que necessite de adornos, porquanto todas as coisas que Deus<br />

fez são muito boas. Mas o enfeite suplementar lascivo do que já é bom, é<br />

uma afronta à bondade do Criador." (23)<br />

Os testemunhos citados envolvendo os primeiros quatro séculos<br />

revelam uma consistente preocupação por parte dos líderes da igreja,<br />

para encorajar os crentes a resistir à pressão da conformidade com as<br />

indecentes modas de seu tempo. Não era fácil em meio a uma sociedade<br />

pagã sustentar o estandarte da modéstia e decência cristã nos vestidos e<br />

ornamentos. Assim também não é fácil hoje suster esse estandarte, em<br />

nossa sociedade hedonista onde a modéstia está por fora e a exposição<br />

do corpo por dentro. As boas-novas do Evangelho é que podemos fazer<br />

isso através de Cristo que nos fortalece (Filipenses 4:13).<br />

Segunda Parte: Trajes e Ornamentos na Idade Média<br />

Com a ocupação da Europa Ocidental pelas tribos germânicas, a<br />

cultura romana foi submergida ou destruída. O período que vai do quinto<br />

ao décimo século é quase um vácuo total: até o conhecimento das vestes<br />

e ornamentos cristãos foi afetado. Dois significativos desenvolvimentos<br />

destacam-se nesse período. Primeiro, as vestes do clero tomaram-se<br />

diferentes daquelas dos leigos. Segundo, a extravagância no vestir e em<br />

ornamentar-se tornou-se um problema do clero e dos nobres, antes que<br />

dos cristãos comuns. Os últimos eram geralmente muito pobres para<br />

satisfazerem-se com custosas vestes e ornamentos.


Qual a Roupa Certa? 83<br />

Durante os primeiros cinco séculos da era cristã, os vestidos do<br />

clero não eram diferentes daqueles do laicato. Uma importante razão foi<br />

a natureza democrática do cristianismo primitivo, no qual não havia<br />

distinção de classes entre clero e laicato. Mas, no sexto século as vestes<br />

civis do clero automaticamente tornaram-se diferentes dos demais<br />

cristãos. A razão é que enquanto adotava uma túnica curta, calças e o<br />

manto igual ao dos invasores teutônicos, o clero usava uma túnica longa<br />

e a toga ou pálio dos romanos.<br />

Gregório, o Grande (590-604), não permitia que qualquer pessoa<br />

que lhe estivesse ao redor se vestisse no estilo "bárbaro". Ele desejava<br />

que sua corte se vestisse com o garbo da antiga Roma. A partir do sexto<br />

século, encontramos cânones proibindo ao clero trajar-se com vestes<br />

seculares ou comuns. Alguns têm buscado derivar o traje sacerdotal das<br />

vestes usados pelos sacerdotes do Velho Testamento, mas, mesmo a<br />

Enciclopédia Católica reconhece que: '"eles antes a desenvolveram a<br />

partir das vestimentas comuns do mundo greco-romano." (24)<br />

A evolução dos trajes sacerdotais refletem o desenvolvimento do<br />

poder sacramental dos sacerdotes no altar. O ensino de que o sacerdote,<br />

na missa, transforma os elementos da Ceia do Senhor nos reais corpo e<br />

sangue de Cristo, deu-lhe poder sobrenatural e prestígio. Ao colocar as<br />

vestes litúrgicas para a celebração da missa, o sacerdote é capaz de<br />

impressionar a congregação com seu alegado divino poder. "Com as<br />

vestimentas o sacerdote recebe o 'caráter' da Divindade. Pela troca de<br />

vestidos ele multiplica a divina força enquanto exibe seus diferentes<br />

aspectos." (25) Em essência, então, as vestes litúrgicas exaltam a<br />

superioridade do sacerdote aos olhos de sua congregação.<br />

Extravagâncias Clericais<br />

O uso de vestimentas litúrgicas para permitir que os sacerdotes<br />

projetassem uma aura de divindade pode muito bem ter contribuído para<br />

sua extravagante exibição de ornamentos e trajes dispendiosos. Se o


Qual a Roupa Certa? 84<br />

sacerdote está vestido com vestes caras, adornadas com ouro e pedras<br />

preciosas no altar, porque não poderia tal luxo ser usado nas ruas? Essa<br />

nova tendência nos ajuda a compreender por que desde o sexto século<br />

em diante as admoestações pró-modéstia no vestuário e nos ornamentos<br />

são dirigidas mais aos clérigos do que aos leigos.<br />

Em outras palavras, enquanto nos primeiros cinco séculos o clero<br />

advertia aos leigos quanto a vestir-se modestamente, a partir do sexto<br />

século a classe clerical é amiúde exortada a ser modesta em sua<br />

aparência. O Dicionário de Antigüidades Cristãs destaca que o segundo<br />

Concílio de Nicéia, em 787 A.D., condena (Cânon 15) bispos e clérigos<br />

que se destacam pela riqueza e brilhantes cores de suas vestes. Assim,<br />

Tarásio, patriarca de Constantinopla (morto em 806), ordenou a seu clero<br />

que se abstivessem de suas faixas douradas e dos ornamentos brilhantes<br />

com seda e púrpura, prescrevendo-lhe faixas de pêlo de cabra e túnicas<br />

decentes. O Concílio de Aix, em 816, investiu contra os ornamentos<br />

pessoais e o esplendor das vestes dos sacerdotes, e exortou-os a não<br />

serem esplendorosos nem desmazelados." (26)<br />

Para se ter uma idéia da extravagância das vestes clericais, alguém<br />

apenas precisa olhar alguns manuscritos da Idade Média, onde os<br />

sacerdotes vestiam-se de trajes confeccionados com ouro, jóias e<br />

custosas peles. Em seu livro, Vestidos Históricos do Clero, Geo Tyack<br />

escreveu: "O número e a magnificência das capas (vestimentas clericais)<br />

acumuladas nas catedrais e nas igrejas das grandes abadias da Inglaterra,<br />

na Idade Média, é quase inacreditável. Em Canterbury, em 1315, havia<br />

mais de sessenta capas em uso regular. Em Exeter, no ano de 1327,<br />

contavam setenta e quatro. Muitas delas eram de ouro... Conrad, abade<br />

de Canterbury, doou à catedral, em 1108, uma magnificente capa<br />

bordada em ouro, e tendo orlas com cento e quarenta sinetas de prata." (27)<br />

O que foi verdade acerca da Inglaterra, também o era para o resto<br />

da Europa Ocidental. Uma visita ao Museu Tesori Vaticani (Tesouros do<br />

Vaticano) pode ser uma visão esclarecedora para qualquer que nunca<br />

tenha visto uma inestimável coleção de vestes sacerdotais bordadas em


Qual a Roupa Certa? 85<br />

ouro e cobertas de jóias. Enquanto que o povo comum vivia em pobreza<br />

e vestia trajes grosseiros, o clero tinha vida principesca, e satisfazia-se<br />

com jóias e trajes de luxo. Se a vestimenta que usamos é indicativa de<br />

nosso caráter, então as luxuosas e extravagantes vestes e ornamentos do<br />

clero medieval, dão-nos uma boa indicação de sua apostasia.<br />

No curso desta pesquisa histórica, teremos ocasião de ver outros<br />

onde o reavivamento espiritual ou o declínio da igreja é refletido na<br />

reforma do vestuário ou na extravagância de seus membros.<br />

As Novas Extravagâncias da Classe Média<br />

A situação econômico-social começou a mudar no décimo primeiro<br />

com as Cruzadas, que fracassaram em recapturar a Terra Santa mas<br />

conseguiram abater o sistema feudal e rotas comerciais para o exterior. O<br />

resultado foi o surgimento de nova classe social composta de mercadores<br />

e artesãos, que muito tornaram-se ricos. Até então havia duas classes<br />

sociais, a composta de nobres e do clero, e os pobres, feita das demais<br />

cidades. A nova classe de "príncipes-mercadores" estava ansiosa de<br />

provar sua nobreza através das posses e bens, uma vez que não poderia<br />

fazê-lo por linhagem sangüínea. Eles adotaram o luxuoso estilo de vida<br />

dos nobres, que incluía extravagância no vestir e se ornar.<br />

Em seu livro A Itália do Terceiro Século, Charles Sedwick descreve<br />

essa extravagância nos vestidos. "Mulheres da moda vestiam-se de finas<br />

linhas, seda e brocados, brincos de prata e ouro, jóias de todos os tipos,<br />

adornos e berloques. Suas túnicas eram decotadas, para escândalo das<br />

pessoas mais austeras; usavam cabelos falsos, pintavam-se e se<br />

empoavam até o grau mais deplorável.<br />

Elas se cingiam e apertavam de forma a tornar sua silhueta mais<br />

esbelta." (28) Com poucas mudanças, essa poderia ser uma acurada<br />

descrição das mulheres amantes da moda de nossos dias.


Qual a Roupa Certa? 86<br />

Leis Suntuárias<br />

A extravagância tornou-se tão universal e a cerca de proteção da<br />

igreja contra a desordenada exibição tão audaz, que certas leis, chamadas<br />

suntuárias, foram decretadas nos países europeus e nas colônias da Nova<br />

Inglaterra, para refrear a exibição ostensiva da nova classe de ricos. (29)<br />

Essas leis regulavam a aparência pessoal ditando a espécie de vestes e<br />

ornamentos que o povo deveria pôr. Penalidades foram impostas pelo<br />

Estado ou igreja. A igreja exercia poderoso controle sobre a<br />

extravagância, porque estava intrincadamente envolvida com os casos do<br />

Estado, e com a vida diária das pessoas.<br />

O paradoxo das leis suntuárias católico-romanas é que elas eram<br />

promulgadas pelos líderes da igreja que eram os próprios suntuosos e<br />

extravagantes em vestes e ornamentos. A primeira preocupação da igreja<br />

não era sustentar os princípios bíblicos de modéstia no vestir, mas<br />

manter a distinção de classes. (30) O apoio da igreja para a classe<br />

hierárquica como aquela que ditava as regras, resultou em freqüentes<br />

conflitos entre revolucionários e a igreja.<br />

Terceira Parte: Trajes e Ornamentos<br />

Desde a Reforma Até Hoje<br />

A Reforma promoveu mudanças radicais não apenas na<br />

compreensão teológica da salvação, como também no estilo de vida<br />

prático das pessoas. Os reformadores denunciavam a ostentação da<br />

Igreja Católica, e sensibilizavam a consciência do povo com respeito às<br />

regras bíblicas de modéstia e simplicidade. Eles criam que vestes e<br />

ornamentos extravagantes conduziam aos pecados do orgulho e da<br />

sensualidade, enquanto a modéstia e revelava humildade e pureza. (31)<br />

Calvino escreveu: "Os vestidos deveriam ser regulados pela<br />

modéstia e sobriedade, pois luxo e gastos imoderados surgem do desejo<br />

de exibir-se, quer por causa do orgulho, quer pelo abandono da


Qual a Roupa Certa? 87<br />

castidade." (32) Calvino cria que a solução do problema da imodéstia no<br />

vestir estava não em promulgar legislação, mas em desenvolver uma<br />

disposição humilde, porque "onde reina a ambição interior, não haverá<br />

modéstia no traje exterior." (33)<br />

Os ensinos de Calvino indubitavelmente influenciaram as leis<br />

suntuárias, que foram promulgadas em várias cidades suíças. No livro de<br />

sua autoria, Costume e Conduta nas Leis de Basiléia, Berna e Zurique,<br />

John M. Vincent mostrou uma esclarecedora pesquisa de tais leis. Por<br />

exemplo, uma ordenança da Basiléia, em 1637, detalhava em<br />

aproximadamente vinte páginas, os tipos de vestes e ornamentos que<br />

iram proibidos ou permitidos.<br />

"Mulheres de todas as classes estão evitando ouro e bordaduras<br />

douradas, enfeites de passamanaria, cordões, laços, bordaduras, ouro,<br />

prata, ou pedras preciosas, em qualquer parte de sua roupa, coletes,<br />

adornos, faixas, sapatos luxuosos, sandálias ricas, florões (adornos de<br />

cabeça), ligas, fitas e assim por diante... Nestes tempos turbulentos,<br />

homens e mulheres devem evitar colares de pérolas, ou ostentar<br />

abertamente correntes de ouro, colares ou braceletes. Trajes<br />

ornamentados com pérolas tais como golas, blusas e camisas, lenços,<br />

guardanapos, enfeites nos cabelos, botões pendentes, lenços de pescoço,<br />

não devem ser usados." (34)<br />

Ordens como essas eram comuns em quase toda a Europa. Para<br />

compreender como o povo pôde aceitar a interferência da igreja e do<br />

vida privada, devemos lembrar que tanto a igreja como o governo eram<br />

olhados e aceitos como instituições paternalistas, unidas pelo bem-estar<br />

da população. Seja o que for que possamos pensar da igreja e do governo<br />

para legislar e interferir na vida das pessoas, o fato é que essas leis<br />

revelavam respeito pelos princípios bíblicos de modéstia no trajar e uma<br />

preocupação em auxiliar o povo a viver de acordo com eles.


Qual a Roupa Certa? 88<br />

Os Anabatistas e o Vestuário Modesto<br />

O movimento reformador iniciado por Lutero, Calvino e Zwínglio<br />

teve seu passo facilitado pelos anabatistas, que foram os precursores dos<br />

menonitas, batistas, huteritas, irmãos e amish (ramo menonita fundado<br />

por Jacob Ammann). Seu objetivo era reconquistar o estilo de vida<br />

simples do cristianismo apostólico. Eles criam que não era suficiente<br />

reformar as bases teológicas da igreja, por limpá-las das heresias<br />

contrárias às Escrituras. Era necessário também reformar a igreja no que<br />

dizia respeito aos negligenciados mandamentos no Novo Testamento.<br />

Entre esses eles encontraram o mandamento de trajar-se modestamente e<br />

evitar ornamentos ostensivos.<br />

Menno Simons, o grande líder holandês dos anabatistas, que viveu<br />

no século dezesseis, escreveu repetidas vezes sobre a necessidade de<br />

praticar a simplicidade de vida, em especial acerca de vestuário e<br />

ornamentos. Ao descrever aqueles que não adotaram seriamente o ideal<br />

neotestamentário de simplicidade, registrou: "Eles dizem que crêem mas<br />

não têm limites nem fronteiras à sua amaldiçoada altivez, tolo orgulho e<br />

pompa; exibem seda, veludo, roupas caras, anéis de ouro, correntes,<br />

cintos de prata, alfinetes e broches, blusas curiosamente enfeitadas,<br />

xales, colares, véus, aventais, calçados de veludo, chinelas e semelhantes<br />

decorações tolas." (35)<br />

Esses comentários devem ser entendidos não somente em relação<br />

aos princípios bíblicos de modéstia, como também no contexto dos<br />

extravagantes trajes e ornamentos das classes ricas. Assim foi a época da<br />

Renascença, caracterizada por um estilo de vida exibicionista em<br />

vestimentas e ornamentos. Os anabatistas foram encarregados de manter<br />

o ideal bíblico de modéstia e simplicidade no vestuário. Esse encargo<br />

tem sido preservado até os nossos dias entre os seus descendentes,<br />

chamados menonitas.<br />

Em seu esplêndido estudo, Trajes Menonitas Através de Quatro<br />

Séculos, Melvin Gingerich mostrou como a fidelidade aos ensinos


Qual a Roupa Certa? 89<br />

bíblicos e tradição cristã de modéstia e simplicidade tem capacitado os<br />

menonitas a manter sua identidade e missão. Ele encerrou seu litro<br />

destacando que "o conceito de simplicidade ainda está presente entre os<br />

menonitas da Europa e da América... Se eles permanecerem fiéis à sua<br />

herança, continuarão a sustentar esse princípio de que toda a vida,<br />

incluindo sua expressão acerca da espécie de trajes a usar, deve ser<br />

levada sob o escrutínio dos padrões do Novo Testamento referentes à<br />

humildade, mordomia, modéstia e simplicidade." (36)<br />

A Lição dos Menonitas<br />

Por causa da exatidão, devemos notar que a pressão da<br />

conformidade cultural tem sido sentida mesmo entre os menonitas. John<br />

C. Wenger, um respeitado historiador menonita, observou que nem todos<br />

os grupos de menonitas têm sido capazes de manter uma atitude nãoconformista<br />

diante das modas e costumes mundanos. Na Europa e na<br />

América do Norte, há grupos de menonitas chamados "progressistas",<br />

que gradualmente estão perdendo o senso de inconformidade perante o<br />

mundo.<br />

De acordo com Wenger, dentro de tais grupos, muito do vigor<br />

interno desapareceu como resultado do processo de conformidade<br />

cultural, especialmente nas áreas de vestuário e uso de jóias. "Eles têm<br />

permitido que o processo de acomodação cultural siga avante com<br />

pequena ou nenhuma resistência, sinceramente crendo que o cristianismo<br />

não consiste em formas exteriores; no entanto têm amiúde aprendido a<br />

subestimar o poder da sociedade contemporânea para moldar os<br />

membros da irmandade segundo os mesmos tipos de caráter, crença e<br />

prática correntes na América em geral. Isso tem resultado na perda do<br />

senso da singularidade da missão, bem como de parcial submissão das<br />

doutrinas básicas no menonismo... Eles tendem a tornar-se mais<br />

semelhantes aos protestantes americanos, do que historicamente aos<br />

menonitas como têm sido sempre." (37)


Qual a Roupa Certa? 90<br />

A perda da identidade e missão que os "progressistas" menonitas<br />

têm experimentado, como resultado de seu relaxamento dos padrões<br />

cristãos, especialmente na área de vestuário e ornamentos, constitui uma<br />

advertência para todas as igrejas quanto a experimentar a acomodação<br />

cultural.<br />

Para trocar tudo isso em miúdos, o que tem acontecido com os<br />

"progressistas" menonitas pode ocorrer com os "progressistas"<br />

adventistas ou qualquer outro grupo religioso. A sobrevivência de nossa<br />

identidade e missão é grandemente dependente da maneira como<br />

vivemos nossas crenças distintivas. Isso ocorre porque nós as praticamos<br />

como um modo de reforçar aquilo que cremos. Quando indivíduos ou<br />

igrejas tornam-se permissivos no uso de jóias e vestidos imodestos, eles<br />

também tendem a tornar relativas a validade e relevância dos princípios<br />

bíblicos que governam essa área e, em última análise, dispõem de muito<br />

pouco para afirmar sua identidade.<br />

Vestidos e Ornamentos na América Colonial<br />

O movimento reformatório iniciado com Lutero e Calvino<br />

progrediu não apenas com os anabatistas como também com os puritanos<br />

e pietistas. Os puritanos buscaram purificar a igreja da Inglaterra<br />

seguindo as linhas da reforma calvinista em Genebra. Seu "programa de<br />

purificação" era semelhante àquele dos anabatistas, no sentido da<br />

oposição aos aspectos papais da adoração, tais como pomposas<br />

vestimentas, cruzes e estátuas, pregando ainda um estilo de vida sóbrio,<br />

evitando luxos e ornamentos exteriores. Alguns deles imigraram para a<br />

América, esperando poder seguir mais estritamente as práticas do Novo<br />

Testamento, sem a incômoda interferência do governo inglês. Da<br />

tradição puritana surgiram grandes pregadores como Jonathan Edwards e<br />

George Whitefield, que tiveram destacado papel do Grande<br />

Despertamento.


Qual a Roupa Certa? 91<br />

O pietismo derivou da tradição luterana alemã, como reação ao<br />

dogmatismo luterano desprovido de vida. O objetivo do movimento era<br />

proporcionar nova vida ao luteranismo, levando os cristãos a uma<br />

experiência de salvação através da devoção pessoal, estudo da Bíblia,<br />

oração e um estilo de vida simples. O pietismo causou tremendo impacto<br />

espiritual sobre milhares de cristãos na Europa, unindo-os em pequenos<br />

grupos devocionais de estudo da Bíblia e oração. Em 24 de maio de 1738,<br />

John Wesley assistiu a um desses encontros na Rua Aldersgate, onde seu<br />

"coração foi estranhamente aquecido" e sua vida radicalmente mudada.<br />

Muitos pietistas, como os puritanos, vieram para a América e<br />

fixaram-se nas colônias da Nova Inglaterra. Eles trouxeram consigo suas<br />

convicções religiosas que incluíam modéstia e simplicidade no vestuário.<br />

Leigh Eric Schmidt pesquisou os papéis que as vestes desempenhavam<br />

na vida social e religiosa da América colonial. "Os trajes, na América<br />

primitiva, auxiliaram as ordens religiosa e social; eles contribuíram para<br />

a noção de autoridade, hierarquia, comunidade e gênero. Ao mesmo<br />

tempo, as vestimentas evocavam os significados espirituais e teológicos<br />

dentro da cultura religiosa da América de então. Imagens do sábado, do<br />

ritual, do pecado, das boas obras, da pureza, escatologia e redenção, tudo<br />

era tornado vivo através das roupas." (38)<br />

O impacto da reforma do vestuário na América colonial foi tal que a<br />

Pennsylvania, por exemplo, tornou-se conhecida como "o Estado Livre".<br />

Melvin Gingerich notou que "durante os anos recentes milhares de<br />

turistas americanos têm visitado o condado de Lancaster, na<br />

Pennsylvania, para observar a vida desse segmento do 'Povo Livre' da<br />

América. Possivelmente muitos têm voltado a New York e outras<br />

cidades apenas com uma superficial compreensão do porquê desses<br />

cidadãos, cujos ancestrais já estão radicados neste país por mais de dois<br />

séculos, não terem sido completamente absorvidos pela cultura de seu<br />

tempo, mas, em lugar, têm mantido suas vestimentas simples e estilo de<br />

vida singular." (39)


Qual a Roupa Certa? 92<br />

As Seis Razões de Wesley Para a Modéstia<br />

John Wesley salientou-se dentre os muitos pietistas e puritanos que<br />

fizeram da questão dos trajes extravagantes e dos adornos, um assunto<br />

moral premente. Seus ensinos claros e persuasivos sobre vestuário<br />

serviram de base para a política dos primeiros metodistas americanos<br />

sobre o assunto. De fato, esses ensinamentos tiveram considerável<br />

influência sobre a reforma do vestuário adotada pelos adventistas do<br />

sétimo dia. Muitos de nossos pioneiros, incluindo Ellen G. White,<br />

procederam dessa experiência metodista.<br />

Os primeiros adventistas respeitaram muito os ensinos de Wesley<br />

sobre vestidos e adornos. Isso está indicado, por exemplo, na publicação<br />

do artigo "Conselhos do Sr. Wesley Sobre Vestuário Ao Povo Chamado<br />

Metodista", em 10 de julho de 1855, na Review and Herald, o órgão<br />

oficial da Igreja Adventista. Nessa matéria, Wesley apela aos metodistas<br />

para observarem naturalidade e asseio no vestir, evitando ouro, pérolas<br />

ou custosos adornos.<br />

Em um sermão intitulado "Sobre o Vestuário", feito em 30 de<br />

dezembro de 1786, John Wesley apresentou seis razões específicas por<br />

que os cristãos metodistas não deveriam enfeitar-se "com ouro, pérolas<br />

ou dispendiosos arranjos". (40) Apresentarei de modo sumário essas<br />

razões, porque ainda são relevantes para nós hoje.<br />

A primeira razão de Wesley é que o vestir trajes luxuosos e<br />

ornamentos "cria orgulho, e onde ele já está, tende a aumentar... Nada é<br />

natural do que pensar mais em nós mesmos porque estamos com roupas<br />

melhores." Ele ilustra esse ponto, desatacando o fato de que milhares de<br />

pessoas na Inglaterra, não apenas os lordes, como também honestos<br />

comerciantes, inferem "o elevado valor de suas pessoas pelo valor de<br />

suas vestes". (41)<br />

A segunda razão é que "os trajes dispendiosos tendem a originar e<br />

aumentar a vaidade. Por vaidade entendo o amor e o desejo ser<br />

admirado e louvado... Quanto mais você condescende com esse tolo


Qual a Roupa Certa? 93<br />

desejo, mais ele cresce em você. Você tem vaidade suficiente por<br />

natureza, mas, condescendendo assim com ela, multiplica-a<br />

centuplicadamente. Oh, parem ! Visem apenas agradar a Deus e todos<br />

esses ornamentos desaparecerão." (42)<br />

A terceira razão é que "'custosos adornos tendem naturalmente a<br />

produzir irritação e toda paixão turbulenta e agitada. E é em sua<br />

verdadeira conta que o apóstolo coloca 'o adorno exterior' em direta<br />

oposição ao 'ornamento de um espírito manso e quieto'. Por irritação<br />

Wesley quer dizer tensão interior, pois ele explica que o adorno exterior<br />

torna impossível experimentar a quietude interior de espírito." (43)<br />

A quarta razão é que "ornamentos dispendiosos tendem a criar e<br />

excitar a concupiscência. Aparentemente, Wesley está pensando sobre<br />

vestidos imodestos, os quais podem inflamar as baixas paixões. "Acendese<br />

o fogo que ao mesmo tempo consome você e seus admiradores." (44)<br />

A quinta razão pode ser chamada de mordomia irresponsável. O<br />

dinheiro gasto para comprar custosos adornos não pode ser usado para<br />

ornamentar-se de boas obras como vestir o nu. A aqueles que afirmam:<br />

"Eu posso ser humilde num vestido de ouro ou de pano de saco", Wesley<br />

contra-argumenta: "Se você pudesse ser humilde ao escolher um custoso<br />

ou simples vestuário (o que eu nego prontamente), não poderia estar<br />

sendo beneficente, como abundante em boas obras. Cada centavo que<br />

você poupa em seu próprio vestuário, pode gastá-lo em vestir o nu e<br />

aliviar as variadas necessidades dos pobres." (45) Wesley aprofundou-se<br />

mais nessa razão do que em outras, presumivelmente porque reconhecia<br />

a importância da mordomia cristã, a qual é negada pelo estranho gasto de<br />

dinheiro para adornos pessoais. Àqueles que afirmavam: "Mas eu posso<br />

arcar com isso tudo", Wesley respondia: "Ó, ponha de lado para sempre<br />

essas frívolas e insensatas palavras! Nenhum cristão tem condições de<br />

esbanjar qualquer parte dos recursos que Deus lhe confiou." (46)<br />

A sexta razão de Wesley é que o adorno exterior debilita<br />

totalmente "a natureza da santidade interior". "Todo o tempo em que<br />

você está concentrado no adorno exterior, a integral obra interior do


Qual a Roupa Certa? 94<br />

Espírito Santo fica paralisada; ou certamente retrocede, embora em<br />

suaves e quase imperceptíveis passos. Em lugar de desenvolver uma<br />

mente espiritual, você mais e mais reforça a mente terrena. Se você uma<br />

vez já teve companheirismo com o Pai e o Filho, ele gradualmente<br />

declina e submerge fundo num espírito mundano, em tolos, danosos<br />

desejos e abjetos apetites. Todos esses males e milhares mais, procedem<br />

de uma raiz: satisfação própria em custosos vestidos." (47)<br />

Wesley é admirável não apenas por sua pregação franca sob o<br />

sensível tema do vestuário, mas também por seu discernimento sobre<br />

como o adorno exterior afeta a obra interna do Espírito Santo. A<br />

influência da poderosa mensagem de Wesley foi sentida não somente na<br />

Inglaterra, como também na América. O próprio Wesley diz-nos que<br />

durante sua breve estada em Savannah, na Georgia, falou a uma<br />

congregação que estava bem adornada com ouro e caras vestimentas,<br />

como aquelas que havia visto em Londres. Mas como resultado de suas<br />

irresistíveis mensagens sobre o evangelho da sinceridade, uma radical<br />

mudança ocorreu. "Todas as vezes que preguei posteriormente em<br />

Savannah, não constatei nenhum ouro nem luxuosos adornos na igreja,<br />

mas a congregação, de um modo geral, estava quase que constantemente<br />

trajada de modo natural, em linho puro ou lã." (48)<br />

Phoebe Palmer Reformadora do Vestuário<br />

A reforma do vestuário teve início com Wesley e continuidade com<br />

Phoebe Palmer (1807-1874). Ela foi uma influente metodista que deu<br />

início a um reavivamento originador de várias das principais<br />

denominações evangélicas de hoje, e pôs a base para a emergência do<br />

moderno pentecostalismo. Um estudo definitivo de sua contribuição para<br />

o cristianismo na América foi lançado recentemente por Charles Edward<br />

White." (49)<br />

Como Wesley, Phoebe Palmer cria que vestimentas e ornamentos<br />

exibicionistas constituem-se um estorvo à santidade. Ela se empenhou na


Qual a Roupa Certa? 95<br />

reforma do vestuário porque cria que vestidos e adornos extravagantes<br />

denunciam um coração dividido e dispêndio inútil de dinheiro. Pregava<br />

que aqueles que usam trajes e ornamentos ilusórios são "amantes dos<br />

prazeres mais do que de Deus" (II Tim. 3:4). Suas vidas revelam que<br />

"eles são amigos do mundo e inimigos de Deus." (Tiago 4:4) (50)<br />

Ela sabia de mulheres cristãs professas que usavam jóias que<br />

custavam acima de mil dólares. Considerava tal dispêndio do dinheiro do<br />

Senhor uma prática pagã." Citando Juízes 8:24, 'Eles usavam brincos de<br />

ouro porque eram ismaelitas', ela disse que todos os que usavam ouro ou<br />

outro tipo de jóia não eram verdadeiros israelitas mas ismaelitas. Eles se<br />

purificavam ao desfazerem-se desses despojos do paganismo<br />

'enterrando-os como a família de Jacó enterrou seus ídolos e brincos em<br />

Siquém.' (Gên. 35:4)" (51) Sua pregação levou a um grande reavivamento<br />

espiritual e contribuiu com a fundação do Movimento Santidade.<br />

O Declínio da Reforma do Vestuário<br />

Desafortunadamente, as contribuições à reforma do vestuário feitas<br />

por reavivalistas como John Wesley e Phoebe Palmer têm sido<br />

grandemente esquecidas. Muitas das igrejas evangélicas que têm suas<br />

raízes nesses pioneiros, não mais defendem os padrões de modéstia no<br />

vestir ensinados por seus fundadores. Não mais observam a aparência<br />

exterior como sendo um importante indicativo do caráter cristão. Tal<br />

mudança de atitude pode ser bem observada ao compararmos os velhos<br />

com os novos manuais de igreja.<br />

A edição de 1856 do As Doutrinas e Disciplina da igreja Episcopal<br />

Metodista, editou numa seção sobre o vestuário, a seguinte questão:<br />

"Deveríamos nós insistir nas regras sobre vestimentas? Resposta: Sem<br />

dúvida. Este não é o tempo para encorajar superfluidade no vestir.<br />

Todavia, exortemos nosso povo para conformarem-se aos preceitos<br />

apostólicos, 'não com cabeleira frisada e com ouro, ou pérolas, ou<br />

vestuário dispendioso' (1 Tim. 2:9)" (52).


Qual a Roupa Certa? 96<br />

A mesma afirmação é repetida e ampliada na edição de 1880, do A<br />

Disciplina da Conexão Wesleiana Metodista da América. A sentença<br />

adicional reza: "Todavia, que ninguém seja recebido na igreja até que<br />

tenha deixado de lado o uso de ouro e ornamentos superficiais." (53)<br />

Nenhuma declaração foi encontrada nos manuais dessas igrejas a<br />

partir de 1940. (54) De fato, as seções sobre vestuário encontradas no<br />

século dezenove, foram omitidas nas edições mais recentes dos manuais.<br />

Eu perguntei a alguns ministros metodistas qual a razão para o abandono<br />

da política eclesiástica sobre vestuário e adornos. Eles me disseram que a<br />

omissão reflete um processo de acomodação cultural que afeta não<br />

apenas os metodistas, mas as igrejas cristãs em geral. O resultado dessa<br />

tendência é que mais e mais cristãos hoje adornam seus corpos com<br />

vestidos extravagantes e dispendiosas jóias, sem se dar conta dos<br />

danosos efeitos dessas coisas sobre sua própria espiritualidade interior,<br />

bem como seu testemunho de Cristo para os outros.<br />

A Reforma do Vestuário na Igreja Adventista<br />

O interesse na reforma do vestuário dentro da Igreja Adventista do<br />

Sétimo Dia desenvolveu-se a partir de duas grandes preocupações: a<br />

primeira, o compromisso espiritual com Cristo, e a segunda, a saúde<br />

física. Ellen White, uma das fundadoras da igreja, repetidamente<br />

enfatizou em seus escritos a dupla função das vestes. "No vestir-se,<br />

como em todas as outras coisas mais, é nosso privilégio honrar nosso<br />

Criador. Ele deseja que nossas vestimentas sejam não apenas asseadas e<br />

saudáveis, mas apropriadas e decentes." (55)<br />

Ellen G. White cresceu como uma estrita metodista, crendo que a<br />

aparência exterior é indicativa da condição espiritual interior. Como ela<br />

mesma colocou: "Os vestidos e seus arranjos na pessoa são geralmente<br />

tidos como sendo os identificativos do homem e da mulher. Nós julgamos<br />

o caráter de uma pessoa pelo estilo de vestuário que ela veste." (56)<br />

Quando ela primeiro denunciou o uso de saias-balão, em 1860, sua razão


Qual a Roupa Certa? 97<br />

era que "Deus deseja que sejamos um povo peculiar." (57) Foi após sua<br />

visão sobre saúde, em 1863, que ela começou a associar o tema do<br />

vestuário com saúde.<br />

A necessidade da reforma do vestuário era evidente por si mesma.<br />

As mulheres da moda usavam camadas de saias longas e anáguas,<br />

pesando quase sete quilos. As longas saias arrastavam-se na poeira e<br />

sujeira das ruas e coletando germes que o povo ignorava existirem.<br />

Espartilhos apertados torturavam o diafragma, para imprimir na silhueta<br />

feminina uma cinturinha juvenil, causando freqüentes fraquezas e danos<br />

internos. Para acrescentar afronta aos estragos já feitos, na metade de<br />

1850, um suporte de aço (semelhante a uma grande gaiola) para armar as<br />

saias apareceu, fazendo com que as mulheres americanas ficassem mais<br />

desconfortáveis e imóveis. Uma senhora com esse "equipamento"<br />

necessitava de quatro ou cinco pés (1,22 a 1,51m) de espaço ao redor, e<br />

quando estava sentada em um vagão ferroviário ou em praça pública,,<br />

essa anágua de aço propiciava indecente exposição. A despeito de sua<br />

impraticabilidade e danos à saúde, a anágua era vista como tão feminina,<br />

que uma reforma no caso tornava-se muito difícil.<br />

No início de !861, Ellen White escreveu que as anáguas de aço<br />

eram "uma das abominações da terra, da qual Deus desejava livrar-nos<br />

totalmente." (58) Em 1865, com a ajuda de algumas irmãs em Battle<br />

Creek, Ellen desenhou um estilo de vestido que tencionava manter a<br />

feminilidade da mulher, enquanto libertava os quadris e a cintura das<br />

saias que se arrastavam pelo chão. Esse consistia de calças leves, afiladas<br />

nos tornozelos, para prover aquecimento às pernas. Sobre as calças havia<br />

uma saia cuja barra alcançava a base da barriga da perna, e uma túnica.<br />

Essa era sustida por alças a partir dos ombros, à maneira de<br />

suspensórios, ou abotoada na cintura, eliminando assim anáguas,<br />

espartilhos e faixas apertadas.<br />

Ellen White recomendava essa vestimenta, mas não insistia sobre<br />

ela. Não pretendia que fosse um uniforme, mas um modelo de uma<br />

simples e confortável veste. Muitas adventistas o adotaram, mas outras


Qual a Roupa Certa? 98<br />

opuseram-se a ele, porque elas estavam muito ligadas aos estilos<br />

vigentes. Houve constante controvérsia sobre o exato comprimento do<br />

vestido. Após quatro ou cinco anos, Ellen White reconheceu que a<br />

reforma do vestuário havia-se tornado divisora e estava subtraindo a<br />

atenção de causas mais importantes. Ela desistiu da idéia de promover<br />

qualquer estilo em particular, instando as mulheres adventistas a<br />

"adotarem um vestido simples, de comprimento decente... livre de<br />

desnecessários ornamentos e de laços e fitas sobre as saias." (59)<br />

Os conselhos de Ellen White sobre vestuário são típicos de seu<br />

equilíbrio e da preocupação de fazer tudo para honra de Deus. Ela<br />

apelava às mulheres adventistas, dizendo: "Vistam-se as nossas irmãs<br />

com simplicidade, como muitas fazem, tendo as vestes de material bom e<br />

durável, apropriado para esta época, e não permitam que a questão do<br />

vestuário lhes encha a mente. Nossas irmãs devem vestir-se com<br />

simplicidade. Devem trajar-se com roupas modestas, com modéstia e<br />

sobriedade. Dai ao mundo uma ilustração viva do adorno interior da<br />

graça de Deus." (60)<br />

Conclusão<br />

Esta breve pesquisa histórica mostrou que vestes e ornamentos têm<br />

sido importantes evidências de declínio ou reavivamento espiritual da igreja<br />

durante o curso de sua história. Descobrimos que em tempos de<br />

prosperidade e frouxidão moral, muitos cristãos adotaram as extravagantes<br />

modas de seu tempo, arrazoando que a fé cristã não consiste em aparência<br />

exterior. Eles subestimaram o poder das modas mundanas para moldar seu<br />

caráter de acordo com os valores seculares da sociedade. O resultado dessa<br />

acomodação cultural tem sido o desaparecimento do vigor espiritual, a<br />

subversão das doutrinas bíblicas tais como a modéstia no vestir, e a perda<br />

da identidade e da missão da igreja.<br />

Há mais de um século, Ele G. White descreveu com visão profética<br />

o que tem brotado desta breve pesquisa histórica: "Em cada época, a


Qual a Roupa Certa? 99<br />

maioria dos professos seguidores de Cristo tem desatendido àqueles<br />

preceitos que ordenam modéstia e simplicidade na conversação, no<br />

comportamento e no vestir. O resultado tem sido o mesmo – abandono<br />

dos ensinos do evangelho, que conduz à adoção das modas, costumes e<br />

princípios do mundo. A piedade vital cede lugar ao formalismo morto. A<br />

presença e o poder de Deus são retirados daqueles amantes do círculos<br />

mundanos, são encontrados com a classe de humildes adoradores, que<br />

estão dispostos a obedecer aos ensinos da Palavra Sagrada. Através de<br />

sucessivas gerações esse curso tem sido seguido. Uma após outra,<br />

diferentes denominações têm surgido e, rendendo sua simplicidade, têm<br />

perdido em grande medida seu poder inicial." (61)<br />

Através dos séculos a linha de demarcação entre a igreja e o mundo<br />

tem sido amiúde manchada, quando os cristãos têm-se conformado com<br />

o mundo no comer, beber, vestir-se, adornar-se, divertir-se, divorciar-se<br />

e casar novamente. Essa é uma particular verdade hoje em dia, porque,<br />

como Robert St. Clair notou: "Nossa distorcida cultura cria um fetiche de<br />

tais ídolos, como perfeição da beleza e talento, e ela adora o status,<br />

superioridade de prestígio e as eminentes alturas do poder monetário.<br />

Quando a igreja se adapta ao casaco justo do paganismo, a linha entre<br />

igreja e mundo torna-se crescentemente confusa." (62)<br />

A menos que a linha de demarcação entre o mundo e a igreja seja<br />

mantida, essa pode facilmente tornar-se uma típica Hollywood,<br />

sociedade de mútua admiração na qual os membros se encontram uma<br />

vez por semana para saudar- se uns aos outros em suas roupas de última<br />

moda, jóias, carros, passatempos e férias. Mas a igreja existe não para<br />

dar ao mundo uma pancadinha nas costas, mas antes para salvá-lo.<br />

Referências do capítulo IV<br />

1. Para seus comentários, ver William Barclay, The Letters of<br />

James and Peter (Philadelphia, 1960), págs. 261 a 263.<br />

2. Quintiliano, como citado por William Barclay (nota ), pág. 261.


Qual a Roupa Certa? 100<br />

3. Idem, págs. 262, 263.<br />

4. Citado por Michael e Ariane Batterberry, Fashion, The Mirror of<br />

History (New York. 1982), pág. 52.<br />

5. Tertuliano, Apology 42, The Ante-Nicene Fathers, edit.<br />

Alexander Roberts e James Donaldson (Grand Rapids, 1973),<br />

vol. 3, pág. 49.<br />

6. Hipólito, Apostolic Tradition 15, 10-12, como discutido por<br />

Robert M. Grant, Augustus to Constantine, The Thrust of the<br />

Christian Movement into the Roman World (New York, 1970),<br />

pág. 264.<br />

7. Tertuliano, On the Apparel of Woman 13, The Ante-Nicene<br />

Fathers, (Grand Rapids, 1973), vol. 4, pág. 25.<br />

8. Tertuliano, On the Apparel of Woman 8, idem, pág. 22.<br />

9. Ibidem.<br />

10. Clemente de Alexandria, The Instructor 213, The Ante-Nicene<br />

Fathers, (Grand Rapids, 1979), vol. 2, pág. 269.<br />

11. Ibidem.<br />

12. Idem, pág. 268.<br />

13. Ibidem.<br />

14. Clemente de Alexandria, The Instructor 3,3 (nota 10), págs. 275<br />

a 276.<br />

15. Cipriano, On the Dress of Virgins, 12, The Ante-Nicene Fathers,<br />

Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids, 1971),<br />

vol. 5, pág. 433.<br />

16. Cipriano, On the Dress of Virgins, 12, (note 15), pág. 435.<br />

17. The Passion of Perpetua and Felicitas, 18.<br />

18. Ver, por exemplo, Works of St. Chrysostom, Homily 89 sobre<br />

Mateus 28:62 a 64. A Select Library of the Nicene and Post-<br />

Nicene Fathers of the Christian Church, Phillip Schaff, ed.<br />

(Grand Rapids, 1971), vol. 10, pág. 528. E também Homily 8<br />

sobre 1 Timóteo 2:8 a 10, vol. 13, págs. 433 e 434.


Qual a Roupa Certa? 101<br />

19. Crisóstomo, Works of St. Chrysostom, Homily 38, Hebreus 11:37<br />

e 38, A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of<br />

the Christian Church, Phillip Schaff, ed. (Grand Rapids, 1978),<br />

vol. 14, pág. 496.<br />

20. Crisóstomo, Works of St. Chrysostom, Homily 8, I Tim. 2:9 e 10,<br />

A Select Library of the Nicene and Post-Nicene Fathers of the<br />

Christian Church, Phillip Schaff, ed. (Grand Rapids, 1979), vol.<br />

13, pág. 434.<br />

21. Cirilo de Jerusalém. Catecheses 4; Basil de Cesaréia, Reg. Fusius<br />

Tract. Interrog. 22.<br />

22. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 2, The Ante-Nicene<br />

Fathers, Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids,<br />

1970), vol. 7, pág. 392.<br />

23. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 3, (nota 22), pág. 395.<br />

24. The Catholic Encyclopedia, 1908, ed. s.v. "Vestments".<br />

25. The Encyclopedia of Religion and Ethics, 1914 ed. s.v. "Dress".<br />

26. A Dictionary of Christian Antiquities, 1880, ed. s.v. "Dress".<br />

27. Geo S. Tyack. Historic Dress of Clergy (London, 1897), págs. 31<br />

e 32.<br />

28. Charles Sedwig, Italy in the Thirteenth Century, citado por Frank<br />

Alvah Parson, The Psychology of Dress (New York, 1922), págs.<br />

25 e 26.<br />

29. As três grandes obras que provêem informações básicas sobre as<br />

leis suntuárias são: Kent Roberts Greenfield, Sumptuary Law in<br />

Nurberg (Baltimore, 1948); John Martin Vincent, Costume and<br />

Conduct in the Laws of Basel, Bern and Zurich, 1300- 1800<br />

(Baltimore, 1935); Baldwin Frances E., Sumptuary Legislation<br />

and Personal Regulation in England (Baltimore, 1926).<br />

30. Para discussão, ver P. Binder, Muffs and Morals, (London,<br />

1953).<br />

31. A. M. Tyrrel, "The Relationship of Certain Cultural Fact's" do<br />

Women's Costume in Boston, Massachusetts, from 1720-1740,


Qual a Roupa Certa? 102<br />

"Master's Thesis" (Virginia Polytechnic Institute and State<br />

University, 1975), págs. 51-59.<br />

32. John Calvin, The Epistles to Timothy, Titus and Philemon, trans.<br />

William Pring (Grand Rapids, 1948), pág. 66.<br />

33. Ibidem.<br />

34. John Martin Vincent (nota 29), pág. 56.<br />

35. The Complete Writings of Menno Simons (Scottsdale, PA, 1956)<br />

36. Melvin Gingerich, Mennonite Attire Through Four Centuries<br />

(Breinigsville, Pennsylvania, 1970), pág. 158.<br />

37. John Christian Wenger, The Mennonite Encyclopedia<br />

(Scottsdale, Pennsylvania, 1956), págs. 103 e 104.<br />

38. Leigh Eric Smith, "A Church-going People are a Dress-loving<br />

People, Clothes Communication and Religious Culture in Early<br />

America," Church History 58 (março de 1959), pág. 14.<br />

39. Melvin Gingerich, (nota 36), pág. 1.<br />

40. Albert C. Outler, ed., The Works of John Wesley (Nashville,<br />

1956), vol. 3, págs. 247 a 261.<br />

41. Idem, pág. 25).<br />

42. Idem,, pág. 252.<br />

43. Ibidem.<br />

44. Idem, págs. 253 e 2í4.<br />

45. Idem, pág. 254.<br />

46. Idem, pág. 256.<br />

47. Idem, págs. 256 e 257.<br />

48. John Wesley, The Works of John Wesley, A.M., 14 vols., I<br />

(London, 1872), vol. 1, pág. 474.<br />

49. Charles Edward White, The Beauty of Holiness: Phoebe Palmers<br />

as Revivalist, Feminist and Humanitarian (Grand Rapids, 1966).<br />

50. Idem, pág. 150.<br />

51. Ibidem.<br />

52. The Doctrines and Discipline of the Methodist Episcopal Church<br />

(New York, 1856), vol. 1, pág, 474.


Qual a Roupa Certa? 103<br />

53. The Discipline of Wesleyan Methodist Connection of America<br />

(Syracuse, New York, 1880), pág. 116.<br />

54. Não há nenhuma seção tratando de vestuário em 1944 e<br />

subseqüentes edições do The Doctrines and Discipline of the<br />

Methodist Episcopal Church.<br />

55. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), 1954, pág.<br />

413.<br />

56. Ibidem.<br />

57. Ellen G. White, Um Christian Experience, Views and Labors<br />

[Spiritual Gifts, vol. 2] (Battle Creek, 1860), págs. 13 e 14.<br />

58. Ellen G. White, carta a Mary Loughborough, como citado por<br />

Richard Schwartz, Light Bearers to the Remnant (Boise, Idaho,<br />

1979), pág. 111.<br />

59. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

California, 1948), vol. 4, pág, 640.<br />

60. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), 1954, pág.<br />

414.<br />

61. Ellen G. White, Messages to Young People (Washington D. C.,<br />

1930), pág. 354, citado em Review and Herald, 6 de dezembro de<br />

1881.<br />

62. Robert James S. Clair, Neurotics in the Church (Westwood, New<br />

Jersey, 1963), pág. 20.


Qual a Roupa Certa? 104<br />

A QUESTÃO DA ALIANÇA<br />

D<br />

everiam os cristãos usar aliança? Poderia um simples anel de<br />

casamento cair na categoria dos ornamentos impróprios de<br />

ouro e pérolas mencionados por Paulo e Pedro (I Tim. 2:10; I Ped. 3:3)?<br />

Essas questões têm criado intermináveis controvérsias em minha própria<br />

Igreja Adventista do Sétimo Dia, bem como em outras igrejas.<br />

Parte do problema é que o debate sobre a aliança tem sido<br />

largamente baseado em fortes sentimentos pessoais antes que sobre uma<br />

clara compreensão das questões envolvidas. Aqueles que estão a favor<br />

do uso da aliança sentem que para eles o anel é um símbolo valioso de<br />

seu estado marital e compromisso, bem como uma proteção contra os<br />

possíveis pretendentes. Por outro lado, aqueles que se opõem sentem que<br />

um anel de ouro é um ornamento proibido pelas instruções apostólicas<br />

contra o uso de ouro ou pérolas ou dispendiosos ornamentos" (I Tim.<br />

2:10; conf. I Ped. 3:3).<br />

O Objetivo Deste Capítulo<br />

Minha meta neste capítulo é não colocar em julgamento aqueles que<br />

usam ou os que não usam aliança; antes é analisar toda a questão do anel<br />

de casamento a partir de perspectiva ampla, histórica, cultural e bíblica.<br />

O capítulo tenta prover algumas informações básicas sobre a evolução<br />

do significado, do uso e influência dos anéis nas histórias de Roma pagã<br />

e da igreja cristã. Daremos especial atenção ao impacto religioso da<br />

aliança da vida das igrejas cristãs. Esses dados proverão uma base para<br />

reflexão do que é aconselhável ou não para o cristão usar aliança de<br />

casamento hoje. (1)<br />

Devo confessar que este capítulo ocasionou-me muito exame<br />

íntimo. Vindo da Itália, um país onde o uso da aliança é considerado<br />

imperativo, um signo de fidelidade ao cônjuge, eu abordei o estudo com<br />

fortes convicções pessoais, condicionadas por minha educação cultural.


Qual a Roupa Certa? 105<br />

Devo admitir que minhas convicções têm sido alteradas como resultado<br />

de leitura e reflexão sobre a evolução e impacto sócio-religioso da<br />

aliança na história pagã e cristã. Apresento minhas descobertas e<br />

reflexões, não para ajuizar a quem quer que seja, mas para prover ampla<br />

base objetivando determinar qual deveria ser a atitude cristã diante do<br />

problema.<br />

l. A Aliança na História Pagã<br />

Origem da Aliança<br />

A história da aliança está descrita na própria forma do anel: sem<br />

começo e sem fim. Ninguém pode dizer ao certo quando ela teve início.<br />

A aliança parece ter se originado com os antigos egípcios, evoluindo a<br />

partir do selo ou sinete. Porque o selo era um sinal de poder, seu<br />

portador era tido como uma pessoa de grande autoridade. Um<br />

personagem real, desejando delegar seu poder a algum de seus oficiais,<br />

entregava-lhe seu anel-sinete. Esse ato capacitava o subordinado a<br />

expedir ordens com plena autoridade real. Encontramos um bom<br />

exemplo dessa prática em Gênesis 41:42: "Então tirou Faraó o seu anel<br />

de sinete da mão e pôs na mão de José." (Ver também Ester 8:2).<br />

A transformação do anel-sinete em ornamento parece ter ocorrido<br />

também no Egito. As mulheres egípcias ricas usavam anéis de ouro em<br />

diferentes dedos. As classes pobres utilizavam anéis de materiais mais<br />

baratos, tais como prata, bronze, vidro ou cerâmica revestida com silício<br />

vitrificado e vários óxidos de cobre nas cores verde e azul. (2)<br />

Gregos, etruscos e romanos eram refinados mestres na arte de fazer<br />

anéis ornamentais. Durante o período da república romana (449 a 31<br />

a.C.), apenas anéis de ferro eram usados pela maioria dos cidadãos.<br />

Escravos eram proibidos de usar anéis. Tal política de austeridade<br />

chegou a um final no começo do período imperial (cerca de 31 A.D.).<br />

Anéis de ouro foram fabricados, mas o direito de usá-los estava restrito


Qual a Roupa Certa? 106<br />

aos embaixadores e depois ampliado aos senadores, cônsules e principais<br />

oficiais do estado.<br />

Diversas leis foram promulgadas durante o período de Roma<br />

imperial para disciplinar o uso de anéis. Plínio nos diz que o imperador<br />

Tibério exigiu que todos aqueles que não eram descendentes de cidadãos<br />

livres, mas sendo possuidores de grandes propriedades, tinham o direito<br />

de usar anéis de ouro. (3) O imperador Severo estendeu o direito do uso<br />

de anéis de ouro (jus annuli aurei ou direito ao anel de ouro) primeiro<br />

aos soldados romanos, e então aos cidadãos livres. Anéis de prata eram<br />

usados por homens libertados, isto é, escravos que tinham se tornado<br />

livres. Anéis de ferro eram usados por escravos. Sob o imperador<br />

Justiniano essas restrições foram abolidas. É interessante notar que<br />

durante a época de Roma imperial, anéis de ouro, prata e ferro eram<br />

usados de acordo com a classe social à qual se pertencia. O anel, por<br />

assim dizer, ligava a pessoa à sua classe social. (4)<br />

Anéis "Obrigatórios"<br />

O uso de um anel para ligar a pessoa à sua classe social pode ser a<br />

legendária origem da aliança. Em sua História Natural, Plínio diz que o<br />

anel foi introduzido na mitologia grega quando Prometeu atreveu-se a<br />

roubar fogo do céu para uso terrestre. Por esse crime blasfemo, Zeus<br />

acorrentou-o a uma rocha no alto das montanhas caucasianas por 30.000<br />

anos, durante os quais um abutre se alimentava diariamente com seu<br />

fígado. Após forçar a corrente por muitos anos, Prometeu finalmente<br />

rompê-la, tomando consigo uma amostra da montanha com corrente.<br />

Zeus compadeceu-se dele e o libertou. Todavia, para evitar a violação do<br />

julgamento original, foi ordenado a Prometeu que usasse da corrente<br />

como anel em um de seus dedos. Sobre esse anel foi colocado um<br />

pedaço da rocha à qual ele esteve ligado, como constante de que ele fora<br />

preso a ela. (5)


Qual a Roupa Certa? 107<br />

Aparentemente a lenda de Plínio tornou-se uma superstição que<br />

evoluiu para um costume. "Quando um escravo romano era libertado",<br />

escreveu James McCarthy, "ele recebia junto com um veste branca, um<br />

anel de ferro. O escravo havia sido preso, assim dizer, por uma<br />

caucasiana corrente de cativeiro. Quando concedida a sua liberdade, ele<br />

ainda tinha de usar, como Prometeu, um anel de ferro como recordação.<br />

Não lhe era permitido ter um anel de ouro, que naquele tempo era um<br />

emblema de cidadania." (6)<br />

O anel de noivado<br />

Os romanos foram os primeiros a usar aliança para ligar pessoas<br />

não apenas a suas classes sociais, mas também a seus companheiros<br />

maritais. Durante a cerimônia de noivado, o noivo dava à família da<br />

noiva um anel de ferro como símbolo de seu compromisso e capacidade<br />

financeira para sustentar a futura esposa. Os casamentos eram realizados<br />

sobre a mesa de negociações. Originalmente a cerimônia de noivado era<br />

mais elaborada e importante do que o rito nupcial, que era simplesmente<br />

um cumprimento do compromisso de noivado. Foi apenas mais tarde na<br />

história cristã que a aliança tornou-se parte da cerimônia de casamento.<br />

Em seu livro How it Began (Como Isso Começou), Paul Berdanier<br />

declara que o uso obrigatório do anel nas cerimônias de noivado<br />

desenvolveu-se a partir de uma antiga e supersticiosa prática, na qual um<br />

homem ligava com cordas a cintura, os pulsos e os tornozelos da mulher<br />

amada, para estar certo de que seu espírito seria mantido sob seu<br />

controle. (7) A superstição pagã cercando a origem do anel de noivado<br />

romano, não impediu os primeiros cristãos de adotar seu uso.<br />

Antes de tratarmos do uso cristão da aliança, seria bom mencionar<br />

umas poucas superstições pagãs associadas ao uso da aliança. Isso nos<br />

ajudará a pô-la em seu contexto histórico.


Qual a Roupa Certa? 108<br />

O "Poder Mágico" dos Anéis<br />

Muitas lendas têm chegado até nós acerca dos poderes mágicos dos<br />

anéis. De acordo com uma lenda popular, o rei Salomão possuía um anel<br />

que o transportava cada dia e noite até o firmamento, onde ele ouvia os<br />

segredos do Universo. Isso explica sua insondável sabedoria. Outra lenda<br />

declara que Salomão tinha seu anel ornado com pedras preciosas<br />

incomuns, das quais se servia como um espelho mágico, para que<br />

pudesse ver refletida a imagem de qualquer pessoa ou lugar que ele<br />

desejasse. "Crônicas antigas diziam que esse anel explicava seu fantástico<br />

dom de jurisprudência, como no caso das duas mulheres que reclamavam a<br />

mesma criança como sendo sua. Contemplando as profundezas do espelho,<br />

ele se informava das coisas por acontecer."(8) Pretensamente, o anel de<br />

Salomão foi mais tarde encontrado e usado por exorcistas judeus para<br />

expulsar demônios através do nariz das pessoas doentes." (9)<br />

Há também muitas histórias acerca do poder curativo dos anéis. "Os<br />

médico grego Galeno, que viveu no segundo século de nossa era,<br />

escreveu sobre amuletos de jaspe pertencente aos reis egípcios, que<br />

possuía o desenho de um dragão cercado de raios. Galeno sustentava que<br />

ele tinha um possante agente curativo para moléstias dos órgãos<br />

digestivos. Dentre os anéis medicinais estavam os "anéis de cãibra".<br />

Cria-se que eles ofereciam proteção com cãibras e outras indisposições.<br />

Eduardo, o Confessor, rei da Inglaterra no décimo primeiro século,<br />

segundo indicações, deu início ao uso dos anéis curativos. Um dia,<br />

quando o rei foi abordado por um idoso peregrino, como não tivesse<br />

dinheiro consigo, deu ao velho um anel como esmola. O peregrino, o<br />

João disfarçado, devolveu o anel ao rei dizendo que o havia abençoado e<br />

conferido-lhe poderes curativos. Desde aquele tempo até o reinado da<br />

rinha Maria, no décimo sexto século, em todas as sextas-feiras santas, os<br />

reis e rainhas ingleses abençoavam e distribuíam anéis sustentando que<br />

possuírem a cura para a epilepsia." (10)


Qual a Roupa Certa? 109<br />

Anéis Venenosos<br />

Nos tempos de Roma, os anéis eram usados não apenas para curas,<br />

como também para envenenar os outros ou a seu possuidor. Os anéis<br />

venenosos portavam um líquido venenoso numa pequena cavidade<br />

existente sob o sinete ou pedra preciosa. Uma mola estava conectada à<br />

cavidade, de tal modo que o assassino poderia desferir um fatal arranhão<br />

enquanto apertava a mão do inimigo. Esse era provavelmente elaborado<br />

a partir de um canino de cobra.<br />

O general cartaginês Aníbal ingeriu uma dose fatal de veneno de<br />

próprio anel (183 ou 182 a.C.), preferivelmente a submeter-se aos romanos.<br />

No décimo sexto século, a família Bórgia, na Itália, conhecida por suas<br />

traições, supostamente utiliza anéis venenosos para assassinar inimigos.<br />

Anéis Astrológicos<br />

A astrologia, ou a crença de que as estrelas influenciam os destinos<br />

pessoas, era popular entre caldeus, egípcios, gregos e romanos, e florescido<br />

no mundo ocidental até os nossos dias. Até o décimo século, os anéis<br />

astrológicos eram muito populares. Esses anéis surgiram da crença de que<br />

os corpos celestes têm especial influência sobre as nações, cidades e<br />

indivíduos. Eles podem afetar a aparência pessoal, o temperamento, a<br />

disposição, o caráter, a saúde e a sorte das pessoas. Para atrair o auxílio das<br />

deidades planetárias, era importante usar anéis com pedras preciosas e<br />

metais relacionados com cada um dos deuses dos sete planetas:<br />

"O Sol: um diamante ou safira colocado num anel de ouro.<br />

A Lua, um cristal incrustado num anel de prata.<br />

Mercúrio: um magneto posto em mercúrio.<br />

Vênus: uma ametista em anel de cobre.<br />

Marte: uma esmeralda em anel de ferro.<br />

Júpiter: uma cornalina posta em estanho.<br />

Saturno: uma turquesa colocada em chumbo." (11)


Qual a Roupa Certa? 110<br />

Esses vários anéis combinados com diferentes pedras preciosas<br />

eram usados de acordo com a preferência do deus planetário cuja ajuda<br />

era procurada. Um certo desenvolvimento ocorreu justo antes da<br />

fundação do cristianismo, quando os romanos adotaram a semana de sete<br />

dias observada pelos judeus, tal como ainda é em nossos dias. Antes<br />

desse tempo, os romanos usavam a semana de oito dias, conhecida como<br />

numdinum. Quando passaram a utilizar o ciclo semanal de sete dias,<br />

decidiram nomear cada dia da semana segundo o planeta-deus que<br />

pretensamente controlava o dia (Sunday, para o deus-sol; Monday para o<br />

deus-lua, e assim por diante). Os judeus costumavam chamar os dias da<br />

semana segundo seu número de ordem: primeiro dia, segundo dia, etc.)<br />

A crendice de que cada dia da semana era controlado por um deusplaneta<br />

originou o desenvolvimento dos anéis com pedras favoritas da<br />

divindade que dominava cada dia. As pessoas ricas usavam diferentes<br />

anéis, de acordo com a pedra preferida do deus-planeta controlador do<br />

dia. Apolônio de Tiana, um filósofo pitagórico do primeiro século, dános<br />

a seguinte lista de anéis com diferentes pedras preciosas, dispostas<br />

de acordo com o dia da semana, para assegurar o favor das celestiais<br />

influências:<br />

Dia Pedra Preciosa Gema-Talismã Controle Astral<br />

Domingo Diamante Pérola Sol<br />

Segunda Pérola Esmeralda Lua<br />

Terça Rubi Topázio Marte<br />

Quarta Ametista Turquesa Mercúrio<br />

Quinta Cornalina Safira Júpiter<br />

Sexta Esmeralda Rubi Vênus<br />

Sábado Turquesa Turmalina Saturno (12)<br />

Implicações da Origem Pagã dos Anéis<br />

Os poucos exemplos citados anteriormente, acerca das variadas<br />

superstições e usos idolátricos dos anéis estão bem distantes de serem


Qual a Roupa Certa? 111<br />

completos. As principais enciclopédias que consultei exibem longos<br />

artigos descrevendo o supersticioso uso de anéis como sortilégios, e<br />

como auxílio na adoração dos vários deuses pagãos. (13) O que tem sido<br />

mencionado deveria ser suficiente para mostrar que a origem dos anéis<br />

está fixada em superstições pagãs e práticas idolátricas.<br />

A origem pagã e os significados dos anéis levantam questões acerca<br />

da legitimidade de sua adoção pelos cristãos, para representar o<br />

compromisso marital. Na Bíblia, o valor dos símbolos é determinado por<br />

sua origem e significado. 0 sábado, o cordeiro pascoal e o sangue, a ceia<br />

do Senhor, o batismo e o lava-pés são símbolos legítimos porque foram<br />

estabelecidos por Deus para ajudar-nos a conceituar e internalizar<br />

realidades espirituais. Seu valor é derivado de sua divina origem, e<br />

função. Por contraste, o significado da aliança como de símbolo de<br />

compromisso conjugal acha sua origem, não na Escritura, mas na<br />

mitologia pagã e em superstições. Investir um símbolo pagão com um<br />

significado cristão, pode facilmente conduzir à secularização do próprio<br />

símbolo. Como veremos, foi exatamente o que aconteceu com o uso da<br />

aliança.<br />

Um caso ilustrativo é a adoção do guarda do domingo nos dias do<br />

cristianismo primitivo. Como já demonstrei em outras obras, um fator<br />

contribuinte para a aceitação do domingo, era a veneração pagã do dia do<br />

Sol. A tentativa dos cristãos para transformar um feriado pagão num<br />

nunca foi bem-sucedida. A despeito de todas as tentativas dos séculos<br />

pelos concílios eclesiásticos, papas e puritanos, tornar o domingo em um<br />

dia santo, a realidade histórica é que o domingo tem permanecido como<br />

um dia no qual muitas pessoas buscam seus prazeres e proveitos<br />

pessoais, antes que a presença e a paz de Deus.<br />

Em grande medida o mesmo tem sido verdadeiro a respeito da<br />

aliança. Como veremos a seguir, a despeito dos esforços feitos pelos<br />

líderes da igreja em restringir o uso de anéis a um simples anel conjugal,<br />

a realidade histórica é que muitos cristãos através dos séculos têm cedido


Qual a Roupa Certa? 112<br />

à tentação de usar toda sorte de anéis para adornar-se, antes que para<br />

expressar seu compromisso marital.<br />

Uma lição da Roma Antiga<br />

A tendência para multiplicar o uso de anéis iniciou-se na antiga<br />

Roma. De fato, a história do anel de noivado pode ser instrutiva para nós<br />

hoje. Originalmente, como já mencionado, o anel de noivado era um<br />

simples anel de ferro, mas rapidamente evoluiu em bem trabalhados<br />

anéis dourados. A Enciclopédia Britânica declara: "A oferta do anel para<br />

assinalar um noivado é um costume procedente de antiga Roma. O anel<br />

provavelmente era uma simples garantia de que o contrato seria<br />

cumprido. Nos tempos de Plínio (cerca do ano 70 A.D.) havia o costume<br />

de exigir um anel de feno, mas o anel de ouro foi introduzido no curso<br />

do segundo século. Esse uso, que era assim de origem puramente<br />

secular, recebeu a sanção eclesiástica. A fórmula da bênção do anel<br />

existe desde o século décimo primeiro." (15)<br />

Tertuliano (160-225 A.D.), um advogado pagão que se tornou um<br />

influente líder da igreja, lamentava a extravagância nas vestes e<br />

ornamentos que era muito evidente entre os romanos de seu tempo.<br />

Recomendava aos velhos romanos que encorajassem a modéstia,<br />

condenando os enfeites de ouro, exceto a aliança de casamento: "Não<br />

vejo agora qualquer diferença entre os vestidos das matronas e das<br />

prostitutas. Com respeito às mulheres, aquelas leis de seus pais,<br />

empregadas para encorajar a modéstia e a sobriedade caíram em desuso."<br />

(16)<br />

As "leis de seus pais" que restringiam o uso do ouro apenas à<br />

aliança, eram presumivelmente leis ultrapassadas na primeira parte do<br />

segundo século, como notamos, no tempo de Plínio (cerca do ano 70 de<br />

nossa era) apenas era permitido o uso de uma simples aliança de ferro.<br />

Em outras palavras, o que se iniciara como um singelo anel de<br />

casamento para expressar o compromisso conjugal, desenvolveu-se, até


Qual a Roupa Certa? 113<br />

o final do segundo século, num elaborado anel de ouro para demonstrar<br />

riqueza, orgulho e vaidade. Veremos que a mesma coisa ocorreu na<br />

igreja cristã.<br />

James McCarthy observou a razão para essa evolução: "O problema<br />

com os romanos, bem como com outros enamorados de algo, é que eles<br />

começaram a exagerar no uso de anéis. Eles cobriam os dedos com e]es.<br />

Alguns usavam diferentes anéis para o verão e o inverno. Eram<br />

imoderados não somente no número de anéis usados, mas também em<br />

seu tamanho. Mesmo os dedos menores tinham pesados anéis de ouro,<br />

que eram usados nos dias mais cinzentos do império. Até anéis de<br />

grandes dimensões para os polegares eram exibidos. Esses seriam como<br />

que uma rápida antevisão da inevitável queda do império romano." (17)<br />

McCarthy continua notando que a despeito das denúncias do<br />

moralistas a seus patrícios contra o uso de muitos anéis, "esses<br />

continuaram a ser usados e Roma continuou a cair. Roma caiu e os anéis<br />

continuaram. Se há uma moral aqui eu não sei dizer." (18) Realmente, há<br />

uma moral, porque aconteceu na história de Roma imperial e tem-se<br />

repetido na história do cristianismo.<br />

2. A Aliança na História Cristã<br />

Anéis na Bíblia<br />

A Bíblia não dá qualquer indicação de que a aliança era usada como<br />

anel de noivado ou de núpcias. O anel-sinete é o primeiro tipo<br />

mencionado no Livro Sagrado. Quando Tamar disfarçou-se de prostituta<br />

para seduzir a Judá, seu sogro, ela lhe pediu como garantia da promessa<br />

de envio de um cabrito do rebanho, o selo (anel), o cajado, e o cordão.<br />

Jeremias nos diz que os israelitas usavam o anel-sinete na mão direita<br />

22:24). Esse anel era usado para selar vários contratos. Ele era um<br />

símbolo de autoridade, dignidade e estado social (Tia. 2:2). Faraó deu<br />

seu anel-sinete a José, como símbolo de autoridade (Gên. 41:42).


Qual a Roupa Certa? 114<br />

Semelhantemente, Assuero deu seu anel a Hamã para selar o decreto<br />

(Ester 3:10 e 12). No retorno do filho pródigo, esse recebeu de seu pai<br />

um anel como símbolo de dignidade (Lucas. 15:22).<br />

Os anéis mencionados na Bíblia são anéis-sinetes, usados como<br />

símbolo de autoridade e dignidade. Aos romanos é creditado o<br />

pioneirismo no uso de anéis-sinetes como aliança de noivado. Os judeus<br />

e os cristãos copiaram a prática dos romanos. Uma vez que o cerimônia<br />

de noivado usualmente envolvia uma dádiva do noivo em dinheiro ou<br />

um objeto de valor à noiva, foi natural a transição desse dote para a<br />

aliança.<br />

O Anel de Noivado no Cristianismo Primitivo<br />

Desconhece-se como os primeiros cristãos adotaram o costume<br />

romano do anel de noivado. Não há qualquer menção de anéis de<br />

noivado em o Novo Testamento, aparentemente porque o costume não<br />

havia ainda tido início. Os primeiros anéis cristãos de noivado foram<br />

encontrados nas catacumbas romanas, ou em cemitérios subterrâneos<br />

foram da cidade de Roma, cerca de 200 A.D. (19) Por volta desse<br />

mesmo tempo, temos os testemunhos de Tertuliano e Clemente de<br />

Alexandria sobre o uso do anel de noivado pelos cristãos. À luz dessas<br />

evidências arqueológicas e literárias, podemos pensar que os cristãos<br />

aceitaram o costume do anel de noivado na última parte do segundo<br />

século.<br />

O material mais comum encontrado nas catacumbas é o bronze,<br />

embora alguns anéis de ferro tenham permanecido. "Como regra, os<br />

anéis de ouro entre os cristãos primitivos eram raros. O uso de ricos e<br />

numerosos ornamentos não estava de acordo com os ensinos da igreja<br />

primitiva." (20) Contrariamente à moda pagã de usar um "anel próximo a<br />

cada junta, os cristãos dos primeiros séculos usavam apenas um anel – a<br />

aliança." (21)


Qual a Roupa Certa? 115<br />

É interessante notar que aqueles cristãos seguiam o costume<br />

romano do anel da cerimônia de noivado, antes dos serviços nupciais. A<br />

razão para isso parece ser que, originalmente, o casamento não era a<br />

cerimônia sofisticada que vemos hoje, "mas uma simples afirmação de<br />

amor mútuo e obediência." (22) Em outras palavras, rituais de noivado<br />

eram bem mais trabalhados do que os de casamento. Mesmo o noivado,<br />

como explica Joseph Bingham, "era uma inocente cerimônia, já<br />

observada pelos romanos antes do início do cristianismo, e em certa<br />

medida aceito pelos judeus, por isso que admitido pelos cristãos como<br />

ritos esponsais sem qualquer oposição ou contradição." (23)<br />

O Propósito da Aliança<br />

A razão porque os cristãos não se opuseram à adoção do anel de<br />

noivado, é porque percebiam não ser ele um ornamento mas um símbolo<br />

do compromisso marital. Eles não anteviam que o anel de noivado<br />

pudesse eventualmente tentar os cristãos a seguir o exemplo dos pagãos<br />

no uso de toda sorte de anéis ornamentais.<br />

Tertuliano, embora conhecido como rigoroso na promoção de<br />

estritos padrões de conduta e condenando o uso de jóias, parece ter<br />

aprovado o uso da aliança. Notamos primeiramente que Tertuliano<br />

lamentava a adoção, pelas mulheres romanas, de ornamentos sedutores,<br />

mas recomendava aos romanos mais idosos para ensinar a elas "modéstia<br />

e sobriedade", pela condenação do uso de ouro "salvo nos dedos, o qual,<br />

com o anel de noivado, seu marido podia garantir-se." (24) Essa<br />

passagem sugere que Tertuliano via a aliança não como um adorno<br />

impróprio, mas como uma evidência de modéstia e como um símbolo de<br />

sagrada garantia a cada cônjuge.<br />

Semelhante ponto de vista foi expresso por Clemente de Alexandria,<br />

um contemporâneo de Tertuliano que liderou a escola catequética<br />

(batismal) de Alexandria de 190 a 202. Em seu livro O Instrutor,<br />

Clemente atingiu considerável extensão ao explanar por que as mulheres


Qual a Roupa Certa? 116<br />

cristãs não deveriam usar vestidos luxuosos, anéis, brincos ou elaborados<br />

estilos de penteado, e "manchar suas faces com os traiçoeiros<br />

estratagemas de astutas dissimulações." (25)<br />

Em meio ao seu tratamento de vários e impróprios ornamentos<br />

cristãos, ele escreveu sua aprovação do anel de sinete como o único<br />

permitido. "A Palavra (Cristo) permite-lhes (às mulheres) o uso de um<br />

anel de ouro. Não é esse para ornamento, mas para selar coisas que são<br />

dignas de serem mantidas seguras em casa, no exercício de seus deveres<br />

como donas de casa." (26)<br />

A função "seladora" do anel sugere que ele era um anel-sinete,<br />

funcionava também como anel marital ou aliança. É evidente que no<br />

tempo de Clemente o anel era feito de ouro. Isso dizer que o início do<br />

costume de usar um simples anel de ferro, compromisso de noivado,<br />

parte do primeiro século. "Mesmo então", escreveu Plínio, o Velho, em<br />

seu livro História Natural (70 A.D.), "o anel nupcial era feito de ferro e<br />

sem jóias". (27)<br />

Para Clemente, o propósito do anel não era ornamental ("Não é para<br />

ornamento"), mas de uso prático e protetor. Era prático porque esse anelsinete<br />

que o marido lhe deu para selar bens "que devem ser mantidos<br />

seguros em casa". Se um servo fugisse com alguns bens domésticos, o<br />

selo sobre eles provaria a propriedade. O anel-sinete usado pela esposa<br />

representava a autoridade que seu marido a ela delegara, para governar<br />

todas as coisas da casa.<br />

Era protetor porque servia como "uma ligação de casta modéstia,<br />

receio de que, em sua inconstância, elas não deslizassem da verdade."<br />

(28) O anel-sinete era o único permitido às mulheres cristãs. "Ele (Cristo)<br />

permitiu-nos o sinete com esse único propósito. Outros anéis devem ser<br />

lançados fora, pois, de acordo com as Escrituras, 'o conhecimento é o<br />

ornamento dourado de um homem sábio'." (29)


Qual a Roupa Certa? 117<br />

Anéis das Cerimônias Matrimoniais<br />

O uso de anéis nas cerimônias matrimoniais é apontado desde a<br />

primeira parte do quarto século. (30) "Todavia, a primeira descrição<br />

explícita do uso do anel vem de Isidoro de Sevilha, que tornou-se<br />

arcebispo daquela cidade em 595. Ele escreveu: "O anel é dado pelo<br />

esposo à sua esposa, quer como sinal de mútua fidelidade e ainda mais<br />

para unir seus corações nesse compromisso. Ele é posto no quarto dedo<br />

por causa de certa veia, que como é dito, flui daí até o coração." (31)<br />

A crença de que o quarto dedo (contado a partir do polegar) tem a<br />

vena amoris, a veia do amor correndo diretamente para o coração é,<br />

obviamente, pura superstição. O dedo anular partilha da mesma rota ao<br />

coração que outros dedos. A despeito da origem dessa superstição, o<br />

costume de usar o anel matrimonial no quarto dedo da mão esquerda tem<br />

prevalecido em muitos países hoje em dia.<br />

Anéis Episcopais<br />

Conhecendo a atração que os anéis têm exercido sobre o povo, não<br />

é de surpreender que o clero também adotou o uso de anéis. Os mais<br />

famosos anéis eclesiásticos são os episcopais, que eram conferidos aos<br />

bispos recém-eleitos, e o anel do pescador usado pelo papa. O último<br />

deriva seu nome da pedra preciosa que carrega, com a gravação de Pedro<br />

num barco puxando a rede de pescar.<br />

O anel episcopal, como explica A Enciclopédia Católica, "era,<br />

estritamente falando, um ornamento episcopal concedido no rito de<br />

consagração e era observado como sendo emblemático do noivado do<br />

bispo com a igreja." (32) A fórmula gregoriana; ainda usada na entrega<br />

do anel, diz: "Recebe o anel, que representa o selo da fé, pelo qual tu,<br />

adornando-te a ti mesmo com fé imaculada, possas manter pura a palavra<br />

empenhada que juraste à esposa de Deus, Sua santa Igreja." (33) A idéia


Qual a Roupa Certa? 118<br />

da fidelidade conjugal é também simbolicamente representada nos anéis<br />

episcopais.<br />

É digno de nota que a mesma enciclopédia traça a origem do anel<br />

episcopal desde o anel dourado usado pelos antigos sacerdotes pagãos,<br />

consagrados à adoração de Júpiter: "Sabendo como sabemos, de que nos<br />

dias de Roma pagã cada flamen Dialis (sacerdote de Júpiter) tinha, como<br />

os senadores, o privilégio de usar um anel de ouro, não é de surpreender<br />

a evidência encontrada no quarto século, de que os anéis eram usados<br />

pelos bispos cristãos." (34) A mesma fonte, todavia, questiona a validade<br />

da evidência do quarto século, argumentando em substituição, que a<br />

primeira e inequívoca evidência vem do decreto baixado pelo papa<br />

Bonifácio IV, em 610, em que os monges elevados à dignidade episcopal<br />

eram obrigados a usar o anel. (35)<br />

Bispos e papas amavam tanto seus anéis que desejavam ser<br />

sepultados com eles. Isso explica a esplêndida coleção de anéis<br />

episcopais encontrados nos sarcófagos papais. A influência do<br />

paganismo é evidente em muitos dos anéis episcopais, uma vez que eles<br />

são confeccionados com antigas pedras usadas pelos pagãos, gravadas<br />

com símbolos pagãos.<br />

Com referência aos anéis episcopais, A Enciclopédia Britânica diz:<br />

"Em muitos casos a antiga gema era montada no anel episcopal e amiúde<br />

era adicionada uma inscrição no receptáculo de ouro da gema, dando<br />

nomes cristãos a figuras pagãs." (36) Em outros casos, de acordo com a<br />

mesma fonte, nenhuma mudança era feita na gravação pagã e "a gema<br />

parecia ter sido meramente observada como um ornamento sem<br />

significado." (37)<br />

Influência Levedante<br />

A influência pagã sobre o uso cristão de anéis é evidente, não<br />

apenas nas gravações sobre os anéis episcopais, como também na<br />

proliferação anéis ornamentais nas mãos de leigos e clérigos. O que


Qual a Roupa Certa? 119<br />

aconteceu em Roma pagã foi repetido na igreja cristã. O anel de noivado<br />

que começou como um simples elo de ferro para expressar fidelidade<br />

conjugal, rapidamente evoluiu em elaborados anéis de ouro com pedras<br />

preciosas, para demonstrar riqueza, orgulho e vaidade. Isso foi<br />

verdadeiro não apenas para os leigos, mas também para o clero.<br />

A Enciclopédia Britânica afirma: "No décimo quinto e décimo<br />

séculos, os bispos usavam com freqüência quatro anéis na mão<br />

complementando a farta joalheria fixada nas costas de cada (38) Essa<br />

imagem dos líderes da igreja enfeitados e adereçado com anéis de ouro,<br />

pedras preciosas e vestimentas bordadas em ouro, em rematado contraste<br />

com o chamado apostólico para trajarem vestes modestas, sem "ouro ou<br />

pérolas ou custosos ornamentos" (I Tim. 2:9; conf. I Ped. 3:3).<br />

É obvio que quando os líderes da igreja se enamoraram dos anéis de<br />

ouro, jóias e dispendiosos ornamentos, eles não mais poderiam, em boa<br />

consciência, admoestar o povo a ser modesto em seus adornos exteriores.<br />

Isso explica porque, como vimos no capítulo três, durante a Idade Média<br />

as admoestações à modéstia no vestir e no adornar-se eram feitas mais<br />

aos clérigos do que aos leigos.<br />

Olhando ao passado, a partir de um vantajoso ponto de vista<br />

histórico, pode-se ver a levedante influência da aliança. A concessão que<br />

os líderes da igreja fizeram aos cristãos, para que usassem apenas a<br />

aliança de casamento, logo tornou-se pretexto para o uso de toda espécie<br />

de anéis ornamentais. No século quarto a proliferação de anéis assumiu<br />

alarmantes proporções, que a chamada Constituição Apostólica<br />

proscreveu o uso de anéis: "Nenhum de vós ponha um anel de ouro nos<br />

dedos; pois todos esses ornamentos são sinais de lascívia, a qual, se vós<br />

estiverdes solícitos sobre um modo indecente, não agireis como convém<br />

a um bom homem." (39) Aparentemente essa lei eclesiástica foi logo<br />

esquecida, porque, como vimos, mesmo os verdadeiros líderes da igreja<br />

adornavam-se com anéis de ouro e pedras preciosas.


Qual a Roupa Certa? 120<br />

A História se Repete<br />

O dito de que a história se repete aplica-se de modo especial ao anel<br />

de casamento ou aliança. O que aconteceu na igreja primitiva e durante a<br />

Idade Média tem-se repetido na história interna de muitas denominações<br />

que derivaram da Reforma. Temos visto que na igreja dos primeiros<br />

tempos, o uso do anel marital evoluiu através de três fases. Na primeira<br />

delas, no período apostólico, aparentemente não existia o uso do anel. Na<br />

segunda, compreendendo o segundo e terceiro séculos, o uso estava<br />

restrito a um anel simples e barato, que servia também de anel-sinete<br />

para confirmar decisões e propósitos. Na etapa final, do quarto século em<br />

diante houve proliferação de toda espécie de anéis ornamentos e jóias.<br />

Essa regra que proibia o uso do anel marital no primeira fase, de<br />

uso simples na segunda, e de todas as espécies de anéis ornamentais na<br />

terceira, tem ocorrido na história particular de várias denominações<br />

procedentes da Reforma. Para apreciarmos mais plenamente a ocorrência<br />

dessa regra, veremos a história do anel de casamento ou aliança dentro<br />

das igrejas metodista, menonita e adventista do sétimo dia.<br />

A Aliança na Igreja Metodista<br />

Desde o princípio do movimento metodista, John Wesley (1703 a<br />

1791), advogava a simplicidade no vestuário e a abstenção de jóias em<br />

geral e anéis em particular. Em seu Conselho ao Povo Chamado<br />

Metodista, Com Respeito ao Vestuário, ele escreveu: "Não usem ouro,<br />

pérolas ou pedras preciosas... Não aconselho às mulheres usarem anéis,<br />

brincos e colares." (40) Wesley foi fundo para dar suporte bíblico à sua<br />

posição, citando entre outras passagens as palavras de Pedro, "Não seja o<br />

adorno das esposas o que é exterior, como frisado de cabelos, adereços<br />

de ouro, aparato de vestuário; seja, porém, o homem interior do coração,<br />

unido ao incorruptível de um espírito manso e tranqüilo, que é de grande<br />

valor diante de Deus." (I Pedro 3:3 e 4)


Qual a Roupa Certa? 121<br />

As pregações de Wesley obtiveram resultados. Na Inglaterra e na os<br />

metodistas vestiam-se como um povo simples, sem jóias ou anéis. Na<br />

Conferência Episcopal da Igreja Metodista, em 1784, a questão foi<br />

proposta: "Deveremos nós insistir nas regras concernentes ao vestuário?"<br />

A resposta foi: "De todas as maneiras! Não é o tempo de encorajar<br />

superfluidade no vestuário. Portanto, não dêem bilhetes a ninguém, até<br />

que tenham abandonado os ornamentos supérfluos... Não isentem<br />

nenhum caso, nem mesmo da mulher casada... Não admitam aqueles que<br />

usam anéis." (41). Naquele tempo eram dados bilhetes para admissão ao<br />

serviço da comunhão. Os que não cumpriam com esse alto padrão da<br />

igreja, não eram admitidos a esse serviço. Essa política soa irrazoável a<br />

muitos, hoje em dia. Precisamos essa postura no contexto social do<br />

décimo oitavo século na América, onde a igreja controlava o estilo de<br />

vida de seus membros.<br />

A regra original concernente a vestuário e ornamentos tornou-se do<br />

manual da igreja metodista, conhecido como Doutrinas e Disciplina da<br />

Igreja Metodista e continuou com essa forma até 1852. Os primeiros<br />

metodistas levavam a sério as admoestações de seu fundador. Eles<br />

viviam um estilo de vida simples, evitando jogos, danças, e jóias,<br />

incluindo anéis.<br />

A Adoção do Anel de Casamento (Aliança)<br />

A primeira menção do anel de casamento como opção à cerimônia<br />

matrimonial, ocorreu no manual metodista conhecido como Disciplina,<br />

em 1872: "Se as partes desejarem, o homem poderá entregar o anel ao<br />

ministro, que o devolverá a ele, que colocará no terceiro dedo da mão<br />

esquerda da mulher. E o homem dirá à mulher, repetindo as palavras do<br />

ministro: 'Com este anel eu te esposo e com minhas boas palavras eu te<br />

doto; em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo." (42)<br />

Um ano mais tarde, a igreja presbiteriana seguiu o exemplo dos<br />

metodistas mudando seu manual para permitir o uso do anel de


Qual a Roupa Certa? 122<br />

casamento na cerimônia matrimonial: "Se eles [o casal] desejarem<br />

utilizar o anel, o ministro primeiramente o tomará e depois o entregará<br />

ao homem, para que o coloque no quarto dedo da mão esquerda da<br />

esposa." (43)<br />

Gradualmente outras denominações relaxaram seus padrões de<br />

vestuário e ornamentos, permitindo o uso de anéis e jóias em geral.<br />

Na última parte do décimo nono século, o uso do anel em<br />

cerimônias matrimoniais tornou-se muito popular na América. Um livro<br />

sobre etiqueta, publicado em 1881, diz: "Todas as igrejas, atualmente,<br />

aceitam o anel e variam o sentimento de sua adoção para acomodá-lo aos<br />

costumes e idéias de seus próprios ritos." (44) Essa declaração não é<br />

realmente exata, porque houve igrejas que não usavam o anel na<br />

cerimônia matrimonial. Os adventistas do sétimo dia são um caso em<br />

particular.<br />

Precisa ser reconhecido, todavia, que mesmo aquelas igrejas que<br />

não aprovaram o uso do anel matrimonial, tiveram dificuldade em coibir<br />

seu uso entre os membros. Escrevendo sobre a igreja menonita, Melvin<br />

Gingerich mencionou: "Exemplos de anéis matrimoniais eram usados na<br />

igreja pelas mulheres casadas, durante a última parte do décimo nono<br />

século, desde a ocidental Pennsylvania até Iowa e o Missouri, embora<br />

isso não fosse uma prática usual." (45)<br />

A igreja metodista sustentou a bandeira de Wesley sobre vestuário e<br />

ornamentos até 1852. (46) Após essa data o manual metodista não mais<br />

regulamentava os vestuário e as jóias do clero e do povo. Muitos clérigos<br />

metodistas que eu consultei sobre a questão, confirmaram-me que o tema<br />

das jóias não tem sido, de há muito, um assunto mencionado em suas<br />

igrejas. Nenhuma medida disciplinar é tomada diante dos que usam jóias<br />

em excelso. Dean Kelly, um erudito metodista, vai mais longe ao dizer<br />

que: "por décadas não tem havido nada que pudesse ser feito para expelir<br />

o mal da igreja metodista." (47)


Qual a Roupa Certa? 123<br />

A lei de Wesley<br />

O resultado do afrouxamento dos padrões da igreja em certas áreas<br />

como vestuário, ornamentos e recreação, é a perda do senso de<br />

identidade e missão da igreja. A razão é que esses membros se<br />

identificam mais com os valores da sociedade secular do que com os dos<br />

fundadores de sua igreja. No mesmo grau que essas igrejas tornam-se<br />

prósperas e permissivas quanto ao estilo de vida, experimentam declínio<br />

espiritual e de membros.<br />

No clássico livro Por Que as Igrejas Conservadoras Estão<br />

Crescendo?, Dean Kelly chama esse ciclo de "A Lei de Wesley". "John<br />

Wesley, o fundador do movimento (metodista), sintetizou esse processo<br />

no que podemos chamar de Lei de Wesley. 'Quando o número de ricos<br />

aumenta, a essência da religião decresce na mesma proporção'. Portanto,<br />

não vejo como seja possível, na natureza das coisas, qualquer<br />

reavivamento religioso perdurar por muito tempo. Pois a religião deve<br />

necessariamente produzir diligência e sobriedade, e esses não podem<br />

fabricar ricos. Mas como os ricos crescem, assim o orgulho, a ira e o<br />

amor ao mundo em todos os seus ramos... Não há jeito de evitar isso,<br />

essa continua decadência da religião pura?" (48)<br />

Wesley compreendeu com admirável clareza o que causa o<br />

crescimento ou o declínio da igreja. O cumprimento de sua "visão<br />

profética" pode ser visto na história de muitas igrejas, incluindo a própria<br />

igreja metodista. De fato, a Igreja Metodista Unida é uma das seis<br />

maiores igrejas protestantes, que em anos recentes tem experimentado<br />

um consistente e significativo declínio em sua congregação, em<br />

matrículas nas escolas paroquiais e no número de missionários alémmar.<br />

(49)<br />

Para reverter essa tendência, Kelly propõe três medidas que podem<br />

ser sintetizadas conforme segue: primeira, a igreja precisa esclarecer<br />

suas metas, convicções principais e padrões de estilo de vida. Segunda, a<br />

igreja precisa decidir como reforçar seus padrões. Terceira, a igreja


Qual a Roupa Certa? 124<br />

precisa comunicar efetivamente suas crenças e normas aos membros (ato<br />

interno) e aos outros (ato externo)." (50)<br />

Uma Advertência à Igreja Adventista<br />

O que aconteceu na igreja metodista deve servir de advertência aos<br />

adventistas. Kelly, embora metodista, destacou esse ponto num artigo<br />

intitulado "Como os Adventistas Podem Parar de Crescer". Sua resposta<br />

é simples, contudo profunda: "Ser como os metodistas". (51) De acordo<br />

com Kelly, tudo que os adventistas necessitam para deter seu<br />

crescimento e começar a declinar é enfatizar que os padrões da igreja<br />

respeitantes a vestuário, abstinência, dieta, dízimo, etc., "não são<br />

necessários à salvação". Tal ênfase produz a queda da igreja porque ela<br />

"priva a fé de sua única e necessária textura, prática e custo". (52)<br />

À luz dessas observações, é evidente que os padrões da igreja que<br />

afetam áreas sensíveis como vestuário e jóias, podem contribuir para o<br />

crescimento ou declínio da igreja. Crentes que observam altos padrões,<br />

estão constantemente se lembrando de seu chamado e missão no mundo.<br />

O Uso de Jóias na Igreja Menonita<br />

Como os antigos metodistas, os menonitas têm mantido<br />

historicamente uma rígida defesa contra o uso de jóias, incluindo a<br />

aliança. Em seu livro Adornos Menonitas Através de Quatro Séculos,<br />

Melvin Gingerich observou que "pelo menos trinta e nove conferências<br />

passaram entre 1864 e 1949, metade das quais ocorreu após 1918." (53)<br />

Os artigos de joalheria a serem evitados incluíam "alianças, anéis de ouro,<br />

pérolas, braceletes, broches, alfinetes, colares e anéis de noivado" (54) "Em<br />

alguns casos, era feita uma tentativa para distinguir entre o anel ornamental<br />

e o utilitário (nas jóias), e apenas o primeiro foi proibido." (55)<br />

Gingerich admite que não foi fácil para a igreja menonita forçar sua<br />

política contra a jóias, especialmente quanto à aliança ou anel de


Qual a Roupa Certa? 125<br />

casamento. "Talvez a luta mais difícil em reforçar os regulamentos<br />

acima tem a ver com o anel de casamento... Enquanto os menonitas<br />

permaneceram como um povo rural e viviam em comunidades sólidas,<br />

não houve muita necessidade das esposas declararem seu estado marital<br />

ao público. Mas quando os homens começaram a ter outras profissões e<br />

viajar para cidades distantes de sua robusta comunidade, os casais se<br />

convenceram de que o uso da aliança como símbolo e aviso protetor era<br />

essencial." (56)<br />

O uso da aliança entre os menonitas tem-se acelerado desde a<br />

Segunda Grande Guerra Mundial, de acordo com Gingerich. "Desde a<br />

Segunda Guerra, a crescente urbanização dos menonitas tem tornado<br />

mais dificultoso para eles manter seus costumes distintivos, incluindo a<br />

prática de não usar alianças ou anéis de casamento, e como resultado, em<br />

muitas congregações esse uso é agora comum, não apenas às mulheres<br />

como também a seus maridos." (57)<br />

Historicamente descobrimos que a aceitação do anel de casamento<br />

ou aliança abriu a porta ao uso de toda espécie de jóia. Gingerich<br />

reconhece essa tendência na própria igreja menonita. "Junto com ele (o<br />

anel) veio o crescente uso de outras formas de jóias." (58) Reconhecendo<br />

a implicação dessa tendência para a igreja menonita, Gingerich insta com<br />

sua igreja a continuar a dar ênfase à importância à condução da vida<br />

cristã "sob o exame dos padrões do Novo Testamento referentes à<br />

humildade, mordomia, modéstia e simplicidade." (59)<br />

3. O Anel de Casamento (Aliança ) na História da<br />

Igreja Adventista do Sétimo Dia<br />

O anel de casamento tem sido um tema sensível na história da<br />

Igreja Adventista do Sétimo Dia. É importante lembrar que Ellen White<br />

e outros líderes adventista procederam da igreja metodista e outras que<br />

tinham uma firme posição contra o uso de jóias, incluindo anéis. Como


Qual a Roupa Certa? 126<br />

essas igrejas afrouxaram sua postura na última metade do décimo nono<br />

século, os adventistas sentiram-se pressionados a seguir essa tendência.<br />

A situação que os adventistas confrontam está refletida em um<br />

artigo intitulado "A Prática do Uso do Ouro", publicado na Review and<br />

Herald, em 1869. O autor, Daniel Bordeau, um franco-americano que<br />

trabalhava com a população francesa no Canadá, nos Estados Unidos e<br />

na Europa, escreveu: "Há não muitos anos, após o uso de ouro ser<br />

considerado pecado pelos batistas, metodistas e outras denominações, eu<br />

me lembro quando os batistas, aos quais eu pertencia, que fruíam mais<br />

do Espírito de Deus do que agora, fizeram uma regra empenhar-se com<br />

amor no trabalho com aqueles membros que se adornavam com ouro.<br />

Mas, já desde há muito, diferentes denominações têm passado por<br />

grandes mudanças nesse ponto, e quase universalmente adotado a prática<br />

do uso de ouro e outros ornamentos vãos." (60)<br />

Um fator que contribuiu para essa tendência foi a chegada de<br />

sucessivas levas de imigrantes às praias da América, na última parte do<br />

século passado. Incompreensivelmente, esses imigrantes trouxeram<br />

consigo seus costumes, incluindo o uso de jóias, especialmente da<br />

aliança. Várias denominações adaptaram-se à nova situação tomando<br />

uma atitude permissiva perante o uso de jóias.<br />

A nova e crescente igreja adventista sentiu a mesma pressão.<br />

Assim, não é surpresa que Ellen White tenha falado sobre o uso de jóias.<br />

Ele contou a história de uma senhora recentemente batizada, que se<br />

desfizera de custosa joalheria. Durante uma visita a Battle Creek essa<br />

nova conversa ficou surpresa em ver suas irmãs de fé usando variadas<br />

espécies de jóias. Um dia ela visitou uma irmã que ocupara uma posição<br />

de responsabilidade numa instituição adventista de Battle Creek. No<br />

curso da conversação, ela manifestou a intenção de dispor de algumas<br />

jóias que ainda guardava em seu baú e colocar o produto da venda no<br />

tesouro do Senhor. A irmã de mais experiência tentou dissuadi-la<br />

dizendo: "Por que vendê-las? Eu as usaria se fossem minhas." Para<br />

demonstrar o que queria dizer, mostrou um anel que usava, e que lhe fora


Qual a Roupa Certa? 127<br />

dado por uma descrente. E então comentou: "Nós não somos tão<br />

escrupulosos como antes." A mulher recém-convertida estava atônita,<br />

mas decidiu apegar-se ao princípio bíblico de modéstia e simplicidade<br />

que aceitara ao unir-se à igreja adventista.<br />

Influência Negativa Sobre os Outros<br />

Essa história revela a razão fundamental por que Ellen White<br />

aconselhou os adventistas contra o uso de jóias, ou seja, a influência<br />

negativa sobre os outros. Em 1881 ela escreveu: "Aqui o Senhor, através<br />

de Seu apóstolo, expressamente fala contra o uso de ouro (I Tim. 2:9 e 10).<br />

Que aqueles que têm tido semelhante experiência, não levem outros a<br />

desviar-se desse ponto por seu exemplo. Esse anel que circunda vosso<br />

dedo, embora simples, é de todo inútil, e seu uso exerce errônea<br />

influência sobre outros." (62)<br />

Chamar um anel simples de inútil pode soar um pouco duro, mas<br />

precisamos compreender que esse comentário foi feito dentro do<br />

contexto daquele tempo. Na América, os anéis são usados primeiramente<br />

como ornamentos. O uso do anel em cerimônias matrimoniais, como<br />

temos visto, é ainda uma opção em muitas igrejas americanas. Como<br />

vimos, Ellen White não condenou a aliança ou anel de casamento "em<br />

países onde o costume seja imperioso." (63) Consequentemente, o anel<br />

simples que ela tinha em mente era muito semelhante a um anel<br />

ornamental. Tais anéis eram inúteis porque não possuíam uso prático.<br />

Usar anéis ornamentais ou outra espécie de jóia era para Ellen White,<br />

não apenas uma fuga "dos ensinos simples da Bíblia", (64) como<br />

também uma influência negativa sobre outras pessoas.<br />

Ellen White compreendeu a importante verdade de que o<br />

cristianismo é mais facilmente aprendido do que ensinado. Através do<br />

seu ministério ela apelou à simplicidade e modéstia, de forma a atrair o<br />

povo a Cristo. "Vistamo-nos com modéstia, tomando-se essa um meio<br />

para podermos ser recebidos aonde quer que formos. Jóias e vestidos


Qual a Roupa Certa? 128<br />

caros não nos proporcionarão influência, mas o ornamento de um<br />

espírito manso e quieto que resulta da dedicação ao serviço de Cristo<br />

dar-nos-á poder com Deus." (65)<br />

Influência Negativa Sobre Si Mesmo<br />

A segunda importante razão pela qual Ellen White aconselhou os<br />

adventistas contra o uso de jóias e vestimentas extravagantes é que elas<br />

estimulam a vaidade e o orgulho. "Aqueles que se apegam aos<br />

ornamentos proibidos na Palavra de Deus acariciam orgulho e vaidade<br />

no coração. Eles desejam atrair a atenção. Seus vestidos dizem: 'Olhemme,<br />

admirem-me.' Assim a vaidade inerente à natureza humana é<br />

fortemente aumentada pela indulgência. Quando a mente está<br />

determinada em agradar a Deus apenas, todos os inúteis ornatos da<br />

pessoa desaparecerão." Indulgência com a vaidade e o orgulho ao exibir<br />

jóias e custosos vestidos "extinguem o desejo de fazer o bem" (67),<br />

porque quando o povo se torna obcecado em embelezar seu corpo, eles<br />

têm menos interesse, tempo ou dinheiro para as necessidades de outros.<br />

Mordomia Responsável<br />

O que já vimos conduz à terceira razão pela qual Ellen White<br />

advertiu aos adventistas a que não usassem ouro, ou seja, a mordomia<br />

responsável. Ela cria firmemente que Deus nos chama para sermos<br />

mordomos responsáveis de nosso tempo, saúde e dinheiro. "Cada dólar<br />

poupado pela negação própria de inúteis ornamentos, pode ser dado aos<br />

necessitados ou colocado no tesouro do Senhor para suster o evangelho,<br />

enviar missionários a países distantes e multiplicar publicações para<br />

levar raios de luz às almas que estão nas trevas do erro. Cada dólar usado<br />

desnecessariamente priva o gastador da preciosa oportunidade de fazer o<br />

bem." (68)


Qual a Roupa Certa? 129<br />

Como Wesley, Ellen White era muito conscienciosa das necessidades<br />

dos pobres e da igreja infante. Ela economizava cada dólar para atender<br />

às necessidades dos programas de expansão da igreja. Via seu dinheiro<br />

como propriedade de Deus para ser gasto judiciosamente. "Quanto<br />

dinheiro é gasto para agradar às suas ilusões e obter a admiração de<br />

corações tão vazios como o seu próprio? Ele é dinheiro de Deus. Quanto<br />

bem poderias ter feito com ele!" (69)<br />

A Declaração do Anel de Casamento<br />

A preocupação de Ellen White com respeito à mordomia<br />

responsável ajuda-nos a compreender sua posição sobre o anel de<br />

casamento ou aliança. Deveria ser notado que, ao contrário do que<br />

muitos adventistas pensam, o anel de casamento não era um assunto<br />

constante na mente de Ellen White. Isso é mostrado pelo fato de que em<br />

todos os seus escritos (cerca de 100.000 páginas), encontramos apenas<br />

uma simples e explícita declaração sobre o anel de casamento.<br />

Essa importante afirmação apareceu primeiramente em uma carta<br />

que ela escreveu em 1982, de Melbourne, Austrália, endereçada a "Meus<br />

Caros Irmãos e Irmãs." Esse dito foi posteriormente publicado em 1923,<br />

numa compilação intitulada "Testemunhos Especiais Para Ministros e<br />

Obreiros", em português, Testemunhos Para Ministros e Obreiros<br />

Evangélicos, no capítulo "Economia a Ser Praticada em Todas as<br />

Coisas." (70) Nesse tempo, Ellen White estava na Austrália orientando o<br />

começo da obra adventista nesse vasto continente. O número de membros<br />

era pequeno, 376, para ser mais específico, (71) e as necessidades eram<br />

muitas. A igreja enfrentava aperto financeiro, enquanto o programa de<br />

construção de uma casa publicadora estava tendo início.<br />

A situação financeira era tão crítica que cada centavo era necessário<br />

para aliviá-la. Ela lamentava o fato de que, a despeito das aperturas<br />

financeiras, muitos membros estavam gastando seu dinheiro em móveis<br />

extravagantes, alimento e vestuário, em lugar de pô-lo nos tesouros da


Qual a Roupa Certa? 130<br />

igreja. Os missionários americanos que lutavam para viver com um<br />

salário escasso, estavam sendo envolvidos, e compravam dispendiosos<br />

anéis de casamento apenas para atender a costumes.<br />

No contexto dessa dificultosa e complicada situação, Ellen White<br />

redigiu esta declaração acerca do anel de casamento (aliança): "Alguns<br />

têm levado uma pesada carga ao usar aliança, sentindo que as nossas<br />

esposas (dos americanos) de ministros deveriam conformar-se a esse<br />

costume. Tudo isso é desnecessário. Tenham as esposas dos ministros o<br />

dourado laço que una suas almas a Jesus Cristo, um puro e santo caráter.<br />

o verdadeiro amor, a brandura e a piedade, que são frutos nascidos da<br />

árvore cristã, e sua influência estará segura em qualquer lugar. O fato de<br />

que a inobservância do costume produz observações não é um bom<br />

motivo para adotá-lo. Os americanos podem tornar compreensível sua<br />

posição, declarando simplesmente que esse costume não é tido como<br />

obrigatório em nosso país. Não necessitamos usar esse sinal, pois não<br />

somos infiéis ao nosso voto matrimonial, e o uso do anel não seria<br />

evidência de que somos leais. Sinto profundamente que esse processo<br />

levedante de conformidade aos costumes e modas, parece estar se<br />

espalhando entre nós. Nenhum centavo deve ser gasto num aro de ouro<br />

para testificar que somos casados." (72)<br />

Essa mensagem está claramente endereçada aos missionários<br />

americanos na Austrália, que nunca tinham usado alianças antes, porque<br />

na América ela não é obrigatório. Ellen White sentiu que ali não havia<br />

nenhuma necessidade de esses missionários comprarem anéis. Seu<br />

conselho estava baseado em quatro principais considerações: primeira,<br />

não era difícil aos missionários americanos explicarem porque não<br />

usavam aliança, uma vez que não era seu costume nacional. Segunda, o<br />

costume era irrelevante, porque usar um anel não era prova de fidelidade<br />

conjugal. Terceira, o dinheiro gasto nas alianças poderia ser usado para<br />

atender a urgentes necessidades financeiras da igreja. Quarta, alianças<br />

poderia tomar-se um processo levedante para encorajar conformidade


Qual a Roupa Certa? 131<br />

com os costumes e modas". Essas foram legítimas considerações que, em<br />

grande extensão, são hoje relevantes.<br />

Reforma Gradual<br />

É importante notar que Ellen White respeitava, sem contudo<br />

endossar, o costume da aliança em países onde era tido como imperioso.<br />

Sua declaração continua: "Em países onde o costume for imperativo, não<br />

devemos condenar aqueles que usam aliança; deixem-nos usar se podem<br />

fazê-lo conscienciosamente, mas que nossos missionários não sintam que<br />

o uso da aliança aumentará sua influência em um jota ou til. Se eles são<br />

cristãos, isso será manifesto em sua semelhança de caráter com Cristo,<br />

em suas palavras, obras, lar e na associação com outros.<br />

A frase "se eles podem fazê-lo conscienciosamente" sugere que<br />

Ellen White não deu um silencioso endosso ao uso da aliança, mesmo<br />

em países onde ele era um imperativo social. O "se" sugere que mesmo<br />

em tais países alguns podem ter dificuldade em conciliar o uso com sua<br />

consciência. Isso pode ser verdadeiro quando a consciência é iluminada<br />

pela plena compreensão da origem, significado e impacto espiritual da<br />

aliança ou anel de casamento.<br />

Confesso pessoalmente que eu mesmo teria usado aliança<br />

conscienciosamente (embora eu nunca o tenha feito), porque via o<br />

assunto através dos óculos de minha cultural italiana, como um símbolo<br />

de estado marital. Pela mesma razão nunca dissuadi minha esposa do uso<br />

da aliança. Todavia, agora que aprendi sobre sua origem pagã, seu<br />

impacto negativo na história do cristianismo e potencial levedante sobre<br />

minha vida espiritual e de outros, nunca consideraria o uso da aliança de<br />

boa consciência. Gostaria que minha esposa também viesse a considerar<br />

a aliança sob uma perspectiva diferente.<br />

Ellen White compreendeu essa importante verdade: uma bemsucedida<br />

reforma precisa ser conduzida de um modo não muito rápido,<br />

para que o povo possa compreender novas verdades. Eis porque ela não


Qual a Roupa Certa? 132<br />

fez diretas objeções a que nossos membros usassem a aliança na Europa<br />

e na Austrália. Entendeu que levaria tempo para eles compreenderem "o<br />

processo levedante" da aliança. Sua filosofia é bem expressada no<br />

conselho que deu sobre a reforma alimentar, que é aplicável à reforma do<br />

vestuário. "Não devemos ir mais depressa do que podemos, para levar<br />

conosco aqueles cujas consciências e intelectos estão convencidos das<br />

verdades que advogamos. Devemos encontrar o povo onde ele está.<br />

Alguns de nós têm levado muitos para chegar até sua presente posição na<br />

reforma de saúde. Essa é uma obra vagarosa. Temos fortes apetites a<br />

enfrentar... Em termos de reforma, é melhor estar um passo atrás do que<br />

adiante. E se houver erros, que eles sejam em favor do povo." (74)<br />

O Respeito de Ellen White Aos Costumes Locais<br />

William C. White, filho de Ellen White, relata dois episódios que<br />

ilustram o respeito de sua mãe (mas não aprovação) pelo costume local<br />

do uso da aliança. O primeiro aconteceu na Europa, onde Ellen trabalhou<br />

de 1885 a 1887. Em 1885, na Basiléia, um ministro adventista estava<br />

pregando numa noite contra o uso de jóias, incluindo anéis. Uma senhora<br />

o interrompeu para perguntar se a aliança estava incluída. Sem hesitar,<br />

ele respondeu: "Sim, tudo." Esse incidente levantou considerável<br />

controvérsia, porque na Europa a aliança não é vista como ornamento.<br />

Quando o assunto foi levado a Ellen White, de acordo com seu filho<br />

William que estava presente ao local. "Ela disse que onde o uso da<br />

aliança era exigido por costume como prova de lealdade, nossos<br />

pregadores não deveriam insistir no assunto, mas pô-lo de lado." (75)<br />

Referindo-se a idêntico episódio ocorrido num lugar onde o uso era<br />

considerado imperativo, William C. White escreveu novamente em outra<br />

carta: "Ela (Ellen White) disse que era correto discernir a diferença entre<br />

anéis como ornamento e como prova de lealdade ao marido." (76)<br />

Notemos que tal diferença aplica-se aos países onde a aliança é requerida<br />

por costume.


Qual a Roupa Certa? 133<br />

O segundo episódio envolve o próprio William C. White. Enquanto<br />

na Austrália trabalhando com sua mãe, ele encontrou uma jovem senhora<br />

chamada Ethel May Lacey, por quem se apaixonou. Ela era inglesa e<br />

vivia na Tasmânia. Seu pai era aposentado pela polícia britânica. Sua<br />

família e amigos entendiam a aliança como essencial. Sabendo da<br />

objeção de Ellen White ao uso de aliança pelos missionários americanos,<br />

Ethel decidiu conversar com sua futura sogra acerca do assunto. Logo<br />

depois ela relatou a conversa a seu noivo. "Willie, sua mãe disse que não<br />

se oporia a que eu usasse." (77) Após terem se estabelecido em seu novo<br />

lar, onde todos os conheciam, ela retirou sua aliança e nunca mais a<br />

usou, porque não se sentia confortável com ela." (78)<br />

À luz dessa experiência, William C. White explicou que sua mãe<br />

não se opunha "ao uso da aliança como sinal de lealdade naqueles países<br />

e entre o povo onde tal costume se acha bem estabelecido, e que seu<br />

abandono seria universalmente incompreendido." (79)<br />

Essas considerações conduzem-nos à conclusão de que Ellen White<br />

nunca imaginou que seus conselhos sobre a aliança devessem tornar-se<br />

uma regra para todo adventista ao redor do mundo. Em países onde o uso<br />

era imperativo, ela deixou o assunto à decisão da consciência individual,<br />

para seguir ou não o costume. Entretanto, ela não hesitava em expressar<br />

sua grande preocupação de que o uso do anel poderia contribuir com o<br />

"processo levedante", e encorajar conformidade com a moda. E essa<br />

inquietação não era infundada. Temos encontrado referências históricas<br />

de que a permissão ao uso da aliança tem dado a muitos o pretexto para<br />

uso de anéis ornamentais, brincos, colares, braceletes, etc. Veremos que<br />

esse "processo levedante" afeta também a igreja adventista.<br />

Concepções Adventistas Desde 1925<br />

O uso da aliança em cerimônias de casamento tornou-se bem<br />

estabelecido na maioria das igrejas protestantes americanas, durante a<br />

primeira parte do século vinte. Alguns adventistas também praticavam a


Qual a Roupa Certa? 134<br />

cerimônia do anel. Para discorrer sobre tal prática, que teria sancionado o<br />

uso difundido da aliança e, eventualmente, de anéis ornamentais, no<br />

Concílio Outonal de 1925, os líderes da igreja votaram uma ação, que<br />

mais tarde seria incluída no Manual da Igreja Adventista do Sétimo Dia:<br />

"Votado que... desaprovamos o anel cerimonial (aliança) e os ministros<br />

que oficiam casamentos de crentes com descrentes, ou entre aqueles que<br />

não são de nossa fé." (80) Essa declaração apareceu em muitas edições<br />

do Manual da Igreja, até 1951.<br />

A desaprovação da aliança pelo Manual da Igreja não reduziria o<br />

uso de jóias, especialmente anéis. Isso levou os líderes na América do<br />

Norte a reconsiderar a questão três anos após o Concílio outonal de<br />

1935. Nesse tempo eles se expressaram mais explicitamente: "Os<br />

membros de nossa igreja têm sido desde o início um povo simples.<br />

Nosso padrão exige o abandono de jóias, especialmente os artigos<br />

mencionados nas Escrituras e no Espírito de Profecia, tais como anéis,<br />

brincos, braceletes e colares; apelamos a uma maior lealdade a esses<br />

princípios divinamente revelados." (81)<br />

Essa declaração não faz menção específica da aliança,<br />

aparentemente porque naquele tempo o problema na igreja era mais o<br />

uso de jóias em geral do que a aliança em si. A situação foi logo mudada.<br />

Quando a aliança ganhou popularidade na sociedade americana, durante<br />

a Segunda Guerra Mundial, pelas razões abaixo citadas, um crescente<br />

número de adventistas na América do Norte também começou a usá-la.<br />

Para desestimular o crescente costume, uma nova declaração<br />

mencionando especificamente a aliança, foi apresentada na edição do<br />

Manual da Igreja de 1951. Ela estava amplamente baseada no conselho<br />

dado por Ellen White em 1892, e restringia o uso da aliança àqueles<br />

países onde tal costume era imperioso: "Em alguns países o costume do<br />

uso da aliança de casamento é considerado obrigatório, tendo-se tornado, na<br />

mente do povo, um critério de virtude e assim não é tido como ornamento.<br />

Sob tais circunstâncias, não temos disposição de condenar a prática." (82)


Qual a Roupa Certa? 135<br />

A Aprovação da Aliança na América do Norte<br />

A política restritiva do Manual da Igreja de 1951, perdurou na<br />

América até 1986. Nesse ano, o Concílio da Divisão Norte-Americana<br />

votou suspender a restrição e permitir aos membros da igreja nos Estados<br />

Unidos a possibilidade de uso de uma aliança simples, como em outras<br />

partes do mundo. A declaração reza: "Votado reconhecer que, em<br />

harmonia com a posição tomada no Manual da Igreja, págs. 145 e 146,<br />

alguns membros na Divisão Norte-Americana, bem como em outras<br />

partes do mundo, sintam que usar uma simples aliança é um símbolo de<br />

fidelidade ao voto matrimonial, e declarar que tais pessoas devem ser<br />

plenamente aceitas na congregação e nos serviços da igreja." (83)<br />

Muitos fatores contribuíram para a revogação da restrição sobre o<br />

uso da aliança na América do Norte. Desde 1951, grande número de<br />

adventistas tem vindo à América, procedentes de países onde o uso da<br />

aliança é socialmente indispensável. Em muitos casos esses irmãos têm<br />

continuado a usar a aliança na América. Há também muitos adventistas<br />

americanos que crêem que usar aliança tem-se tomado imperativo na<br />

América, como acontece em outros países. Consequentemente, eles<br />

sustentam que a concessão feita por Ellen White em 1892 para os "países<br />

onde o costume é imperativo", é agora aplicável à América do Norte.<br />

Não há dúvida de que o costume da aliança tem ganho terreno nos<br />

Estados Unidos, desde a Segunda Guerra Mundial. Em seu livro, Anéis<br />

Através dos Tempos, James McCarthy dá razão ao seu desenvolvimento:<br />

"Com a ocorrência da Segunda Guerra, o lar nunca pareceu tão precioso<br />

ao jovem; nunca ele se apegou tão acerbamente ao lar e à esposa e a tudo<br />

o que o casamento significava. Os noivos começaram insistindo na<br />

cerimônia da troca de alianças. A aliança era tudo o que eles podiam<br />

levar para a guerra. As noivas desejavam que seus maridos soldados<br />

tivessem alguma lembrança apropriada de seu estado civil, enquanto<br />

vagavam pelo mundo." (84)


Qual a Roupa Certa? 136<br />

A popularidade da aliança tem crescido nos Estados Unidos desde a<br />

Segunda Guerra, promovendo o surgimento de novas indústrias<br />

dedicadas exclusivamente a criar novos tipos de anéis. Hoje, a maioria<br />

das alianças não são mais simples anéis de ouro, sem jóias, mas têm<br />

todas as espécies de formas, incrustadas de diamantes e outras pedras<br />

preciosas. Segundo os joalheiros que consultei, cerca de 90% das<br />

alianças vendidas possuem diamantes ou outras pedras preciosas. Isso<br />

significa que apenas 10% do povo adquirem alianças simples. Os<br />

joalheiros disseram-me que alianças simples estão ficando fora de moda,<br />

e daqui a não muito tempo serão coisa do passado. Assim, não pode mais<br />

ser dito que as alianças não são mais um ornamento, porque em sua<br />

maioria elas vêm com diamantes e outras gemas. Alianças artisticamente<br />

trabalhadas são dispendiosos ornamentos, sem consonância com os<br />

princípios bíblicos de modéstia e simplicidade.<br />

O "Processo Levedante"<br />

O crescimento da popularidade dos anéis está influenciando os<br />

adventistas da América e além-mar. Meu ministério itinerante por várias<br />

partes do mundo, expõe-me constantemente a realidade do "processo<br />

levedante" de conformidade com as jóias da moda. Em nossas grandes<br />

igrejas está se tornando uma experiência comum para mim, cumprimentar<br />

membros da igreja que usam não somente anéis de diamante, mas<br />

também brincos, braceletes e colares.<br />

Lembro-me de que em minha meninice, na Itália, nossos irmãos<br />

usavam apenas uma aliança simples. Quão diverso é hoje em dia!<br />

Recentemente preguei em algumas das grandes igrejas ao norte da Itália,<br />

Áustria, Suíça, Dinamarca, Noruega e Inglaterra. Em todo lugar vi um<br />

crescente número de membros profusamente adornados com jóias,<br />

incluindo alianças trabalhadas. A situação não é diferente na América do<br />

Norte. O comentário que ouço freqüentemente é que as jóias não são<br />

mais um tema de preocupação da igreja.


Qual a Roupa Certa? 137<br />

A intenção dessas observações não é julgar motivos daqueles<br />

irmãos que usam anéis de diamante e outros tipos de jóias. Minha<br />

experiência tem sido que muitos desses membros são muito sinceros e<br />

não dão muita importância às jóias que usam. Eles as usam em ocasiões<br />

formais, como ditado pela etiqueta social. Necessariamente não fazem<br />

delas ídolos, e estão dispostos a removê-las quanto compreenderem os<br />

princípios de modéstia, simplicidade e mordomia.<br />

Antes de mais nada, meu intento é mostrar que Ellen White tinha<br />

razão ao "preocupar-se profundamente com esse levedante processo" (85)<br />

de conformidade ao mundo, em pequenas coisas como a simples aliança.<br />

Esta pesquisa sobre a história da aliança, ou anel de casamento em<br />

algumas igrejas cristãs, tem mostrado que pequenas coisas tais como<br />

uma aliança de casamento, podem abrir a porta a grandes<br />

comprometimentos, por tentar o povo a usar outras espécies de jóias.<br />

Conclusão<br />

Nós propusemos duas questões no início: (1) Poderiam os cristãos<br />

usar aliança de casamento? (2) A aliança simples estaria inclusa na<br />

categoria dos impróprios ornamentos de ouro e pérolas mencionados por<br />

Paulo e Pedro?<br />

Temos buscado por respostas a essas questões restaurando a história<br />

do anel, primeiro na Roma antiga e então nas igrejas cristãs. O que temos<br />

aprendido dessa pesquisa histórica pode ser sumariado em cinco grandes<br />

pontos:<br />

Primeiro – A origem do anel é encontrada na mitologia pagã e nas<br />

práticas idolátricas. Utilizar um símbolo pagão com significado sagrado<br />

pode facilmente conduzir à secularização do próprio símbolo. Um caso<br />

específico é a adoção do Dia do Sol como o dia do Senhor, que<br />

rapidamente tornou-se um feriado antes que um dia santo.<br />

Segundo – Os romanos introduziram o uso de um simples anel de<br />

ferro para "ligar" o compromisso de noivado de dois namorados.


Qual a Roupa Certa? 138<br />

Todavia, vimos que o singelo anel de noivado logo evoluiu para<br />

elaborados anéis de ouro para ornar todos os dedos.<br />

Terceiro – O que aconteceu na Roma pagã repetiu-se na igreja<br />

cristã. Descobrimos que na igreja primitiva o uso do anel marital passou<br />

por três fases principais. Na primeira, do período apostólico, não houve,<br />

ao que tudo indica, uso do anel. Na segunda, entre o segundo e terceiro<br />

séculos, houve uso restrito apenas a um simples e barato anel conjugal.<br />

Na fase final, do quarto século em diante, houve proliferação de todas as<br />

espécies de anéis ornamentais e jóias.<br />

Quarto – O que ocorreu na igreja primitiva tem-se repetido nas<br />

modernas denominações. Os dois exemplos que consideramos, das<br />

igrejas metodista e menonita, mostraram a mesma regra. No primeiro<br />

estágio, não eram permitidos jóias e anéis de casamento. No segundo, foi<br />

feita uma concessão ao uso da aliança. No estágio final, a concessão ao<br />

uso da aliança tornou-se um pretexto para ostentação de todas as<br />

espécies de jóias, incluindo anéis ornamentais.<br />

Quinto – O que ocorreu nas igrejas metodista e menonita, tem<br />

ocorrido também na igreja adventista. O exemplo é similar. Na primeira<br />

fase da igreja adventista, nenhuma jóia ou aliança era usada. Na segunda,<br />

a concessão foi feita apenas à aliança naqueles países onde o uso era<br />

imperativo. Na fase final, a concessão estendeu-se aos membros da<br />

igreja da América do Norte. O resultado dessa evolução é um<br />

estabelecido crescimento no uso de várias espécies de jóias, incluindo<br />

anéis ornamentais.<br />

Em suma, a lição histórica é evidente. Na história de Roma e da<br />

igreja cristã, os anéis de casamento têm exercido uma corruptora<br />

influência, por tentar o povo a usar anéis ornamentais e outros tipos de<br />

jóia. Os anéis parecem exercer quase que uma fatal atração. O povo pode<br />

tornar-se tão enamorado de sua aliança, que se sinta facilmente tentado a<br />

aumentar o número de anéis em seus dedos e "melhorar" seu estilo.<br />

À luz dessas descobertas, qual seria nossa resposta à primeira<br />

questão: "Deveriam os cristãos usar aliança?" A resposta é: Os cristãos


Qual a Roupa Certa? 139<br />

podem usar aliança se eles puderem fazê-lo conscienciosamente,<br />

naquelas culturas onde o costume for imperativo. À segunda questão.<br />

"Poderia a aliança ser enquadrada na categoria de impróprios<br />

ornamentos de ouro e pérolas mencionados por Paulo e Pedro? A<br />

resposta é esta: Historicamente uma aliança simples não tem sido<br />

observada como ornamento, mas a história também nos ensina que ela<br />

não permanece simples por muito tempo, mas evolui para anéis mais<br />

elaborados incrustados de pedras preciosas.<br />

Advertência Final<br />

Rápidas mudanças culturais estão tendo lugar hoje. Em muitos<br />

países ocidentais a velha visão do casamento como sagrado, indissolúvel,<br />

comprometido por toda a vida, está sendo desafiada e substituída por<br />

uma nova visão secular como um contrato social facilmente dissolúvel<br />

através de um processo legal. Verdadeiramente, o divórcio não é mais<br />

uma moléstia americana, mas espalhou-se rapidamente na maioria dos<br />

países cristãos desenvolvidos. O resultado é que a aliança está<br />

gradualmente perdendo seu significado de mútua fidelidade "até que a<br />

morte os separe", e está se tornando mais e mais um mero ornamento.<br />

Ademais, o povo hoje não está mais satisfeito com uma simples<br />

aliança de ouro, mas deseja anéis mais sofisticados, com diamantes e<br />

outras gemas. A aliança está se tornando relíquia do passado. Isso<br />

significa que as alianças transformaram-se em custosos ornamentos, em<br />

completa dissonância com os princípios bíblicos da modéstia e<br />

simplicidade. À luz dessas tendências, usar a aliança pode rapidamente<br />

tornar-se inapropriado para os cristãos, mesmo em países onde<br />

tradicionalmente tem sido um sinal de virtude.<br />

Muitos insistem que as jóias em geral e os anéis em particular são<br />

coisas de somenos importância, que não deveria obscurecer assuntos<br />

mais relevantes. Eu concordo. Há mais coisas concernentes ao<br />

cristianismo do que jóias e anéis. Isso é porque eles recebem cobertura


Qual a Roupa Certa? 140<br />

limitada na Bíblia. Por outro lado, a Bíblia e a História revelam que o<br />

amor às jóias tem resultado em declínio e apostasia. Uma vez que a<br />

aliança é uma coisa pequena, por que não retirá-la do dedo, a menos que<br />

seja um imperativo social? Porque não usar em seu lugar "o vínculo<br />

dourado que une (nossas) almas a Jesus Cristo, um puro e santo caráter,<br />

o verdadeiro amor e a mansidão e a piedade que são frutos nascidos na<br />

árvore cristã, e (nossa) influência será segura em qualquer lugar." (86)<br />

Referências do Capítulo V<br />

1. Sobre o afrouxamento do padrão concernente a jóias entre alguns<br />

grupos menonitas, ver Melvin Gingerich, Mennonite Attire<br />

Through Four Centuries (Breinigsville, Pennsylvania, 1970),<br />

págs. 142 a 144. Para a mesma tendência entre os metodistas. ver<br />

The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977, no verbete<br />

"Dress".<br />

2. Para posterior informação, ver The Encyclopedia Britannica, ed.<br />

1926, verbete "Ring".<br />

3. Plínio, Natural History 23,8.<br />

4. Ver The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring".<br />

5. Ibidem.<br />

6. James Remington McCarthy. Rings Through the Ages (New<br />

York. 1945), pág. 5.<br />

7. Paul Berdanier. How It Began, como citado por James<br />

Remington McCarthy (nota 6), pág. 6.<br />

8. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 6.<br />

9. Josefo. Antiquities of the Jews, 8,2,5. Para ampla discussão do<br />

uso de anéis e outros amuletos como atrativos, ver Encyclopedia<br />

of Religious and Ethics, edição de 1914. James Hastings. ed.,<br />

verbete "Charms and Amulets (Christian)", vol. 3, págs. 413 a<br />

430.


Qual a Roupa Certa? 141<br />

10. The Encyclopedia Americana, ed. 1944, verbete "Ring", (vol. 23,<br />

pág. 531).<br />

11. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 26.<br />

12. Como citado por James Remington McCarthy (nota 6), pág. 30.<br />

13. Além das enciclopédias mencionadas acima, ver The<br />

Encyclopedia of Religious, Mircea Eliade, ed. 1987, verbete<br />

"Jewelry", também Encyclopedia of Religious and Ethics, James<br />

Hastings, ed. 1913, verbete "Charms and Amulets".<br />

14. Ver minha dissertação doutoral From Sabbath to Sunday, a<br />

Historical Investigation of the Origin of Sunday in Early<br />

Christianity (Roma, Imprensa da Pontifícia Universidade<br />

Gregoriana, 1977), capítulos 8 e 9.<br />

15. The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring" (vol. 23,<br />

pág. 351).<br />

16. Tertuliano, Apology 6. The Ante-Nicene Fathers, Alexander<br />

Roberts e J. Donaldson editores (Grand Rapids, 1973), vol. 3,<br />

pág. 22.<br />

17. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 26.<br />

18. Idem, pág. 67.<br />

19. Churchill Babington. "Rings" A Dictionary of Christian<br />

Antiquities (Londres. 1908), vol. pág. 1, 1794.<br />

20. Ibidem.<br />

21. Ibidem.<br />

22. James Remington McCarthy (nota 6), pág. 152.<br />

23. Joseph Bingham, The Antiquities of Christian Church, livro 22,<br />

3, 5, como citado no A Dictionary of Christian Antiquities (nota<br />

1), vol. 3, pág. 22.<br />

24. Tertuliano, Apology (nota 16), vol. 3, pág. 22 Ver também<br />

Tertuliano, On Idolatry 16. The Ante-Nicene Fathers, (Grand<br />

Rapids, 1973), vol. 3, pág. 71.<br />

25. Clemente de Alexandria, The Instructor 3, 11 (nota 24), vol. 2,<br />

pág. 285.


Qual a Roupa Certa? 142<br />

26. Ibidem.<br />

27. Plínio, o Velho, Natural History 33,1.<br />

28. Clemente de Alexandria, The Instructor 3, 33 (nota 24), vol. 2,<br />

pág. 286.<br />

29. Idem. pág. 285.<br />

30 Para exemplos, ver A Dictionary of Christian Antiquities (nota 1),<br />

vol. 2, pág. 1807 e 1808.<br />

31. Isidoro de Sevilha, De Ecclesiasticis Officiis, 2,20, citado em A<br />

Dictionary of Christian Antiquities (nota 19), vol. 2, pág. 1808.<br />

32. The Catholic Encyclopedia, ed. 1926, ed. 1908, verbete "Rings".<br />

33. Ibidem.<br />

34. Ibidem.<br />

35. Ibidem.<br />

36. The Encyclopedia Britannica, ed. 1926, verbete "Ring", vol. 23,<br />

p. 350).<br />

37. Ibidem.<br />

38. Idem, pág. 351.<br />

39. The Constitutions of the Holy Apostles 1, 2, The Ante-Nicene<br />

Fathers, Alexander Roberts e J. Donaldson edits. (Grand Rapids,<br />

1970), vol. 7, pág. 392.<br />

40. Citado na The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977,<br />

verbete "Dress", (vol. 2, pág. 717).<br />

41. Idem, pág. 718. Ver também The Doctrines and Discipline of the<br />

Methodist Church (New York, 1835), pág. 88.<br />

42. The Doctrines and Discipline of the Methodist Church (New<br />

York, 1872), pág. 272, ênfase suprida.<br />

43. Manual of Presbyterian Law and Usage (Washington, D.C.,<br />

1873), pág. 285, ênfase suprida.<br />

44. Our Deportment (Detroit, 1881), pág 19.<br />

45. Melvin Gingerich, (nota 1), pág. 143.<br />

46. The Encyclopedia of World Methodism, ed. 1977, verbete<br />

"Dress", (vol. 2, pág. 718).


Qual a Roupa Certa? 143<br />

47. Dean M. Kelly, "How Adventism Can Stop Growing", Adventists<br />

Affirm (Spring, 1991), pág. 56.<br />

48. Dean M. Kelly, Why Conservative Churches Are Growing (New<br />

York, 1972), pág. 55.<br />

49. Idem, págs. 1 a 10. Kelly fornece quadros informativos<br />

mostrando o declínio numérico da congregação, das matriculas<br />

nas escolas paroquiais e do número de missionários no Exterior.<br />

Estatísticas mais recentes são encontradas em The World<br />

Christian Encyclopedia (New York, 1982)<br />

50. Dean M. Kelly, (nota 48), pág. 57.<br />

51. Dean M. Kelly, "How Adventism Can Stop Growing", Adventists<br />

Affirm (Spring, 1991), pág. 49. O artigo foi originalmente<br />

publicado em Ministry, fevereiro de 1982.<br />

52. Idem, pág. 48.<br />

53. Melvin Gingerich, (nota 1), pág. 142.<br />

54. Idem, pág. 143.<br />

55. Ibidem.<br />

56. Idem, ênfase suprida.<br />

57. Idem. pág. 144.<br />

58. Ibidem.<br />

59. Idem, pág. 158<br />

60. Daniel T. Bordeau. "How Practice of Wearing Gold" Review and<br />

Herald (5 de outubro de 1869). pág. 117.<br />

61. Ellen G. White, Selected Messages, vol. 3 (Hagerstown.<br />

Maryland, 1980), págs. 246 a 247.<br />

62. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 4, pág. 630.<br />

63. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 4, pág. 180.<br />

64. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 4, pág. 630.


Qual a Roupa Certa? 144<br />

65. Ellen G. White, Selected Messages, vol. 3 (Hagerstown.<br />

Maryland, 1980), págs. 249.<br />

66. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 4, pág. pág. 645.<br />

67. Ibidem.<br />

68. Idem, págs. 645. 646.<br />

69. Idem, pág. 646.<br />

70. A declaração foi publicada em Testimonies to the Ministers,<br />

(Mountain View, California, 1958) vol. 4, págs. 180, 181.<br />

71. General Conference Bulletin, 1889, págs. 47 a 50.<br />

72. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 4, págs. 180 e 181.<br />

73. Idem, pág. 181, ênfase suprida.<br />

74. Ellen G. White, Testimonies for the Church, (Mountain View,<br />

California, 1958) vol. 3, págs. 20 e 21.<br />

75. William C. White, carta a D. C. Babckock, 6 de agosto de 1913,<br />

pág. 1.<br />

76. William C. White, carta a J. W. Siler, 9 de agosto de 1916.<br />

77. Ethel May Lacey, carta a William C. White, 13 de fevereiro de<br />

1895.<br />

78. Ibidem.<br />

79. William C. White, carta a W. E. Ingle, Sanatório, Califórnia, 14<br />

de abril de 1913.<br />

80. A declaração aparece primeiramente em Seventh-Day Adventist<br />

Manual, (Washington, D.C., 1932), pág. 175.<br />

81. Actions of Autumn Council Committee from the General<br />

Conference, Louisville, Kentucky, 29 de outubro a 5 de<br />

novembro de 1935, pág. 24<br />

82. Seventh-Day Adventist Manual, (Washington, D.C., 1951), pág.<br />

202. Essa declaração foi publicada sem qualquer mudança de<br />

texto em todas as edições do Manual da Igreja, de 1951 até 1990.


Qual a Roupa Certa? 145<br />

83. 1986 Year-end Meeting of the North American Division (de 5 a<br />

11 de novembro de 1986), págs. 24 e 25.<br />

84. James Remington McCarthy (nota 6). pág. 182.<br />

85. Ellen G. White, Testimonies to the Ministers, (nota 63) vol. 4,<br />

págs. 180 e 181.<br />

86. Idem, pág. 180.


Qual a Roupa Certa? 146<br />

TRAJES UNISSEX<br />

U<br />

ma significativa tendência de nossos tempos é embotar as<br />

distinções de gênero no vestuário. "Desde o Éden", escreveu<br />

Charles Winick em seu livro The New People: Desexualization in<br />

American Life, "a coisa mais provocante sobre cada sexo tem sido que<br />

ele pareça e cheire diferente um do outro. Mulheres com maneiras de<br />

homens, cujos trajes fazem-nas parecer maiores e mais fortes... Homens<br />

retribuindo às mulheres, cujos trajes leves e justos insinuam-lhe<br />

discretamente as curvas, e cujo perfume era promessa." (1)<br />

"Vive la Similarité!"<br />

Hoje o mundo da moda não mais proclama: "Vive la difference!",<br />

mas "Vive la similarité!" De fato, a similaridade entre os estilos de<br />

cabelo e vestuário de homens e mulheres tornou-se tão grande que<br />

algumas pessoas se divertem no fato de que ninguém pode sempre estar<br />

certo se dois jovens caminhando pela calçada são ambos rapazes ou<br />

garotas, ou um de cada.<br />

Winick ilustra a similaridade de estilos referindo-se ao jogo "Uma<br />

dama no escuro", no qual o herói nota que o traje da heroína é igual ao<br />

seu próprio. "Precisamos ir ao mesmo alfaiate", diz ele. (2) E comenta:<br />

"Cada sexo tem estado adotando de modo crescente as modas e as<br />

características secundárias externas do outro no último quarto de século,<br />

desde o jogo Moss Hart. Se o vestir-se torna-se mais interssexual,<br />

podemos necessitar das indicações 'Ele' e 'Ela' nas roupas, para sermos<br />

capazes de falar com os participantes sem um cartão de contagem." (3)<br />

Objetivo Deste Capítulo<br />

Este capítulo examina a camuflada filosofia da moda unissex e seu<br />

impacto sobre o lar, o trabalho e a igreja. Consideraremos a resposta que


Qual a Roupa Certa? 147<br />

o cristão deve dar à moda unissex, e como aplicar os princípios bíblicos<br />

da distinção de sexos à seleção do vestuário.<br />

A Visão Andrógina<br />

A força condutora por trás da moda unissex de nosso tempo é a<br />

visão feminista da nova sociedade sem distinção de sexos, comumente<br />

conhecida como Sociedade Andrógina. O termo andrógino combina as<br />

palavras gregas andros (macho) e gume (fêmea). Ele descreve o<br />

indivíduo que integra ambas as características de macho e fêmea.<br />

As feministas afirmam que homens e mulheres são essencialmente<br />

os mesmos, exceto pela diferença dos órgãos reprodutores. Outras<br />

diferenças percebidas são todas culturalmente induzidas, dizem. A razão<br />

pela qual as meninas brincam com bonecas e os meninos com carrinhos<br />

não é natural, mas educacional. Para adquirir uma autêntica humanidade,<br />

de acordo com as feministas, é necessário destruir os estereótipos<br />

sexuais, incluindo a distinção de gêneros no vestir. Esse ideal é a nova<br />

androgenia, que para as feministas, contém a promessa de uma nova<br />

sociedade onde os papéis dos homens e das mulheres são indiferençáveis<br />

e intercambiáveis. As feministas vêem essa utópica sociedade sem<br />

gêneros como imperativa para conseguir a liberação das mulheres de seu<br />

papel submisso. "Conquanto sejam poucas as que buscam a<br />

unissexualidade", conforme Roland Martinson, "há muitas que seguem<br />

pelos caminhos do homem crendo ser isso uma liberação." (4)<br />

As feministas têm sido bem-sucedidas em vender sua visão<br />

revolucionária de uma sociedade andrógina. Vemos isso não somente na<br />

popular moda unissex, como em outras áreas. Allan Carlson documenta<br />

o impacto da visão andrógina em quatro segmentos de nossa sociedade:<br />

"1) Em 1980, 72% dos profissionais da saúde mental ... descrevem um<br />

adulto saudável, maduro, socialmente competente, como andrógino.<br />

2) Os livros escolares absorveram a revolução feminista e promovem o<br />

ideal andrógino. 3) Teólogos de linha denominacional protestante


Qual a Roupa Certa? 148<br />

identificam-se agora com a androginia. A principal teóloga feminista,<br />

Rosemary Reuther defende destemidamente em Sexismo e a Voz de<br />

Deus, Perante a Teologia Feminista: "Por muitos anos as funções<br />

seccionais da Sociedade de Literatura Bíblica dedicou muitos de seus<br />

documentos à promoção de aspectos do feminismo como androginia.<br />

4) A androginia tem feito alguns avanços no setor empresarial e mesmo<br />

nos serviços militares." (5)<br />

Aparência Unissex<br />

As feministas estão explorando diferentes modos de criar uma<br />

sociedade sem gêneros. Por exemplo, Sandra Bem, uma psicóloga da<br />

Universidade de Cornell, tem tentado formar suas próprias crianças<br />

sistematicamente sem gênero, isto é, sem consciência de gênero. Em<br />

uma entrevista com Don Monkerud, um repórter da revista Omni, Sandra<br />

disse que ela e seu marido "procuram eliminar os estereótipos sexuais de<br />

seu próprio comportamento, partilhando tarefas familiares, banho com as<br />

crianças, fazendo o jantar juntos e dando-lhes caminhõezinhos e bonecas<br />

independentemente de sexo." (6)<br />

"Aos quatro anos de idade, Jeremy, o filho de Sandra, usa<br />

prendedores de cabelo na escola maternal. Um dia, um rapazote<br />

constantemente lhe dizia que apenas meninas usam prendedores. Jeremy<br />

tentou explicar que usar prendedores não faz um garoto ou uma garota, e<br />

sim apenas a genitália. Finalmente, frustrado, ele baixou suas calças para<br />

mostrar que era menino. Isso não mudou o pensamento de seu amigo que<br />

continuava dizendo: "apenas meninas usam prendedores de cabelo" (7)<br />

Esse episódio humorístico ilustra a confusão proveniente de forçar<br />

uma aparência unissexual. As feministas crêem que essa confusão é parte<br />

do preço a ser pago para construir uma sociedade sem gêneros, que,<br />

segundo alegam, permitirá a total expressão do potencial humano.<br />

Na mostra de moda primaveril, em 1970, na cidade de Paris, Diana<br />

escreveu para a revista Saturday Review: "E já se foi – ou está indo – a


Qual a Roupa Certa? 149<br />

diferença sócio-sexual entre homens e mulheres em termos de vestes e<br />

penteados. Ao mesmo tempo em que confesso não ter qualquer amor<br />

pelo total desasseio de muitos jovens, uma vez que vejo nisso uma<br />

depreciação as por seu criticismo da cultura, na qual diferenciados estilos<br />

de penteados e vestidos, desenhados não por Deus mas pelo homem,<br />

foram tratados como se fossem apenas realidades biológicas. Como<br />

entendo, ou pelo menos como o espero, o que quer que reduza as falsas<br />

separações entre homens e mulheres, está fadado a reduzir suas suspeitas<br />

e hostilidades, a assim lhes permite total expressão potencialidades<br />

humanas." (8)<br />

Unissex na Busca da Igualdade<br />

A subjacente suposição é que a diferenciação de vestes e penteados<br />

não é intento divino e contribui para a dominação masculina.<br />

Consequentemente, é imperioso eliminar tais distinções de gênero para<br />

conseguir a emancipação da mulher. James Laver sustenta: "Numa<br />

sociedade patriarcal, na qual o homem é dominante, as vestes de homens<br />

e mulheres são totalmente diferentes. Mas na sociedade matriarcal, na<br />

qual a mulher é dominante, as vestes usadas pelos dois sexos tornam-se<br />

mais e mais semelhantes." (9)<br />

A moda unissex, que se tornou popular na América nos anos<br />

sessenta, reflete a tentativa das mulheres de conseguir igualdade com os<br />

homens. Em seu livro Historic Costume, Katherine Lester escreveu<br />

acerca da emergente moda unissex durante a década de sessenta: "Com<br />

muitas mulheres usando calças e muitos homens vestindo ousados trajes<br />

e penteados, as modas para ambos os sexos tornaram-se semelhantes.<br />

Essa tendência, chamada 'unissex', veio com o movimento pró igualdade<br />

sexual e econômica entre homens e mulheres, e nublou os tradicionais<br />

papéis do homem e da mulher na sociedade." (10)<br />

A fim de conseguir igualdade com os homens, as feministas<br />

promoveram modas masculinas para as mulheres. "A conhecida Dra.


Qual a Roupa Certa? 150<br />

Mary Walker, vestida constantemente com roupas masculinas, promoveu<br />

a igualdade dos sexos, fundando uma colônia feminina chamada 'Eva<br />

sem Adão' para provar que a anatomia da mulher é semelhante à do<br />

homem. (11)<br />

Os homens também adotaram estilos femininos. Durante os anos<br />

sessenta, os homens usaram "roupas e penteados que primeiramente<br />

pensava-se serem femininos. Em parte, isso era um mecanismo para<br />

chamar a atenção, para ser notado. Não apenas grupos musicais como os<br />

Beatles e os Rolling Stones, mas também nas artes e no teatro aceitou-se<br />

essa aparência feminilizada." (12) "Durante 1984", escreveu Don<br />

Monkerud, "Boy George poderia jovialmente falar em rede nacional de<br />

TV dizendo: 'Quero agradecer à América, por reconhecer um bom drag<br />

queen [homem travestido com roupas femininas] quando vêem um."' (13)<br />

A Importância da Distinção de Sexos<br />

A despeito de sua popularidade, a tentativa de eliminar as distinções<br />

de gêneros ou sexos no vestuário, bem como em seus papéis, é<br />

claramente condenada na Bíblia. As Escrituras ensinam respeito pela<br />

distinção de gêneros, bem como em seus papéis funcionais, porque ela é<br />

parte da ordem da Criação. Não é engraçado para o homem vestir-se<br />

como mulher, ou vice-versa, porque Deus pretendeu que haveria clara<br />

diferença na aparência exterior do homem e da mulher. Isso é<br />

amplamente ensinado em Deuteronômio 22:5: "A mulher não usará<br />

roupa de homem, nem o homem veste peculiar à mulher; porque<br />

qualquer que faz tais cousas é abominável ao Senhor teu Deus."<br />

Alguns interpretam essa lei como dirigida contra uma simulada<br />

troca de sexo para propósitos imorais. A maioria dos comentaristas<br />

questiona essa interpretação porque "nenhum dado histórico foi<br />

encontrado para apoiar tal suposição." (14) Como Keil e Delitzch<br />

notaram: "O propósito imediato dessa proibição não é prevenir a<br />

licenciosidade ou opor-se a práticas idolátricas ... mas manter a santidade


Qual a Roupa Certa? 151<br />

da distinção de sexos, que foi estabelecida pela criação de homem e<br />

mulher, e em relação à qual Israel não pecara. Cada violação ou remoção<br />

dessa diferença ... é artificial, e ainda uma abominação ao Senhor." (15)<br />

Essa interpretação é apoiada pelas estipulações dos versos 9 a 11, que<br />

proíbem a amálgama de diferentes espécies de sementes ou animais,<br />

evitar sua confusão e preservá-los intactos como Deus os criou.<br />

A Bíblia dá grande importância à preservação da distinção dos<br />

gêneros, não apenas no vestuário, mas também nos papéis funcionais. A<br />

razão, como tenho demonstrado em estudos prévios, (16) é que essa<br />

distinção é fundamental para nossa compreensão de quem somos e que<br />

papel Deus deseja que cumpramos. Há profundos inter-relacionamentos<br />

entre vestimentas e comportamentos, que são edificados dentro de nosso<br />

estilo. Um traje envolve costume, e o "hábito" que vestimos está ligado<br />

aos nossos hábitos.<br />

Natureza ou Educação<br />

A tentativa de eliminar a diferença de sexos no vestuário e nos<br />

papéis funcionais, origina-se da concepção de que tais distinções são<br />

largamente o resultado da educação antes que da natureza,<br />

comportamento aprendido, antes que biológico. Para colocar de modo<br />

diferente: a distinção de gêneros é antes cultural do que criacional.<br />

Assim, é necessário modificar ou eliminar os fatores culturais e sociais,<br />

tais como vestidos, que favorecem as diferenças no comportamento dos<br />

sexos, de forma a tornar real a sociedade andrógina.<br />

É notável que a credibilidade dessa visão popular andrógina, está<br />

caindo hoje, mesmo entre os cientistas feministas. "A espantosa verdade<br />

sobre a revolução andrógina", escreveu Allan Carlson, "é que ela é<br />

teórica e cientificamente infundada. Uma pesquisa honesta feita na<br />

última década mostrou conclusivamente que a androginia psicológica é<br />

um embuste." (17) Carlson apóia essa devastadora assertiva em fontes


Qual a Roupa Certa? 152<br />

científicas bem documentadas, incluindo uma vasta série de artigos,<br />

relatórios de pesquisas e compêndios.<br />

Um dos autores que Carlson menciona é Melvin Konner, que nos<br />

tem dado um amplo tratamento sobre o assunto. Embora um convicto<br />

evolucionista, simpático às aspirações feministas andróginas. Konner<br />

reconhece que "as diferenças de sexos no comportamento são mais<br />

biológicas que culturais." (18)<br />

Os Sexos São Irremediavelmente Diferentes<br />

Konner lista os nomes de onze "distinguidas cientistas que<br />

devotaram suas vidas ao estudo da mente, dos hormônios ou<br />

comportamento, do humano e animal." (19) Cada uma dessas mulheres<br />

esteve envolvida no movimento feminista, em nível de pesquisa<br />

acadêmica, e cada uma delas concorda, sem exceção que "as diferenças<br />

de sexo no comportamento... tem base que é, em parte, biológica." (20)<br />

De acordo com Konner, "essas mulheres estão praticando um ato<br />

balanceado de formidáveis proporções. Elas continuam a lutar, em<br />

particular e em público, por iguais direitos e igual tratamento para<br />

pessoas de ambos os sexos; ao mesmo tempo, descobrem e relatam<br />

evidências de que os sexos são irremediavelmente diferentes; de que<br />

após o sexismo ser totalmente dispensável; após as diferenças em<br />

experimentos terem desaparecido do espartilho de barbatana, haverá<br />

ainda alguma coisa [grifo do autor] diferente, algo que é ensinado em<br />

biologia." (21)<br />

Helen Block Lewis é um bom exemplo de uma erudita feminista<br />

que reconhece que as diferenças de sexo no comportamento derivam<br />

mais do biológico do que de fatores culturais. Falando numa conferência<br />

de líderes feministas eruditas num encontro da Academia de Ciências,<br />

em 29 de janeiro de 1977, Helen disse: "Estou ciente de que a noção de<br />

diferenças geneticamente determinadas entre os sexos, não é coisa da<br />

moda, desde que elas não sejam usadas para promover a submissão da


Qual a Roupa Certa? 153<br />

mulher. Mas, parece-me inútil errar por ignorância dos fatores genéticos,<br />

apenas porque eles têm sido distorcidos. Eu, por exemplo, costumo crer<br />

que é impossível, no presente clima social de inferioridade da mulher,<br />

obter qualquer resultado significativo acerca das diferenças de<br />

comportamento geneticamente determinado entre os sexos... Após fazer<br />

pesquisas para o meu livro, mudei de idéia." (22) A razão, diz ela, é que<br />

"quando ocorre a diferenciação entre os sexos, a diferença entre ter um<br />

XX ou um XY, como vigésimo terceiro par de cromossomos, é<br />

tremendamente poderosa." (23)<br />

Recuperar a Masculinidade e Feminilidade Bíblicas<br />

É encorajador notar que algumas eruditas feministas reconhecem<br />

que a diferença comportamental dos gêneros, a qual a Bíblia descreve e<br />

prescreve como parte da ordem de Deus na Criação, deriva mais da<br />

biologia do que da educação e treinamento. Não necessitamos esperar<br />

pelas cientistas feministas para descobrir essa verdade. Afinal de contas,<br />

esse é um ensino bíblico fundamental que tem sido aceito historicamente.<br />

Homens e mulheres são biológica, psicológica e funcionalmente diferentes.<br />

A Bíblia nos ensina a respeito dessas diferenças. A tentativa de eliminálas<br />

deve ser vista como uma perversão da ordem criadora de Deus.<br />

Como cristãos devemos rejeitar o incoerente ideal feminista, como<br />

Elisabeth Elliot colocou "reduza-se todos os seres humanos a um simples<br />

nível – uma irreconhecível, incolor, assexuada e devastada terra, onde a<br />

regra e a submissão sejam observadas como maldições, onde os papéis<br />

do homem e da mulher sejam tidos como partes de uma máquina,<br />

substituíveis, intercambiáveis, e ajustáveis, e onde o cumprimento seja<br />

assunto de pura política, coisas como igualdade e direitos." (24) Essa não<br />

é a visão bíblica de feminilidade e masculinidade, nem a visão dos<br />

inspirados poetas e da literatura. A visão cristã provém do modo<br />

misterioso pelo qual Deus criou o homem e a mulher diferentes entre si,<br />

todavia, complementando-se. Quando aceitamos a visão bíblica, não


Qual a Roupa Certa? 154<br />

podemos concordar com a idéia de que feminilidade e masculinidade são<br />

assunto de condicionamento cultural, de estereótipos perpetrados pela<br />

tradição.<br />

É lamentável que a distinção de sexos tenha sido usada para<br />

promover a subjugação da mulher. Deploramos os abusos praticados<br />

pelo homem contra a mulher, e não nos esqueçamos, pela mulher contra<br />

o homem, porque todos pecaram. Isso mostra que vivemos num mundo<br />

caído, onde o pecado mareou a harmoniosa distinção de gênero e o<br />

relacionamento que Deus criou. Como cristãos, devemos trabalhar<br />

redentoramente para corrigir as injustiças. Precisamos fazer isso, todavia,<br />

não pela eliminação das distinções de sexo no vestuário ou nos papéis;<br />

antes, pela erradicação dos abusos introduzidos e praticados por falíveis<br />

seres humanos. O que o homem e a mulher necessitam hoje é não se<br />

tornar sem gênero, unissex na aparência e no comportamento, mas<br />

redescobrir o ideal bíblico de masculinidade e feminilidade.<br />

Elisabeth Elliot sabiamente observou: "O mundo busca a felicidade<br />

através da auto-afirmação. O cristão sabe que a satisfação é encontrada<br />

na auto-entrega. 'Se um homem perder a sua vida por Minha causa', disse<br />

Jesus, 'achá-la-á.' A verdadeira liberdade da mulher cristão reside no<br />

outro lado de uma ponte muito pequena – humilde obediência – mas essa<br />

ponte conduz a uma amplitude de vida jamais sonhada pelos libertadores<br />

deste mundo, ao lugar onde a diferenciação entre os sexos estabelecida<br />

por Deus, não é ofuscada, mas celebrada, onde nossas desigualdades são<br />

vistas como essenciais à imagem de Deus, por isso está no macho e na<br />

fêmea, no macho como macho, na fêmea como fêmea, e não como duas<br />

idênticas e intermutáveis metades, que a imagem de Deus é<br />

manifestada." (25)<br />

Vestimentas Unissex e a Confusão de Identidade<br />

Adulterar a distinção de sexos pode trazer terríveis conseqüências.<br />

Quando mexemos com masculinidade e feminilidade, estamos lidando,


Qual a Roupa Certa? 155<br />

como C. S. Lewis colocou, com "vivas e terríveis sombras das<br />

realidades, completamente além de nosso controle e grandemente além<br />

de nosso conhecimento direto." (26)<br />

Historicamente, os trajes têm servido para definir nossa masculinidade<br />

ou feminilidade. Observamos no capítulo 1 que as vestes não apenas<br />

definem nossa identidade ("Você é o que veste."), mas também nos<br />

ajudam a desenvolver uma nova identidade ("Você se torna o que<br />

veste."). Isso significa que quando nublamos as distinções de sexo no<br />

vestir, gradualmente perdemos nossa identidade masculina ou feminina e<br />

experimentamos uma crise de identidade.<br />

Michael Levin, professor de filosofia no City College de New York,<br />

asseverou: "Há uma profunda e perdurável diferença entre os sexos e<br />

muito da atual infelicidade provém da tentativa de transformar mulheres<br />

em pseudo-homens... Ninguém se assenta para escolher sua personalidade.<br />

Isso é um modo idiota de adotá-la. Você recebe sua personalidade, em<br />

geral, quando nasce." (27)<br />

Charles Winick destacou que a confusão acerca de nossa identidade<br />

é projetada na enevoada distinção de gêneros no vestir. "A forma hoje<br />

preferida para ambos os sexos é um ajustamento perdido e sem forma,<br />

que expressa e reforça a indistinção de masculinidade e feminilidade. O<br />

vestir-se além desses limites aprofunda o conflito interno e a confusão de<br />

cada sexo em cumprir seu papel." (28)<br />

É interessante de se notar que as mulheres tornaram-se mais<br />

masculinas em sua aparência, e os homens mais femininos. O resultado é<br />

que alguns homens desejam ser cortejados pelas mulheres, antes de<br />

cortejarem-nas por si mesmos. De acordo com Winick, "os homens<br />

contemporâneos podem usar alegremente vestes coloridas, perfumes e<br />

jóias, como uma reflexão de sua crescente tendência de se tornarem<br />

objetos, de preferência a tomarem a iniciativa da corte." (29)<br />

Há cerca de um século, Ellen White reconheceu as sérias<br />

implicações morais e sociais da roupa assexuada. Em 1867, ela escreveu:<br />

"Deus designou que houvesse ampla distinção entre as vestes do homem


Qual a Roupa Certa? 156<br />

e da mulher, e considerou o assunto de suficiente importância ao dar<br />

explícitas direções em relação a isso, pois a mesma roupa usada por<br />

ambos os sexos causa confusão e grande aumento do crime." (30)<br />

Confusão no Lar<br />

A confusão começa no lar, quando as crianças não mais podem<br />

dizer quem deve vestir calças, se mamãe ou papai. "Após todas as<br />

brincadeiras sobre quem deve usar calças numa família americana, na<br />

verdade descobre-se que não há nada para rir. Talvez apenas as calças<br />

dos fabricantes são divertidas, agora que as lojas de roupas femininas<br />

podem vender mais calças do que saias." (31)<br />

Há mais de trinta anos, quando a moda unissex estava ainda em sua<br />

infância, Eloise Curtis, uma estilista de roupas infantis e vestidos,<br />

advertiu sobre o problema da confusão no lar: "Em muitos lares não mais<br />

há visíveis diferenças entre os sexos. A mulher usando calças,<br />

subconscientemente usa um pouco de características masculinas na<br />

aproximação com seu bebê. O bebê, nada mais vendo ao redor do que<br />

calças, fica confuso sobre onde começa sua mãe e onde seu pai deixa de<br />

sê-lo." (32)<br />

Confusão no Trabalho e na Igreja<br />

A confusão continua no trabalho, onde em muitas ocupações as<br />

mulheres se vestem como homens, e delas se espera um desempenho<br />

com a mesma força física do homem.<br />

Perturba-me, por exemplo, quando a companhia entregadora envia<br />

uma mulher à minha casa, para apanhar uma grande carga de livros a ser<br />

enviada além-mar, algumas vezes consistindo em mais de cem caixas,<br />

cada uma pesando cerca de dezoito quilos. Pessoalmente penso que têm<br />

mais peso do que uma mulher possa erguer e carregar. Quando pergunto:<br />

"Por que sua companhia não envia um homem para levar caixas tão


Qual a Roupa Certa? 157<br />

pesadas? a resposta é simples: "Nós queremos o trabalho e esperamos<br />

trabalhar como homens.'" E para prová-lo, elas usam as mesmas calças<br />

marrons usadas pelos homens.<br />

Mas permanece o fato de que mulheres não são homens. Elas são<br />

biológica, psicológica e fisicamente diferentes dos homens. Como<br />

cristãos, somos chamados a respeitar essas distinções estabelecidas por<br />

Deus na criação, tratando mulheres como mulheres e não como homens.<br />

A confusão também está presente na igreja, onde algumas mulheres<br />

usam calças de terno como homens e, não se surpreendam, outras<br />

desejam servir no papel masculino de anciãos, uma palavra que<br />

literalmente significa "homem idoso". Achei triste e engraçado ao<br />

mesmo tempo descobrir que em algumas igrejas adventistas italianas que<br />

visitei, algumas mulheres foram ordenadas como "anziano" antes que<br />

"anziana", isto é, como um ancião, em lugar de anciã.<br />

Na língua italiana, como em todas as línguas latinas, os adjetivos<br />

podem ser masculinos ou femininos, dependendo do final. Isso significa<br />

que um homem velho é anziano, com "o", enquanto que uma mulher<br />

idosa é anziana, com "a" final. Gramaticalmente falando, o adjetivo<br />

masculino anziano não pode ser usado para mulher. Assim, ordenar uma<br />

mulher para ser anziano, é não apenas antibíblico, mas também uma<br />

contradição de gêneros. Quando perguntei: "Por que vocês estão usando<br />

a forma masculina anziano para mulheres? a resposta foi: "Porque as<br />

mulheres desejam servir na igreja no papel de liderança dos homens, e<br />

não no submisso papel de mulheres."<br />

Um Sinal de Rebelião<br />

Tudo isso mostra que vivemos em um mundo em rebelião contra<br />

Deus, um mundo no qual homens e mulheres desejam encontrar<br />

realização tentando assumir papéis que Deus nunca pretendeu dar-lhes.<br />

O resultado da rebelião é confusão de gêneros, não somente em papéis,<br />

como também no vestir. A mulher que deseja agir semelhantemente ao


Qual a Roupa Certa? 158<br />

homem, vestir-se-á como um homem porque, como vimos, a roupa é o<br />

espelho da mente. O que vestimos revela quem somos ou desejamos ser.<br />

Cruzar a linha divisória entre os gêneros produz confusão. Muitos não<br />

mais parecem conhecer onde termina o homem e começa a mulher.<br />

Em meu livro, Women in the Church, examinei em certa extensão<br />

as passagens bíblicas que nos ensinam a respeitar as distinções dos<br />

papéis sexual e funcional entre homem e mulher, no lar e na igreja. Essas<br />

distinções são refletidas e reforçadas pela diferença nos trajes de homens<br />

e mulheres. Os cristãos devem reconhecer as tentativas modernas de<br />

abolir essas diferenças, através da popularidade dos vestidos unissex,<br />

como ação satânica para destruir a ordem e a beleza da criação de Deus.<br />

Roupas unissex são indícios de moléstia moral da sociedade.<br />

Winick Observou: "Silhuetas tendem a ser bem definidas, ombros largos<br />

e cintura delgada, quando a moralidade é rígida, como nos dias dos<br />

espartanos, saxões, Cromwell e rainha Vitória. Nos tempos em que há<br />

menos moral, porém mais incerta e complexa como nos dias de Luís<br />

XIV, no período eduardiano, nos anos vinte, e nos anos do pós-guerra,<br />

uma silhueta nebulosa parece ser preferida por homens e mulheres." (33)<br />

A confusão moral e social de nosso tempo é projetada no vestuário<br />

assexuado. Essa tendência explica porque "o interesse no uso de roupas<br />

do sexo oposto é de rápido crescimento e um certo número de revistas<br />

são dedicadas à matéria."(34) O travestismo está se tornando mais<br />

notório e aceito hoje, porque, como Winick ponderou, "os trajes normais<br />

já contêm tanto que é tomado do outro sexo. A existência de um grupo<br />

substancial que deseja vestir-se com mais roupas do sexo oposto,<br />

parecendo uma paródia travestida, sugere que as vestes unissex está indo<br />

ao encontro das necessidades contemporâneas." (35)<br />

Desafortunadamente, esse encontro é com as necessidades daqueles<br />

que, para usar as próprias palavras de Paulo, "Deus os entregou a paixões<br />

infames ... porque até as suas mulheres mudaram o modo natural de suas<br />

relações íntimas, por outro contrário à natureza". (Rom. 1:26)


Qual a Roupa Certa? 159<br />

A Resposta Cristã<br />

Qual seria a resposta cristã à moda unissex, que representa, se não a<br />

abolição das distinções de sexo, uma proximidade perigosa a que temos<br />

chegado? Consideremos as calças compridas como exemplo, uma vez<br />

que são a mais notória adaptação das vestes masculinas pela mulher, em<br />

nossa cultura ocidental. Deveria ser notado que há culturas hoje, em<br />

especial no Oriente, em que as calças são usadas mais pelas mulheres do<br />

que pelos homens. Historicamente também, de acordo com Bernard<br />

Rudofsky, "mais mulheres do que homens usaram calças" (36)<br />

Por muitos séculos, na cultura ocidental, as calças têm estado<br />

ligadas aos homens. No passado, as mulheres fizeram algumas tentativas<br />

para usar calças, mas isso não perdurou por muito tempo. Por exemplo,<br />

em 1850, as bloomers (calças folgadas para mulher que chegavam até os<br />

joelhos), foram promovidas como "um símbolo das tentativas femininas<br />

para obter igualdade com os homens". (37) Esse esforço, entretanto, não<br />

durou muito, e as bloomers "foram seguidas por trajes bem femininos...<br />

amplas saias "varredoras". (38)<br />

Hoje a situação é diferente. As calças tornaram-se artigo permanente<br />

do vestuário da mulher. Isso é indicado pela impressionante lista de<br />

calças que as mulheres usam: calças largas, calças justas, calças coladas,<br />

bermudas, calças bufantes, slacks, minicalças, "boca de sino", culotes,<br />

pantalonas, calças de salto (equitação) ou jeans. Segundo essa tendência,<br />

não deveria a mulher cristã usar qualquer tipo de calças, quer seja ao<br />

redor da casa, quer em passeios com a família, numa caminhada pelo<br />

campo, ou durante os frios dias de inverno? Faria diferença o tipo de<br />

calças que a mulher usa?<br />

Propor que nenhum tipo de calças seja usado pelas mulheres, seja<br />

qual for a ocasião, implicaria que as calças são pecaminosas de per si,<br />

não importando que tipo ou forma elas têm. Se isso fosse verdadeiro,<br />

ninguém poderia usar calças, incluindo os homens. Mas o problema não


Qual a Roupa Certa? 160<br />

está com as calças, uma vez que em algumas culturas elas são artigo<br />

feminino de vestuário. O problema não é a calça, mas seu pretenso uso.<br />

A mulher pode usar as quentes calças de lã durante os frios dias de<br />

inverno para proteger-se, ou ela pode usar bermudas de algodão durante<br />

os passeios de verão com a família, porque são mais práticas do que as<br />

saias. Por outro lado, a mulher não pode usar calças sensuais ou estreitas<br />

para ser sedutora, ou escolher calças largas de terno na maior parte do<br />

tempo, porque deseja projetar um tipo masculino de personalidade.<br />

As Roupas na Bíblia<br />

A intenção da lei deuteronômica (Deut. 22:5) não é proibir o uso de<br />

artigos de vestuário que se pareçam com roupas do outro sexo, mas<br />

manter distinção entre os sexos. Um estudo sobre o vestuário nos tempos<br />

bíblicos revela que houve uma surpreendente similaridade entre as vestes<br />

do homem e da mulher. De fato, ambos os sexos usavam o mesmo tipo<br />

básico de vestimenta: uma roupa de baixo (kethoneth, em hebraico e<br />

chiton, em grego) e outra veste sobre essa (simlah, em hebraico e<br />

himation, em grego).<br />

A distinção entre vestuários pode ser notada em Mateus 5:40, onde<br />

Jesus diz: "e ao que demandar contigo e tirar-te a túnica, deixa-lhe<br />

também a capa." O reclamante, cria-se, exigia apenas a capa (chiton),<br />

isto é, a mais barata veste de baixo. Todavia, Jesus recomenda que o<br />

reclamado a deixar àquele também o manto (himation), que era o mais<br />

custoso traje exterior.<br />

As Vestes de Baixo e de Cima<br />

A veste de baixo era uma longa túnica usada por ambos os sexos<br />

nos tempos bíblicos. Ela era uma veste básica que homens e mulheres<br />

usavam cada dia. A famosa pintura de Beni-hasan provê uma boa<br />

ilustração dessa roupa. Uma reprodução dessa obra aparece no capa


Qual a Roupa Certa? 161<br />

interna do Seventh-Day Adventist Bible Dictionary. A ilustração mostra<br />

um grupo de 37 palestinos chegando ao Egito a fim de comerciar<br />

pigmento negro para pintura dos olhos. Seus trajes são, provavelmente,<br />

muito semelhantes àqueles usados por Abraão e sua família. O líder do<br />

grupo e dois homens que o acompanham, exibem túnicas coloridas que<br />

vão desde os ombros até os joelhos, mas deixam os braços e um dos<br />

ombros livres.<br />

As quatro mulheres mostradas na pintura usam roupas bastantes<br />

coloridas, semelhantes aos trajes masculinos. As maiores diferenças<br />

estão nas roupas das mulheres, que são algumas polegadas mais longas,<br />

indo abaixo dos joelhos. Na parte superior, elas circundam o pescoço,<br />

cobrindo assim mais plenamente o corpo. Exibem ainda complexos<br />

modelos, com figuras em azul e vermelho tecidas na veste. Em outros<br />

termos, as mulheres usavam a mesma espécie de túnicas que os homens,<br />

mas essas eram mais coloridas, umas poucas polegadas mais longas e<br />

cobriam mais completamente seus corpos.<br />

A roupa de cima, uma túnica, ou mais comumente, um manto<br />

semelhante ao moderno xale, cobria todo o corpo. Um manto era usado<br />

em ocasiões especiais (I Sam. 15:27; 24:4 e 11). Tamar, irmã de<br />

Absalão, "trazia ela uma túnica talar de mangas compridas, porque assim<br />

se vestiam as donzelas filhas do rei". (II Sam. 13:18). Essa parece ter<br />

sido uma roupa especialmente desenhada para as filhas do rei. O manto<br />

escarlate que os soldados romanos puseram sobre Cristo, era outro tipo<br />

de veste de cima (Mat. 27:28; João 19:2 e 5). Parece não ter havido<br />

diferença substancial entre as vestes exteriores usadas por homens e<br />

mulheres.<br />

Em vista da notável semelhança entre as vestes de homens e<br />

mulheres nos tempos bíblicos, parece justo concluir que a preocupação<br />

da lei deuteronômica não era condenar qualquer semelhança de estilo<br />

entre roupas de homens e mulheres, mas o vestir aquilo que era usado<br />

pelo sexo oposto. A diferença de estilo entre a túnica usada por homens e


Qual a Roupa Certa? 162<br />

mulheres pode ter sido pequena, pelo menos de nosso ponto de vista,<br />

mais suficiente para manter a distinção entre os sexos.<br />

Aplicando o Princípio da Distinção de Sexos<br />

A Bíblia não nos diz que estilo de roupa homens e mulheres<br />

deveriam usar. Ela reconhece que o estilo é ditado pelo clima e pela<br />

cultura. O que a Bíblia nos ensina, contudo, é respeitar a diferença de<br />

sexo no vestir, como estabelecidas por qualquer cultura. Esse é o<br />

princípio que deveria nortear-nos na seleção de nossas roupas.<br />

Em vista da tendência da moda moderna eliminar a diferenças de<br />

gêneros no vestir (uma propensão que é abominável a Deus; ver Deut.<br />

22:5), é imperioso para os cristãos averiguar onde podem comprar suas<br />

roupas. Essa roupa ajudar-me-á a afirmar meu gênero, ou far-me-á<br />

parecer que pertenço ao sexo oposto? Todas as vezes que você sente que<br />

um certo tipo de roupa não pertence ao seu gênero, siga sua consciência.<br />

Não o compre, mesmo que esteja na moda.<br />

Calças Femininas<br />

Como o princípio bíblico de distinção de sexos pode ser aplicado à<br />

questão das calças compridas? Três pontos necessitam ser levados em<br />

consideração.<br />

Primeiro, devemos lembrar-nos de que até tempos recentes na<br />

cultura ocidental, as calças eram um artigo usado exclusivamente por<br />

homens. Não me recordo de ter visto uma garota usando calças<br />

compridas, enquanto eu crescia em Roma, na Itália. A despeito de sua<br />

popularidade, na cultura ocidental as calças ainda são vistas como "a<br />

mais visível adaptação das vestes masculinas na mulher" (39) Isso<br />

significa que as calças ainda têm conotação masculina e não afirma<br />

distinção de gêneros. Assim, como regra geral nos países ocidentais, as


Qual a Roupa Certa? 163<br />

calças não devem ser usadas pelas mulheres cristãs com vestimenta<br />

formal, especialmente nos serviços da igreja.<br />

Segundo, há circunstâncias em que é mais prático e conveniente<br />

para as mulheres cristãs usarem calças compridas. Isso é verdade, por<br />

exemplo, durante os frios dias de inverno, quando trabalhando em casa<br />

ou nas saídas da família, andando de bicicleta ou praticando esportes.<br />

Nessas circunstâncias as calças provêem mais conforto e proteção do que<br />

as saias, sem necessariamente fazer perigar a distinção de gêneros. Sob<br />

essas circunstâncias, usar calças não seria condenável, podendo ser<br />

modestas e apropriadas à ocasião.<br />

Terceiro, as mulheres cristãs deveriam escolher calças que afirmem seu<br />

gênero e sejam decentes. A tendência hoje é tornar as calças compridas<br />

femininas, as mais masculinas possível. Por exemplo, o zíper das calças das<br />

mulheres é comumente colocado da esquerda para a frente, como nas calças<br />

masculinas. "Hoje, as calças são mais masculinizadas do que a rígida<br />

geometria de Courrèges, com os estilistas americanos moldando calças<br />

confeccionadas para serem usadas com blazers (paletós) de aberturas laterais e<br />

botões de latão." (40) Outra tendência é tornar as calças femininas sedutoras.<br />

Por exemplo, calças sensuais e calças apertadas, que deixam muito pouco<br />

espaço para a imaginação. A mulher cristã precisa resistir a essas tendências<br />

ao escolher vestir apenas calças que sejam modestas e femininas. A beleza da<br />

mulher reside não no que ela revela, mas no que oculta.<br />

Hoje não é fácil seguir os princípios bíblicos de distinção de gêneros<br />

no vestir, quando as modernas modas parecem inclinadas a abolir tais<br />

distinções. Mas viver pelos princípios bíblicos nunca foi fácil. Ainda é<br />

nosso dever cristão não nos conformarmos com os valores pervertidos,<br />

estilos e práticas de nossa sociedade hedonista, mas ser uma transformadora<br />

influência neste mundo, através do capacitador poder de Deus.<br />

Conclusão<br />

A força condutora por detrás da moda unissex de nosso tempo é a<br />

visão feminista de uma nova sociedade sem sexos, onde os trajes e os


Qual a Roupa Certa? 164<br />

papéis do homem e da mulher sejam indiferençáveis e intercambiáveis.<br />

As feministas consideram essa utópica sociedade sem sexos essencial à<br />

libertação de seu submisso papel.<br />

Descobrimos que a visão feminista de uma sociedade sem gêneros<br />

definidos é claramente condenada na Bíblia. As Escrituras ensinam-nos de<br />

modo muito explícito a respeitar as distinções de gênero no vestir, bem<br />

como nos papéis funcionais, porque eles são parte da ordem da Criação. A<br />

razão é que as distinções de sexo são fundamentais para nosso compreensão<br />

de quem somos e que papel Deus deseja que cumpramos.<br />

Como cristãos deveríamos ser agradecidos a Deus pelos gêneros<br />

masculino e feminino que Ele nos concedeu. A mulher deveria ser<br />

agradecida por Deus tê-la feito mulher, marcantemente diferente do<br />

homem, e ainda plena de grande valor no plano de Deus para a família, a<br />

sociedade e o mundo. Semelhantemente, o homem deveria ser<br />

agradecido a Deus que o fez um homem, notavelmente diferente da<br />

mulher, e contudo de grande valor no plano de Deus para a família, a<br />

sociedade e o mundo.<br />

Num tempo quando a moda moderna é tendente a eliminar as<br />

distinções de sexo no vestir e nos papéis funcionais, é premente para os<br />

cristãos, respeitarem a masculinidade e a feminilidade dados por Deus,<br />

vestindo-se de modo a afirmar sua identidade de gênero.<br />

Referências do Capítulo VI<br />

1. Charles Winick, The New People: Desexualization in American<br />

Life (New York), 1968), pág. 262.<br />

2. Idem, pág. 263.<br />

3. Ibidem.<br />

4. Roland Martinson. "Androgyny and Beyond", Word and World,<br />

a Fall, 1985, pág. 373.<br />

5. Allan Carlson. "The Androgyny Hoax: On the Blending of Men and<br />

Women and the Corruption of Science by Ideology", em Persuasion


Qual a Roupa Certa? 165<br />

at Work (Rockford, 1986). Os quatro pontos são sintetizados por<br />

Robert D. Culver, em "Does Recent Scientific Research Overturn the<br />

Claims of Radical Feminism and Support the Biblical Norms of<br />

Human Sexuality?" Journal of the Evangelical Theological Society<br />

(Março de 1987), pág. 42.<br />

6. Don Monkerud, "Blurring the Lines: Androgyny on Trial", Omni,<br />

outubro de 1990, pág. 83<br />

7. Ibidem.<br />

8. Diane Trilling, "Female Biology in a Male Culture", Saturday<br />

Review, 10 de outubro de 1970, pág. 40.<br />

9. James Laver, Taste and Fashion (London. 1937), pág. 29.<br />

10. Katherine Morris Lester c Rose Netzorg Kerr, Historic Costume<br />

(Peoria, Illinois, 1977), pág. 288.<br />

11. Citado em Mary Lou Rosencranz, Clothing Concepts: A Social-<br />

Psychological Approach (New York, 1972), pág. 202.<br />

12. Idem, pág. 175.<br />

13. Don Monkerud (nota 6), pág. 86.<br />

14. J. Ridderbos, Deuteronomy (Grand Rapids, 1984), pág. 233. Ver<br />

também The Interpreter's Bible (Nashville, 1981), vol. 2, pág. 464;<br />

The Expositor's Bible Commentary (Grand Rapids, 1992), vol. 3, pág.<br />

135.<br />

15. C. F. Keil e F. Delitzch. Biblical Commentary of the Old Testament<br />

(Grand Rapids, 1952), vol. 4. pág. 409. Em caráter semelhante. J.<br />

Ridderbos escreveu: "Essas proibições são destinadas a inspirar<br />

respeito pela ordem posta por Deus na Criação, e para a distinção<br />

entre os sexos e espécies que ela apresenta" (nota 14, pág. 135).<br />

16. Samuele Bacchiocchi, The Marriage Covenant (Berrien Springs.<br />

Michigan, 1994), págs. 120 a 154; também Women in the Church<br />

(Berrien Springs, 1992). págs. 110 a 141.<br />

17. Allan Carlson (nota 5), pág. 6.<br />

18. Melvin Konner, The Tangled Wing: Biological Constraints on<br />

the Human Spirit (New York, 1982), págs. 100 a 106.


Qual a Roupa Certa? 166<br />

19. Idem, pág. 106<br />

20. Ibidem.<br />

21. Idem, pág. 107.<br />

22. Hellen Block Lewis, "Psychology and Gender", em Genes and<br />

Gender, E. Tobach e B. Bosoff, edits. (New York, 1978), pág. 72.<br />

23. Ibidem.<br />

24. Elisabeth Elliot. "The Essence of Femininity: A Personal Perspective",<br />

em Recovering Biblical Manhood and Womanhood: A Response to<br />

Evangelical Feminism, John Piper e Wayne Grudem, edits. (Wheaton,<br />

Illinois. 1991), pág. 397.<br />

25. Idem, págs. 398, 399.<br />

26. C. S. Lewis. "Priestesses in the Church? " em God in the Dock:<br />

Essays on Theology and Ethics, Walter Hooper, ed. (Grand<br />

Rapids, 1970), pág. 239.<br />

27. Michael Levin como citado por Don Monkerud (nota 6), pág. 83.<br />

28. Charles Winick, (nota 1), pág. ?64.<br />

29. Ibidem.<br />

30. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), vol. 1, pág. 460.<br />

31. Charles Winick (nota 1), pág. 229.<br />

32. San Francisco Chronicle, 26 de setembro de 1961, pág. 9.<br />

33. Charles Winick (nota 1). págs. 263, 264.<br />

34. Idem, pág. 267.<br />

35. Ibidem.<br />

36. Bernard Rudofsky, Are Clothes Modern? (Chicago, 1947), pág. 156.<br />

37. Mary Lou Rosencranz, (nota 11), pág. 170<br />

38. Ibidem.<br />

39. Idem, pág. 227.<br />

40. Idem, pág. 229.


Qual a Roupa Certa? 167<br />

PRINCÍPIOS CRISTÃOS PARA VESTES E ORNAMENTOS<br />

E<br />

m cada época homens e mulheres têm-se adornado e enfeitado<br />

com jóias. O desejo de adornar o corpo com cosméticos<br />

coloridos, custosas jóias e vestimentas atraentes tem deixado intocados a<br />

poucos. Assim, não é de surpreender que nossa pesquisa tenha encontrado,<br />

através da histórica bíblica e cristã, freqüentes chamados ao vestir-se<br />

modesta e decentemente, sem faiscantes jóias ou luxuosos vestidos.<br />

Para trazer no devido foco a relevância dos ensinos bíblicos sobre<br />

vestuário e ornamentos para o nosso tempo, procurarei formular sete<br />

declarações básicas do princípio que sumaria o relevo deste estudo. Esta<br />

breve revisão ajudará o leitor a obter uma melhor vista geral dos ensinos<br />

bíblicos fundamentais sobre vestuário e ornamentos, que surgem no<br />

curso de nossa investigação.<br />

Primeiro Princípio – Vestimentas e aparência são um importante<br />

indicativo do caráter cristão. Vestimentas e aparência são os mais<br />

poderosos comunicadores não-verbais, não apenas de nosso estado<br />

sócio-econômico, mas também de nossos valores morais. Somos o que<br />

vestimos. Isso quer dizer que nossa aparência exterior é um indicativo<br />

importante do caráter cristão. A Bíblia reconhece a importância do<br />

vestuário e ornamentos, como está indicado por numerosas histórias,<br />

alegorias e admoestações, que temos encontrado com respeito a adornos<br />

apropriados ou não.<br />

Nossa aparência exterior é um visível e silencioso testemunho dos<br />

valores cristãos que adotamos. Algumas pessoas se vestem e enfeitam<br />

seus corpos com vestidos caros e jóias para agradarem-se a si mesmos,<br />

Elas desejam ser admiradas por sua riqueza, poder e status social.<br />

Algumas estão na vanguarda da moda para agradar aos outros. Desejam<br />

ser aceitas por seus pares por se vestirem como eles. O cristão, entretanto,<br />

veste-se para agradar a Deus. O vestuário é importante para o cristão<br />

porque serve como moldura para revelar a figura dAquele a quem serve.


Qual a Roupa Certa? 168<br />

"Não há melhor maneira", escreveu Ellen White", "de você poder<br />

deixar sua luz brilhar sobre outros, do que na simplicidade de seu vestuário<br />

e conduta. Pode mostrar a todos que, em comparação com as coisas eternas,<br />

você faz uma avaliação apropriada das coisas desta vida." (1)<br />

Como cristãos não podemos dizer: "O que eu pareço não importa a<br />

ninguém!", porque o que nós parecemos se reflete sobre nosso Senhor.<br />

Minha casa, meu carro, minha aparência pessoal, o uso que faço do<br />

tempo e do dinheiro, tudo reflete como Cristo mudou minha vida.<br />

Quando Jesus vem em nossa vida, Ele não cobre nossas imperfeições<br />

com pó compacto, mas nos limpa totalmente operando em nossa alma.<br />

Essa renovação interior transparece em nossa aparência exterior.<br />

A testemunha mais eficiente da mudança que Cristo operou no<br />

íntimo, não é o sorriso pintado nos lábios de uma mulher sedutora, mas<br />

uma radiante face de uma dama cristã vestida decorosamente. Uma<br />

sofisticadíssima, engalanada e produzida aparência, com faiscantes jóias<br />

e extravagantes vestes, revela não a espontânea radiância de uma<br />

personalidade centrada em Deus, mas a estudada e artificial imagem de<br />

uma individualidade egocêntrica.<br />

Segundo Princípio – Adornar nossos corpos com coloridos<br />

cosméticos e luxuosas vestes revela orgulho e vaidade, que são<br />

destrutivos a nós e aos outros. Temos visto essa verdade ressaltada<br />

implicitamente por muitos exemplos negativos, e explicitamente pelas<br />

advertências apostólicas de Paulo e Pedro. Isaías reprova as ricas<br />

mulheres judias por seu orgulho manifesto no adorno de seus corpos,<br />

desde a cabeça até os pés, com rutilantes jóias e custosos trajes. Elas<br />

seduziam os líderes, que por sua vez conduziam a nação à desobediência<br />

e à punição divina (Isaías 3:16 a 26).<br />

Jezabel destaca-se na Bíblia por seus determinados esforços para<br />

seduzir os israelitas à idolatria. A corrupção de seu coração é revelada<br />

pela tentativa que fez, mesmo em sua hora derradeira, ao pintar seus<br />

olhos para a chegada do novo rei, Jeú (II Reis 9:30). Mas o rei não fora


Qual a Roupa Certa? 169<br />

enganado e ela teve morte ignominiosa. Por causa de seu nome, tornouse<br />

um símbolo de sedução na história bíblica (Apoc. 2:20).<br />

Ezequiel dramatiza a apostasia de Israel e Judá através da alegoria<br />

de duas mulheres: Oolá e Oolibá, que, como Jezabel, pintaram seus<br />

olhos e se embelezaram com ornamentos para levar os homens a<br />

cometerem adultério com elas (Ezeq. 23). Nessa alegoria encontramos<br />

novamente cosméticos e ornamentos associados à sedução, adultério,<br />

apostasia e punição divina.<br />

Jeremias também usa a alegoria de uma sedutora mulher vestida<br />

com os olhos pintados e ornada com jóias, para representar Israel<br />

politicamente abandonado, que inutilmente buscava atrair seus aliados<br />

idólatras (Jer. 4:30). Aqui, novamente, cosméticos e jóias são usados<br />

para seduzir os homens e levá-los a atos adulterinos.<br />

O retrato profético do apóstata Israel como uma mulher adúltera,<br />

cheia de jóias e corrompendo-se com deuses pagãos, é evocado pela<br />

descrição de João, o revelador, da grande meretriz vestida de escarlate, e<br />

adornada com "ouro, jóias e pérolas" (Apoc. 17:4). Essa mulher impura,<br />

que representa o poder político-religioso apóstata dos dias finais, induz<br />

os habitantes da Terra a cometer fornicação com ela. Por contraste, a<br />

noiva de Cristo, que representa a igreja pura, está trajada modestamente,<br />

em puro e fino linho, sem ornamentos (Apoc. 19:7 e 8).<br />

No Velho e Novo Testamentos, encontramos um consistente padrão<br />

sobre o uso de cosméticos coloridos, brilhantes jóias e sedutores vestidos<br />

com o fito de seduzir. Tal regra revela implicitamente a condenação de<br />

seu uso por Deus. O que é subentendido através de exemplos negativos,<br />

reiterado positivamente pelos dois grandes apóstolos Pedro e Paulo, sua<br />

condenação do uso de jóias e caros vestidos.<br />

Descobrimos que os apóstolos contrastam o adorno apropriado das<br />

mulheres cristãs com os inadequados ornamentos das mulheres<br />

mundanas. Ambos os apóstolos dão-nos essencialmente a mesma lista<br />

dos enfeites ilícitos para a mulher cristã. Eles incluem atraentes jóias e<br />

luxuosos trajes (I Tim. 2:9 e 10; I Ped. 3:3 e 4). Reconhecem que os


Qual a Roupa Certa? 170<br />

ornamentos exteriores do corpo são inconsistentes com os lídimos<br />

ornamentos do coração, o espírito manso e as boas<br />

Terceiro Princípio – Para experimentar íntima renovação e<br />

reconciliação com Deus, é necessário remover os habituais objetos<br />

idolátricos, incluindo jóias e ornamentos. Essa verdade foi-nos revelada<br />

através da experiência da família de Jacó em Siquém, e dos israelitas no<br />

monte Horebe. Em ambos os exemplos os ornamentos foram removidos<br />

para efetuar uma reconciliação com Deus.<br />

Em Siquém, Jacó convocou os membros de sua família para lançar<br />

fora seus ídolos exteriores e ornamentos (Gên. 35:2 e 3), como um meio<br />

de se prepararem para uma limpeza espiritual no altar que ele, Jacó,<br />

pretendia construir em Betel. A resposta foi louvável: "Então deram a<br />

Jacó todos os deuses estrangeiros que tinham em mãos, e as argolas que<br />

lhes pendiam das orelhas; e Jacó os escondeu debaixo do carvalho que<br />

está junto a Siquém." (Gên. 35:4)<br />

No monte Horebe, Deus exigiu que os israelitas removessem seus<br />

ornamentos, como prova de sincero arrependimento por adorarem o<br />

bezerro de ouro: "... tira, pois, de ti os atavios, para que Eu saiba o que te<br />

hei de fazer." (Êxo. 33:5). Novamente a resposta do povo foi positiva:<br />

"Então os filhos de Israel tiraram de si os seus atavios desde o monte de<br />

Horebe em diante." (Êxo. 33:6) Notamos que a frase "... desde o monte<br />

de Horebe em diante" implica que os israelitas arrependidos fizeram um<br />

compromisso com Deus para abolir o uso de ornamentos, de forma a<br />

demonstrar seu sincero desejo de obedecer a Deus. Em Siquém e no<br />

monte Horebe, a remoção da joalheria ornamental foi preparatória para a<br />

renovação do concerto com Deus.<br />

Essas experiências nos ensinam que o uso de jóias ornamentais<br />

contribui para a rebelião contra Deus por levar à autoglorificação e que<br />

sua remoção facilita a reconciliação com Deus por encorajar uma atitude<br />

humilde. Assim, é importante para nós lembrar-nos que para experimentar<br />

o reavivamento e reforma espirituais, necessitamos despojar-nos dos


Qual a Roupa Certa? 171<br />

ídolos que adoramos, quer sejam jóias, cosméticos, vestidos imodestos,<br />

metas profissionais, carros ou casas, e substituindo-os pela devoção a Deus.<br />

Quarto Princípio – Os cristãos devem vestir-se de modo decente e<br />

modesto, demonstrando respeito por Deus, por si mesmos e pelos outros.<br />

Esse princípio é encontrado no uso que Paulo faz dos termos kosmios,<br />

kosmios e aidos, aidos – "bem-ordenado" e "decente" – para descrever o<br />

adequado adorno da mulher cristã (I Tim. 2:9). Com referência ao<br />

vestuário, os termos significam que os cristãos devem vestir-se de modo<br />

bem-ordenado, decoroso, decente, sem causar vergonha ou tristeza a<br />

Deus, e embaraço a si mesmos e aos outros.<br />

Podemos violar o código cristão de vestuário modesto pela<br />

negligência da aparência pessoal, bem como por dedicar excessiva<br />

atenção a ela. "Vistam-se elegantemente e com decoro", aconselha Ellen<br />

White. "mas não fazendo de si mesmo o objeto de observação, quer<br />

trajando-se com exagero ou de um modo relaxado e desalinhado. Ajam<br />

de tal modo como se o olhar do Céu estivesse sobre vocês, e que estão<br />

vivendo sob a aprovação ou desaprovação de Deus." (2)<br />

Vestir-se modesta e decentemente implica que os trajes devem<br />

prover suficiente cobertura para o corpo, de modo que os outros não<br />

fiquem embaraçados ou tentados. Esse princípio é hoje especialmente<br />

importante, quando as modas modernas rejeitam a modéstia e a decência<br />

como base para um construtivo relacionamento humano. A preocupação<br />

da moderna indústria da moda é vender vestidos, jóias e cosméticos pela<br />

exploração dos poderosos impulsos sexuais, embora isso signifique<br />

produtos indecentes que somente alimentam o orgulho e a sensualidade.<br />

A Bíblia explicitamente condena o olhar cobiçoso: "Eu, porém, vos<br />

digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no<br />

coração já adulterou com ela." (Mat. 5:28) Os vestidos reveladores<br />

criados pela moderna indústria da moda, desperta paixões baixas no<br />

coração do observador, e muito contribui para a depravação de nossos


Qual a Roupa Certa? 172<br />

tempos. Por vestir-se modestamente, a mulher cristã desempenha um<br />

papel-chave na manutenção da moralidade pública.<br />

Deus nos conclama a vestirmo-nos modesta e decentemente, não<br />

apenas para evitar o pecado como também para preservar a intimidade.<br />

As pessoas que desejam pecar, pecarão não importa quão modestamente<br />

os outros se trajam. O propósito da modéstia é não apenas coibir desejos<br />

pecaminosos, mas também preservar algo que é muito frágil e todavia<br />

fundamental à sobrevivência do relacionamento marital: a habilidade de<br />

manter um profundo e íntimo relacionamento entre os cônjuges. Se o<br />

casamento é para toda a vida como Deus pretende que seja, então marido<br />

e mulher devem trabalhar juntos para preservar, proteger e alimentar a<br />

intimidade. Quando tudo é dito e feito com modéstia, preservará o gozo<br />

da intimidade por muito tempo além do toque dos sinos de casamento.<br />

A admoestação apostólica para vestirmo-nos modesta e<br />

decentemente, convoca-nos a rejeitar os sedutores ditames da moda,<br />

escolhendo em seu lugar refletir em nossa aparência exterior a beleza<br />

natural da simplicidade e elevada pureza.<br />

Quinto Princípio – Os cristãos devem vestir-se sobriamente,<br />

contendo qualquer desejo de se exibirem mediante o uso de trajes<br />

sedutores, cosméticos e jóias. Esse princípio é encontrado no uso que<br />

Paulo faz do termo sophrosune, sophrosune = moderadamente, para<br />

descrever o adequado adorno cristão (I Tim. 2:9). Descobrimos que o<br />

termo denota uma atitude mental de autocontrole, que determina todas as<br />

outras virtudes. Paulo reconhece que o autocontrole é indispensável ao<br />

cristão, para que seja capaz de vestir-se modesta e decentemente. A<br />

razão é que vestimentas modestas e decentes derivam do exercício do<br />

domínio próprio.<br />

Paulo concebe a mulher cristã como alguém que se veste com<br />

sobriedade, restringindo seu desejo de exibir-se através de elaborados<br />

penteados, ouro, pérolas e vestidos luxuosos (I Tim. 2:9). Sua aparência<br />

não diz: "Olhem-me; admirem-me", mas "Olhem como Cristo


Qual a Roupa Certa? 173<br />

transformou-me". A mulher cristã que foi libertada da preocupação de<br />

ser objeto de admiração, não temerá usar o mesmo vestido com<br />

assiduidade, se esse for bem feito, conservador e lhe cair bem.<br />

O apelo do apóstolo para que o cristão se vista sobriamente,<br />

abstendo-se do uso de penteados complexos, jóias e vestidos<br />

extravagantes, é particularmente relevante para os nossos dias quando a<br />

moda reina suprema e muitos estão adorando em seu altar. Ellen White<br />

nos lembra que "aqueles que adoram no altar da moda possuem pouca<br />

força de caráter... Eles vivem sem nenhum propósito elevado, e suas<br />

vidas não atingem um objetivo digno. Encontramos em todo lugar<br />

mulheres cuja mente e coração são absorvidos por seu amor ao vestuário<br />

e à exibição. A alma da feminilidade é apoucada, apequenada, e seus<br />

pensamentos são centralizados em seu pobre e desprezível ego" (3)<br />

A advertência de Paulo que restringe o desejo de comprar ou vestir<br />

"roupas dispendiosas" (I Tim. 2:9) também aponta para prática da<br />

mordomia cristã. Gastos que vão além de nossos meios são<br />

incompatíveis com o princípio cristão de mordomia. Mesmo que<br />

tivermos condições de comprar vestidos caros, não podemos nos permitir<br />

gastar os meios que Deus nos concedeu, enquanto há muitas flagrantes<br />

necessidades a satisfazer, atingindo os não-alcançados com o evangelho<br />

e auxiliar os necessitados.<br />

"Economia prática", escreveu Ellen White, "em vosso dispêndio de<br />

meios no vestir. Lembrai-vos de que aquilo que vestis está<br />

constantemente exercendo influência sobre aqueles com quem entrais em<br />

contato. Não sejais pródigos com vossos meios, que são grandemente<br />

"necessitados em muitos lugares. Não gasteis o dinheiro do Senhor para<br />

satisfazer o gosto por roupas caras." (4)<br />

Sexto Princípio – O uso de anéis não é compatível com os<br />

princípios bíblicos de modéstia; historicamente eles têm tentado o povo<br />

a usar outros tipos de jóias. Esse princípio é derivado da desaprovação<br />

bíblica ao uso de jóias ornamentais (I Tim. 2:9; I Ped. 3:3 e 4; Gên. 35:2


Qual a Roupa Certa? 174<br />

a 4; Êxo. 33: 3 a 5). O único anel mencionado algumas vezes na Bíblia é<br />

o anel-sinete (Jer. 22:24; Gên. 41:42; Est. 3:10; Lucas 15:22), que era<br />

usado para selar documentos e contratos. O uso do anel-sinete não é<br />

condenado na Bíblia, presumivelmente porque era tido como um<br />

instrumento de autoridade antes que um ornamento.<br />

Descobrimos que o anel de noivado foi o primeiro anel de ferro<br />

simples usados pelos romanos para "selar" o compromisso conjugal de<br />

duas pessoas que se amavam. Rapidamente, porém, o anel transformouse<br />

num elaborado anel ornamental de ouro, usado praticamente em todos<br />

os dedos. O que aconteceu na antiga Roma repetiu-se mais tarde na<br />

história da igreja cristã. Na igreja primitiva o uso do anel de casamento<br />

passou por três fases principais. Na primeira, dentro do período<br />

apostólico, não há evidências de que o anel marital tenha sido usado. Na<br />

segunda, que compreendeu o segundo e terceiro séculos, permitiu-se o<br />

uso restrito de um anel simples. Na fase final, do quarto século em<br />

diante, houve proliferação de todas as espécies de anéis ornamentais de<br />

ouro com pedras preciosas, para mostrar riqueza, orgulho e vaidade. Isso<br />

foi verdadeiro não apenas com respeito aos leigos, mas também ao clero.<br />

Os líderes da igreja enfeitavam-se e usavam anéis de ouro, pedras<br />

preciosas e vestimentas trabalhadas em ouro.<br />

O que ocorreu na igreja primitiva repetiu-se posteriormente nas<br />

modernas denominações. Os dois exemplos que consideramos, os<br />

metodistas e os menonitas, demonstram a mesma regra. Na primeira<br />

fase, nenhuma jóia ou aliança eram permitidas. Na segunda, uma<br />

concessão foi feita sobre o uso de alianças. Na fase final, a liberação da<br />

aliança tornou-se pretexto para o uso de todas as espécies de jóias,<br />

incluindo anéis ornamentais.<br />

A conduta na Igreja Adventista do Sétimo Dia foi muito<br />

semelhante. Na primeira etapa, quando corriam os primeiros dias do<br />

adventismo, nenhuma jóia ou aliança era usada. Na segunda, permissão<br />

para o uso da aliança apenas nos países onde o costume era bem<br />

estabelecido. Na etapa final, a concessão para o uso de uma simples


Qual a Roupa Certa? 175<br />

aliança foi estendida, em 1986, aos membros das igrejas na América. O<br />

resultado dessa evolução é o surgimento, entre os adventistas, do<br />

costume de usar diferentes tipos de jóias, incluindo anéis ornamentais.<br />

A lição da história é evidente. Os anéis parecem exercer quase que<br />

fatal atração. O povo torna-se tão atraído pelos anéis que é facilmente<br />

tentado ao uso de jóias em geral. Para prevenir essa situação, é<br />

aconselhável não usar aliança, a menos que seja um imperativo social.<br />

Em seu lugar podemos usar "o dourado vínculo que une nossas almas a<br />

Jesus Cristo, um puro e santo caráter, o verdadeiro amor, mansidão e<br />

piedade, que são frutos nascidos da árvore cristã, e nossa influência será<br />

certa em qualquer lugar." (5)<br />

Sétimo Princípio – Os cristãos devem respeitar a distinção de sexos,<br />

usando roupas que afirmem sua identidade masculina ou feminina. O<br />

princípio é claramente ensinado pela lei encontrada em Deuteronômio<br />

22:5, que proíbe o uso de vestes do sexo oposto. Descobrimos que a<br />

Bíblia dá grande importância à preservação da diferença de sexos no<br />

vestuário, bem como nos papéis funcionais, porque isso é fundamental à<br />

nossa compreensão de quem somos e que papel Deus deseja que<br />

cumpramos.<br />

As roupas definem nossa identidade e nos ajudam a desenvolvê-la.<br />

Não somente é verdade que somos o que vestimos, mas também que nos<br />

tomamos o que vestimos. A mulher que deseja agir como homem, vestirse-á<br />

como ele. Semelhantemente, o homem que deseja ser tratado como<br />

mulher, usará itens femininos como jóias, perfume e vestidos sofisticados.<br />

Isso significa que quando distorcemos a distinção de gêneros pelo uso de<br />

roupas unissex, gradualmente perdemos nossa identidade masculina ou<br />

feminina, e entramos em crise e na confusão de papéis.<br />

Sabemos que a confusão de papéis está presente no lar, no trabalho<br />

e na igreja, tornando difícil dizer onde termina o papel do homem e<br />

começa o da mulher. Os cristãos precisam reconhecer as modernas<br />

tentativas da abolição das distinções de sexo, especialmente através da


Qual a Roupa Certa? 176<br />

popularização de roupas comuns a ambos os sexos, como um esforço<br />

satânico para destruir a ordem e a beleza da criação de Deus.<br />

A Bíblia não nos diz que estilo de roupas homens e mulheres devem<br />

usar, porque reconhece que o estilo é ditado pelo clima e pela cultura. A<br />

Bíblia nos ensina a respeitar a distinção de gêneros no vestuário, como<br />

conhecida dentro de nossa própria cultura. Isso significa que como<br />

cristãos necessitamos perguntar-nos ao comprar roupas: Será que este<br />

artigo de vestuário afirma minha identidade sexual ou faz-me parecer<br />

que pertenço ao sexo oposto? Sempre que você sentir que certo tipo de<br />

traje não pertence a seu gênero, siga sua consciência: não o compre<br />

mesmo que esteja na moda.<br />

Num tempo quando a moda parece inclinada a abolir a distinção de<br />

gêneros, não é sempre fácil para o cristão encontrar roupas que afirmem<br />

sua identidade de gênero. Mas, nunca foi fácil viver pelos princípios<br />

bíblicos. Ainda é nosso dever não nos conformarmos com os pervertidos<br />

valores e estilos de nossa sociedade, mas ser uma transformadora<br />

influência neste mundo através do poder habilitador de Deus.<br />

Conclusão<br />

Roupas não fazem um cristão. Mas os cristãos revelam sua<br />

identidade mediante suas roupas e aparência. A Bíblia não prescreve<br />

uma roupa padronizada para os homens e mulheres usarem, mas os<br />

chama a seguir a simplicidade e o despretensioso estilo de vida de Jesus<br />

em nossas roupas e aparência.<br />

Seguir a Jesus em nosso vestir significa ficar à parte da multidão<br />

não portando, ornamentando e "produzindo" nosso corpo como o<br />

restante faz. Isso exige coragem. Coragem de não se conformar com as<br />

imposições da moda, mas ser transformado pelas diretrizes Palavra de<br />

Deus (Rom. 12:2). Coragem para distinguir entre a caprichosa moda que<br />

muda e o sensato estilo que permanece. Coragem para revelar a<br />

amabilidade do caráter de Cristo, não pela externa decoração de seus


Qual a Roupa Certa? 177<br />

corpos "com ouro, pérolas ou custosos vestidos" (I Tim. 2:9), mas pelo<br />

embelezamento interior de nossas almas com as graças do coração, o<br />

manso e quieto espírito que é precioso à vista de (I Ped. 3:4). Coragem<br />

para vestir-se, não glorificando a si mesmo pelo vestir brilhantes jóias e<br />

roupas sedutoras, mas para exaltar a Deus no uso de vestimentas<br />

modestas, decentes e sóbrias.<br />

A aparência exterior é um constante e silencioso testemunho de<br />

nossa identidade cristã. Possa ela dizer ao mundo que vivemos para<br />

glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />

Referências do Capítulo VII<br />

1. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), vol. 3, pág. 376.<br />

2. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), pág. 415.<br />

3. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), vol. 4, pág. 644.<br />

4. Ellen G. White, Child Guidance (Nashville, 1954), pág. 421.<br />

5. Ellen G. White, Testimonies to Ministers (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), pág. 180.


Qual a Roupa Certa? 178<br />

UMA VISÃO PRÁTICA DO VESTUÁRIO CRISTÃO<br />

Por Laurel Damsteegt<br />

Sobre a Autora<br />

Laurel Damsteegt nasceu em Bangkok, na Tailândia, filha dos<br />

médicos-missionários Ethel e Roger Nelson. Ela passou a maior parte de<br />

sua infância em Bangkok, mas foi para Singapura para os seus primeiros<br />

dois anos de educação secundária.<br />

Laurel graduou-se em teologia no Atlantic Union College. Durante<br />

as primaveras ela obtinha experiência trabalhando no New England<br />

Memorial Hospital como capelã.<br />

A Sra. Damsteegt obteve seu Mestrado em Divindade na<br />

Universidade de Andrews em 1977, e um MSPH na Universidade de<br />

Loma Linda, em 1978. Enquanto no seminário, ela conheceu seu marido,<br />

P. Gerard Damsteegt, que estava concluindo sua dissertação doutoral.<br />

Casaram-se em 1976.<br />

Os Damsteegts trabalharam juntos no ministério em muitos lugares.<br />

Serviram primeiramente na Potomac Conference como casal pastoral, e<br />

então em Bangkok, Tailândia, como capelães, educadores de saúde e<br />

pastores, e finalmente em Seul, Coréia, estabelecendo-se no Soul<br />

Winning Institute.<br />

Em 1985, os Damsteegts retornaram de sua missão e a Sra.<br />

Damsteegt assistiu seu marido na produção do livro "Nisto Cremos".<br />

Quando, em 1988, o Dr. Damsteegt começou a ensinar História da<br />

Igreja no Seminário Teológico da Universidade de Andrews, Laurel<br />

focalizou seu ativo ministério em criar seus dois filhos, Joelle e Pieter.<br />

Sua presente atividade ela considera o mais elevado de todos os<br />

chamados.<br />

O modo como nós nos vestimos é um assunto muito sensível.<br />

Poucos temas são mais pessoais do que o que comemos e como nos


Qual a Roupa Certa? 179<br />

vestimos. Sobre nenhuma matéria encontramos mais resistência do que<br />

nos hábitos pessoais que envolvem nossa vida diária.<br />

Podemos necessariamente não nos sentir bem sobre o que comemos<br />

e vestimos, e ainda sentirmo-nos altamente protegidos. Entendemos uma<br />

observação critica sobre dieta ou vestuário como dirigidas ao núcleo real<br />

do que somos, porque achamo-nos incapazes de separar a nós mesmos<br />

de nosso exterior. Aqui está um clássico exemplo do por quê a filosofia<br />

da pessoa holística (integral) – de que corpo, mente e alma são uma só<br />

coisa – é verdadeira. O corpo expressa a alma e a alma o corpo. Aqui não<br />

há dicotomia (divisão). Sensibilidade sobre o vestuário tem existido<br />

desde que as vestes de luz desapareceram e nós começamos a costurar<br />

nossas próprias folhas de figueira.<br />

Objetivo do Capítulo<br />

O alvo deste ensaio é duplo. Primeiro, esforçar-me-ei para colocar<br />

claramente a filosofia cristã do vestuário e adornos. Segundo, proporei<br />

alguns princípios práticos no vestir. De muitas maneiras este ensaio se<br />

empenhará em aplicar, de modo prático, os princípios de vestuário e<br />

adornos que apareceram nos capítulos precedentes.<br />

Primeira Parte: A Filosofia Cristã do Vestuário<br />

Vestindo-se para Agradar a Outros<br />

Será o vestuário, algo de caráter estritamente pessoal? Visto-me<br />

segundo meu critério somente? Realmente não! Embora sejamos<br />

responsáveis pelo que vestimos, não há dúvida de que nos trajamos mais<br />

para impressionar os outros do que a nós mesmos. Por que uma mulher<br />

se sujeitaria a par de sapatos com saldos de sete centímetros de altura,<br />

beliscando seus calcanhares? Provavelmente não é porque ame o<br />

conforto, mas porque sente que eles lhe dão certo destaque. Se acha que


Qual a Roupa Certa? 180<br />

o namorado parece triste, um discreto e felpudo suéter torna-se a escolha<br />

para o próximo encontro. Entrevistas de emprego exigem certo<br />

profissionalismo e, nominalmente, alguém nunca pensaria em usar jeans<br />

e uma suada e desbotada camisa, não importando quão limpa e<br />

confortável ela pudesse parecer. A maior parte do que se veste não é de<br />

preferência pessoa. Vestimo-nos para agradar a outros.<br />

Vestindo-se para Agradar a Deus<br />

Os cristãos se vestem para agradar não apenas aos outros, mas a<br />

Alguém especial. Porque escolhemos a Jesus como Senhor (Col. 2:6),<br />

visamos a agradar a Deus em cada aspecto de nossa vida, inclusive no<br />

vestir. Alguns dizem: "Deus não se interessa no que aparento ser. Ele<br />

ama a mim e não às minhas roupas." De fato, Deus ama as pessoas, não<br />

importa quão pobremente vestidas ou mal vestidas estão. O amor de<br />

Deus não depende do que vestimos (ou de quem nós somos). Não<br />

podemos fazê-Lo amar-nos mais pelo que vestimos.<br />

Viemos a Cristo justamente como estamos, mas não devemos<br />

permanecer assim. Porque amamos ao Senhor, ansiamos agradá-Lo de<br />

todos os modos possíveis. Damo-nos a Ele incondicionalmente para que<br />

opere transformações em nós. Isso envolve mudanças radicais que nada<br />

tem a ver com nossa aceitação de Sua parte, mas de O aceitarmos.<br />

Porque O amamos tão ternamente, desejamos agradá-Lo em todas as<br />

coisas que fazemos, incluindo nossa aparência exterior.<br />

Aprendendo a Agradar o Senhor<br />

Descobrimos o que agrada a Deus examinando Sua Palavra e<br />

submetendo-nos à Sua vontade revelada. Essa não é uma obra sombria,<br />

fatigante. De fato, porque Lhe temos dado nosso coração, Ele o devolve<br />

totalmente transformado (Ezeq. 11:19, 20; 36:26 e 27).


Qual a Roupa Certa? 181<br />

As coisas que usamos para adorar vemo-las impróprias. Nosso novo<br />

coração deleita- se em fazer exatamente o que Ele aprecia. Nossos gostos<br />

são mudados, nossa natureza alterada (Sal. 40:8). Então se Ele, tanto<br />

quanto um amigo íntimo, deseja algo, apresso-me em fazer exatamente o<br />

que me ordena. Não por medo ou por força, mas porque eu mesmo<br />

realmente o prefiro. Dessa forma, ao fazer o que eu quero, finalmente<br />

faço Sua vontade. "Se consentirmos, Ele de tal modo Se identificará com<br />

nossos pensamentos e objetivos, assim harmonizando nossos corações e<br />

mentes com Sua vontade, que quando O obedecermos, estaremos<br />

atendendo a nossos próprios impulsos. A vontade, refinada e santificada,<br />

encontrará o mais alto deleite em estar a Seu serviço." ( l )<br />

Esse é o milagre do novo coração, a essência do Novo Concerto. E<br />

o que é melhor: sou capaz de fazer exatamente como Ele quer. Nada é<br />

difícil para Deus! "Quando a vontade do homem coopera com a vontade<br />

de Deus, torna-se onipotente. O que quer que seja feito sob Seu<br />

comando, pode ser plenamente cumprido em Sua força. Todas as Suas<br />

ordens são capacitações." (2)<br />

Naturalmente, se nossos coração não foram mudados, Sua vontade<br />

é dura, difícil. Temos de lutar contra nós mesmos (o que realmente<br />

preferimos) para agradá-Lo. Isso, de fato, é legalismo. Eis aqui um teste.<br />

Você poderia encontrar algo nas Escrituras que lhe é extremamente<br />

desagradável? Isso pode indicar que você necessita reavaliar com<br />

franqueza algumas questões básicas: Tenho eu verdadeiramente dado<br />

meu coração a Jesus? É Ele o Senhor da minha vida'? "Não há utilidade<br />

em dizer-te que não deves vestir isto ou aquilo, pois se o amor dessas<br />

coisas vãs está em teu coração, o abandono de teus ornamentos será<br />

apenas como cortar a folhagem de uma árvore. As inclinações do<br />

coração natural novamente dominariam. Tu deves ter consciência das<br />

tuas próprias." (3)<br />

Daí por que vestuário e ornamentos (e outros padrões "incidentais")<br />

podem tornar-se um índice do que realmente ocorre no interior. A não<br />

submissão de pequenos pontos pode ser sintomática de lealdades


Qual a Roupa Certa? 182<br />

divididas, que necessitam ser reexaminadas honestamente. Roupas<br />

podem afetar sua devoção de maneiras sutis e silenciosas. É melhor ouvir<br />

prontamente quando o Espírito Santo sussurrar-lhe um tocante pedido.<br />

Não Julgar pela Aparência<br />

Crer que nossa aparência exterior é uma revelação de nosso caráter<br />

não nos dá o direito de julgar os outros pelo que pareçam ser. Jesus nos<br />

diz: "Não julgueis". Nós nunca podemos saber como o bondoso Pastor<br />

está conduzindo os outros. O que Ele pede a você pode ser mais do que<br />

me permitiu entender. Não fomos chamados para ser a consciência de<br />

alguém. O mesmo Deus que o conduz em sua peregrinação, pode guiar<br />

também seu amigo ou colega.<br />

"Há muitos que tentam corrigir a vida de outros atacando o que<br />

consideram hábitos errôneos. Eles vão àqueles que pensam estar em erro e<br />

apontam-lhes os defeitos. Dizem: 'Você não pode vestir-se desse jeito.'<br />

Tentam arrancar os ornamentos ou o que quer que lhes pareça ofensivo, mas<br />

não buscam firmar a mente na verdade. Aqueles que procuram corrigir os<br />

outros devem apresentar os atrativos de Jesus. Eles deveriam falar de Seu<br />

amor e compaixão, apresentar Seu exemplo e sacrifício, revelar Seu Espírito, e<br />

não necessitam tocar no assunto do vestuário, de modo algum. Não há<br />

necessidade de fazer da questão do vestuário o principal ponto de sua religião.<br />

Há algo mais elevado a falar. Falem de Cristo, e quando o coração estiver<br />

convertido, tudo o que está em desarmonia com a Palavra de Deus será<br />

deixado." (4)<br />

Não podemos nos permitir julgar as pessoas por suas roupas e<br />

adornos. Para onde Jesus olhava quando ceava com prostitutas e<br />

publicanos? Certamente não era para sua aparência exterior. Nós<br />

necessitamos aprender a olhar os corações, justamente como Jesus fez.<br />

Ele viu as profundas necessidades e ministrava aos feridos com um terno<br />

amor. Ele via potencial para o reino de Deus em todo lugar e olhava<br />

além do exterior. Ministrava aos corações (Mat. 21:31 e 32)


Qual a Roupa Certa? 183<br />

As Pessoas Nos Julgam Pela Aparência<br />

Nossa vocação cristã não é julgar os outros por sua aparência, mas<br />

temos a obrigação de revelar Cristo aos outros por nosso parecer<br />

exterior. Esse é o paradoxo do estilo de vida cristã. Não nos atrevemos a<br />

julgar os outros por sua aparência, contudo, ousamos não nos tornar<br />

pedra de tropeço aos outros por nossa aparência. Embora os outros não<br />

possam ler nosso coração, podem ler nossas roupas, penteado e<br />

maquiagem. Nossa aparência torna-se uma poderosa declaração para<br />

Cristo. Se professamos ser cristãos, então as pessoas têm o direito de ver<br />

a modéstia e simplicidade da vida de Cristo refletidas em cada aspecto<br />

de nossas vidas, incluindo nossa aparência. Não podemos apresentar-lhes<br />

um quadro confuso.<br />

Recapitulando, nós não temos licença para julgar a quem quer que<br />

seja por sua aparência, mas os outros têm o direito de esperar ver os<br />

ideais de Cristo refletidos em nosso comportamento e aparência.<br />

Podemos não gostar disso, mas é a maneira como a vida do cristão<br />

funciona.<br />

A Necessidade de Padrões no Vestuário<br />

Uma comunidade de fé necessita de um padrão para regrar seu<br />

vestuário e adornos, ou essa é uma questão que deve ser deixada à<br />

consciência individual?<br />

Para se ter unidade num corpo de crentes, necessita-se de padrões<br />

comuns. Os adventistas do sétimo dia definem suas normas pelos ensinos<br />

da Palavra de Deus. Assim, o respeito pelo padrão bíblico é imperioso<br />

para preservar a identidade e a unidade adventistas. "Todo assunto de<br />

vestuário precisa ser estritamente observado, seguindo-se rigorosamente<br />

a regra bíblica. A moda tem sido a deusa que governa o mundo, e<br />

amiúde insinua-se na igreja. A igreja precisa tornar a Palavra de Deus a


Qual a Roupa Certa? 184<br />

sua norma, e os pais deveriam pensar inteligentemente sobre esse<br />

assunto.'" (5)<br />

Com freqüência, grandes empresas têm incorporado códigos de<br />

vestuário porque entendem que sua imagem é refletida na aparência de<br />

seus funcionários. Elas crêem que as pessoas agem conforme suas roupas<br />

e que a reputação da companhia não é apenas estabelecida pelos seus<br />

produtos, mas por seus representantes. Essas grandes corporações<br />

mantêm um padrão para os seus empregados. Ninguém precisa ser um<br />

empregador, mas se desejar sê-lo, a obediência é requerida. (6)<br />

Semelhantemente, devemos manter os padrões bíblicos sobre<br />

vestuário em nossa igreja, se desejarmos refletir a imagem de nosso<br />

Mestre. Mas aqui está o problema. A preocupação com a aparência, sem<br />

correta motivação interior, tem apanhado alguns na armadilha do<br />

legalismo. Assim, como cristãos, como tratamos o sensível assunto do<br />

vestuário e dos ornamentos? Poderia a igreja definir com detalhes o que<br />

os membros devem vestir no lar, no trabalho, no lazer e na igreja? Tal<br />

abordagem foi usado pelos fariseus e o resultado foi uma religião vazia e<br />

sem amor.<br />

Consideremos Três Possíveis Opções:<br />

1ª.) Podemos educar. Muitos cristãos sabem muito pouco acerca<br />

do que a Bíblia ensina sobre como viver, incluindo como vestir-se para<br />

Cristo. Uma razão é a atual tendência de reduzir o cristianismo a uma<br />

profissão, antes que uma prática. É fácil para o pastor pregar acerca do<br />

amor de Cristo, antes que sobre os reclamos de Cristo na vida de Seus<br />

seguidores.<br />

Isso é precisamente o que este livro pretende: ajudar os cristãos a<br />

compreenderem como refletir a Cristo em sua aparência. Incidentalmente,<br />

quando os pastores pregam sobre assuntos como os padrões cristãos para<br />

o vestuário e os adornos, eles estão educando e não nos culpando. Não<br />

deveríamos nos intimidar ante os sermões de instrução. Deveríamos,


Qual a Roupa Certa? 185<br />

sim, acata-los. Demos aos nossos pastores a liberdade de educar-nos<br />

sobre como seguir a Jesus nos aspectos práticos da vida cristã como<br />

vestuário, regime alimentar, mordomia, saúde, diversões, ética de<br />

trabalho e vida devocional.<br />

2ª.) Podemos Pedir um Coração Novo. Educação não é suficiente.<br />

Algumas vezes as pessoas aceitarão intelectualmente, mas não<br />

existencialmente a validade dos princípios bíblicos de vestuário e<br />

ornamentos. Com a mente dizem: "O que a Bíblia me ensina nesta área é<br />

verdadeiro". Mas com seu coração declaram: "Não estou preparado para<br />

abandonar jóias e vestidos sensuais.'"<br />

O remédio é estar disposto a deixar que Deus recrie um novo<br />

coração dentro de nós, diariamente, a cada momento, para que fiquemos<br />

ansiosos por Seus ensinamentos. "Dar-lhes-ei coração para que Me<br />

conheçam, que Eu Sou o Senhor; eles serão o Meu povo, e Eu serei o Seu<br />

Deus; porque se voltarão para Mim de todo o seu coração." (Jer. 24:7)<br />

Precisamos orar por uma renovação interior, para que possamos<br />

verdadeiramente viver de cada palavra que procede da boca de Deus. Até<br />

experimentarmos essa renovação, não podemos testemunhar efetivamente<br />

por Cristo. O povo odeia a hipocrisia, mas aprecia um reflexo consistente<br />

da imagem de Cristo em nossa vida.<br />

"Se nos humilharmos diante de Deus, e formos bondosos e corteses.<br />

ternos e piedosos, haverá cem conversões à verdade onde agora vemos<br />

apenas uma. Mas, embora professemos estar convertidos portamos<br />

conosco o fardo do ego, que temos como muito precioso para ser<br />

abandonado. É nosso privilégio depor essa carga aos pés de Cristo e em<br />

seu lugar receber o caráter e a semelhança de Cristo. O Salvador está<br />

esperando por nós para fazer isso." (7)<br />

3ª.) Podemos Amar os Cristãos Imaturos. Nem todos vêem as<br />

coisas do modo como nós. Alguns não vêem nada errado no uso de<br />

brincos, colares, braceletes, anéis ou minissaias. Eles raciocinam que o<br />

cristianismo é mais do que jóias e roupas. Como deveríamos nos<br />

relacionar com essas pessoas? A resposta é simples. Nos os amamos do


Qual a Roupa Certa? 186<br />

jeito que são porque temos a Jesus no coração. Jesus freqüentemente<br />

discordava de Seu povo, mas lágrimas fluíram de Seus olhos quando<br />

contemplou a endurecida Jerusalém. Podemos orar para nos tornarmos<br />

uma extensão de Seu amante coração, mesmo diante daqueles que não<br />

vivem de acordo com os ideais de Cristo para suas vidas.<br />

Segunda Parte: Dez Princípios Para<br />

Vestuário e Adornos Cristãos<br />

Jesus realmente tem algumas preferências sobre o modo de nos<br />

vestirmos e ornarmos nosso corpo. Os capítulos precedentes mostraram<br />

que a Bíblia repetidamente chama-nos a atenção para os preceitos e<br />

exemplos do vestir modesto e decente, sem jóias resplendentes ou<br />

luxuosos vestidos. Dos ensinos da Escritura podemos criar um quadro de<br />

como agradar a Deus, mesmo nos detalhes de nossa aparência. Nesse<br />

ponto podemos encontrar dez princípios práticos que tentarei descrever:<br />

Princípio Primeiro – O motivo cristão para o vestir não é<br />

agradar-se ou aos outros, mas glorificar a Deus. As pessoas vestem-se<br />

por diferentes razões, mesmo que não estejam conscientes disso.<br />

Alguns vestem-se para si mesmos. Esse motivo insidioso é básico<br />

para muitos hoje em dia. Vestem seus corpos e os adornam porque<br />

desejam ser admirados como pessoas distintas. Outros clamam por<br />

atenção extra para sustentar sua autoconfiança. Para obter atenção, uns<br />

poucos vão a extremos vestindo sutilmente pequenos itens do vestuário.<br />

Desejam alertar as pessoas para o fato de que eles são individualistas.<br />

Alguém pode usar uma encantadora blusa para ser notado; outro,<br />

podem pôr uma saia sem botões sobre calças coladas ao corpo, para<br />

convidar os assobios. Tudo aponta para o mesmo motivo. Egos ansiosos<br />

de serem apreciados ou, pelo menos, notados. Mas Paulo adverte:<br />

"Portanto, se fostes ressuscitados com Cristo, buscai as cousas lá do alto,<br />

onde Cristo vive, assentado à direita de Deus. Pensai nas coisas lá do<br />

alto, não nas que são aqui da Terra. Fazei, pois, morrer a vossa natureza


Qual a Roupa Certa? 187<br />

terrena: prostituição, impureza, paixão lasciva, desejo maligno, e a<br />

avareza, que é idolatria." (Col. 3:1, 2 e 5)<br />

Alguns se vestem para agradar a outros. Pressões semelhantes não<br />

se verificam apenas entre as crianças e adolescentes. Adultos de todas as<br />

idades participam. A moda é uma senhora tirana. Quer seja no tamanho<br />

de um colar, ou na largura de uma gravata, no comprimento de uma saia,<br />

na uniformidade das amplas calças usadas num piquenique, a pressão lá<br />

está e nós sucumbiremos a ela em variados graus.<br />

Um cristão se veste para glorificar a Deus. Os cristãos estão<br />

preocupados acerca do vestuário porque ele molda seu caráter e exibe<br />

uma bela pintura dAquele a quem servem. Como um compositor de<br />

hinos disse: "Queremos simplesmente ser um meio transparente, para<br />

mostrar Tua glória." (8) A meta do cristão é "fazer tudo para a glória de<br />

Deus" (I Cor. 10:31).<br />

Somos "cartas vivas" que são conhecidas e lidas por todos (II Cor.<br />

3:2 e 3). Se a aparência não combina com a condição da alma, criamos<br />

confusão. Cuidemos em não nos tornar uma desculpa para aqueles que<br />

estão no desvio da rebelião (Mat. 18:6; Rom. 14:13 a 15; 1 Cor. 10:33)<br />

Você pode ter um coração puro e amar a Jesus, mas se usar uma saia<br />

curta e bermudas justas, pode estar certa de que os homens a olharão não<br />

pensando em Jesus.<br />

Noutro extremo, mesmo um pregador bem vestido pode tornar-se<br />

uma distração, se usar roupas caras sempre bem combinadas, sempre na<br />

crista da moda, e trocá-las cada fim de semana, mostrando infinita<br />

variedade. Alguns da congregação notarão suas roupas mais que suas<br />

pregações. Necessitamos de cautela ao nos expormos de qualquer forma.<br />

Se não há mostras do ego no vestir-se, os espectadores crerão que<br />

há mais em sua vida do que os olhos podem ver.<br />

Princípio Segundo – Um cristão deveria vestir-se e agir de modo<br />

modesto, cobrindo adequadamente o corpo e evitando dificuldades ou<br />

tentação. (I Tim. 2:9) Deus criou Adão e Eva com coberturas de luz, que<br />

eles perderam quando cometeram pecado. Com o frio e a escuridão veio


Qual a Roupa Certa? 188<br />

o reconhecimento da nudez e eles imediatamente sentiram necessidade<br />

de cobrir-se (Gên. 3:7). Nudez nas Escrituras tornou-se símbolo de<br />

vazio, de pecado, de apostasia, ou da tentativa de salvar-se a si mesmo<br />

(Êxo. 32:25: Deut. 28:48; II Crôn. 28:19; Jó 1:21; Isa. 2:2 a 4; Oséias 2:3;<br />

Mat. 25:36; Apoc. 3:17 e 18). A Bíblia jamais usa a nudez em sentido<br />

positivo.<br />

Deus fez os primeiros vestidos duráveis, diferentes das folhas de<br />

figueira antes utilizadas, e os vestiu como símbolo da boa disposição<br />

divina de cobrir nosso vazio e indigência (Rute 3:9; Ezeq. 16:8;<br />

Mat.22:11 e 12; Apoc. 3:18). (9)<br />

Cuidadosas instruções foram dadas em várias partes da Bíblia sobre<br />

como cobrir o corpo para que não apareça a nudez (Êxo. 20:26; 28:42).<br />

Contudo, a exposição do corpo tornou-se característica da moda<br />

moderna. os estilistas buscam cortar e ajustar, para exibir o corpo por<br />

meio de uma grande variedade de modos. Mesmo pessoas que estão<br />

cobertas completamente podem ser imodestas, se suas roupas são<br />

apertadas ou finas e as expõem de qualquer maneira.<br />

De quem é a falta por assédio sexual? Está em falta quem usa<br />

vestidos sensuais? Ou o assediador é culpado? Algumas vezes não nos<br />

sentimos responsabilizados pela cobiça que provocamos. Não raro, as<br />

mulheres são totalmente ingênuas com respeito ao modo como seus<br />

vestidos afetam os homens. Saias curtas atraem atenção para as pernas;<br />

fendas nas saias ou blusas são sugestivas e fazem o jogo do "pega-pega".<br />

Decotes permitem muito pouco à imaginação. Possivelmente poucos<br />

homens cristãos são capazes de resistir a pensamentos lascivos e<br />

obscenos, mas os homens mundanos nem mesmo tentam.<br />

Alguém disse uma vez que ele não compreendia "por que a mulher<br />

diz que vestir uma minissaia a faz sentir-se mais como uma mulher,<br />

todavia não espera que eu me sinta mais homem. Creio que as mulheres<br />

têm o direito de usar qualquer coisa que queiram, onde queiram, mas<br />

ajudem-me a compreender por que eu ainda pretendo olhá-las nos olhos.<br />

Em nossa era moderna, seja sabido que não é porque as mulheres não


Qual a Roupa Certa? 189<br />

ouvem lascivos e obscenos ditos, isso signifique que os homens não<br />

estão tendo pensamentos lascivos e obscenos." (10)<br />

Para os cristãos isso é coisa muito séria. Jesus disse: "Qualquer que<br />

olhar para uma mulher com intenção impura, no coração já adulterou<br />

com ela." (Mat. 5:28) Pense no dano de defraudar um irmão por vestir<br />

uma roupa reduzida. Quem seduz quem?<br />

O que é modéstia? Certamente ela inclui cobrir o corpo<br />

adequadamente, com vestimentas agradáveis, decorosas, decentes e bem<br />

ordenadas. Mas modéstia deve também considerar nosso comportamento.<br />

Podemos ser modestos no vestir e imodestos em nossa conduta.<br />

Por exemplo, o vestido de noiva não assegura um comportamento<br />

casto. Todos as maneiras de namoro e comportamento impróprio têm<br />

lugar com pessoas que usam alianças o tempo todo. Como pode um<br />

cristão lidar com namoro e excessos? Pelo comportamento cuidadoso<br />

que não encoraje pequenas conversas de galanteios.<br />

Quando estou numa nova situação, digamos, no avião, onde alguém<br />

pode perguntar-se se sou casado ou não porque não uso aliança, costumo<br />

criar uma conversa casual com alguém, acerca de meu marido e filhos. É<br />

recomendável e vital que sejamos bondosos, amigáveis e solícitos,<br />

mantendo cuidadoso decoro. Esse tipo de modéstia é protetor.<br />

Princípio Terceiro – O adorno exterior de um cristão reflete a<br />

simplicidade, naturalidade e consistência da vida cristã. O elevado<br />

ideal na imagem de um cristão amável é a beleza da simplicidade. Como<br />

Jesus disse no monte, Ele tocava e apanhava uma simples flor. Como<br />

olhava atentamente para sua corola de variados matizes e intensidades,<br />

sua forma exata e linhas perfeitas! Jesus observou que Salomão em todo<br />

o seu extravagante e impressivo garbo, não pôde expressar o encanto de<br />

uma simples flor do campo.<br />

Então Jesus fez uma de Suas capacitadoras promessas. Deus está<br />

muito mais interessado em você e em mim do que nas flores silvestres.<br />

Assim como Ele cuida de suas necessidades, "quanto mais a vós outros,


Qual a Roupa Certa? 190<br />

homens de pequena fé?'' (Mat. 6:30) Deus prometeu providenciar nossas<br />

roupas, não de maneira vaidosa, mas com simplicidade e adequação.<br />

Algumas vezes Deus toma providências através de súbitas e<br />

inesperadas doações de coisas que nunca poderíamos ter (algumas vezes<br />

usadas); ou tornando as vestes quase tão duráveis como os calçados dos<br />

israelitas. Deus provê, e cada dom precisa ser reconhecido como vindo<br />

diretamente dEle, o Autor de todas as boas coisas.<br />

Uma discussão sobre o uso de cosméticos deve ter sua base no<br />

princípio da simplicidade. O Criador nos fez com nossas próprias cores.<br />

Uma condição saudável traz cor às nossas faces e brilho aos nossos<br />

cabelos. Quem usa uma consistente maquiagem bloqueia a cor natural.<br />

Quando não se maquia, sua pele fica esbranquiçada, os lábios pálidos, os<br />

olhos mortiços. Mesmo para nós que não estamos acostumados vê-la<br />

desse jeito, ela é realmente mais pálida do que seria se abandonasse os<br />

cosméticos e permitisse que seu Criador naturalmente a colorisse. Os<br />

homens normalmente não usam cosméticos e são mais corados.<br />

A mulher que não usa cosméticos nunca está preocupada com<br />

desagradáveis iluminações artificiais e lâmpadas fluorescentes. Não se<br />

aflige com a chuva ou neve estragando a base e as bochechas com rouge,<br />

ou a retirada do batom enquanto come, ou em danificar a maquiagem se<br />

algumas lágrimas correrem pela face. Ela é sempre ela mesma. E quem<br />

se incomoda se em alguns momentos de felicidade algumas rugas se<br />

formam nos olhos ou ao redor da boca? Nem sequer precisa preocupar-se<br />

com aquelas brancas e embaraçantes raízes de cabelo que exibe a cada<br />

semana. Cabelos grisalhos falam de experiência e maturidade (Prov.<br />

16:31). Isso é lindo!<br />

Ser natural permite que a pessoa mostre alegria e paz interior que<br />

extravasa. Ser artificial acoberta tudo o que possui naturalidade. E<br />

certamente é mais saudável não cobrir os poros da pele. (11) Vestidos e<br />

penteados simples, um rosto "maquiado" por Deus podem ser atraentes,<br />

embora não pretendam atrair a atenção dos outros. Se eles nos<br />

incomodam, talvez precisemos perguntar por que desejamos chamar a


Qual a Roupa Certa? 191<br />

atenção. Não ter um perfil ou silhueta escultural pode ser seguro, literal e<br />

espiritualmente. Mas, naturalidade não significa desalinho.<br />

Princípio Quarto – As roupas e a aparência do cristão devem ser<br />

asseadas e bem cuidadas. Algumas vezes temos a idéia de que<br />

simplicidade é desleixo. Não é! Nem é desalinho. Tomar tempo para<br />

passar um ferro elétrico sobre a saia é importante (obrigatório se for<br />

algodão). Cozer um botão na roupa pode levar alguns minutos. Coloque<br />

uma caixa de costura junto à sua poltrona favorita, onde você possa<br />

apanhá-la quando está falando ao telefone ou apenas sentada. Não vamos<br />

parecer espantalhos, mesmo em casa.<br />

"Irmãs, quando em seu trabalho, não ponham um vestido que as<br />

fana parecer como corvos assustados no milharal. É mais gratificante a<br />

seus maridos e filhos vê-las num atraente e bem alinhado vestido, do que<br />

a meros visitantes ou estranhos. Algumas esposas e mães parecem pensar<br />

que não importa o que aparentem quando em seu trabalho, ou quando<br />

estão com seus maridos e filhos, mas são extremamente cuidadosas ao<br />

vestir-se com gosto aos olhos daqueles que não têm nenhum interesse<br />

particular nelas. Não são a estima e o amor do marido e filhos algo a ser<br />

mais prezado do que a admiração de estranhos ou amigos comuns?" (12)<br />

Asseio não é uma opção. Como diz o velho adágio: "A limpeza<br />

anda próxima da piedade." Não representaremos bem a Jesus com sujeira<br />

e vestidos desarrumados. De fato, se você está num trabalho de<br />

construção ou trabalhando no jardim, então há lugar para a sujeira. Mas<br />

quando você entra em casa, tome um banho e cuide-se bem, por amor a<br />

Jesus.<br />

Princípio Quinto – Um cristão pode evitar a extravagância e<br />

todavia escolher roupas bonitas e de boa qualidade, elegantes e duráveis.<br />

Somos mordomos do pouco ou do muito que Deus nos confiou. Somos<br />

chamados a viver com os meios que necessitamos e canalizar o restante<br />

para onde quer que Ele nos apontar.<br />

Alguns vão às compras e adquirem os vestidos mais baratos que<br />

podem encontrar. Para eles esse pode ser o melhor caminho. Por


Qual a Roupa Certa? 192<br />

exemplo, as crianças perdem as roupas muito rapidamente. Por isso não<br />

são compradas mercadorias de alta qualidade, salvo se elas puderem ser<br />

usadas por duas ou mais temporadas, ou dadas a um parente.<br />

Comprar roupas para um adulto é diferente. Desde que não haja<br />

drásticas alterações no corpo (uma gravidez, por exemplo), podemos<br />

usá-las por anos. Especialmente em climas sazonais, onde elas são<br />

vestidas apenas durante alguns meses ao ano, a pessoa pode usá-las ano<br />

após ano, se possuem bom gosto e qualidade. "Nosso vestuário,<br />

conquanto modesto e simples, deveria ser de boa qualidade, de cores<br />

firmes e adequado à sua finalidade. Deve ser escolhido pela durabilidade<br />

antes que pelo estilo." (13)<br />

Se alguém gasta um pouco mais de tempo numa pesquisa de lojas<br />

para saber o que é melhor, pode encontrar vestidos bonitos, de bom<br />

caimento e duráveis. Primeiramente, escolha roupas de qualidade que<br />

não requeiram muita manutenção e de estilo clássico. Elas podem<br />

parecer caras à primeira vista, mas pouparão tempo e dinheiro por muito<br />

tempo.<br />

A extravagância provém do excesso. Não é extravagância ter roupa<br />

de boa qualidade, bom caimento, agradáveis e confortáveis de vestir.<br />

Mas se o guarda-roupa está cheio de belos e bons vestidos que frio<br />

somos capazes de usar por meses ou anos, então é tempo de suspender as<br />

compras e talvez pensar em alguém do seu tamanho, com quem você<br />

poderia partilhar as bênçãos de Deus.<br />

Se você tem tudo o que necessita, nada compre até ter necessidade<br />

real. Resista à tentação de comprar porque há boas promoções na loja.<br />

Não se deixe tentar pelas vitrinas ou pelos intermináveis catálogos. Você<br />

sempre vê uma coisa mais que precisa ter. Não gaste o dinheiro do<br />

Senhor para satisfazer desejos extravagantes, '"A auto-negação no vestir<br />

é parte do dever cristão. Vestir-se de modo simples e abster-se do uso de<br />

jóias e ornamentos de toda espécie está em harmonia com nossa fé" (14)<br />

Princípio Sexto – O vestuário deve assegurar a saúde do corpo,<br />

protegendo em lugar de maltratá-lo. Deus projetou nossos corpos de um


Qual a Roupa Certa? 193<br />

modo maravilhoso. Os órgãos interrelacionados com funções tão<br />

silenciosas e suaves, que raramente os levamos em conta, a menos que<br />

tenhamos problemas de saúde. Isso é ingratidão! Atenção à saúde<br />

pessoal está muito distante de ser egoísmo; é uma maneira de ser grato a<br />

Deus por Seu trabalho e redenção.<br />

O vestuário deve promover a circulação corporal. O corpo é um<br />

intrincado sistema de órgãos e uma rede de complexos nervos todos<br />

alimentados com o oxigênio trazido pelo sangue, Por causa de nosso<br />

sistema circulatório ser totalmente involuntário, temo-lo como garantido.<br />

Vestidos apertados constringem a circulação e causam não somente<br />

desconforto imediato (com o corpo dizendo: "Por favor, ouçam-me!"),<br />

mas algumas vezes danos a longo prazo nos órgãos ou vasos sangüíneos.<br />

No século passado, espartilhos e cintas foram grandemente<br />

responsáveis por disfunções dos órgãos abdominais. É evidente que não<br />

vamos aos extremos desses dias, mas ocasionalmente usamos uma cinta<br />

estreita ou elástica, bem como a auréola elástica de algumas meias ou<br />

artigos de malha, ou ainda roupas de baixo coladas. Tenha piedade de<br />

seu sistema! Dê-lhe espaço para circulação. Isso é muito mais importante<br />

do que o conforto dos vestidos. Escolha roupas com cinturas que sejam<br />

adequadas, malhas que sejam quentes e laváveis, jaquetas que não<br />

impeçam o livre movimento dos braços ou que amarrotem, capas que<br />

protejam plenamente o corpo e sejam quentes. Essas são excelentes<br />

escolhas em prol da saúde.<br />

Ficar aquecida em nas estações frias é uma consideração muito<br />

importante para a circulação adequada. As extremidades devem estar tão<br />

aquecidas quanto o tronco. (15) Contudo, quão freqüentemente nos<br />

aventuramos na neve sem a cobertura conveniente. Nestes dias as<br />

malharias estão começando a fabricar artigos práticos como roupas de<br />

baixo térmicas. Tire vantagem de manter-se aquecida. As pernas<br />

precisam estar adequadamente protegidas e isso pode ser feito tão<br />

facilmente pelo uso de saias longas e modernas roupas de baixo. Então,<br />

com botas de cano alto, um cachecol de lã dobrado confortavelmente ao


Qual a Roupa Certa? 194<br />

redor do pescoço e grossas luvas, alguém pode apreciar as maravilhas do<br />

inverno, sem sofrer seus ataques. (16)<br />

Cobrir a cabeça é outra importante (antiquada?) medida. No<br />

inverno, enormes quantidades de calor são perdidas na cabeça. O rosto e<br />

as orelhas podem sofrer severas exposições também. Escolha um gorro<br />

próprio que cubra a cabeça sem prejudicar os cabelos. Algumas jaquetas<br />

e capas possuem um capuz que pode ser usado. No verão um chapéu<br />

próprio para a estação ajuda a manter a cabeça resfriada quando você<br />

está trabalhando fora. Trate seu cérebro com muito respeito.<br />

Os sapatos precisam ser confortáveis. Dedos apertados, carbúnculo<br />

(doença infecciosa causada por uma bactéria, a bacillus anthracis, que<br />

produz lesões na pele), calos e calosidades, joanetes, são maneiras do<br />

corpo dizer: "Trate-me bem, torne-me confortável, eu lhe darei vigor por<br />

todo o dia!" Calçados que sejam macios e tenham um bom arco para<br />

suporte da planta do pé, podem de início ser caros, mas se mostrarão<br />

econômicos e úteis em durabilidade. Eles ajudam a prevenir a fadiga<br />

geral.<br />

Princípio Sétimo – O cristão deve usar roupas apropriadas para a<br />

ocasião. "Tudo tem seu tempo determinado, e há tempo para todo<br />

propósito debaixo do céu", disse certa vez Salomão (Ecles. 3:1). Melhor<br />

sumário de conveniência não poderia ser feito. Uma pessoa veste no<br />

jardim o que não poderia nem pensar em usar na igreja ou num encontro<br />

de negócios. O que é apropriado no inverno certamente não o seria no<br />

sufocante calor do verão. Ao andar de bicicleta pelas ruas alguém<br />

provavelmente usaria algo diferente do que num jantar fora de casa.<br />

Conveniência implica em bom senso e em colocar juntos, num quadro<br />

bem balanceado, todos os outros princípios. Alguém poderia estar tão<br />

saudável num vestido, que a graça simples e a beleza se perderiam.<br />

A cultura de diferentes países desempenham uma parte importante<br />

em determinar qual a vestimenta apropriada. No Oriente Médio há países<br />

onde as mulheres cobrem tudo, exceto os olhos, e há que se exercer<br />

extremo cuidado e respeito por isso. Em outros países o povo se veste


Qual a Roupa Certa? 195<br />

tão elegantemente que as desleixados e amadas T-shirts (camisas jeans)<br />

americanas, se tomariam motivo de riso. Aqui necessitamos de bom siso.<br />

O que é apropriado para os homens, nem sempre o é para as<br />

mulheres, mesmo que a cultura comum o permita. A confusão nessa<br />

distinção é anualmente tendenciosa. Como cristãos precisamos deixar<br />

claro que há diferença entre as vestes do homem e da mulher. Como<br />

demonstrado no capítulo seis, a Escritura claramente nos ensina a<br />

respeitar a distinção de gêneros no vestir, bem como nos papéis<br />

funcionais, porque ela é parte da ordem da Criação. Distinção de gêneros<br />

é fundamental para nossa compreensão de quem somos e que papel Deus<br />

deseja que desempenhemos. Não devemos permitir-nos eliminá-la.<br />

"Há uma crescente tendência de estarem as mulheres em seus trajes<br />

e aparência, tão próximas do sexo oposto quanto possível, e modelar<br />

seus trajes conforme os do homem, mas Deus diz que isso é abominação.<br />

'Da mesma sorte, que as mulheres, em traje decente, se ataviem com<br />

modéstia e bom senso..." (I Tim. 2:9)... Deus designou que houvesse<br />

plena distinção entre o vestuário dos homens e da mulheres, e tem<br />

considerado ser matéria de importância suficiente para dar explícitas<br />

instruções sobre sua observância; pois o mesmo traje usado por ambos os<br />

sexos causaria confusão e grande aumento do crime." (17)<br />

Princípio Oitavo – O vestuário cristão deve ser decente e belo,<br />

revelando estilo e graça. O vestuário do cristão deve ter boa aparência.<br />

E pode ser belo. Não precisamos vestir-nos de modo desgracioso, e que<br />

afaste as pessoas de nós. Isso seria difamatório a Deus também (18)<br />

Ninguém deveria jamais ser levado a dizer: "Eu não gostaria de ser um<br />

cristão! Veja que roupas horríveis Deus os faz usar!"<br />

O que vestimos pode deixar transparecer que Deus ama o belo ou<br />

Ele não teria enchido este mundo com tal variedade de belas cores. Que<br />

Ele aprecia a ordem ou não teria criado o complexo Universo com seus<br />

desenhos e movimentos. Que Ele ama a simplicidade ou que não nos<br />

teria provido belos e saborosos frutos, grãos e vegetais.


Qual a Roupa Certa? 196<br />

A beleza no vestuário começa com o estilo antes que com a moda.<br />

Algumas pessoas crêem equivocadamente que só a moda é estilo. Não é,<br />

embora penetre quase que totalmente a sociedade. (19) A moda vem e<br />

vai, mas o estilo permanece. Alguém disse certa vez: "Novidades são<br />

armadilhas! A moda é excitante, transitória, novidadeira; o estilo é<br />

equilíbrio, permanente, consistente; o bom desenho não envelhece."<br />

Moda é quase sinônimo de temporário. Se os estilistas fizessem uma<br />

moda permanente, poriam a si próprios fora de seus lucrativos negócios.<br />

A indústria da moda é altamente abastecida pelo consumismo. Seu alvo é<br />

satisfazer a ilusão do momento.<br />

Por outro lado, roupas com estilo não se tornam facilmente<br />

antiquadas. São como peças de arte. Dizem algo, têm propósito.<br />

Conquanto não devamos fechar os olhos à moda que hoje existe e<br />

amanhã se vai, podemos apreciar o estilo sensato. Os estilos clássicos ou<br />

tradicionais têm sido apropriados por anos e nunca estarão fora de moda.<br />

Princípio Nono – Adotar guarda-roupa prático, que seja adaptado<br />

a você e ao seu estilo de vida. O primeiro passo no desenvolvimento de<br />

um guarda-roupa prático e de bom gosto, é decidir como o tempo de<br />

alguém deve ser usado. É a maior parte da semana gasta num escritório ?<br />

Você despende a maior parte de seu tempo cuidando de bebês em casa?<br />

Você é um trabalhador braçal? Você usa boa parte de seu tempo em<br />

atividades físicas, nos spas ou jogando tênis.<br />

Se você está pensando no bebê durante todo o dia, provavelmente<br />

não necessitará de seis tailleurs. Mas nada deveria levá-la a "suar" dia e<br />

noite. Vista-se belamente, mesmo para o bebê. A família aprecia pais<br />

bem vestidos no lar, e não apenas quando saem de casa. Isso faz com que<br />

as crianças se sintam muito importantes também.<br />

Alguém pode querer ter um visual clássico para evitar a<br />

transitoriedade da moda. Pára as mulheres um guarda-roupa básico pode<br />

consistir em: um tailleur de bom caimento, um vestido básico, um<br />

vestido para jantares, uma capa ou manteaux, um par de sapatos e bolsa<br />

que combine. Se cuidadosamente escolhido, um blazer pode ser usado


Qual a Roupa Certa? 197<br />

com os demais itens. É melhor comprar roupas clássicas para cada<br />

temporada.<br />

O que é básico? Um verdadeiro guarda-roupa básico consiste de<br />

roupas de linhas simples, estilos tradicionais com cores combinadas.<br />

Essas cores básicas são: negra, marrom, azul-marinho, cinza e bege.<br />

Cores e linhas são vitais para comunicar presença e autoridade. Nos anos<br />

setenta, John T. Molloy escreveu os clássicos volumes Dress for Success<br />

e Women's Dress for Success Book. Conquanto estejamos a mais de vinte<br />

anos desse tempo, os princípios ainda são tidos como válidos hoje.<br />

Muitos desses princípios aplicam-se ao vestuário cristão, com destaque<br />

para a qualidade clássica e a simplicidade no vestir.<br />

Desde que a extensa pesquisa de Molloy foi publicada, a análise das<br />

cores tornou-se em voga na década de oitenta. A análise de cores pode<br />

ser útil em auxiliar diferentes tipos de pele a encontrar cores que melhor<br />

se harmonizem com eles. (20) Quando alguém encontra a cor básica que<br />

lhe vai bem, então a adota e combina suas roupas a partir dela. A<br />

vantagem disso é que ninguém necessita ter dúzias de sapatos e bolsas<br />

para manter um guarda-roupa próprio. Sapatos em cores básicas podem<br />

ajudar a manter uma paleta de uma cor só.<br />

Você acha que nenhum combina com os artigos de vestuário que<br />

está experimentando? Não o compre porque provavelmente não se ajusta<br />

ao seu esquema de cores. Se você se dá bem com cores terrenas<br />

(marrons) não se sinta por azul-marinho e negro. Ou se lhe caem melhor<br />

tons acinzentados não os misture com marrons.<br />

Após você montar seu próprio guarda-roupa, escolha cores que<br />

combinem com ele e acrescente variedades. Você não precisa ficar com<br />

as cores básicas. Mas esteja certa de que tudo o que escolher estará<br />

combinando com o fundamento que você estabeleceu com o básico, e<br />

seu guarda-roupa será coerente.<br />

Alguns desses princípios também se aplicam aos homens, mesmo<br />

com respeito a cores e ao guarda-roupa básico. Os homens podem<br />

começar com um ou dois bons ternos, duas camisas brancas (o branco é


Qual a Roupa Certa? 198<br />

clássico), e escolher duas outras listradas ou de cor pastel (nunca<br />

vermelha ou rosa). Um blazer de boa qualidade e um par de calças bem<br />

confeccionadas que formem contraste, ampliarão as possibilidades. Uma<br />

capa bege impermeável tem maior durabilidade, a despeito da análise de<br />

cor. Sapatos marrons ou pretos podem ser polidos e mantidos belos.<br />

Mais importante é a gravata que, mais do qualquer outro item, determina<br />

como as pessoas olham "o status, a credibilidade, a e a capacidade do<br />

homem." (21)<br />

O vestuário para a igreja depende muito do tipo de atividade que<br />

alguém exerce. Se a mulher vai à plataforma, o comprimento de sua saia<br />

necessita ser suficiente, para que ela não tenha de puxá-las. Se alguém<br />

trabalha na divisão infantil, roupas laváveis, que não amarrotem, podem<br />

ser úteis.<br />

A função principal das vestimentas na igreja não é atrair a atenção<br />

para si próprio, mas propiciar um clima de adoração. "Todos deveriam<br />

ser ensinados a serem asseados, limpos e bem-arrumados em seu<br />

vestuário, sem contudo serem indulgentes com aquilo que é totalmente<br />

impróprio para o santuário. Não deveria haver nenhuma exibição de<br />

vestuário, pois isso encoraja a irreverência. A atenção do povo é com<br />

freqüência chamada para ele, e assim pensamentos são introduzidos, os<br />

quais não deveriam ter lugar no coração dos adoradores. Deus não é alvo<br />

de seus pensamentos, centro da adoração; e algo que desvie a atenção do<br />

solene e sagrado serviço é uma ofensa a Ele." (22)<br />

Distrações causadas pelas roupas do professo adorador são estorvos<br />

à adoração. Por outro lado, o sábado é um dia especial e mostramos<br />

respeito por Deus ao vestir nosso melhor, não para parecer bem por<br />

nossa própria causa, mas como um verdadeiro ato de adoração. (23)<br />

Princípio Décimo – Ao vestir as crianças, os pais cristãos<br />

deveriam escolher roupas apropriadas à idade, que sejam confortáveis,<br />

simples, asseadas e elegantes. Os princípios no vestir as crianças são os<br />

mesmos que para os adultos, com muito poucas exceções. Escolha<br />

roupas que sejam confortáveis, asseadas, simples e elegantes. Encoraje


Qual a Roupa Certa? 199<br />

na criança hábitos de asseio e ordem enquanto ainda são pequenas,<br />

porque são eles mais difíceis de se desenvolver em tempos posteriores.<br />

Os adolescentes já começam desejando ser tais quais os adultos,<br />

justo nestes dias em que a linha divisória entre as fases está sendo trazida<br />

mais para trás. As crianças estão usando sapatos de salto alto,<br />

maquiagem ou modas adultas. Como costuma acontecer, os pequenas<br />

divertem-se com comportamentos adultos, e isso pode tornar-se<br />

problemático para o desenvolvimento e a moralidade das crianças. "Os<br />

pequenos deveriam ser educados na simplicidade infantil... Eles não<br />

deveriam forçados à maturidade precoce, mas reter o maior tempo<br />

possível a frescura e a graça de seus primeiros anos." (24) Abençoada a<br />

criança que pode permanecer criança e desfrutar mais tempo sua<br />

infância.<br />

David Elkind, em The Hurried Child (A Criança Apressada), explica<br />

como as roupas afetam o processo de amadurecimento: "Três ou quatro<br />

décadas atrás, meninos pré-púberes (com idade antecedente à puberdade)<br />

usavam calções e calças curtas até começarem a se barbear; usar um par<br />

de calças longas era um verdadeiro rito de passagem. Às meninas não era<br />

permitido usar maquiagem ou meias transparentes até que chegassem à<br />

adolescência. Para ambos os sexos, o vestuário de crianças era uma coisa<br />

à parte. Isso indicava aos adultos que eles deveriam ser tratados<br />

diferentemente, talvez indulgentemente; isso tornava fácil às crianças<br />

agirem como crianças." (25)<br />

Hoje a indústria da moda tem as crianças sob sua alça de mira.<br />

Mesmo aquelas em idade pré-escolar têm-se vestido como adultos em<br />

miniatura. "Desde macacões até camisas, os desenhistas da moda puseram<br />

à disposição um enorme sortimento de roupas em escala para as crianças.<br />

Juntamente com essas, há uma ampla escolha de correspondentes atitudes,<br />

tais como aquelas dos modelistas de jeans para adolescentes." (26)<br />

A maioria da sociedade pensa que isso é apenas engraçadinho. No<br />

entanto, vestuário precoce convida a uma alusão ao adulto. Carregados<br />

em plena idade jovem com as implicações da cultura adulta, a criança


Qual a Roupa Certa? 200<br />

não tem refúgio, exceto para desenvolver-se precocemente e adotar<br />

comportamentos que estão além de sua idade.<br />

"Quando as crianças se vestem como adultos, são mais semelhantes<br />

a esses em comportamento e imitam-lhes as ações. É difícil andar como<br />

um adulto usando calções de veludo, que fazem um barulho engraçado.<br />

Mas garotos em calças compridas podem andar como homens e meninas<br />

em jeans apertados podem andar como mulheres. É mais difícil hoje<br />

reconhecer que as crianças são crianças e não miniaturas de adultos,<br />

porque as crianças se vestem e se movimentam como adultos." (27)<br />

As crianças também precisam compreender o valor do dinheiro.<br />

Roupas com etiquetas famosas parecem ser tão vitais às crianças, que<br />

elas não compreendem o custo financeiro disso sobre o orçamento<br />

familiar. Elas necessitam ser estimuladas a apreciar as roupas simples e<br />

modestas. Isso as ajudará a tornar-se indivíduos e não vítimas de<br />

pressões. (28)<br />

O Adorno Interior<br />

Talvez tenhamos falado com pormenores de que a bela aparência<br />

está em perigo de se perder. É o adorno interior de um espírito manso e<br />

quieto que tem grande valor à vista de Deus (I Ped. 3:1 a 8). "Se o<br />

coração estiver convertido, isso será visto na aparência exterior. Se<br />

Cristo for em nós a esperança da glória, descobriremos tais encantos<br />

nEle, que a alma ficará enamorada. A Ele se apegará escolhendo amá-Lo<br />

e na Sua contemplação o eu será esquecido. Jesus será exaltado e<br />

adorado, e o eu abatido e humilhado." (29)<br />

Tem-se dito com freqüência que o que nós somos é mais importante<br />

do que o que vestimos. Mas, será que podemos separar essas duas coisas?<br />

Não refletimos o que somos pelo que vestimos? Está Deus realmente<br />

preocupado com o que vestimos? Se Ele nos deu diretrizes, é evidente<br />

que sim. "Mas, uma vez que o vestir é um aspecto menor da vida cristã",


Qual a Roupa Certa? 201<br />

dizem alguns, "porque ser exigente? Vamos nos ater aos aspectos<br />

essenciais da salvação e não nos preocuparmos com minúcias."<br />

Tais pensamentos ignoram o interesse de Deus nas pequenas<br />

orientações. Foi pequena coisa que Deus pediu a Adão e Eva: por favor,<br />

não comam dessa árvore (há muitas outras das quais vocês podem<br />

comer). Quando Naamã veio a Eliseu para ser curado, ficou irado porque<br />

foi-lhe ordenado que se lavasse num lamacento rio local. Então seu servo<br />

lhe fez uma pergunta que ecoa até os dias de hoje: "Meu pai", iniciou<br />

respeitosamente, "se o profeta te houvesse mandado fazer alguma grande<br />

coisa, tu não a terias feito?" (II Reis 5:13) Se ele houvesse pedido<br />

grandes somas de dinheiro, ou uma peregrinação, algo verdadeiramente<br />

difícil, tu terias cumprido. Aqui ele pediu algo fácil.<br />

Conclusão<br />

Vestir-se para a glória de Deus não é algo terrivelmente dificultoso.<br />

Mas exige disposição de nossa parte permitir que Ele mude nossas<br />

atitudes. Necessitamos estar dispostos a usar Seu ouro: "Aconselho-te<br />

que de Mim compres ouro provado no fogo para que te enriqueças: e<br />

vestes brancas para que te vistas, e não apareça a vergonha da tua nudez,<br />

e unjas teus olhos com colírio, para que vejas." (Apoc. 3:18) Ele deseja<br />

cobrir-nos. Ele deseja adornar-nos internamente com Seus próprios<br />

encantos e beleza. Porém, nossa disposição é indispensável para que Seu<br />

poder opere.<br />

"O apóstolo apresenta o adorno interior em contraste com o<br />

exterior, e diz-nos aquilo que o grande Deus valoriza. O exterior é<br />

corruptível. Mas um espírito manso e quieto, o desenvolvimento de um<br />

caráter belamente simétrico, nunca se deteriora. É um adorno que não<br />

perece. À vista do Criador de todas as coisas que são valiosas, amáveis e<br />

belas, é declarado ser de grande preço." (30)<br />

Algum dia Jesus abrirá aqueles portais de pérola receberá Seus<br />

queridos. O que Ele dirá? "Bem está, bom e fiel servo, foste fiel no


Qual a Roupa Certa? 202<br />

pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor." (Mat.<br />

25:21) Que possamos estar dispostos a seguir a Jesus nas pequenas<br />

coisas como roupas e adornos, os quais silentemente dizem ao mundo<br />

que vivemos para glorificar a Deus e não a nós mesmos.<br />

Referências do Capítulo VIII<br />

1. Ellen G. White, Desire of Ages (Mountain View, Califórnia,<br />

1940), pág. 668.<br />

2. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (Takoma Park, MD,<br />

1942), pág. 333.<br />

3. Ellen G. White, Review and Herald, 10 de maio de 1892.<br />

4. Ellen G. White, Evangelism (Washington D.C., 1970), pág. 282;<br />

conf. Ellen G. White, Child Guidance (Washington D.C., 1982),<br />

pág. 429: "Fale do amor e da humildade de Jesus, mas não<br />

estimulem os irmãos e irmãs envolver-se em discussões sobre<br />

pequenas faltas na aparência uns dos outros. Alguns se deleitam<br />

nessa obra, e quando suas mentes estão voltadas nessa direção,<br />

começam a sentir que devem tornar-se os corregedores da igreja.<br />

Assentam-se na cadeira de juiz, e tão logo olhem para seus<br />

irmãos e irmãs, descobrem algo para criticar. Esse é um dos mais<br />

efetivos meios de tornarem mentes estreitas e anões espirituais.<br />

Deus terá que fazê-los descer da cadeira de juiz, pois Ele nunca<br />

os colocou ali."<br />

5. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), vol. 3, pág. 430. Ver também Ellen G. White,<br />

Messages to Young People (Nashville, 1930), pág. 354:"A razão<br />

humana tem sempre buscado evadir-se ou pôr de lado as simples<br />

e diretas instruções da Palavra de Deus. Em cada época, a<br />

maioria dos professos seguidores de Cristo tem desobedecido a<br />

esses preceitos que recomendam negação própria e humildade,<br />

que requerem modéstia e simplicidade na conversação,


Qual a Roupa Certa? 203<br />

comportamento e vestuário. O resultado tem sempre sido o<br />

mesmo – o abandono dos ensinos do evangelho que leva à<br />

adoção das modas, costumes e princípios mundanos. A piedade<br />

vital cede lugar ao formalismo morto. A presença e o poder de<br />

Deus, retirados dos amantes dos círculos mundanos, são<br />

encontrados com os humildes adoradores, que estão dispostos a<br />

obedecer aos ensinos da Santa Palavra. Através das sucessivas<br />

gerações, esse curso tem sido seguido. Uma após outra,<br />

diferentes denominações têm surgido e, abandonando sua<br />

simplicidade, perderam. em grande parte, o poder primitivo"<br />

6. John T. Molloy, New Dress for Success (New York, 1988), pág.<br />

33.<br />

7. Ellen G. White, Testimonies for the Church (nota 5), vol. 9, págs.<br />

189 e 190.<br />

8. Frances Ridley Havergal, "Live Out Thy Life Within Me",<br />

Seventh-day Adventist Church Hymnal (Washington D.C., 1985).<br />

pág. 316.<br />

9. Ellen G. White, Christ's Object Lessons (nota 2), págs. 311, 312,<br />

combina a descrição de Gênesis 3 e Mateus 22. Ali, as folhas da<br />

figueira são mostradas ser um símbolo das obras humanas e as<br />

vestes de Deus, um símbolo da justiça de Cristo. "Quando nós<br />

nos submetemos a Cristo, o coração se une ao Seu, a Vontade<br />

imerge em Sua Vontade, a mente toma-se uma com a Sua, os<br />

pensamentos são levados cativos a Ele; vivemos a Sua vida. Isto<br />

é o que significa estar vestido com as vestes de Sua justiça. Então<br />

o Senhor, ao olhar-nos, vê não uma veste de folhas de figueira,<br />

não a nudez e a deformidade do pecado, mas Sua própria<br />

vestimenta de justiça, que é a perfeita obediência à lei de Jeová."<br />

10. Courtland Milloy, "A Lecher's Prayer", Saturday Post, 29 de<br />

setembro de 1987. pág. B3.<br />

11. "Muitos estão ignorantemente afetando sua saúde e arriscando<br />

sua vida pelo uso de cosméticos. Eles estão roubando das faces o


Qual a Roupa Certa? 204<br />

rubor da saúde, e então suprem a deficiência com cosméticos.<br />

Quando essas se aquecem, o veneno é absorvido pelos poros da<br />

pele, e lançado na comente sangüínea." (Ellen G. White, Review<br />

and Herald, Vol. 38, número 18, 17 de outubro de 1871, pág. 110).<br />

12. Ellen G. White, Adventist Home (Nashville, 1952), págs. 252,<br />

253.<br />

13. Ellen G. White, Ministry of Healing (Mountain View,<br />

Califórnia, 1940), pág. 288.<br />

14. Ellen G. White, Child Guidance (nota 4). pág. 428.<br />

"Deveríamos vestir-nos simplesmente e com bom gosto, mas,<br />

minhas irmãs, quando vocês estão comprando ou confeccionando<br />

seu próprio vestuário e das crianças, pensem na obra da vinha do<br />

Senhor, que ainda está esperando ser feita ... Pratiquem economia<br />

no dispêndio de meios para vestir-se. Lembrem-se de que o que<br />

vocês vestem está constantemente exercendo influência sobre<br />

aqueles com quem vocês entram em contato. Não esbanjem os<br />

meios que são grandemente necessários em outros lugares. Não<br />

gastem o dinheiro do Senhor para agradar ao gosto por vestidos<br />

caros." Idem págs. 420, 421.<br />

15. "Outro mal fomentado pelo uso, é a desigual distribuição do<br />

vestuário, de modo que, enquanto algumas partes do corpo estão<br />

mais agasalhadas do que precisam, outras se acham<br />

insuficientemente vestidas. Os pés e os membros, estando<br />

afastados dos órgãos vitais, devem ser especialmente protegidos<br />

do frio por suficiente roupa. É impossível gozar saúde quando as<br />

extremidades estão habitualmente frias: pois se há muito pouco<br />

sangue nelas, terá de haver excesso noutras partes do corpo.<br />

Saúde perfeita requer perfeita circulação: isto, porém, não se<br />

pode ter, quando três ou quatro vezes mais agasalho é usado<br />

sobre o corpo, onde se encontram os órgãos vitais, do que nos<br />

membros" Ellen G. White, Ministry of Healing (nota 13), pág. 293.


Qual a Roupa Certa? 205<br />

16. "O vestido deve adaptar-se facilmente, não impedindo a<br />

circulação do sangue, nem uma respiração livre, ampla e natural.<br />

Devem os pés ser devidamente protegidos do frio e da umidade<br />

Vestidos dessa maneira, podemos fazer exercício ao ar livre,<br />

mesmo no orvalho da manhã ou da noite, ou depois de cair uma<br />

chuva ou neve, sem temer resfriar-nos." Ellen G. White, Child<br />

Guidance, pág. 425. Ver também, Ministry of Healing, págs. 290<br />

a 293.<br />

17. Ellen G. White, Testimonies, vol. 1, págs. 457 a 460.<br />

18. Ellen G. White, Child Guidance, pág. 413: "No vestir, como em<br />

tocas as outras coisas, é nosso privilégio honrar a nosso Criador.<br />

Ele deseja que nosso vestuário seja não apenas asseado e<br />

saudável, mas apropriado e decente."<br />

19. Ellen G. White, ver Ministry of Healing, pág. 291: "Foi o<br />

adversário de todo o bem, que instigou à invenção das sempre<br />

mutáveis modas. Coisa alguma deseja ele tanto como ocasionar a<br />

Deus pesar e desonra mediante a miséria e a ruína dos seres<br />

humanos. Um dos meios por que ele o consegue mais eficazmente,<br />

são as invenções da moda, que enfraquecem o corpo da mesma<br />

maneira que debilitam a mente e amesquinham a alma."<br />

20. Uma das mais populares análises cromáticas é a que foi feita<br />

por Carole Jackson, Color Me Beautiful (New York, 1980). Ver<br />

págs. 153 a 162, sobre o guarda-roupa básico das mulheres.<br />

Também, Color for Men (New York, 1984). Ver págs. 97 a 102,<br />

para o "guarda-roupa de sobrevivência para os homens" com<br />

cores apropriadas. "O gosto deve ser manifesto pelas cores.<br />

Uniformidade nesse aspecto é tanto desejável como conveniente.<br />

A cor da pele, todavia, precisa ser levada em conta." Ellen G.<br />

White, em Healthful Living (Battle Creek, Michigan, 1987), pág.<br />

120.<br />

21. John T. Molloy, pág. 93. Para maiores detalhes na compra e<br />

escolha, ver págs. 41 a 149.


Qual a Roupa Certa? 206<br />

22. Ellen G. White, Testimonies, vol. 5, pág. 499.<br />

23. Ellen G. White, Testimonies for the Church (Mountain View,<br />

Califórnia, 1948), pág 355. "Muitos necessitam de instrução<br />

sobre como deveriam aparecer na assembléia para adoração no<br />

sábado. Não deveriam entrar na presença de Deus com vestuário<br />

comum usado durante a semana. Todos deveriam possuir uma<br />

roupa especial para o sábado, quando assistindo aos serviços na<br />

casa de Deus. Conquanto não devamos estar em conformidade<br />

com as modas mundanas, não devemos ser indiferentes em<br />

cuidar de nossa aparência exterior. Devemos ser asseados e bem<br />

arrumados, embora sem adornos. Os filhos de Deus devem ser<br />

puros por dentro e por fora."<br />

24. Ellen G. White, Counsels to Parents, Teachers and Students<br />

(Mountain View, Califórnia, 1943), pág. 142.<br />

25. David Elkind. The Hurried Child (Reading, Massachusetts,<br />

1981), pág. 8.<br />

26. Ibidem.<br />

27. Idem, págs. 8 e 9.<br />

28. "Ensinai-lhes (aos filhos) a distinguir entre o que é sensato e o<br />

que não o é em matéria de vestuário, e dai-lhes roupas que sejam<br />

próprias e simples. Como um povo que se prepara para a breve<br />

volta de Cristo. devemos dar ao mundo um exemplo de traje<br />

modesto, em contraste com a moda reinante do dia. Falai sobre<br />

essas coisas, e planejai sabiamente o que fareis, então ponde em<br />

prática vossos planos, em vossa família. Determinai ser<br />

orientados por princípios mais elevados que as noções e desejos<br />

de vossos filhos" (Ellen White, Child Guidance, págs. 424 e 425)<br />

29. Ellen G. White, Spiritual Gifts (Battle Creek, Michigan, 1945),<br />

vol. 2, pág. 263.<br />

30. Ellen G. White, My Life Today (Washington, D.C., 1952), pág.<br />

123.


Qual a Roupa Certa? 207<br />

O VESTUÁRIO MASCULINO<br />

Por Hedwig Jemison<br />

Sobre a Autora<br />

H<br />

edwig Jemison foi secretária-assistente dos Depositários de<br />

Ellen G. White, e serviu como diretora do Escritório Sucursal<br />

dos Depositários de Ellen G. White na Universidade de Andrews, até sua<br />

aposentadoria. Ela nasceu em Portland, no Oregon, e estudou no Colégio<br />

União do Pacífico e no Colégio União de Colúmbia, na área de<br />

administração de negócios e religião. Em 1980 recebeu o grau honorário<br />

de Mestre em Divindade, do Seminário Teológico Adventista do Sétimo<br />

Dia das Filipinas.<br />

Antes de tornar-se diretora do Escritório Sucursal dos Depositários<br />

de Ellen G. White na Universidade de Andrews, a Sra. Jemison atuou<br />

como secretária de Arthur L. White, dos Depositários de Ellen G. White<br />

em Washington, D.C., e de W. G. C. Murdoch, deão do Seminário da<br />

Andrews. Envolvida em extensas viagens para representar os<br />

Depositários White, a Sra. Jemison estabeleceu centros de pesquisa<br />

White na Inglaterra, Austrália, México, Argentina, Filipinas, Índia e<br />

África do Sul.<br />

A Sra. Jemison compilou quatro livros de meditações matinais,<br />

extraídos dos escritos de Ellen G. White, intitulados: Minha Consagração<br />

Hoje, Filhos e Filhas de Deus, Refletindo a Cristo, e Exaltai-O. Também<br />

escreveu vários artigos para publicações denominacionais e apresentou<br />

um trabalho sobre o papel da mulher na igreja, na Conferência Geral de<br />

Camp Mohaven, em 1974.<br />

Ela foi eleita membro honorário da Associação Dietética Adventista<br />

do Sétimo Dia, em 1977, e recebeu em 1980 o Prêmio Charles Elliot<br />

Weniger, por Excelência em Educação.<br />

Atualmente, Hedwig Jemison vive em Berrien Springs, onde está<br />

ativamente envolvida em vários programas comunitários patrocinados


Qual a Roupa Certa? 208<br />

pela igreja. Tem uma filha, Barbara Jemison Myers, que vive em<br />

Greenville, Tennessee.<br />

O capítulo seguinte é uma cópia do artigo com o mesmo título,<br />

publicado no O Ministério Adventista, em julho de 1980.<br />

Entende você que o vestuário é um dos mais importantes fatores<br />

que afetam seu ministério? "Vestuário? Absurdo!" Mas antes de você<br />

rejeitar a idéia, considere esta declaração:<br />

"Quando você encontra uma pessoa pela primeira vez, antes que<br />

você abra a boca, ela o julgou pela aparência e comportamento." –<br />

Forrest H. Frantz Sr., The Miracle Success System (West Nyack, New<br />

York, Parker Publishing Co. Inc.). A primeira impressão é feita num<br />

período incrivelmente curto de tempo – talvez uns trinta segundos – e<br />

nesse intervalo há realmente pouco mais a avaliar.<br />

Hoje, pesquisas muito confiáveis podem documentar em detalhes<br />

como as vestes femininas afetam nossas percepções acerca de quem as<br />

usa. John T. Molloy, autor do best-seller Dress for Success (para<br />

homens), gastou dezessete anos colecionando tais dados. Sua pesquisa<br />

inclui as opiniões conscientes e inconscientes de mais de quinze mil<br />

pessoas, constituindo-se assim numa ampla seção de cruzamento do<br />

público em geral.<br />

"Somos precondicionados pelo nosso ambiente", diz Molloy, "e o<br />

vestuário que usamos é uma parte integrante desse ambiente. A maneira<br />

como nos vestimos tem considerável impacto sobre as pessoas que<br />

encontramos, e afetaram o modo como nos tratam."<br />

Como poderemos evitar erros ao escolher o vestuário? A solução,<br />

diz Molloy, um professor que se tornou consultor administrativo, é<br />

pesquisar na escolha do vestuário.<br />

Estudos sobre comunicação verbal e não-verbal mostram que a nãoverbal<br />

tem fortes efeitos. Assim, roupas e aparência (comunicadores nãoverbais)<br />

reforçam as impressões verbais ou contradizem-nas<br />

(freqüentemente as anulam). O executivo que se veste de modo


Qual a Roupa Certa? 209<br />

conservador não tem de explicar sua autoridade. Seus trajes o fazem por<br />

ele. De fato, aqueles que adotam um visual conservador assumem a<br />

autoridade que vem com ele. Molloy primeiramente descobriu que o<br />

valor da roupa do homem é importante em determinar sua credibilidade<br />

e aceitação. As pessoas bem vestidas recebem tratamento preferencial<br />

em quase todos os encontros sociais e de negócios. Se você não o crê,<br />

experimente quando sai às compras.<br />

Molloy, reconhecido como "o primeiro engenheiro de guardaroupas<br />

da América", na revista Time, fez intensas e extensas pesquisas<br />

com a capa de chuva. Há duas cores de capas vendidas na América –<br />

bege e negra . Molloy testou 1.362 pessoas mostrando-lhes quase que<br />

idênticas fotos de dois homens com a mesma postura e com os mesmos<br />

ternos, camisas, gravatas e sapatos. A única diferença era a cor de suas<br />

capas de chuva. Aos participantes da pesquisa foi pedido que<br />

escolhessem a mais interessante das duas. A capa bege foi a escolhida,<br />

com 1.118 votos ou 87%.<br />

Seguindo os resultados desse teste, Molloy e dois de seus amigos<br />

vestiram capas beges por um mês. No mês seguinte usaram as negras.<br />

No fim de cada período eles catalogavam as atitudes das pessoas para<br />

com eles. Esses três homens concordaram que a capa bege criava<br />

impressão mais favorável nos observadores, vendedores de calçados e<br />

homens de negócios que encontravam.<br />

Finalmente Molloy escolheu um grupo de vinte e cinco escritórios<br />

comerciais e foram a cada um deles com um exemplar do The Wall<br />

Street Journal, pedindo à secretária que lhes permitisse entregá-los<br />

pessoalmente à pessoa responsável. Quando eles usavam as capas beges,<br />

entregaram os jornais numa só manhã. Usando a capa negra, demoraram<br />

um dia e meio para entregar os vinte e cinco jornais.<br />

Molloy conduziu pesquisa complementar em uma grande<br />

corporação que possuía duas sucursais. Uma delas impunha normas<br />

sobre vestuário, a outra não. As secretárias do escritório que não tinha o<br />

código, chegavam atrasadas ou ficavam ausentes de três a cinco por


Qual a Roupa Certa? 210<br />

cento mais que aquelas que trabalhavam na sucursal que o impunha,<br />

permanecendo em suas mesas quatro por cento menos e despendendo<br />

cinco por cento menos tempo em suas máquinas de escrever.<br />

Após um ano de o código de vestuário ter sido implantado no<br />

escritório que não o possuía anteriormente, os funcionários melhoraram<br />

sua performance em cada área. Eles permaneciam em suas mesas por<br />

mais tempo e seu registro de atrasos caiu quinze por cento.<br />

Quando Molloy iniciou seus testes, fotografou uma dúzia de<br />

homens trajados com cores bem combinadas, conservadoras e padrões<br />

harmônicos. Então fez o mesmo com outros doze homens vestidos ao<br />

estilo mais contemporâneo, tal como normalmente encontrado nas lojas.<br />

Quando as fotografias foram comparadas, de 70 a 80% das pessoas<br />

testadas preferiram os homens com vestuário mais conservador como<br />

mais bem vestidos, embora mais da metade dos entrevistados não fossem<br />

conservadores em matéria de vestuário. Mesmo 70 a 80% dos<br />

entrevistados que se vestiam com combinações de cores e estilos mais<br />

modernos, não tiveram respostas com mudanças significativas.<br />

O fato de que as cores, padrões e combinações de vestuário que<br />

conseguiram resultados mais positivos com a maioria da população<br />

serem todas tradicionais e conservadoras, não causou grande surpresa a<br />

Molloy. Os mais bem-sucedidos homens de negócios usam trajes<br />

conservadores por anos, e provavelmente o farão por muitos anos ainda.<br />

Quando Molloy confirmou esse "efeito de familiaridade", testou o<br />

posteriormente usando camisas e gravatas. Ele pediu a trezentas pessoas<br />

que julgassem um grupo de camisas e gravatas tradicionais e a outro<br />

grupo, posto que não-tradicionais, não eram bizarras. Os objetos foram<br />

agrupados de modo a contar cada combinação como mostrando bom e<br />

mau gostos ou neutros. Oitenta e sete por cento escolheu as combinações<br />

tradicionais como de bom gosto. Setenta por cento escolhe as modernas<br />

combinações como sendo de mau gosto.<br />

Molloy conduziu mais testes experimentais com gravatas do que<br />

com qualquer outro artigo. "Quer você goste ou não, creia ou não", diz


Qual a Roupa Certa? 211<br />

ele, "sua gravata, mais do que qualquer outro aspecto de sua aparência,<br />

determinará como as pessoas vêem sua credibilidade, personalidade e<br />

capacidade." Essas pesquisas não deixam dúvida de que a gravata<br />

simboliza respeitabilidade e responsabilidade. Existem centenas de<br />

padrões para gravatas, mas somente poucas são adequadas ao vestuário<br />

profissional. Ilustrações disso aparecem na nova edição (1988) do livro<br />

de Molloy, New Dress for Success. Quando propriamente ajustada, o tipo<br />

de gravata deveria vir apenas até a fivela do cinto. Assim sua altura<br />

determinará o comprimento da gravata que você necessita e como lhe dar<br />

um laço. No mundo dos negócios, o laço da gravata produz muitos<br />

efeitos negativos. Se o laço é feito ao modo esportivo, as mesmas regras<br />

são recomendadas para todas as outras gravatas.<br />

Em todos os testes, as camisas mais aceitáveis são, e continuarão a<br />

ser as brancas e as de cores mais claras. Elas provocam melhores<br />

respostas quanto à credibilidade e eficiência. Se as cores forem<br />

propriamente escolhidas, combinarão com cada terno e gravata. Azulclaro<br />

é ainda a mais popular das cores sólidas para camisas. Camisas cor<br />

rosa e alfazema são muito femininas e produzem reações masculinas<br />

negativas. De acordo com Molloy, a pesquisa mostra que o homem<br />

nunca deveria usar camisas vermelhas, não importa quem seja e o que<br />

faça.<br />

Qual deve ser o comprimento das mangas da camisa? Molloy dá o<br />

seguinte e abrangente aviso: "Você nunca, jamais, enquanto viver, use<br />

uma camisa de mangas curtas para qualquer propósito de negócios, não<br />

importa se você é o office-boy ou o presidente." A pesquisa mostra que<br />

homens que usam camisas de mangas curtas têm secretárias que chegam<br />

tarde ao trabalho, 125% mais freqüentemente, e atrasam na volta do<br />

almoço 135% mais do que as secretárias daqueles que usam camisas de<br />

mangas longas.<br />

Molloy é freqüentemente perguntado sobre se há alguma<br />

característica comum a todos os executivos bem-sucedidos. Ele


Qual a Roupa Certa? 212<br />

responde: "Na maioria há: eles sempre têm seu cabelo penteado e seus<br />

sapatos polidos. E esperam o mesmo dos outros homens."<br />

Ele faz duas importantes declarações em seu livro:<br />

"Se eu tiver que transmitir nada além da mensagem de que o<br />

vestuário deveria ser usado como uma ferramenta, então teria sido bemsucedido<br />

em meus objetivos.<br />

"Se o leitor aceitou minha segunda mensagem, de que a beleza não<br />

é o nome de um jogo, a eficiência é – então sou um homem<br />

perfeitamente feliz."<br />

Felizmente, o custo não é um fator significativo no vestuário<br />

prósucesso. Molloy coloca que se o homem sabe como escolher<br />

vestuário, pode, sem aumento substancial em seus gastos com roupas,<br />

mostrar-se bem em todas as ocasiões. Depois de anos de tabulação de<br />

pesquisas, ele dispôs o que fazer e o que não fazer, que tornam possível<br />

para qualquer homem vestir-se de um modo que garantirá sua eficiência.<br />

Muitos homens já o sabem através de seu inato conhecimento do bom<br />

gosto.<br />

Algumas das pesquisas de Molloy envolveram ministros e seu<br />

vestuário. Ele mostrou fotografias de homens trajados de vários modos, e<br />

pediu aos pesquisados para identificarem os ministros. Sua imagem de<br />

um pastor era a de um homem trajado com ternos escuros (negros),<br />

azuis-marinhos, ou cinza-escuros, e camisas brancas combinadas com<br />

gravatas conservadoras. Eles raramente identificaram homens com<br />

vestimentas sociais de três peças (paletó, colete e calças), como pastores.<br />

A informação é significativa, por causa do papel da expectativa. Se<br />

as pessoas esperam que um homem de particular profissão se vista de<br />

certa maneira, estão mais inclinados a crer e confiar nele, se aparecer<br />

com a roupa aguardada.<br />

A pesquisa também incluiu fotos de dúzias de homens identificados<br />

como clérigos vestindo tudo, desde trajes clericais até roupas de laser.<br />

Molloy perguntou aos pesquisados quais ministros eles consideravam<br />

eficientes, simpáticos, bem-educados, etc. Então mandou-os escolher as


Qual a Roupa Certa? 213<br />

fotografias de homens que eles mais e menos gostariam de ter como seus<br />

pastores. Em ambos os testes eles escolheram homens em trajes mais<br />

conservadores, ternos de duas peças, como seus favoritos.<br />

Surpreendentemente, muitos homens de negócios rejeitaram "clérigos"<br />

usando ternos de três peças, camisas listradas, bem como aqueles que<br />

estavam usando trajes esportivos.<br />

As primeiras pesquisas mostraram que os clérigos que não usam<br />

trajes com características clericais conservadoras, eram menos efetivos<br />

em seu ministério do que aqueles que usavam trajes próprios. Poderia ser<br />

que o modo como os ministros se trajam tem algum peso sobre as<br />

atividades evangelísticas?<br />

William Thourlby escreveu recentemente: "À parte das profissões<br />

ligadas a entretenimento e publicidade, os grandes executivos das mais<br />

conservadoras organizações usam trajes tradicionais que não chamam a<br />

atenção para si mesmos. Serena confiança é parte do visual. De fato, seja<br />

cauteloso com todos os itens do vestuário, e você será cumprimentado<br />

por ele, a menos que você venda roupas. Você deve mostrar que sua<br />

mente está posta nos negócios e não em suas roupas." (Sky, janeiro de<br />

1980)<br />

Todavia, devemos lembrar que muitos clérigos executam uma<br />

variedade de tarefas e lidam com uma massa heterogênea de público.<br />

Obviamente, eles não vestiriam um terno para ajudar na construção da<br />

igreja, ou quando acompanham um grupo de jovens à praia. A primeira<br />

regra do vestuário é bom senso.<br />

As seguintes palavras foram escritas em 1871, muito antes de<br />

Molloy e suas pesquisas: "É importante que o modo do ministro seja<br />

modesto e digno, ao lidar com as santas e elevadas verdades que ensina.<br />

Que uma favorável impressão seja feita sobre aqueles que são<br />

naturalmente inclinados à religião. Cuidado no vestir é um item muito<br />

importante...<br />

"Tecidos negros ou escuros são mais adequados a um ministro no<br />

púlpito, e farão melhor impressão sobre o povo do que o faria uma


Qual a Roupa Certa? 214<br />

combinação de duas ou três diferentes cores... O traje próprio será uma<br />

recomendação da verdade aos descrentes. Será um sermão em si<br />

mesmo...<br />

"Um ministro negligente em suas vestes fere o bom gosto e as<br />

sensibilidades mais refinadas... A perda de algumas almas, no final, terá<br />

sido traçada pelo desasseio do ministro. O primeiro aparecimento afetou<br />

o povo desfavoravelmente, porque eles não viram qualquer ligação entre<br />

sua aparência e as verdades que apresentou. Seu vestuário depunha<br />

contra ele, e a impressão deixada era de que o povo a quem ele<br />

representava era descuidado grupo que não se importava com nada<br />

acerca de suas roupas, e seus ouvintes nada precisam fazer como tal<br />

classe de pessoas...<br />

"Nossas palavras, nossas ações, nosso comportamento, nosso<br />

vestuário, tudo deve pregar. Não apenas com nossas palavras deveríamos<br />

nós falar ao povo, mas tudo o que diz respeito à nossa pessoa deveria ser<br />

um sermão a eles, que justas impressões podem ser causadas sobre eles,<br />

e que a verdade falada pode ser levadas por eles para seus lares. Assim<br />

nossa fé ficará sob melhor luz diante da comunidade." (Ellen G. White,<br />

Testimonies, vol. 2, págs. 610, 613, 618)

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