A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 1/0
A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 1/0
A HISTÓRIA DA PSICOLOGIA 1/0
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A <strong>HISTÓRIA</strong> <strong>DA</strong> <strong>PSICOLOGIA</strong> 1/0<br />
É sempre difícil escrever a história de qualquer coisa; existem diferentes perspectivas com<br />
diferentes ênfases. Além disso, é um desafio dividir a evolução histórica de uma disciplina<br />
em unidades de tempo. Em alguns casos, o próprio tempo é um divisar de águas conveniente<br />
(décadas ou séculos); em outros, os principais eventos servem de marcos. No caso<br />
da psicologia 1/0, as duas guerras mundiais foram as grandes catalisadoras para a mudança<br />
1 Estas normas são específicas dos EUA. No Brasil, os Conselhos Federal e Regionais são responsáveis pela regulamentação<br />
da profissão de psicólogo.
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 7<br />
da disciplina. Este resumo da história mostrará como o campo da psicologia IJO chegou a<br />
ser o que é e como alguns indivíduos e eventos importantes ajudaram a moldá-Ia.'<br />
Os Primeiros Anos (1900-1916)<br />
Em seus primórdios, o que hoje conhecemos como psicologia IJO nem mesmo tinha<br />
nome; era uma fusão de duas forças que ganharam ímpeto antes de 1900. Uma força era a<br />
natureza pragmática de algumas pesquisas psicológicas básicas. A maioria dos psicólogos<br />
nessa época era estritamente científica e deliberadamente evitava estudar problemas que<br />
ultrapassassem as fronteiras da pesquisa pura. Contudo, um psicólogo chamado W. L.<br />
Bryan publicou um trabalho (Bryan e Harter, 1897) sobre como telégrafos profissionais<br />
desenvolviam habilidades em enviar e receber o código morse. Alguns anos mais tarde,<br />
em 1903, o discurso inaugural de Bryan à American Psychological Association (Bryan,<br />
1904) citou o fato de que os psicólogos deveriam estudar "as atividades e funções concretas<br />
da forma como aparecem na vida cotidiana" (p. 80). Embora Bryan não explorasse os<br />
estudos relacionados à indústria, ele enfatizava o exame de habilidades reais como base<br />
para desenvolver a psicologia científica. Bryan não é considerado o pai da psicologia IJO,<br />
mas um precursor.'<br />
A segunda grande força na evolução da disciplina veio da necessidade que engenheiros<br />
industriais sentiam de melhorar a eficiência. Eles estavam preocupados principalmente<br />
com a economia na produção e, portanto, com a produtividade dos operários. Uma equipe<br />
de marido e mulher, Frank e Lillian Gilbreth, contribuiu com conhecimento pioneiro<br />
sobre tempo e movimento na produção industrial. Talvez eles sejam mais conhecidos por<br />
sua pesquisa dos elementos do movimento humano, os quais chamaram de "therbligs'"<br />
(uma inversão do nome Gilbreth). Koppes (1997) observou que Lillian Gilbreth foi uma<br />
das psicólogas que fizeram consideráveis contribuições nos primórdios da psicologia IJO.<br />
Koppes relatou que ela fez um pronunciamento histórico em uma reunião de engenheiros<br />
industriais, em 1908. Pediram-lhe sua opinião porque era a única mulher na reunião.<br />
Segundo Yost (1943), Lillian Gilbreth "levantou-se e comentou que o ser humano, é claro,<br />
era o elemento mais importante na indústria e lhe parecia que esse elemento não estava<br />
recebendo a devida atenção. O treinamento científico dos engenheiros, disse ela, era voltado<br />
para o manuseio de objetos inanimados. Ela chamou a atenção para o fato de que a psicologia<br />
estava rapidamente se tornando uma ciência, e o muito que tinha a oferecer estava<br />
sendo ignorado pelos engenheiros gerenciais. O apelo em seus comentários improvisados<br />
era que a nova profissão de gerência científica abrisse seus olhos para o lugar essencial que<br />
a psicologia ocupava em qualquer programa que os engenheiros industriais concebessem"<br />
(Koppes, 1997, p. 511).<br />
Assim, a fusão da psicologia com os interesses aplicados e a preocupação com a crescente<br />
eficiência no trabalho foi o impulso para a emergência da psicologia IJO. Koppes<br />
(2002) observou que, no final do século XIX, a sociedade americana passou por rápidas<br />
2 Um tratamento mais detalhado da história da psicologia I/O pode ser encontrado nos excelentes livros de Ferguson (1962)<br />
e Napoli (1981) e no artigo de Katzell e Austin (1992).<br />
3 O termo psicologia industrial aparentemente foi usado pela primeira vez no artigo de Bryan, em 1904. Ironicamente,<br />
apareceu impresso apenas como um erro tipográfico. Bryan estava citando uma frase que havia escrito cinco anos antes<br />
(Bryan e Harter, 1899), em que falava da necessidade de mais pesquisa na psicologia individual. Em vez disso, escreveu<br />
"psicologia industrial" e não se deu conta do erro.<br />
4 "Therblig" refere-se à unidade de medida de tempos e movimentos no estudo realizado pela família Gilbreth.
8 Psicologia Organizacional<br />
modificações e desenvolvimentos por causa da industrialização, da imigração, da alta taxa<br />
de nascimento, da educação e do crescimento urbano. Prevalecia a pressão pela reforma<br />
social, e os americanos buscavam soluções práticas na ciência. Essas demandas sociais<br />
forçaram os psicólogos a popularizar sua ciência e a demonstrar o valor da psicologia<br />
na solução de problemas e na ajuda à sociedade. Em 1910, a "psicologia industrial" (o<br />
apêndice "organizacional" não se tornara oficial até 1970) era uma área de especialidade<br />
legítima da psicologia.<br />
Três indivíduos se destacam como os pais da psicologia lIO. Eles trabalharam independentemente;<br />
na verdade, seus trabalhos mal se sobrepuseram. As principais contribuições<br />
desses indivíduos merecem um relato resumido.<br />
• Walter Dill Scott<br />
FONTE: Arquivos da History of American<br />
Psychology<br />
• Frederick W. Taylor<br />
FONTE: Stevens Institute ofTechnology<br />
Walter Dill Scott<br />
Como psicólogo, Scott foi persuadido a dar uma palestra a<br />
alguns líderes empresariais sobre a necessidade de aplicar<br />
a psicologia à propaganda. Sua palestra foi bem-recebida e<br />
levou à publicação de dois livros: The theory of advertising<br />
(1903) e The psychology of advertising (1908). O primeiro<br />
livro tratava da sugestão e do argumento como meios de<br />
influenciar pessoas. O objetivo do segundo livro era melhorar<br />
a eficiência humana com táticas como imitação, competição,<br />
lealdade e concentração. Em 1911, expandindo suas áreas de<br />
interesse, Scott publicou mais dois livros: Influencing men in<br />
business e Increasing human efficiency in business. Durante<br />
a Primeira Guerra Mundial, Scott desempenhou um papel<br />
importante na aplicação de procedimentos a funcionários<br />
no exército. Landy (1997) descreveu Scott como um scientist-practitioner<br />
altamente respeitado em ambas as esferas da<br />
atividade profissional. Scott tinha considerável influência<br />
para aumentar a consciência pública e a credibilidade da<br />
psicologia industrial.<br />
Frederick W. Taylor<br />
Taylor era engenheiro por profissão. Sua educação forrrial era<br />
limitada, mas, por meio da experiência e do autodidatismo<br />
em engenharia, ele conseguiu obter muitas patentes. À medida<br />
que ia ascendendo na escala hierárquica de uma empresa<br />
como operário, supervisor e, finalmente, gerente de fábrica,<br />
Taylor percebeu o valor de reestruturar a situação de trabalho<br />
para obter tanto um melhor desempenho para a empresa<br />
quanto um salário melhor para o trabalhador. Seu trabalho<br />
mais conhecido é o livro The principies of scientific management<br />
(1911). Van de Water (1997) relatou esses princípios<br />
como: (1) a ciência acima do método empírico, (2) seleção<br />
e treinamento científicos, (3) a cooperação acima do individualismo<br />
e (4) divisão de trabalho mais adequado à empresa e<br />
aos funcionários (eqüidade no trabalho). No que talvez seja o<br />
mais famoso exemplo dos seus métodos, Taylor mostrou que<br />
os operários que manuseavam pesados lingotes de ferro-gusa
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 9<br />
poderiam ser mais produtivos se tivessem intervalos de descanso. Treinar os funcionários<br />
em quando trabalhar e quando descansar aumentou sua produtividade média de 12,5<br />
para 47 toneladas movimentadas por dia (com menos fadiga relatada), o que resultou em<br />
aumento de salários para eles. A empresa também aumentou drasticamente a eficiência<br />
ao reduzir os custos de 9,2 centavos por tonelada para 3,9 centavos por tonelada.<br />
Como conseqüência desse método, Taylor sofreu acusações de que explorava desumanamente<br />
os operários em troca de um salário maior e de que mais trabalhadores ficariam<br />
desempregados porque um menor número deles era necessário. Como nessa época a taxa<br />
de desemprego era alta, os ataques a Taylor foram violentos. Seus métodos acabaram sendo<br />
investigados pela Interstate Commerce Commission (ICC) e pela Câmara dos Deputados.<br />
Taylor respondeu que a maior eficiência levava à maior, não à menor, prosperidade e<br />
que os trabalhadores não contratados para um trabalho o seriam em outro que utilizaria<br />
melhor seu potencial. a impasse acabou não sendo solucionado - veio a Primeira Guerra<br />
Mundial, e a controvérsia se desvaneceu.<br />
Hugo Münsterberg<br />
Münsterberg foi um psicólogo alemão com treinamento<br />
acadêmico tradicional. a renomado psicólogo americano<br />
William [ames convidou Münsterberg para a Universidade<br />
de Harvard, onde ele aplicou seus métodos experimentais<br />
a uma variedade de problemas, inclusive à percepção e à<br />
atenção. Ele era uma figura popular na educação americana,<br />
um talentoso orador e amigo pessoal do presidente Theodore<br />
Roosevelt. Münsterberg estava interessado em aplicar<br />
os tradicionais métodos da psicologia a problemas industriais<br />
práticos. Seu livro Psychology and industrial efficiency<br />
(1913) era dividido em três partes: seleção de trabalhadores,<br />
concepção de situações de trabalho e uso da psicologia em<br />
vendas. Um dos mais famosos estudos de Münsterberg<br />
envolvia determinar o que fazia de um operador de bonde<br />
elétrico um condutor seguro. Ele estudou sistematicamente<br />
todos os aspectos do trabalho, desenvolveu uma engenhosa<br />
imulação de um bonde elétrico em laboratório e concluiu<br />
• Hugo Münsterberg<br />
FONTE: Arquivos da History of American<br />
Psychology<br />
que um bom condutor poderia compreender simultaneamente todas as influências relacionadas<br />
à condução do carro. Alguns escritores consideram Münsterberg o pai da psicologia<br />
industrial. Landy (1992) relatou que muitos psicólogos IIa renomados do século XX<br />
podem remontar suas raízes profissionais a Münsterberg. A influência de Münsterberg<br />
na história da psicologia está bem evidenciada pela seleta roda de psicólogos IIa que se<br />
guiaram pelos seus ensinamentos.<br />
Quando a Primeira Guerra Mundial eclodiu na Europa, Münsterberg apoiou a causa<br />
alemã. Ele foi repudiado por sua escolha, e a tensão emocional provavelmente contribuiu<br />
para sua morte, em 1916. A nação americana foi o único país envolvido na guerra que<br />
deu unidade à profissão. A principal ênfase dos primeiros trabalhos em psicologia IIa<br />
foi sobre os ganhos econômicos que poderiam ser obtidos com a aplicação das idéias e<br />
dos métodos da psicologia a problemas nos negócios e na indústria. Líderes empresariais<br />
começaram a empregar psicólogos, e alguns psicólogos partiram para a pesquisa aplicada.<br />
Entretanto, a Primeira Guerra Mundial ocasionou uma mudança na direção da pesquisa<br />
da psicologia industrial.
1 O Psicologia Organizacional<br />
Primeira Guerra Mundial (1917-1918)·<br />
A Primeira Guerra Mundial foi um potente impulso para a ascensão da psicologia à respeitabilidade.<br />
Os psicólogos acreditavam que podiam prestar um valioso serviço à nação, e<br />
alguns viam a guerra como um meio de acelerar o progresso da profissão. Robert Yerkesfoi<br />
o psicólogo mais instrumental no envolvimento da psicologia na guerra. Como presidente<br />
da APA, direcionou a profissão para atribuições no esforço de guerra. A APA fez muitas<br />
propostas, inclusive maneiras de eliminar os recrutas com deficiências mentais e de atribuir<br />
funções aos recrutas selecionados. Comitês de psicólogos investigavam a motivação<br />
dos soldados, o moral e problemas psicológicos decorrentes de incapacidade física e de<br />
disciplina. Yerkes continuou a insistir em sua opinião de que a psicologia poderia ser de<br />
grande valia para a nação americana em tempos de guerra.<br />
O exército, por sua vez, estava cético quanto às alegações dos psicólogos. Ele acabou<br />
aprovando apenas um pequeno número de propostas, na maioria aquelas que envolviam<br />
a avaliação de recrutas. Yerkes e outros psicólogos avaliaram uma série<br />
de testes de inteligência geral até que finalmente desenvolveram um, ao<br />
qual chamaram de Army Alpha. Quando descobriram que 30% dos recrutas<br />
eram analfabetos, desenvolveram o Army Beta, um teste especial<br />
para aqueles que não sabiam ler. Enquanto isso, Walter Dill Scott fazia<br />
pesquisas sobre a melhor colocação para os soldados no exército. Ele<br />
classificava e colocava os soldados alistados, fazia avaliações de desempenho<br />
dos oficiais e desenvolvia e preparava as funções e qualificações<br />
para mais de 500 cargos.<br />
Os planos para testar os recrutas prosseguiram em ritmo lento. O<br />
exército construiu locais de teste especiais em seus acampamentos e<br />
ordenou que todos os oficiais, aspirantes a oficiais e recrutas recémconvocados<br />
fossem testados. Tanto os testes de inteligência do grupo<br />
Army Alpha quanto os do Army Beta foram usados, assim como alguns<br />
testes individuais. A ordem final autorizando o programa de teste veio<br />
do gabinete do ajudante-de-ordens do general, em agosto de 1918.<br />
Entretanto, o Armistício foi assinado três meses depois, e a Primeira<br />
Guerra Mundial terminou. Os testes foram encerrados logo após terem<br />
sido finalmente organizados e autorizados. Como resultado, o programa de testes de inteligência<br />
não contribuiu tanto para o esforço de guerra quanto Yerkes teria apreciado.<br />
Mesmo assim, 1.726.000 indivíduos acabaram sendo testados no programa, e o uso efetivo<br />
dos resultados foi mínimo.<br />
Embora o impacto da psicologia para o esforço de guerra não tenha sido substancial, o<br />
próprio processo de dar aos psicólogos tanto reconhecimento e autoridade foi um grande<br />
impulso para a profissão. Os psicólogos eram considerados capazes de fazer valiosas contribuições<br />
para a sociedade e de contribuir para a prosperidade de uma empresa (e, na<br />
guerra, da nação). Também em 1917 o mais antigo e mais representativo jornal no campo<br />
da psicologia 1/0 - o lournal af Applied Psychology - começou a ser publicado. Alguns dos<br />
artigos no primeiro volume eram "Practical relations between psychology and the war", de<br />
Hall, "Mentality testing of college students", de Bingham, e "The moron as a war problem",<br />
de Mateer. O primeiro artigo publicado no [ournal af Applied Psychology não apenas resumia<br />
o estado prevalecente da psicologia industrial naquela época, mas também tratava<br />
da questão ciência versus prática que os psicólogos 1/0 ainda enfrentam atualmente.<br />
Army Alpha<br />
um teste de<br />
inteligência<br />
desenvolvido durante<br />
a Primeira Guerra<br />
Mundial por psicólogos<br />
110 para a seleção e<br />
colocação de militares<br />
Army Beta<br />
um teste de<br />
inteligência nãoverba<br />
I desenvolvido<br />
durante a Primeira<br />
Guerra Mundial pelos<br />
psicólogos 110 para<br />
avaliar os recrutas<br />
anaIfa betos
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 11<br />
Os últimos anos têm testemunhado um interesse sem precedentes na extensão da aplicação da psicologia<br />
a vários campos da atividade humana (...) Mas talvez o esforço original mais surpreendente para utilizar<br />
os métodos e os resultados da investigação psicológica tenha sido na área dos negócios. Esse movimento<br />
começou com a psicologia da propaganda (...) Então a atenção da psicologia aplicada voltou-se para o<br />
problema mais abrangente e fundamental da seleção vocacional - a questão de fazer um levantamento<br />
detalhado das qualidades mentais que determinado indivíduo possuía, de descobrir as qualidades essen-<br />
ciais para a realização bem-sucedida em determinada vocação e, assim, de direcionar o indivíduo para o<br />
grupo vocacional para o qual está mais bem-qualificado (...) Cada psicólogo, além de ser um "cientista<br />
puro", também acalenta a esperança de esclarecer os problemas da sua ciência e de que suas descobertas<br />
possam contribuir um pouco para o todo da felicidade humana; e precisa atrair cada pessoa interessada<br />
em aumentar a eficiência e a felicidade humana pelo método mais rápido de reduzir o número de casos<br />
em que um prego quadrado é condenado a uma vida de esforço infrutífero para se encaixar confortavel-<br />
mente em um orifício redondo. (Hall, Baird e Geissler, 1917, p. 5-6)<br />
Após a guerra, houve uma explosão no número de empresas de consultoria psicológica<br />
e centros de pesquisa. O nascimento dessas agências introduziu a próxima fase da psicologia<br />
1/0.<br />
Período entre Guerras (1919-1940)<br />
A psicologia aplicada emergiu da Primeira Guerra Mundial como disciplina reconhecida.<br />
A sociedade estava começando a perceber que a psicologia industrial poderia solucionar<br />
problemas práticos. Após a guerra, vários centros de pesquisa psicológica floresceram.<br />
O Bureau of Salesmanship Research foi desenvolvido por Walter Bingham no Carnegie<br />
Institute ofTechnology. Havia poucos antecedentes de cooperação entre as universidades<br />
e as empresas. Esse centro se propunha a solucionar, com técnicas de pesquisa psicológica,<br />
problemas que jamais haviam sido examinados cientificamente. Vinte e sete empresas<br />
cooperaram com Bingham, cada uma contribuindo anualmente com US$ 500 para financiar<br />
a pesquisa psicológica aplicada. Um dos primeiros produtos do centro foi o livro<br />
Aids in selecting salesmen. Durante vários anos, o centro se concentrou na seleção, na classificação<br />
e no desenvolvimento de funcionários administrativos e executivos, assim como<br />
de vendedores. Quando o Carnegie Institute parou de oferecer cursos de pós-graduação<br />
em psicologia, o centro foi fechado.<br />
Outra empresa influente durante esse período foi a Psychological Corporation, fundada<br />
por Iames Cattell, em 1921. Cattell formou a empresa como uma corporação e pediu a<br />
psicólogos que comprassem ações. A finalidade da Psychological Corporation era desenvolver<br />
a psicologia e promover a sua utilização nas empresas. A corporação também servia<br />
como uma câmara de compensação de informações. Como proteção contra impostores<br />
e charlatães, que estavam se tornando cada vez mais prevalecentes, fornecia às empresas<br />
referências sobre psicólogos. Ao contrário de muitas agências que estavam iniciando na<br />
época, a Psychological Corporation continuou em operação. Ao longo dos anos, modificou<br />
sua missão original e hoje é uma das maiores editoras de testes psicológicos dos EUA.<br />
Em 1924, uma série de experimentos começou a ser feita na fábrica Hawthorne,<br />
da Western Electric Company. Embora inicialmente parecessem ter pouco significado<br />
científico, os experimentos se tornaram clássicos na psicologia industrial. Na opinião de<br />
muitos escritores, os estudos de Hawthorne "representam o programa de pesquisa mais
12 Psicologia Organizacional<br />
significativo para mostrar a enorme complexidade do problema da produção em relação<br />
à eficiência" (Blum e Naylor, 1968, p. 306).<br />
Os estudos de Hawthorne foram um esforço conjunto entre a Western Electric e vários<br />
pesquisadores da Universidade de Harvard (nenhum deles era psicólogo por formação).<br />
estudos de Hawthorne<br />
série de pesquisas<br />
que fizeram com<br />
que os interesses<br />
dos psicólogos<br />
110 se voltassem<br />
para o modo como o<br />
comportamento no<br />
trabalho se manifesta<br />
em um contexto<br />
orga nizaciona I<br />
O estudo original procurava estabelecer a relação entre iluminação e<br />
eficiência. Os pesquisadores instalaram vários conjuntos de luzes nas<br />
salas de trabalho em que o equipamento elétrico estava sendo fabricado.<br />
Em alguns casos, a luz era intensa; em outros casos, foi reduzida, equivalendo-se<br />
à luz do luar. Para surpresa dos pesquisadores, a produtividade<br />
parecia não ter relação com o nível de iluminação. A produtividade dos<br />
operários aumentava, quer a iluminação fosse diminuída, aumentada<br />
ou mantida constante. Os resultados do estudo eram tão estranhos que<br />
os pesquisadores levantaram algumas hipóteses a respeito da existência<br />
de outros fatores responsáveis pela produtividade.<br />
Os resultados do primeiro estudo deram início a outros quatro<br />
grandes estudos, que foram conduzidos ao longo de um período de 12<br />
anos: (1) sala de teste de montagem de relés, (2) programa de entrevistas em grupo, (3)<br />
sala de observação monitorada e (4) aconselhamento de funcionários. (Para obter mais<br />
informações sobre esses estudos, veja o texto original em Roethlisberger e Dickson, 1939.)<br />
Em essência, os estudos de Hawthorne revelaram muitos aspectos anteriormente não<br />
reconhecidos sobre o comportamento humano no trabalho. Os pesquisadores levantaram<br />
as hipóteses de que os resultados dos estudos tivessem sido causados pelo desejo dos<br />
funcionários de agradar. Lisonjeados porque renomados pesquisadores da Universidade<br />
de Harvard se deram ao trabalho de estudá-los, os operários haviam se empenhado ao<br />
máximo para impressionar os pesquisadores - isto é, ser mais produtivos. Assim, haviam<br />
rendido tudo o que podiam, estivesse a sala muito clara ou muito escura. Os pesquisadores<br />
descobriram que outros fatores, além daqueles puramente técnicos (por exemplo,<br />
iluminação), influenciam a produtividade.<br />
efeito Hawthorne<br />
mudança positiva<br />
no comportamento<br />
que ocorre no início<br />
de uma intervenção,<br />
seguida de um declínio<br />
gradual, em geral<br />
ao nível original<br />
do comportamento<br />
anterior à intervenção<br />
Uma das principais descobertas dos estudos foi um fenômeno<br />
denominado efeito Hawthorne. O desempenho dos funcionários<br />
começou a melhorar após o início da intervenção dos pesquisadores<br />
e continuou a melhorar, em parte, por causa da novidade da situação;<br />
isto é, os funcionários reagiam positivamente ao novo tratamento que<br />
estavam recebendo dos pesquisadores. Mas, finalmente, o tratamento<br />
diferenciado deixou de ser novidade e a produtividade voltou ao seu nível<br />
anterior. Esse fenômeno de mudança de comportamento após o início<br />
de um tratamento novo, com um retorno gradual ao nível anterior de<br />
comportamento à medida que o efeito da novidade vai desaparecendo,<br />
é o efeito Hawthorne.<br />
Como observou Adair (1984), contudo, a razão exata para a mudança de comportamento<br />
(por exemplo, a novidade da situação, atenção especial ou prestígio por ter sido<br />
escolhido para o estudo) nem sempre é clara. Às vezes, a mudança de comportamento se<br />
deve apenas a uma mudança no ambiente (como a presença dos pesquisadores) e não ao<br />
efeito de alguma variável manipulada experimentalmente (por exemplo, o nível de iluminação).<br />
A literatura psicológica indica que os efeitos Hawthorne podem durar entre alguns<br />
poucos dias e dois anos, dependendo da situação. No decorrer deste livro, os resultados de<br />
pesquisas que ejam atribuíveis a Hawthorne serão citados.
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 1 3<br />
Os estudos realizados em Hawthorne também revelaram a existência de grupos de<br />
trabalho informais com funcionários e seus controles sobre a produção, assim como a<br />
importância das atitudes dos funcionários, o benefício de ter um supervisor compreensivo<br />
e a necessidade de tratar os funcionários como gente, em vez de simplesmente como<br />
capital humano. Suas revelações da complexidade do comportamento humano abriram<br />
novas perspectivas para a psicologia industrial, que por quase 40 anos vinha sendo dominada<br />
pelo desejo de melhorar a eficiência da empresa. Hoje, os estudos de Hawthorne são<br />
considerados o maior episódio individual na formação da psicologia industrial, embora<br />
alguns psicólogos contemporâneos os considerem falhos em seus métodos de pesquisa<br />
(por exemplo, Bramel e Friend, 1981). Eles também mostraram que os pesquisadores às<br />
vezes obtêm resultados totalmente inesperados. Como os pesquisadores não apresentaram<br />
nenhuma explicação conclusiva, seus estudos os levaram a áreas inexploradas pela<br />
psicologia industrial e levantaram questões que, de outra forma, poderiam nunca ter sido<br />
feitas. A psicologia industrial nunca mais foi a mesma.<br />
Essa fase da psicologia industrial terminou com a coincidente conclusão dos estudos<br />
de Hawthorne e o início da Segunda Guerra Mundial. Os psicólogos industriais agora<br />
enfrentavam uma tarefa enorme: ajudar a mobilizar uma nação para uma guerra entre<br />
dois continentes.<br />
Segunda Guerra Mundial (1941-1945)<br />
Quando os Estados Unidos entraram na Segunda Guerra Mundial, os psicólogos industriais<br />
estavam mais preparados para o seu papel no esforço de guerra do que haviam estado em<br />
19l7. Dessa vez, os psicólogos haviam estudado os problemas de seleção e colocação de<br />
funcionários e haviam apurado consideravelmente suas técnicas.<br />
Walter Bingham presidiu o conselho consultivo sobre classificação de militares que<br />
havia sido formado em resposta à necessidade de classificação e treinamento no exército.<br />
Ao contrário da Primeira Guerra Mundial, dessa vez o exército procurou primeiro os<br />
psicólogos. Uma das primeiras tarefas do conselho foi desenvolver um teste que classificasse<br />
os novos recrutas em cinco categorias com base em suas habilidades de aprender os deveres<br />
e as responsabilidades de um soldado. O teste finalmente desenvolvido<br />
foi o Army General Classification Test (AGCT - Teste de Classificação<br />
Geral do Exército), um marco na história dos testes em grupo. Harrell<br />
(1992), ao refletir sobre seu próprio envolvimento no desenvolvimento<br />
do AGCT, 50 anos atrás, relatou que 12 milhões de soldados foram elasificados<br />
em funções militares baseadas no teste. A comissão também<br />
trabalhou em outros projetos, tais como métodos de selecionar pessoas<br />
para treinamento de oficiais, testes de proficiência profissional e testes<br />
de aptidão suplementar.<br />
Os psicólogos também trabalharam no desenvolvimento e uso de<br />
Army General<br />
Classification Test<br />
(AGCT)<br />
um teste desenvolvido<br />
durante a Segunda<br />
Guerra Mundial por<br />
psicólogos I/O para a<br />
seleção e colocação<br />
de militares<br />
testes de estresse situacional, um projeto empreendido pelo U.S. Office ofStrategic Services<br />
(OSS - Murray e MacKinnon, 1946). A finalidade desse programa de teste era avaliar candidatos<br />
para designação a unidades de inteligência militar. Durante três dias de aplicação<br />
de uma bateria de testes e observação extremamente intensivas, os candidatos moraram<br />
juntos em pequenos grupos sob observação quase contínua da equipe de avaliação. Testes<br />
situacionais especialmente desenvolvidos nos exércitos alemão e britânico foram usados<br />
para avaliar os candidatos de maneira não-tradicional. Um teste, por exemplo, envolvia
14 Psicologia Organizacíonal<br />
construir um cubo de 1,5 m com uma coleção de varas, pregos e blocos. Era impossível<br />
para uma pessoa montar o cubo no tempo estabelecido, por isso foram fornecidos dois<br />
"ajudantes". Estes, na verdade, eram psicólogos desempenhando papéis preestabelecidos.<br />
Um ajudante agiu passivamente e contribuiu pouco; o outro obstruía o trabalho, fazendo<br />
sugestões pouco práticas e ridicularizando e criticando o candidato. É claro que nenhum<br />
candidato conseguiu completar o projeto com esse tipo de "ajuda". A verdadeira finalidade<br />
do teste não era verificar se os candidatos conseguiam construir o cubo, mas avaliar suas<br />
reações emocionais e interpessoais ao estresse e à frustração. De modo geral, o programa<br />
de avaliação OSS foi considerado bem-sucedido.<br />
Outra área de trabalho foi a seleção e o treinamento de pilotos para aviões de guerra.<br />
A comissão formada para essa finalidade era constituída de psicólogos, militares e pilotos<br />
civis. A política do comitê era mudar o tradicional cenário de teste do laboratório para<br />
a cabine do piloto. Os aviões foram equipados com dispositivos de gravação e monitoramento<br />
para avaliar os problemas e as reações dos alunos de pilotagem. Essa pesquisa<br />
resultou em duas aplicações. Primeiro, os bons candidatos eram selecionados e treinados<br />
como pilotos (área tradicional da psicologia humana). Segundo, os equipamentos eram<br />
projetados para tornar a tarefa do piloto mais fácil e segura (uma contribuição do novo<br />
campo da psicologia da engenharia).<br />
No decorrer da guerra, a psicologia industrial também estava sendo usada na vida civil.<br />
O uso de testes de recrutamento nas indústrias aumentou muito. Como a nação precisava<br />
de uma força de trabalho produtiva, os psicólogos foram chamados para ajudar a reduzir o<br />
absenteísmo. As empresas descobriram que muitas das técnicas dos psicólogos industriais<br />
eram úteis, principalmente nas áreas de seleção, treinamento e projeto de máquinas, e os<br />
líderes empresariais estavam particularmente interessados nas aplicações da psicologia<br />
social. Novos métodos de mediar a atitude e o moral do soldado também podiam ser<br />
aplicados aos negócios e às indústrias em tempos de paz. A Segunda Guerra Mundial era<br />
um trampolim para apurar as técnicas psicológicas industriais e aprimorar as habilidades<br />
dos psicólogos na área da psicologia aplicada.<br />
Cada uma das duas guerras mundiais teve um efeito importante na psicologia industrial,<br />
mas de maneiras diferentes. A Primeira Guerra Mundial ajudou a formar a profissão e a<br />
dar-lhe aceitação social. A Segunda Guerra Mundial ajudou a desenvolvê-Ia e a apurá-Ia.<br />
A próxima fase na história da psicologia IIO acompanhou a evolução da profissão em<br />
subespecialidades e no alcance de níveis mais elevados de rigor acadêmico e científico.<br />
Rumo à Especialização (1946-1963)<br />
Nessa fase, a psicologia industrial evoluiu para se tornar um campo legítimo de investigação<br />
científica, já tendo se estabelecido como uma prática profissional aceita. Mais faculdades<br />
e universidades passaram a oferecer cursos em "psicologia industrial", e certificados de<br />
pós-graduações (tanto mestrado quanto doutorado) não demoraram a ser outorgados. A<br />
Divisão de Psicologia Industrial da American PsychologicalAssociation foi criada em 1946.<br />
Benjamin (1997) relatou que os primeiros psicólogos li O não tinham igual reconhecimento<br />
profissional, estando equiparados aos "psicólogos da psicologia aplicada".<br />
A exemplo de qualquer ciência em evolução, as subespecialidades de interesse começaram<br />
a se cristalizar, e a psicologia industrial se dividiu. Novos periódicos surgiram, juntamente<br />
com as associações de classe. A psicologia da engenharia (ou ergonomia), nascida durante<br />
a Segunda Guerra Mundial, foi reconhecida como uma nova área, em parte por causa
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 1 5<br />
de publicações originais, tais como Applied experimental psychology (Chapanis, Garner<br />
e Morgan, 1949) e Handbook of human engineering data (1949). A psicologia da engenharia<br />
passou por um período de crescimento explosivo de 1950 a 1960. Esse fato ocorreu<br />
principalmente em virtude da parceria com indústrias bélicas. A herança da psicologia da<br />
engenharia foi uma combinação tanto da psicologia experimental quanto da industrial,<br />
conforme seu rótulo original, "psicologia experimental aplicada': Essa parte da psicologia<br />
industrial especializada em seleção, classificação e treinamento de funcionários também<br />
recebeu sua própria identidade, sua personalidade. Por volta da década de 1950, cresceu o<br />
interesse no estudo das organizações. Tradicional área da sociologia, esse campo chamou<br />
a atenção dos psicólogos. Elton Mayo foi o fundador do que se tornou conhecido como o<br />
movimento das relações humanas. Baseado nas descobertas dos estudos de Hawthorne,<br />
o movimento enfatizava as necessidades individuais, os grupos informais e as relações<br />
sociais como a base principal para o comportamento nas organizações. Na década de 1960,<br />
a pesquisa da psicologia industrial assumiu um toque mais organizacional. Os pesquisadores<br />
deram mais atenção às influências sociais que se chocavam com o comportamento<br />
nas organizações. Termos como mudança organizacional e desenvolvimento organizacional<br />
apareciam regularmente na literatura. A psicologia industrial abrangia um escopo maior<br />
de tópicos. Textos clássicos da década de 1950, como Personnel and industrial psychology,<br />
de Ghiselli e Brown (1955), abriram o caminho, em título (assim como em conteúdo),<br />
para livros com uma inclinação mais organizacional. Limites acadêmicos tradicionais<br />
entre as disciplinas começaram a se toldar nesse período do pós-guerra. A psicologia da<br />
engenharia era uma fusão da psicologia experimental e da industrial; o comportamento<br />
organizacional era uma mistura de psicologia industrial, psicologia social e sociologia. Essa<br />
fusão de disciplinas era saudável porque reduzia o uso de tentativas limitadas, provincianas,<br />
de tratar áreas complexas da pesquisa.<br />
A Era Moderna (1964 - Presente)<br />
Ao final da década de 1950, início dos anos 60, nos EUA, a nação se deixou empolgar pelo<br />
que se tornou conhecido como o "movimento dos direitos civis". Como nação, os EUA<br />
se tornaram mais sensíveis às reivindicações das minorias, que haviam sido privadas de<br />
oportunidades iguais em vários setores da vida, inclusive moradia, educação e emprego.<br />
Em 1964, o Congresso aprovou a Lei dos Direitos Civis, uma legislação abrangente concebida<br />
para reduzir a discriminação contra as minorias. Um componente da Lei dos Direitos<br />
Civis, o artigo VII, tratava da questão da discriminação no emprego. O significado da lei<br />
para os psicólogos lIO é explicado assim: durante anos, os psicólogos lIO tiveram relativa<br />
liberdade para usar uma grande variedade de dispositivos de avaliação psicológica (isto<br />
é, testes, entrevistas etc.) para tomar decisões quanto à contratação. O resultado dessas<br />
decisões de contratação foi a representação desproporcionalmente pequena de minorias<br />
(notadamente de negros e mulheres) no local de trabalho, principalmente em cargos de<br />
nível hierárquico superior. Como historicamente essas decisões pareciam resultar em<br />
discriminação contra as minorias, o governo interveio para controlar (e, se necessário,<br />
remediar) as práticas de contratação dos empregadores.<br />
Em 1978, o governo havia elaborado um conjunto padrão de diretrizes de contratação<br />
que os empregadores eram obrigados a cumprir. As empresas eram legalmente obrigadas<br />
a demonstrar que seus testes de avaliação não discriminavam nenhum grupo minoritário.<br />
Além disso, os novos padrões do governo não se restringiam apenas a testes escritos ou
16 Psicologia Organizacional<br />
à função de seleção; eles compreendiam todos os dispositivos (entrevistas, testes, aplicações)<br />
usados para a tomada de todo tipo de decisão a respeito de funcionários<br />
colocação, promoção, demissão etc.).<br />
(seleção,<br />
A ciência da psicologia li O agora tinha de servir a duas autoridades supremas. A primeira<br />
autoridade é aquela à qual todas as ciências precisam servir - isto é, realizar trabalho de<br />
alta qualidade, seja conduzindo pesquisa científica, seja fornecendo serviços a clientes.<br />
A segunda autoridade acrescentada foi a análise e a avaliação do governo. Os psicólogos<br />
110 agora tinham de aceitar as conseqüências de serem legalmente responsáveis por suas<br />
ações. Como profissão, tornou-se possível realizar auto-avaliação, com a mediação das<br />
políticas e dos órgãos governamentais. Em 1990, o presidente George H. Bush assinou a<br />
Lei dos Americanos Portadores de Deficiências e, em 1991, uma versão atualizada da Lei<br />
dos Direitos Civis. Ambas as leis foram concebidas para remediar<br />
local de trabalho.<br />
futuras injustiças no<br />
Muito se tem discutido sobre o efeito global da intervenção governamental dos EUA<br />
na profissão do psicólogo I/O. Algumas pessoas acreditam que foi um avanço para a profissão,<br />
forçando os psicólogos a enfrentar questões e a desenvolver soluções que, de outra<br />
forma, poderiam ser ignoradas. Outros acreditam que a profissão foi prejudicada pela<br />
intrusão de influências políticas e legais que servem para desviar as atividades para áreas<br />
além do nosso domínio tradicional. Alguns dos maiores avanços na psicologia I/O têm<br />
sido feitos nos últimos 20 anos, e eu atribuo esses avanços, em parte, ao fato de termos de<br />
prestar contas a forças além de nossa própria profissão. O monitoramento legal, em minha<br />
opinião, levou os psicólogos I/O a ampliarem seus horizontes em termos dos problemas<br />
que eles enfrentam e das soluções que propõem. De qualquer forma, a realidade de ser um<br />
psicólogo I/O no século XXI envolve a observação de padrões legais, parâmetros<br />
quais nossos antecessores profissionais nunca tiveram de se preocupar.<br />
com os<br />
A psicologia I/O fez uma importante contribuição para o exército durante essa fase da<br />
nossa história. Campbell (1990a) descreveu os esforços dos psicólogos I/O para desenvolver<br />
um teste para a seleção e classificação de militares. Esse projeto envolveu muitos psicólogos<br />
e levou quase dez anos para ser completado. Chamado de "Projeto X',<br />
Armed Services envolveu o desenvolvimento da Armed Services Vocational Aptitude<br />
Vocational Aptitude<br />
Battery (Asvab)<br />
um teste desenvolvido<br />
na década de 1980 por<br />
Battery (Asvab - Bateria de Testes de Aptidão Vocacional das Forças Armadas).<br />
Todo ano, a Asvab é administrada a 300 mil- 400 mil pessoas;<br />
do total avaliado, entre 120 mil a 140 mil indivíduos são selecionados.<br />
psicólogos l/O para a É preciso que se reconheça também que a tecnologia do computador<br />
seleção e colocação de teve um impacto profundo na condução do trabalho. Craiger (1997)<br />
militares<br />
relatou que, entre as décadas de 1950 e 1980, os computadores usados<br />
para fins militares foram convertidos para fins de negócios. Inicialmente,<br />
apenas os indivíduos tecnicamente mais hábeis podiam usar essa complexa tecnologia.<br />
Em 1981, o primeiro computador pessoal foi introduzido, o que permitiu que todos os<br />
funcionários trabalhassem diretamente com a nova tecnologia.Mais tarde, nessa década,<br />
as redes cliente-servidor foram introduzidas, permitindo que os trabalhadores compartilhassem<br />
informações. As unidades de trabalho foram modificadas de atividades individuais<br />
para equipes que funcionavam como componentes integrados na organização como um<br />
todo. A chegada da "Era da informação" ocasionou uma ênfase na geração, no compartilhamento<br />
e no gerenciamento de informações como uma dimensão vital do trabalho.<br />
Cargos foram criados - alguns em níveis muito altos da organização - que nem mesmo<br />
existiam uma geração atrás. Assim, aos tradicionais cargos de chie! executive officer (CEO)<br />
e chie! operating officer (COO), juntou-se o cargo de chie! information officer (CIO).
Capítulo 1 História da Psicologia I/O 17<br />
Houve uma importante mudança na principal base teórica da psicologia 1/0 nos últimos<br />
20 anos. Durante muitos anos, a psicologia havia sido dominada pelo behaviorismo, em<br />
que os psicólogos se preocupavam com fatores sociais e ambientais que moldam o comportamento.<br />
Na década de 1980, os psicólogos, inclusive os psicólogos 1/0, passaram seu<br />
foco para os fatores cognitivos que ocasionam o comportamento. Essa orientação teórica<br />
estimula o interesse sobre como os indivíduos recebem a informação do seu ambiente, como<br />
processam essa informação e, por sua vez, como manifestam o comportamento. Alguns<br />
estudiosos têm se referido à mudança da orientação comportamental para a orientação<br />
cognitiva como a "revolução cognitiva" na psicologia.