em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
As mesmas afirmativas são direciona<strong>da</strong>s ao campo <strong>da</strong> leitura literária.<br />
Quantas vezes os livros não parec<strong>em</strong> ter o mesmo final para um <strong>de</strong>terminado leitor e<br />
para outro? Ca<strong>da</strong> leitor, exposto ao mesmo texto, r<strong>ea</strong>ge <strong>de</strong> diferente forma. Fazendo<br />
com que aquele nunca seja um único texto, mas sim plural e dinâmico.<br />
Portanto, mesmo que literatura e cin<strong>em</strong>a sejam expressões artísticas<br />
diferentes, on<strong>de</strong> a primeira se apropria <strong>da</strong> palavra, <strong>da</strong> linguag<strong>em</strong> verbal escrita e a<br />
segun<strong>da</strong> abre espaço para uma linguag<strong>em</strong> audiovisual, os signos e apelos são<br />
diferentes, a leitura é muito mais abstrata e subjetiva; o cin<strong>em</strong>a, concreto. Mas,<br />
ambas são precedi<strong>da</strong>s, antes <strong>de</strong> qualquer leitura, <strong>da</strong> leitura do mundo. T<strong>em</strong>os no<br />
texto literário e midiático, no sentido <strong>de</strong> tessitura narrativa, uma forma <strong>de</strong> mediação<br />
que permite o espectador, assim como o leitor, produzir e partilhar sentidos na<br />
interação texto-leitor.<br />
Ao pensarmos nas práticas leitoras e <strong>em</strong> leitores que interag<strong>em</strong> com o texto,<br />
colocando-o <strong>em</strong> movimento, é inevitável questionarmos sobre o po<strong>de</strong>r transformador<br />
<strong>da</strong> leitura. Seria isso possível? De que forma? Há na leitura uma po<strong>de</strong>r r<strong>ea</strong>lmente<br />
transformador?<br />
Em Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, a leitura e as conseqüências gera<strong>da</strong>s<br />
por ela são reforça<strong>da</strong>s no filme. Muitas cenas, que não estão inseri<strong>da</strong>s no romance,<br />
são coloca<strong>da</strong>s no texto cin<strong>em</strong>atográfico. O que nos leva a crer que o autor Dai Sijie<br />
também acredita na leitura como instrumento <strong>de</strong>senca<strong>de</strong>ador <strong>de</strong> mu<strong>da</strong>nças no<br />
sujeito-leitor, mu<strong>da</strong>nças essas que por muitas vezes pod<strong>em</strong> acarretar<br />
transformações no espaço e no t<strong>em</strong>po <strong>em</strong> que esses sujeitos estão inseridos.<br />
Traz<strong>em</strong>os, novamente, à tona, o i<strong>de</strong>ário do teórico Iser, que tanto se preocupou com<br />
o papel <strong>da</strong> leitura e a função do leitor como peça fun<strong>da</strong>mental para a concretização<br />
<strong>da</strong> obra literária. Segundo ele (1996, p. 197), “A estrutura do texto e o ato <strong>de</strong> leitura<br />
são, portanto, compl<strong>em</strong>entares para <strong>da</strong>r lugar à comunicação. Isso ocorre quando o<br />
texto se torna o correlato <strong>da</strong> consciência do leitor. 124 ”<br />
O estudo <strong>de</strong> Iser acerca do efeito estético do texto literário mostra-se<br />
primordial para o reconhecimento do po<strong>de</strong>r transformador <strong>da</strong> leitura. Bas<strong>ea</strong><strong>da</strong> na<br />
idéia <strong>de</strong> que o leitor, diante <strong>da</strong>s disposições materiais <strong>da</strong> obra, interpreta e<br />
concretiza o objeto estético a partir <strong>de</strong> um repertório pessoal, t<strong>em</strong>os a obra literária<br />
124 La structure du texte et celle <strong>de</strong> l’acte <strong>de</strong> lecture sont donc complémentaires pour donner lieu à la<br />
communication. Celle-ci se produit lorsque le texte <strong>de</strong>vient le corrélat <strong>de</strong> la conscience du lecteur.<br />
(ISER, 1996, p. 197) A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
95