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Maracan, 18 de outubro de 1981 - Bangu.net

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<strong>Maracan</strong>ã, 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1983<br />

327<br />

Aqui o <strong>Bangu</strong> per<strong>de</strong>u o título <strong>de</strong> 1983<br />

Na semana do jogo, a tradicional revista Placar, edição 705, perguntava “O Mengo morrerá no <strong>Bangu</strong>?”<br />

O <strong>Bangu</strong> po<strong>de</strong>ria ter ganho a Taça Rio <strong>de</strong><br />

1983 com uma rodada <strong>de</strong> antecipação. Para<br />

isso, tinha que vencer o Flamengo, no<br />

<strong>Maracan</strong>ã, para abrir 4 pontos na tabela. E,<br />

ganhando a Taça Rio, entraria também na<br />

<strong>de</strong>cisão contra o Fluminense, com um ponto<br />

<strong>de</strong> vantagem por ser o time <strong>de</strong> melhor<br />

campanha em todo o Campeonato Carioca.<br />

Por isso, naquela quarta-feira, 23 <strong>de</strong><br />

novembro <strong>de</strong> 1983, o bairro acordou em festa.<br />

Os jornais estampavam as flâmulas feitas por<br />

antecipação, com os dizeres: “<strong>Bangu</strong><br />

Campeão da Taça Rio 83” nas mãos do<br />

volante Mococa.<br />

Havia um clima <strong>de</strong> “Já ganhou!” em<br />

Moça Bonita. Mas o adversário era o<br />

po<strong>de</strong>roso Flamengo, o bicampeão brasileiro<br />

da época. No 1º turno, o <strong>Bangu</strong> goleara o<br />

rubro-negro por 6 a 2. Mesmo sem Zico –<br />

vendido para a Udinese – havia um clima <strong>de</strong><br />

revanche no ar.<br />

Até porque, se o <strong>Bangu</strong> tinha 16 pontos, o<br />

Flamengo vinha logo atrás com 14 e a vitória<br />

também era fundamental para as pretensões<br />

rubro-negras no Carioca <strong>de</strong> 1983.<br />

Mas, em <strong>Bangu</strong>, ninguém pensava no<br />

Flamengo. Até porque mesmo com nomes<br />

como Raul, Leandro, Júnior, Adílio, o Fla<br />

tinha perdido para o Campo Gran<strong>de</strong> por 1 a 0<br />

no final <strong>de</strong> semana. Então, não seria páreo<br />

para os comandados <strong>de</strong> Moisés.


Era agora ou nunca: o <strong>Bangu</strong> ia ganhar o<br />

2º turno do Campeonato Carioca.<br />

No dia do jogo, Mário previa até uma<br />

goleada alvirrubra: “Se o <strong>Bangu</strong> marcar um<br />

gol no início, as coisas po<strong>de</strong>m ficar fáceis e<br />

po<strong>de</strong> ser até que se repita a goleada do 1º<br />

turno”.<br />

Moisés, então, estava confiante. No<br />

último treino, permitiu até que um grupo <strong>de</strong><br />

pago<strong>de</strong> animasse os jogadores, batucando na<br />

lateral do campo. Afinal, dizia o Xerife:<br />

“Qual a novida<strong>de</strong> que eles po<strong>de</strong>m apresentar?<br />

Po<strong>de</strong>m escalar o presi<strong>de</strong>nte do clube ou trazer<br />

o Zico <strong>de</strong> volta que o <strong>Bangu</strong> vai ser o mesmo<br />

<strong>de</strong> sempre”.<br />

À noite, no <strong>Maracan</strong>ã, o Fla fez 3 a 1...<br />

Torcida volta triste para o subúrbio<br />

<strong>Bangu</strong> amanheceu em festa, dormiu triste.<br />

Logo cedo, as ruas do bairro estavam<br />

enfeitadas com as ban<strong>de</strong>iras do clube. O<br />

vermelho e branco predominavam, dando<br />

colorido à manhã cinzenta. Nos botequins,<br />

nas portas dos supermercados e nas saídas dos<br />

colégios, o assunto era um só: o jogo entre o<br />

<strong>Bangu</strong> e o Flamengo.<br />

E foi neste clima <strong>de</strong> festa, com muito<br />

samba, cerveja e alegria, que os torcedores do<br />

<strong>Bangu</strong> se preparam para o jogo da noite. Júlia<br />

Paixão, uma entusiasmada senhora <strong>de</strong> 67<br />

anos, acordou cedo, preparou com carinho o<br />

arroz com feijão que seu marido, Augusto<br />

Paixão, 69 anos, tanto gosta e começou a<br />

pensar no jogo.<br />

- Estamos casados há 49 anos e já<br />

acompanhamos o <strong>Bangu</strong> por vários lugares. O<br />

<strong>Bangu</strong> é a minha paixão, <strong>de</strong>pois do meu<br />

marido. Este time é muito bom e, mesmo que<br />

não vença hoje, conquistará o título do<br />

campeonato – afirmou Júlia.<br />

Logo <strong>de</strong>pois do almoço, dona Júlia passou<br />

a calça <strong>de</strong> linho branco que seu Augusto<br />

usaria para ir ao jogo. A calça foi uma<br />

exigência do marido, que não admite assistir<br />

às partidas do <strong>Bangu</strong> mal vestido.<br />

- Ela capricha porque sabe que eu gosto <strong>de</strong><br />

uma boa calça <strong>de</strong> linho, principalmente<br />

branca, como manda o figurino. Para assistir<br />

às partidas do <strong>Bangu</strong>, eu sempre vou muito<br />

bem vestido – explicou Alberto.<br />

À tar<strong>de</strong>, o movimento no posto <strong>de</strong> gasolina<br />

do Castor, na Rua Francisco Real, uma das<br />

mais agitadas do bairro, ficou mais intenso. O<br />

posto fechou às 15 horas, quando os<br />

torcedores já ocupavam toda a sua área.<br />

Dentro do escritório, Tião, chefe da Banluta,<br />

oferecia ovos cozidos. Do outro lado, os<br />

torcedores pegavam, em pequenos copos<br />

plásticos, a cerveja distribuída por<br />

<strong>de</strong>terminação <strong>de</strong> Castor <strong>de</strong> Andra<strong>de</strong>,<br />

presi<strong>de</strong>nte do Conselho Deliberativo.<br />

Alberto e Júlia chegaram caminhando<br />

lentamente e logo se juntaram ao grupo on<strong>de</strong><br />

estava Aci Teixeira, <strong>de</strong> 49 anos, a Cica, chefe<br />

da Bancica. Abraços, beijos e longos<br />

cumprimentos, gestos comuns entre os<br />

banguenses, marcaram o primeiro encontro<br />

entre os três. Alberto, ensaiando uns passos <strong>de</strong><br />

samba, recordou os dois times que<br />

conquistaram títulos para o <strong>Bangu</strong>, em 33 e<br />

66.<br />

- Aquele time <strong>de</strong> 33 era fogo. Tinha o Sá<br />

Pinto, que jogava uma bola para ninguém<br />

botar <strong>de</strong>feito. Ô rapaz esperto! E ainda<br />

jogavam o Ladislau e o Plácido, que eram<br />

muito bons. Em 66 o <strong>Bangu</strong> tinha um estilista<br />

no meio-campo, que era o Ocimar. Negro<br />

esperto. Sabia on<strong>de</strong> jogar uma bola, sempre<br />

enganava os adversários – comentou Alberto.<br />

Quando os ônibus começaram a chegar, às<br />

19h, o samba estava animado, mulatas com<br />

shorts insinuantes dançavam animadamente.<br />

Os torcedores mais eufóricos ansiavam pela<br />

hora <strong>de</strong> sair para o <strong>Maracan</strong>ã.<br />

- Quero chegar logo no “Maracá” para<br />

continuar a beber. Nem me importo se o<br />

<strong>Bangu</strong> vai vencer o jogo. Já está na final. Eu<br />

quero é beber – dizia José <strong>de</strong> Freitas,<br />

funcionário <strong>de</strong> uma empresa, que nem foi<br />

trabalhar.<br />

Às 19h45min não havia mais ônibus no<br />

posto do Castor. Todas as facções da torcida<br />

(Bangarcia, Banchopp, Banluta, Bancica,<br />

Bancachaça, Bangola, Força Jovem, Pequenos<br />

<strong>Bangu</strong>enses, Castorzinhos <strong>de</strong> Ipanema e<br />

Bansheik) já haviam seguido para o estádio.<br />

A chegada ao <strong>Maracan</strong>ã também foi<br />

festiva. As ban<strong>de</strong>iras não pararam <strong>de</strong> ser<br />

agitadas, a banda do Tutu, sempre animada,<br />

puxava todos os sambas-enredo e os<br />

torcedores gritavam incessantemente “<strong>Bangu</strong>,<br />

<strong>Bangu</strong>, <strong>Bangu</strong>”. Um coro que cresceu com a


entrada do time em campo e diminuiu – quase<br />

parou – quando o Flamengo fez os dois gols<br />

logo no início do jogo, com Edmar, aos 7<br />

minutos e Tita, aos <strong>18</strong>. Aumentou outra vez<br />

com o gol <strong>de</strong> Mário, aos 44.<br />

Mas, no 2º tempo, com o gol <strong>de</strong> Júnior,<br />

aos 20 minutos, os torcedores guardaram as<br />

ban<strong>de</strong>iras. Aquela não era a noite do título...<br />

Quarta-feira, 23 <strong>de</strong> novembro <strong>de</strong> 1983<br />

Fonte: Jornal do Brasil<br />

1 x 3<br />

Competição: Campeonato Carioca<br />

Local: <strong>Maracan</strong>ã (RJ)<br />

Juiz: Arnaldo César Coelho<br />

Público: 64.402<br />

<strong>Bangu</strong>: Toinho, Gilson Paulino, Tecão,<br />

Fernan<strong>de</strong>s e Lima (Índio); Mococa, Mário e<br />

Arturzinho; Marinho, Fernando Macaé e Ado.<br />

T: Moisés.<br />

Flamengo: Raul, Leandro, Figueiredo, Mozer e<br />

Júnior; Andra<strong>de</strong>, Adílio e Tita; Lúcio, Edmar<br />

(Heitor) e Cléo (Bebeto). T: Cláudio Garcia.<br />

Gols: No 1º tempo: Edmar (7), Tita (<strong>18</strong>) e Mário<br />

(44). No 2º tempo: Júnior (20).<br />

Obs: Ado (<strong>Bangu</strong>) e Leandro (Flamengo) foram<br />

expulsos.<br />

Campeonato Carioca – Taça Rio 1983<br />

Classificação Pts J V E D GP GC SG<br />

1 Flamengo 16 10 8 ‐ 2 20 6 14<br />

2 <strong>Bangu</strong> 16 10 7 2 1 21 6 15<br />

3 América 13 10 5 3 2 19 8 11<br />

4 Goytacaz 12 10 5 2 3 8 9 ‐1<br />

5 Vasco 10 10 3 4 3 12 9 3<br />

6 Americano 10 10 3 4 3 6 7 ‐1<br />

7 Botafogo 10 10 2 6 2 7 7 0<br />

8 Fluminense 9 10 3 3 4 9 10 ‐1<br />

9 Cpo. Gran<strong>de</strong> 9 10 2 5 3 6 9 ‐3<br />

10 V. Redonda 8 10 3 2 5 8 11 ‐3<br />

11 Bonsucesso 4 10 1 2 7 9 <strong>18</strong> ‐9<br />

12 S. Cristóvão 4 10 ‐ 4 6 0 25 ‐25<br />

A frase<br />

“No fundo foi até bom, porque vários<br />

jogadores do <strong>Bangu</strong> nunca tinham<br />

participado <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>cisão. Agora eles já<br />

passaram por essa experiência e certamente<br />

não cometerão os mesmos erros”.<br />

Mário, camisa 10 do “<strong>Bangu</strong>zão 83”<br />

Avaliações Individuais<br />

Toinho – Não teve culpa nos gols e fez ainda<br />

duas <strong>de</strong>fesas importantes. Nota 7.<br />

Gilson Paulino – Razoável na marcação, mas<br />

foi fraco no apoio. Nota 4.<br />

Tecão – O melhor da <strong>de</strong>fesa. Firme e com<br />

disposição. Nota 6.<br />

Fernan<strong>de</strong>s – Em nível pouco inferior ao <strong>de</strong><br />

seu companheiro <strong>de</strong> zaga. Nota 5.<br />

Lima – Por seu setor o Flamengo abriu um<br />

buraco na <strong>de</strong>fesa do <strong>Bangu</strong>. Nota 4.<br />

Índio – Substituiu Lima, mas não teve tempo<br />

<strong>de</strong> aparecer. Sem nota.<br />

Mococa – Um autêntico cabeça-<strong>de</strong>-área: ali<br />

permaneceu até o fim do jogo, mesmo quando<br />

seu time precisava <strong>de</strong> mais ousadia, revelando<br />

erro tático do time. Nota 5.<br />

Arturzinho – Tem sido o maestro do time, a<br />

mola-mestra do ataque. Mas foi anulado<br />

completamente por Andra<strong>de</strong>. Nota 4.<br />

Mário – Ocupou uma faixa neutra do campo<br />

– entre as duas intermediárias – sem se<br />

<strong>de</strong>slocar. E foi um jogador neutro em campo.<br />

Nota 3.<br />

Marinho – Perigoso, chegou a preocupar<br />

Júnior no início. Depois caiu com o time.<br />

Nota 6.<br />

Fernando Macaé – Foi quem <strong>de</strong>u mais<br />

trabalho, <strong>de</strong>slocando-se bem. Nota 7.<br />

Ado – Entrou para marcar Leandro e ser<br />

expulso. E marcou mal. Nota 3.

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