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INTRODUÇÃO À MICROBIOLOGIA - Laboratório de Biologia - IFSC

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO<br />

INSTITUTO DE FÍSICA DE SÃO CARLOS<br />

LICENCIATURA EM CIÊNCIAS EXATAS<br />

DISCIPLINA BIOLOGIA 3<br />

<strong>INTRODUÇÃO</strong> <strong>À</strong> <strong>MICROBIOLOGIA</strong><br />

Nelma R. Segnini Bossolan<br />

2002


SUMÁRIO<br />

1 <strong>INTRODUÇÃO</strong> 1<br />

1.1 POSIÇÃO DOS MICRORGANISMOS NO MUNDO VIVO 2<br />

1.2 DISTRIBUIÇÃO DOS MICRORGANISMOS NA NATUREZA 3<br />

1.3 ÁREAS DE APLICAÇÃO DA <strong>MICROBIOLOGIA</strong> 4<br />

1.4 A EVOLUÇÃO DA <strong>MICROBIOLOGIA</strong> 5<br />

1.4.1 GERAÇÃO ESPONTÂNEA VERSUS BIOGÊNESE 5<br />

1.4.2 TEORIA MICROBIANA DAS DOENÇAS 7<br />

1.5 CARACTERIZAÇÃO E CLASSIFICAÇÃO DOS MICRORGANISMOS 8<br />

2 BACTÉRIAS 10<br />

2.1 MORFOLOGIA E ULTRA-ESTRUTURA DAS BACTÉRIAS 10<br />

2.1.1 ESTRUTURAS BACTERIANAS 13<br />

2.2 CULTIVO DAS BACTÉRIAS 17<br />

2.2.1 TIPOS NUTRITIVOS DAS BACTÉRIAS 17<br />

2.2.2 MEIOS BACTERIOLÓGICOS 19<br />

2.2.3 CONDIÇÕES FÍSICAS NECESSÁRIAS AO CRESCIMENTO 20<br />

2.3 REPRODUÇÃO E CRESCIMENTO 21<br />

2.3.1 REPRODUÇÃO 21<br />

2.3.2 CRESCIMENTO 23<br />

2.4 PRINCIPAIS GRUPOS DE BACTÉRIAS 24<br />

2.4.1 BACTÉRIAS PATOGÊNICAS 25<br />

3 FUNGOS 28<br />

3.1 <strong>INTRODUÇÃO</strong> 28<br />

3.2 CARACTERÍSTICAS PRÓPRIAS DOS FUNGOS 28<br />

3.2.1 REPRODUÇÃO NOS FUNGOS 30<br />

3.2.2 FISIOLOGIA E NUTRIÇÃO DOS FUNGOS 31<br />

3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS FUNGOS 32<br />

3.3.1 ZYGOMYCETES 33<br />

3.3.2 ASCOMYCETES 34<br />

3.3.3 BASIDIOMYCETES 36<br />

3.3.4 DEUTEROMYCETES 37<br />

3.4 FUNGOS E SUAS ASSOCIAÇÕES COM OUTROS ORGANISMOS 38<br />

3.4.1 LIQUENS 38<br />

3.4.2 MICORRIZAS 39<br />

3.4.3 TRUFAS 39<br />

3.5 FUNGOS ECONOMICAMENTE IMPORTANTES 39<br />

3.5.1 FUNGOS PATOGÊNICOS 40<br />

4 VÍRUS 43<br />

4.1 <strong>INTRODUÇÃO</strong> 43<br />

4.2 HISTÓRICO 43<br />

4.3 ESTRUTURA DOS VÍRUS 44


4.4 CLASSIFICAÇÃO DOS VÍRUS ANIMAIS E DE PLANTAS 45<br />

4.5 REPLICAÇÃO DO VÍRUS 47<br />

4.6 BACTERIÓFAGOS 50<br />

4.7 ISOLAMENTO E IDENTIFICAÇÃO DO VÍRUS 51<br />

4.8 AGENTES INFECCIOSOS SEMELHANTES A VÍRUS 51<br />

5 CONTROLE DOS MICRORGANISMOS 53<br />

5.1 FUNDAMENTOS 53<br />

5.2 CONDIÇÕES QUE INFLUENCIAM A AÇÃO ANTIMICROBIANA 54<br />

5.3 MODO DE AÇÃO DOS AGENTES ANTIMICROBIANOS 54<br />

5.4 CONTROLE PELOS AGENTES FÍSICOS 54<br />

5.4.1 APLICAÇÃO DAS ALTAS TEMPERATURAS 54<br />

5.4.2 APLICAÇÃO DE BAIXAS TEMPERATURAS 55<br />

5.4.3 RADIAÇÕES 56<br />

5.5 CONTROLE PELOS AGENTES QUÍMICOS 57<br />

5.5.1 ESCOLHA DO AGENTE QUÍMICO ANTIMICROBIANO 57<br />

5.5.2 PRINCIPAIS GRUPOS DE DESINFETANTES E ANTI-SÉPTICOS 58<br />

5.6 ANTIBIÓTICOS E OUTROS AGENTES QUIMIOTERÁPICOS 59<br />

6 BIBLIOGRAFIA 64


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

1<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

1 Introdução<br />

A ciência da Microbiologia [do grego: mikros (“pequeno”), bios (“vida”) e<br />

logos (“ciência”)] é o estudo dos organismos microscópicos e <strong>de</strong> suas ativida<strong>de</strong>s.<br />

Preocupa-se com a forma, a estrutura, a reprodução, a fisiologia, o metabolismo e a<br />

i<strong>de</strong>ntificação dos seres microscópicos. Inclui o estudo da sua distribuição natural, suas<br />

relações recíprocas e com outros seres vivos, seus efeitos benéficos e prejudiciais sobre<br />

os homens e as alterações físicas e químicas que provocam em seu meio ambiente.<br />

Em sua maior parte, a Microbiologia trata com organismos microscópicos<br />

unicelulares. Nas assim chamadas formas superiores <strong>de</strong> vida, os organismos são<br />

compostos <strong>de</strong> muitas células, que constituem tecidos altamente especializados e órgãos<br />

<strong>de</strong>stinados a exercer funções específicas. Nos indivíduos unicelulares, todos os<br />

processos vitais são realizados numa única célula. In<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente da complexida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> um organismo, a célula é, na realida<strong>de</strong>, a unida<strong>de</strong> básica da vida.<br />

Todas as células vivas são basicamente semelhantes. Conforme já foi visto, elas<br />

compõem-se <strong>de</strong> protoplasma (do grego: a primeira substância formada), um complexo<br />

orgânico coloidal constituído principalmente <strong>de</strong> proteínas, lipí<strong>de</strong>os e ácidos nucleicos; o<br />

conjunto é circundado por membranas limitantes ou pare<strong>de</strong> celular, e todos contêm um<br />

núcleo ou uma substância nuclear equivalente.<br />

Todos os sistemas biológicos têm as seguintes características comuns: 1)<br />

habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reprodução; 2) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> ingestão ou assimilação <strong>de</strong> substâncias<br />

alimentares, metabolizando-as para suas necessida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> energia e <strong>de</strong> crescimento; 3)<br />

habilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> excreção <strong>de</strong> produtos <strong>de</strong> escória; 4) capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> reagir a alterações do<br />

meio ambiente (algumas vezes chamada <strong>de</strong> "irritabilida<strong>de</strong>"), e 5) suscetibilida<strong>de</strong> à<br />

mutação.<br />

Os princípios da <strong>Biologia</strong> po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>monstrados através do estudo da<br />

Microbiologia, pois os microrganismos têm muitas características que os tornam<br />

instrumentos i<strong>de</strong>ais para a pesquisa dos fenômenos biológicos. Os microrganismos<br />

fornecem sistemas específicos para a investigação das reações fisiológicas, genéticas e<br />

bioquímicas, que são a base da vida. Eles po<strong>de</strong>m crescer, <strong>de</strong> maneira conveniente, em<br />

tubos <strong>de</strong> ensaio ou frascos, exigindo, assim, menos espaço e cuidados <strong>de</strong> manutenção do<br />

que as plantas superiores e os animais. Além disso, crescem rapidamente e se<br />

reproduzem num ritmo muito alto; algumas espécies bacterianas <strong>de</strong>monstram quase 100<br />

gerações num período <strong>de</strong> 24 horas. Os processos metabólicos dos microrganismos<br />

seguem os padrões que ocorrem nos vegetais superiores e nos animais. As leveduras,<br />

por exemplo, utilizam a glicose, basicamente do mesmo modo que as células dos tecidos<br />

<strong>de</strong> mamíferos, revelando que o mesmo sistema enzimático está presente nestes<br />

organismos tão diversos.<br />

Em Microbiologia po<strong>de</strong>-se estudar os organismos em gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>talhe e observar<br />

seus processos vitais durante o crescimento, a reprodução, o envelhecimento e a morte.<br />

Modificando-se a composição do meio ambiente, é possível alterar as ativida<strong>de</strong>s<br />

metabólicas, regular o crescimento e, até alterar alguns <strong>de</strong>talhes do padrão genético,<br />

tudo sem causar a <strong>de</strong>struição do microrganismo.<br />

Os principais grupos <strong>de</strong> microrganismos são os protozoários, fungos, algas e<br />

bactérias. Os vírus, apesar <strong>de</strong> não serem consi<strong>de</strong>rados vivos, têm algumas características<br />

<strong>de</strong> células vivas e por isso são estudados como microrganismos. Este texto irá abordar


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

2<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

temas sobre bactérias, fungos e vírus, uma vez que algas e protozoários já foram vistos<br />

em etapa anterior.<br />

1.1 Posição dos microrganismos no mundo vivo<br />

A Microbiologia estuda alguns organismos que são predominantemente<br />

semelhantes ao vegetais , outros que são similares aos animais e, um terceiro grupo que<br />

tem características aos animais e vegetais. Visto que não existem organismos que não<br />

pertencem, naturalmente, a nenhum <strong>de</strong>stes dois reinos, foi proposta a criação <strong>de</strong> novos<br />

reinos que os pu<strong>de</strong>ssem incluir.<br />

Uma <strong>de</strong>ssas primeiras proposições foi feita em 1866 pelo zoólogo alemão E. H.<br />

Haeckel. Este autor sugeriu que um terceiro reino incluísse os microrganismos que,<br />

tipicamente não po<strong>de</strong>riam ser classificados como vegetais ou animais. Esses organismos<br />

foram chamados <strong>de</strong> protistas e colocados no reino Protista, constituído unicamente por<br />

seres unicelulares. Assim, ao se falar <strong>de</strong> modo geral em protistas, compreen<strong>de</strong>m-se<br />

bactérias, algas, fungos e protozoários, excluindo-se os vírus que não são organismos<br />

celulares.<br />

Mediante os progressos do conhecimento da ultra-estrutura celular, os<br />

microrganismos pu<strong>de</strong>ram ser divididos em duas categorias: procariotos e eucariotos.<br />

Esta divisão baseia-se nas diferenças <strong>de</strong> organização da maquinaria celular, já vistas<br />

neste curso. As algas azuis (cianofíceas) e as bactérias são organismos procariotos. Entre<br />

os microrganismos eucariotos estão os protozoários, os fungos e as <strong>de</strong>mais algas (as<br />

células animais e vegetais são, também eucarióticas). Os vírus, isolados entre os<br />

microrganismos, são <strong>de</strong>ixados <strong>de</strong> lado neste esquema <strong>de</strong> organização celular.<br />

Um outro sistema <strong>de</strong> classificação, o sistema dos cinco reinos, foi proposto por<br />

Robert H. Whittaker (1969), baseado no modo pelo qual o organismo obtém nutrientes<br />

<strong>de</strong> sua alimentação. Este sistema é, agora, amplamente aceito porque consi<strong>de</strong>ra relações<br />

evolutivas e é compatível com os recentes estudos bioquímicos, genéticos e ultraestruturais,<br />

os quais sugerem que a endossimbiose (viver junto, um no interior do outro)<br />

hereditária levou até a célula eucariótica, tal como ela é conhecida, a partir <strong>de</strong> uma<br />

varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> unida<strong>de</strong>s procarióticas, <strong>de</strong>senvolvendo-se <strong>de</strong>s<strong>de</strong> um ancestral procariótico<br />

comum.<br />

Os microrganismos, portanto, são encontrados em três dos cinco reinos: reino<br />

Monera (bactérias e cianobactérias), reino Protista (algas microscópicas e protozoários)<br />

e reino Fungi (leveduras e bolores).<br />

Até 1977, a idéia prevalecente era <strong>de</strong> que os organismos procariotos, por causa<br />

da sua simplicida<strong>de</strong> estrutural, eram os ancestrais <strong>de</strong> eucariotos mais complexos. Com<br />

as pesquisas <strong>de</strong> Carl Woese e seus colaboradores, ficou comprovado que os procariotos<br />

e eucariotos evoluíram por vias completamente diferentes a partir <strong>de</strong> uma forma<br />

ancestral comum, como mostra a figura 1. Estes pesquisadores utilizaram uma técnica<br />

que compara o arranjo nucleotídico do RNAr entre diferentes organismos. Por exemplo,<br />

se as sequências <strong>de</strong> ribonucleotí<strong>de</strong>os <strong>de</strong> 2 tipos <strong>de</strong> organismos diferem em gran<strong>de</strong><br />

extensão, a relação entre ambos é muito distante; ou seja, os organismos divergiram há<br />

muito tempo <strong>de</strong> um ancestral comum. Porém, se as sequências mostram mais<br />

similarida<strong>de</strong>s, os organismos estão intimamente relacionados e têm um ancestral comum<br />

relativamente recente. Os eucariotos possuem um tipo geral <strong>de</strong> sequência e os


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

3<br />

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procariotos, um segunto tipo. Dentre os procariotos, alguns têm um terceiro tipo <strong>de</strong><br />

sequência, que difere dos anteriores. Com isso, concluiu-se que há 2 tipos principais <strong>de</strong><br />

bactérias, <strong>de</strong>signadas <strong>de</strong> arqueobactérias e eubactérias.<br />

A figura 1 mostra um esquema das vias pelas quais os organismos vivos<br />

evoluíram, como <strong>de</strong>duzido através <strong>de</strong> estudos comparativos e RNA ribossômico.<br />

Figura 1: Representação das vias pelas quais os organismos vivos evoluíram, como <strong>de</strong>duzido<br />

através <strong>de</strong> estudos comparativos <strong>de</strong> RNA ribossômico. As três maiores ramificações evolucionárias são<br />

mostradas como arqueobactrérias, eubactérias e eucariotos. Entre as eubactérias pelo menos <strong>de</strong>z linhas <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes distintos ocorrem; nas arqueobactérias, pelo menos três. No caso dos eucariotos, há<br />

evidências <strong>de</strong> que certas eubactérias Gram-negativas invadiram células eucarióticas primitivas e evoluíram<br />

como organelas intracelulares chamadas mitocôndrias. Cloroplastos, as organelas fotossintéticas <strong>de</strong><br />

células <strong>de</strong> plantas, parecem ter evoluído <strong>de</strong> maneira similar, a partir <strong>de</strong> uma cianobactéria. (fonte: Pelczar<br />

et al., 1996)<br />

1.2 Distribuição dos Microrganismos na Natureza<br />

Os microrganismos se encontram em praticamente todos os lugares da natureza.<br />

São transportados por correntes aéreas <strong>de</strong>s<strong>de</strong> a superfície da Terra até as camadas<br />

superiores da atmosfera. Mesmo os microrganismos típicos dos oceanos po<strong>de</strong>m ser<br />

achados a muitos quilômetros <strong>de</strong> distância, no alto <strong>de</strong> montanhas. São encontrados em<br />

sedimentos no fundo do mar, em gran<strong>de</strong>s profundida<strong>de</strong>s. São carregados por correntes<br />

fluviais e até mares; e, se <strong>de</strong>jetos humanos contendo bactérias patogênicas forem<br />

<strong>de</strong>spejados em correntes <strong>de</strong> água, a doença po<strong>de</strong> disseminar-se <strong>de</strong> um lugar para outro.<br />

Os microrganismos ocorrem mais abundantemente on<strong>de</strong> pu<strong>de</strong>rem encontrar alimentos,


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4<br />

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umida<strong>de</strong> e temperatura a<strong>de</strong>quadas para seu crescimento e multiplicação. Uma vez que as<br />

condições que favorecem a sobrevivência e o crescimento <strong>de</strong> muitos microrganismos<br />

são as mesmas sob as quais vivem as populações humanas, é inevitável que vivamos<br />

entre gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> microrganismos. Eles estão no ar que respiramos e no<br />

alimento que ingerimos. Estão na superfície <strong>de</strong> nosso corpo, em nosso trato digestivo, na<br />

boca, no nariz e em outros orifícios naturais. Felizmente, a maioria dos microrganismos<br />

é inócua para o homem, e este tem meios <strong>de</strong> resistir à invasão daqueles que são<br />

potencialmente patogênicos.<br />

1.3 Áreas <strong>de</strong> aplicação da Microbiologia<br />

Existem numerosos aspectos no estudo da Microbiologia, que são divididos em<br />

duas áreas principais: a microbiologia básica e a microbiologia aplicada.<br />

A microbiologia básica estuda a natureza fundamental e as proprieda<strong>de</strong>s dos<br />

microrganismos. Preocupa-se com assuntos relacionados aos seguintes temas:<br />

características morfológicas (forma e tamanho das células, composição química,<br />

etc.);<br />

características fisiológicas (necessida<strong>de</strong>s nutricionais específicas e condições<br />

necessárias ao crescimento e reprodução);<br />

ativida<strong>de</strong>s bioquímicas (modo <strong>de</strong> obtenção <strong>de</strong> energia pelos microrganismos);<br />

características genéticas (hereditarieda<strong>de</strong> e variabilida<strong>de</strong> das características);<br />

características ecológicas (ocorrência natural dos microrganismos no ambiente e<br />

sua relação com outros organismos);<br />

potencial <strong>de</strong> patogenicida<strong>de</strong> dos microrganismos e<br />

classificação (relação taxonômica entre os grupos do mundo microbiano).<br />

Na microbiologia aplicada estuda-se como os microrganismos po<strong>de</strong>m ser<br />

usados ou controlados para várias finalida<strong>de</strong>s práticas. Os pricipais campos <strong>de</strong> aplicação<br />

da microbiologia incluem: medicina, alimentos e laticínios, agricultura, indústria e<br />

ambiente.<br />

Na área industrial, por exemplo, os microrganismos são utilizados na síntese <strong>de</strong><br />

uma varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> substâncias químicas, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> o ácido cítrico até antibióticos mais<br />

complexos e enzimas. Certos microrganismos são capazes <strong>de</strong> fermentar material<br />

orgânico animal e humano, produzindo gás metano que po<strong>de</strong> ser coletado e usado como<br />

combustível. A biometalurgia explora as ativida<strong>de</strong>s químicas <strong>de</strong> bactérias para extrair<br />

minerais, como cobre e ferro <strong>de</strong> minérios <strong>de</strong> baixa qualida<strong>de</strong>. A indústria do petróleo<br />

têm utilizado bactérias e seus produtos, como os exopolissacarí<strong>de</strong>os presentes<br />

externamente à célula bacteriana, para aumentar a extração do petróleo <strong>de</strong> rochas<br />

reservatório.<br />

Na área ambiental, estuda-se a utilização <strong>de</strong> microrganismos que po<strong>de</strong>m<br />

<strong>de</strong>gradar poluentes específicos, como herbicidas e inseticidas.


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5<br />

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A microbiologia médica trata dos microrganismos causadores <strong>de</strong> doenças<br />

humanas (patogênicos, além <strong>de</strong> estar relacionada com a prevenção e o controle das<br />

doenças. Juntamente com a engenharia genética, têm pesquisado a produção <strong>de</strong> enzimas<br />

bacterianas que dissolvam coágulos sangüíneos, vacinas humanas utilizando vírus <strong>de</strong><br />

insetos e testes laboratoriais rápidos para diagnóstico <strong>de</strong> infecção viral, entre tantas<br />

outras aplicações possíveis nesta área.<br />

A microbiologia dos alimentos está relacionada com as doenças que po<strong>de</strong>m ser<br />

transmitidas pelos alimentos, como por exemplo, infecções causadas por salmonelas,<br />

intoxicações causadas por estafilococos e clostrídios. Relaciona-se também com<br />

aspectos positivos, com a utilização <strong>de</strong> microrganismos na produção <strong>de</strong><br />

alimentos/bebidas (queijos, pães, cervejas, etc.).<br />

1.4 A Evolução da Microbiologia<br />

A Microbiologia começou quando se apren<strong>de</strong>u a polir lentes, feitas a partir <strong>de</strong><br />

peças <strong>de</strong> vidro, e a combiná-las até produzir aumentos suficientemente gran<strong>de</strong>s que<br />

possibilitassem a visualização dos microrganismos. Durante o século XIII, Roger Bacon<br />

postulou que a doença era produzida por seres vivos invisíveis. A sugestão foi<br />

novamente feita por Fracastoro <strong>de</strong> Verona (1483-1553) e por Von Plenciz, em 1762,<br />

mas estes autores não dispunham <strong>de</strong> provas. No início <strong>de</strong> 1658, um monge chamado<br />

Kircher se referiu a "vermes" invisíveis a olho <strong>de</strong>sarmado nos corpos em <strong>de</strong>composição,<br />

no pão, no leite e em excreções diarréicas. Em 1665, Robert Hooke viu e <strong>de</strong>screveu<br />

células em um pedaço <strong>de</strong> cortiça. Estabeleceu o fato <strong>de</strong> que os organismos <strong>de</strong> "animais e<br />

plantas, complexos que sejam, são compostos <strong>de</strong> algumas partes elementares que se<br />

repetem freqüentemente" - citação não <strong>de</strong>vida a Hooke, mas originada da <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong><br />

Aristóteles sobre a estrutura celular das coisas vivas, datadas do século IV a.C.<br />

Embora não tenha sido, provavelmente, o primeiro a ver as bactérias e os<br />

protozoários, o holandês Antony Van Leeuwenhoek (1632-1723), foi o primeiro a<br />

relatar suas observações, com <strong>de</strong>scrições precisas e <strong>de</strong>senhos.<br />

A palavra bactéria vem do termo bacterium, que foi introduzido pelo alemão<br />

C.G. Ehrenberg, em 1828, como uma <strong>de</strong>nominação genérica para certos tipos<br />

bacterianos representativos. Deriva da palavra grega que significa "pequeno bastão". A<br />

palavra micróbio foi introduzida em 1878 pelo cirurgião francês, Charles-Emmanuel<br />

Sedillot.<br />

1.4.1 Geração Espontânea versus Biogênese<br />

A <strong>de</strong>scoberta dos microrganismos focalizou o interesse científico sobre a origem<br />

dos seres vivos. No que se refere às formas superiores <strong>de</strong> vida, Aristóteles (384-322<br />

a.C.) pensava que os animais podiam se originar, espontaneamente, do solo, <strong>de</strong> plantas e<br />

<strong>de</strong> outros animais diferentes, e sua influência ainda atingiu o século XVII.<br />

Era aceito como fato, por exemplo, que as larvas podiam ser produzidas pela<br />

exposição da carne a o calor e ao ar, embora Francesco Redi (1626-1697) duvidasse do<br />

mesmo. Ele realizou uma experiência na qual colocou carne numa jarra coberta com<br />

gaze. Atraídas pelo odor da carne, as moscas puseram seus ovos sobre a cobertura e,<br />

<strong>de</strong>stes, emergiram as larvas. Esta experiência e outras parecem ter resolvido o assunto,


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6<br />

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ao menos no que se referia a tais formas vivas. Com os microrganismos, contudo, era<br />

diferente; seguramente eles não tinham pais.<br />

Em 1749, John Needham (1713-1781), trabalhando com carne exposta a cinzas<br />

quentes, observou o aparecimento <strong>de</strong> microrganismos que não existiam no início da<br />

experiência, concluindo que as bactérias tinham se originado da carne. Quase que ao<br />

mesmo tempo, Spallanzani (1729-1799) ferveu caldo <strong>de</strong> carne durante uma hora,<br />

fechando logo a seguir os frascos. Nenhum microrganismo apareceu, mas seus<br />

resultados, ainda que repetidos, não convenceram Needham. Este insistia em que o ar<br />

era essencial para a produção espontânea dos seres microscópicos, e este ar tinha sido<br />

excluído dos frascos pelo fechamento. 60 a 70 anos mais tar<strong>de</strong> dois pesquisadores<br />

respon<strong>de</strong>ram a este argumento. Franz Schulze (1815-1873) aerava infusões fervidas,<br />

fazendo o ar atravessar soluções fortemente ácidas, enquanto Theodor Schwann (1810-<br />

1882) forçava o ar através <strong>de</strong> tubos aquecidos ao rubro. Em nenhum dos casos surgiram<br />

os micróbios. Os a<strong>de</strong>ptos da geração espontânea não se convenceram, dizendo que o<br />

ácido e o calor é que não permitiram o crescimento dos micróbios. Por volta <strong>de</strong> 1850,<br />

Schrö<strong>de</strong>r e Von Dush realizaram uma experiência mais convincente, fazendo o ar passar<br />

através do algodão para frascos que continham o caldo aquecido. Assim, as bactérias<br />

foram retidas pelas fibras <strong>de</strong> algodão, tanto que não houve seu <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

O conceito <strong>de</strong> geração espontânea foi revivido, pela última vez, por Pouchet, que<br />

publicou em 1859, um relatório, provando sua ocorrência. Pouchet foi rebatido por<br />

Louis Pasteur (1822-1895). Este preparou um frasco com colo longo, estreito, em<br />

pescoço <strong>de</strong> cisne . As soluções nutritivas foram aquecidas no frasco e o ar - não-tratado<br />

e não-filtrado - podia passar para <strong>de</strong>ntro ou para fora. Os micróbios, porém,<br />

<strong>de</strong>positavam-se no pescoço <strong>de</strong> cisne e não apareciam na solução.<br />

Finalmente, John Tyndall (1820-1893) efetuou experiências numa caixa<br />

especialmente <strong>de</strong>senhada para provar que a poeira carrega os micróbios . Se não houver<br />

poeira, o caldo estéril ficará livre <strong>de</strong> crescimento microbiano por períodos <strong>de</strong> tempo<br />

in<strong>de</strong>finidos.<br />

Os aparelhos utilizados nas experiências acima <strong>de</strong>scritas estão ilustrados na<br />

figura 2.<br />

Figura 2: Aparelhos utilizados nos experimentos que <strong>de</strong>rrubaram a teoria da geração espontânea<br />

(fonte: Pelczar et al., 1980).


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

7<br />

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1.4.2 Teoria Microbiana das Doenças<br />

Antes <strong>de</strong> Pasteur ter provado experimentalmente que as bactérias são a causa <strong>de</strong><br />

algumas doenças, muitos observadores já argumentavam a favor <strong>de</strong>sta teoria. Fracastoro<br />

<strong>de</strong> Verona sugeriu que as doenças podiam ser <strong>de</strong>vidas a organismos invisíveis,<br />

transmitidos <strong>de</strong> uma pessoa para outra. Em 1762, Von Plenciz, <strong>de</strong> Viena, não apenas<br />

estabeleceu que seres vivos eram causas <strong>de</strong> doenças, como também suspeitou que<br />

microrganismos diferentes eram responsáveis por enfermida<strong>de</strong>s diferentes. O médico<br />

Oliver W. Holmes (1809-1894) insistia que a febre puerperal era contagiosa e,<br />

provavelmente, causada por um germe transmitido <strong>de</strong> uma mãe para outra por<br />

intermédio das parteiras e dos médicos. Quase na mesma época, o médico húngaro<br />

Ignaz P. Semmelweis (1818-1865) introduzia o uso <strong>de</strong> antissépticos na prática<br />

obstétrica.<br />

Na França, Louis Pasteur estudou os métodos e processos envolvidos na<br />

fabricação <strong>de</strong> vinhos e cervejas. Observou que a fermentação das frutas e dos grãos,<br />

resultando em álcool, era efetuada por micróbios. Examinando muitas amostras <strong>de</strong><br />

"fermentos", isolou micróbios <strong>de</strong> espécies diferentes. Nos bons lotes, predominava um<br />

tipo; nos produtos pobres, outro tipo estava presente. Selecionando a<strong>de</strong>quadamente o<br />

microrganismo, o fabricante podia estar seguro <strong>de</strong> conseguir produtos bons e uniformes.<br />

Porém os micróbios já estavam nos sucos; <strong>de</strong>viam ser removidos e fermentação iniciada<br />

com uma cultura proveniente <strong>de</strong> um tonel que tinha sido satisfatório. Pasteur sugeriu<br />

que os tipos in<strong>de</strong>sejáveis <strong>de</strong> microrganismos <strong>de</strong>veriam ser eliminados pelo calor, não tão<br />

intenso que prejudicasse o gosto do suco <strong>de</strong> fruta, mas suficiente para tornar inócuo os<br />

germes. Observou que, mantendo os sucos a uma temperatura <strong>de</strong> 62-63 º C, durante uma<br />

hora e meia, obtinha o resultado <strong>de</strong>sejado. Este processo tornou-se conhecido como<br />

pasteurização e hoje é amplamente utilizado nas indústrias <strong>de</strong> fermentação, porém é a<br />

indústria dos <strong>de</strong>rivados do leite que está mais familiarizada com este método, visando a<br />

<strong>de</strong>struição dos microrganismos patogênicos, presentes no leite.<br />

Na Alemanha, o médico Robert Koch (1843-1910) estudou o problema do<br />

carbúculo hemático, que é uma doença do gado bovino, caprino e, às vezes, do homem.<br />

Ele <strong>de</strong>scobriu os bacilos típicos com extremida<strong>de</strong>s cortadas em ângulos retos, no sangue<br />

<strong>de</strong> animais mortos pela infecção carbunculosa. Inoculou as bactérias em meios <strong>de</strong><br />

cultura, em seu laboratório, examinou-as ao microscópio para estar seguro <strong>de</strong> que<br />

apenas uma espécie tinha se <strong>de</strong>senvolvido e injetou-as em outros animais para verificar<br />

se estes se tornavam doentes e <strong>de</strong>senvolviam os sintomas clínicos do carbúnculo<br />

hemático. A partir <strong>de</strong>stes animais experimentais, Koch isolou micróbios iguais aos que<br />

tinha encontrado originalmente nos carneiros infectados. Esta foi a primeira vez que<br />

uma bactéria foi comprovada como causa <strong>de</strong> uma doença animal. A partir disto foram<br />

estabelecidos os postulados <strong>de</strong> Koch: 1) Um microrganismo específico po<strong>de</strong> sempre ser<br />

encontrado em associação com uma dada doença. 2) O organismo po<strong>de</strong> ser isolado e<br />

cultivado, em cultura pura, no laboratório. 3) A cultura pura produzirá a doença quando<br />

inoculada em animal sensível. 4) É possível recuperar o microrganismo, em cultura<br />

pura, dos animais experimentalmente infectados.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

8<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

1.5 Caracterização e Classificação dos Microrganismos<br />

A caracterização e a classificação dos organismos vivos são o principal objetivo<br />

em todos os ramos da Ciência Biológica. A partir do momento em que um organismo é<br />

completamente conhecido, torna-se possível fazer comparações com outros,<br />

<strong>de</strong>terminando semelhanças e diferenças. As comparações das características <strong>de</strong> gran<strong>de</strong><br />

número <strong>de</strong> microrganismos resultam, eventualmente, num sistema <strong>de</strong> agrupamento das<br />

espécies semelhantes. Por fim, cria-se um grupo com características muito semelhantes,<br />

que é consi<strong>de</strong>rado como uma espécie e recebe um nome específico, isto é, o<br />

microrganismo adquire um nome.<br />

Por serem individualmente tão pequenos que não po<strong>de</strong>m ser visualizados sem<br />

ajuda <strong>de</strong> um microscópio, não é prático trabalhar com um único indivíduo. Por esta<br />

razão estudam-se culturas, que contêm milhares, milhões e até mesmo bilhões <strong>de</strong><br />

indivíduos. Uma cultura que consiste em uma única espécie <strong>de</strong> microrganismo (uma<br />

espécie viva), in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente do número <strong>de</strong> indivíduos, num ambiente livre <strong>de</strong><br />

outros organismos vivos, é chamada <strong>de</strong> cultura axênica. Os microbiologistas usualmente<br />

se referem a tais culturas como culturas puras, embora, no sentido técnico estrito, a<br />

cultura pura seja aquela que se origina do crescimento <strong>de</strong> uma única célula. Se dois ou<br />

mais tipos (espécies) crescem juntos, como normalmente ocorre na natureza, passam a<br />

constituir uma cultura mista.<br />

Antes <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificar e classificar um microrganismo, suas características <strong>de</strong>vem<br />

ser <strong>de</strong>terminadas com <strong>de</strong>talhes a<strong>de</strong>quados. As principais incluem as seguintes:<br />

1. Características culturais: os nutrientes exigidos para o crescimento e as<br />

condições físicas do ambiente que favorecem o <strong>de</strong>senvolvimento.<br />

2. Características morfológicas: as dimensões das células, seus arranjos, a<br />

diferenciação e a i<strong>de</strong>ntificação <strong>de</strong> suas estruturas.<br />

3. Características metabólicas: a maneira pela qual os microrganismos<br />

<strong>de</strong>senvolvem os processos químicos vitais.<br />

4. Características da composição química: a i<strong>de</strong>ntificação dos principais e típicos<br />

constituintes químicos da célula.<br />

5. Características antigênicas: a <strong>de</strong>tecção <strong>de</strong> componentes especiais da célula<br />

(químicos) que fornecem evidências <strong>de</strong> semelhança entre as espécies.<br />

6. Características genéticas: a análise da composição do ácido<br />

<strong>de</strong>soxirribonucleico (DNA), assim como a <strong>de</strong>terminação das relações entre o DNA<br />

isolado <strong>de</strong> diferentes microrganismos.<br />

A maioria das características acima citadas é <strong>de</strong>terminada através <strong>de</strong> testes<br />

laboratoriais, que incluem o uso <strong>de</strong> diferentes meios e diferentes reações químicas. No<br />

entanto, um dos instrumentos mais po<strong>de</strong>rosos na investigação é o microscópio. A tabela<br />

1 resume as características essenciais e aplicações dos diferentes tipos <strong>de</strong> microscopia.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

9<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Tabela 1 : Comparação <strong>de</strong> diferentes tipos <strong>de</strong> microscópios (fonte: Pelczar et<br />

al.,1996).<br />

Tipo <strong>de</strong><br />

microscópio<br />

Ampliação máxima<br />

útil<br />

Campo claro 1.000 – 2.000 Espécimes corados ou<br />

<strong>de</strong>scorados; as bactérias,<br />

geralmente coradas,<br />

aparecem com a cor do<br />

corante<br />

Campo escuro 1.000 – 2.000 Geralmente <strong>de</strong>scorados;<br />

aparecem brilhantes ou<br />

iluminados” sobre um<br />

campo escuro<br />

Observação do espécime Aplicações<br />

Fluorescência 1.000 – 2.000 Luminoso e corado; cor do<br />

corante fluorescente<br />

Contraste <strong>de</strong><br />

fase<br />

1.000 – 2.000 Graus variáveis <strong>de</strong><br />

iluminação<br />

Eletrônico 200.000 – 400.000 Observado em tela<br />

fluorescente<br />

Características morfológicas<br />

grosseiras <strong>de</strong> bactérias,<br />

leveduras, bolores, algas e<br />

protozoários<br />

Microrganismos que exibem<br />

algumas características<br />

morfológicas especiais quando<br />

vivos e em suspensão fluida; por<br />

exemplo, os espiroquetas<br />

Técnica <strong>de</strong> diagnóstico em que o<br />

corante fluorescente fixado ao<br />

organismo revela a sua<br />

i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong><br />

Exame <strong>de</strong> estruturas celulares em<br />

microrganismos maiores e vivos;<br />

por exemplo, leveduras, algas,<br />

protozoários e algumas bactérias<br />

Exame <strong>de</strong> vírus e das ultraestruturas<br />

das células<br />

microbianas


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

10<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

2 BACTÉRIAS<br />

2.1 Morfologia e Ultra-Estrutura das Bactérias<br />

Entre as principais características das células bacterianas estão suas dimensões,<br />

forma, estrutura e arranjo. Estes elementos constituem a morfologia da célula (figura 3).<br />

Embora existam milhares <strong>de</strong> espécies bacterianas diferentes, os organismos<br />

isolados apresentam uma das três formas gerais: elipsoidal ou esférica, cilíndrica ou em<br />

bastonete e espiralada.<br />

As células bacterianas esféricas ou elipsoidais são chamadas <strong>de</strong> cocos e po<strong>de</strong>m<br />

apresentar os arranjos vistos na figura 4.<br />

As células bacterianas cilíndricas ou em bastonetes (bacilos) comumente<br />

apresentam-se isoladas e ocasionalmente ocorrem aos pares (diplobacilos) ou em<br />

ca<strong>de</strong>ias (estreptobacilos) (figura 5).<br />

As bactérias espiraladas (singular = spirillum; plural = spirilla) ocorrem,<br />

predominantemente, como células isoladas. As células individuais <strong>de</strong> espécies diferentes<br />

exibem, contudo, nítidas diferenças no comprimento, número e amplitu<strong>de</strong> das espirais e<br />

na rigi<strong>de</strong>z das pare<strong>de</strong>s celulares. As bactérias curtas com espiras incompletas são<br />

conhecidas como bactérias comma ou vibriões (figura 6).<br />

A unida<strong>de</strong> <strong>de</strong> medida das bactérias é o micrômetro, que equivale a 10 - ³ mm. As<br />

bactérias mais freqüentemente estudadas em laboratório me<strong>de</strong>m, aproximadamente, 0,5<br />

a 1,0 µm por 2,0 a 5,0 µm. Os estafilococos e estreptococos, por exemplo, têm<br />

diâmetros variáveis entre 0,75 e 1,25 µm. As formas cilíndricas, tais como o bacilo da<br />

febre tifói<strong>de</strong> e da disenteria, apresentam uma largura <strong>de</strong> 0,5 a 1,0 µm e um comprimento<br />

<strong>de</strong> 2 a 3 µm. Algumas formas filamentosas po<strong>de</strong>m exce<strong>de</strong>r os 100 µm <strong>de</strong> comprimento,<br />

mas seu diâmetro está, <strong>de</strong> modo característico, entre 0,5 e 1,0 µm.<br />

A figura 7 mostra o tamanho comparativo <strong>de</strong> uma célula <strong>de</strong> uma bactéria, um<br />

vírus e um protozoário.<br />

Figura 3: Principais estruturas celulares que ocorrem em células bacterianas. Certas estruturas,<br />

como por exemplo, grânulos ou inclusões, não são comuns a todas as células bacterianas (fonte: Pelczar et<br />

al, 1996).


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

11<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 4: Arranjos característicos dos cocos, com ilustrações esquemáticas dos padrões <strong>de</strong> multiplicação. [A]<br />

Diplococos: as células se divi<strong>de</strong>m em um plano e permanecem acopladas predominantemente em pares<br />

(escaneamento por micrografia eletrônica <strong>de</strong> varredura). [B] Estreptococus: as células se divi<strong>de</strong>m em um plano e<br />

permanecem acopladas para formar ca<strong>de</strong>ias (micrografia eletrônica <strong>de</strong> varredura). [C] Tetracocos: as células se<br />

divi<strong>de</strong>m em dois planos e caracteristicamente formam grupos <strong>de</strong> quatro células. As espécimes mostradas são Gaffkya<br />

tetragena. [D] Estafilococos: as células se divi<strong>de</strong>m em três planos, em um padrão irregular, formando cachos <strong>de</strong><br />

cocos. As espécimes mostradas são Staphylococcus aureus. [E] Sarcinas: as células se divi<strong>de</strong>m em três planos, em<br />

um padrão regular, formando um arranjo cúbico <strong>de</strong> células (fonte: Pelczar et al., 1996).<br />

Figura 5: Bactérias tipicamente cilíndricas<br />

(bacilos). Observar as variações <strong>de</strong><br />

comprimento e <strong>de</strong> largura. (A) Clostridium<br />

sporogenes; (B) Pseudomonas sp; (C)<br />

Bacillus megaterium; (D) Salmonella typhi<br />

(fonte: Pelczar et al., 1980).


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12<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

[A]<br />

Unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong><br />

comprimento<br />

Micrômetro<br />

(µm)<br />

Nanômetro<br />

(nm)<br />

Angström (Å)<br />

Metro (m)<br />

0,000001<br />

10 -6<br />

0,000000001<br />

10 -9<br />

0,0000000001<br />

10 -10<br />

Figura 6: Bactérias espiraladas. (A) célula <strong>de</strong> Leptospira mostrando<br />

o filamento axial típico. Micrografia eletrônica, x 71.526. (B)<br />

Spirillum itersonii visto ao microscópio eletrônico, x 33.600. (C)<br />

Rhodospirillum rubrum, x 1.220. (D) Spirochaeta stenostrepta, x<br />

23.000. (E) Methanospirillum hungatii, uma nova espécie da<br />

bactéria gram-negativa que ocorre em filamentos <strong>de</strong> até 100µm <strong>de</strong><br />

comprimento. (fonte: Pelczar et al., 1980)<br />

Centímetro<br />

(cm)<br />

0,0001<br />

10 -4<br />

0,0000001<br />

10 -7<br />

0,00000001<br />

10 -8<br />

Milímetro<br />

(mm)<br />

0,001<br />

10 -3<br />

0,000001<br />

10 -6<br />

0,0000001<br />

10 -7<br />

Micrômetro<br />

(µm)<br />

1<br />

0,001<br />

10 -3<br />

0,0001<br />

10 -4<br />

Nanômetro<br />

(nm)<br />

1.000<br />

10 3<br />

Figura 7: [A] Uma comparação <strong>de</strong> tamanhos <strong>de</strong> microrganismos selecionados. O quadro acima mostra a<br />

equivalência no sistema métrico para as unida<strong>de</strong>s usadas para expressar dimensões das células<br />

microbianas (modificado <strong>de</strong> Pelczar et al., 1996).<br />

1<br />

0,1<br />

10 -1


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13<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

2.1.1 Estruturas Bacterianas<br />

O exame da célula bacteriana revela certas estruturas <strong>de</strong>finidas por <strong>de</strong>ntro e por<br />

fora da pare<strong>de</strong> celular. Seguem-se breves <strong>de</strong>scrições das estruturas bacterianas <strong>de</strong> fácil<br />

i<strong>de</strong>ntificação:<br />

Flagelos: apêndices muito finos, semelhantes a cabelos, que se exteriorizam<br />

através da pare<strong>de</strong> celular e se originam <strong>de</strong> uma estrutura granular (corpo basal)<br />

imediatamente abaixo da membrana citoplasmática, no citoplasma. O flagelo apresenta<br />

três partes: uma estrutura basal, uma estrutura semelhante a um gancho e um longo<br />

filamento externo à pare<strong>de</strong> celular (figura 8). O seu comprimento é, usualmente, várias<br />

vezes o da célula, mas seu diâmetro é uma pequena fração do diâmetro celular (p.e., 10 a<br />

20 nm). Algumas bactérias se movimentam por outros meios, diversos da ativida<strong>de</strong><br />

flagelar, como o <strong>de</strong>slizamento provocado pelo fluxo protoplasmático ou pela resposta<br />

táxica (p.e., fototaxia, quimiotaxia).<br />

Pêlos (fímbrias): apêndices filamentosos menores, mais curtos e mais<br />

numerosos que os flagelos e que não formam ondas regulares. Estão presentes em<br />

muitas bactérias gram-negativas. São encontrados tanto nas espécies móveis como nas<br />

imóveis e portanto, não <strong>de</strong>sempenham papel relativo à mobilida<strong>de</strong>. Po<strong>de</strong>m funcionar<br />

como sítios <strong>de</strong> adsorção <strong>de</strong> vírus bacterianos, como mecanismo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>rência à<br />

superfícies e como porta <strong>de</strong> entrada <strong>de</strong> material genético durante a conjugação<br />

bacteriana [(pêlo sexual) (figura 9)].<br />

Glicocálice: formado <strong>de</strong> uma substância viscosa, que forma uma camada <strong>de</strong><br />

cobertura ou envelope ao redor da célula. Se o glicocálice estiver organizado <strong>de</strong> maneira<br />

<strong>de</strong>finida e estiver acoplado firmemente à pare<strong>de</strong> celular, recebe o nome <strong>de</strong> cápsula; se<br />

estiver <strong>de</strong>sorganizado e sem qualquer forma e anda estiver frouxamente acoplado à<br />

pare<strong>de</strong> celular, recebe o nome <strong>de</strong> camada limosa. O glicocálice po<strong>de</strong> ter natureza<br />

polissacarídica (um ou vários tipos <strong>de</strong> açúcares como p.e., galactose, ramnose, glicana,<br />

etc.) ou polipeptídica (p.e., ácido glutâmico). A principal função do glicocálice é a<br />

a<strong>de</strong>rência sobre superfícies; ele po<strong>de</strong> evitar o <strong>de</strong>ssecamento das bactérias, fornece um<br />

envoltório protetor e po<strong>de</strong> servir, também, como reservatório <strong>de</strong> alimentos, além <strong>de</strong><br />

evitar a adsorção e lise da células por bacteriófagos (figura 10).<br />

Pare<strong>de</strong> Celular: dá forma à célula e situa-se abaixo das substâncias<br />

extracelulares (glicocálice) e externamente à membrana que está em contato imediato<br />

com o citoplasma. Sua espessura é calculada, em média, <strong>de</strong> 10 a 25 nm. A função da<br />

pare<strong>de</strong> celular é a <strong>de</strong> proporcionar uma moldura rígida, ou "colete", que suporta e<br />

protege as estruturas protoplasmáticas mais lábeis, em face das possíveis lesões<br />

osmóticas; evita ainda a evasão <strong>de</strong> certas enzimas, assim como o influxo <strong>de</strong> certas<br />

substâncias que po<strong>de</strong>riam causar dano à célula. Nas eubactérias, o pepti<strong>de</strong>oglicano (ou<br />

mureína), um composto polimérico, é o componente da pare<strong>de</strong> celular que <strong>de</strong>termina<br />

sua forma. A pare<strong>de</strong> celular das bactérias Gram-positivas é constituída por ácido<br />

teicóico, além do pepti<strong>de</strong>oglicano, que correspon<strong>de</strong> à uma fração maior que a<br />

encontrada na pare<strong>de</strong> das bactérias Gram-negativas (figura 11). A pare<strong>de</strong> das bactérias<br />

Gram-negativas é mais complexa que a pare<strong>de</strong> das Gram-positivas pois possui uma<br />

membrana externa cobrindo uma camada fina <strong>de</strong> pepti<strong>de</strong>oglicano (figura 12). Esta<br />

membrana externa é cosnstituída por fosfolipí<strong>de</strong>os, proteínas e lipopolissacarí<strong>de</strong>os<br />

(LPSs).


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14<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 8: Desenho <strong>de</strong> um corpo basal ilustrando sua estrutura e a fixação a bactérias Gram-negativas. O<br />

flagelo <strong>de</strong> bactérias Gram-positivas tem somente dois anéis (um par) que fixam o flagelo à membrana<br />

celular (fonte: Pelczar et al., 1996).<br />

Figura 9: Bactérias fimbriadas. (A) Shigella<br />

flexneri: bacilos em divisão com numerosas<br />

fímbrias ao redor das células (x 20.000). (B)<br />

Salmonella typhi: bacilos em divisão com<br />

numerosas fímbrias e alguns poucos flagelos<br />

(apêndices mais longos), x 12.500 (fonte: Pelczar<br />

et al., 1980).


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15<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 10: Bactérias capsuladas.<br />

(A) Klebsiella pneumoniae. (B)<br />

Bactéria capsulada formadora <strong>de</strong><br />

limo, isolada em uma fábrica <strong>de</strong><br />

papel. Notar as cápsulas<br />

extremamente gran<strong>de</strong>s (áreas<br />

claras), ao redor <strong>de</strong> cada uma das<br />

células. (fonte: Pelczar et al.,<br />

1980).<br />

Figura 11: Pare<strong>de</strong> celular <strong>de</strong> bactérias Gram-positivas (fonte: Prescott et al., 1996).


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16<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 12: Pare<strong>de</strong> celular <strong>de</strong> bactérias Gram-negativas (fonte: Prescott et al., 1996).<br />

Estruturas internas à pare<strong>de</strong> celular:<br />

Protoplastos: quando remove-se a pare<strong>de</strong> celular <strong>de</strong> uma bactéria, esta torna-se<br />

um corpo arredondado, que assume a forma esférica, justamente por não contar com a<br />

rígida limitação da pare<strong>de</strong>. A bactéria recebe o nome, então, <strong>de</strong> protoplasto, que po<strong>de</strong> ser<br />

caracterizado como: imóvel, esférico, não se divi<strong>de</strong>, não forma nova pare<strong>de</strong> celular e<br />

não é suscetível, <strong>de</strong> modo geral, à infecções por bacteriófagos.<br />

Membrana citoplasmática: fina membrana situada abaixo da pare<strong>de</strong> celular<br />

(figura 13). Sua espessura é da or<strong>de</strong>m <strong>de</strong> 7,5 nm e é composta <strong>de</strong> fosfolipí<strong>de</strong>os (20 a<br />

30%), que formam uma bicamada que envolve as proteínas (50 a 70%). A membrana é o<br />

sítio da ativida<strong>de</strong> enzimática específica e do transporte <strong>de</strong> moléculas para <strong>de</strong>ntro e para<br />

fora da célula. Em alguns casos, a membrana se esten<strong>de</strong> no citoplasma para formar o<br />

mesossomo, que participa do metabolismo (através da secreção <strong>de</strong> certas enzimas, com<br />

as penicilinases) e da replicação celular (na formação do septo durante o processo <strong>de</strong><br />

divisão celular).<br />

Citoplasma: o material celular po<strong>de</strong> ser dividido em: área citoplasmática, que é<br />

a porção fluida contendo substâncias dissolvidas e partículas tais como ribossomos, e<br />

material nuclear ou nucleói<strong>de</strong>, rico em DNA.<br />

Inclusões citoplasmáticas: <strong>de</strong>pósitos concentrados <strong>de</strong> certas substâncias,<br />

insolúveis, chamados <strong>de</strong> grânulos, e que po<strong>de</strong>m servir como fonte <strong>de</strong> material nutritivo<br />

<strong>de</strong> reserva. Os grânulos po<strong>de</strong>m ser constituídos <strong>de</strong> polissacarí<strong>de</strong>os (amido, glicogênio),<br />

lipí<strong>de</strong>os, fosfatos e até enxofre, como é o caso das bactérias sulforosas.<br />

Material nuclear: as células bacterianas não contêm o núcleo típico das células<br />

animais e vegetais. O material nuclear consiste <strong>de</strong> um cromossomo único e circular e<br />

ocupa uma posição próxima do centro da célula. Po<strong>de</strong> ser chamado <strong>de</strong> corpo<br />

cromatínico, nucleói<strong>de</strong>, equivalente nuclear ou cromossoma bacteriano.


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17<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Endósporos: esporos que se formam <strong>de</strong>ntro da célula. São como um corpo oval<br />

<strong>de</strong> pare<strong>de</strong> espessa (um por célula), altamente resistente e refráteis. Todas bactérias dos<br />

gêneros Bacillus e Clostridium produzem endósporos. São constituídos <strong>de</strong> ácido<br />

dipicolínico e por gran<strong>de</strong> quantida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cálcio. Os esporos representam uma fase latente<br />

(repouso) da célula bacteriana; comparados com as células vegetativas, são<br />

extremamente resistentes aos agentes físicos e químicos adversos, <strong>de</strong>monstrando uma<br />

estratégia <strong>de</strong> sobrevivência (figura 14).<br />

Figura 13: Interpretação<br />

esquemática da estrutura da<br />

membrana citoplasmática. Os<br />

fosfolipí<strong>de</strong>os estão arranjados em<br />

uma bicamada <strong>de</strong> tal forma que as<br />

partes polares (esferas) estão<br />

voltadas para a face externa e as<br />

partes não-polares (filamentos) estão<br />

voltadas para a face interna.<br />

Também são mostrados os<br />

componentes protéicos (fonte:<br />

Pelczar et al., 1996).<br />

2.2 Cultivo das Bactérias<br />

O cultivo dos microrganismos, em condições laboratoriais, é um pré-requisito<br />

para seu estudo a<strong>de</strong>quado. Para que isto possa ser realizado, é necessário o<br />

conhecimento <strong>de</strong> suas exigências nutritivas e das condições físicas requeridas.<br />

2.2.1 Tipos Nutritivos das Bactérias<br />

As bactérias po<strong>de</strong>m ser divididas em grupos com base em suas exigências<br />

nutritivas. A principal separação correspon<strong>de</strong> aos grupos fototróficos (organismos que<br />

utilizam a energia radiante como fonte <strong>de</strong> energia) e quimiotróficos (organismos<br />

incapazes <strong>de</strong> utilizar a energia radiante; <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da oxidação <strong>de</strong> compostos químicos<br />

para a obtenção <strong>de</strong> energia) (tabela 2).<br />

♦ Fototróficos: existem bactérias que utilizam o CO2 como principal fonte <strong>de</strong><br />

carbono; são as fotolitotróficas. Outras exigem um composto orgânico<br />

(álcoois, ácidos graxos, aminoácidos) e são ditas fotorganotróficas.<br />

♦ Quimiotróficos: bactérias que utilizam o CO2 como fonte <strong>de</strong> carbono e<br />

oxidam compostos inorgânicos (p.e., nitritos) ou elementos químicos (p.e.,<br />

enxofre) para obtenção da fonte <strong>de</strong> energia ,são chamadas quimiolitotróficas.<br />

As que utilizam compostos orgânicos para obter energia, são chamadas<br />

quimiorganotróficas.<br />

As bactérias fotolitotróficas e quimiolitotróficas são conhecidas, comumente,<br />

como autotróficas, ao passo que as espécies fotorganotróficas e quimiorganotróficas<br />

são <strong>de</strong>signadas heterotróficas.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

18<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 14: [A] Localização, tamanho e forma dos endósporos em células <strong>de</strong> várias espécies <strong>de</strong> Bacillus e<br />

Clostridium. [B] Alterações estruturais na célula bacteriana durante a esporulação (fonte: Pelczar et al.,<br />

1996).<br />

As bactérias heterotróficas apresentam exigências nutritivas mais simples. O<br />

fato <strong>de</strong> um organismo po<strong>de</strong>r crescer e se reproduzir numa mistura <strong>de</strong> compostos<br />

químicos simples indica que ele possui uma gran<strong>de</strong> capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> síntese. As bactérias<br />

heterotróficas foram estudadas mais profundamente porque, sob certo aspecto,<br />

<strong>de</strong>monstram um interesse mais imediato. Neste grupo se encontram todas as bactérias<br />

patogênicas para o homem, para outros animais e para os vegetais, assim como a maior<br />

parte da população microbiana do ambiente humano. As bactérias heterotróficas,<br />

embora constituam o principal grupo nutritivo, variam, consi<strong>de</strong>ravelmente, quanto aos<br />

nutrientes específicos exigidos para o crescimento (tabela 3). As heterotróficas po<strong>de</strong>m<br />

ser consumidoras, alimentando-se <strong>de</strong> outros organismos vivos; saprófitas, que se<br />

alimentam <strong>de</strong> matéria orgânica morta. Outras po<strong>de</strong>m ser simbiontes, ou seja, mantém<br />

uma relação estreita com um organismo <strong>de</strong> espécie diferente. Estas simbiontes po<strong>de</strong>m


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

19<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

ser comensais, que nem ajudam, nem prejudicam seu hospe<strong>de</strong>iro, ou po<strong>de</strong>m ser<br />

parasitas, que causam dano ao hospe<strong>de</strong>iro (caso das bactérias patogênicas).<br />

Tabela 2: Principais tipos nutritivos das bactérias (fonte: Pelczar, 1980).<br />

Fototrófico:<br />

Tipo Fonte <strong>de</strong> Energia<br />

Para Crescimento<br />

Fotolitotrófico<br />

(autotrófico)<br />

Fotorganotrófico<br />

(heterotrófico)<br />

Quimiotrófico:<br />

Quimiolitotrófico<br />

(autotrófico)<br />

Quimiorganotrófico<br />

(heterotrófico)<br />

Luz<br />

Luz<br />

Oxidação <strong>de</strong><br />

composto inorgânico<br />

Oxidação <strong>de</strong><br />

composto orgânico<br />

Fonte <strong>de</strong> Carbono<br />

Para Crescimento<br />

CO2<br />

Composto orgânico<br />

CO2<br />

Composto orgânico<br />

Exemplo <strong>de</strong> Gênero<br />

Chromatium<br />

Rhodopseudomonas<br />

Thiobacillus<br />

Escherichia<br />

Tabela 3: Exigências nutritivas mínimas <strong>de</strong> algumas bactérias heterotróficas (fonte: Pelczar, 1980).<br />

Bactérias<br />

Sais<br />

Inorgânicos<br />

Carbono<br />

Orgânico<br />

Nitrogênio<br />

Inorgânico<br />

Escherichia coli X X X<br />

Um<br />

aminoáci<br />

do<br />

Salmonella typhi X X X X<br />

Dois ou mais<br />

aminoácidos<br />

Uma<br />

vitamina<br />

Proteus vulgaris X X X X X<br />

Staphylococcus aureus X X X X X<br />

Duas ou<br />

mais<br />

vitaminas<br />

Lactobacillus acidophilus X X X X X<br />

2.2.2 Meios Bacteriológicos<br />

Para o cultivo rotineiro <strong>de</strong> microrganismos heterotróficos, utilizam-se certas<br />

matérias-primas complexas, tais como as peptonas, os extratos <strong>de</strong> carne e <strong>de</strong> levedura<br />

(tabela 4), daí resultando um meio que promove o <strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong> bactérias e <strong>de</strong> outros microrganismos. Quando se <strong>de</strong>seja um meio sólido, adiciona-se<br />

o ágar como agente solidificante. O caldo e o ágar nutritivos são exemplos <strong>de</strong> meios<br />

líquidos e sólidos, relativamente simples, indicados para a cultura <strong>de</strong> microrganismos<br />

heterotróficos comuns.<br />

Alguns microrganismos não se <strong>de</strong>senvolvem bem nestes meios, pois<br />

<strong>de</strong>monstram exigências <strong>de</strong> nutrientes específicos, como vitaminas e outras substâncias<br />

estimulantes. Tais microrganismos são chamados <strong>de</strong> heterotróficos fastidiosos, e<br />

necessitam <strong>de</strong> meios especiais para seu cultivo, isolamento e reconhecimento.


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20<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Os meios <strong>de</strong> cultura, <strong>de</strong> acordo com a sua aplicação ou função, po<strong>de</strong>m ser<br />

classificados, entre outros, como:<br />

Meios Enriquecidos: a adição <strong>de</strong> sangue, soro ou extratos <strong>de</strong> tecidos<br />

animais ou vegetais ao caldo ou ágar nutritivos proporciona nutrientes acessórios, <strong>de</strong><br />

modo que o meio possa permitir o crescimento <strong>de</strong> heterotróficos fastidiosos.<br />

Meios Seletivos: a adição <strong>de</strong> certas substâncias químicas específicas ao<br />

ágar nutritivo previne o crescimento <strong>de</strong> um grupo <strong>de</strong> bactérias sem agir sobre outras. O<br />

cristal violeta, por exemplo, em uma dada concentração, impe<strong>de</strong> o crescimento <strong>de</strong><br />

bactérias gram-positivas, sem afetar o <strong>de</strong>senvolvimento das bactérias gram-negativas.<br />

Meios Diferenciais: a incorporação <strong>de</strong> certos reagentes ou substâncias<br />

químicas no meio po<strong>de</strong> resultar num tipo <strong>de</strong> crescimento ou modificação, após a<br />

inoculação e a incubação, que permite ao observador distinguir os tipos <strong>de</strong> bactérias. Por<br />

exemplo, inoculando-se uma mistura <strong>de</strong> bactérias num meio <strong>de</strong> ágar sangue, algumas<br />

das bactérias po<strong>de</strong>m hemolisar (<strong>de</strong>struir) as células vermelhas e outras não. A zona clara<br />

ao redor da colônia é a evidência <strong>de</strong> ter ocorrido a hemólise. Assim, po<strong>de</strong>-se estabelecer<br />

a distinção entre bactérias hemolíticas e não-hemolíticas, <strong>de</strong> acordo com o seu<br />

<strong>de</strong>senvolvimento.<br />

Tabela 4: Características <strong>de</strong> vários produtos complexos, usados como ingredientes dos meios <strong>de</strong> cultura<br />

(fonte: Pelczar, 1980).<br />

MATÉRIA PRIMA CARACTERÍSTICA VALOR NUTRITIVO<br />

Extrato <strong>de</strong> carne<br />

Peptona<br />

Ágar<br />

Extrato <strong>de</strong> levedo<br />

Extrato aquoso <strong>de</strong> tecido muscular, concentrado<br />

sob a forma <strong>de</strong> pasta<br />

Produto que resulta da digestão <strong>de</strong> materiais<br />

protéicos como carne, caseína e gelatina; a<br />

digestão protéica é realizada por meio <strong>de</strong> ácidos<br />

ou <strong>de</strong> enzimas; existem muitas peptonas<br />

diferentes (<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo da proteína usada e do<br />

método <strong>de</strong> digestão) para uso em meios<br />

bacteriológicos; as peptonas diferem em suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> promover o crescimento<br />

Carboidrato complexo, obtido <strong>de</strong> certas algas<br />

marinhas; tratado para a remoção <strong>de</strong> substâncias<br />

estranhas<br />

Extrato aquoso <strong>de</strong> leveduras comercialmente<br />

apresentado sob a forma <strong>de</strong> pó<br />

2.2.3 Condições Físicas Necessárias ao Crescimento<br />

Contém as substâncias solúveis dos<br />

tecidos animais, incluindo<br />

carboidratos, compostos orgânicos<br />

<strong>de</strong> nitrogênio, vitaminas<br />

hidrossolúveis e sais<br />

Principal fonte <strong>de</strong> nitrogênio<br />

orgânico; po<strong>de</strong> conter algumas<br />

vitaminas e, às vezes, carboidratos,<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo do tipo <strong>de</strong> material<br />

protéico digerido<br />

Usado como agente solidificante dos<br />

meios; o ágar, dissolvido em<br />

soluções aquosas, gelifica quando a<br />

temperatura é reduzida a menos <strong>de</strong><br />

45ºC; não é consi<strong>de</strong>rado como fonte<br />

nutritiva para as bactérias<br />

Fonte muito rica <strong>de</strong> vitaminas B,<br />

também contém compostos<br />

orgânicos <strong>de</strong> nitrogênio e <strong>de</strong> carbono<br />

Assim como as bactérias variam com relação às exigências nutritivas,<br />

também <strong>de</strong>monstram respostas diversas às condições físicas do ambiente.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

21<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Temperatura: o crescimento bacteriano po<strong>de</strong> ter seu ritmo e quantida<strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>terminados pela temperatura, uma vez que esta influencia as reações químicas do<br />

processo <strong>de</strong> crescimento. Cada espécie <strong>de</strong> bactéria cresce sob temperaturas situadas em<br />

faixas características e, sendo assim, são classificadas nos seguintes grupos:<br />

1. Bactérias psicrófilas: são capazes <strong>de</strong> crescer a 0° C ou menos, embora<br />

seu ótimo seja entre 15° C ou 20° C.<br />

2. Bactérias mesófilas: crescem melhor numa faixa <strong>de</strong> 25 a 40° C.<br />

3. Bactérias termófilas: crescem melhor a temperaturas <strong>de</strong> 45 a 60° C<br />

A temperatura ótima <strong>de</strong> crescimento é a temperatura <strong>de</strong> incubação que<br />

possibilita o mais rápido crescimento, durante curto período <strong>de</strong> tempo (12 a 24 horas).<br />

Exigências atmosféricas: os principais gases que afetam o crescimento<br />

bacteriano são o oxigênio e o dióxido <strong>de</strong> carbônico. Como as bactérias apresentam<br />

gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> resposta ao oxigênio livre, elas são divididas em:<br />

1. Bactérias aeróbias: crescem na presença <strong>de</strong> oxigênio livre.<br />

2. Bactérias anaeróbias: crescem na ausência <strong>de</strong> oxigênio livre.<br />

3. Bactérias anaeróbias facultativas: crescem tanto na presença como na<br />

ausência do oxigênio livre.<br />

4. Bactérias microaerófilas: crescem na presença <strong>de</strong> quantida<strong>de</strong>s<br />

pequenas <strong>de</strong> oxigênio livre.<br />

Aci<strong>de</strong>z e alcalinida<strong>de</strong> (pH): para a maioria das bactérias, o pH ótimo <strong>de</strong><br />

crescimento localiza-se entre 6,5 e 7,5. Embora poucos microrganismos possam<br />

<strong>de</strong>senvolver-se nos limites extremos <strong>de</strong> pH, as variações mínimas e máximas, para a<br />

maior parte das espécies, estão entre pH 4 e pH 9.<br />

2.3 Reprodução e Crescimento<br />

O termo crescimento, tal como é comumente aplicado às bactérias e a<br />

outros microrganismos, refere-se, usualmente, às alterações ocorridas na cultura das<br />

células e não às alterações <strong>de</strong> um organismo isolado.<br />

2.3.1 Reprodução<br />

Bactérias geralmente reproduzem-se assexuadamente por fissão binária<br />

transversa, quando ocorre a replicação do cromossomo bacteriano e a célula<br />

<strong>de</strong>senvolve uma pare<strong>de</strong> celular transversa, dividindo-se então em duas novas células<br />

(figura 15). Após a replicação do cromossomo, a pare<strong>de</strong> transversa forma como uma<br />

invaginação da membrana plasmática e da pare<strong>de</strong> celular. Quando a nova pare<strong>de</strong><br />

formada não se separa completamente em duas pare<strong>de</strong>s, po<strong>de</strong>-se formar uma ca<strong>de</strong>ia (ou<br />

filamento) <strong>de</strong> bactérias. A fissão binária não é o único método reprodutivo entre as<br />

bactérias. As espécies do gênero Streptomyces produzem muitos esporos reprodutivos


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

22<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

por organismo, cada esporo dando origem a um novo indivíduo. Bactérias do gênero<br />

Nocardia produzem extenso crescimento filamentoso, seguido pela fragmentação dos<br />

filamentos em pequenas células bacilares ou cocói<strong>de</strong>s. Espécies do gênero<br />

Hyphomicrobium po<strong>de</strong>m reproduzir-se por brotamento: <strong>de</strong>senvolve-se um broto, a partir<br />

da célula-mãe e, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> um período <strong>de</strong> aumento <strong>de</strong> tamanho, o broto se separa da<br />

célula original, formando um novo indivíduo.<br />

Embora não ocorra uma reprodução sexuada complexa nos moneras, algumas<br />

vezes as bactérias realizam troca <strong>de</strong> material genético. Tal recombinação genética po<strong>de</strong><br />

ocorrer por transformação, conjugação ou transdução.<br />

Na transformação, a célula bacteriana "pega" fragmentos <strong>de</strong> DNA perdidos por<br />

outra bactéria que se rompeu. Este mecanismo tem sido usado experimentalmente para<br />

mostrar que os genes po<strong>de</strong>m ser transferidos <strong>de</strong> uma bactéria para outra e que o DNA é<br />

a base química da hereditarieda<strong>de</strong>.<br />

Na conjugação, duas células bacterianas geneticamente diferentes trocam<br />

DNA diretamente. Este processo tem sido extensivamente estudado na bactéria<br />

Escherichia coli, que tem linhagens F- e F+. As células F+ são cobertas com pêlos e<br />

contêm um plasmí<strong>de</strong>o conhecido como fator F, ou fator da fertilida<strong>de</strong>. Quando uma<br />

célula F+ entra em contato com uma célula F-, os pêlos organizam um tubo <strong>de</strong><br />

conjugação, chamado <strong>de</strong> pêlo sexual ou pêlo F, que conecta a célula F+ à célula F-. O<br />

pêlo F é "oco", permitindo que o DNA pase <strong>de</strong> uma bactéria para outra.<br />

Na transdução, genes bacterianos são carregados <strong>de</strong> uma bactéria para outra,<br />

<strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um bacteriófago (vírus bacteriano). Quando o bacteriófago entra numa célula<br />

bacteriana, o DNA do vírus mistura-se com uma parte do DNA bacteriano, <strong>de</strong> modo que<br />

o vírus agora carrega esta parte do DNA. Se o vírus infecta uma segunda bactéria, o<br />

DNA da primeira bactéria po<strong>de</strong> misturar-se com o DNA da segunda bactéria. Esta nova<br />

informação genética é então replicada a cada nova divisão.


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23<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 15: Multiplicação bacteriana pela fissão binária transversa (fonte: Pelczar et al., 1996).<br />

2.3.2 Crescimento<br />

Como já foi mencionado, o processo <strong>de</strong> reprodução prevalecente entre as<br />

bactérias é a fissão binária; uma célula se divi<strong>de</strong>, formando duas células. Assim sendo,<br />

partindo <strong>de</strong> uma única bactéria, o aumento populacional se faz em progressão<br />

geométrica:<br />

1 - 2 1 - 2 2 - 2 3 - 2 4 - 2 5 ... 2 n<br />

O tempo necessário para que uma célula se divida - ou para que a<br />

população duplique - é conhecido como tempo <strong>de</strong> geração, que não é o mesmo para<br />

todas as bactérias. Para algumas, como a Escherichia coli, po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> 15 a 20 minutos;<br />

para outras po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong> muitas horas. O tempo <strong>de</strong> geração está na forte <strong>de</strong>pendência dos<br />

nutrientes existentes no meio e das condições físicas <strong>de</strong> incubação.<br />

A figura 16 mostra a curva <strong>de</strong> crescimento típica das bactérias em um<br />

sistema fechado. Na curva, observa-se que há um período inicial no qual não parece<br />

haver crescimento (fase lag ou <strong>de</strong> latência), seguido por um rápido aumento da<br />

população (fase logarítmica), que se nivela posteriormente (fase estacionária) e <strong>de</strong>clina<br />

quanto ao número <strong>de</strong> células viáveis (fase <strong>de</strong> morte ou <strong>de</strong>clínio).


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24<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 16: Curva <strong>de</strong> crescimento típica <strong>de</strong> uma população bacteriana. A <strong>de</strong>nsida<strong>de</strong> óptica é uma medida<br />

da turbi<strong>de</strong>z da cultura bacteriana e é obtida através da análise da cultura em espectrofotômetro (fonte:<br />

modificado <strong>de</strong> Brock et al., 1994).<br />

2.4 Principais Grupos <strong>de</strong> Bactérias<br />

A referência padrão para a classificação e taxonomia bacterianas é o<br />

Bergey's manual of <strong>de</strong>terminative bacteriology (Holt et al., 1993). Este manual divi<strong>de</strong> as<br />

bactérias em 19 grupos.<br />

Grupo 1: Bactérias fototróficas Grupo 2: Bactérias <strong>de</strong>slizantes<br />

Grupo 3: Bactérias com bainha Grupo 4: Bactérias gemulantes e/ou pedunculadas<br />

Grupo 5: Espiroquetas Grupo 6: Bactérias espiraladas e encurvadas<br />

Grupo 7: Coco e bacilos gram-negativos aeróbios Grupo 8: Bacilos gram-negativos facultativos<br />

Grupo 9: Bactérias gram-negativas anaeróbias Grupo 10: Cocos e cocobacilos gram-negativos<br />

Grupo 11: Cocos gram-negativos anaeróbios Grupo 12: Bactérias gram-negativas<br />

quimiolitotróficas<br />

Grupo 13: Bactérias produtoras <strong>de</strong> metano Grupo 14: Cocos gram-positivos<br />

Grupo 15: Bacilos e cocos esporulados Grupo 16: Bacilos gram-positivos não-esporulados<br />

Grupo 17: Actinomicetos e microrganismos afins Grupo 18: Rickettsias<br />

Grupo 19: Micoplasmas<br />

Recentemente, Lynn Margulis e Karlene Schwartz (citado por Davis et al., 1990)<br />

propuseram um sistema <strong>de</strong> classificação útil que divi<strong>de</strong> as bactérias em 16 filos <strong>de</strong><br />

acordo com algumas <strong>de</strong> suas características mais significantes. A tabela 5 mostra<br />

algumas características <strong>de</strong> 11 <strong>de</strong>stes grupos.


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25<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Tabela 5: Características <strong>de</strong> alguns grupos <strong>de</strong> bactérias (Raven & Johnson, 1986).<br />

NOME DO GRUPO<br />

FORMA<br />

(a)<br />

MOTILIDADE<br />

(b)<br />

METABOLISMO<br />

(c)<br />

Metanogênicas B, E, C N, F Q, F<br />

Omnibactérias ou<br />

Eubactérias<br />

B N, F H<br />

Cianobactérias B, C, M D,N F<br />

PAPEL ECOLÓGICO<br />

Algumas digerem celulose;<br />

outras utilizam metano;<br />

outras reduzem enxofre<br />

Saprófitas, patógenas,<br />

<strong>de</strong>compositoras<br />

Fixadoras <strong>de</strong> carbono e<br />

nitrogênio<br />

Cloroxibactérias C N F Simbiose com tunicados<br />

Micoplasmas,<br />

espiroplasmas<br />

sem pare<strong>de</strong><br />

(d)<br />

Espiroquetas E<br />

N H<br />

F<br />

(e)<br />

Pseudomonadáceas B F H, Q<br />

Actinomicetos M, B N H<br />

Patógenos <strong>de</strong> plantas e<br />

animais<br />

H Decompositores e patógenos<br />

Decompositores e patógenos<br />

<strong>de</strong> plantas<br />

Solo, plantas,<br />

<strong>de</strong>compositores e fixadores<br />

<strong>de</strong> nitrogênio<br />

Mixobactérias B D H Solo, animais<br />

Aeróbias fixadoras<br />

<strong>de</strong> nitrogênio<br />

B N, F H<br />

Quimioautotróficas B, C N, F Q<br />

(a) B = bacilo, C = coco, E = espirilo, M = filamentos ou agregados<br />

(b) F = flagelada, N = não-móvel, D = <strong>de</strong>slizante<br />

(c) H = heterotróficas, Q = quimiossintéticas, F = fotossintéticas<br />

(d) Mais ou menos esféricas ou alongadas e retorcidas<br />

(e) Flagelo inserido abaixo da membrana lipoproteica mais externa da pare<strong>de</strong> celular<br />

Vida livre e em nódulos ou<br />

raízes <strong>de</strong> plantas<br />

Estágios no ciclo do<br />

nitrogênio; oxidam<br />

compostos do enxofre;<br />

oxidam metano ou metanol<br />

2.4.1 Bactérias Patogênicas<br />

Muitas doenças <strong>de</strong> plantas estão associadas com bactérias; quase todos<br />

tipos <strong>de</strong> plantas são suscetíveis a um ou mais tipos <strong>de</strong> doenças bacterianas. Os sintomas<br />

<strong>de</strong>stas doenças variam, mas elas geralmente se manifestam como manchas <strong>de</strong> vários<br />

tamanhos nos caules, folhas, flores ou frutos; murchidão, <strong>de</strong>finhamento e raízes moles;<br />

necrose, ferrugem e cancros também são sintomas observados. Os gêneros <strong>de</strong>scritos a<br />

seguir compreen<strong>de</strong>m as bactérias fitopatogênicas:<br />

Pseudomonas - causa manchas e estrias nas folhas, <strong>de</strong>finhamento e doenças<br />

similares.


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26<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Xanthomonas - as espécies <strong>de</strong>ste gênero são principalmente fitopatogênicas,<br />

responsáveis por processos <strong>de</strong> necrose. Produzem colônias amarelas, ao lado <strong>de</strong> outras<br />

espécies esbranquiçadas ou <strong>de</strong> coloração creme.<br />

Agrobacterium ssp. - suas espécies vivem no solo ou nas raízes ou caules <strong>de</strong><br />

plantas, on<strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvem galhas.<br />

Corynebacterium - é um gênero que compreen<strong>de</strong> espécies parasitas do homem e<br />

dos vegetais. As espécies fitopatogênicas são encontradas no solo e nos vegetais<br />

doentes, sendo responsáveis por doenças vasculares da alfafa, pela podridão das batatas,<br />

dos pastos, dos tomates e doenças <strong>de</strong> muitas outras plantas.<br />

Erwinia - as espécies <strong>de</strong>ste gênero inva<strong>de</strong>m os tecidos das plantas vivas e<br />

provocam necroses, galhas, <strong>de</strong>finhamentos e apodrecimentos.<br />

Streptomyces - encontram-se espécies responsáveis pela escara da batata e por<br />

uma doença das raízes e radicelas da batata-doce.<br />

Xilella fastidiosa – responsável pela clorose variegada dos cítricos (ou<br />

“Amarelinho”, como a doença é conhecida popularmente no Brasil), que afeta os tecidos<br />

vasculares <strong>de</strong> plantas cítricas, especialmente as laranjeiras, danificando folhas e frutos.<br />

Bactérias também causam muitas doenças humanas, incluindo cólera, lepra,<br />

tétano, pneumonia bacteriana, coqueluche e difteria.<br />

Vários gêneros <strong>de</strong> bactérias patogênicas são <strong>de</strong> importância particular para o<br />

homem. Espécies do gênero Streptococcus estão associadas com a escarlatina, febre<br />

reumática e outras infecções. A bactéria da escarlatina produz seus sintomas e toxinas<br />

fatais somente se ela estiver infectada com o bacteriófago apropriado. O gênero<br />

Staphylococcus é um dos principais responsáveis pela infecções hospitalares.<br />

A síndrome do choque tóxico é causada por algumas linhagens <strong>de</strong><br />

Staphylococcus aureus. Esta doença caracteriza-se por febre, erupções cutâneas, que<br />

aparecem primeiro nas palmas das mãos e nas solas dos pés e <strong>de</strong>pois espalham-se para<br />

outras partes do corpo, e queda brusca <strong>de</strong> pressão. Aproximadamente 85% dos casos <strong>de</strong><br />

síndrome do choque tóxico registrados nos Estados Unidos ocorreram em mulheres<br />

menstruadas, que estavam usando absorventes internos na época em que apareceram os<br />

sintomas. No entanto, homens e mulheres po<strong>de</strong>m contrair esta doença.<br />

Muitas doenças bacterianas são dispersas pelo alimento ou água, como por<br />

exemplo a disenteria bacilar, e as febres tifói<strong>de</strong> e paratifói<strong>de</strong>. A disenteria bacilar é<br />

causada por algumas espécies do gênero Shigella. As febres tifói<strong>de</strong> e paratifói<strong>de</strong> são<br />

doenças intestinais infecciosas agudas causadas pelas bactérias Salmonella typhi e<br />

Salmonella enteridis, respectivamente.<br />

A bactéria Brucella abortus causa a doença chamada brucelose, também<br />

conhecida como febre ondulante, no homem, e aborto contagioso, no gado. O contágio<br />

se dá através da ingestão <strong>de</strong> leite oriundo <strong>de</strong> gado contaminado. Como as bactérias são<br />

<strong>de</strong>struídas pelo processo <strong>de</strong> pateurização do leite, esta doença está se tornando rara.<br />

O cólera é uma gastroenterite causada pela bactéria Vibrio cholerae, que é<br />

transmitida pelo contato com águas ou alimentos contaminados pelas excreções <strong>de</strong><br />

pacientes ou <strong>de</strong> portadores convalescentes. Os sintomas compreen<strong>de</strong>m vômitos e fezes


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27<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

diarréicas profusas (aspecto <strong>de</strong> água <strong>de</strong> arroz), os quais dão lugar a uma severa<br />

<strong>de</strong>sidratação, com perdas <strong>de</strong> eletrólitos e acidose, muitas vezes fatais.<br />

A legionelose (ou doença dos Legionários) é uma das doenças bacterianas mais<br />

recentemente <strong>de</strong>tectadas, afetando um gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> pessoas nos Estados Unidos. É<br />

causada pela bactéria Legionella pneumophyla e <strong>de</strong>senvolve-se como uma forma severa<br />

<strong>de</strong> pneumonia.<br />

A bactéria Clostridium botulinum é a causadora do botulismo, uma intoxicação<br />

alimentar grave, e às vezes fatal. A doença é contraída pela ingestão <strong>de</strong> alimentos<br />

contendo a toxina botulínica (principalmente enlatados, em conserva ou <strong>de</strong>fumados).<br />

A cárie <strong>de</strong>ntária é provocada por bactérias, principalmente pela espécie<br />

Streptococcus mutans. As lesões cariosas se <strong>de</strong>senvolvem sob <strong>de</strong>nsas massas <strong>de</strong><br />

bactérias, conhecidas como placas <strong>de</strong>ntais, a<strong>de</strong>rentes à superfície do <strong>de</strong>nte.<br />

Algumas doenças bacterianas são sexualmente transmitidas e são chamadas <strong>de</strong><br />

doenças venéreas. Entre as mais comuns estão a gonorréia, causada pela bactéria<br />

Neisseria gonorrhoeae, e a sífilis, causada pela Treponema pallidum, uma espiroqueta.<br />

Ambas doenças são facilmente controladas com penicilina. A gonorréia é muito mais<br />

comum e menos séria que a sífilis, que po<strong>de</strong> ser fatal.


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28<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

3 FUNGOS<br />

3.1 Introdução<br />

Os fungos são tão distintos das algas, briófitas e plantas vasculares, quanto o são<br />

dos animais. Tradicionalmente são agrupados com as plantas, mas pertencem a um<br />

Reino distinto, Fungi, constituindo um dos cinco principais grupos <strong>de</strong> organismos vivos,<br />

como já foi falado.<br />

Juntamente com as bactérias, os fungos vêm a ser os seres encarregados da<br />

<strong>de</strong>composição na biosfera, sendo suas ativida<strong>de</strong>s tão necessárias à existência<br />

permanente do mundo que conhecemos quanto as dos seres produtores <strong>de</strong> alimento. A<br />

<strong>de</strong>composição libera gás carbônico na atmosfera e <strong>de</strong>volve ao solo compostos<br />

nitrogenados e outros materiais, que po<strong>de</strong>rão ser novamente usados por vegetais e<br />

eventualmente por animais. Foi estimado que os 20 cm superiores da terra fértil possam<br />

conter perto <strong>de</strong> 5 toneladas <strong>de</strong> fungos e bactérias por hectare.<br />

Os fungos constituem um grupo <strong>de</strong> microrganismos que tem gran<strong>de</strong> interesse<br />

prático e científico para os microbiologistas. Suas manifestações são familiares:<br />

crescimentos azuis e ver<strong>de</strong>s em laranjas, limões e queijos; as colônias cotonosas<br />

(aspecto <strong>de</strong> algodão), brancas ou acinzentadas, no pão e no presunto; os cogumelos dos<br />

campos e os comestíveis, entre tantos. Todas representam vários organismos fúngicos,<br />

morfologicamente muito diversificados. De um modo geral, os fungos incluem os<br />

bolores e as leveduras. A palavra bolor tem emprego pouco nítido, sendo usada para<br />

<strong>de</strong>signar os mofos, as ferrugens e o carvão (doença <strong>de</strong> gramíneas). As leveduras se<br />

diferenciam dos bolores por se apresentarem sob a forma unicelular.<br />

Os fungos po<strong>de</strong>m viver como saprófagos, quando obtêm seus alimentos<br />

<strong>de</strong>compondo organismos mortos; como parasitas, quando se alimentam <strong>de</strong> substâncias<br />

que retiram dos organismos vivos nos quais se instalam, prejudicando-os; ou po<strong>de</strong>m<br />

estabelecer associações mutualísticas com outros organismos, em que ambos se<br />

beneficiam. Em todos os casos, no entanto, os fungos liberam enzimas digestivas para<br />

fora <strong>de</strong> seus corpos e estas atuam diretamente no meio orgânico no qual eles se instalam,<br />

<strong>de</strong>gradando moléculas simples, que são então absorvidas pelo fungo. Os fungos<br />

saprófagos são responsáveis por gran<strong>de</strong> parte da <strong>de</strong>gradação da matéria orgânica,<br />

propiciando a reciclagem <strong>de</strong> nutrientes, como já foi comentado.<br />

Os fungos são importantes nas fermentações industriais, tais como na fabricação<br />

da cerveja, do vinho e na produção <strong>de</strong> antibióticos (penicilina), <strong>de</strong> vitaminas e ácidos<br />

orgânicos (ácido cítrico). A fabricação <strong>de</strong> pães e o amadurecimento <strong>de</strong> queijos também<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m da ativida<strong>de</strong> saprofítica dos fungos.<br />

Como parasitas, os fungos causam doenças vegetais, humanas e animais, embora<br />

a maior parte das micoses seja menos severa que as bacterioses ou as viroses.<br />

A ciência que estuda os fungos recebe o nome <strong>de</strong> Micologia.<br />

3.2 Características próprias dos fungos<br />

Os fungos são microrganismos eucarióticos quimiorganotróficos. Reproduzemse,<br />

naturalmente, por meio <strong>de</strong> esporos, com poucas exceções. Além disso, a maioria das<br />

partes <strong>de</strong> um fungo é potencialmente capaz <strong>de</strong> crescimento; um minúsculo fragmento é


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

29<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

suficiente para originar um novo indivíduo. Os fungos não têm clorofila, são<br />

filamentosos em geral e comumente ramificados. Os filamentos apresentam pare<strong>de</strong>s<br />

celulares constituídas por quitina ou celulose, ou ambas. São imóveis, em sua maioria,<br />

embora possam <strong>de</strong>monstrar células vegetativas móveis.<br />

A maior parte entre todas as classes <strong>de</strong> fungos produz esporos <strong>de</strong> dois modos:<br />

sexuada e assexuadamente. Os esporos produzidos sexuadamente têm núcleos <strong>de</strong>rivados<br />

das células parentais e estas, como os esporos, são, geralmente, haplói<strong>de</strong>s. Dois núcleos<br />

<strong>de</strong> células parentais se fun<strong>de</strong>m para formar um núcleo diplói<strong>de</strong> zigótico, do qual, por<br />

divisão celular redutora (meiose zigótica), originam-se os núcleos dos esporos<br />

haplói<strong>de</strong>s. Os esporos sexuados e as estruturas que os contém são usualmente<br />

distinguíveis, sob o ponto <strong>de</strong> vista morfológico, dos esporos assexuados, os quais são<br />

formados por simples diferenciação do talo em <strong>de</strong>senvolvimento (o talo é o fungo<br />

individual completo, incluindo as porções vegetativas ou não-sexuadas e todas as<br />

estruturas especializadas). Os esporos são muito importantes na classificação dos<br />

fungos, sendo as classes diferenciadas pelas características morfológicas dos estágios<br />

sexuados e dos esporos. A figura 17 mostra alguns tipos <strong>de</strong> esporos fúngicos.<br />

Morfologia dos fungos filamentosos: O talo <strong>de</strong> um fungo é tipicamente<br />

composto por filamentos tubulares microscópicos, chamados hifas. O conjunto <strong>de</strong> hifas<br />

tem o nome <strong>de</strong> micélio. A pare<strong>de</strong> das hifas é semi-rígida, e os fungos po<strong>de</strong>m apresentar<br />

três tipos morfológicos <strong>de</strong> hifas (figura 18). O micélio po<strong>de</strong> formar uma re<strong>de</strong> frouxa ou<br />

um tecido compacto, como nos cogumelos. Além disso, os micélios po<strong>de</strong>m ser<br />

vegetativos ou <strong>de</strong> reprodução, sendo estes responsáveis pela produção <strong>de</strong> esporos. As<br />

hifas dos micélios <strong>de</strong> reprodução são, em geral, aéreas, enquanto algumas hifas do<br />

micélio vegetativo po<strong>de</strong>m penetrar no meio, em busca <strong>de</strong> nutrientes.<br />

Figura 17: Diferentes tipos <strong>de</strong> esporos fúngicos (fonte: Pelczar et al.., 1980).


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30<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 18: Tipos morfológicos <strong>de</strong> hifas nos fungos.<br />

A hifa conocítica não apresenta septos transversais.<br />

As hifas septadas po<strong>de</strong>m apresentar células<br />

mononucleadas (um núcleo por célula) ou<br />

multinucleadas (dois ou mais núcleos por célula); os<br />

septos transversais apresentam um poro central,<br />

através do qual o citoplasma e os nucléolos po<strong>de</strong>m<br />

migrar <strong>de</strong> um compartimento para outro (modificado<br />

<strong>de</strong> Davis et al.., 1990).<br />

3.2.1 Reprodução nos Fungos<br />

As leveduras (fungos unicelulares) reproduzem-se assexuadamente por<br />

gemulação ou brotamento, no qual uma pequena protuberância (broto) cresce e<br />

eventualmente separa-se da célula-mãe. Cada broto que separa-se, po<strong>de</strong> tornar-se uma<br />

nova levedura (figura 19). Leveduras também po<strong>de</strong>m reproduzir-se assexuadamente por<br />

fissão e sexuadamente, através da formação <strong>de</strong> esporos. As leveduras não são<br />

classificadas como um grupo taxonômico único pois muitos fungos diferentes po<strong>de</strong>m<br />

ser induzidos a formar um estágio <strong>de</strong> levedura.<br />

Os esporos dos fungos terrestres são células reprodutivas não-móveis, dispersas<br />

através do vento ou por animais e, geralmente, produzidos nas hifas aéreas (que se<br />

projetam no ar). Este arranjo permite que os esporos sejam "arrastados" por correntes <strong>de</strong><br />

ar e distribuídos a novas áreas. Em alguns fungos, as hifas aéreas formam estruturas<br />

gran<strong>de</strong>s e complexas, on<strong>de</strong> os esporos são produzidos. Estas estruturas são chamadas<br />

esporocarpos ou corpos <strong>de</strong> frutificação. A parte familiar <strong>de</strong> um cogumelo, por<br />

exemplo, é um gran<strong>de</strong> esporocarpo. Nós normalmente não vemos a maior parte do<br />

organismo, uma re<strong>de</strong> quase invisível <strong>de</strong> hifas enterradas sobre o material na qual ele<br />

cresce. Ao contrário <strong>de</strong> células animais e vegetais, os fungos normalmente contêm<br />

núcleos haplói<strong>de</strong>s. Na reprodução sexuada, os fungos freqüentemente realizam um tipo<br />

<strong>de</strong> conjugação no qual duas hifas geneticamente diferentes juntam-se e seus núcleos<br />

fun<strong>de</strong>m-se. Em certos fungos, os núcleos geneticamente diferentes não se fun<strong>de</strong>m<br />

imediatamente, mas permanecem separados <strong>de</strong>ntro do citoplasma do fungo pela maior<br />

parte <strong>de</strong> sua vida. Hifas que contêm dois núcleos distintos geneticamente <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> cada<br />

célula são chamadas dicarióticas. Hifas que contêm somente um núcleo por célula são<br />

monocarióticas.<br />

Quando um esporo fúngico "cai" num substrato apropriado, por exemplo, um<br />

pêssego muito amadurecido, o esporo germina e começa a crescer (figura 20). Uma hifa<br />

parecida com um fio emerge do pequeno esporo. Assim que uma camada <strong>de</strong> hifas<br />

emaranhadas infiltra-se no pêssego, uma outra hifa esten<strong>de</strong>-se em direção ao ar. Células<br />

das hifas secretam enzimas digestivas <strong>de</strong>ntro do pêssego, <strong>de</strong>gradando seus compostos<br />

orgânicos em pequenas moléculas que serão absorvidas pelos fungos.


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31<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 19: a) Célula <strong>de</strong> uma levedura comum, mostrando a reprodução por brotamento. b)<br />

Fotomicrografia <strong>de</strong> células da levedura Saccharomyces cerevisiae, utilizado como fermento <strong>de</strong> pão. Note<br />

que muitas das células estão brotando (fonte: Davis, 1990).<br />

Figura 20: Germinação <strong>de</strong> um esporo e crescimento <strong>de</strong> um fungo terrestre (fonte: Davis et al..,<br />

1990).<br />

3.2.2 Fisiologia e Nutrição dos Fungos<br />

Fungos crescem melhor em habitats úmidos e escuros, porém são encontrados<br />

universalmente on<strong>de</strong> quer que exista matéria orgânica disponível. Eles necessitam <strong>de</strong><br />

umida<strong>de</strong> para crescer e po<strong>de</strong>m obter água da atmosfera, bem como do meio sobre o qual<br />

vivem. Quando o ambiente torna-se muito seco, os fungos sobrevivem entrando num<br />

estado <strong>de</strong> repouso ou produzindo esporos, que são resistentes à ari<strong>de</strong>z. Embora o pH<br />

ótimo para a maioria das espécies seja ± 5,6, alguns fungos po<strong>de</strong>m tolerar e crescer em


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

32<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

ambientes on<strong>de</strong> o pH varia <strong>de</strong> 2 a 9. Muitos fungos são menos sensíveis à altas pressões<br />

osmóticas que as bactérias, e po<strong>de</strong>m crescer em soluções <strong>de</strong> sais concentradas ou<br />

soluções <strong>de</strong> açúcares, que inibem ou previnem o crescimento bacteriano. Os fungos<br />

também crescem num amplo intervalo <strong>de</strong> temperatura (0 o a 62 o C, estando a temperatura<br />

ótima entre 22 o e 30 o C).<br />

3.3 Classificação dos Fungos<br />

A classificação dos fungos é baseada principalmente nas características dos<br />

esporos sexuais e dos corpos <strong>de</strong> frutificação, na natureza <strong>de</strong> seus ciclos <strong>de</strong> vida e nas<br />

características morfológicas <strong>de</strong> seus micélios vegetativos ou <strong>de</strong> suas células.<br />

Entretanto, muitos fungos produzem esporos sexuais sob certas condições<br />

ambientais. Aqueles que possuem todos os estágios sexuais conhecidos são<br />

<strong>de</strong>nominados fungos perfeitos e os que não possuem, fungos imperfeitos. Os fungos<br />

imperfeitos são classificados arbitrariamente, num primeiro momento, e são colocados<br />

provisoriamente em uma classe especial <strong>de</strong>nominada Deuteromycetes. Quando o seu<br />

ciclo sexual é <strong>de</strong>scoberto posteriormente, são então reclassificados entre outras classes e<br />

recebem novos nomes.<br />

Os micologistas divi<strong>de</strong>m o Reino Fungi em 3 principais grupos: os fungos<br />

limosos, os fungos inferiores flagelados e os fungos terrestres.<br />

Os fungo limosos são consi<strong>de</strong>rados um enigma biológico e taxonômico porque<br />

não são nem um fungo típico, nem um protozoário típico. Durante uma <strong>de</strong> suas etapas<br />

<strong>de</strong> crescimento, assemelham-se aos protozoários porque não possuem pare<strong>de</strong> celular,<br />

possuem movimentos amebói<strong>de</strong>s e ingerem nutrientes particulados. Durante a etapa <strong>de</strong><br />

propagação, formam corpos <strong>de</strong> frutificação e esporângios apresentando esporos com<br />

pare<strong>de</strong>s, como nos fungos típicos. Vivem em água doce, em solo úmido e em vegetais<br />

em <strong>de</strong>composição.<br />

Os fungos inferiores flagelados incluem todos os fungos, com exceção dos<br />

limosos, que produzem células flageladas em alguma fase do seu ciclo <strong>de</strong> vida.<br />

Alimentam-se pela absorção dos alimentos. A gran<strong>de</strong> maioria é filamentosa, produzindo<br />

um micélio cenocítico. Muitos são unicelulares ou unicelulares com rizói<strong>de</strong>s. A<br />

reprodução sexuada po<strong>de</strong> ocorrer por vários meios; a reprodução assexuada ocorre<br />

mediante a produção <strong>de</strong> zoósporos. Po<strong>de</strong>m ser parasitas ou saprófitas, que vivem no<br />

solo ou água doce.<br />

Os fungos terrestres são as espécies mais conhecidas entre os fungos. Este<br />

grupo inclui as leveduras, bolores, orelhas-<strong>de</strong>-pau, mofo, fungos em forma <strong>de</strong> taça,<br />

ferrugem, carvão, bufa-<strong>de</strong>-lobo e cogumelos. Todos caracterizam-se pela nutrição<br />

através da absorção e, com exceção das leveduras, a maioria produz um micélio bem<br />

<strong>de</strong>senvolvido constituído <strong>de</strong> hifas septadas ou cenocíticas. As células móveis não são<br />

encontradas nos fungos terrestres. A reprodução assexuada ocorre através <strong>de</strong><br />

brotamento, fragmentação e produção <strong>de</strong> esporangióforos ou conídios. A reprodução<br />

sexuada envolve a produção <strong>de</strong> zigósporos, ascósporos ou basidiósporos.<br />

Existem 4 principais grupos <strong>de</strong> fungos terrestres: Zygomycetes, Ascomycetes,<br />

Basidiomycetes e Deuteromycetes. A tabela 6 resume esta classificação.


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33<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Tabela 6: Classes <strong>de</strong> Fungos Terrestres (modificado <strong>de</strong> Davis et al.., 1990).<br />

Classes TIPOS COMUNS REPR. ASSEXUADA REPR. SEXUADA<br />

Zygomycetes bolor preto do pão esporos não-móveis zigósporos<br />

Ascomycetes<br />

Basidiomycetes<br />

Deuteromycetes<br />

(fungos<br />

imperfeitos)<br />

3.3.1 Zygomycetes<br />

leveduras, fungos em forma<br />

<strong>de</strong> taça, trufas.<br />

cogumelos, fungos da<br />

ferrugem e do carvão, bufa<strong>de</strong>-lobo,<br />

orelha-<strong>de</strong>-pau<br />

Candida albicans, algumas<br />

espécies <strong>de</strong> Penicillium e<br />

Aspergillus<br />

conídios <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>mse<br />

dos conidióforos<br />

ascósporos<br />

incomum basidiósporos<br />

conídios<br />

estágio sexual<br />

<strong>de</strong>sconhecido<br />

Os membros <strong>de</strong>sta classe são chamados <strong>de</strong> zigomicetos e há cerca <strong>de</strong> 600<br />

espécies encontradas em todo mundo. Eles produzem esporos sexuais chamados<br />

zigósporos, que permanecem dormentes por um tempo. Suas hifas são cenocíticas (não<br />

têm septo). Muitos zigomicetos vivem no solo sobre matéria orgânica animal ou vegetal<br />

em <strong>de</strong>composição; alguns são parasitas <strong>de</strong> plantas e animais. Alguns zigomicetos são<br />

utilizados na elaboração <strong>de</strong> produtos comercialmente valiosos, como molho <strong>de</strong> soja,<br />

ácidos orgânicos esterói<strong>de</strong>s para drogas contraceptivas e antiinflamatórias. Um<br />

zigomiceto comum é o bolor preto do pão, Rhizopus stolonifer. O pão torna-se<br />

embolorado quando o esporo do bolor cai sobre ele, germinando e crescendo como uma<br />

massa <strong>de</strong> fios, o micélio. As hifas penetram no pão e absorvem nutrientes. Algumas<br />

hifas, chamadas estolões, crescem horizontalmente; outras, chamadas rizói<strong>de</strong>s, ancoram<br />

os estolões no pão. Eventualmente, certas hifas crescem para cima e <strong>de</strong>senvolvem um<br />

esporângio, ou saco <strong>de</strong> esporos, na extremida<strong>de</strong>. Agregados <strong>de</strong> esporos esféricos pretos<br />

<strong>de</strong>senvolvem-se <strong>de</strong>ntro do esporângio e são liberados quando este se rompe. A<br />

reprodução sexual po<strong>de</strong> ocorrer quando hifas <strong>de</strong> dois tipos diferentes (+ e -) crescem em<br />

contato uma com a outra (figura 21). Não há diferenciação sexual morfológica, <strong>de</strong> modo<br />

que não é próprio referir-se a linhagens feminina e masculina. Quando as hifas <strong>de</strong> dois<br />

tipos encontram-se, hormônios são produzidos, fazendo com que suas extremida<strong>de</strong>s<br />

cresçam juntas. Os núcleos + e - fun<strong>de</strong>m-se e formam um núcleo diplói<strong>de</strong>, o zigoto,<br />

chamado <strong>de</strong> zigósporo. O zigósporo po<strong>de</strong> permanecer dormente por vários meses. A<br />

meiose provavelmente ocorre no momento ou um pouco antes da germinação do<br />

zigósporo. Quando este germina, uma hifa aérea <strong>de</strong>senvolve-se com um esporângio na<br />

extremida<strong>de</strong>. Cada esporo formado é capaz <strong>de</strong> tornar-se um novo micélio.


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34<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 21: O ciclo <strong>de</strong> vida do bolor preto do pão, Rhizopus stolonifer. Após ruptura da pare<strong>de</strong> do<br />

esporângio, os esporangiósporos são liberados. Um esporangiósporo germina para <strong>de</strong>senolver um talo<br />

micelial, os rizói<strong>de</strong>s penetram no meio e os esporangiósporos dão origem ao esporângio, completando a<br />

fase assexuada do ciclo <strong>de</strong> vida. A reprodução sexuada requer dois mating types (+ e -) sexualmente<br />

compatíveis. Quando entram em contato, são formadas ramificações <strong>de</strong> copulação <strong>de</strong>nominadas<br />

progametângio. Eles logo se fun<strong>de</strong>m, os protoplasmas misturam-se (através da plasmogamia) e os núcleos<br />

+ e – também se fun<strong>de</strong>m (através da cariogamia) para formar muitos núcleos zigotos. A estrutura contendo<br />

o núcleo torna-se corada em preto e com aspecto verrugoso, formando o zigósporo diplói<strong>de</strong> maduro, que<br />

repousa em estado dormente por 1 a 3 meses ou mais. O zigósporo germina para formar um novo<br />

organismo haplói<strong>de</strong> e a meiose ocorre durante o processo <strong>de</strong> germinação (fonte: Pelczar et al.., 1996).<br />

3.3.2 Ascomycetes<br />

Os ascomicetos constituem um gran<strong>de</strong> grupo <strong>de</strong> mais ou menos 30.000 espécies<br />

<strong>de</strong>scritas. Recebem também o nome <strong>de</strong> fungos <strong>de</strong> saco pois seus esporos sexuais são<br />

produzidos em pequenos sacos chamados ascos. Suas hifas geralmente têm septos,<br />

porém as pare<strong>de</strong>s transversais são perfuradas, permitindo o movimento do citoplasma.<br />

Os ascomicetos variam na complexida<strong>de</strong>, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> leveduras unicelulares até mofos<br />

multicelulares e fungos em forma <strong>de</strong> taça. Eles incluem a maioria dos bolores<br />

esver<strong>de</strong>ados, rosas e marrons que estragam os alimentos e as trufas comestíveis. Os<br />

ascomicetos <strong>de</strong>sempenham um papel ecológico importante na <strong>de</strong>gradação <strong>de</strong> moléculas<br />

animais e vegetais resistentes como a celulose, lignina e o colágeno.<br />

Na maioria dos ascomicetos, a reprodução assexuada envolve a produção <strong>de</strong><br />

esporos, chamados conídios. Estes esporos <strong>de</strong>spren<strong>de</strong>m-se das extremida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> certas<br />

hifas conhecidas como conidióforos (que contêm os esporos). Algumas vezes chamados


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35<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

<strong>de</strong> "esporos <strong>de</strong> verão", os conídios são um meio <strong>de</strong> rápida propagação do novo micélio.<br />

Eles variam na forma, tamanho e cor, nas diferentes espécies; a cor do conídio é que dá<br />

a característica preta, azul, ver<strong>de</strong>, rosa ou outra, a muitos <strong>de</strong>stes bolores.<br />

A reprodução sexual ocorre após duas hifas crescerem juntas e unirem seus<br />

citoplasmas. Dentro <strong>de</strong>sta estrutura fundida, os dois núcleos ficam juntos, porém não se<br />

fun<strong>de</strong>m. Novas hifas <strong>de</strong>senvolvem-se a partir <strong>de</strong>sta estrutura; as células <strong>de</strong>stas hifas são<br />

dicarióticas (2 núcleos). Estas hifas formam o corpo <strong>de</strong> frutificação conhecido como<br />

ascocarpo, on<strong>de</strong> o asco se <strong>de</strong>senvolve. Dentro <strong>de</strong> cada célula que irá se <strong>de</strong>senvolver<br />

num asco, os dois núcleos fun<strong>de</strong>m-se e formam um núcleo diplói<strong>de</strong>, o zigoto. Cada<br />

zigoto sofre meiose e origina 4 núcleos haplói<strong>de</strong>s. Cada um <strong>de</strong>stes passa por uma<br />

mitose, resultando na formação <strong>de</strong> 8 núcleos. Estes, quando separados, formam os<br />

ascósporos. Assim, <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um asco, há 4 ascósporos, que são liberados quando este<br />

se rompe. A figura 22 mostra o ciclo <strong>de</strong> vida do ascomiceto Neurospora sp.<br />

Figura 22: Ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> Neurospora sp. O elemento feminino é representado pelo protoperitécio. Os<br />

elementos masculinos são os coní<strong>de</strong>os, que po<strong>de</strong>m fornecer núcleo para um protoperitécio. Isto resulta na<br />

formação <strong>de</strong> ascos que produzem ascósporos haplói<strong>de</strong>s gerados por fusão sexual do núcleo <strong>de</strong> duas<br />

diferentes cepas. A Neurospora po<strong>de</strong> também reproduzir-se assexuadamente através <strong>de</strong> conídios (fonte:<br />

Pelczar et al..,1996).<br />

3.3.2.1 Leveduras<br />

As leveduras, que são unicelulares, formam um dos grupos mais importantes e<br />

interessantes dos ascomicetos microscópicos. Estão reunidas em torno <strong>de</strong> 40 gêneros,<br />

com aproximadamente 350 espécies.<br />

As leveduras possuem a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> fermentar carboidratos, quebrando a<br />

glicose para produzir etanol e dióxido <strong>de</strong> carbono. Este processo é <strong>de</strong> fundamental<br />

importância na produção <strong>de</strong> pão, cerveja e vinho. Através dos anos, muitas linhagens


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36<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

diferentes <strong>de</strong> leveduras têm sido selecionadas para este processo. A levedura <strong>de</strong> maior<br />

importância econômica é espécie Saccharomyces cerevisiae.<br />

Outras leveduras são importantes patógenos e causam doenças tais como o<br />

"sapinho" e a criptococose, infecção que po<strong>de</strong> atacar os pulmões, entre outras partes do<br />

organismo humano.<br />

3.3.3 Basidiomycetes<br />

Esta divisão tem mais <strong>de</strong> 25.000 espécies e inclui os fungos mais familiares,<br />

como os cogumelos, as orelhas-<strong>de</strong>-pau, além <strong>de</strong> importantes parasitas <strong>de</strong> plantas, como<br />

os fungos do carvão e da ferrugem.<br />

Os basidiomicetos formam seus esporos sexuais <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> estruturas chamadas<br />

basídios. Na extremida<strong>de</strong> <strong>de</strong> cada um <strong>de</strong>stes são formados 4 basidiósporos. Quando<br />

são liberados e encontram ambiente apropriado, <strong>de</strong>senvolvem-se num novo micélio. O<br />

corpo vegetativo <strong>de</strong> um basidiomiceto, tal como o do cogumelo comestível Agaricus<br />

campestris, consiste em uma massa <strong>de</strong> hifas brancas, tipo fios, ramificadas, que fica<br />

geralmente abaixo da terra. Massas compactas <strong>de</strong> hifas, chamadas botões, <strong>de</strong>senvolvemse<br />

ao longo do micélio. Os botões <strong>de</strong>senvolvem-se numa estrutura que popularmente<br />

chamamos <strong>de</strong> cogumelo, que consiste <strong>de</strong> uma haste (estipe) e um "chapéu", e que na<br />

verda<strong>de</strong> é o basidiocarpo (figura 23).<br />

Os basídios estão localizados em lamelas que existem na superfície inferior dos<br />

chapéus. Cada fungo individual produz milhões <strong>de</strong> basidiósporos, e cada um po<strong>de</strong><br />

formar, potencialmente, um novo micélio primário. As hifas <strong>de</strong>ste micélio têm células<br />

monocarióticas. Quando duas hifas <strong>de</strong> tipos diferentes se juntam, elas se fun<strong>de</strong>m, porém<br />

seus núcleos não. Assim é formado o micélio secundário, com hifas dicarióticas. Estas<br />

hifas po<strong>de</strong>m crescer e formar massas compactas, que são os basidiocarpos ou<br />

cogumelos. Nas nervuras <strong>de</strong>stes, os núcleos se fun<strong>de</strong>m, formando zigotos diplói<strong>de</strong>s.<br />

Estes sofrem meiose e originam 4 núcleos haplói<strong>de</strong>s, que se localizam na superfície do<br />

basídio, como <strong>de</strong>dos, e vão formar os basidiósporos (figura 24).<br />

Figura 23: O cogumelo é um corpo <strong>de</strong> frutificação, ou basidiocarpo, que é uma massa <strong>de</strong> hifas compactas<br />

(fonte: Davis et al.., 1990).


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37<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 24: Ciclo <strong>de</strong> vida <strong>de</strong> um cogumelo, um basidiomiceto típico. Um basidiocarpo <strong>de</strong>senvolve-se a<br />

partir do micélio, uma massa <strong>de</strong> "fios" entrelaçados, que fica abaixo da terra. Na superfície inferior do<br />

"chapéu" estão as lamelas, on<strong>de</strong> se <strong>de</strong>senvolvem-se os basídios, que irão produzir os basidiósporos.<br />

Quando os esporos alcançam um ambiente propício, po<strong>de</strong>m se <strong>de</strong>senvolver e originar um novo micélio<br />

(fonte: Davis et al.., 1990).<br />

3.3.4 Deuteromycetes<br />

Em torno <strong>de</strong> 25.000 fungos são classificados como <strong>de</strong>uteromicetos, que também<br />

são conhecidos como "fungos imperfeitos". Assim são chamados porque não observa-se<br />

o estágio sexuado em seu ciclo <strong>de</strong> vida. A maioria dos <strong>de</strong>uteromicetos reproduzem-se<br />

somente por esporos assexuais ou conídios (figura 25). Neste aspecto, lembram os<br />

estágios assexuais <strong>de</strong> ascomicetos e basidiomicetos, que também produzem esporos<br />

assexuais. Desta forma, acredita-se que alguns <strong>de</strong>uteromicetos possam ser ascomicetos<br />

ou basidiomicetos que per<strong>de</strong>ram a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> formar ascos ou basídios.<br />

Entre os gêneros economicamente importantes <strong>de</strong>sta divisão estão o Penicillium<br />

e o Aspergillus. Algumas espécies <strong>de</strong> Penicillium produzem o conhecido antibiótico<br />

penicilina, enquanto outras espécies dão sabor e aroma a queijos com Roquefort e<br />

Camembert. Espécies <strong>de</strong> Aspergillus são usadas para fermentar pastas e molhos <strong>de</strong> soja,<br />

além <strong>de</strong> produzir ácido cítrico comercialmente.<br />

Outros fungos imperfeitos são causadores <strong>de</strong> certas doenças, como Candida<br />

albicans, que causa a candidíase, uma doença da mucosa da boca, vagina e trato<br />

alimentar.


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38<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

conidióforos<br />

conídios<br />

Figura 25: Fotomicrografia<br />

eletrônica <strong>de</strong> varredura <strong>de</strong><br />

conidióforos <strong>de</strong> Penicillium. O<br />

arranjo dos conídios (esporos<br />

assexuais) nos conidióforos varia <strong>de</strong><br />

espécie para espécie e é usado na<br />

i<strong>de</strong>ntificação dos fungos (fonte:<br />

Solomon & Berg, 1995).<br />

3.4 Fungos e suas associações com outros organismos<br />

Os fungos po<strong>de</strong>m se associar a organismos <strong>de</strong> diversas formas. Em algumas<br />

<strong>de</strong>stas associações os parceiros são mutuamente <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes e não po<strong>de</strong>m viver<br />

isoladamente. Em outras, os indivíduos po<strong>de</strong>m sobreviver por si mesmos.<br />

3.4.1 Liquens<br />

É uma relação simbiótica entre uma alga (ou uma cianobactéria) e um fungo. O<br />

fungo geralmente é um ascomiceto. As algas ou cianobactérias encontradas nos liquens<br />

também são encontradas livremente na natureza, enquanto que o parceiro fúngico tem<br />

sido encontrado somente como parte do líquen. As algas fabricam alimentos pela<br />

fotossíntese, usando a água e os minerais obtidos pelos fungos, enquanto estes<br />

<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>m das algas quanto ao fornecimento <strong>de</strong> carbono orgânico. Liquens normalmente<br />

se reproduzem por simples fragmentação, ou pela produção <strong>de</strong> propágulos pulvurulentos<br />

especiais <strong>de</strong>nominados sorédios, ou por pequenas projeções do talo conhecidas como<br />

isídios. Fragmentos, sorédios e isídios contêm tanto hifas do fungo como algas ou<br />

cianobactérias; eles atuam como unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> dispersão que têm a função <strong>de</strong> estabelecer<br />

o liquen em novas localida<strong>de</strong>s. A figura 26 mostra um esquema <strong>de</strong> uma secção<br />

transversal <strong>de</strong> um liquen.<br />

Existem mais ou menos 20.000 espécies <strong>de</strong> liquens. Eles toleram ambientes<br />

extremos <strong>de</strong> temperatura e umida<strong>de</strong> e crescem em quase todos os lugares exceto em<br />

ambientes muito poluídos, como cida<strong>de</strong>s industriais, por exemplo. Por isso muitas<br />

espécies são utilizadas como bioindicadoras <strong>de</strong> poluição. Os liquens po<strong>de</strong>m crescer<br />

sobre troncos <strong>de</strong> árvore, picos <strong>de</strong> montanhas e rochas lisas. As cores dos liquens variam<br />

do branco ao negro, passando por tonalida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> vermelho, laranja, marrom, amarelo e<br />

ver<strong>de</strong>. Esses organismos contêm muitos compostos químicos incomuns. Muitos liquens<br />

são utilizados como fontes <strong>de</strong> corantes e também como medicamentos, bases fixadoras<br />

<strong>de</strong> perfumes ou fontes <strong>de</strong> alimento <strong>de</strong> menor importância.


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39<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 26: Uma secção transversal do liquen Lobaria verrucosa. Os liquens mais complexos consistem<br />

apenas em uma crosta <strong>de</strong> hifas entrelaçadas envolvendo colônias <strong>de</strong> algas. Contudo, nos liquens mais complexos, as<br />

hifas e as células <strong>de</strong> algas estão organizadas em um talo com crescimento e forma <strong>de</strong>finidos e uma estrutura interna<br />

característica. O liquen mostrado tem 4 camadas distintas: (1) o córtex superior, uma camada protetora constituída <strong>de</strong><br />

hifas <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s muito espessadas; (2) a camada <strong>de</strong> algas, constituída por células <strong>de</strong> algas e hifas, estas <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s<br />

finas frouxamente entrelaçadas; (3) a medula, que é uma camada espessa <strong>de</strong> hifas frouxas e <strong>de</strong> pare<strong>de</strong>s menos<br />

espessas. Esta camada, que constitui cerca <strong>de</strong> dois terços da espessura do talo, parece servir como área <strong>de</strong><br />

armazenagem, com as células do fungo aumentadas; e (4) o córtex inferior, que é mais fino que o superior e coberto<br />

por finas projeções (rizinas) que pren<strong>de</strong>m o liquen ao substrato (fonte: Raven et al., 1996).<br />

3.4.2 Micorrizas<br />

A micorriza é uma associação benéfica entre um fungo e uma raiz <strong>de</strong> planta.<br />

Este termo é <strong>de</strong>rivado do grego, significando "raiz fúngica". Estas associações são<br />

usualmente benéficas para a planta hospe<strong>de</strong>ira, assim como para o simbionte e, algumas<br />

vezes, o hospe<strong>de</strong>iro não po<strong>de</strong> prosperar sem os benefícios oriundos do fungo, como o<br />

caso <strong>de</strong> certas orquí<strong>de</strong>as, que são incapazes <strong>de</strong> germinar e se <strong>de</strong>senvolver a menos que<br />

sejam infectadas por fungos. As micorrizas melhoram a absorção mineral pelas plantas<br />

ver<strong>de</strong>s que possuem, geralmente, um sistema <strong>de</strong> proteção, para impedir que o fungo<br />

cause dano às radicelas. As micorrizas ajudam na transferência direta do fósforo, zinco,<br />

cobre e outros nutrientes do solo para as raízes. Por outro lado, a planta fornece carbono<br />

orgânico ao fungo simbionte. Os parceiros fúngicos são geralmente os zigomicetos e os<br />

basidiomicetos.<br />

3.4.3 Trufas<br />

As trufas são corpos frutificantes subterrâneos <strong>de</strong> certos Ascomycetes que<br />

crescem em associação com algumas árvores, entre as quais o carvalho e a faia, que são<br />

os parceiros mais comuns. O fungo proporciona certos nutrientes à arvore, a qual, por<br />

sua vez, fornece substâncias essenciais para o crescimento do fungo. As trufas<br />

consistem em uma massa <strong>de</strong> ascósporos e micélios, coberta com uma casca espessa e<br />

protuberante do micélio. Possuem odor, gosto e textura agradáveis, o que as torna<br />

apreciáveis pelos gourmets.<br />

3.5 Fungos economicamente importantes<br />

A capacida<strong>de</strong> das leveduras <strong>de</strong> produzirem etanol e dióxido <strong>de</strong> carbono a partir<br />

da glicose é <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> importância econômica. O vinho é produzido a partir da


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40<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

fermentação do açúcar <strong>de</strong> frutas. A cerveja, a partir da fermentação da cevada. O pão<br />

cresce através das bolhas <strong>de</strong> CO2 formadas a partir da fermentação.<br />

Entre os basidiomicetos existem cerca <strong>de</strong> 200 tipos <strong>de</strong> cogumelos comestíveis e<br />

cerca <strong>de</strong> 70 espécies <strong>de</strong> cogumelos venenosos. Os cogumelos comestíveis e venenosos<br />

po<strong>de</strong>m ser muito parecidos e até mesmo pertencerem ao mesmo gênero. Não há um<br />

modo fácil para distinguí-los; somente um especialista o <strong>de</strong>ve fazer.<br />

Alguns dos cogumelos venenosos pertencem ao gênero Amanita. As espécies<br />

mais conhecidas são A. virosa ("anjo <strong>de</strong>struidor") e A. phalloi<strong>de</strong>s ("anjo da morte"). A<br />

ingestão <strong>de</strong> um único cogumelo po<strong>de</strong> matar um homem <strong>de</strong> 68 kg.<br />

A ingestão <strong>de</strong> certas espécies <strong>de</strong> cogumelos po<strong>de</strong> causar intoxicação e<br />

alucinação. Os cogumelos sagrados dos Astecas, Conocybe e Psilocybe , são ainda<br />

usados em cerimônias religiosas por índios da América Central e outros, por suas<br />

proprieda<strong>de</strong>s alucinógenas. A substância química psilocibina, quimicamente relacionada<br />

ao ácido lisérgico (LSD), é responsável pelo estado <strong>de</strong> transe e visões coloridas<br />

experimentadas por aqueles que comem estes cogumelos.<br />

3.5.1 Fungos Patogênicos<br />

Os fungos são responsáveis por várias doenças sérias <strong>de</strong> plantas, incluindo<br />

doenças epidêmicas que se espalham rapidamente por plantações, causando gran<strong>de</strong>s<br />

prejuízos econômicos. Todas as plantas são aparentemente suscetíveis a infecções<br />

fúngicas. Uma planta po<strong>de</strong> tornar-se infectada após as hifas entrarem pelos estômatos da<br />

folha ou do caule ou através <strong>de</strong> feridas na planta. A tabela 7 mostra alguns efeitos<br />

patológicos das micoses <strong>de</strong> plantas.<br />

Alguns fungos po<strong>de</strong>m causar doenças em humanos e outros animais. Po<strong>de</strong>m<br />

causar infecções superficiais que atingem somente a pele, cabelos ou unhas. Outros<br />

causam infecções sistêmicas, nas quais o fungo infecta tecidos profundos e órgãos<br />

internos.<br />

Sapinho e pé-<strong>de</strong>-atleta são exemplos <strong>de</strong> infecções fúngicas superficiais.<br />

Candidíase é uma infecção <strong>de</strong> membranas mucosas da boca e vagina e está entre as<br />

infecções fúngicas mais comuns. Histoplasmose é uma séria infecção fúngica sistêmica<br />

que é causada por um fungo que esporula abundantemente em solo que contém fezes <strong>de</strong><br />

aves; uma pessoa que inala os esporos po<strong>de</strong>m <strong>de</strong>senvolver a infecção. A tabela 8<br />

relaciona os <strong>de</strong>rmatófitos mais comuns.


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41<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Tabela 7: Alguns efeitos patológicos das micoses <strong>de</strong> plantas (fonte: Pelczar, 1980).<br />

NECROSE:<br />

Podridão da raiz<br />

Desintegração ou <strong>de</strong>composição <strong>de</strong> parte ou <strong>de</strong> todo o<br />

sistema e raízes <strong>de</strong> uma planta<br />

Podridão basal do caule Desintegração da parte interior do caule<br />

Apodrecimento (damping-off)<br />

Cancro<br />

Antracnose<br />

Manchas da folha<br />

Escara<br />

Mangra<br />

HIPERTROFIA:<br />

Podridão mole e podridão seca<br />

Rápido colapso e morte <strong>de</strong> mudas muito jovens no leito<br />

<strong>de</strong> sementeira ou no campo<br />

Ferida localizada ou lesão necrótica, muitas vezes<br />

escavada na superfície do caule <strong>de</strong> uma planta lenhosa<br />

Lesão semelhante a uma úlcera, necrótica e escavada no<br />

caule, na folha ou na flor<br />

Lesões localizadas nas folhas do hospe<strong>de</strong>iro, formadas<br />

por células mortas<br />

Lesões localizadas nos frutos do hospe<strong>de</strong>iro, nas folhas,<br />

nos tubérculos, etc., usualmente com leve elevação ou<br />

escavação, com aspecto <strong>de</strong> uma escara<br />

Coloração marrom, geral e extremamente rápida das<br />

folhas, dos ramos, dos brotos e dos órgãos florais,<br />

resultando em sua morte<br />

Maceração e <strong>de</strong>sintegração <strong>de</strong> frutos, raízes, bulbos,<br />

tubérculos e folhas carnosas<br />

Raiz em clava Raízes intumescidas, com aspecto <strong>de</strong> fusos ou clavas<br />

Galhas<br />

Verrugas<br />

OUTROS SINTOMAS:<br />

Porções aumentadas <strong>de</strong> tamanho, geralmente<br />

preenchidas com micélio fúngico<br />

Protuberâncias similares a verrugas nos tubérculos e<br />

caules<br />

Vassouras <strong>de</strong> bruxa Ramificação profusa dos brotos<br />

Encrespamento das folhas Distorção, espessamento e encrespamento das folhas<br />

Murcha<br />

Ferrugem<br />

Míldio<br />

Tabela 8: Os <strong>de</strong>rmatófitos (fonte: Pelczar, 1980).<br />

Usualmente um sintoma secundário generalizado, no<br />

qual as folhas per<strong>de</strong>m seu turgor e caem por causa <strong>de</strong><br />

um distúrbio no sistema vascular da raiz ou do caule<br />

Muitas lesões pequenas, sobre as folhas ou o caule, com<br />

típica coloração ferruginosa<br />

Áreas cloróticas ou necróticas das folhas, dos caules e<br />

frutos, usualmente recobertas <strong>de</strong> micélio e frutificações<br />

fúngicas


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42<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

GRUPO MICRORGANISMOS OCORRÊNCIA E DOENÇA<br />

Epi<strong>de</strong>mophyton E. floccosum Causa infecções da pele e das unhas das mãos e dos pés<br />

Microsporum M. audouini<br />

M. canis<br />

M. gypseum<br />

Trichophyton Subgrupo gypseum:<br />

T. mentagrophytes<br />

T. rubrum<br />

T. tonsurans<br />

Subgrupo faviforme:<br />

T. schoenleini<br />

T. violaceum<br />

T.ferrugineum<br />

T. concentricum<br />

T. verrucossum<br />

Subgrupo rosaceum:<br />

T. megnini<br />

T. gallinae<br />

Miscelânea Piedraia hortai<br />

Trichosporon beigelii<br />

Nocardia minutissima<br />

Malassezia furfur<br />

Nocardia<br />

Aspergillus<br />

Penicillium<br />

Mucor<br />

Rhizopus<br />

Causa tinha epidêmica do couro cabeludo em crianças<br />

Causa comum <strong>de</strong> infecções da pele e dos pêlos em gatos, cães<br />

e outros animais; causa a tinea capitis em crianças<br />

Ocorre como saprófita no solo e como parasita em animais;<br />

ocasionalmente encontrado na tinha do couro cabeludo em<br />

crianças<br />

Primariamente parasita dos cabelos<br />

Causa tinhas em muitas partes do corpo; infecta os cabelos e o<br />

couro cabeludo<br />

Infecta os cabelos e o couro cabeludo<br />

Estes cinco fungos causam tinhas na pele, no couro cabeludo e<br />

na pele glabra do homem; o Trichophyton verrucossum<br />

também causa infecções no gado<br />

Causa tinhas do couro cabeludo humano<br />

Causa infecção em frangos<br />

Causa uma infecção do cabelo e do couro cabeludo,<br />

caracterizada pela formação <strong>de</strong> nódulos duros e negros; piedra<br />

negra<br />

Causa infecção similar à anterior, mas com nódulos brancos;<br />

piedra branca<br />

Causa do eritrasma, uma infecção crônica das axilas e áreas<br />

gênito-crurais<br />

Causa a ptiriase versicolor, uma infecção fúngica generalizada<br />

da pele que recobre o tronco e , às vezes, outras áreas do<br />

corpo<br />

Causa da doença dos pêlos púbicos e axilares, chamada<br />

trichomycosis axillaris<br />

Estes quatro fungos, comumente saprófitas, po<strong>de</strong>m ocasionar<br />

otomicoses e produzir, eventualmente, lesões em outras áreas<br />

do organismo


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43<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

4 VÍRUS<br />

4.1 Introdução<br />

Os vírus constituem um grupo gran<strong>de</strong> e heterogêneo <strong>de</strong> agentes infecciosos,<br />

semelhantes pelo fato <strong>de</strong> serem parasitas intracelulares obrigatórios para as células <strong>de</strong><br />

seus hospe<strong>de</strong>iros específicos. São tão pequenos que passam através dos filtros cujos<br />

poros não permitem a passagem das bactérias. O maior vírus tem menos do que a quarta<br />

parte das dimensões <strong>de</strong> uma salmonela e milhares dos <strong>de</strong> menor tamanho po<strong>de</strong>riam ser<br />

colocados <strong>de</strong>ntro da pare<strong>de</strong> celular vazia <strong>de</strong> um estafilococo. Os vírus causam doenças<br />

ou infecções em insetos, peixes, microrganismos, plantas, homens e outros animais.<br />

Muitas vezes não produzem prejuízos particulares aos seus hospe<strong>de</strong>iros, embora<br />

<strong>de</strong>monstrem efeitos visíveis; por exemplo, os vírus que infectam as tulipas causam suas<br />

cores variegadas, pois as tulipas "sadias" são solidamente monocoradas.<br />

Os vírus são "pedaços" <strong>de</strong> DNA ou RNA protegidos por uma capa proteica; eles<br />

não têm capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> movimentação nem <strong>de</strong> metabolismo autônomo. Reproduzem-se<br />

por replicação numa célula hospe<strong>de</strong>ira (anima, vegetal ou <strong>de</strong> um microrganismo),<br />

po<strong>de</strong>ndo sofrer mutações.<br />

4.2 Histórico<br />

Algumas viroses foram clinicamente conhecidas durante séculos. Na verda<strong>de</strong>, a<br />

primeira doença infecciosa para a qual se <strong>de</strong>senvolveu um método prático e efetivo <strong>de</strong><br />

prevenção foi uma enfermida<strong>de</strong> causada por vírus. Em 1796, Edward Jenner, um médico<br />

inglês, vacinou, pela primeira vez, um menino <strong>de</strong> 8 anos <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>, com material<br />

removido <strong>de</strong> uma lesão <strong>de</strong> varíola bovina da mão <strong>de</strong> um leiteiro. A prova <strong>de</strong> que a<br />

inoculação havia conferido proteção contra a varíola foi obtida seis semanas mais tar<strong>de</strong>,<br />

quando o rapaz foi inoculado com pus <strong>de</strong> um varioloso e não <strong>de</strong>senvolveu a doença.<br />

Jenner observou que as pessoas inoculadas intra<strong>de</strong>rmicamente com vírus<br />

isolados <strong>de</strong> lesões da varíola bovina <strong>de</strong>senvolviam, como reação positiva, uma pequena<br />

crosta no local da aplicação, a qual caía após cerca <strong>de</strong> duas semanas, <strong>de</strong>ixando apenas<br />

uma pequena escara. Como o material usado era <strong>de</strong> origem bovina (latim = vaca), o<br />

termo empregado passou a ser vacinação, para referir-se a este método. Jenner apren<strong>de</strong>u<br />

a realizar este processo, <strong>de</strong>sconhecendo a natureza dos anticorpos e dos vírus.<br />

As primeiras observações indiretas dos vírus foram feitas quase no final do<br />

século 19. Na época, vários grupos <strong>de</strong> cientistas europeus, trabalhando<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente, concluíram que os agentes infecciosos associados com uma doença<br />

<strong>de</strong> planta conhecida como mosaico do tabaco e aqueles associados com a doença do<br />

casco e boca <strong>de</strong> gado não eram bactérias. Eles chegaram a esta conclusão pois as<br />

unida<strong>de</strong>s infecciosas não eram retidas nos filtros <strong>de</strong> porcelana, usados para remover<br />

bactérias <strong>de</strong> vários meios.<br />

Baseados nestas observações e nas proprieda<strong>de</strong>s do material filtrado, Martinus<br />

Beijerinck na Holanda, e na mesma época, Friedrich Loeffler e Hans Frosch na<br />

Alemanha, concluíram que os vírus não só eram muito menores que qualquer bactéria


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44<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

como também eram diferentes na estrutura. Os vírus podiam reproduzir-se somente em<br />

células vivas <strong>de</strong> seus hospe<strong>de</strong>iro e portanto, faltaria algo crítico na sua maquinaria.<br />

O próximo e mais importante avanço feito a este respeito ocorreu em 1933.<br />

Wen<strong>de</strong>ll Stanley do Instituto Rockefeller, preparou um extrato do vírus do mosaico do<br />

tabaco e purificou-o, <strong>de</strong>scobrindo que o vírus precipitou na forma <strong>de</strong> cristais.<br />

Alguns anos <strong>de</strong>pois, alguns cientistas <strong>de</strong>monstraram que o vírus do mosaico do<br />

tabaco era constituído <strong>de</strong> RNA, protegido por uma capa <strong>de</strong> proteína. Muitos vírus <strong>de</strong><br />

plantas têm constituição similar, mas a maioria dos outros vírus tem DNA, ao invés <strong>de</strong><br />

RNA.<br />

4.3 Estrutura dos Vírus<br />

Os menores vírus têm somente 17 nm <strong>de</strong> diâmetro e os maiores chegam a 1000<br />

nm (1 micrômetro). Mesmo os maiores têm uma pobre visibilida<strong>de</strong> ao microscópio<br />

óptico. A maioria dos vírus só po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>tectada usando microscopia eletrônica <strong>de</strong> alta<br />

resolução.<br />

Cada partícula viral (ou vírion) po<strong>de</strong> ter as seguintes estruturas:<br />

Capsídio e Envelope: o capsídio é uma capa protéica que circunda o ácido<br />

nucleico, e é composto <strong>de</strong> subunida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> proteína, os capsômeros, que são<br />

responsáveis pela especificida<strong>de</strong> viral. Todos os vírions possuem uma simetria <strong>de</strong><br />

estrutura (figura 27), po<strong>de</strong>ndo ou não apresentar um envoltório (envelope) contendo<br />

lipí<strong>de</strong>os ou lipoproteínas. Assim, os vírions com envelope são sensíveis aos solventes <strong>de</strong><br />

lipí<strong>de</strong>os, tais como o éter, o clorofórmio e agentes emulsificantes (sais biliares e<br />

<strong>de</strong>tergentes).<br />

Ácidos Nucleicos: Os vírus po<strong>de</strong>m ter DNA ou RNA, mas nunca são<br />

encontrados os dois juntos no mesmo vírion. A estrutura dos ácidos nucleicos nos<br />

vírions po<strong>de</strong> ser linear ou circular.<br />

Quanto à forma, os vírions po<strong>de</strong>m ser (figura 28):<br />

Icosaédricos: poliedro regular com 20 faces triangulares e 12 ângulos; esta<br />

forma é <strong>de</strong>terminada pelo capsídio. O poliovírus e os a<strong>de</strong>novírus são alguns exemplos.<br />

Helicoidais: lembrando longos bastonetes, seus capsídios são cilindros ocos,<br />

com estrutura helicoidal . O vírus do mosaico do tabaco é um exemplo.<br />

Vírus envelopados: o nucleocapsídio interno <strong>de</strong>sse vírus, que po<strong>de</strong> ser<br />

icosaédrico ou helicoidal, é circundado por uma membrana envoltória. Tais vírions são<br />

pleomórficos (têm formas variadas), já que os envoltórios não são rígidos. O vírus do<br />

herpes é um vírion icosaédrico envelopado.<br />

Vírus complexos: alguns vírions têm uma estrutura muito complicada; o vírus<br />

da vacínia (grupo poxvirus), por exemplo, não possui capsídio claramente i<strong>de</strong>ntificado,<br />

mas apresenta várias camadas em torno do ácido nucleico.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

45<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 27: Estrutura geral <strong>de</strong> um vírion. Desenhos<br />

mostram todos os principais componentes que po<strong>de</strong>m<br />

fazer parte <strong>de</strong> um vírion. Um vírion tem um cerne <strong>de</strong><br />

ácido nucléico envolvido por um capsí<strong>de</strong>o protéico;<br />

esta combinação é <strong>de</strong>nominada nucleocapsí<strong>de</strong>o. Um<br />

vírion po<strong>de</strong> ter um envelope membranoso<br />

(lipoproteína) envolvendo o nucleocapsí<strong>de</strong>o. O<br />

envelope po<strong>de</strong> ter projeções na sua superfície<br />

<strong>de</strong>nominadas espículas (fonte: Pelczar et al.., 1996).<br />

Figura 28: Morfologia <strong>de</strong> alguns vírus bem conhecidos. Simetria icosaédrica: [A] pólio, verruga, a<strong>de</strong>no,<br />

rota; [B] herpes. Simetria helicoidal: [C] mosaico do tabaco; [D] influenza; [E] sarampo, caxumba,<br />

parainfluenza; [F] raiva. Simetria incerta ou complexa: [G] poxvírus; [H] fagos T-pares (fonte: Pelczar et<br />

al., 1996).<br />

4.4 Classificação dos vírus animais e <strong>de</strong> plantas


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

46<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Os vírus têm sido agrupados ou classificados <strong>de</strong> várias maneiras. Um dos<br />

primeiros sistemas, que ainda tem uso limitado, estabelecia subgrupos <strong>de</strong> acordo com a<br />

espécie do hospe<strong>de</strong>iro normalmente infectado pelo vírus (animais, vegetais ou<br />

microrganismos). Outro método <strong>de</strong> classificação dos vírus se baseava-se na afinida<strong>de</strong><br />

tissular <strong>de</strong>ssas partículas infectantes, por exemplo, os vírus que se fixam às células<br />

nervosas eram <strong>de</strong>nominados vírus neurotrópicos. <strong>À</strong> medida que se foi <strong>de</strong>senvolvendo a<br />

análise das características físicas, químicas e biológicas dos vírus, acumulou-se uma<br />

informação sobre a qual era possível construir uma classificação <strong>de</strong> acordo com esses<br />

conhecimentos. A tabela 9 resume tais proprieda<strong>de</strong>s.<br />

A tabela 10 mostra a classificação dos vírus que infectam os animais, agrupados<br />

<strong>de</strong> acordo com a simetria e a or<strong>de</strong>m <strong>de</strong>crescente <strong>de</strong> tamanho.<br />

Tabela 9: Proprieda<strong>de</strong>s utilizadas para a classificação dos vírus (fonte: Pelczar et al., 1996).<br />

CARACTERÍSTICAS PRIMÁRIAS CARACTERÍSTICAS SECUNDÁRIAS<br />

Natureza química do ácido nucleíco:<br />

Hospe<strong>de</strong>iro:<br />

RNA ou DNA; fita dupla ou única; Espécie <strong>de</strong> hospe<strong>de</strong>iro; tecido específico<br />

genoma único ou segmentado; ca<strong>de</strong>ia (+) ou (-);<br />

peso molecular<br />

do hospe<strong>de</strong>iro ou tipos <strong>de</strong> células<br />

Estrutura do vírion:<br />

Modo <strong>de</strong> transmissão:<br />

Helicoidal, icosaédrico ou complexo; nu Por exemplo, fezes<br />

ou envelopado; complexida<strong>de</strong>; número <strong>de</strong><br />

capsômetros para vírion icosaédrico; diâmetro do<br />

nucleocapsí<strong>de</strong>o para vírions helicoidais<br />

Local <strong>de</strong> replicação:<br />

Núcleo ou citoplasma<br />

Estruturas específicas <strong>de</strong> superfície:<br />

Por exemplo, proprieda<strong>de</strong>s antigênicas<br />

Tabela 10: Classificação dos vírus que infectam o homem e outros animais (fonte: Pelczar et al., 1996).<br />

Simetria do<br />

capsí<strong>de</strong>o<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Envelope<br />

(genoma)<br />

Não (DNAfd 1 )<br />

Não (RNAfd)<br />

Não (DNAfd)<br />

Cont.da tabela 10<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Não (RNAfu 2 )<br />

Não (RNAfu)<br />

Diâmetro<br />

do<br />

vírion<br />

(nm)<br />

70 – 90<br />

65 – 75<br />

45 – 55<br />

30 – 37<br />

24 – 30<br />

Família Gênero típico<br />

ou subfamílias<br />

A<strong>de</strong>noviridae<br />

Reoviridae<br />

Papovaviridae<br />

Caliciviridae<br />

Picornaviridae<br />

Masta<strong>de</strong>novirus<br />

Reovirus<br />

Rotavirus<br />

Polyomavirus<br />

Papillomavirus<br />

Calicivirus<br />

Enterovirus<br />

Vírus típicos Local <strong>de</strong> montagem<br />

(local <strong>de</strong> envelopamento)<br />

A<strong>de</strong>novírus<br />

humano 2<br />

Reovírus<br />

Rotavírus<br />

SV 40<br />

Vírus da<br />

verruga<br />

Calicivírus<br />

Poliomielite<br />

Núcleo<br />

Citoplasma<br />

Núcleo<br />

Citoplasma<br />

Citoplasma


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47<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Icosaédrico Não (DNAfu) 18 – 26 Parvoviridae<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Icosaédrico<br />

Helicoidal<br />

Helicoidal<br />

Helicoidal<br />

Helicoidal<br />

Helicoidal<br />

Complexo<br />

ou incerto<br />

Complexo<br />

ou incerto<br />

1 fd = fita dupla<br />

Sim (DNAfd)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (DNAfd)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (RNAfu)<br />

Sim (DNAfd)<br />

Sim (RNAfu)<br />

120–200<br />

80 – 140<br />

40 – 70<br />

42<br />

4.5 Replicação do Vírus<br />

130–300<br />

x50-100<br />

100–150<br />

80 – 120<br />

75 – 160<br />

90 – 120<br />

200–350<br />

x115-<br />

260<br />

50 – 300<br />

2 fu = fita única<br />

Herpesviridae<br />

Retroviridae<br />

Togaviridae<br />

Hepadnaviridae<br />

Rhabdoviridae<br />

Paramyxoviridae<br />

Orthomyxoviri<br />

dae<br />

Coronaviridae<br />

Bunyaviridae<br />

Poxviridae<br />

Arenaviridae<br />

Rhinovirus<br />

Parvovirus<br />

Alphaherpesvirinae<br />

Oncovirinae<br />

Rubivirus<br />

Vesiculovirus<br />

Lyssavirus<br />

Paramyxovirus<br />

Influenzavirus<br />

Coronavirus<br />

Bunyavirus<br />

Orthopoxvirus<br />

Arenavirus<br />

Coxsackievírus<br />

Resfriado<br />

comum<br />

Vírus do rato<br />

<strong>de</strong> Kilham<br />

Herpes<br />

simples<br />

Tumor RNA<br />

Rubéola<br />

Hepatite B<br />

Estomatite<br />

vesicular<br />

Raiva<br />

Caxumba<br />

Influenza<br />

(Gripe)<br />

Coronavirus<br />

Bunyamwera<br />

Varíola<br />

Lassa<br />

Núcleo<br />

Núcleo (membrana<br />

nuclear<br />

plasma)<br />

e/ou cito-<br />

Citoplasma (membrana<br />

citoplasmática<br />

e/ou citoplasma)<br />

Citoplasma (membrana<br />

citoplasmática<br />

e/ou citoplasma<br />

Núcleo (citoplasma)<br />

Citoplasma (membrana<br />

citoplasmática<br />

e/ou citoplasma)<br />

Citoplasma (membranacitoplasmática)<br />

Citoplasma (membranacitoplasmática)<br />

Citoplasma<br />

(citoplasma)<br />

Citoplasma<br />

(citoplasma)<br />

Citoplasma<br />

(citoplasma)<br />

Citoplasma (membramacitoplasmática<br />

e/ou citoplasma)


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

48<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Antes que qualquer vírus possa infectar uma célula animal, ele primeiro <strong>de</strong>ve<br />

ligar-se a um receptor específico na membrana celular, provavelmente uma<br />

glicoproteína. Como já foi dito, muitos vírus po<strong>de</strong>m ter um envelope rico em lipí<strong>de</strong>o<br />

envolvendo o capsídio. Do envelope <strong>de</strong> muitos vírus projetam-se "pontas" que po<strong>de</strong>m<br />

conter glicoproteínas e lipí<strong>de</strong>os. As proprieda<strong>de</strong>s das moléculas que constituem o<br />

envelope estão relacionadas com a a<strong>de</strong>são do vírus à vários substratos. Se o envelope<br />

não está presente, as proprieda<strong>de</strong>s do capsídio <strong>de</strong>terminam as características a<strong>de</strong>sivas do<br />

vírus.<br />

A multiplicação dos vírus se faz por replicação, no qual as porções protéica e<br />

nucleica aumentam no interior das células hospe<strong>de</strong>iras sensíveis. Este processo po<strong>de</strong> ser<br />

dividido em etapas, que são comuns a todas as infecções virais:<br />

1. Adsorção: envolve a participação <strong>de</strong> receptores específicos na superfície da<br />

célula hospe<strong>de</strong>ira e das macromoléculas do vírion.<br />

2. Penetração e <strong>de</strong>snudamento: os vírus com envelope unem-se às células<br />

hospe<strong>de</strong>iras, levando à fusão do envoltório lipoproteico dos vírus com a membrana<br />

citoplasmática da célula, que resulta na liberação do material nucleocapsídico no<br />

citoplasma celular. Os vírus nús (sem envelope) parecem penetrar pelo mecanismo <strong>de</strong><br />

fagocitose.<br />

3. Replicação bioquímica: a replicação ativa do ácido nucleico e a síntese <strong>de</strong><br />

proteínas virais começam após a dissociação do capsídio e do genoma. Além do ATP<br />

celular, os vírus requerem o uso dos ribossomas da célula, do RNA <strong>de</strong> transferência, <strong>de</strong><br />

enzimas e <strong>de</strong> certos processos biossintéticos para sua replicação.<br />

4. Acoplamento ou maturação: os vírus são capazes <strong>de</strong> dirigir a síntese dos<br />

componentes essenciais para sua progênie e <strong>de</strong> acoplar estes materiais sob a forma <strong>de</strong><br />

vírions maduros, no núcleo e/ou no citoplasma da célula infectada.<br />

5. Liberação: este processo varia com o agente viral. Em alguns casos, a lise<br />

celular resulta na liberação concomitante das partículas virais. Em outros, a maturação e<br />

a liberação são relativamente lentas e os vírions são liberados sem a <strong>de</strong>struição da célula<br />

hospe<strong>de</strong>ira.<br />

Como exemplo do processo replicativo dos vírus em células eucarióticas, a<br />

figura 29 mostra o que ocorre com o vírus do herpes simples.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

49<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 29: Replicação do vírus herpes simples. Glicoproteínas específicas presentes no envelope viral<br />

são essenciais para a adsorção nos receptores presentes na membrana citoplasmática da células<br />

hospe<strong>de</strong>iras. O envelope viral e a membrana celular fun<strong>de</strong>m-se e o nucleocapsí<strong>de</strong>o do vírion é liberado no<br />

citoplasma. O vírion é <strong>de</strong>snudado e o DNA liberado é transportado para o núcleo. A transcrição precoce e<br />

o processamento do mRNA são aparentemente catalisados pelas enzimas da célula hospe<strong>de</strong>ira. As<br />

enzimas resultantes (proteínas precoces) são utilizadas na replicação do DNA viral. Os RNAs transcritos<br />

no núcleo e sintetizados após a replicação do DNA são responsáveis pela síntese <strong>de</strong> proteínas estruturais<br />

que vão formar o capsí<strong>de</strong>o e o envelope assim como as glicoproteínas da membrana nuclear. As proteínas<br />

estruturais entram no núcleo para participar da montagem dos vírions. Os nucleocapsí<strong>de</strong>os adquirem o<br />

envelope durante o processo <strong>de</strong> brotamento através da membrana nuclear. O vírus é liberado da célula por<br />

mecanismos não conhecidos (fonte: Pelczar et al., 1996).


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

50<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

4.6 Bacteriófagos<br />

Bacteriófagos são vírus que infectam bactérias e foram <strong>de</strong>scobertos<br />

in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente por Fre<strong>de</strong>rick W. Twort, na Inglaterra, em 1915, e por Felix<br />

d’Herelle, no Instituto Pasteur, em Paris, em 1917. Os pesquisadores observaram que<br />

colônias bacterianas algumas vezes dissolviam-se e <strong>de</strong>sapareciam <strong>de</strong>vido a uma lise que<br />

ocorria nas células; este efeito lítico podia ser transmitido <strong>de</strong> colônia a colônia. Este<br />

agente lítico seria um agente infeccioso filtrável, que parasitava as bactérias e foi<br />

<strong>de</strong>nominado <strong>de</strong> bacteriófago.<br />

Os bacteriófagos têm o cerne <strong>de</strong> ácido nucléico envolvido por um capsí<strong>de</strong>o <strong>de</strong><br />

natureza proteica, como os outros vírus. Existem 3 formas básicas <strong>de</strong> bacteriófagos:<br />

cabeça icosaédrica sem cauda, cabeça icosaédrica com cauda (figura 30) e filamentosa.<br />

Com relação ao ciclo <strong>de</strong> vida, os bacteriófagos po<strong>de</strong>m ser líticos (ou virulentos)<br />

e temperados (ou avirulentos).<br />

No ciclo lítico, os fagos líticos <strong>de</strong>stroem as células hospe<strong>de</strong>iras bacterianas. No<br />

processo infeccioso lítico, após a replicação do vírion, a célula hospe<strong>de</strong>ira rompe-se,<br />

liberando nova progênie <strong>de</strong> fagos para infectar outras células hospe<strong>de</strong>iras.<br />

Os fagos temperados não <strong>de</strong>stroem suas células hospe<strong>de</strong>iras. Em vez disso, o<br />

ácido nucléico viral é integrado ao genoma da célula hospe<strong>de</strong>ira e replica-se na célula<br />

bacteriana hospe<strong>de</strong>ira <strong>de</strong> uma geração a outra, sem que haja lise celular. Este processo é<br />

<strong>de</strong>nominado lisogenia e é realizado somente pelos fagos que possuem DNA <strong>de</strong> fita<br />

dupla.<br />

O processo <strong>de</strong> a<strong>de</strong>são <strong>de</strong> um bacteriófago a uma célula bacteriana é o mesmo nos<br />

2 tipos <strong>de</strong> ciclos e é mostrado na figura 31.<br />

Figura 30: Estrutura <strong>de</strong> um bacteriófago com cabeça icosaédrica e cauda (fonte: Pelczar et al., 1996).


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

51<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Figura 31: Adsorção <strong>de</strong> um bacteriófago T4 à pare<strong>de</strong> celular da batéria Escherichia coli e injeção do DNA. (a) fago<br />

livre. (b) adsorção à pare<strong>de</strong> celular através das fibras da cauda. (c) fixação pela extremida<strong>de</strong> da cauda. (d) contração<br />

da bainha da cauda e injeção do DNA (fonte: Brock et al., 1994).<br />

4.7 Isolamento e i<strong>de</strong>ntificação do vírus<br />

O isolamento e a i<strong>de</strong>ntificação dos vírus, a partir <strong>de</strong> espécimes clínicos ou <strong>de</strong><br />

materiais <strong>de</strong> pesquisa, po<strong>de</strong>m ser <strong>de</strong>senvolvidos por meio <strong>de</strong> numerosos métodos, não<br />

havendo contudo, uma técnica única que seja satisfatória para o estudo <strong>de</strong> todos os<br />

vírus. A primeira fase <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação laboratorial <strong>de</strong> um vírus é a coleta e manutenção<br />

a<strong>de</strong>quadas dos espécimes, até que se possam inocular animais sensíveis, culturas <strong>de</strong><br />

tecidos, ovos embrionados ou outro tipo a<strong>de</strong>quado <strong>de</strong> meio. Esta fase inclui a<br />

eliminação <strong>de</strong> bactérias dos produtos em exame, através da filtração, da centrifugação<br />

diferencial ou do uso <strong>de</strong> drogas antimicrobianas. Havendo a presença <strong>de</strong> vírus, po<strong>de</strong>m<br />

ser produzidos e pesquisados anticorpos específicos.<br />

4.8 Agentes infecciosos semelhantes a vírus<br />

Os virói<strong>de</strong>s e os prions são consi<strong>de</strong>rados como formas mais simples <strong>de</strong> vida, em<br />

relação aos vírus.<br />

Os virói<strong>de</strong>s, os menores agentes infecciosos conhecidos, são constituídos <strong>de</strong><br />

RNA circular <strong>de</strong> fita única ou <strong>de</strong> RNA linear <strong>de</strong> fita dupla, não possuindo qualquer tipo<br />

<strong>de</strong> capa protéica. Até hoje, os virói<strong>de</strong>s só foram encontrados em infecções <strong>de</strong> plantas,<br />

<strong>de</strong>ntre elas a doença do afilamento do tubérculo da batata e da fruta pálida do pepino. Os<br />

virói<strong>de</strong>s replicam-se em células <strong>de</strong> espécies <strong>de</strong> plantas susceptíveis, mas não são capazes<br />

<strong>de</strong> codificar suas próprias proteínas, mostrando serem <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntes da ativida<strong>de</strong><br />

metabólica do hospe<strong>de</strong>iro para replicação.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

52<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Um outro agente causador <strong>de</strong> doenças é o prion ou partícula protéica infecciosa,<br />

já que a proteína parece ser seu único componente, não possuindo nenhum ácido<br />

nucléico <strong>de</strong>tectável. Possui proprieda<strong>de</strong>s incomuns, como a alta resistência à radiação<br />

ultra-violeta e ao calor, ao contrário dos vírus convencionais; no entanto, são inativados<br />

pelo hipoclorito e autoclave. Assim como os vírus, reproduz-se <strong>de</strong>ntro das células. É<br />

possível que as proteínas dos prions sejam codificadas por um gene encontrado no DNA<br />

<strong>de</strong> um hospe<strong>de</strong>iro normal. Existem várias doenças clássicas causadas por prions, todas<br />

doenças neurológicas, e ditas “lentas”, pois possuem um longo período <strong>de</strong> latência, um<br />

estabelecimento gradual e uma evolução progressiva e invariavelmente fatal. Das<br />

doenças que afetam o homem, <strong>de</strong>stacam-se o kuru (que acontece somente em tribos da<br />

Nova Guiné) e a doença <strong>de</strong> Creutzfeldt-Jacob (encontrada mundialmente), cujos<br />

cérebros <strong>de</strong> pacientes infectados apresentam a aparência espongiforme; esta última<br />

doença é rara, caracterizada por <strong>de</strong>mência pré-senil, não é altamente transmissível e,<br />

<strong>de</strong>ntre a maioria dos casos, 10% são hereditários. Tem sido sugerido por alguns<br />

pesquisadores que a doença <strong>de</strong> Alzheimer po<strong>de</strong> ser causada por prion. No animais, os<br />

tipos <strong>de</strong> doença <strong>de</strong> evolução lenta observados são o scrapie e a visna, doenças <strong>de</strong><br />

ovinos, e a encefalopatia espongiforme bovina, também conhecida como “doença da<br />

vaca louca”. Nesta última o gado é infectado pela ingestão <strong>de</strong> ração preparada com<br />

órgãos <strong>de</strong> ovinos, por exemplo o cérebro, infectados com o prion do scrapie; é endêmica<br />

na Grã-Bretanha e diversos casos da doença <strong>de</strong> Creutzfeldt-Jacob foram atribuídos à<br />

ingestão <strong>de</strong> carne bovina.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

53<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

5 CONTROLE DOS MICRORGANISMOS<br />

5.1 Fundamentos<br />

A condição sanitária <strong>de</strong> uma dada população humana é <strong>de</strong>terminada, em larga<br />

escala, por sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> controlar eficazmente as populações microbianas. Os<br />

processos po<strong>de</strong>m ser muito específicos, como o fornecimento <strong>de</strong> medicação eficaz na<br />

eliminação dos microrganismos infectantes, ou po<strong>de</strong>m ser mais gerais, como as práticas<br />

sanitárias utilizadas no lar e nos hospitais. Cuidados diários, tais como a purificação da<br />

água, a pasteurização do leite e a preservação dos alimentos concorrem para o controle<br />

das populações microbianas. Não somente torna-se o produto <strong>de</strong> consumo seguro sob o<br />

ponto <strong>de</strong> vista <strong>de</strong> saú<strong>de</strong> pública, como também o processo traz muitos benefícios para o<br />

bem-estar da comunida<strong>de</strong>.<br />

As principais razões para <strong>de</strong>senvolver o controle <strong>de</strong> microrganismos po<strong>de</strong>m, em<br />

resumo, ser: 1) prevenir a transmissão <strong>de</strong> doenças e infecções; 2) prevenir a<br />

contaminação ou crescimento <strong>de</strong> microrganismos nocivos e 3) prevenir a <strong>de</strong>terioração e<br />

dano <strong>de</strong> materiais por microrganismos.<br />

Os microrganismos po<strong>de</strong>m ser removidos, inibidos ou mortos por agentes físicos<br />

ou químicos. Uma gran<strong>de</strong> varieda<strong>de</strong> <strong>de</strong> técnicas e <strong>de</strong> agentes po<strong>de</strong> ser utilizada, agindo<br />

<strong>de</strong> modos diferentes e tendo seu próprio limite <strong>de</strong> aplicação prática.<br />

Os termos a seguir são usados para <strong>de</strong>screver os processos físicos e os agentes<br />

químicos <strong>de</strong>stinados ao controle dos microrganismos:<br />

Esterilização: processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição ou remoção <strong>de</strong> todas as formas <strong>de</strong> vida<br />

microscópica <strong>de</strong> um objeto ou espécime. Um objeto estéril, no sentido microbiológico,<br />

está completamente livre <strong>de</strong> microrganismos vivos. Este termo refere-se à ausência total<br />

ou à <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> todos os microrganismos.<br />

Desinfetante: é um agente, normalmente químico, que mata as formas<br />

vegetativas, mas não necessariamente, as formas esporuladas, <strong>de</strong> microrganismos<br />

patogênicos. O termo normalmente refere-se às substâncias utilizadas em objetos<br />

inanimados.<br />

Anti-séptico: é uma substância que previne o crescimento ou ação <strong>de</strong><br />

microrganismos, pela <strong>de</strong>struição dos mesmos ou pela inibição <strong>de</strong> seu crescimento ou<br />

ativida<strong>de</strong>. Usualmente está associado com substâncias aplicadas ao corpo do homem.<br />

Bactericida: é um agente que mata as bactérias. De modo similar, os termos<br />

fungicida, viricida e esporocida se referem aos agentes que matam os fungos, vírus e<br />

esporos, respectivamente. As formas esporulada não são necessariamente eliminadas por<br />

estes agentes.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

54<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

5.2 Condições que influenciam a ação antimicrobiana<br />

Na aplicação <strong>de</strong> qualquer agente físico ou químico <strong>de</strong>stinado a inibir ou <strong>de</strong>struir<br />

populações microbianas, <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados fatores como:<br />

Temperatura: o aumento da temperatura, quando usado em combinação com<br />

outro agente, como uma substância química, apressa a <strong>de</strong>struição dos microrganismos.<br />

Tipo <strong>de</strong> microrganismo: as espécies <strong>de</strong> microrganismos diferem em sua<br />

susceptibilida<strong>de</strong> aos agentes físicos e químicos. Nas espécies esporuladas, as formas<br />

vegetativas são muito mais sensíveis que as formas esporuladas, sendo estas<br />

extremamente resistentes.<br />

Estado fisiológico das células: células jovens, metabolicamente ativas, são mais<br />

facilmente <strong>de</strong>struídas que as células velhas ou em latência, no caso <strong>de</strong> o agente nocivo<br />

agir através <strong>de</strong> uma interferência sobre o metabolismo (as células que não estão<br />

crescendo não seriam afetadas).<br />

Condições ambientais: as proprieda<strong>de</strong>s físicas e químicas do meio ou das<br />

substâncias que sustentam os microrganismos têm profunda influência sobre o ritmo,<br />

assim como sobre a eficácia da <strong>de</strong>struição microbiana. A eficiência do calor, por<br />

exemplo, é muito maior nos meios ácidos do que nos alcalinos. A consistência do<br />

material (aquosa ou viscosa) também influi na penetração do agente, e as altas<br />

concentrações <strong>de</strong> carboidratos aumentam, em geral, a resistência térmica dos<br />

microrganismos. A presença da matéria orgânica estranha po<strong>de</strong> reduzir,<br />

significativamente, a eficácia <strong>de</strong> uma droga antimicrobiana, inativando-a ou protegendo<br />

o microrganismo.<br />

5.3 Modo <strong>de</strong> ação dos agentes antimicrobianos<br />

A revisão <strong>de</strong> certas características da célula microbiana po<strong>de</strong> apontar os<br />

possíveis locais <strong>de</strong> ação <strong>de</strong> um agente antimicrobiano. Eles po<strong>de</strong>m agir causando lesões<br />

na pare<strong>de</strong> celular, alterações na permeabilida<strong>de</strong> celular, alterações das moléculas <strong>de</strong><br />

proteínas e <strong>de</strong> ácidos nucleicos, inibição da ação enzimática, inibição da síntese <strong>de</strong><br />

ácidos nucleicos, entre outras coisas.<br />

5.4 Controle pelos agentes físicos<br />

5.4.1 Aplicação das altas temperaturas<br />

Os processos práticos, nos quais se emprega o calor, divi<strong>de</strong>m-se em duas<br />

categorias: calor úmido e calor seco.<br />

5.4.1.1 Calor úmido<br />

a) Vapor d'água sob pressão: é o agente mais prático e seguro para fins <strong>de</strong><br />

esterilização, proporcionando temperaturas mais elevadas que as obtidas por ebulição. O<br />

aparelho que usa o vapor <strong>de</strong> água sob pressão regulada chama-se autoclave. Consiste em<br />

uma câmara <strong>de</strong> vapor com pare<strong>de</strong> dupla, equipada com dispositivos que permitem o<br />

enchimento da câmara com vapor saturado e sua manutenção em <strong>de</strong>terminadas


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

55<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

temperatura e pressão por quaisquer períodos <strong>de</strong> tempo. Geralmente, embora não<br />

sempre, ela é operada numa pressão <strong>de</strong> aproximadamente 15 libras por polegada<br />

quadrada (1 atmosfera=121°C).<br />

Esterilização fracionada, água em ebulição e pasteurização são outros processos<br />

<strong>de</strong> calor úmido, empregados no controle <strong>de</strong> microrganismos.<br />

5.4.1.2 Calor seco<br />

a) Esterilização pelo ar quente: é recomendada quando o contato direto ou<br />

completo do vapor d'água sob pressão com o material a ser esterilizado é consi<strong>de</strong>rado<br />

como in<strong>de</strong>sejável ou improvável, o que é verda<strong>de</strong>iro para certos tipos <strong>de</strong> vidraria<br />

laboratorial (placas <strong>de</strong> Petri, tubos <strong>de</strong> ensaio), óleos, pó e substâncias similares. O<br />

aparelho utilizado neste tipo <strong>de</strong> esterilização po<strong>de</strong> ser um forno elétrico especial (ou a<br />

gás) - estufa - ou mesmo um forno <strong>de</strong> cozinha, admitindo-se que, para a vidraria <strong>de</strong><br />

laboratório, uma exposição <strong>de</strong> 2 horas à temperatura <strong>de</strong> 160°C seja suficiente para a<br />

esterilização.<br />

b) Incineração: é usada para a eliminação <strong>de</strong> carcaças <strong>de</strong> animais <strong>de</strong> laboratório<br />

infectadas ou <strong>de</strong> outros materiais contaminados. A <strong>de</strong>struição <strong>de</strong> microrganismos pelo<br />

calor direto é, também, praticada rotineiramente quando a agulha <strong>de</strong> inoculação (ou alça<br />

<strong>de</strong> platina) é levada à chama <strong>de</strong> um bico <strong>de</strong> Bunsen.<br />

5.4.2 Aplicação <strong>de</strong> baixas temperaturas<br />

As temperaturas inferiores ao ponto ótimo para o crescimento diminuem o ritmo<br />

metabólico e, sendo a temperatura suficientemente baixa, cessa o metabolismo e o<br />

crescimento. As temperaturas baixas são úteis na manutenção <strong>de</strong> culturas, pois os<br />

microrganismos apresentam uma capacida<strong>de</strong> típica <strong>de</strong> sobrevivência em face do frio;<br />

culturas em ágar <strong>de</strong> algumas bactérias, leveduras e fungos, são usualmente armazenadas<br />

durante longos períodos <strong>de</strong> tempo sob temperatura <strong>de</strong> refrigerador, ou seja, entre 4° e 7°<br />

C. Além disso, muitas bactérias e vírus po<strong>de</strong>m ser mantidos em unida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> alta<br />

refrigeração, entre -20° e -70° C. O nitrogênio líquido, em temperaturas <strong>de</strong> -196° C, é<br />

empregado na preservação <strong>de</strong> culturas <strong>de</strong> muitos vírus e microrganismos, assim como as<br />

fontes <strong>de</strong> células <strong>de</strong> mamíferos usadas em virologia. A partir <strong>de</strong> exposto acima, torna-se<br />

aparente que as temperaturas baixas, embora extremas, não po<strong>de</strong>m se indicadas para a<br />

<strong>de</strong>sinfecção ou esterilização. Os microrganismos mantidos em temperatura <strong>de</strong><br />

congelamento ou mesmo inferiores po<strong>de</strong>m ser consi<strong>de</strong>rados dormentes; não efetuam<br />

ativida<strong>de</strong> metabólica aparente. Esta condição estática é a base da bem sucedida<br />

aplicação do frio na preservação dos alimentos.<br />

A tabela 11 resume os métodos que usam a temperatura no controle <strong>de</strong><br />

microrganismos.<br />

Tabela 11: O uso da temperatura no controle <strong>de</strong> microrganismos (fonte: Pelczar et al., 1996).


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

56<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Calor úmido<br />

Autoclave<br />

Método Temperatura Aplicações Limitações<br />

Água em ebulição<br />

Pasteurização<br />

Calor seco<br />

Forno <strong>de</strong> ar quente<br />

121,6 o C à pressão <strong>de</strong> 15<br />

lb/pol 2 , 15 – 30 min<br />

100 o C, 10 min<br />

62,8 o C por 30 min, ou<br />

71,7 o C por 15 s<br />

Esterilização <strong>de</strong><br />

instrumentos, ban<strong>de</strong>jas <strong>de</strong><br />

tratamento, tecidos,<br />

utensílios, meios e outros<br />

líquidos<br />

Destruição <strong>de</strong> células<br />

vegetativas em<br />

instrumentos, recipientes<br />

Destruição <strong>de</strong> células<br />

vegetativas <strong>de</strong><br />

microrganismos<br />

patogênicos e <strong>de</strong> muitos<br />

outros microrganismos no<br />

leite, suco <strong>de</strong> frutas e em<br />

outras bebidas<br />

170 – 180 o C por 1 – 2 h Esterilização <strong>de</strong> materiais<br />

impermeáveis ou<br />

danificáveis pela umida<strong>de</strong><br />

(óleos, vidrarias,<br />

instrumentos cortantes,<br />

metais)<br />

Incineração Centenas <strong>de</strong> o C Esterilização <strong>de</strong> alças <strong>de</strong><br />

semeadura, eliminação <strong>de</strong><br />

carcaças <strong>de</strong> animais<br />

infectados, eliminação <strong>de</strong><br />

objetos contaminados que<br />

não po<strong>de</strong>m ser reutilizados<br />

Baixas temperaturas<br />

Congelamento<br />

Nitrogênio líquido<br />

Menor que 0 o C<br />

-196 o C<br />

Preservação <strong>de</strong> alimentos e<br />

outros materiais<br />

Preservação dos<br />

microrganismos<br />

Ineficiente contra<br />

micorganismos presentes<br />

em materiais impermeáveis<br />

ao vapor; não po<strong>de</strong> ser<br />

utilizado em materiais<br />

termossensíveis<br />

Endósporos não são<br />

mortos; não po<strong>de</strong> ser<br />

utilizado como<br />

esterilizante<br />

Não é esterilizante<br />

Destrói materiais que não<br />

suportam altas<br />

temperaturas por muito<br />

tempo<br />

O tamanho do incinerador<br />

<strong>de</strong>ve ser a<strong>de</strong>quado à<br />

queima rápida e completa<br />

da maior carga; apresenta<br />

potencial <strong>de</strong> poluição do ar<br />

Principalmente<br />

microbiostático em vez <strong>de</strong><br />

microbicida<br />

Alto custo do nitrogênio<br />

líquido<br />

5.4.3 Radiações<br />

As radiações ionizantes (raios X e raios gama) têm tido aplicação na<br />

esterilização <strong>de</strong> materiais biológicos. Este método é chamado <strong>de</strong> esterilização fria,<br />

porque estas radiações produzem relativamente pouco calor no material irradiado e,<br />

assim, é possível esterilizar substâncias termossensíveis, especialmente nas indústrias<br />

alimentícia e farmacêutica.<br />

A luz ultravioleta é outro tipo <strong>de</strong> radiação empregada na esterilização <strong>de</strong><br />

materiais. A porção ultravioleta do espectro inclui todas as radiações compreendidas<br />

entre 150 e 3.900 Å, mas a eficácia bactericida mais alta situa-se em comprimentos <strong>de</strong><br />

onda ao redor <strong>de</strong> 2650 Å. Embora a energia radiante da luz solar seja parcialmente


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

57<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

composta <strong>de</strong> luz ultravioleta, a maior parte dos comprimentos mais curtos é filtrada pela<br />

atmosfera terrestre (ozônio, nuvens e fumaça). Consequentemente, a radiação<br />

ultravioleta, na superfície da Terra, é restrita à faixa <strong>de</strong> 2.870 a 3.900 Å, do que se<br />

conclui que a luz solar, em certas condições, tem capacida<strong>de</strong> microbicida, embora em<br />

grau limitado. A luz ultravioleta é absorvida por muitas substâncias celulares, mas, <strong>de</strong><br />

modo mais significativo, pelos ácidos nucleicos, on<strong>de</strong> ocorre o maior dano. Existem<br />

muitas lâmpadas que emitem alta concentração <strong>de</strong> luz UV na região mais efetiva, 2.600<br />

a 2.700 Å. Essas lâmpadas germicidas são amplamente utilizadas para reduzir a<br />

população microbiana em salas cirúrgicas <strong>de</strong> hospitais e em câmaras assépticas <strong>de</strong><br />

indústrias farmacêuticas, on<strong>de</strong> são envasados produtos estéreis e, ainda, na indústria<br />

alimentícia para o tratamento <strong>de</strong> superfícies contaminadas. Uma importante<br />

consi<strong>de</strong>ração prática, referente ao uso <strong>de</strong>ste meio <strong>de</strong> <strong>de</strong>struição microbiana, é que a luz<br />

UV tem uma capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> penetração muito pequena. Mesmo uma fina camada <strong>de</strong><br />

vidro filtra uma gran<strong>de</strong> parte da luz e, assim sendo, apenas os microrganismos existentes<br />

na superfície <strong>de</strong> um objeto diretamente exposto à radiação UV são susceptíveis à<br />

<strong>de</strong>struição.<br />

5.5 Controle pelos agentes químicos<br />

Nenhum agente químico antimicrobiano único é o melhor ou o i<strong>de</strong>al para<br />

qualquer ou todas as finalida<strong>de</strong>s. Algumas especificações po<strong>de</strong>m orientar a preparação<br />

<strong>de</strong> novos compostos e <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>radas nos métodos <strong>de</strong> avaliação dos<br />

<strong>de</strong>sinfetantes <strong>de</strong>stinados ao uso prático. São elas: a ativida<strong>de</strong> microbiana, solubilida<strong>de</strong>,<br />

estabilida<strong>de</strong>, inocuida<strong>de</strong> para o homem e os animais, homogeneida<strong>de</strong>, ausência <strong>de</strong><br />

combinação com material orgânico estranho, toxicida<strong>de</strong> para microrganismos em<br />

temperatura ambiente ou corporal, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração, ausência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res corrosivos<br />

e tintoriais, po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>sodorizante e capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong>tergentes.<br />

5.5.1 Escolha do agente químico antimicrobiano<br />

Os fatores que <strong>de</strong>vem ser consi<strong>de</strong>rados na escolha <strong>de</strong> um agente químico<br />

antimicrobiano são:<br />

1. Natureza do material a ser tratado: um exemplo extremo po<strong>de</strong> ser citado - um<br />

agente químico usado para <strong>de</strong>sinfetar utensílios contaminados po<strong>de</strong> ser completamente<br />

insatisfatório para aplicação na pele. Conseqüentemente, a substância escolhida <strong>de</strong>ve ser<br />

compatível com o material no qual é aplicada.<br />

2. Tipos <strong>de</strong> microrganismos: os agentes químicos são completamente eficazes<br />

sobre bactérias, vírus, fungos e outros microrganismos. Os esporos são mais resistentes<br />

que as formas vegetativas. Existem diferenças entre bactérias gram-positivas e gramnegativas,<br />

com relação à resistência aos <strong>de</strong>sinfetantes. Sendo assim, o agente escolhido<br />

<strong>de</strong>ve ser conhecidamente efetivo contra o organismo a ser <strong>de</strong>struído.<br />

3. Condições ambientais: fatores com temperatura, pH, tempo, concentração e<br />

presença <strong>de</strong> material orgânico po<strong>de</strong>m influir na taxa e na eficiência da <strong>de</strong>struição<br />

microbiana.


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

58<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

5.5.2 Principais grupos <strong>de</strong> <strong>de</strong>sinfetantes e anti-sépticos<br />

Alguns dos principais grupos <strong>de</strong> agentes químicos <strong>de</strong>sinfetantes e anti-sépticos<br />

são listados a seguir e a tabela 12 mostra a aplicação <strong>de</strong>stes agentes no controle <strong>de</strong><br />

microrganismos.<br />

1. Fenol e compostos fenólicos<br />

2. Álcoois<br />

3. Halogênios (iodo e cloro)<br />

4. Metais pesados e seus compostos<br />

5. Detergentes<br />

Outros agentes químicos são aplicados na esterilização <strong>de</strong> materiais e são<br />

<strong>de</strong>nominados <strong>de</strong> esterilizantes químicos. São particularmente utilizados para a<br />

esterilização <strong>de</strong> materiais médicos sensíveis ao calor, como bolsas <strong>de</strong> sangue para<br />

transfusão, seringas plásticas <strong>de</strong>scartáveis e equipamentos <strong>de</strong> cateterização. Também são<br />

utilizados para esterilizar ambientes fechados, incluindo câmaras assépticas utilizadas<br />

para procedimentos que <strong>de</strong>vem ser livres <strong>de</strong> microrganismos. Os principais esterilizantes<br />

químicos utilizados são:<br />

a) Óxido <strong>de</strong> etileno: composto orgânico (C2H4O) que é líquido a temperaturas abaixo<br />

<strong>de</strong> 10,8 o C, mas acima <strong>de</strong>sta temperatura torna-se um gás. Tem gran<strong>de</strong> po<strong>de</strong>r <strong>de</strong><br />

penetração, po<strong>de</strong>ndo atravessar e esterilizar o interior <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>s pacotes com<br />

objetos, roupas e certos plásticos. Desvantagem: é inflamável e é potencialmente<br />

explosivo em forma pura;<br />

b) β– Propiolactona: é um composta líquido incolor em temperatura ambiente.<br />

Destina-se à esterilização <strong>de</strong> instrumentos e materiais termossensíveis. Tem baixo<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração e seu uso foi restringido <strong>de</strong>vido a sua provável proprieda<strong>de</strong><br />

carcinogênica.<br />

c) Glutaral<strong>de</strong>ído: é um líquido oleoso e incolor. É utilizado em medicina para<br />

esterilizar instrumentos urológicos, lentes <strong>de</strong> instrumentos, equipamentos<br />

respiratórios e outros equipamentos específicos. Como <strong>de</strong>svantagem, tem uma<br />

estabilida<strong>de</strong> limitada.<br />

d) Formal<strong>de</strong>ído: é um gás que se mostra estável somente em altas concentrações e<br />

em temperaturas elevadas. Em temperatura ambiente, ele polimeriza-se formando<br />

uma substância sólida incolor, o paraformal<strong>de</strong>ído. O formal<strong>de</strong>ído é comercializado<br />

em solução aquosa como formalina, que contém 37 a 40% (p/v) da substância.<br />

Este é utilizado para a esterilização <strong>de</strong> instrumentos e a forma gasosa é utilizada<br />

para a <strong>de</strong>sinfecção e esterilização <strong>de</strong> áreas fechadas. Desvantagem: tem fraco<br />

po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> penetração, é corrosivo, é extremamente tóxico e seus vapores são<br />

irritantes às mucosas.<br />

Tabela 12: Alguns <strong>de</strong>sinfetantes e anti-sépticos comumente utilizados (fonte: Pelczar et al., 1996).


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Desinfetante ou antiséptico<br />

Compostos fenólicos<br />

Hexilresorcinol,<br />

o-Fenilfenol,<br />

cresóis<br />

Alcoóis<br />

Álcool etílico,<br />

Álcool isopropílico<br />

Álcool + iodo<br />

Iodo<br />

Iodóforo (polivinilpirrolidona)<br />

Tintura <strong>de</strong> iodo<br />

Compostos clorados<br />

Hipocloritos e<br />

cloraminas<br />

Concentração Aplicações Nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> *<br />

0,5 – 3,0 %<br />

Solução aquosa<br />

70 – 90 %<br />

70% + 0,5–2,0% <strong>de</strong> iodo<br />

1,0%<br />

iodo a 2% + io<strong>de</strong>to <strong>de</strong><br />

sódio a 2% + álcool 70%<br />

0,5 – 5,0g <strong>de</strong> cloro livre<br />

por litro<br />

Desinfecção <strong>de</strong> objetos<br />

inanimados como<br />

instrumentos, superfícies<br />

<strong>de</strong> mesa, assoalhos e<br />

termômetros retais<br />

(cresóis)<br />

Anti-sepsia da pele,<br />

<strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />

instrumentos cirúrgicos e<br />

termômetros<br />

Anti-sepsia da pele,<br />

pequenos cortes e<br />

abrasões; utilizado também<br />

para <strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong> água<br />

potável e <strong>de</strong> piscinas<br />

Desinfecção <strong>de</strong> água,<br />

superfícies não metálicas,<br />

equipamentos <strong>de</strong> laticínios,<br />

utensílios <strong>de</strong> restaurantes,<br />

materiais domésticos<br />

Compostos quaternários 0,1 – 0,2% Saneamento ambiental <strong>de</strong><br />

superfícies e equipamentos<br />

Compostos mercuriais<br />

Mertiolate, Mercúrio<br />

cromo<br />

1,0%<br />

Anti-sepsia da pele,<br />

<strong>de</strong>sinfecção <strong>de</strong><br />

instrumentos; utilizado<br />

também como preservante<br />

em alguns materiais<br />

biológicos<br />

Intermediário a baixo<br />

Intermediário<br />

Intermediário<br />

Baixo<br />

Baixo<br />

Baixo<br />

* Nível <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong> microbicida: alta = mata todas as formas <strong>de</strong> vida microbiana, inclusive os esporos<br />

bacterianos; intermediário = mata o bacilo da tuberculose, fungos e vírus mas não os esporos bacterianos;<br />

baixo = não mata esporos bacterianos, bacilo da tuberculose ou vírus não lipídicos em um tempo<br />

aceitável.<br />

5.6 Antibióticos e outros agentes quimioterápicos<br />

Os agentes quimioterápicos são substâncias empregadas no tratamento das<br />

doenças infecciosas e daquelas que são causadas pela proliferação <strong>de</strong> células malignas.<br />

Estas substâncias são preparadas em laboratórios químicos ou obtidas <strong>de</strong><br />

microrganismos, algumas plantas e animais. Em geral, as drogas naturais são<br />

diferenciadas dos compostos sintéticos pela <strong>de</strong>nominação específica <strong>de</strong> antibióticos.<br />

Alguns <strong>de</strong>stes são preparados por via sintética, mas a maioria é comercialmente<br />

produzida por biossíntese. As antitoxinas e outras substâncias formadas pelos<br />

organismos <strong>de</strong> animais infectados não são consi<strong>de</strong>radas como agentes quimioterápicos,<br />

o mesmo sendo válido para os compostos que causam a <strong>de</strong>struição ou inibição <strong>de</strong><br />

microrganismos in vitro, usualmente classificados como <strong>de</strong>sinfetantes, anti-sépticos ou<br />

germicidas.


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60<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

Um agente quimioterápico satisfatório <strong>de</strong>ve:<br />

1. Destruir ou inibir a ativida<strong>de</strong> <strong>de</strong> um parasita, sem lesar as células do<br />

hospe<strong>de</strong>iro ou, apenas, com pequenos danos sobre estas células;<br />

2. Ser capaz <strong>de</strong> entrar em contato com o parasita, atingindo concentrações<br />

efetivas nos tecidos e nas células hospe<strong>de</strong>iras;<br />

3. Deixar inalterados os mecanismos naturais <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa do hospe<strong>de</strong>iro, tais como<br />

a fagocitose e a síntese <strong>de</strong> anticorpos.<br />

As drogas do tipo sulfa são um dos agentes quimioterápicos sintéticos mais<br />

conhecidos e utilizados. A sulfa foi primeiramente obtida pelo químico alemão Gerhard<br />

Domagk, em 1935. O tipo mais simples <strong>de</strong> sulfa é a sulfonamida, que é estruturalmente<br />

análoga ao ácido para-aminobenzóico (PABA), que é um precursor na síntese do ácido<br />

fólico, <strong>de</strong>ntro da célula bacteriana. A sulfonamida compete com o PABA pelo sítio ativo<br />

<strong>de</strong> uma enzima envolvida na síntese do ácido fólico, provocando uma diminuição na<br />

produção do mesmo, que é essencial na síntese <strong>de</strong> importantes constituintes celulares.<br />

As sulfonamidas são particularmente úteis no tratamento <strong>de</strong> infecções causadas<br />

por meningococos e Shigella, <strong>de</strong> infecções respiratórias por estreptococos e<br />

estafilococos e das infecções urinárias <strong>de</strong>vidas a microrganismos Gram-negativos. São<br />

importantes na prevenção da febre reumática, da endocardite bacteriana, da infecção <strong>de</strong><br />

ferimentos e <strong>de</strong> infecções urinárias, após cirurgia ou cateterismo.<br />

Os antibióticos formam um tipo especial <strong>de</strong> agentes quimioterápicos,<br />

geralmente obtidos <strong>de</strong> organismos vivos. O termo antibiótico <strong>de</strong>signa um produto<br />

metabólico <strong>de</strong> um organismo que é prejudicial ou inibidor para certos microrganismos,<br />

em concentrações muito pequenas.<br />

Proprieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> um antibiótico útil:<br />

1. Ativida<strong>de</strong> letal ou inibitória sobre muitas espécies diferentes <strong>de</strong><br />

microrganismos patogênicos, ou seja, <strong>de</strong>vem representar o que se <strong>de</strong>nomina antibióticos<br />

<strong>de</strong> largo espectro.<br />

2. Capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> prevenir o <strong>de</strong>senvolvimento fácil <strong>de</strong> formas microbianas<br />

resistentes.<br />

3. Ausência <strong>de</strong> efeitos colaterais in<strong>de</strong>sejáveis, tais como reações alérgicas ou <strong>de</strong><br />

sensibilida<strong>de</strong>, lesões nervosas, irritação renal ou do trato gastrointestinal.<br />

4. Ineficácia sobre a flora microbiana normal, evitando-se assim, a perturbação<br />

do equilíbrio natural e, consequentemente, impedindo o estabelecimento <strong>de</strong> infecções<br />

por germes totalmente não-patogênicos ou, especialmente, por formas patogênicas<br />

habitualmente controladas pela flora normal.<br />

Os antibióticos po<strong>de</strong>m inibir ou <strong>de</strong>struir os microrganismos <strong>de</strong> diversos modos:<br />

1. Inibindo a formação da pare<strong>de</strong> celular.


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61<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

2. Lesando a membrana citoplasmática.<br />

3. Interferindo com a síntese protéica.<br />

4. Inibindo o metabolismo dos ácidos nucleicos.<br />

A sensibilida<strong>de</strong> dos microrganismos aos antibióticos po<strong>de</strong> variar. Bactérias<br />

Gram-positivas são geralmente mais sensíveis a antibióticos que as Gram-negativas,<br />

embora alguns antibióticos atuem somente sobre estas últimas. Um antibiótico que age<br />

sobre as bactérias Gram-positivas e Gram-negativas é dito antibiótico <strong>de</strong> largo espectro.<br />

Um antibiótico <strong>de</strong> espectro restrito age somente sobre um único grupo <strong>de</strong><br />

microrganismos. No entanto, este último po<strong>de</strong> ser valioso no controle <strong>de</strong><br />

microrganismos resistentes a outros antibióticos.<br />

Certos microrganismos, porém, são resistentes a alguns antibióticos. Esta<br />

resistência po<strong>de</strong> ser uma proprieda<strong>de</strong> inerente do microrganismo ou po<strong>de</strong> ser adquirida<br />

(através da mutação ao acaso dos genes cromossômicos). A resistência <strong>de</strong>vida à<br />

proprieda<strong>de</strong> inerente do microrganismo po<strong>de</strong> ter várias razões: (1) o organismo po<strong>de</strong> não<br />

ter a estrutura sobre a qual o antibiótico atua inibindo; por exemplo, algumas bactéria<br />

tais como os micoplasmas, não possuem uma pare<strong>de</strong> celular típica bacteriana, sendo<br />

assim resistentes à penicilina; (2) o organismo po<strong>de</strong> ser ‘impermeável’ ao antibiótico;<br />

(3) o organismo po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> alterar o antibiótico, tornando-o inativo; (4) o<br />

organismo po<strong>de</strong> modificar o “alvo” do antibiótico; (5) o organismo po<strong>de</strong> alterar, através<br />

<strong>de</strong> modificação genética, a via metabólica que o antibiótico bloqueia; (6) o organismo<br />

po<strong>de</strong> ser capaz <strong>de</strong> eliminar o antibiótico, “jogando-o” para fora da célula (efluxo).<br />

A penicilina foi o primeiro dos antibióticos mo<strong>de</strong>rnos e ainda é um dos mais<br />

úteis. Juntamente com a sulfa, só passou a ser largamente utilizada no início dos anos<br />

40, em plena Segunda Guerra Mundial. É produzida pelo fungo Penicillium notatum,<br />

Penicillium chrysogenium e outras espécies <strong>de</strong> bolores. P. notatum foi isolado pela<br />

primeira vez pelo médico inglês Alexan<strong>de</strong>r Fleming, em 1929. A penicilina é seletiva<br />

para bactérias Gram-positivas, alguns espiroquetas e os diplococos Gram-negativos<br />

(Neisseria).<br />

A tabela 13 mostra alguns dos principais antibióticos utilizados.<br />

Embora a penicilina seja, ainda, um dos antibióticos mais valiosos, a busca da<br />

droga i<strong>de</strong>al continua. Entre os compostos aceitáveis, estão aqueles que atuam sobre os<br />

microrganismos patogênicos insensíveis ou que se tornaram resistentes à penicilina. As<br />

drogas mais importantes são produzidas por quatro gêneros <strong>de</strong> microrganismos:<br />

Bacillus, Penicilium, Streptomyces e Cephalosporium, normalmente existentes no solo.<br />

Assim sendo, o solo tem sido profundamente pesquisado na procura <strong>de</strong> micróbios<br />

capazes <strong>de</strong> produzir novos antibióticos.<br />

Tabela 13: Produtos metabólicos <strong>de</strong> bactérias e fungos, usados como antibióticos (fonte: Pelczar, 1980).


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_____________________________________________________________________________________________<br />

ANTIBIÓTICO<br />

(PRODUTO)<br />

FONTE MICROBIANA ESPECTRO PRIMÁRIO MODO DE AÇÃO<br />

Ampicilina Penicillium sp. Bactérias gram-positivas e<br />

negativas<br />

Anfotericina B Streptomyces nodosus Fungos, agentes <strong>de</strong> várias<br />

micoses<br />

Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Interfere com a função da<br />

membrana citoplasmática<br />

Bacitracina Bacillus subtilis Bactérias gram-positivas Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Carbomicina<br />

(Magnamicina)<br />

Streptomyces halstedii Rickettsias; bactérias grampositivas<br />

Inibe a síntese protéica<br />

Cefalosporina C Cephalosporium sp. Bactérias gram-positivas Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Ciclohexamida<br />

(Actidione)<br />

Streptomyces griseus Fungos, especialmente<br />

fitopatogênicos<br />

Ciclosserina Streptomyces orchidaceous<br />

e Streptomyces lavendulae<br />

Cloranfenicol<br />

(Cloromicetina)<br />

Clortetraciclina<br />

(Aureomicina)<br />

Colistina<br />

(Colimicina)<br />

Inibe a síntese protéica<br />

Mycobacterium tuberculosis Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Streptomyces venezuelae Largo espectro Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Streptomyces aureofaciens Largo espectro Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Bacilus colistinus Pseudomonas spp. Deteriora a membrana<br />

citoplasmática<br />

Dimetiltetraciclina Streptomyces aureofaciens<br />

(mutante)<br />

Eritromicina<br />

(Iloticina)<br />

Largo espectro Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Streptomyces erythraeus Rickettsias; bactérias grampositivas<br />

Estreptomicina Streptomyces griseus Bactérias gram-positivas e<br />

gram-negativas;<br />

Mycobacterium tuberculosis<br />

Fumagilina<br />

(Amebacilina)<br />

Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Induz a síntese <strong>de</strong> proteínas<br />

anormais<br />

Aspergillus fumigatus Amebas Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Griseofulvina Streptomyces griseus Fungos patogênicos Interfere com a pare<strong>de</strong> celular<br />

fúngica e com a síntese <strong>de</strong><br />

ácidos nucleicos<br />

Kanamicina Streptomyces<br />

kanamyceticus<br />

Mycobacterium tuberculosis Induz a síntese <strong>de</strong> proteínas<br />

anormais<br />

Lincomicina Streptomyces lincolnensis Bactérias gram-positivas Inibe a síntese protéica<br />

Meticilina Penicillium sp. Estafilococos Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Neomicina Streptomyces fradiae Bactérias gram-positivas e<br />

gram-negativas;<br />

Mycobacterium tuberculosis<br />

Cont. da tabela 13<br />

Induz a síntese <strong>de</strong> proteínas<br />

anormais<br />

Nistatina Streptomyces noursei Candida intestinal; micoses Danifica a membrana<br />

citoplasmática


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Novobiocina<br />

(Catomicina)<br />

Streptomyces griseus;<br />

Streptomyces niveus;<br />

Streptomyces spheroi<strong>de</strong>s<br />

Oleandomicina Streptomyces antibioticus Rickettsias; bactérias grampositivas<br />

Oxitetraciclina<br />

(Terramicina)<br />

Bactérias gram-positivas Inibe a polimerização do<br />

ADN<br />

Inibe a síntese protéica<br />

Streptomyces rimosus Largo espectro Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Penicilina G Penicillium chrysogenum Bactérias gram-positivas Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Polimixina B Bacillus polymyxa Bactérias gram-negativa Deteriora a membrana<br />

citoplasmática<br />

Tetraciclina Streptomyces aureofaciens Largo espectro Interfere com a síntese<br />

protéica<br />

Vancomicina Streptomyces orientalis Bactérias gram-positivas;<br />

Neisseria, Clostridium tetani<br />

Inibe a síntese da pare<strong>de</strong><br />

celular<br />

Viomicina Streptomyces floridae Mycobacterium tuberculosis Interfere com a síntese<br />

protéica


<strong>IFSC</strong> / LCE / <strong>Biologia</strong> 3 – Microbiologia<br />

64<br />

_____________________________________________________________________________________________<br />

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1005p. (SBI)<br />

Observação: (SBI) = Livros disponíveis na Biblioteca do <strong>IFSC</strong>

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