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PESQUISA-AÇÃO, ANÁLISE CONTINUADA DE ... - CCE

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<strong>PESQUISA</strong>-<strong>AÇÃO</strong>, <strong>ANÁLISE</strong> <strong>CONTINUADA</strong> <strong>DE</strong> NECESSIDA<strong>DE</strong>S E<br />

NEGOCI<strong>AÇÃO</strong>: UMA POSSIBILIDA<strong>DE</strong> METODOLÓGICA<br />

MATRAVOLGYI DAMIÃO, Silvia<br />

ITA - Instituto Tecnológico da Aeronáutica<br />

Resumo: Este artigo tem por objetivo descrever a metodologia de pesquisa que norteou a<br />

trajetória de uma professora-designer e pesquisadora ao conduzir uma pesquisa-ação num<br />

estudo que investiga as matérias de língua inglesa ministradas anualmente num curso de<br />

graduação em Engenharias de uma Instituição de Ensino Superior. A pesquisa consistiu no<br />

acompanhamento de um percurso de dois anos em que um curso de inglês, calcado na<br />

Abordagem Instrumental, nos pilares do conhecimento, em teorias de ensino-aprendizagem<br />

progressistas e fazendo uso de tecnologias digitais, foi acompanhado, avaliado e<br />

modificado, de acordo com as respostas dadas pelos alunos a questionários avaliativos.<br />

Esse percurso foi sendo acompanhado por meio de procedimentos de análise continuada de<br />

necessidades, do meio, de direitos, e de negociação que, por sua vez, foram associados à<br />

pesquisa-ação.<br />

Palavras-chave: pesquisa-ação; análise de necessidades; negociação.<br />

Introdução<br />

Não são muitos os trabalhos publicados sobre pesquisa-ação na área de ensino de<br />

inglês como língua estrangeira ou segunda língua, conforme aponta Burns (2005:248).<br />

Quando se pensa nessa metodologia de pesquisa em contextos de ensino-aprendizagem de<br />

ensino superior, são menos ainda. No Brasil, podemos encontrar algumas dissertações e<br />

teses com metodologia fundamentada na pesquisa-ação que têm como contexto cursos<br />

universitários, como, por exemplo, Nunes (2000); Albuquerque (2001); Isaac (2001);<br />

Lucioli (2003); Ramundo (2003) e Silva (2004).<br />

Constata-se, portanto, que ainda são poucas as pesquisas calcadas na pesquisa-ação<br />

desenvolvidas a partir da prática pedagógica de professores universitários em cursos de<br />

graduação. De um modo geral, não há incentivo para que esses professores enxerguem as<br />

pesquisas na área educacional como forma de aprimoramento de sua própria prática<br />

profissional, segundo Zuber-Skerritt (1992):<br />

Through systematic, controlled action research, higher education teachers can become more<br />

professional, more interested in pedagogical aspects of higher education and more motivated to<br />

integrate their research and teaching in a holistic way. This, in turn, can lead to greater job<br />

satisfaction, better academic programmes, improvement of student learning and practitioner’s<br />

insights and contributions to the advancement of knowledge in higher education. (Zuber-<br />

Skerritt, 1992:15 apud Riding, Fowell e Levy 1995:3)


Concordo com a autora e entendo que a condução de uma pesquisa-ação pode servir<br />

como uma contribuição tanto para professores-pesquisadores (de diferentes áreas do<br />

conhecimento) atuantes em cursos de graduação como também para professorespesquisadores<br />

em outros contextos. É por isso que acredito que essa metodologia possa<br />

contribuir para o desencadeamento de reflexões sobre ensino e aprendizagem e, quem sabe,<br />

para mudanças em programas acadêmicos de um modo geral.<br />

Este artigo descreve a metodologia de pesquisa utilizada num estudo que investiga<br />

um curso instrumental de língua inglesa de uma IES. Para a condução do estudo, a<br />

metodologia escolhida foi a pesquisa-ação que, por sua vez, foi relacionada ao conceito de<br />

analise continuada de necessidades (Dudley Evans e St John, 1998), à análise de direitos<br />

(Benesch 1999, 2001) e à negociação (Breen e Littljohn, 2000).<br />

1. A pesquisa-ação<br />

A metodologia da pesquisa-ação pode ser aplicada a diversos campos do saber<br />

como Educação, Comunicação, ou Serviço Social, dentre outros. É, no entanto, uma<br />

metodologia que se encontra em fase de discussão entre pesquisadores, não havendo<br />

unanimidade em sua definição.<br />

O surgimento da pesquisa-ação é atribuído ao psicólogo social Kurt Lewin no<br />

período após a Segunda Guerra Mundial, como uma metodologia de intervenção e de<br />

pesquisa de questões sociais do dia-a-dia conforme afirmam, dentre outros, Hopkins<br />

(1993), Kemmis (1993), Masters (1995) e Nunes (2000). Segundo Hopkins (1993), para<br />

Lewin, mudanças sociais necessárias e avanços nas teorias, de um modo geral, poderiam<br />

ser alcançadas por meio da pesquisa-ação.<br />

Embora exista certo consenso na literatura de que a teoria da pesquisa-ação tenha<br />

sido construída por Lewin, alguns autores como El Andaloussi (2004) e Burns (2005)<br />

afirmam que tal metodologia teve sua origem ainda na primeira metade do século XX, com<br />

os trabalhos de John Dewey e a associação entre experiência e educação.<br />

Para El Andaloussi (2004), o projeto de Dewey tinha por base uma ação educativa<br />

como suporte para o conhecimento. Ainda, segundo Goyette e Lessard-Herbert (1993, apud<br />

El Andaloussi 2004:73) a reflexão e as críticas contidas no método de Dewey mostravam o<br />

desenvolvimento da ação em detrimento da teoria. Burns (2005), por sua vez, considera J.<br />

Dewey um antecessor da pesquisa-ação por colocar as práticas educacionais como fonte de<br />

dados em pesquisas na área educacional. Segundo a autora, o foco na prática foi tanto um<br />

desafio para as formas de pesquisa acadêmica da época, como uma democratização no<br />

escopo da pesquisa, por permitir aos professores abordarem questões pedagógicas que eram<br />

exclusivas dos pesquisadores. Segundo a autora, apesar de destoar dos temas dominantes da<br />

época, a insistência de Dewey com relação à investigação da prática relacionava-se a uma<br />

tradição intelectual que pode remontar a Aristóteles e tornou-se extremamente influente na<br />

pesquisa educacional nos anos 40 (Burns, 2005:242).<br />

Concordo com El Andaloussi (2004) e Burns (2005) quando afirmam que Dewey<br />

pode ser considerado um antecessor da pesquisa-ação, pois o autor já afirmava, no início do<br />

século 20, que havia uma forte ligação entre a educação e a experiência pessoal.<br />

691


Dewey também dizia que a verdadeira educação só se desenvolve a partir da<br />

experiência. Além disso, ele enfatizava que o objetivo da educação é permitir que as<br />

pessoas continuem sua própria formação num processo de crescimento contínuo:<br />

(...) the aim of education is to enable individuals to continue their education – or that the object<br />

of reward of learning is continued capacity of growth. Now this idea cannot be applied to all the<br />

members of a society except where intercourse of man with man is mutual, and except where<br />

there is adequate provision for the reconstruction of social habits and institutions by means of<br />

wide stimulation arising from equitably distributed interests. (Dewey, 1916:100)<br />

Dessa maneira, ao vislumbrar que o crescimento educacional do indivíduo ocorre<br />

por meio da interação com o(s) outro(s) e com o meio, Dewey (1916) estava abrindo espaço<br />

para o que, posteriormente, foram consideradas características centrais da pesquisa-ação, ou<br />

seja: a inclusão da prática educacional como fonte de dados para a pesquisa, o<br />

aprimoramento da prática por meio da pesquisa e as conseqüentes modificações sociais<br />

inerentes a esse processo.<br />

Thiollent (2002), que discute a pesquisa-ação como uma metodologia de pesquisa<br />

que pode ser associada a diferentes formas de ação coletiva orientadas em função da<br />

resolução de problemas ou com vistas à transformação, entende a pesquisa-ação da seguinte<br />

forma:<br />

um tipo de pesquisa social com base empírica que é concebida e realizada em estreita<br />

associação com uma ação ou com a resolução de um problema coletivo e no qual os<br />

pesquisadores e os participantes representativos da situação ou do problema estão envolvidos de<br />

modo cooperativo ou participativo (Thiollent, 2002:14).<br />

Há autores como Masters (1995), Hughes (1997) e Burns (2005), dentre outros, que<br />

descrevem as mudanças nas formas de se conceituar a pesquisa-ação ao longo dos anos.<br />

Tais descrições são embasadas no trabalho de McKernan (1991), e foram essenciais para<br />

situar esta pesquisa e entender as diferentes formas de se praticar a pesquisa-ação. Segundo<br />

os autores pesquisados, McKerman (1991) descreve três grandes movimentos percorridos<br />

por trabalhos embasados na pesquisa-ação ao longo dos últimos cinqüenta ou sessenta anos.<br />

São eles:<br />

Tipo 1: técnico-científica;<br />

Tipo 2: prático-deliberativa;<br />

Tipo 3: crítico-emancipatória.<br />

A pesquisa-ação do tipo 1, técnico-científica, é definida como uma atividade<br />

essencialmente técnica, por meio da qual professores podem melhorar suas práticas<br />

pedagógicas. De acordo com Masters (1995), nesse tipo de abordagem, o pesquisador tem<br />

por objetivo testar um determinado tipo de intervenção a partir de um suporte teórico<br />

preestabelecido. É, por sua natureza, um tipo de pesquisa isenta de influências (Crookes,<br />

1993).<br />

A pesquisa-ação do tipo 2 (prático-deliberativa), por sua vez, encontra-se<br />

fundamentada, segundo Burns (2005), no surgimento das pesquisas sobre currículo nos<br />

692


anos 60 e 70 e, também em investigações sobre as ações do professor em sala de aula e<br />

sobre as concepções do professor reflexivo (Schön, 1983). Esse tipo de pesquisa favorece<br />

melhorias na prática profissional e enfatiza que a pesquisa-ação pressupõe que a idéia é de<br />

uma ciência educacional na qual cada sala de aula é um laboratório e cada professor, um<br />

membro da comunidade científica (Stenhouse, 1991). De acordo com Hughes (1997), esse<br />

modo de pesquisa-ação promove a autonomia do professor, que desenvolve uma nova<br />

forma de compreensão de sua prática.<br />

Finalmente, o terceiro tipo de pesquisa-ação, denominada crítico-emancipatória,<br />

parte do princípio de que “a prática individual deveria ser vista como socialmente<br />

constituída e como reflexo de amplas interações sociais, educacionais e políticas dentro da<br />

escola” (Burns, 2005:244). Dentro dessa mesma linha, van Lier (1996) considera que a<br />

pesquisa-ação com orientação crítica leva o professor-pesquisador a se deslocar, “de uma<br />

abordagem voltada para a resolução de problemas, para uma abordagem de<br />

questionamentos, que considera a sala de aula como um sistema que evolui historicamente<br />

e que é culturalmente constituído” (Van Lier, 1996:33).<br />

Segundo Crookes (1993), atualmente é possível encontrar elementos das três<br />

abordagens nas pesquisas fundamentadas na pesquisa-ação, e conforme Burns (2005: 248)<br />

“... current interpretations of action research vary along a practical-critical continuum.<br />

Both types are valuable to the field of language teaching (...)”<br />

A pesquisa-ação que desenvolvi contém elementos dos três tipos acima descritos. É<br />

um trabalho no qual procuro, como professora, pesquisadora e designer do curso, aprimorar<br />

meu trabalho docente e ir ao encontro das necessidades dos alunos, envolvendo-os no<br />

processo para chegar a um plano de curso instrumental condizente com as necessidades do<br />

meio. É, portanto, um trabalho com elementos do primeiro tipo (técnico-científico); utilizo<br />

a sala de aula, mais especificamente, o curso que ministro, como laboratório para a<br />

pesquisa e conto com a colaboração de meus alunos para o desenvolvimento do trabalho, o<br />

que permite entendê-lo como uma pesquisa prático-deliberativa (o tipo 2); e também, não<br />

me restrinjo à resolução de um problema identificado no início da pesquisa (curso<br />

incompatível com as necessidades dos alunos), uma vez que, para resolvê-lo, considero<br />

tanto o curso quanto o meio em que é ministrado. Considero, também, os alunos como<br />

sujeitos inseridos num contexto histórico e cultural e considero, ainda, a participação deles<br />

para a condução do estudo. Busco, também, encaminhamentos possíveis por meio do foco<br />

na comunidade em que o curso se insere. Finalmente, é também por considerar o contexto<br />

da pesquisa que se justifica minha decisão, desde o início do trabalho, de propor um curso<br />

instrumental de inglês que faça uso de recursos computacionais, já que os alunos que<br />

participam do curso são pertencentes à geração rede 1 . Assim, a pesquisa também apresenta<br />

elementos que a definem como uma pesquisa-ação do tipo 3, ou seja, crítico-emancipatória.<br />

Conforme afirma Crookes (1993), a utilização da pesquisa-ação como forma de promover a<br />

reflexão crítica sobre o ensino e sobre o contexto sócio-político em que os professores se<br />

encontram tem o potencial de ser um componente importante na busca contínua de se<br />

aprimorar o ensino de línguas.<br />

1<br />

Litto, F.M. (Aprendiz do Futuro) “A ‘geração rede’ está chegando ao mercado de trabalho...e mudando as<br />

organizações” (mimeo).<br />

693


2. Análise de necessidades, análise de direitos e negociação<br />

A elaboração do desenho de um curso para um contexto específico é antecedida por<br />

um estudo sobre as necessidades dos alunos e do contexto em que o curso será ministrado.<br />

Esta é uma questão que diferencia um curso de inglês fundamentado na Abordagem<br />

Instrumental de ensino de línguas de um curso de inglês geral.<br />

Essa análise, no entanto, pode ser conduzida de diversas formas. A Análise de<br />

Necessidades tradicionalmente estabelecida em cursos instrumentais é aquela que antecede<br />

o início do curso, conforme destacam autores como Hutchinson e Waters (1987). Para eles,<br />

é essencial que se faça uma análise tanto das necessidades da situação alvo (a que os<br />

autores chamam de target needs) como de aprendizagem (learning needs) antes do início<br />

do curso. A situação alvo deve ser analisada em termos de necessidades (necessities),<br />

lacunas (lacks) e desejos (wants) a serem contemplados pelo curso e representam o ponto<br />

de chegada a ser alcançado ao final do processo. Já a análise das necessidades de<br />

aprendizagem permite ao professor/designer conhecer e respeitar o aprendiz no que diz<br />

respeito ao seu conhecimento, habilidades e estratégias de aprendizagem. Os autores fazem<br />

uso de uma analogia ao afirmarem que um curso instrumental assemelha-se a uma viagem.<br />

Comparam o ponto de partida da viagem às lacunas (lacks) na aprendizagem, que precisam<br />

ser preenchidas pelo curso ao passo que o destino é representado pelas necessidades<br />

(necessities) bem como pelos desejos dos alunos (wants) e que o curso procurará atingir. O<br />

percurso é então representado pelas necessidades de aprendizagem, que ilustram como o<br />

aprendiz sairá do ponto de partida e alcançará seu destino. Portanto, é essencial que o<br />

professor/designer de um curso instrumental tenha conhecimento das necessidades, tanto da<br />

situação alvo como da situação de aprendizagem para elaborar o desenho de curso<br />

adequadamente.<br />

Por sua vez, Dudley Evans e St. John (1998: 122) também consideram que um curso<br />

instrumental não pode prescindir da Análise de Necessidades. Segundo eles, a análise de<br />

necessidades é a pedra fundamental em cursos de inglês para fins específicos. No entanto,<br />

os autores reconhecem que nem sempre é possível que a análise seja feita antes do início do<br />

curso. Conforme eles apontam, “In theory, needs analysis is a first step carried out before a<br />

course so that a course outline, materials and other resources can be in place before<br />

teaching begins. Practice may be rather different (Dudley Evans e St. John, 1998:126).”<br />

A análise de necessidades pode ser conduzida de formas diferentes, dependendo de<br />

cada situação e da natureza do curso. Uma das possibilidades sinalizadas pelos autores é<br />

que se faça um levantamento apurado da situação alvo antes do início do curso e que se dê<br />

espaço para avaliações e adaptações na programação durante o transcorrer das aulas. Para<br />

eles, com base nesse procedimento de Análise de Necessidades – a que denominam de<br />

Análise Continuada de Necessidades – a estrutura inicial do curso poderá mudar conforme<br />

as análises efetuadas ao longo do curso e com isso os detalhes poderão ser negociados pelo<br />

professor e pelos alunos no decorrer do curso (Dudley Evans e St. John, 1998:127).<br />

Assim como a Análise Continuada de Necessidades (Dudley Evans e St. John,<br />

1998), a participação dos alunos para ajudar a nortear o curso no qual estão matriculados<br />

pode também se dar por meio da Análise dos Direitos (rights analysis), conceito esse<br />

cunhado por Benesch (1999; 2001) para cursos de inglês para fins acadêmicos<br />

fundamentados em teorias críticas.<br />

694


Benesch (1999) estabelece uma diferença entre a Análise de Necessidades assim<br />

como descrita por Hutchinson e Waters (1987) ou Dudley Evans e St. John (1998) e a<br />

Análise de Direitos. De acordo com a autora, a Análise de Necessidades tem como foco a<br />

experiência dos alunos de um determinado curso sob uma perspectiva institucional<br />

assumindo a complacência dos alunos com relação aos requisitos do curso. Nessa<br />

perspectiva, a Análise de Necessidades pressupõe que os alunos preencham os requisitos da<br />

situação alvo (target situation), e não que os questionem. Por sua vez, a Análise de Direitos<br />

procura balancear o caráter descritivo da Análise de Necessidades propondo uma<br />

abordagem mais crítica da situação alvo, oportunizando, assim, a transformação de<br />

condições existentes e permitindo o engajamento dos alunos de forma mais participativa.<br />

Nas palavras de Benesch (1999), ...It (rights analysis) acknowledges that each academic<br />

situation offers its own opportunities for negotiation and resistance, depending on local<br />

conditions and on the current political climate both inside and outside the educational<br />

institution (Benesch, 1999:314).<br />

Da mesma forma como a autora, entendo a sala de aula como um local que permite<br />

a ocorrência de negociação e de participação dos alunos e onde também pode haver<br />

resistência para o encaminhamento do curso. A Análise de Direitos, portanto, vai além da<br />

Análise de Necessidades, pois vê o aluno não apenas como o aprendiz que está matriculado<br />

num determinado curso e que assimila as regras comunicativas e lingüísticas do meio ao<br />

qual pertence, ou ao qual está se engajando, mas como um participante do processo<br />

acadêmico, que pode e deve ajudar a moldar a natureza e as formas de avaliação do curso<br />

do qual participa (Dudley Evans, 2001: x).<br />

Assim, conforme aponta Benesch (2001), a Análise dos Direitos pode ser<br />

adicionada à Análise de Necessidades conforme proposta por autores como Hutchinson e<br />

Waters (1987), uma vez que se muda o foco dos requisitos institucionais para possibilidade<br />

de engajamento e de mudança por parte dos alunos (Benesch 2001:108). Além disso, ao<br />

destacar a relevância das condições locais dentro e fora da sala de aula, Benesch (1999) faz<br />

lembrar da importância da Análise do Meio (means analysis), conceito esse apresentado e<br />

discutido por Dudley Evans e St. John (1998). Para esses autores, a Análise do Meio<br />

permite ao professor/designer compreender dois fatores muito importantes num curso: a<br />

cultura de sala de aula e a infra-estrutura e cultura institucionais.<br />

Carkin (2005), por sua vez, também defende um processo de Análise Continuada de<br />

Necessidades que incorpore o conceito de Análise de Direitos proposto por Benesch (1999;<br />

2001) e de Meio, proposta por Dudley Evans e St. John (1998).<br />

E é exatamente esse procedimento que foi adotado em minha pesquisa: a Análise de<br />

Necessidades feita no início do projeto foi conduzida de forma a se obter um levantamento<br />

da situação alvo antes do início do curso; o mesmo instrumento foi utilizado no início de<br />

cada ano, verificando a consistência dos dados obtidos inicialmente; e no período de dois<br />

anos em que o curso foi acompanhado foram utilizados instrumentos de análise na forma de<br />

questionários de avaliação do curso respondidos pelos alunos, permitindo modificações e<br />

adaptações no transcorrer do percurso. Esse procedimento permitiu que se trouxesse à tona,<br />

durante a pesquisa, a Análise Continuada de Necessidades, a Análise do Meio (Dudley<br />

Evans e St. John, 1998) e a Análise de Direito (Benesch, 1999; 2001). O processo permitiu,<br />

também, a emergência de outro procedimento: a Negociação como forma de se articular os<br />

695


Direitos a um processo de Análise Continuada de Necessidades dos participantes do curso<br />

instrumental de inglês.<br />

A pesquisa desenvolvida por Weyersbach (2002), ao propor um curso instrumental<br />

de inglês negociado no contexto da Internet, apóia-se, dentre outros suportes teóricos, na<br />

Análise Continuada de Necessidades (Dudley Evans e St. John, 1998) e no conceito de<br />

negociação no âmbito do processo ensino-aprendizagem, conceito esse “entendido como<br />

compartilhamento da tomada de decisões entre alunos e professores e para o gerenciamento<br />

da aprendizagem pelo próprio aluno” (Weyersbach, 2002: 35). O conceito utilizado pela<br />

autora fundamenta-se em Breen e Littlejohn (2000), que propõem seis princípios<br />

subjacentes à negociação no processo de ensino-aprendizagem de línguas e que podem<br />

auxiliar a tomada de decisões para o desencadeamento do planejamento do curso. São eles:<br />

A negociação é um meio para o engajamento responsável na comunidade<br />

representada pela sala de aula. 2<br />

A negociação estabelecida dentro da sala de aulas num curso de línguas, sendo esta<br />

sala entendida como um microcosmo da sociedade na qual ela está inserida (Breen e<br />

Littlejohn, 2000: 20), passa a ter uma função educativa, auxiliando o estudante para que<br />

assuma responsabilidades. Conforme apontam os autores: (...) a classroom culture can be<br />

more or less democratic in the original meaning of this term. The more explicitly ways of<br />

working are agreed, the more likely a collaborative approach to achieving shared goals<br />

can be fostered (Breen e Littlejohn, 2000: 20).<br />

Isso significa que, com a negociação dentro da sala de aula, o aluno passa a se sentir<br />

também agente responsável pelo processo educativo, deixando de lado a passividade que é<br />

comum nesse contexto e assumindo um papel colaborativo.<br />

A negociação pode construir e refletir a aprendizagem como um processo<br />

emancipatório.<br />

Diferentemente de formas tradicionais de ensino, que assumem que o aluno é um<br />

receptáculo vazio no qual o conhecimento deve ser inserido (Freire, 1970), ou do método<br />

behaviourista, calcado em estímulos e respostas (Skinner, 1970), a negociação na sala de<br />

aula pode auxiliar no processo formativo do aluno, permitindo que a aprendizagem seja um<br />

processo emancipatório, que reconhece o aluno como indivíduo social e historicamente<br />

constituído. Conforme apontam Breen e Littlejohn (2000:22), o exercício da aprendizagem<br />

emancipatória em sala de aula pode ser identificado como a tarefa compartilhada do<br />

desenvolvimento e da adaptação do currículo de acordo com as necessidades emergentes,<br />

as dificuldades e as conquistas alcançadas. Ou seja, a negociação encontra ressonância nas<br />

teorias de ensino-aprendizagem progressistas (Moraes, 1997; Giusta, 2003b).<br />

A negociação pode ativar os recursos sociais e culturais de uma turma.<br />

Breen e Littlejohn (2000) partem do princípio de que, devido ao fato do<br />

conhecimento construído e compartilhado em sala de aula evoluir num processo coletivo<br />

através das interações em aula, de textos, e das práticas sociais estabelecidas entre alunos e<br />

professor, ele é maior do que se fosse um processo criado individualmente, mesmo que pelo<br />

professor. Isso leva a entender que, quando os alunos se sentem engajados no processo de<br />

tomada de decisões, eles se tornam mais responsáveis e se apropriam das responsabilidades,<br />

2 Os seis princípios propostos por Breen e Littlejohn foram traduzidos livremente por mim.<br />

696


ou seja, “...If the social process is explicitly directed at the negotiation of alternative<br />

understandings or the understanding of a single person, the learning can entail a sense of<br />

ownership rather than mere reproduction” (Breen e Littlejohn, 2000:22).<br />

A negociação capacita os aprendizes a se tornarem agentes no processo de<br />

aprendizagem.<br />

Conforme apontam Breen e Littlejohn (2000), as pesquisas em sala de aula de<br />

línguas mostram que geralmente os alunos são colocados, ou assumem, um papel passivo<br />

no processo ensino-aprendizagem (Chaudron, 1988; Van Lier, 1996, dentre outros). Esse<br />

posicionamento dos alunos é, a meu ver, fruto da estrutura tradicional de ensino vivenciada<br />

por muitos ao longo dos anos. Essa situação de passividade faz com que o aluno espere que<br />

tudo aconteça “de cima para baixo”: ou seja, o aluno “espera” que o professor, o programa,<br />

o currículo, ou a instituição definam o que deve ser aprendido, como deve ser aprendido e<br />

como será feito o processo de avaliação. Dentro dessa visão, assume-se que o aluno não<br />

tem conhecimento prévio suficiente ou capacidade para participar na tomada de decisões<br />

sobre seu processo de aprendizagem. No entanto, conforme mostram Breen e Littlejohn<br />

(2000), a negociação oportuniza um contexto para que o aluno articule, e<br />

conseqüentemente, refine seus propósitos e suas intenções como pontos de referência para a<br />

aquisição de novos conhecimentos.<br />

A negociação pode enriquecer o discurso de sala de aula como recurso para a<br />

aprendizagem da lingua.<br />

A negociação voltada para a linguagem utilizada em sala de aula e para as<br />

dificuldades encontradas pelos alunos com relação à língua propriamente dita são<br />

apontadas por Breen e Littlejohn (2000) como uma forma de enriquecimento da<br />

aprendizagem.<br />

(...) overt negotiation that potentially calls upon the contribuitions of everyone in the group<br />

diversifies the input, extends opportunities for learner output, and allows the exercise of<br />

judgements of appropriacy and accuracy in relation to the language made available for<br />

learning.( Breen e Littlejohn, 2000:26).<br />

Isso significa que a explicitação das dificuldades relacionadas à aprendizagem da<br />

língua feita pelos alunos, para os alunos e para o professor, pode se tornar uma fonte rica<br />

para o processo ensino-aprendizagem.<br />

A negociação pode embasar e ampliar as estratégias pedagógicas do professor.<br />

Finalmente, o último princípio apontado por Breen e Littlejohn (2000:27) diz<br />

respeito ao papel do professor no processo de negociação. Independentemente do contexto<br />

em que o professor atua, os autores apontam para o fato da sala de aula representar um<br />

microcosmo do tipo de sociedade valorizada pelo professor. Portanto, nesse sentido, o<br />

professor traz para o seu trabalho em sala de aula, e para o processo de negociação, suas<br />

concepções sobre ensino-aprendizagem, suas percepções sobre os aprendizes e sobre o<br />

contexto em que o curso está inserido. Conforme Breen e Littlejohn (2000: 27) colocam,<br />

“... negotiation entails that the teacher has the right to negotiate, and how she or he<br />

exercises this right also serves as a model for learner engagement in it.”<br />

Isso significa que o professor deve saber até que ponto a negociação pode ocorrer<br />

dentro das limitações e das potencialidades inerentes ao contexto educacional e cultural em<br />

697


que o curso se insere, o que lhe permitirá estabelecer os limites do que pode, ou não, ser<br />

negociado, tornando o processo de negociação uma solução para as dificuldades inerentes<br />

ao curso. Ainda segundo Breen e Littlejohn (2000), a negociação não é uma abordagem,<br />

um método ou uma técnica. Ela representa uma possibilidade de encaminhamento na<br />

condução do trabalho daqueles professores que acreditam na necessidade de um processo<br />

de tomada de decisões na sala de aula, ou num curso, e que querem atribuir<br />

responsabilidades também aos alunos no, e pelo, processo de aprendizagem.<br />

A negociação, portanto, permeia o processo de Análise Continuada e pode ser<br />

associada à pesquisa-ação.<br />

3. A possibilidade metodológica proposta para este estudo<br />

Kemmis e Mc Taggart (1986: 11-14 apud Burns 2005) propuseram um modelo que<br />

reforça a teoria de Lewin da pesquisa-ação como uma espiral auto-reflexiva. Esse modelo é<br />

composto por quatro momentos, que resumo a seguir:<br />

Planejamento – antecede a ação e é embasado criticamente, pois reconhece as<br />

verdadeiras limitações da pesquisa e os potenciais para ações mais efetivas.<br />

Ação – planejada e controlada, e também criticamente embasada, pois reconhece a<br />

prática como idéias em ação mediadas pelo “esforço” por melhorias materiais,<br />

sociais e políticas.<br />

Observação – traz um posicionamento do pesquisador, pois documenta a ação, seus<br />

efeitos e seu contexto de situação de forma crítica.<br />

Reflexão – avaliativa e descritiva, pois procura entender os processos e os<br />

problemas da ação.<br />

De acordo com Burns (2005), um dos aspectos mais marcantes da pesquisa-ação é<br />

seu caráter repetitivo, ou cíclico por natureza. Com base nesse modelo de Kemmis e Mc<br />

Taggart (1986: 11-14 apud Burns 2005) acima resumido, descrevo um exemplo de uma<br />

pesquisa-ação feita por Riding, Fowell e Levy (1995) para a elaboração de um plano de<br />

curso de graduação sobre comunicação mediada por computadores. Esses autores<br />

desenvolveram a pesquisa-ação em dois ciclos que contemplam os elementos acima,<br />

conforme ilustra o quadro a seguir:<br />

698


Quadro 1 Os ciclos propostos por Riding, Fowell e Levy (1995:3)<br />

Tal modelo de pesquisa assemelha-se à proposta de Análise Continuada de<br />

Necessidades para cursos instrumentais de línguas, assim como sugerida por Dudley Evans<br />

e St John (1998) e à Análise de Direitos, conforme analisada por Benesch (1999), ou seja:<br />

da mesma forma que os diferentes momentos da pesquisa-ação formam um ciclo e<br />

repercutem no desenrolar da pesquisa, a Análise de Necessidades (e de Direitos) repercute<br />

no planejamento do curso, que reflete no curso em si que, por sua vez, é alimentado,<br />

direcionado e re-direcionado pela Análise Continuada, formando, assim, também, um ciclo.<br />

No entanto, como esclarece Van Lier (1996): The steps and cycles do not happen in<br />

sequential successive fashion, I think, but rather they are simultaneous strands that are<br />

braided together as one goes along. I might think about planning while observing, reflect<br />

while planning, revise my plan while acting, and so on. (Van Lier, 1996: 34).<br />

Isso significa que, durante o andamento do processo, as ações não ocorrem<br />

necessariamente de forma seqüencial: há momentos em que acontecem sobreposições,<br />

entrelaçamentos entre os diversos movimentos que compõem esse tipo de pesquisa.<br />

Então, partindo da afirmação de Burns (2005) quanto ao caráter repetitivo e cíclico<br />

da pesquisa-ação, utilizando o exemplo proposto no modelo proposto de Riding, Fowell e<br />

Levy (1995), e consciente de que os movimentos da pesquisa-ação podem sobrepor-se e<br />

entrelaçar-se (Van Lier, 1996), desenvolvi um modelo para melhor ilustrar o percurso de<br />

minha pesquisa, que se deu em quatro ciclos, conforme ilustra o quadro a seguir:<br />

699


Ação 1a<br />

Observação 1a<br />

Ciclo 1: Final<br />

de 02 e 1/03<br />

Plano 1 Reflexão 1b Plano 2 Plano 3 Plano 4<br />

Reflexão 1a<br />

Observação 1b<br />

Ação 1b<br />

Ação 2<br />

Ciclo 2<br />

2/03<br />

Observação 2<br />

Reflexão 2 Ação 3<br />

Quadro 1: Os quatro ciclos desta pesquisa<br />

Observação 3<br />

Reflexão 3<br />

Ação 4 Reflexão 4<br />

Observação 4<br />

Encaminhamentos<br />

O acompanhamento do curso deu-se ao longo de dois anos consecutivos: assim,<br />

cada um dos quatro ciclos da figura representa um semestre letivo do percurso. Os ciclos<br />

um e dois referem-se ao primeiro e segundo semestres de 2003, respectivamente; e os<br />

ciclos três e quatro, aos primeiro e segundo semestres de 2004. O “plano” de cada um dos<br />

ciclos detalha o planejamento que antecedeu a ação, i.e., o curso, e é embasado criticamente<br />

por meio da análise de necessidades, estabelecendo os potenciais para as ações a serem<br />

tomadas; “ação” e “observação” encontram-se entrelaçadas e são, portanto, descritas<br />

concomitantemente nesta pesquisa, pois não há como dissociá-las – a ação representa o<br />

curso em andamento, que é preparado a partir do plano inicialmente estabelecido e a<br />

observação é feita por mim ao longo de todo o processo; a “reflexão” é feita a partir da<br />

análise dos questionários respondidos pelos alunos ao final de cada uma das etapas do<br />

ciclo, é influenciada pelo que a antecede, i.e., a “ação” e a “observação” e repercute<br />

também nos encaminhamentos dos ciclos seguintes.<br />

O quadro a seguir sintetiza cada um dos ciclos da pesquisa:<br />

Ciclo 3<br />

1/04<br />

Ciclo 4<br />

2/04<br />

700


Plano<br />

Ação e<br />

observaçã<br />

o<br />

Reflexão<br />

Ciclo 1<br />

primeiro semestre de<br />

2003<br />

aplicação e análise de<br />

questionário preliminar<br />

de análise de<br />

necessidades e<br />

preparação de plano de<br />

ensino para 2003 -<br />

análise de necessidades<br />

no início de 2003;<br />

1a<br />

primeiro<br />

bimestre<br />

1a -<br />

Desenvolvi<br />

-mento e<br />

Acompanh<br />

a-mento do<br />

curso.<br />

1a -<br />

aplicação e<br />

análise de<br />

questionári<br />

o<br />

avaliativo<br />

ao final do<br />

primeiro<br />

bimestre<br />

de 2003<br />

1b<br />

segundo<br />

bimestre<br />

1b -<br />

reorganização<br />

do<br />

plano de<br />

ensino:<br />

desenvolvimento<br />

e<br />

acompanha<br />

mento do<br />

curso.<br />

1b -<br />

aplicação e<br />

análise de<br />

questionári<br />

o ao final<br />

do segundo<br />

bimestre<br />

de 2003;<br />

contribuiçõ<br />

es deste<br />

ciclo para a<br />

pesquisa.<br />

Ciclo 2<br />

segundo<br />

semestre de<br />

2003<br />

plano de ensino<br />

baseado na<br />

experiência<br />

adquirida no<br />

primeiro<br />

semestre.<br />

2 - segundo<br />

semestre de<br />

2003<br />

2 -<br />

desenvolvimento<br />

e<br />

acompanhamento<br />

do curso.<br />

2 - aplicação e<br />

análise de<br />

questionário ao<br />

final do segundo<br />

semestre de<br />

2003; as<br />

contribuições de<br />

2003 para o plano<br />

de curso de 2004<br />

Ciclo 3<br />

primeiro<br />

semestre de<br />

2004<br />

aplicação e<br />

análise do<br />

questionário de<br />

análise de<br />

necessidades e<br />

plano de ensino<br />

para o primeiro<br />

semestre de 2004<br />

3 - primeiro<br />

semestre de<br />

2004<br />

3 -<br />

desenvolvimento<br />

e<br />

acompanhamento<br />

do curso.<br />

3 - aplicação e<br />

análise de<br />

questionário ao<br />

final do primeiro<br />

semestre de<br />

2004;<br />

contribuições<br />

deste ciclo para a<br />

pesquisa.<br />

Ciclo 4<br />

segundo semestre<br />

de 2004<br />

plano de ensino<br />

baseado na<br />

experiência<br />

adquirida em<br />

2003 e no<br />

primeiro semestre<br />

de 2004<br />

4 - segundo<br />

semestre de 2004<br />

4 -<br />

desenvolvimento<br />

e<br />

acompanhamento<br />

do curso.<br />

4 - aplicação e<br />

análise de<br />

questionário ao<br />

final do segundo<br />

semestre de 2004;<br />

contribuições de<br />

2004 para a<br />

pesquisa.<br />

701


Quadro 3: Descrição dos ciclos da pesquisa<br />

Considerações finais<br />

A partir de um primeiro levantamento de Análise das Necessidades, que busca<br />

conhecer os alunos como usuários e aprendizes da língua inseridos num determinado<br />

contexto e que procura saber quais são as habilidades comunicativas necessárias e como<br />

adequar a aprendizagem da língua necessárias àquele contexto, procura-se conhecer não<br />

apenas a situação alvo, mas também o ambiente de aprendizagem. Em seguida, ao longo da<br />

pesquisa, são utilizados instrumentos para a avaliação do andamento do curso, que têm<br />

como função acompanhar o processo fazendo, assim, a Análise Continuada de<br />

Necessidades. Tal procedimento abre espaço para a Negociação, entendida como uma<br />

forma de se compartilhar decisões entre alunos e professores, reconhecer os Direitos dos<br />

alunos e gerenciar o processo de aprendizagem e de participação por meio da incorporação<br />

(ou não) de avaliações de curso feitas durante o processo. A Análise Continuada de<br />

Necessidades proposta por Dudley Evans e St. John (1998), associada à Análise de Direitos<br />

proposta por Benesch (1999; 2001), e à Negociação (Breen e Littlejohn, 2000) também<br />

interferem e modificam o planejamento do curso, o que me permite sugerir que todo o<br />

processo de Análise Continuada pode ser associado à metodologia da pesquisa-ação<br />

(Crookes, 1993; Burns, 2005, dentre outros), que é, por natureza, um processo cíclico. Os<br />

ciclos da pesquisa-ação são norteados pelo planejamento, ação, observação e análise, que<br />

em minha pesquisa em particular, se dão por meio da análise dos questionários avaliativos<br />

do curso, respondidos pelos alunos em momentos diversos. Esses questionários avaliativos,<br />

por sua vez, têm por função levar à análise do processo e conduzir as tomadas de decisão<br />

durante o percurso desta pesquisa.<br />

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