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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

Direitos de Cópia para<br />

Cecília Bacci & Guilherme Giordano<br />

ceciliabaccibscm@yahoo.com.br<br />

menuraiz@hotmail.com<br />

19 36651916<br />

EDITORA ALTERNATIVAMENTE<br />

produtoresindependentes@yahoo.com.br<br />

www.produtoresindependentes.zip.net<br />

TIRAGEM 8000 POR E-MAIL /<br />

DOWNLOAD EXCLUSIVO<br />

http://www.paginadeideias.com.br<br />

Coleção BROCHURA / <strong>PDF</strong> / ESPIRAL<br />

Capa<br />

COELHO DE MORAES<br />

Sobre foto sei lá de qu<strong>em</strong> for<br />

coelhod<strong>em</strong>oraes@terra.com.br<br />

EDITORA ALTERnativaMENTE<br />

2<br />

Cidade de Mococa<br />

São Paulo<br />

2010<br />

2


LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

LUA NEGRA<br />

ADÃO, LILITH, EVA, SAMAEL, CAIM, HÉCATE, LÂMIA, ÊMPUSA, IGRAT, ANJOS:<br />

SANVAI, SANSEVAI e SEMANGELOF, FILHA DE LILITH, soldados, mulheres e<br />

homens das legiões do Éden e das Legiões de Lilith , LAMASHTU (assassina<br />

crianças), STREGA, MAHALAT (Concubina de Samael). MONJES: Coro<br />

EDITORA ALTERnativaMENTE<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

LUA CRESCENTE<br />

Imag<strong>em</strong> da Lua cheia. Madrugada. Meio do mato. Névoa sai do chão. Barulho de<br />

água. Névoa sobre águas. Um ser com forma não definida – os atores envolvidos<br />

<strong>em</strong> abraço muito apertado como se foss<strong>em</strong> um.Os atores, recobertos porém com<br />

uma gosma densa parecida com gel ou com líquido amniótico. Separam-se <strong>em</strong><br />

estertores.<br />

Para não chover no molhado escusa dizer que o texto é pretexto. Pode-se<br />

interpretar oratorialmente ou trocar a oratória por cenas s<strong>em</strong> texto s<strong>em</strong>pre que<br />

possível.<br />

Mudança de t<strong>em</strong>po. O barulho das águas não para. Característica básica das cenas<br />

é a umidade, tentando uma ligação com a água da vida. Mais névoa.Uma folha,<br />

ocasionalmente, voa e desperta Adão.O casal, nesse início, t<strong>em</strong> um ar de assombro,<br />

leve desespero, buscando resposta para uma pergunta que não foi feita.<br />

CENA 1<br />

Adão acorda primeiro e se manifesta<br />

A: Meu corpo foi mudado. Mas falta uma parte... Falta parte do meu corpo e parte da<br />

minha m<strong>em</strong>ória. Do lodo da l<strong>em</strong>brança eu revejo um passado. Eu não via formas.<br />

Só havia névoas sobre a face do abismo. Então a luz se fez. (observa assombrado).<br />

Um brilho imenso que rasgou a noite. O que eu era percebeu-se <strong>em</strong> um mundo<br />

novo. Um Jardim seguro e definitivo.<br />

Lilith acorda <strong>em</strong> seguida e se manifesta<br />

L: Meu corpo foi mudado. Mas falta uma parte. Falta parte do meu corpo e parte da<br />

minha m<strong>em</strong>ória. Do lodo da l<strong>em</strong>brança eu revejo um passado. Houve dia e houve<br />

noite. Água dos mares e água da chuva. Folhas e frutos cresceram da terra. Raízes<br />

brotaram do ventre da terra. (olha <strong>em</strong> torno desesperada) Animais pastam livres<br />

nas terras do Jardim.<br />

Aproximam-se para se conhecer<strong>em</strong>. Tocam um ao outro. Há estranheza com a<br />

textura do lodo, do gel, do manuseio do corpo.Tudo aquilo que é tabu para a platéia<br />

deve ser explorado pelos hominídeos recém-nascidos. Os atores dev<strong>em</strong> encarar a<br />

situação sob a óptica de qu<strong>em</strong> chegou agora e nada sabe, mantendo, no entanto,<br />

as sensações de adulto. Nunca foram crianças.<br />

Subitamente um brilho atrás e a silhueta de um anjo munido de espada. Novo brilho<br />

<strong>em</strong> pontos diferentes do palco e surg<strong>em</strong>, ao mesmo t<strong>em</strong>po, três anjos: SANVAI,<br />

SANSEVAI e SEMANGELOF. Ambiente enevoado, principalmente quando os anjos<br />

falam. Nada é muito claro e pode ser confundido com sonho. Luzes e cores<br />

aumentam esta sensação.<br />

S1: Que seja feito um ser à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de El Shadai.<br />

S2: Tenha ele domínio sobre os peixes, as aves, os animais, sobre toda a terra do<br />

Jardim.<br />

S3: Criou-se um ser à imag<strong>em</strong> de El Shadai. Hom<strong>em</strong>-Mulher os criou.<br />

A e L se tocam e testam seus corpos<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

A: Estamos nós aqui.<br />

L: Senhores da Terra.<br />

A: E eu a reconheço <strong>em</strong> mim e <strong>em</strong> você me reconheço.<br />

L: De tudo poder<strong>em</strong>os usar? De tudo poder<strong>em</strong>os comer?<br />

A: Mas, não vejo mais <strong>em</strong> quê somos iguais ao criador.<br />

L: Qual criador?<br />

(Adão não sabe explicar / pausas e cont<strong>em</strong>plações)<br />

L: Nada t<strong>em</strong> nome. Do que chamar<strong>em</strong>os nessas coisas? Do que nos chamar<strong>em</strong>os?<br />

A tudo nomear<strong>em</strong>os? Dar<strong>em</strong>os ord<strong>em</strong> a tudo.<br />

S1: São proibidos de ter Ciência das coisas, ou a Morte chegará.<br />

A: Somos seres incompletos? O que é isso?: Morte.<br />

S2: Não. A Morte é como um sono que durará para s<strong>em</strong>pre. Vocês nada sab<strong>em</strong> da<br />

Morte<br />

L: Somos os senhores da Terra, e isso de nada nos vale?<br />

S3: Só há um Senhor nessas terras e ele é El-Shadai.<br />

L: A ânsia de querer. A ânsia de saber. Procurar para entender que caminhos<br />

dev<strong>em</strong>os tomar. Agora é nossa propriedade.<br />

A: O desespero nos faz pensar? O Jardim todo está completo, com a árvore da<br />

vida plantada para nós...<br />

L: Plantada <strong>em</strong> nós!<br />

A: Mas, há uma fome interior que ainda se instala.<br />

S1: A fome de conhecimento que é, ao mesmo t<strong>em</strong>po, a fonte da perdição.<br />

L: Usar<strong>em</strong>os todas as árvores. Nossa fome t<strong>em</strong> de saciar.<br />

S2: Quando estiver<strong>em</strong> completamente cientes do que falam deixarão tudo isso de<br />

lado. Então serão senhores da magna ciência.<br />

A: Está vendo? Não pod<strong>em</strong>os mexer na árvore da Ciência.<br />

L: Mas é justamente dela que precisamos. Esses seres estão fazendo um jogo<br />

duplo. Plantam uma árvore da qual não pod<strong>em</strong>os tomar seus frutos.<br />

S1: Esses frutos são proibidos, como já foi dito e eu reafirmo. Ordens de El-Shadai.<br />

L: Como é possível que se proíba justamente daquilo que mais se precisa?<br />

A: As legiões criadoras assim determinaram.<br />

L: Qu<strong>em</strong> garante que esses fantasmas faz<strong>em</strong> parte das legiões criadoras?<br />

A: Eu sei que as legiões criadoras nunca fizeram morada na Terra. Eu sei.<br />

L: Nunca é uma palavra muito forte para qu<strong>em</strong> acabou de nascer. Nós somos<br />

senhores da Terra, que isso fique b<strong>em</strong> claro. Usar<strong>em</strong>os tudo. Comer<strong>em</strong>os de tudo.<br />

Dar<strong>em</strong>os nome a tudo. Dar<strong>em</strong>os ord<strong>em</strong> a tudo. O Jardim está aberto e é amplo.<br />

Vou sair pelos campos conhecendo e nomeando tudo o que eu puder ver.<br />

A: Mas, por favor, não saia dos domínios do Jardim.<br />

Lilith olha para Adão. Algo como a questionar. E parte. Em seguida imagens que<br />

possam determinar um Éden perfeito e belo.<br />

Fade out Fade in Para Lilith coberta de barro <strong>em</strong> conversa íntima com Adão. Eles<br />

estão grudados como se a aproximação bastasse para rejunta-los. A expressão<br />

corporal é o determinante.<br />

L: Eu também fui feita da terra. Tenho direitos sobre o Jardim e dele farei o que<br />

quiser. Não se ponha a dar ordens e n<strong>em</strong> a interpretar a vontade de El Shadai como<br />

se fosse ele.<br />

A: O nosso lugar é aqui.(toma do barro do chão) Usufruir e retirar prazer do Jardim,<br />

nada mais do que isso.<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

L: Mais do que isso é saber. Saber das coisas. Buscar outros caminhos. E é preciso<br />

saber. Nós tenho um mundo para conhecer.<br />

A: Já foi dito que é proibido conhecer.<br />

L: Não existe qu<strong>em</strong> nos proíba de nada. As portas estão abertas.<br />

A: A legião de criadores impôs limites... entenda parte-de-mim-que-se foi...<br />

L: Para que não nos torn<strong>em</strong>os iguais a eles. Esse é o medo que eles têm. O medo é<br />

deles e não meu.<br />

A: Os Anjos de El Shadai não permitirão que você saia pelo mundo além do Jardim.<br />

L: Eu sei como sair. Basta pronunciar o nome do Príncipe deste Mundo.<br />

A: E as desgraças descerão sobre todos os seres viventes.<br />

L: Todos os seres viventes mortais...<br />

(ela se espoja na lama. Com o barro ela fará objetos. Ela dançará sobre o barro.)<br />

Kether... Binah.. Hochmah...<br />

(aos gritos, delirante. Corte para Lilith deitada na terra de um campo aberto,<br />

ensolarado, mas seco. Cena curta. Fade out.<br />

Fade in: Os corpos estão molhados.O casal olha para as águas. Adão puxa Lilith<br />

para si.Tentativa de sexo. Depois de algum t<strong>em</strong>po ela passa se apartar dele. Sexo é<br />

conflito e é descoberta. Ela tenta outras posições mas Adão s<strong>em</strong>pre que ficar por<br />

cima. Tradicional. Conflito.<br />

L: Todas as vezes <strong>em</strong> que faz<strong>em</strong>os isso você quer ficar por cima... o peso do seu<br />

corpo me sufoca.<br />

A: Assim é o certo.<br />

L: Por que devo deitar-me <strong>em</strong>baixo de você? Por que devo abrir o meu corpo? Por<br />

que ser dominada por você?<br />

A: Quieta... (meio rude) abre as pernas pra eu entrar.<br />

L: Eu também fui feita de pó e por isso sou sua igual.<br />

A: Eu me recuso a mudar essas posições. Há uma "ord<strong>em</strong>" que não pode ser<br />

transgredida. Lilith deve submeter-se. Todos os animais se submet<strong>em</strong>.<br />

L se revolta. Sai de baixo Cena mística, com ritual.<br />

L: Vou <strong>em</strong>bora...o mundo é imenso...as portas se escancaram aos meus sonhos...à<br />

minha imaginação... e às minhas experiências.(ela se põe a pegar o barro e fazer<br />

imagens, a construir coisas) Eu invocarei os nomes sagrados. Eu sairei daqui... eu<br />

quero espaço... eu quero criar... eu quero fazer o mundo crescer.<br />

Lilith sai <strong>em</strong> velocidade. Ca<strong>em</strong> as sombras da noite.Fade para uma LUA CHEIA.<br />

Vinheta para Adão que t<strong>em</strong> relações com a terra ou se masturba fazendo lama com<br />

esperma e terra ( da lama e das sujeiras da terra) Fade para a cena que se segue.<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

EDITORA ALTERnativaMENTE<br />

LUA CHEIA<br />

CENA 2<br />

Vento sobre areia. Em uma caverna ou <strong>em</strong> ruínas como pós guerra. Fogueira e<br />

sombras. Castiçais e material de couro e artefatos de guerra. Vários guerreiros<br />

chegam e depositam seus objetos naquele lugar. Tochas por todo lado.Cantigas<br />

originais e rudes.<br />

Samael (satisfeito e arrogante): Lilith! - o d<strong>em</strong>ônio f<strong>em</strong>inino noturno de longos<br />

cabelos varre esses desertos com as suas legiões.<br />

Igrat: Ela é uma força, um poder, uma qualidade, uma renegada. Um Espírito Livre.<br />

Odeia ser contida por qualquer palavra. Nenhuma palavra a impede de nada. Não é<br />

à toa que as legiões a segu<strong>em</strong> para onde deseja.<br />

SA: Nossa vitória é certa. O planeta cairá sob o poder da mulher livre... Os homens<br />

que sofreram a ação de Lilith quer<strong>em</strong> arranjar desculpas por se ajoelhar<strong>em</strong> perante<br />

ela, por isso escrev<strong>em</strong> seus livros sagrados e espalham esses livros pelo mundo.<br />

Pelo jardim.<br />

I: A maldição de Lilith. Onde ela está agora?<br />

SA: Atrás dos anjos de El Shadai. Os anjos que mataram alguns filhos que ela teve<br />

com o primeiro macho.<br />

I: Rude golpe. Isso a transformou.<br />

SA: Obrigaram-na a fugir. Escapar para as margens do Mar Vermelho, ou para o<br />

deserto ou voando para os céus. Os anjos não a deixam <strong>em</strong> paz. Mas, ela tampouco<br />

quer paz. (para os soldados) Guerreiros! Levant<strong>em</strong> os archotes. T<strong>em</strong>os que partir<br />

dessas instalações pois os exércitos dos anjos estão para chegar.<br />

I: Para onde partirão?<br />

AS: O deserto nos receberá. Seguir<strong>em</strong>os para o Leste. Encontrar<strong>em</strong>os com as<br />

legiões de Lilith por lá.<br />

I: São suas as ordens e é o seu poder de comando.<br />

AS: Eu sou o senhor de seus exércitos.<br />

I: O príncipe Samael, da grande estirpe Luciferiana que v<strong>em</strong> habitar a Terra.<br />

Hécate: Chamam Lilith de d<strong>em</strong>ônio noturno, de tão veloz, quer<strong>em</strong> que ela tenha<br />

asas.<br />

S: Ela é LIL, uma t<strong>em</strong>pestade destruidora, ou espírito do vento. Mas ela também é a<br />

noite... e a chamam LAYIL, a noite.. Mas o que chamam destruição nada mais é que<br />

a vontade de impor um novo padrão para a humanidade.<br />

Guerreiro: Senhor... estamos prontos para seguir.<br />

S: Já vou. .<br />

H: El Shadai ouviu as reclamações de Adão e lhe deu uma nova mulher. Uma nova<br />

e subserviente mulher.<br />

S: Qu<strong>em</strong> disse isso? Alguém para ser a mãe da Humanidade? (Ri)<br />

H: Todos os d<strong>em</strong>ônios da terra falam por aí. Uma mulher... Para ser adorada pelos<br />

acomodados e pelos que idolatram a obediência.<br />

S: Obedecer é dar ao outro o poder e a responsabilidade.<br />

H: Obedecer é trair a confiança da humanidade. Anular a renovação.<br />

S: Lilith não está aqui para ob obedecer. A ela não interessa nada disso. Seu destino<br />

é seduzir os homens, eliminar as crianças e espalhar a morte.<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

H: Ela e o Macho primordial nunca souberam o que significa uma criança .<br />

S: Assim fica mais fácil. (Sai)<br />

CENA 3<br />

De dentro do pó da terra – rel<strong>em</strong>bra local onde Adão fecundou a terra - Surge uma<br />

mulher deitada <strong>em</strong> posição <strong>em</strong>brionária: EVA. Adão está composto com alguma<br />

roupa rude.<br />

A: Qu<strong>em</strong> é você?<br />

E: (Como que tendo visões) Macho e fêmea os criou. Macho-fêmea, à imag<strong>em</strong> e<br />

s<strong>em</strong>elhança de Deus.<br />

A: Procuro a-parte-que-me-foi. São tantas as mulheres desta terra que eu não sei<br />

mais de onde se v<strong>em</strong> e para onde se vai...<br />

E: El-Shadai me enviou.<br />

A: Você nasceu da minha s<strong>em</strong>ente?<br />

E: Se quiser... fica comigo.<br />

A: Eu habito esse Jardim e não quero perdê-lo. Passei os dias tentando encontrar o<br />

meu outro pedaço... hoje eu acho que essa procura será inútil....<br />

E: Estou aqui...<br />

A: Você não é a que de mim se foi.<br />

E: Mas tenho os mesmos atributos.<br />

A: Será impossível encontrar qu<strong>em</strong> verdadeiramente me complete nessa imensidão<br />

de mundo.... entre tantas milhares de pessoas e animais...<br />

E: Vou ficar do seu lado... para s<strong>em</strong>pre... se você quiser...<br />

A: Gerar filhos e cuidar do Jardim... nada de nutrir idéias pelo mundo. Querendo<br />

praticar as duas coisas ao mesmo t<strong>em</strong>po a mulher pode ficar invadida pelo furor<br />

assassino de...<br />

E: De qu<strong>em</strong>? Outra mulher?<br />

A: ... não(!)... essa não é mulher... é um d<strong>em</strong>ônio(!)... Lilith... ela está do outro lado.<br />

Ela fugiu do Jardim... ela coabita com outros d<strong>em</strong>ônios... e gera d<strong>em</strong>ônios...<br />

E: E como ela se parece?<br />

A: Afasta-se dela... e não tome das árvores... não coma dos frutos... nenhum fruto...<br />

E: Mas eu já provei de alguns...<br />

A: (desesperado) Não! Afaste-se daquela árvore do centro do Jardim. Ela nos<br />

poderá matar... assim disseram os anjos...<br />

PASSAGEM DE TEMPO para...<br />

Cena noturna. Lilith e outras mulheres na mata. Lâmia. Uma dança orgiástica.<br />

Risadas. Um drama. Lilith entra <strong>em</strong> transe. Cena delirante e movimentada.<br />

L: Adão foi expulso do Jardim do Éden. Adão, gerará espíritos, d<strong>em</strong>ônios machos e<br />

fêmeas. Ele romperá relações com a sua mulher.<br />

LÂ: ( bruxas aos gritos lascivos ): Os sons noturnos, as dores noturnas. Os perigos<br />

para as almas de todo ser vivo. Lilith é a fêmea de Samael. Esposa de Ashmodai.<br />

Mulher de todos os d<strong>em</strong>ônios da Terra. Adão foi retirado dela. Ela sabe do que fala.<br />

Mas, isso tudo é vingança, também.<br />

L: Por que razão seria eu como a que se cobre com o véu?<br />

LÂ: O governo do mundo é todo seu.<br />

S: Vinho! Vamos com<strong>em</strong>orar as últimas vitórias no campo sangrento.<br />

EDITORA ALTERnativaMENTE<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

(vinho jogado sobre os corpos – orgia geral. Palavras entre risadas e loucuras.<br />

Brumas. Fade para os anjos)<br />

S1: O macho era Samael e a fêmea era Lilith. Lilith foi enviada para viver com a<br />

humanidade.<br />

S2: A mulher sedutora, o súcubo mortal e a mãe castradora.<br />

S3: As águas nutr<strong>em</strong> Lilith e o vento Sul diss<strong>em</strong>ina sua influencia.<br />

CENA4<br />

Solene. Tribunal de anjos TA. Dentro de uma catedral ou igreja sob ângulos<br />

estranhos. Um gongo ou clarins. Movimento de monges.<br />

TA1: Sejam todos informados de que está decretado o banimento da mulher<br />

d<strong>em</strong>ônio... (falatório entre os monges) Uma ord<strong>em</strong> de divórcio chegou às nossas<br />

mãos vinda dos céus. Lilith...bruxa e raptora, considera-te banida.<br />

TA2: Uma ord<strong>em</strong> de divórcio chegou para a mulher... vinda do mar...ouçam todos!<br />

Ela deverá partir... não deverá discutir n<strong>em</strong> manifestar-se... Nunca mais!<br />

TA3: Seja num sonho à noite, seja <strong>em</strong> cochilos diurnos, por que ela está selada por<br />

El Shadai... sairá daqui para viver com seus d<strong>em</strong>ônios... daqui... o divórcio e<br />

separação enviado através dos anjos sagrados...<br />

TA4: Lilith partirá para o deserto... viverá lá na companhia de seus d<strong>em</strong>ônios:<br />

sátiros, corujas e chacais!<br />

Arauto: (repetindo como para reafirmar) Decretado o banimento da mulher! Uma<br />

ord<strong>em</strong> vinda do mar! Uma ord<strong>em</strong> vinda do céu!<br />

TODOS: Saibam todos que Lilith é filha da Lua e mãe de soldados destruidores. Ela<br />

não mais pertence à criação. Ela está banida desta e de todas as terras.<br />

CENA5<br />

Dia avermelhado com filtros ou gravações ao por ou nascer do sol. A cena se<br />

transpõe – ao final da fala - para as margens do Mar Vermelho. Lilith ajoelhada,<br />

olhando as águas e pegando o pó da terra. Atrás v<strong>em</strong>os uma procissão a cavalo(?)<br />

de entrada dos Três Anjos – TA. Do outro lado das águas os SOLDADOS de Lilith –<br />

SL. Cortes alternados: TA, L e SL. Água do mar s<strong>em</strong>pre a bater.<br />

TA: El Shadai nos envia para trazê-la de volta.<br />

SL: Lilith! (ela levanta a mão dizendo que tudo b<strong>em</strong>)<br />

TA: É a ti que procuramos. Volta s<strong>em</strong> d<strong>em</strong>ora para junto de Adão.<br />

L: Como poderei voltar para junto de Adão e ser sua mulher servil, depois que<br />

vocês mataram meus filhos? E depois da minha permanência às margens do Mar<br />

Vermelho?<br />

TA: Você é mulher e deve ser perdoada. Não foi feita parta ter ciência. (Ela sorri).<br />

TA: Volta s<strong>em</strong> d<strong>em</strong>ora para junto de Adão, ou afogar<strong>em</strong>os você!<br />

SL: Lilith! ( aponta para movimentos de tropas chegando. Ela só olha).<br />

TA: Se recusar será morta! Aqui mesmo no deserto. Afogada sob terra e mar.<br />

L: Como posso morrer se o próprio El Shadai me mandou tomar conta de todas as<br />

crianças recém-nascidas?<br />

SL: (soldado de Lilith grita e v<strong>em</strong>os, ao fundo, L e TA) Ela conhece o nome sagrado<br />

de El Shadai. Ela é a Lua.<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

TA: Ela é uma assassina de crianças.<br />

L: Vocês mataram os meus filhos.<br />

TA: Você s<strong>em</strong>pre gerou d<strong>em</strong>ônios. Você s<strong>em</strong>pre gerou a erva daninha da Terra.<br />

L: Devo cuidar dos meninos até o oitavo dia de vida e devo cuidar das meninas até o<br />

vigésimo. (Lilith está entre séria e cínica).<br />

TA: Você deverá estar pronta para morrer. Os d<strong>em</strong>ônios não terão poder sobre<br />

terra.<br />

L: Mas, <strong>em</strong> quê vocês serão diferentes de minhas Legiões?<br />

TA: As nossas legiões ainda serão maiores que as suas, bruxa desobediente.<br />

L: Não me interessa, propriamente, matar crianças. Isso não passa de estratégia.<br />

Crianças não têm qualquer significado.<br />

TA: Gabriel t<strong>em</strong> ordens de liderar uma falange para ocupar os desertos.<br />

L: Gabriel é como a águia que sobrevoa, mas, nunca pousa no desertos. Não<br />

sobreviveria.<br />

TA: E você convive com as cobras e chacais dessa terras.<br />

L: Isso é verdade. Foi o que me restou. Mas, Eu ainda posso fazer uma única<br />

concessão. Eu juro que se vir seus amuletos sobre as crianças e os soldados eu os<br />

pouparei. Já fui e voltei dos céus. Já fui e voltei dos infernos. Subjugada e reerguida,<br />

eu sou o açoite de Deus. Às vezes Deusa, às vezes D<strong>em</strong>ônio.<br />

SL: (o mesmo que acima) Ela t<strong>em</strong> a corag<strong>em</strong> de falar o inefável nome de Deus e é<br />

com esse nome que ela se desloca pelo mundo. Ela é a Lua Negra.<br />

TA e L se encaram. Em contraponto as cenas seguintes: FlashBack da criação. Lilith<br />

na cabana. Menstrua. Passa a mão no sangue . Ela não sabe o que deve fazer.Adão<br />

puxando Lilith para o sexo. Contra ponto entre Adão penetrando Lilitn e elas<br />

penetrando um inimigo com sua espada. Cenas de guerra no deserto.Corte para as<br />

margens.<br />

L: Eu gerei um exército para o Rei Ashmodai<br />

TA: Adão t<strong>em</strong> outra mulher, já que você não voltou. Não era bom que ele ficasse<br />

sozinho. Você não terá filhos com ele.<br />

L: (cínica) O Senhor do Jardim precisa de alguém para ajudá-lo. Uma irmã idônea,<br />

talvez. A mulher que não reclama. A mulher que aguenta tudo e recebe todas as<br />

ordens.<br />

(pausa)<br />

TA: Uma última tentativa.<br />

L: Estão com toda a minha atenção.<br />

SL avançam para a água<br />

TA: Que você volte e se submeta a Adão.<br />

Ela nega com a cabeça<br />

TA: (Movimento de cavalos) Então, você ficará no deserto com seus machos.<br />

L: As legiões se preparam. A noite se aproxima e a Lua cobrirá todos os céus do<br />

Universo.<br />

TA: Maldita seja... suas legiões perderão c<strong>em</strong> filhos por dia. Serão febres e solidão.<br />

Desaparecimentos e distancias. Faltará alimento. Faltará água e leite. Faltará mel.<br />

Lilith os vê partindo e sai para as águas, andando.<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

LUA MINGUANTE<br />

CENA 6<br />

As cenas do jardim, a pós a figa de Lilith tend<strong>em</strong>, a ser azuladas. Noturnas. Perto do<br />

jardim. Adão fala <strong>em</strong> sonhos. Eva, ao lado. Lilith entra, furtiva. A câmara a v<strong>em</strong><br />

seguindo enquanto ela desliza pelas águas ou lama. O ambiente é misterioso e<br />

enevoado. Rasteja sinuosa, coleante. T<strong>em</strong> que l<strong>em</strong>brar uma cobra.<br />

E: A mulher t<strong>em</strong> sido mutilada. Ela é s<strong>em</strong>pre metade do que deve ser.<br />

L: Nós pod<strong>em</strong>os ser um símbolo de sabedoria e de força.<br />

E: Qu<strong>em</strong> é você?<br />

L: Lilith.<br />

A: (delírio) Você, Lilith, não entrará n<strong>em</strong> nada fará; n<strong>em</strong> você n<strong>em</strong> o seu bando.<br />

Retorna, retorna, o mar está revolto, suas ondas a aguardam. Mantendo-me fiel ao<br />

sagrado, o Rei me perdoará.<br />

Lilith se aproximou,fazendo-o dormir com carinhos e carícias sexuais escondidos<br />

porém evidentes. Eva observa.<br />

E: Já tive muitas desavenças com Adão.<br />

L: É um hom<strong>em</strong>.. é um tolo.<br />

E: Ele me fala de você como se fosse um terrível d<strong>em</strong>ônio.<br />

L: Todos os homens falam assim de mim. É o medo.<br />

E: Mas, vejo que você é uma mulher como eu... diferente, por que d<strong>em</strong>onstra muita<br />

energia e rebeldia. Esse ar de liberdade que você mostra...<br />

L: As árvores e os muros estão por perto. É só pularmos.<br />

E: E do lado de lá...?<br />

L: (pensativa) Um imenso deserto. (animada) Uma terra pronta para ser<br />

transformada... um mundo para ser construído.<br />

E: São os limites de minha vida... o Jardim do Éden.<br />

L: Isso é uma prisão.<br />

E: Mas, sei que exist<strong>em</strong> outras terras além desses limites.<br />

L: Esse jardim me l<strong>em</strong>bra um local para coleção de animais. Um cativeiro.<br />

E: Os pássaros s<strong>em</strong>pre voam para fora do Jardim.<br />

L: Um cativeiro para procriação.<br />

(Eva olha para Adão)<br />

L: (para Eva) Qu<strong>em</strong> é você?<br />

E: Eu sou a mulher dele.<br />

L: Aquela que não existia no começo dos t<strong>em</strong>pos.<br />

E: Do que é que você está falando?<br />

L: Você não estava aqui quando eu e ele tomamos posse dessas terras.<br />

E: Adão fala de um d<strong>em</strong>ônio que habita esse lado da Jardim.<br />

(Durante a conversa Lilith oferece elas divid<strong>em</strong> u’a maçã / pode ser que mergulh<strong>em</strong><br />

numa piscina de maçãs / ou se rol<strong>em</strong> sobre maçãs no chão)<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

L: Não há d<strong>em</strong>ônio algum. Isso não passa de um desculpa. Mas, você não é um<br />

deusa como eu... criada à imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança de Deus.<br />

E: E o que é que você t<strong>em</strong> para contar?<br />

L: Eu sou a primeira mulher, mas, certamente não serei a mãe da humanidade e<br />

n<strong>em</strong> dos seres viventes da Terra.<br />

E: Do Jardim tudo se pode usar e conhecer... posso comer de qualquer árvore,<br />

menos a daquela. Mas eu tenho dúvidas.<br />

L: Se você não comer daquela árvore permanecerá com essas dúvidas.<br />

E: Aquela é a árvore da dúvida?<br />

L: (Ri) Algumas dessas dúvidas eu poderei resolver. Outras, eu deixarei com você.<br />

E: A dúvida é essa leve angústia?<br />

L: A dúvida não a matará. Será somente o seu leve desespero.<br />

E: Os anjos afirmaram que se eu souber da verdade eu acabarei morrendo.<br />

L: Isso é mentira. Mas o que consideramos por morte pode significar... mudanças.<br />

Comendo da árvore do meio do Jardim você se tornará outra pessoa. É certo que<br />

não morrerá. Mas é certo que você mudará.<br />

E: Então por que a proibição?<br />

L: Por que comendo dessa fruta seus olhos se abrirão e você perceberá que não<br />

precisa dos deuses – a não ser para tirar de si mesma a responsabilidade sobre sua<br />

vida. Tira de si mesma o poder de escolher.<br />

Eva acorda Adão e sai, olhando para Lilith que passa a falar para Adão.<br />

L: Não ficarei à vontade no papel de Eva. Sinto-me confusa.<br />

(Bruxa como um súcubu).<br />

Impulsos de tragédia e força, t<strong>em</strong>pestade e desastre vibram <strong>em</strong> mim.<br />

(Bruxas espojando atrás de sujeiras).<br />

Minhas imagens pessoais não eram as de um paraíso infantil, um protegido Jardim<br />

do Éden, mas os desertos acidentados, amarelos e marrons.<br />

(Heresias, iconoclasias)<br />

com rochas da cor do ferro fundido, cardos dourados e arbustos espinhosos.<br />

(Bruxas caçando crianças e levando silenciosamente).<br />

Além disso a diferença se oculta <strong>em</strong> nossas mentes e não <strong>em</strong> nossos corpos.<br />

(Orgia).<br />

L: Está b<strong>em</strong>. Viva sua vida tranqüila. Mas eu sou a sua outra mulher. Eu sou a parte<br />

que o completa, e não o deixarei; eu o amarei como s<strong>em</strong>pre amei.<br />

Quando Eva volta e os vê juntos, sente-se impelida a participar daquele jogo,<br />

usando Lilith para ter outros e novos gozos com o hom<strong>em</strong>. Eva repete gestos e<br />

aproveita restos de carinhos. Gozos.<br />

A: (para Eva) Lilith partirá ao amanhecer e eu não pretendo vê-la mais. Se ajo<br />

apaixonadamente é porque nossa felicidade é curta.<br />

L: Mas deixarei meu sabor e meu cheiro grudado na sua pele.<br />

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A: Eva é minha mulher.<br />

L: Com ela deixarei os sonhos com o ciúme e a inimizade.<br />

A: Mas, eu não quero conviver com isso.<br />

L: Então, livre-se dela.<br />

Corte para dança de Lilith sob a luz da fogueira. Seres como animais invad<strong>em</strong> a<br />

cena para se acasalar com Lilith.<br />

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LUA NEGRA<br />

CENA 7<br />

Cena de fim de batalha. Carnificina. Samael está na caverna. O texto deve fazer<br />

contraponto com as cenas de guerra mesmo que coreografadas.<br />

S: As forças de guerra estão destruindo a humanidade.<br />

H: Na guerra não há mais Leis. E as que exist<strong>em</strong>, provavelmente, as do inimigo<br />

deverão ser quebradas.<br />

S: As Lâmias com<strong>em</strong> as carnes de seus inimigos. Sugam seus sangues.<br />

H: São vingadoras do mal que lhes acometeram um dia.<br />

S: As Hécates estrangulam as crianças recém-nascidas no Jardim. A espada<br />

flamejante de Gabriel está pendente sobre nossas cabeças.<br />

H: Proibidas de ter<strong>em</strong> seus filhos, tomarão para si qualquer ser vivente que estiver<br />

desprotegido nas grandes noites da Lua Negra.<br />

S: E as Empusas cantam canções de prazer para todos os ídolos, logo após a<br />

expulsão de Adão e Eva do Jardim do Éden.<br />

Corte súbito. O casal sai expulso. Cabisbaixo. Os três anjos comandando.<br />

H: Caiu? O casal protegido caiu? O encontro de Lilith com Eva surtiu o efeito<br />

necessário. O Hom<strong>em</strong> vai pagar por seu domínio sobre a Terra tendo que colher<br />

dela e nela morrer.<br />

S: O macho da espécie, Adão, percebeu que era como um deus e para não tomar<br />

comando da árvore da vida , ou seja, viver para s<strong>em</strong>pre - foi expulso do Jardim.<br />

H: É hora de plantar as s<strong>em</strong>entes da nova humanidade.<br />

S: Lilith! (falando para o vazio <strong>em</strong> alto e bom som) fica sabendo que suas legiões<br />

estão crescendo a cada momento.(soldados sa<strong>em</strong> de buracos, como que brotando)<br />

H: Sob teu comando, Samael, as batalhas sobre a Terra durarão para s<strong>em</strong>pre. Você<br />

é a espada do Rei Ashmodai.<br />

S: Oitenta mil espíritos destrutivos estão sob o domínio da Lua Negra.<br />

H: A Terra há de tr<strong>em</strong>er sob o poder dessas Serápis... dessas Serpentes... desses<br />

Seraphins!<br />

S: Nenhuma dessas guerras teria acontecido não fosse a arbitrariedade das hostes<br />

sob o comando dos Três Anjos.<br />

Seqüência onírica. Talvezm <strong>em</strong> Preto e Branco. Lilith encontra uma faca no chão.<br />

Samael invade, solitário, os matos.Lilith anda até uma casa que t<strong>em</strong> a marca de uma<br />

cruz. Eva está plantando. Lilith bate de leve na porta com a faca e a porta se abre.<br />

Eva nota algum barulho nos matos.Lilith entra num quarto escuro, iluminado por uma<br />

lareira. Samael continua sua <strong>em</strong>preitada. Lilith vê no fogo várias cobras queimadas<br />

que ela toma como cinzas e esfrega nas mãos. Eva está espectante e deixa de<br />

plantar e se aproxima de uma beirada de lago ou mato. Lilith tira a faca do fogo e<br />

toca no teto da casa. Samael invade o local e pega Eva com violência. A casa de<br />

Lilith desaparece e ela está no deserto, de noite e o fogo ardendo ao lado. Samael<br />

penetra Eva.<br />

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CENA 8<br />

(Mudança prolongada de t<strong>em</strong>po Adão sozinho, turbado <strong>em</strong> sua mente, sofrendo,<br />

chorão. Lilith se aproxima sedutora, mas <strong>em</strong> silêncio. Está de capa, só)<br />

Adão: O que você veio fazer aqui?<br />

Lilith: Um vez você me chamou.<br />

A: Eu?<br />

L: Sim, uma vez, quando ainda estávamos no Éden e do barro éramos formados.<br />

A: Eu? No Jardim?<br />

L: Sim, sim, você caminhava pelo Jardim do Éden, o Hom<strong>em</strong> da natureza, um dos<br />

senhores da Terra, protegido de Lúcifer. Você se l<strong>em</strong>bra?<br />

ela mexe <strong>em</strong> seus cabelos.<br />

A: Eva está grávida.<br />

L: Como os animais. S<strong>em</strong>pre que você cobiçava os animais e os cobria, você torcia<br />

as mãos e chorava aflito.<br />

A: Eva fez a mesma coisa.<br />

L:... e começava a contar nos dedos quanto t<strong>em</strong>po ainda faltava para poder se<br />

fazer Humano.<br />

A: Mas agora eu estou corrompido. Fui expulso do Jardim. Eva agiu como você. E<br />

eu fui aprisionado por ela... pela sua sedução...<br />

L: Naquele momento você me chamou. Agora você t<strong>em</strong> a mim, à sua disposição.<br />

Você é meu querido. Quero colocar a cabeça <strong>em</strong> seu peito. Quero que suas mãos<br />

ardentes me abrac<strong>em</strong>, querido! Quero sentir a fresca fragrância do seu corpo...<br />

A: Mulher, você deve estar enganada.<br />

L: Olhe! Você é o meu único hom<strong>em</strong>! Olhe para o meu corpo! Meus quadris ainda<br />

são castos, virginais, fortes e minhas coxas macias e lisas... Os bicos de meus seios<br />

são duros e meus seios nunca amamentaram uma criança... nunca amamentaram<br />

uma criança... nunca amamentaram...<br />

(chora)<br />

A: Fora! Fora daqui! Vá <strong>em</strong>bora, monstro! Puta asquerosa! Saia daqui!<br />

(Corte <strong>em</strong> luz para Samael que,enquanto anda pelos charcos, percebe que alguém<br />

está chegando.<br />

Corte para Lilith imóvel. Observa o hom<strong>em</strong>. Ela o acaricia. Adão está meio nublado)<br />

A: Eva! É você! Eva!<br />

L: V<strong>em</strong> para mim. Deite-se sobre meus seios. Sinta meu frescor.<br />

A: Não! Somos mortais... não somos iguais aos deuses... somos culpados e malditos<br />

para s<strong>em</strong>pre.<br />

L: Essa maldição não recaiu sobre mim.<br />

A: Você viverá para s<strong>em</strong>pre?<br />

L: S<strong>em</strong>pre que houver algum nascimento.<br />

A: Não quero mais filhos para expor ao Terror.<br />

L: O seu Deus agora é o seu Terror? Mas é a árvore da sabedoria qu<strong>em</strong> lhe dá essa<br />

oportunidade para ver que o mundo depende das obras dos homens e não dos<br />

deuses.<br />

A: Mas, você é uma deusa.<br />

L: E para que sirvo eu senão para destruir. Por isso você se deitará comigo, com<br />

raiva a serpente primordial.. Adão é seduzido. Lilith por cima, comandando a cópula.<br />

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Narrador, sob filme <strong>em</strong> telão, alto volume: As batalhas eram intensas. E o mundo<br />

parecia despencar. Anos se passavam enquanto as Legiões se batiam. Não havia<br />

paz. Naqueles t<strong>em</strong>pos se começava a construir a humanidade.<br />

CENA 9<br />

Caim se aproxima aos arrastos. Chuva.<br />

C: Lilith! Morr<strong>em</strong> seus filhos aos milhares. O Mar Vermelho está coagulado de<br />

espíritos Lilim que morr<strong>em</strong> por ord<strong>em</strong> das hostes de El Shadai.<br />

Samael o encontra nos arredores<br />

S: El Shadai declara guerra que perdurará ao longo dos séculos. A mim resta<br />

obedecer uma ord<strong>em</strong> que o próprio Shadai há de declarar. Cada morte na minha<br />

legião terá a sua morte correspondente entre os filhos de Eva.<br />

C: Eu sou um filho de Eva.(preocupado)<br />

S: Eu sei... Mas Eva também concebeu a Abel.<br />

C: Eu sou o primeiro dos irmãos.<br />

S: Mas, parece que El Shadai prefere as oferendas do segundo.<br />

C: De qualquer forma eu não sou o tutor de meu irmão.<br />

S: O que se há de fazer? Sabe que a nossa meta é minar os filhos de Eva...<br />

C: ...para preservar a descendência de Lilith...<br />

S:...e forjar os valorosos Cainitas... que governarão a Terra<br />

C: O filho de Lilith então, já é nascido?<br />

Samael olha o céu, aspira o ar, sente as brisas<br />

S: Por certo que sim. E deverá dominar as noites.<br />

C: Mas o poderio de El Shadai ainda é grande.<br />

S: Se você agir corretamente, as dúvidas no Jardim aumentarão. Abel deve<br />

desaparecer.<br />

C: E eu serei maldito sobre a terra. Errante sobre este mundo.<br />

S: Mas, serás pai da humanidade e seus artífices. E nós s<strong>em</strong>ear<strong>em</strong>os a terra com<br />

sangue, para o nascimento de heróis e novos deuses. Vai, Caim... vai executar o<br />

seu trabalho.<br />

CENA 10<br />

Lilith está grávida e tenta lutar. T<strong>em</strong> dificuldade. Velocidade menor. Soldados e<br />

outras bruxas precisam ajudá-la. Carregá-la para fora do campo de batalha.<br />

CENA 11<br />

Dança orgiástica <strong>em</strong> volta da fogueira. Música de tambores e trombetas. Lilith dará à<br />

luz neste clima.<br />

Lâmia:<br />

É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É<br />

nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga.<br />

L: Eu não sou apenas um buraco para receber a s<strong>em</strong>ente do hom<strong>em</strong>. N<strong>em</strong> sou<br />

somente mãe.<br />

LÂ: Por certo não se limita ao proscrito enlace nupcial.<br />

L: Eu sou ligada à terra. Meu sexo pertence a mim e à Deusa.<br />

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Empusa: O que pertence à Deusa é assunto que diz respeito às mulheres. Enquanto<br />

passamos por todas as fases da Lua, nosso corpo de manifesta e se altera. O sexo<br />

pertence a nós e à Deusa.<br />

LÂ: O nascimento da sua filha significa que você está livre novamente<br />

L: Na mesma mulher: o lado submisso e servil... o lado rebelde e punitivo.<br />

Emp: Lado rebelde... não há lado rebelde... ou haverá lado que não se rebela... o<br />

que há é a incapacidade dos homens de entender<strong>em</strong> nossos desígnios, mesmo por<br />

que... somos responsáveis por nossos caminhos... (debochando)... lado rebelde...<br />

Lâmia: O século está para isso. Novas gerações de mulheres. Organizar o mundo<br />

ao nosso modo. Evitar o nascimento de tantos homens.<br />

Grupo de Mulheres: É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe,<br />

irmã e inimiga.<br />

H: Uma é a mãe da Humanidade e a outra o açoite de El Shadai.<br />

Emp: El Shadai experimenta Lilith contra a humanidade. O jardim do Éden é um<br />

jardim de delícias para os cegos e acomodados. Um Paraíso para os que nada<br />

criam... nós faz<strong>em</strong>os as vontades de El-Shadai.(senta e mija no chão)<br />

Lâ: A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É nascida a filha de Lilith. El<br />

Shadai percebe o poder que <strong>em</strong>ana de Lilith / Os dias de El Shadai também estão<br />

contados.<br />

L: Vamos levantar o maior dos exércitos para destruir a humanidade...<br />

Emp: No nosso sonho v<strong>em</strong> esse fantasma de guerra e renovação<br />

LÂ: Uma humanidade que pudesse entender os signos do nosso fluxo de sangue...<br />

mas o que t<strong>em</strong>os não serve para nada, no mundo criado por Adão.<br />

Emp: Nimrod constrói uma Torre que acaba no céu. Isso é coisa da cabeça dos<br />

homens.<br />

L: Nimrod está cometendo um erro. El Shadai terá uma reação.<br />

Lamashtu: Para mim, Nimrod está querendo levantar um enorme pênis, apara provar<br />

que é hom<strong>em</strong> e que manda no mundo.<br />

Emp: Lilith deve se livrar desse incesto imaginário por que não há irmão perdido e<br />

muito menos gêmeo. Provavelmente ele terá se enfiado <strong>em</strong> outra mulher. Há tantas.<br />

LÂ: Aquele que seria igual a Lilith... o seu duplo... a alma gêmea?... que<br />

ingenuidade... o construtor dessa humanidade patriarcal.<br />

L: Essa alma não penetrou <strong>em</strong> mim... Um outro corpo usou as minhas carnes...<br />

Emp: Lilith... as notícias que nos chegam é a de que o casal do Paraíso teve que<br />

deixá-lo pois quiseram entender o que você tentava dizer.<br />

LÂ: Muitos corpos conheceram a tua carne... a filha de Lilith é filha da Humanidade.<br />

L: Não quero ser mãe da humanidade.<br />

LÂ: Só há um jeito.<br />

H: Matar a criança.<br />

(Cena da morte de Abel por Caim, que foge).<br />

H: Ele é o dono da vara... é ele qu<strong>em</strong> planta as s<strong>em</strong>entes...<br />

LÂ: Rude pilão... Adão b<strong>em</strong> que aprendeu a usar o seu... era esse o supr<strong>em</strong>o<br />

segredo da criação?<br />

L: A mulher é o saco s<strong>em</strong> fundo... E agora t<strong>em</strong>, que matar sua criança, para viver<br />

s<strong>em</strong> perigo.<br />

LÂ: Você foi o cego soquete...... a bolsa onde ele depositou suas s<strong>em</strong>entes... onde o<br />

mundo depositou seu futuro.<br />

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Lilith eleva sua criança acima das cabeças. Bombos. Uma orgia <strong>em</strong> segundo plano.<br />

Aparec<strong>em</strong> uns d<strong>em</strong>ônios peludos, carregado de substancias gelatinosas verdes que<br />

envolv<strong>em</strong> a todos.<br />

Lâmia: É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto /<br />

É nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga.<br />

elas se sentam como à uma mesa para debates finais<br />

H: As filhas de Eva estarão sujeitas às dores de Lilith à cada diminuição da Lua.<br />

LÂ: Serão encruzilhadas de suas vidas f<strong>em</strong>ininas. Toda a opressão, as inverdades,<br />

as prisões da tribo, tornarão a mulher <strong>em</strong> mãe dolorosa.<br />

H: A Santa sofredora.<br />

Emp: A humanidade dirá que a mulher é santa para que não se rebele e se<br />

mantenha calada no seu canto... no seu borralho...cuidando das cozinhas e das<br />

crianças...<br />

H: É isso o que você quer, Lilith?<br />

Emp: É isso o que terá se mantiver a criança com você.<br />

H: A criança é um <strong>em</strong>pecilho.<br />

LÂ: Cabe a você mostrar o caminho da liberdade. Com suas ações... com seus<br />

ex<strong>em</strong>plos... seus infortúnios.<br />

L: Eu não quero ficar à mercê do domínio masculino.<br />

LÂ: Nenhuma de nós vai ficar. Lilith, você já d<strong>em</strong>onstrou como se luta...<br />

H: Como se rompe com o Jardim do Éden...<br />

Emp: Como se voa pelas terríveis terras do Mar Vermelho...<br />

LÂ: Como se livra das maldições dos anjos...<br />

H: Puberdade, menstruação, início e fim de gravidez, maternidade e o fim dessas<br />

funções de fêmea... são domínio das Hécates. Serv<strong>em</strong> para construir excelentes e<br />

subalternas Evas pelo mundo.<br />

L: As duas primeiras luas (intercalar imagens de luas) são símbolo de Eva,<br />

prevendo a fecundação e talvez a concepção; o cheiro ativa os machos. Eva se<br />

sente receptiva, aberta , relacionada.<br />

Emp: Mas, quando a concepção não ocorre, Lilith assume o domínio.<br />

H: A expectativa cede lugar ao desespero e a bruxa raivosa das duas luas seguintes<br />

arrasta-a ao desolado deserto.<br />

LÂ: Pensa b<strong>em</strong>... o planeta se apresenta para nós como uma folha <strong>em</strong> branco. Cabe<br />

a você liderar a ocupação ao longo dos séculos. Você sabe domar os homens. Sabe<br />

como cavalgá-lo. Sabe se tornar <strong>em</strong> súcubo que vai fodê-lo nas noites...<br />

L: Tendo parido... terei de cuidar da criança?... terei de amar a criança?<br />

LÂ: Você t<strong>em</strong> de se livrar da criança. Não há como lutar, como trabalhar, como<br />

correr nos campos de guerra e ainda ter que cuidar dos filhos e da caverna. Se<br />

todas as mulheres tiver<strong>em</strong> filhos os homens dominarão a terra!<br />

CENA 12<br />

Cenas nos campos de batalha. Bruxas entram correndo e aos gritos no campo. Rola<br />

percussão <strong>em</strong> atabaques. Clima de caserna.<br />

Emp: Os exércitos de Samael a esperam. O mundo a espera. Ele quer mudanças e<br />

somente as pessoas livres é que pod<strong>em</strong> operar mudanças, Lilith!<br />

H: Você ficará presa nas duas luas de Eva.<br />

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LÂ: A criança é o seu entrave... é o que atrapalha o seu caminho na humanidade.<br />

Emp: Mate-a!!<br />

L: Não! Eu quero a liberdade. Tenho batalhas a cumprir.<br />

H: Liberdade também é solidão.<br />

L: Tenho um mundo a descobrir e construir. E sei que há muita coisa por obra de<br />

Adão! Ele deu nome a tudo! A mão de Lilith teve que parar para cuidar de filhos!<br />

H: É hora do retorno de Lilith.<br />

L: Proponho arrasar uma cidade inteira com apenas uma gota de meu sangue<br />

menstrual.<br />

H: Eva pode ter suas necessidades satisfeitas. Você, não. Você t<strong>em</strong> de andar pelo<br />

mundo.<br />

L: Não aceito a dependência e a submissão. Não aceito ser acorrentada ou<br />

enjaulada. Sou livre, quero mover-me e mudar.<br />

Emp: Você t<strong>em</strong> que domar o hom<strong>em</strong>. Sujeitá-lo aos seus gozos. É você qu<strong>em</strong> dever<br />

se mover. É você qu<strong>em</strong> t<strong>em</strong> que saber a hora certa de plantar as s<strong>em</strong>entes...<br />

L: Só a mulher sabe como o seu corpo responde segundo o aparecimento das Luas.<br />

cessam os atabaques. Silêncio.<br />

(Bruxas invad<strong>em</strong> um casa. Imped<strong>em</strong> que a mulher acorde e copulam com o<br />

companheiro, violentamente)<br />

LÂ: Vá se desenvolver no deserto, s<strong>em</strong> relacionamentos, s<strong>em</strong> Eros, s<strong>em</strong> filhos...<br />

mas, com ciúmes de Eva, que permanecerá abraçada ao hom<strong>em</strong>, porém,<br />

acorrentada aos filhos e ao seu Jardim.<br />

Hécate & Lâmia & Empusa:<br />

É nascida a filha de Lilith. / A Grande Lua escurece a noite com seu canto / É<br />

nascida a filha de Lilith / A grávida esposa noturna é mãe, irmã e inimiga.<br />

S: Os exércitos invadirão o Jardim do Éden. O desenvolvimento da batalha é<br />

procurar alterar a vida do inimigo. Para frente, generais...<br />

H: (falando aos generais secretamente durante as lutas) Cada d<strong>em</strong>ônio deve tomar<br />

uma mulher do Jardim.<br />

S: Os generais e as legiões dev<strong>em</strong> comer as mulheres.<br />

LÂ: Ensinar<strong>em</strong>os feitiçarias e encantamentos...<br />

Empusa: (desvairadamente) Dev<strong>em</strong> foder as mulheres<br />

S: As propriedades das raízes e das árvores...<br />

LÂ: Toda a sorte de meios para evitar que nasçam mais crianças nas nossas<br />

legiões. Nada de nascimentos indesejados entre nós. Mas, quer<strong>em</strong>os muitos...<br />

muitos... entre os filhos de Eva.<br />

H: Grávidas e pesadas serão estorvo nas batalhas e na construção do mundo.<br />

S: E elas conceberão gigantes. Filhos das Legiões, filhos dos soldados e generais<br />

de Lilith.<br />

LÂ: Enxertar naquelas mulheres a s<strong>em</strong>ente do filhos do céu.<br />

S: Conceberão gigantes. Serão os herdeiros da Terra.<br />

as bruxas se encontram num charco observando a batalha que flui para longe delas,<br />

perdendo-se o som<br />

Emp: Os filhos dos deuses gerarão gigantes nas filhas dos homens.<br />

LÂ: Esses filhos monstruosos, impossíveis de se nutrir, se voltarão contra os pais.<br />

S: Não serão humanos. Terão nascido alheios à humanidade.<br />

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LÂ: Nascerão como filhos de Caim. Os herdeiros que se multiplicarão na Terra.<br />

S: E os homens, a ponto de morrer<strong>em</strong>, elevarão suas vozes, e suas vozes subirão<br />

até os céus... mas não serão ouvidos...<br />

LÂ:... pois estamos obedecendo as ordens de El Shadai. Crescer, multiplicar e<br />

habitar a Terra.<br />

A filha de Lilith é trazida por Lâmia, como bebê. Um ritual. Aparecerão várias<br />

crianças sendo trazidas preparadas para um holocausto, noi meio daquele charco e<br />

no meio da batalha<br />

L: Broto do meu ventre... você vai se despedir do mundo...<br />

(enquanto isso segue uma massa de soldados se preprando para batalha e<br />

caminhando)<br />

É sabido que nós... revoltosas e grandes s<strong>em</strong>eadoras da humanidade jamais<br />

poder<strong>em</strong>os amar os nossos filhos... jamais!!<br />

(ao fundo os gritos de ord<strong>em</strong> para as legiões: Á frente soldados! Hoje cairá o<br />

Jardim!! Estão contado o t<strong>em</strong>po das legiões de Gabriel)<br />

Broto do meu ventre, outra parte de mim... Ver<strong>em</strong>os nossos amados exterminados...<br />

é outra parte que se vai...<br />

(uma imag<strong>em</strong> de soldados partindo para uma outra imag<strong>em</strong> que será o Jardim)<br />

Chorar<strong>em</strong>os e suplicar<strong>em</strong>os pelos filhos desaparecidos...<br />

(algumas bruxas se juntam ao que Lilith fala a cada trecho desses permeado por<br />

movimentos de guerra)<br />

Chorar<strong>em</strong>os nossas perdas para s<strong>em</strong>pre... Jamais obter<strong>em</strong>os paz ou misericórdia...<br />

(grande pausa onde só ouvimos a chuva) Adeus... Para mantermos a nossa<br />

liberdade... nossa velocidade... nossa força... nossa independência... Para nos<br />

vermos livres do julgo dos machos das espécie... não poder<strong>em</strong>os manter os nossos<br />

filhos....<br />

(elas elevam os cutelos, facões ou machados. Os soldados se imobilizam,<br />

principalmente as hostes de Gabriel, por causa do inusitado da cena. O corte da<br />

imag<strong>em</strong> é na batida da lâmina)<br />

Trilha com Coro <strong>em</strong> OFF ataca no momento do corte, enquanto as mulheres sa<strong>em</strong><br />

da caverna ou esconderijo (ruínas) para a luta :<br />

Lua Negra, Lilith, irmã das trevas / Criada da lama da Terra / Na minha fraqueza e<br />

na minha força / Dê-me a forma da clava de fogo<br />

Lua Negra, Lilith, Égua da Noite / Abre seu leito no chão do deserto / Fala o nome<br />

sagrado e voa / Pronuncia o verbo secreto da criação!<br />

Part<strong>em</strong> para a batalha aos berros para alcançar a batalha lá na frente.<br />

FIM<br />

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O LIVRO DO GENESIS<br />

Um livro de adaptações, desde a inspiração até as cópias mais ordinárias<br />

MOISÉS<br />

com uma força e apoio moral de<br />

COELHO DE MORAES<br />

sob ataque de anjos e arcanjos, querubins e do Serafim<br />

a estréia dessa obra deu-se <strong>em</strong> 2004, julho,<br />

no Teatro Oscar Villares, cidade de Mococa, SP,<br />

com<br />

Claudinei Costa, Sergio Spina, Túlio Nunes, Cilso Celino e Vanessa Dias.<br />

Coelho De Moraes na direção e Guilherme Giordano na técnica.<br />

Sist<strong>em</strong>a coringa para todas as personagens exceto Deus.<br />

EDITORA ALTERnativaMENTE<br />

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LUA NEGRA & O LIVRO DO GENESIS COELHO DE MORAES<br />

ELOIN: (aclamação com trombetas) Façamos o hom<strong>em</strong> à nossa imag<strong>em</strong> e s<strong>em</strong>elhança.<br />

Que ele reine sobre os peixes, sobre as aves, sobre os animais e sobre toda a terra, e<br />

sobre todos os répteis que se arrast<strong>em</strong> sobre a terra. Nós, Heliojins, somos entidades<br />

solares de supr<strong>em</strong>a envergadura. Seres de luz resplandecentes. Serpentes aladas. O<br />

criar<strong>em</strong>os à sua imag<strong>em</strong>; criamos à nossa imag<strong>em</strong>... criamos o hom<strong>em</strong> e mulher.<br />

A - Deus era hom<strong>em</strong> e mulher no mesmo momento? No mesmo corpo?<br />

Todos: (para a platéia) Será o nosso mundo o único mundo?<br />

B - Assim foram acabados os céus, a terra e todo seu exército.<br />

A – Já chegam com exército.<br />

C - No t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que o Senhor Deus fez a terra e os céus, não existia ainda arbustos e<br />

ervas nos campos, porque o Senhor Deus não tinha feito chover sobre a terra, n<strong>em</strong> havia<br />

qu<strong>em</strong> a cultivasse; mas subia da terra um vapor que regava toda a superfície.<br />

Todos - O Senhor Deus, a entidade Solar, o olho de Ra, formou, o hom<strong>em</strong> do barro da<br />

terra, e inspirou-lhe nas narinas um sopro de vida e eis o ser vivente.<br />

A - Êta! Que esse promete.<br />

B – Da mesma forma fez o herói Prometeu fez, com os seres moldados do barro.<br />

Deus: Levanta a cabeça! O que vês sobre ti, ardendo no escuro céu da meia noite?<br />

A: (mão <strong>em</strong> pala olhando para o breu) Nada!<br />

Adon: (servil) Eu percebo uma chama.<br />

Deus: Agora olha para ti mesmo. Não percebe que é a mesma chama? (A olha para si e<br />

balança negativamente a cabeça) Rasga o véu de Ísis e enxergará tudo como realmente<br />

é. Enquanto te mantiver na ilusão, estarás <strong>em</strong> meio ao nada, estarás imerso no lodo,<br />

estarás <strong>em</strong> queda.<br />

ELOIM: (aclamação com trombetas) O Senhor Deus tinha plantado um jardim no Éden,<br />

do lado do oriente, e colocou nele o ser que havia criado. Fez brotar toda sorte de<br />

árvores, agradáveis, e de bons frutos; e a árvore da vida no meio do jardim, e a árvore<br />

da ciência do b<strong>em</strong> e do mal. (grito) Cabalah!<br />

Deus - Podes comer do fruto das árvores do jardim; mas não comas do fruto da árvore<br />

da ciência do b<strong>em</strong> e do mal; porque assim que comeres, morrerás.<br />

Todos - (para a platéia) É o nosso mundo o único mundo?<br />

Deus - Não é bom que o hom<strong>em</strong> esteja só.<br />

A - Adon, o governante, o ser, nomeou a tudo: vivente ou não. Deus lhe deu profundo<br />

sono; enquanto ele dormia, tomou dele uma costela e fechou com carne o lugar.<br />

B – Mas uma costela também pode ser chamada célula. Dessa célula pode se fazer um<br />

clone. Só hoje sab<strong>em</strong>os disso. Desse pedaço de corpo se faz um outro corpo.<br />

A - Parece que naquela época já sabiam disso.<br />

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B - Um clone. S<strong>em</strong>elhante ou diferente. Manipulável na genética? Manipulável na sua<br />

diretriz? Um Golén? Um escravo hebreu s<strong>em</strong> vontades?<br />

A – Um escravo?<br />

B- Um hebreu...<br />

A- S<strong>em</strong> vontades?<br />

C – (furioso gritando para o alto) Qu<strong>em</strong> são essas pessoas que manipularam a<br />

humanidade? Qu<strong>em</strong> são esses senhores que vieram dos céus e transformaram o planeta<br />

<strong>em</strong> laboratório de experiências? Qu<strong>em</strong> é que desce à Terra com aves brilhantes de metal<br />

fundido? Foi na terra que se criaram os monstros?<br />

B – (ritualístico) E da costela, da célula, da carne, do sêmen, que tinha tomado do ser,<br />

ou separado do ser, o Senhor Deus montou outro ser, aparent<strong>em</strong>ente compl<strong>em</strong>entar. Ou<br />

um não-hom<strong>em</strong>, a negativa do hom<strong>em</strong>. A parte perdida, a outra parte do hom<strong>em</strong>. O<br />

contrário daquilo que já existia. Hom<strong>em</strong> ou Mulher.<br />

Todos - Qu<strong>em</strong> são os progenitores do hom<strong>em</strong> na terra?<br />

Adão - Eis agora aqui, o osso de meus ossos e a carne de minha carne; ela se chamará<br />

mulher – Adamah - porque foi tomada do hom<strong>em</strong>.<br />

(conversa de esquina)<br />

A – Não, não, não, da Mulher sairá o Hom<strong>em</strong>. Quando o <strong>em</strong>brião começa a se formar a<br />

diferenciação é do f<strong>em</strong>inino para o masculino. E não o contrário. Depois t<strong>em</strong> outra...<br />

Adamah quer dizer mulher do barro.<br />

C – Não! nada disso. Os dois se separam no sono. No começo eram um só. O primeiro<br />

ser era hermafrodita. Todo mundo sabe...<br />

ELOIM - (aclamação com trombetas) Por isso o hom<strong>em</strong> deixa o seu pai e sua mãe para<br />

se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne.<br />

Todos: Poesias.<br />

A - Que pai e que mãe serão esses, se não havia ninguém mais na Terra? Ou havia?<br />

C – Discute-se tanta coisa e não se discute a falta de umbigo <strong>em</strong> Adão e Lilith.<br />

B – Mas eis que outro ser aparece. Um seraphin, uma serápis, uma serpente, um anjo<br />

<strong>em</strong>plumado a vagar pelos céus? Um ser falante. Falavam os animais?<br />

Serápis - É verdade que Deus vos proibiu comer do fruto de toda árvore do jardim?<br />

Adão - Pod<strong>em</strong>os comer dos frutos do jardim. Mas do fruto da árvore que está no meio<br />

do jardim, não comer<strong>em</strong>os dele, n<strong>em</strong> tocar<strong>em</strong>os nele, para que não morramos.<br />

Serápis - Nada disso! Ninguém morre! Deus b<strong>em</strong> sabe que, no dia <strong>em</strong> que comer<strong>em</strong><br />

deles, os olhos se abrirão, e serão como deuses, conhecedores do b<strong>em</strong> e do mal.<br />

(A mulher pega um fruto e oferece a Adon. Eles rolam no chão, juntos, íntimos).<br />

C - A inteligência de ambos se abriu. (o casal continua rolando e o outro observa) Isso é<br />

que dá. Seres de mente aberta.<br />

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Deus - Onde estás?<br />

Adão - (choroso e assustado) Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo,<br />

porque estou nu; e ocultei-me.<br />

Deus - Qu<strong>em</strong> te revelou que estavas nu? Terias porventura comido do fruto da árvore<br />

que eu te havia proibido de comer?<br />

Adão – Ela apresentou-me deste fruto, e eu comi.<br />

Deus - Porque fizeste isso?”<br />

Adamah - A serpente, o Serafim, superiluminado anjo, enganou-me, e eu comi.<br />

Deus - (vingativo para Adamah) Darás à luz com dores, teus desejos te impelirão para o<br />

teu marido e será dominada. (vingativo para Adão) Já que ouviu a voz da mulher e<br />

comeu do fruto que eu havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Vai<br />

trabalhar duro para obter sustento todos os dias da vida. Ela te produzirá espinhos e<br />

abrolhos, e comerás a erva da terra. Comerás o pão com o suor do rosto, até que voltes<br />

à terra de que foste tirado; porque és pó, e pó te tornarás. Eis que o hom<strong>em</strong> se tornou<br />

como um de nós – um ser de luz, vidente e previdente, um deus solar enfiado numa<br />

carne lodosa e barrenta. Conhece o b<strong>em</strong> e o mal. Não deix<strong>em</strong>os que ele estenda a mão<br />

e tome também do fruto da árvore da vida ou viverá eternamente. Gabriel, expulsa-os<br />

do jardim, para que Adon cultive a terra donde foi tirado. Cherubins-soldados armados<br />

até os dentes com espada flamejante, guardarão o caminho da árvore da vida. Aí eu<br />

quero ver.<br />

A - Um hom<strong>em</strong> saiu de mim com a ajuda do Senhor. Caim é o primogênito.<br />

Todos - Depois, deu à luz Abel, irmão de Caim. Abel tornou-se pastor e Caim lavrador.<br />

(Os atores Abel e Caim oferec<strong>em</strong> holocaustos. Abel é b<strong>em</strong> recebido. Cain não)<br />

Deus - (debochado) Por que estás irado? E por que está abatido o teu s<strong>em</strong>blante? Se<br />

praticares o b<strong>em</strong>, s<strong>em</strong> dúvida alguma poderás reabilitar-te.<br />

Caim - Qual a moral do B<strong>em</strong> <strong>em</strong> t<strong>em</strong>pos primitivos como estes? Coabitar com animais<br />

será o b<strong>em</strong>? Enquidu, aquele sumério abestalhado, meio hom<strong>em</strong> meio bicho é produto do<br />

b<strong>em</strong>? Gilgamesh, o Sumério, sábio e ativo é o representante do b<strong>em</strong>? Os dois?<br />

Deus - (como se não desse ouvido) Se agires mal o pecado estará à tua porta,<br />

espreitando-te. Tu deverás dominá-lo. Procura saber o que é o mal e o que é o b<strong>em</strong>.<br />

(Caim pensa / toma de um cacete / e mata Abel ali mesmo)<br />

Deus - Onde está seu irmão Abel?<br />

Caim - Sei lá! Deve andar por aí... (cínico) atrás da suas ovelhas...<br />

Deus – Não seja zonzo...<br />

Caim – Ué. A culpa não é minha... se pega a ovelha ou a velha mãe... mas a escolha não<br />

é minha...<br />

Deus – Cadê Abel?<br />

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Caim - Sou por acaso o guarda do meu irmão?<br />

Deus - Que fizeste! A voz do sangue do teu irmão clama por mim desde a terra. Você<br />

será maldito e expulso. A Terra lhe negará frutos. Serás peregrino e errante sobre ela.<br />

Caim - Meu castigo é grande d<strong>em</strong>ais para que eu o possa suportar. Me expulsa agora<br />

deste lugar, e eu devo ocultar-me longe de vossa face, tornando-me errante sobre a<br />

terra.<br />

Deus - O primeiro que me encontrar, vai te matar...<br />

C – Como matar... não há mais ninguém a não ser os três – Adão, Eva e Caim!... Lilith<br />

talvez...<br />

A - O mundo já era habitado?<br />

B – Será isso um jardim Zoológicos de humanos?<br />

Deus - Não quero saber! Aquele que matar Caim será punido muitas vezes. Ponho <strong>em</strong><br />

Caim um sinal. Qu<strong>em</strong> o encontrar pelo caminho não o mate.<br />

A - Caim t<strong>em</strong> agora um sinal, u’a marca que o torna diferente entre os d<strong>em</strong>ais.<br />

Todos – Pai da humanidade. Todos filhos de Caim. Cainitas. Não adianta reclamar.<br />

C – Caim, o pai da humanidade, conheceu sua mulher. Ela concebeu e deu à luz Enoc.<br />

Adão conheceu outra vez sua mulher, e esta deu à luz a Set.<br />

Adon - Deus deu-me uma posteridade para substituir Abel, que Cain matou.<br />

B - Enoc andou com Deus e desapareceu, porque Deus o levou. Terá subido aos céus<br />

s<strong>em</strong> ter morrido. Uma subida literal? Uma subida nos cavalos de fogo? Uma subida <strong>em</strong><br />

direção das chamas divinas, s<strong>em</strong> forma, como sopros ígneos?<br />

C – Quanta dúvida! S<strong>em</strong> contar os erros de tradução.<br />

A - Quando os homens começaram a multiplicar-se sobre a terra, e lhes nasceram filhas,<br />

os filhos de Deus...<br />

B - Vindos do espaço?<br />

C – Vindos do céu?<br />

A - ... os filhos de Deus viram que as filhas dos homens...<br />

B - As filhas dos terrestres?<br />

A – Quer parar de atrapalhar? (pigarro) ... viram que eram belas, e escolheram esposas<br />

entre elas.<br />

Deus - Meu espírito não permanecerá para s<strong>em</strong>pre no hom<strong>em</strong>, porque todo ele é carne,<br />

e a duração de sua vida terá um t<strong>em</strong>po limitado e menor.<br />

A - Naquele t<strong>em</strong>po viviam gigantes na terra, como também daí por diante, quando os<br />

filhos de Deus se uniam às filhas dos homens e elas geravam filhos estranhos...<br />

C – Provavelmente de nova composição genética...<br />

B - Filhos deformados. Minotauros. O filho de Pasífae e Zeus seria um deles?<br />

A - E isso, no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que as terras se separaram.<br />

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C - Estes são os verdadeiros heróis, já afamados nos t<strong>em</strong>pos antigos.<br />

A - O Senhor viu que a maldade dos homens era grande na terra, e que todos os<br />

pensamentos estavam voltados para o mal.<br />

B - O Senhor arrependeu-se...<br />

C – Ah, é? Arrependeu-se? Uau! Que tamanha perfeição...<br />

A – Ele arrependeu-se e mandou os programadores genéticos para aquele lugar...<br />

B –... os programadores genéticos daquela época arrependeram-se <strong>em</strong> seus laboratórios<br />

de ter criado o hom<strong>em</strong> na terra, e teve o coração ferido de íntima dor.<br />

Deus - Exterminarei da superfície da terra o ser que eu criei, e com ele os animais, os<br />

répteis e as aves, porque estou arrependido.<br />

A - Noé, um dos produtos daqueles t<strong>em</strong>pos – resultado positivo das experiências -<br />

encontrou graça aos olhos do Senhor-Cientista.<br />

C - A terra corrompia-se e enchia-se de violência.<br />

B – Deus, o arquiteto de genoma, também conhecido como o criador - olhou para a<br />

terra e viu que ela estava corrompida.<br />

A - Sua obra estava errada e necessitava de correções.<br />

C - A experiência, até aquele momento, saiu do controle: Toda a criatura seguia na terra<br />

o caminho da corrupção.<br />

Deus – (tímpanos ou bumbos)... Então.... (indecisão / tímpanos ou bumbos)... Então<br />

(tímpanos ou bumbos / um ator entrega um papel que Deus abre e lê)... Então... Eis<br />

chegado o fim de toda a criatura diante de mim, pois eles encheram a terra de violência.<br />

Vou exterminá-los juntamente com a terra. Faze um navio de acordo com as<br />

informações. Farei aliança contigo: entrarás na nave com teus filhos, tua mulher e as<br />

mulheres de teus filhos. De tudo o que vive, de cada espécie de animais, farás entrar na<br />

arca dois, macho e fêmea. É claro que levarás contigo apenas s<strong>em</strong>entes desses animais,<br />

ou não caberão todos nessa nave de madeira. Ainda se foss<strong>em</strong> naves espaciais como as<br />

que usamos. Enfim, levará s<strong>em</strong>entes, códigos genéticos, conjuntos de genomas...<br />

Escolha b<strong>em</strong>, Noé! Os frascos estarão sob tua responsabilidade. Dentro de sete dias<br />

farei chover sobre a terra durante quarenta dias e quarenta noites, e exterminarei da<br />

superfície da terra todos os seres que eu fiz.<br />

Noé – O que ele disse dos fracos?<br />

A – Frascos, Noé... frascos...<br />

B - As águas engrossaram prodigiosamente sobre a terra, e cobriram todos os altos<br />

montes; e elevaram-se sete metros acima dos montes que cobriam.<br />

A – Caceta!<br />

C - Todas as criaturas que se moviam na terra foram exterminadas. Só Noé ficou e os<br />

que se encontravam com ele na arca.<br />

B - As águas cobriram a terra pelo espaço de cento e cinqüenta dias.<br />

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C -= No fim a arca parou sobre as montanhas do Ararat.<br />

B - Noé saiu com seus filhos, sua mulher e as mulheres de seus filhos, e levantou um<br />

toten, um altar ao Senhor: Tomou de animais puros e de aves puras, e ofereceu-os <strong>em</strong><br />

holocausto.<br />

A - Já não tinha muito e ele ainda desperdiça.<br />

Deus – (tímpanos) Então... (abre os braços / tímpanos) Então... (tímpanos / A faz-lhe<br />

sinal para sorrir)... Então (tímpanos / A entrega um papel que Deus lê / sorrindo /<br />

vendendo a ideia)... De agora <strong>em</strong> diante, não mais amaldiçoarei a terra por causa do<br />

hom<strong>em</strong> que é mau desde a sua juventude.<br />

A – Foi você que criou.<br />

Deus - (olha A de lado) Não ferirei mais os seres vivos. Enquanto durar a terra, não<br />

mais cessarão a s<strong>em</strong>enteira e a colheita, o frio e o calor, o verão e o inverno, o dia e a<br />

noite. Sede fecundos. Multiplicai-vos e enchei a terra. Somente não comereis carne com<br />

a sua alma, com seu sangue. Toda carne será cozida. É mais saudável e menos<br />

selvag<strong>em</strong>. Eu pedirei conta de vosso sangue, por causa de vossas almas, a todo animal;<br />

e ao hom<strong>em</strong> que matar o seu irmão, pedirei conta da alma do hom<strong>em</strong>. Pois vocês são<br />

muito bárbaros. Putz! Parec<strong>em</strong> animais. O sinal de aliança será o arco íris no céu, para<br />

que eu mesmo me l<strong>em</strong>bre disso. Só espero que chova s<strong>em</strong>pre.<br />

(Noé aparece bêbado e nu, cantando e dançando)<br />

Noé – (o ator v<strong>em</strong> nu lá do fundo da platéia e sobe no palco mas puxa gente da platéia<br />

para a dança) Além do arco íris... (repete no mesmo tom várias vezes / bebaço)<br />

Cam – Olha gente, o pai tá pelado.<br />

B – Vamos cobri-lo. Que coisa horrível.<br />

A – Realmente, horrível... pelado...<br />

B – É uma ofensa...<br />

A – Foi o que eu disse...<br />

Noé (bêbedo) - Maldito seja Canaã; que ele seja o último dos escravos de seus irmãos!<br />

Canaã seja seu escravo! E seu e seu! Canaã seja escravo dos irmãos!<br />

A – Ele ta falando comigo?<br />

Todos - N<strong>em</strong>rod, descendente de Noé, é claro, foi o primeiro hom<strong>em</strong> poderoso da terra.<br />

A – Primeiro latifundiário... Também... todas as terra eram dele...<br />

Todos - Ele foi um grande caçador diante do Senhor. Ele viveu <strong>em</strong> Babilônia. A<br />

superpotência da época. Tinha mania de construir arranha-céus.<br />

A - Toda a terra tinha uma só língua<br />

B - Talvez se fale sobre a língua comercial, como o latim na era do Romanos.<br />

C - Como o Inglês na era dos caubóis.<br />

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A – Todos se serviam das mesmas palavras. Mas parece que na multiplicação dos filhos<br />

de Noé cada um usava idioma próprio.<br />

B – O que torna a história um pouco confusa.<br />

C – Esses livros são mesmo muito confusos. Velhos e confusos.<br />

A - Mau traduzidos...<br />

N<strong>em</strong>rod – Vamos construir uma cidade e uma torre cuja ponta atinja os céus. Torn<strong>em</strong>os<br />

assim célebre o nosso nome – o meu nome - para que não sejamos dispersos pela face<br />

de toda a terra.<br />

Deus: (invejoso, novamente) Eis que são um só povo, e falam uma só língua: se<br />

começam assim, nada futuramente os impedirá de executar<strong>em</strong> todos os seus<br />

<strong>em</strong>preendimentos! Onde quer<strong>em</strong> chegar? No céu?<br />

A - E qual é o probl<strong>em</strong>a de resolver<strong>em</strong> todos os seus <strong>em</strong>preendimentos? Ta maluco?<br />

Deus - Vamos: desçamos, nós todos, os mensageiros, todos os seres do céu, todos os<br />

filhos do Céu, Anjos, Potestades, Tronos, para lhes confundir a linguag<strong>em</strong>, de sorte que<br />

já não se compreendam um ao outro.<br />

B – E os povos se dispersaram s<strong>em</strong> mais se entender<strong>em</strong>. E, pergunto, para que, se o<br />

importante é se compreender<strong>em</strong>.<br />

C - Por isso deram-lhe o nome de Babel, porque ali o Senhor confundiu a linguag<strong>em</strong> de<br />

todos os habitantes da terra, e dali os dispersou sobre a face de toda a terra.<br />

Deus - Abrão, Deixa tua terra, tua família e a casa de teu pai e vai para a terra que eu te<br />

mostrar.<br />

Abrão – (s<strong>em</strong> tirar a atenção do que fazia) E pra que?<br />

Deus - Farei de ti uma grande nação...<br />

Abrão – Para que?<br />

Deus... eu te abençoarei e exaltarei o teu nome...<br />

Abrão – Para que meu Deus? Vai ter mais imposto?<br />

Deus - ... e tu serás uma fonte de bênçãos.<br />

Abrão – O que eu ganho com isso?<br />

Deus - Abençoarei aqueles que te abençoar<strong>em</strong>, e amaldiçoarei aqueles que te<br />

amaldiçoar<strong>em</strong>; todas as famílias da terra serão benditas <strong>em</strong> ti. (como se l<strong>em</strong>brasse) Ah!<br />

Leva Lot com você<br />

Abrão – Não, Lot não.<br />

Deus – Sim! Lot sim...<br />

Abrão – Lot é um pamonha...<br />

Deus – (incisivo) Leva o Lot...<br />

Abrão - Ele n<strong>em</strong> levanta a bunda da cadeira...<br />

Deus - Lot sim...<br />

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Abrão – Até que as filhas dele são bonitinhas...(pensa) Se ainda alguém me pagasse por<br />

isso... (pensa e se decide / para dentro / para Sarai) – Escuta mulher, há muita fome na<br />

região e eu tenho que negociar com os egípcios. Sei que você é uma mulher formosa.<br />

Quando os egípcios te vir<strong>em</strong>, me matarão para te pegar, se pensar<strong>em</strong> que é minha<br />

mulher.<br />

Sarai - Mas eu sou mesmo sua mulher.<br />

Abrão – Tá, tá... É isso o que eu quero dizer... não me complica a vida e diz que é minha<br />

irmã, para que não me mat<strong>em</strong> por tua causa. Lot vai com a gente levando as cabritas lá<br />

dele...<br />

Sarai – Ah! Lot não...<br />

Abrão – Lot sim...<br />

Sarai – Não... não... Lot não.<br />

Deus (off) – Lot, sim.<br />

Abrão – Viu?<br />

C - A mulher foi introduzida no seu palácio. E talvez faraó tenha introduzido nela,<br />

também, tamanha a covardia de Abrão.<br />

Todos - Abrão o cafetão... (3x).<br />

C – A riqueza de Abrão é questionável.<br />

B - Abrão vendeu Sarai? Ou terá apenas alugado?<br />

A - Por causa dela, Abrão foi b<strong>em</strong> tratado pelo faraó, e recebeu ovelhas, bois, jumentos,<br />

servos e servas, jumentas e camelos.<br />

C - Mas o Senhor ficou louco da vida, fulo de raiva, porém, e feriu com grandes pragas o<br />

faraó e a sua casa, por causa de Sarai, mulher de Abrão.<br />

A – Ah! Então o faraó eu uma bimbalhada na Sarai...<br />

Todos - Abrão, o cafetão! (3x)<br />

C – (gritando para os céus) Que tipo de Deus é esse que defende cafetões? Nesse<br />

momento se comprova como eram bárbaros esses camaradas hebreus. Os Deuses-<br />

Astronautas, deuses do espaço sideral, viram que o escolhido era b<strong>em</strong> imoral, vendendo<br />

a mulher para o poderoso do pedaço <strong>em</strong> troca de favores.<br />

B - Ah! Mas era obrigatório preservar a obra genética construída. Por isso mandaram as<br />

pragas.<br />

Abrão – Lot é uma praga. Ele conta?<br />

C - Que tipo de deuses eram esses? Preservam a obra genética e Sarai é qu<strong>em</strong> toma no<br />

rabo.<br />

Faraó – (para Abrão) O que é que você me levou a fazer... seu burro... Porque não me<br />

falou que era tua mulher?<br />

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B - Ta na cara que o Faraó teve, por assim dizer, conjunções carnais com Sarai.<br />

Faraó - Por que falou que ela era tua irmã, levando-me e a tomá-la por esposa? Toma de<br />

volta e cai fora daqui!<br />

Abrão – Mas eu não saio daqui de mãos abanando.<br />

Todos – Abrão, o cafetão, ficou muito rico <strong>em</strong> rebanhos, prata e ouro.<br />

Abrão – Lot, vamos <strong>em</strong>bora com nossas riquezas <strong>em</strong> busca de algum paraíso... fiscal.<br />

Mas a gente sai daqui e cada um vai para um lado. Leva as tuas cabritas.<br />

C - Então Lot e Abrão se separaram. Me parece que Lot não era dado a esse tipo de<br />

canalhice <strong>em</strong> família. Lot levantou tendas perto de Sodoma.<br />

B - Abrão, o cafetão, instalou-se <strong>em</strong> Canaã.<br />

A - Ora, já sab<strong>em</strong>os que os habitantes de Sodoma eram perversos, e grandes<br />

pecadores, muito pervertidos diante do Senhor. Daí o significado de sodomita...<br />

B – Sodomita?<br />

A – Sim... aquele que dá o cu.<br />

C – As Igrejas não admit<strong>em</strong> que se dê cus, por aí..<br />

A - As Igrejas quer<strong>em</strong> serão tão terríveis quanto as test<strong>em</strong>unhas de Jeová?<br />

C - A dúvida é: os habitantes de Sodoma e Gomorra seriam outros grupos<br />

experimentais?<br />

A - Filhos de laboratório?<br />

C - Construídos geneticamente <strong>em</strong> separado?<br />

A - Inoculados in vitro?<br />

B – Para qu<strong>em</strong> gosta de dar o cu, ser inoculado in vitro é incoerencia.<br />

Todos - Uma guerra.<br />

A (sentado a uma bancada como se fosse uma notícia de TV) - O rei de Sodoma, o rei<br />

de Gomorra, o rei de Adama, o rei de Seboim, o rei de Bala, e meia dúzia de Sadan-<br />

Husseins daquele região saíram e puseram-se <strong>em</strong> ord<strong>em</strong> de batalha no vale de Sidim,<br />

contra cinco outros reis. O clima de animosidade no Oriente Médio estava se elevando.<br />

Quatro contra cinco. Tudo por causa do petróleo. Lá eles chamam betume. Mas não<br />

passa de petróleo.<br />

B – (na outra bancada / do outro lado do palco / fala jornalística / neutra) Analistas<br />

internacionais afirmam que é muito bom não existir mais nenhum país nessa briga. Já<br />

basta os deuses, os tais eloins, os tais filhos iluminados que usam bombas superatômicas<br />

e faz<strong>em</strong> um barulho terrível no Sinai.<br />

C – Parece que são os únicos a ter<strong>em</strong> permissão para o uso de Bombas Químicas.<br />

A - Qu<strong>em</strong> ganhou levou tudo e a todos, inclusive o senhor Lot e família.<br />

C – Autoridades aliadas do poder Divino, representadas por Abrão, souberam do ocorrido<br />

e partiram para cima dos manifestantes.<br />

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B – O Comandante Abrão, enfurecido, chamou a sua turma e foi recuperar Lot, família,<br />

bens, e é claro, tomou posse de poços de betume que aflorava à terra.<br />

Abrão - Está vendo Deus? Como defendo nossa família? E eu, por que é que não terei<br />

herdeiros? Por que não permanecerá tudo isso conosco?<br />

Deus - Sabe que teus descendentes habitarão como peregrinos uma terra que não é<br />

sua, e que nessa terra eles serão escravizados e oprimidos durante quatrocentos e tantos<br />

anos. É isso mesmo o que quer?<br />

Sarai - Eis que o Senhor me fez estéril; rogo que tome a minha escrava, para ver se, ao<br />

menos por ela, eu tenha filhos.<br />

C - Abrão, o cafetão, aceitou a proposta de Sarai. Idéias de jerico ele aceitava todas.<br />

B - Abrão teve filho – Ismael – com Agar a escrava egípcia de Sarai. Agar passou a<br />

desprezar Sarai, que não gostou da idéia.<br />

Abrão - Tua escrava está <strong>em</strong> teu poder, faz dela o que quiser.<br />

Sarai – Dei uns tapas nela e ela fugiu. Não sei por que...<br />

Abrão – Não sabe por que...<br />

Sarai – Não! Qualquer escrava que se preza toma uns tapas de vez <strong>em</strong> quando...<br />

Deus - Agar, escrava de Sarai, donde vens? E para onde vais? Volta para a tua senhora,<br />

e humilha-te diante dela. Em compensação multiplicarei tua posteridade de tal forma,<br />

que não se poderá contar. Estás grávida, e vais dar à luz um filho: será Ismael, porque o<br />

Senhor te ouviu na tua aflição. Será um garoto danado de brigão.<br />

Abraão - Expulsa esta escrava com o seu filho, porque o filho desta escrava não será<br />

herdeiro com meu filho Isaac.<br />

Deus - Não te preocupes com o menino e com a tua escrava. Faze tudo o que Sarai te<br />

pedir, pois é de Isaac que nascerá a posteridade que terá o teu nome. Mas do filho da<br />

escrava também farei um grande povo, afinal é teu filho, meu velho.<br />

Todos - Abraão mandou Agar, a escrava para o deserto com o filho Ismael, mas o anjo<br />

de plantão não deixou que morress<strong>em</strong>, fazendo surgir uma fonte de água no meio do<br />

deserto. Ou seja, ela encontrou um Oásis.<br />

A - Mas era preciso uma marca diferenciadora. A criação parecia se perder pela terra.<br />

Onde os originais e onde as cópias?<br />

Deus – Abrão, anda <strong>em</strong> minha presença e sê íntegro, pelo menos uma vez na vida;<br />

quero fazer aliança contigo. Serás o pai de uma multidão de povos. És o último dos<br />

escolhidos de toda a nossa produção <strong>em</strong> laboratório e o projeto não pode falhar. Não<br />

pode dar com os... os... Como se chamam aqueles animais...?<br />

Abrão – os gostosinhos(?)... são ovelhas...<br />

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Deus – Não... não... os grandes... que babam... com corcovas...<br />

Abrão – Ah! Camelos...<br />

Deus – Isso! Não pod<strong>em</strong>os dar com os camelos n’água, não é, meu querido? Os testes<br />

estão nucleares chegando ao fim. Não tenho mais esperança de que tudo melhore.<br />

Parece que criar vocês foi um erro. Talvez as baratas sejam uma obra perfeita.<br />

Abrão – Não estou entendendo nada do que diz.<br />

Deus – Deixa para lá. Vamos continuar desse ponto <strong>em</strong> diante e ver no que vai dar a<br />

coisa toda. As outras criações ficarão por conta própria. Nós dar<strong>em</strong>os cobertura para ti<br />

<strong>em</strong> todas as suas nações. De agora <strong>em</strong> diante não te chamarás mais Abrão, e sim...<br />

Abraão. Serão o povo eleito.<br />

Abrão – Que diferença isso faz? Um “a” no meio. Nós s<strong>em</strong>itas n<strong>em</strong> falamos direito as<br />

vogais.<br />

Deus – Ouve e cala essa boca! Porque farei de ti o mais falador... (Deus se toca do ato<br />

falho / abana com a mão)... o pai de uma multidão de povos e o nome quer dizer isso,<br />

vê se me entende.<br />

Abraão (dando de ombros) - Tá.<br />

Deus (devaneando) - Serás fecundo, terás nações e terás reis por descendentes, etc,<br />

etc... Olha! (voltando) Todo hom<strong>em</strong>, no oitavo dia do seu nascimento, será circuncidado<br />

entre vós nas gerações futuras.<br />

Abraão – O que? Cortar o pinto?<br />

Deus – Não fala bobag<strong>em</strong>. Vai cortar uma pelinha insignificante <strong>em</strong> volta do pênis que<br />

não faz falta nenhuma.<br />

Abraão – Não faz para você...<br />

Deus – Vai por mim. Vai até ficar mais higiênico. Essa pelinha é uma das falhas técnicas<br />

dos nossos engenheiros. Essa pelinha e as amígdalas.<br />

Abraão – Será que não podia ser uma tatuagenzinha discreta, igual o Cain? Um lance<br />

mais tribal... mais manero...<br />

Deus – Pelinha, amídala e dente... coisa mal feita. Pra que tanto dente? Um encima e um<br />

<strong>em</strong>baixo...<br />

Abraão – A gente ia ficar banguela.<br />

Deus – Não... dois longos dentes. Um encima e outro <strong>em</strong>baixo... nunca ia ter cárie...<br />

Abraão – (para o lado) com cada coisa esse cara se preocupa...<br />

Deus - Presta atenção! O mundo está muito confuso. Todos... todos: tanto os que<br />

nascer<strong>em</strong> <strong>em</strong> sua casa, como os escravos comprados e que não for de tua raça dev<strong>em</strong><br />

ter o pinto corta..<br />

Abrão – Opa!<br />

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Deus – A pelinha... desculpa.. a pelinha cortada... ato falho... aí serão considerados da<br />

tua raça, daí <strong>em</strong> diante. Não chamarás mais tua mulher Sarai, e sim Sarah, e ela te dará<br />

um filho, ao qual chamarás Isaac.<br />

Abraão – Orra! D<strong>em</strong>orou!<br />

Todos - Abraão e Ismael, seu filho, cortaram a pelinha no mesmo dia. Doeu paca.<br />

Deus - Onde está Sara, tua mulher?<br />

Abraão – Ela disse que ia comprar umas buchas de banho. Deve tá na tenda daquela<br />

turca que vende massa pronta, sei lá.<br />

Deus – Você não sabe?<br />

Abraão – Eu só tenho um A a mais. Não sou onisciente como você.<br />

Deus – Sujeito grosso. Malcriado. Vou dar um chego lá. (t<strong>em</strong>po de ir e vir. Abraão está<br />

n<strong>em</strong> aí) Voltarei à tua casa dentro de um ano, a esta época; e Sara, tua mulher, terá um<br />

filho.<br />

Sarah - Acaso poderei ocultar a Abraão o que vou fazer?<br />

Deus - É imenso o clamor que se eleva de Sodoma e Gomorra, e o seu pecado é muito<br />

grande. Eu vou descer para ver se as suas obras correspond<strong>em</strong> realmente ao clamor que<br />

chega até a mim.<br />

Abraão - Fareis o justo perecer com o ímpio? Talvez haja cinqüenta justos na cidade:<br />

Morr<strong>em</strong> também? Não perdoará a cidade, <strong>em</strong> atenção aos cinqüenta justos? Não, vós<br />

não poderíeis agir assim, matando o justo com o ímpio, e tratando o justo igual ao ímpio!<br />

Longe de vós tal pensamento! Não há justiça?<br />

Deus - Se eu encontrar <strong>em</strong> Sodoma cinqüenta justos, perdoarei a cidade. Se encontrar,<br />

40, 30, até mesmo um justo, eu pouparei a cidade.<br />

(dois anjos ante Lot)<br />

Lot - Meus Senhores, vinde, peço-vos, para a casa de vosso servo, e passai nela a noite;<br />

lavareis os pés, e amanhã cedo continuareis vosso caminho.<br />

A - Não!não... na casa de Lot eu não fico... passar<strong>em</strong>os a noite na praça.<br />

Lot – Que nada... Faço questão.<br />

A – Não. Na praça tá bom.<br />

Lot – Nada disso. Preparo um banquete, mando cozer pães s<strong>em</strong> fermento.<br />

A – Não... não... na casa de Lot, não!<br />

B – Tá feito. Não aguento ficar s<strong>em</strong> um pãozinho antes de dormir.<br />

Todos - Mas, antes que se tivess<strong>em</strong> deitado, eis que a população da cidade de Sodoma,<br />

se agrupou <strong>em</strong> torno da casa,<br />

C - Lot, onde estão, os homens que entraram esta noite <strong>em</strong> tua casa? Conduze-os a nós<br />

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para que os conheçamos.<br />

Lot - Suplico-vos, meus irmãos, não cometais este crime. Tenho duas filhas que são<br />

ainda virgens, acho, eu as darei para vocês. Mas não façais nada a estes homens santos<br />

que vieram dos céus, do espaço, sei lá de onde... porque se acolheram sob meu teto.<br />

C - Retira-te daí! Eis um indivíduo que não passa de um estrangeiro no meio de nós e se<br />

julga um juiz! Verás como te tratar<strong>em</strong>os pior do que a eles.<br />

(anjos levantam o braço e sai um relâmpago)<br />

Todos - Mas os viajantes feriram de cegueira os violentos.<br />

A - Tens ainda aqui alguns dos teus? Genros, ou filhos, ou filhas, todos os que são teus<br />

parentes na cidade, faze-os sair deste lugar, porque vamos destruí-lo, visto que o clamor<br />

que se eleva dos seus habitantes é enorme diante do Senhor. Levantai-vos, a coisa aqui<br />

está preta; saí daqui, porque o Senhor vai destruir a cidade.<br />

B - Lot, levanta-te, toma tua mulher e tuas duas filhas, para que não pereças também no<br />

castigo da cidade. Não olhes para trás, e não pare <strong>em</strong> lugar algum da planície. O pau vai<br />

comer!<br />

C – (no tom de repórter de TV) O Senhor fez então cair sobre Sodoma e Gomorra , na<br />

madrugada do dia 15 de outubro de 3 245 antes de Cristo, uma chuva de enxofre e de<br />

fogo, vinda, aparent<strong>em</strong>ente do céu. Uma chuva atômica multidestrutiva.<br />

B - Os generais ocupantes do laboratório espacial Jeová 3 entendiam que aquela tribo<br />

estava podre e deveria ser exterminada. Uma espécie de solução final. Destruíram<br />

cidades, toda a planície, assim como todos os habitantes e a vegetação.<br />

C – Há suspeitas que seja bomba de Nêutrons.<br />

A – De acordo com fontes internacionais, não se sabe por que, mas a mulher de Lot,<br />

tendo olhado para trás, transformou-se numa coluna de sal, o que prova ser resultado<br />

de uma guerra com a inclusão de armas químicas.<br />

Todos - Lot passou a habitar numa caverna com suas duas filhas.<br />

A – Para assegurar a posteridade, as filhas de Lot, dormiram com ele, dando-lhe vinho.<br />

B - É claro que ele não percebeu coisa alguma.<br />

C - Assim, as duas filhas de Lot conceberam de seu pai.<br />

Todos - E tudo ficou b<strong>em</strong> aos olhos do Senhor.<br />

A - Outra vez a mesma coisa. Abrão, agora Abraão, se faz de cafetaão e finge que a<br />

mulher é sua irmã.<br />

B - Parece que ele não aprendeu e força Deus a aparecer nos sonhos do Rei Abimelec<br />

para amedrontá-lo.<br />

C – Dessa forma Abraão, o cafetaão, s<strong>em</strong>pre impune, habitou muito t<strong>em</strong>po na terra dos<br />

palestinos.<br />

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A - Mas um sustinho ele teve. Deus fez uma brincadeira com o cafetaão.<br />

Deus - Abraão!<br />

Abraão - Tô aqui<br />

Deus – Faz um negócio para mim.<br />

Abraão – Lá v<strong>em</strong> coisa... O que?<br />

Deus - Toma teu filho, teu único filho a qu<strong>em</strong> tanto amas, o garoto Isaac...<br />

Abraão – Sei... to escutando...<br />

Deus - ... oferecerás o teu filho <strong>em</strong> holocausto sobre um dos montes que eu te indicar.<br />

Abraão – O que? (desconfiado, toma, Isaac) Essa foi pesada hein! Jogo baixo! (part<strong>em</strong>)<br />

Isaac, v<strong>em</strong> comigo.<br />

(andam / Abraão está cabisbaixo e leva o menino pelo braço)<br />

Isaac - Meu pai!<br />

Abraão - Que é, meu filho?<br />

Isaac - T<strong>em</strong>os aqui o fogo e a lenha, mas onde está a ovelha para o holocausto?<br />

Abraão - Deus, o onipresente, onisciente, providenciará uma ovelha para o holocausto,<br />

meu filho.<br />

(Abraão amarra filho à pedra)<br />

Isaac – Pai...<br />

Abraão – Sim... Isaac.<br />

Isaac – Por que me amarra na pedra?<br />

Abraão – É para você não se machucar por ai.<br />

Isaac – Pai?<br />

Abraão – Sim... Isaac.<br />

Isaac - Por que é que você está amolando a faca?<br />

(Silencio / Abraão afasta o rosto do filho e levanta a faca)<br />

Deus - Abraão! Abraão! Não estendas a tua mão contra o menino, e não lhe faças nada.<br />

(cara de ódio de Abraão)<br />

Agora eu sei que t<strong>em</strong>es a Deus, pois não me recusaste teu próprio filho, teu filho único.<br />

(Abraão libera o garoto) Estarei s<strong>em</strong>pre ao teu lado.<br />

B – Abraão, incorrigível sedutor, tomou outra mulher, chamada Cetura; Abraão deu<br />

todos os seus bens a Isaac. Quanto aos filhos de suas concubinas, só lhes deu presentes,<br />

e despediu-os, ainda vivo, mandando-os para longe de seu filho Isaac, para a terra do<br />

oriente.<br />

C - Eis a duração da vida de Abraão: Ele viveu cento e setenta e cinco anos, e teve uma<br />

grande descendência, como lhe foi prometido.<br />

A – E Deus lhe deu muitas ereções, como fora prometido.<br />

Servo: Queres dar-me de beber um pouco da água de teu cântaro? (a moça dá o<br />

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cântaro / ele bebe) Qual é o teu nome?<br />

Rebeca: Rebeca... Bebe, meu senhor. Vou buscar água também para os teus camelos,<br />

para que todos bebam. (O hom<strong>em</strong> a cont<strong>em</strong>pla <strong>em</strong> silêncio)<br />

Labão (irmão de Rebeca se aproxima): V<strong>em</strong>, bendito do Senhor, por que permaneces aí<br />

fora? Prepararei a casa e um lugar para os camelos.<br />

Servo: Não comerei nada enquanto não expuser o que tenho a dizer.<br />

Labão: Fala.<br />

Servo: Qu<strong>em</strong> é o senhor?<br />

Labão: Eu sou Labão.<br />

Servo: Labão ou Labaaaaão?<br />

Labão: Labão... só Labão.<br />

Servo: Brincadeira... Eu sou escravo de Abrão. (corrigindo) Abraaaaaão.<br />

B – (para a platéia) Escravo é como uma <strong>em</strong>pregada doméstica, ou <strong>em</strong>pregada de loja,<br />

ou boy de escritório – um contínuo, nos dias de hoje.<br />

Servo - O Senhor Deus dos exércitos protege o meu senhor e isso todo mundo já sabe.<br />

Labão – É, mas e aquele lance de meter a faca no filho...<br />

Servo – Aquilo foi um teste... O filho de meu senhor herdou todos os seus bens, esse<br />

que seria esfaqueado... Abraaaaão... quer para o filho uma esposa de sua parentela, seu<br />

Labão. Encontrei a menina Rebeca. Parece uma mulher decente e digna.<br />

Labão: Ela o é. Ela o é. Ela o é. Rebeca será mulher do filho de Abraão.<br />

A - Isaac tinha a idade de quarenta anos quando se casou com Rebeca<br />

B - Rebeca era estéril e após orações, recebeu os anjos fecundadores.<br />

C – Anjos fecundadores? Que negócio é esse...<br />

B – É simples... O anjo v<strong>em</strong>... tira a roupa... a menina abre as pernas...<br />

C – Chega... chega... chega... Ela ficou grávida e os filhos, já maleducados como o avô,<br />

brigavam dentro dela.<br />

Rebeca (indo consultar ao Senhor): Por que brigam?<br />

Deus: Tens duas nações no teu ventre; dois povos se dividirão ao sair de tuas entranhas.<br />

Um povo vencerá o outro, e o mais velho servirá ao mais novo.<br />

A - Chegou o dia de dar à luz. O que saiu primeiro era vermelho, e todo peludo como um<br />

manto de peles, e chamaram-no Esaú. Saiu <strong>em</strong> seguida o seu irmão, segurando pela<br />

mão o calcanhar de Esaú, e deram-lhe o nome de Jacó.<br />

B - Esaú tornou-se um hábil caçador, um hom<strong>em</strong> do campo.<br />

C - Jacó era um hom<strong>em</strong> pacífico, que morava na tenda.<br />

A - Isaac preferia Esaú: gostava de sua caça; Rebeca se afeiçoou mais a Jacó.<br />

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Esaú: (fatigado do campo): Deixa comer dessa coisa vermelha. Estou cansado.<br />

Jacó: Vende-me primeiro o direito de primogenitura.<br />

Esaú: Tá... tá... estou morrendo de fome... que primogenitura que nada!... fica com essa<br />

merda e me dá as lentilhas<br />

Jacó: Jura, agora mesmo.<br />

Esaú: Ta bom. Fica com tudo. Me dá essa coisa vermelha. Estou morrendo de fome.<br />

Todos – Olha a cabeça do cara! Ele troca a primogenitura por um prato de lentilhas.<br />

Deus (a Isaac aos gritos, repentinamente): Não desças ao Egito; fica na terra que eu te<br />

indico. Habita nela; eu estou contigo e te abençoarei.<br />

Jacó: (gritando de volta) Ta... eu já ouvi.<br />

A - Isaac faz mesma coisa que o cafetão de seu pai um dia fez. Falou que a mulher era<br />

apenas sua irmã para que ninguém o incomodasse.<br />

B - Se levarmos <strong>em</strong> consideração a futura frase de que do fruto conhecerá a árvore, essa<br />

árvore que se forma agora só poderá dar furtos podres, ó povo de Israel.<br />

C - Mas ainda b<strong>em</strong> que Abimelec t<strong>em</strong> um pouco de cabeça.<br />

Abimelec: É evidente que é tua mulher! E como dizias tu que era tua irmã?<br />

Isaac: Porque, eu t<strong>em</strong>ia que me matass<strong>em</strong> por causa dela.<br />

Abimelec: Que nos fizeste, seu irresponsável? Cara frouxo! Um pouco mais e alguém do<br />

povo teria abusado de tua mulher, e terias atraído o pecado sobre nós! Já mandei<br />

publicar que será morto qu<strong>em</strong> quer que toque <strong>em</strong> você ou <strong>em</strong> sua mulher.<br />

B - O poltrão, s<strong>em</strong>pre protegido por Deus, chamou para si a inveja dos filisteus.<br />

A - Filisteu são os palestinos. Briga antiga.<br />

C - Os filisteus entupiram os poços de água e Abimelec viu que ia sobrar para o seu lado.<br />

Abimelec: Vai <strong>em</strong>bora pois está mais rico do que nós, Issac.<br />

Pastores (aos gritos): Esta água é nossa! Vão abrir poços <strong>em</strong> outro lugar.<br />

Isaac: Por que me procurais, já que me detestais e me expulsastes do seu meio?<br />

Abimelec: Vimos que o Senhor está contigo, que tal? Jur<strong>em</strong>os entre nós. Quer<strong>em</strong>os uma<br />

aliança contigo. Jura que não nos farás nenhum mal, assim como também nós não<br />

tocar<strong>em</strong>os <strong>em</strong> nada do que é teu. Partirá <strong>em</strong> paz. Agora, és o bendito do Senhor.<br />

Todos - Senhor Isaac. Encontramos água viva!<br />

Abimelec: Não falei?<br />

Isaac (grita. Rebeca está por perto): Esaú, Meu filho!<br />

Esaú (off) : Eis-me aqui!<br />

Isaac: Tu vês, estou velho e não sei quando vou morrer. Toma as tuas armas, tua aljava<br />

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e teu arco, vai ao campo e mata uma caça. Prepara um prato suculento, como sabes que<br />

gosto, e traz para eu comer e minha alma te abençoe antes que eu morra. (Esaú sai)<br />

Rebeca: Jacó. Prepara um bom prato de alimento para o pai, a fim de que te abençoe<br />

antes de morrer.<br />

Jacó: Mas, Esaú, meu irmão, é peludo, enquanto eu sou de pele lisa. Se meu pai me<br />

tocar, passarei aos seus olhos por um <strong>em</strong>busteiro e atrairei sobre mim uma maldição <strong>em</strong><br />

lugar de bênção.<br />

Rebeca: Tomo sobre mim esta maldição, meu filho. Ouve-me e faz o que mando.<br />

(Jacó, coberto por uma pele se aproxima do pai.)<br />

Jacó - Meu pai! Eis-me aqui!<br />

Isaac: Qu<strong>em</strong> és, meu filho?<br />

Jacó: Eu sou Esaú, teu primogênito; fiz o que me pediste. Come de minha caça, a fim de<br />

que tua alma me abençoe.<br />

Isaac: Como encontraste caça tão depressa, meu filho? Foi num pé voltou no outro,<br />

menino?<br />

Jacó: Isso é coisa de Deus.<br />

Isaac: Aproxima-te, então, meu filho, para que eu te apalpe e veja se, de fato, és o meu<br />

filho Esaú.<br />

A - O velho era esperto e pelo jeito sabia que tipo de filhos que tinha, principalmente o<br />

Jacó. Ficou na dúvida. E parece que a história desses judeus-israelitas todos é um<br />

amontoado de trambicagens e enganações, além de uma coleção, imensa de incestos.<br />

Mas, segue...<br />

Isaac: A voz é a voz de Jacó, mas as mãos são as mãos de Esaú. (ergue a mão sobre a<br />

caneca de Jacó) Eu o abençôo. Tu és b<strong>em</strong> o meu filho primogênito?<br />

Jacó: Sim.<br />

Isaac: Então, serve-me, meu filho, e minha alma te abençoará. Aproxima-te (Jacó se<br />

aproxima)... Sim. Esse o odor de meu Esaú... não toma banho mesmo o porqueira... é<br />

como o odor de um campo que o Senhor abençoou. (o velho se exalta) Deus te dê o<br />

orvalho do céu e a gordura da terra, uma abundância de trigo e de vinho! Sirvam-te os<br />

povos e prostr<strong>em</strong>-se as nações diante de ti! (mais exaltado) Sê o senhor dos teus<br />

irmãos, e curv<strong>em</strong>-se diante de ti os filhos de tua mãe! Maldito seja qu<strong>em</strong> te amaldiçoar e<br />

bendito qu<strong>em</strong> te abençoar!<br />

(entra Esaú)<br />

Esaú - Pai. Que negócio é esse...? Trouxe a caça... Eu sou o teu filho primogênito Esaú.<br />

Aquele pilantra era Jacó.<br />

Isaac – Eu o abençoei.<br />

Esaú - (amargurado) Abençoa-me também a mim, meu pai!<br />

Isaac: Teu irmão, veio, fraudulentamente, tomar a tua bênção. Minha nossa cada um!<br />

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Esaú: Será porque ele se chama Jacó que me suplantou já duas vezes? Tirou-me meu<br />

direito de primogenitura, e eis que agora me rouba minha bênção! Não t<strong>em</strong> uma benção<br />

sobrando para mim?<br />

Isaac: Eu o constituí teu senhor, e dei-lhe todos os seus irmãos por servos e o estabeleci<br />

na posse do trigo do vinho. Que posso ainda fazer por ti, meu filho?<br />

Esaú: Então só tens uma bênção, meu pai? Não é possível... Abençoa-me também a<br />

mim, meu pai!<br />

Isaac: Não t<strong>em</strong> mais benção... Eis, que a tua habitação será desprovida da gordura da<br />

terra e do orvalho que desce dos céus. Viverás de tua espada, servindo o teu irmão,<br />

mas, se te libertares, quebrarás o seu jugo de cima do teu pescoço.<br />

Esaú : Virão os dias do luto de meu pai, e eu matarei Jacó.<br />

Jacó – Se Deus me proteger e me der tudo o quer preciso. Ele será meu Deus, de agora<br />

<strong>em</strong> diante.<br />

A - Mas O Senhor aquele já não era o seu Deus?<br />

B – Jacó desconhecia o tal poderoso e os seres poderosos que apareciam diante dele?<br />

C - Continua ele a negociar um salvo-conduto e uma salva-guarda?<br />

Jacó - Labão!<br />

Labão: Estou aqui. Sim, tu és de meus ossos e de minha carne.<br />

Jacó: Eu ficarei e o servirei <strong>em</strong> sua casa.<br />

Labão: Só por ser meu parente, trabalhará de graça? Dize-me que salário queres.<br />

Jacó: Eu te servirei sete anos por Raquel tua filha mais nova.<br />

Labão: Negócio fechado.<br />

B - Mais uma armadilha entre parentes.<br />

C - Mais uma enganação entre hebreus.<br />

A - Labão enganou Jacó e o fez dormir no casamento com a filha mais velha, Lia.<br />

Labão: Aqui é o seguinte... não é costume casar a mais nova antes da mais velha. Mas,<br />

se me servir mais sete anos, leva a outra também após a s<strong>em</strong>ana de núpcias.<br />

Jacó: Eu a amo mais do que a Lia. Eu o servirei ainda por sete anos.<br />

Todos (a um canto): Assim nasceu Ruben, filho de Lia – pois o senhor viu sua aflição - ,<br />

depois veio Simeon, pois o Senhor viu que Lia era desdenhada, e depois ainda nasceu<br />

Levi – para que o marido Jacó se apegasse a ela, e mais além nasceu Judá – para que o<br />

Senhor fosse louvado.<br />

Raquel (gritando a Jacó): Dá-me filhos, senão morro!<br />

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Jacó: Acaso, posso eu pôr-me no lugar de Deus que te recusou a fecundidade?<br />

Raquel: Você vai dormir com a escrava Bala. Vai se deitar com ela. Porá tua s<strong>em</strong>ente<br />

nela. Que ela dê à luz sobre os meus joelhos e por ela, terei também filhos.<br />

(Cena de sexo <strong>em</strong> contra-luz / silhuetas. Acompanha o texto numa narração<br />

monocórdica): Deu-lhe, pois, por mulher sua escrava Bala, da qual se aproximou Jacó.<br />

Bala concebeu e deu à luz um filho a Jacó. Segundo ela “Deus fez-lhe justiça. Por isso<br />

ela o chamou Dã. Bala, escrava de Raquel, concebeu de novo e deu à luz um segundo<br />

filho a Jacó. Ela disse: “Lutei contra minha irmã junto de Deus, e venci!” E deu ao<br />

menino o nome de Neftali. Lia, vendo que não concebia mais, tomou sua escrava Zelfa e<br />

deu-a por mulher a Jacó. Dela nasceram Gad, Por ter sorte e Asher, por ser ditosa e<br />

Issacar, por ceder minha escrava. Cada nome uma sentença. Lia alugou Jacó <strong>em</strong> troca<br />

de umas mandrágoras que Raquel desejava. e concebeu ainda e deu à luz um sexto filho<br />

a Jacó e o chamou Zabulon somando seis filhos. Depois disso, deu à luz uma filha, a<br />

qu<strong>em</strong> chamou Dina. Mas mulheres não interessam nessa história, a não ser para ter<strong>em</strong><br />

filhos. L<strong>em</strong>brou-se Deus de Raquel, ouviu-a e tornou-a fecunda. Raquel concebeu e deu<br />

à luz um filho. “Deus, disse ela, tirou o meu opróbrio.” E chamou-o José, dizendo: “Dê-<br />

me o Senhor ainda outro filho!”<br />

Jacó (pondo as calças, fala a Labão): Deixa-me partir para a minha casa, na minha terra.<br />

Vou hoje passar pelo meio de todos os teus rebanhos e pôr à parte, entre os cordeiros,<br />

todo o animal manchado, malhado ou negro, e entre as cabras, tudo o que é manchado<br />

ou malhado: isto será o meu salário.<br />

A - E, se é que a gente pode acreditar num negócio desses: as ovelhas e pecuária <strong>em</strong><br />

geral deram à luz filhotes listrados só pelo fato de conviver<strong>em</strong> sob a sombra de umas<br />

varas listradas. Concebiam, então, cordeiros riscados, manchados e malhados.<br />

B - Esse Jacó s<strong>em</strong>pre foi um enganador, desde o episódio do prato das ervilhas. Jacó<br />

tornou-se assim extr<strong>em</strong>amente rico, e teve muitos rebanhos, escravas e escravos,<br />

camelos e jumentos. É desse sujeito que brotará o povo de Israel. Serão esses tipinhos<br />

os escolhidos?<br />

C - Pela cara de Labão deu pra ver que ele não gostou! Ficou s<strong>em</strong> nada.<br />

Labão (a Jacó): Que fizeste? Tu me enganaste, e conduziste minhas filhas como<br />

prisioneiras de guerra! Ta louco!? Por que fugiu dessa forma, e não me avisou? Eu te<br />

teria despedido com manifestações de júbilo e com cânticos, ao som do tamborim e da<br />

harpa. Não me deixaste beijar meus filhos e minhas filhas! Procedeste como um<br />

insensato. Eu poderia agora fazer-vos mal, mas o Deus de teu pai disse-me na última<br />

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noite: Guarda-te de dizer algo a Jacó. E, se partiste somente porque tinhas saudade da<br />

casa paterna, então por que roubaste os meus deuses?<br />

Jacó: Tive medo, ao pensar que poderias tirar-me tuas filhas; quanto aos teus deuses,<br />

porém, seja morto aquele que os pegou! Pode examinar e leva o que é teu.<br />

A – Labão procurou e nada achou. Raquel disse que não podia se levantar por estar com<br />

a indisposição das mulheres. Ela se sentava sobre o material roubado.<br />

Jacó - Qual é o meu crime? Qual é o meu pecado? Servi-te catorze anos por tuas duas<br />

filhas, seis anos pelos teus rebanhos, e dez vezes modificaste o meu salário. Se o Deus<br />

de meu pai, o Deus de Abraão, o Deus terrível de Isaac não se tivesse posto de meu<br />

lado, tu me terias hoje despedido com as mãos vazias. Deus viu minhas penas e meus<br />

trabalhos, e na última noite ele se pronunciou.<br />

Labão: Estas filhas são minhas filhas, estes filhos, meus filhos, e estes rebanhos, meus<br />

rebanhos: tudo o que vês é meu. Que farei eu agora contra minhas filhas, ou contra os<br />

filhos que elas deram ao mundo?<br />

Jacó: Façamos um trato. Tomo conta delas e de mais nenhuma mulher. Tudo o que está<br />

aí Deus é test<strong>em</strong>unha que foi conseguido por meu esforço.<br />

Anjo (a Jacó) : Esaú v<strong>em</strong> a seu encontro com 400 homens.<br />

Jacó: Dispers<strong>em</strong> as manadas. Separ<strong>em</strong> os ordenanças. Protejam os rebanhos. Creio que<br />

Esaú virá me matar. Deus! l<strong>em</strong>bra das tuas promessas. (Jacó dorme)<br />

(Episódio do sonho da briga com o anjo. O Anjo lhe dá um golpe e Jacó cai)<br />

Anjo: Qual é o teu nome?<br />

Jacó: Jacó.<br />

Anjo: Teu nome não será mais Jacó, mas Israel, porque lutaste com Deus e com os<br />

homens, e venceste.<br />

Jacó: Peço-te que me digas qual é o teu nome.<br />

Anjo: Por que me perguntas?<br />

Jacó (coxeando): Fanuel! Esse lugar se chamará Fanuel: porque, eu vi a Deus face a<br />

face, e conservei a vida. (Entra Esaú ao encontro se abraçam e choram)<br />

Esaú: Jacó. Qu<strong>em</strong> são estes que tens contigo?<br />

Jacó: Esaú, são, os filhos que aprouve a Deus me dar.<br />

Esaú: Que significa todo esse acampamento que encontrei?<br />

Jacó: É para ganhar o favor de meu senhor.<br />

Esaú: Possuo muitos bens, meu irmão, guarda o que te pertence.<br />

Jacó: Aceita o presente, se quer b<strong>em</strong>, como irmão.<br />

Esaú: Partamos, ponhamo-nos a caminho; eu te precederei. “Permita-me deixar-te uma<br />

parte de meus homens.<br />

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Jacó: Não é necessário, basta-me ter achado graça aos olhos do meu senhor. Levantarei<br />

aí um altar, ao qual chamou Israel. Isis-Ra-El. A trindade conhecida.<br />

A (tom de notícia de TV) – A violência campeia por nossa terra. Jacó teve a filha Dina<br />

violentada.<br />

B – No entanto, aconteceu algo inusitado. O raptor se apaixonou pela vítima.<br />

C - O pai do jov<strong>em</strong> foi negociar com Jacó, oferecendo terras e meios para negócios e<br />

mercados e inter-relações de parentesco futuro.<br />

B - Foi proposto que todos se tornass<strong>em</strong> circuncisos para que os negócios pudess<strong>em</strong><br />

caminhar a bom termo. Todos os varões foram circuncidados e os negócios foram<br />

estabelecidos.<br />

A - No entanto, na calada da noite, ainda fracos por causa da cirurgia, dois dos filhos de<br />

Jacó - Simeão e Levi - irmãos da vítima, penetraram na cidade, e mataram a espadas a<br />

todos os varões. Inclusive o jov<strong>em</strong> e seu pai.<br />

B – Partiram s<strong>em</strong> deixar pistas. Tomaram tudo o que havia na cidade e nos campos.<br />

C - Levaram como espólio todos os bens, os filhos, as mulheres e tudo o que se<br />

encontrava <strong>em</strong> suas casas.<br />

Jacó: Vós me lançastes na confusão e me tornastes odioso aos habitantes desta terra Só<br />

tenho comigo alguns homens e, quando toda essa gente se congregar contra mim para<br />

me ferir, perecerei com minha família.<br />

Simeon: Porventura, devíamos deixar tratar nossa irmã como uma puta?<br />

Todos - Rachel morreu ao dar à luz Benjamin.<br />

José: Estávamos ligando feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e se pôs de<br />

pé, enquanto os vossos o cercavam e se prostravam diante dele.<br />

Ruben Quererias, porventura, reinar sobre nós e tornar-te nosso senhor?<br />

José: Tive, ainda um sonho: o sol, a lua e onze estrelas prostravam-se diante de mim.<br />

Simeon: Eis o sonhador que chega. Vamos, mat<strong>em</strong>o-lo e atir<strong>em</strong>o-lo numa cisterna;<br />

dir<strong>em</strong>os depois que uma fera o devorou; aí quero ver para que serv<strong>em</strong> os sonhos.<br />

Ruben: Não lhe tira a vida. Nada de sangue. Jogai-o naquela cisterna, no deserto, mas<br />

não levanteis vossa mão contra ele (à parte) Depois eu o levo de volta ao pai.<br />

B - José depois foi vendido aos egípcios. Irmão contra irmão. Inveja entre irmãos.<br />

Jacó: É chorando que descerei para junto de meu filho na habitação dos mortos.<br />

C - Mas esses irmãos e essa corja toda descendente de Jacó provaram - nas Sagradas<br />

Escrituras - que não passavam de selvagens e bárbaros sanguinários. E t<strong>em</strong> mais: Judá<br />

dormiu com Tamar que tinha sido mulher de seus dois filhos, ambos mortos por Deus.<br />

Judá havia prometido um ultimo filho, quando enviuvasse e não cumpriu. Fez sexo com<br />

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ela, pois, a encontrou na beira da estrada Tomou como uma qualquer e <strong>em</strong> troca do<br />

sexo lhe deu um cabrito. Ela ainda pediu braceletes e jóias, e anel, cordão e bastão.<br />

Pior: Ela concebeu.<br />

B - Judá, a tua nora, andou pulando a cerca: vê-se que está grávida.<br />

Judá: isso não pode ser. Que ela seja queimada!<br />

Tamar: Concebi do hom<strong>em</strong> a qu<strong>em</strong> pertence isto: examine b<strong>em</strong>, ajuntou ela, de qu<strong>em</strong><br />

são este anel, este cordão e este bastão.<br />

Judá: Essas peças são minhas. Ela é mais justa do que eu; pois que não a dei ao meu<br />

filho Sela.<br />

B - E não se deitou mais com ela.<br />

A - Ela teve gêmeos. Podia ter sido queimada se não fosse uma mulher muito esperta.<br />

C - Usou a lei dos patriarcas para ter o que lhe pertencia por promessa.<br />

B – Esses são os filhos de Jacó. Povo de Israel, de onde há de vir o Messias.<br />

Todos – Uau!<br />

A – (como notícia) Acaba de chegar das terras de Canaã, uma leva de escravos, trazidos<br />

pelos Ismaelitas cabeludos. Trata-se de uma retaliação que os descendentes de Abraão,<br />

pelo mal ou b<strong>em</strong> que fizeram a Agar, antiga escrava egípcia.<br />

B – (tom de notícia de TV) Na tarde de ont<strong>em</strong>, por volta das dezesseis horas, José foi<br />

conduzido ao Egito, direto para o mercado do centro. Estava amarrado.<br />

C – (notícia) Consta que o comandante Potifar, eunuco do Faraó, um oficial egípcio de<br />

carreira, chefe da guarda, comprou- José a preço de tâmaras maduras.<br />

A – (notícia) José caiu nas graças de Potifar e se deu b<strong>em</strong> no palácio, ganhando um bom<br />

lugar na administração.<br />

B - Mas a mulher de Potifar insinuou-se a José, que a não queria.<br />

A – Acusado, injustamente, de assédio sexual José foi parar na prisão.<br />

C - O curioso é que, Potifar, sendo eunuco, tinha mulher à sua disposição. Taí uma coisa<br />

difícil de entender, como se não foss<strong>em</strong> poucas as coisas nessa história.<br />

B - Na prisão os dons proféticos de José se manifestaram e se mostraram verdadeiros,<br />

principalmente ao prever o fim da história do mordomo do Faraó e de seus padeiros, que<br />

também estavam presos.<br />

A - José confiava <strong>em</strong> seu Senhor Deus.<br />

B - José previu que o mordomo se safaria da morte, mas o padeiro não. Tudo isso<br />

através da interpretação dos sonhos de ambos.<br />

C – Dessa forma o mordomo não se esqueceu jamais do jov<strong>em</strong> José.<br />

Todos - Um dia José foi chamado ao palácio do faraó preocupado pois ninguém conseguia<br />

interpretar seus sonhos.<br />

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Faraó: Ouvi dizer que basta contar um sonho para que tu o expliques.<br />

José – O faraó é qu<strong>em</strong> está dizendo isso. Não me comprometa.<br />

Faraó – Afinal, qual é.<br />

José (didático) – Seguinte... (juntando a ponta dos dedos / mão contra mão) Não sou eu,<br />

mas é Deus qu<strong>em</strong> dará ao Faraó uma explicação. Que isso fique muito claro. Mas está na<br />

cara que o duplo sonho do faraó reduz-se, na verdade, a um só. É uma revelação. As<br />

sete vacas gordas e os sete feixes de bom trigo são os anos de fartura do Egito. As sete<br />

vacas magras e o setes feixes podres serão a seca e a pobreza que se seguirão. Será<br />

necessário uma ação política e um tr<strong>em</strong>endo plano econômico para que o povo não sofra.<br />

Faraó: Tu mesmo serás posto à frente de toda a minha casa, e todo o meu povo<br />

obedecerá à tua palavra: só o trono me fará maior do que tu. Estás á testa de todo o<br />

Egito. (dando-lhe um anel) Ouçam todos! s<strong>em</strong> a permissão de José não se moverá a<br />

mão n<strong>em</strong> o pé <strong>em</strong> toda a terra do Egito. Primeiro Ministro. Adon do Egito. O mundo<br />

comprará trigo conosco.<br />

Todos - A fome era violenta <strong>em</strong> toda a terra.<br />

Jacó: Por que estais olhando uns para os outros? Me disseram que há muito trigo no<br />

Egito. Desçam lá e compr<strong>em</strong>. Vão todos vocês e fica o pequeno Benjamin.<br />

José - (para a platéia) Donde vindes?<br />

Ruben (atrás): Da terra de Canaã para comprar víveres.<br />

José: Vós sois espiões: viestes explorar os pontos fracos do país.<br />

Ruben: Não, meu senhor, teus servos vieram comprar víveres. Somos todos filhos dum<br />

mesmo pai, somos gente honesta; teus servos não são espiões.<br />

José: Não é verdade - viestes explorar os pontos fracos do país.<br />

Ruben: Somos doze irmãos, filhos dum mesmo pai, na terra de Canaã. O mais novo está<br />

agora <strong>em</strong> casa de nosso pai, o outro já não existe.<br />

José: É b<strong>em</strong> como eu disse: sois espiões. Sereis, aliás, postos à prova: pela vida do<br />

Faraó, não saireis daqui antes que tenha vindo vosso irmão mais novo. Mandai um de<br />

vós buscá-lo; enquanto isso, ficareis prisioneiros. Vossas palavras serão assim provadas,<br />

e ver<strong>em</strong>os se diz<strong>em</strong> a verdade. Do contrário, pela vida do Faraó, eu os acusarei de<br />

espiões! Ficarão nas prisões. Melhor... Fazei isto, e vivereis, porque sou cheio do t<strong>em</strong>or a<br />

Deus. Se sois gente de b<strong>em</strong>, que um dentre vós fique aqui detido; e os outros partam<br />

levando o trigo para alimentar vossas famílias. N<strong>em</strong> precisa pagar.<br />

Ruben: Em verdade, expiamos o crime cometido contra o nosso irmão, porque víamos a<br />

angústia de sua alma quando ele nos suplicava, e não o escutamos! Eis por que veio<br />

sobre nós esta desgraça! Eu disse para não pecardes contra o menino? Não quisestes<br />

ouvir-me, e eis agora que nos é reclamado o seu sangue!<br />

B - José chorou, prendeu somente Simeon, encheram as bolsas de trigo e os mandou de<br />

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volta para cumprir<strong>em</strong> o trato. E ainda escondeu de volta o dinheiro do pagamento nas<br />

bolsas. José fundava o sist<strong>em</strong>a de nepotismo nos governos.<br />

Ruben: Pai Jacó. O hom<strong>em</strong> que governa o Egito prendeu Simeon e quer conhecer nosso<br />

irmão mais novo como prova de que não somos espiões. Ele o quer lá.<br />

Jacó: Vós me tirais os meus filhos! José já não existe, Simeão tampouco, e quereis me<br />

tomar ainda Benjamim! Tudo v<strong>em</strong> cair sobre a minha velhice!<br />

Rub<strong>em</strong>: Tira a vida aos meus dois filhos, se eu não trazer Benjamim de volta!<br />

Jacó – Chega! Não quero mais perder filho algum.<br />

Todos – A fome piorou sobre a terra de Canaã. Havia necessidade de se comprar mais<br />

trigo e víveres. Tiveram que voltar ao Egito.<br />

José: Vosso velho pai, do qual me falastes, vai b<strong>em</strong>? Ainda vive?<br />

Ruben: Teu servo, nosso pai, está passando b<strong>em</strong>; e vive ainda.<br />

José: É este, vosso irmão mais novo do qual me falastes?“Que Deus te faça<br />

misericórdia, meu filho! Poderão comer à vontade, lev<strong>em</strong> seu dinheiro e trigo e partam,<br />

que já é hora.<br />

Todos - No entanto José põe na bolsa de Benjamin uma taça, s<strong>em</strong> que ninguém saiba.<br />

Manda que a soldadesca os persiga no deserto e determina que qu<strong>em</strong> estiver com a taça<br />

será seu escravo.<br />

José: A taça foi encontrada na bolsa de Benjamin. Portanto ele deve morrer.<br />

Judá: Rogo-te, meu senhor, não se ire, porque tu és como o próprio faraó. Esse agora é<br />

o preferido da velhice de nosso pai. Não pod<strong>em</strong>os voltar s<strong>em</strong> ele. O pai disse: Se lhe<br />

acontecer alguma desgraça, fareis descer os meus cabelos brancos à habitação dos<br />

mortos, sob o peso da dor. Eu fico como escravo e livra o meu irmão.<br />

José: Aproximai-vos. Eu sou José, vosso irmão, que vendestes para o Egito. Estas são as<br />

linhas tortas de Deus. Fui mandando na frente para livrar o caminho de nossa família da<br />

fome. Não fiqu<strong>em</strong> tristes n<strong>em</strong> com r<strong>em</strong>orsos. É tudo brincadeirinha. Qu<strong>em</strong> manda aqui<br />

sou eu. Deus tornou-me chefe de toda a casa do Faraó e governador de todo o Egito.<br />

Avisarei o faraó que meus irmãos e a família de meu pai que estavam <strong>em</strong> Canaã, vieram<br />

para junto de mim; os homens são pastores, criadores de animais, e trouxeram suas<br />

ovelhas e seus bois com tudo o que lhes pertence. Ficarão nas terras de Gessém. As<br />

terras de Ramsés. Qu<strong>em</strong> sabe alguém não trabalha nos estábulos do Faraó?<br />

A - E José forneceu víveres a seu pai, a seus irmãos e a toda sua família.<br />

B - E faltou pão <strong>em</strong> toda a terra, porque a fome era tão violenta que a terra do Egito e a<br />

terra de Canaã estavam esgotadas.<br />

C - José tinha ajuntado todo o dinheiro que se encontrava no Egito e <strong>em</strong> Canaã, como<br />

preço do trigo que compravam, e o tinha depositado no tesouro do Faraó.<br />

A - José trocou pão pelos animais do povo, no primeiro ano.<br />

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B - Depois se tornaram escravos na própria terra, <strong>em</strong> troca de pão. Toda a população era<br />

servil e toda terra era do Faraó. Exceto a dos sacerdotes. Privilégios da casta.<br />

C - Em seguida deu ao povo, s<strong>em</strong>entes para que no t<strong>em</strong>po da colheita, dess<strong>em</strong> a quinta<br />

parte ao Faraó: as outras quatro partes serviriam para s<strong>em</strong>ente do campo e para<br />

alimento.<br />

Jacó - Meu filho, promete que me não enterrará no Egito. Tu liderarás povos. Os dois<br />

filhos que te nasceram no Egito antes que eu viesse para junto de ti, agora são meus<br />

filhos também: Efraim e Manasses. Não pensava <strong>em</strong> revê-lo e pude ainda conhecer seus<br />

filhos. (<strong>em</strong> transe) : Eis as profecias sobre todos vocês.<br />

(música de flauta pastoril)<br />

Rub<strong>em</strong>, tu és o meu primogênito primícias do meu vigor. Digno e notável <strong>em</strong> poder.<br />

Transbordante como a água, só não terás o primeiro lugar, porque dormiu com minha<br />

mulher.<br />

Simeão e Levi são irmãos; suas espadas são instrumentos de violência. Que a minha<br />

alma não participe de suas maquinações, meu coração jamais se associe às suas<br />

reuniões! Porque <strong>em</strong> sua cólera mataram homens. Maldita cólera que os levou à<br />

violência, maldito furor que os induziu à crueldade! Hei de dispersá-los <strong>em</strong> Jacó, hei de<br />

espalhá-los <strong>em</strong> Israel.<br />

Judá, teus irmãos te louvarão. Subjugarás inimigos; teus irmãos se prostrarão <strong>em</strong> tua<br />

presença. Filhote de leão, Judá: voltas trazendo a caça, meu filho. Não se apartará o<br />

cetro de Judá, até que venha aquele a qu<strong>em</strong> pertence por direito.<br />

Zebulon habita à beira do mar, no litoral, onde aportam os navios.<br />

Issacar é um jumento forte, deitado nos currais. Vê que é bom o descanso e a terra<br />

agradável: curva os ombros sob a carga, sujeita-se ao tributo.<br />

Dan julgará seu povo, como uma das tribos de Israel. Dan será uma serpente no<br />

caminho, uma cobra na estrada, que morde a pata do cavalo e derruba o cavaleiro.<br />

Gad será roubado por quadrilhas, mas também os assaltará e perseguirá.<br />

Aser faz um pão saboroso, que constitui as delícias dos reis.<br />

Neftali é uma gazela solta, que t<strong>em</strong> lindos filhotes.<br />

Aqui é tudo bicho, meu filho.<br />

José é broto de árvore fértil junto à nascente: seus ramos cresc<strong>em</strong> acima do muro.<br />

Benjamim é o lobo voraz que abate a presa e divide os despojos ao anoitecer.<br />

Todos - Jacó lhes dá uma benção sobrenatural, com todos os poderes e pedidos à<br />

divindade. São estes todos que formam as doze tribos de Israel.<br />

José: Devo sepultar meu pai <strong>em</strong> Canaã. Ele já está <strong>em</strong>balsamado.<br />

Faraó : Vai sepultar teu pai como ele te fez jurar. Toda a Elite governante do Egito vai ao<br />

sepultamento de Jacó. Em honra de teu pai declaro pranto de sete dias.<br />

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Ruben: Antes de morrer, teu pai recomendou-nos que te pedíss<strong>em</strong>os perdão do crime<br />

que comet<strong>em</strong>os, de seu pecado, de todo o mal que te fizeram. Perdoa, pois, agora esse<br />

crime àqueles que serv<strong>em</strong> o Deus de teu pai. Somos teus escravos!<br />

José: Não t<strong>em</strong>ais: Eu não sou Deus. Era para me fazer um Mal e aconteceu um B<strong>em</strong>.<br />

Um dia, daqui a c<strong>em</strong> anos eu morrerei; mas Deus os tirará daqui de volta para a terra<br />

dos patriarcas. Levareis daqui os meus ossos.<br />

Todos – (rola um batuque de danças e cantos similares aos cantos orientais)<br />

José morreu com a idade de cento e dez anos. Foi <strong>em</strong>balsamado e depositado num<br />

sarcófago no Egito. Os hebreus deixaram o Egito somente 450 anos depois de uma<br />

escravidão brutal, por obra e feitos de Moisés – aquele que foi retirado das águas e que<br />

abriu uma passag<strong>em</strong> pelas águas do Mar Vermelho. Mas isso já é outra história...<br />

Com a ajuda de Deus!<br />

(finaliza <strong>em</strong> danças e o elenco <strong>em</strong> festa, Deus dança junto)<br />

FIM<br />

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EDITORA ALTERNATIVAMENTE<br />

2010<br />

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