em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
_”Ursula Mirouet”. Nome engraçado .<br />
E, por fim, o encantamento do narrador, no romance Balzac e a <strong>costureirinha</strong><br />
<strong>chinesa</strong>, pela persong<strong>em</strong> Úrsula, <strong>de</strong> Balzac, “Queria ser como ela[...]” (SIJIE, 2000,<br />
p. 51) ex<strong>em</strong>plificam o efeito que o texto po<strong>de</strong> produzir no leitor.<br />
Da mesma forma, os espectadores <strong>de</strong> um filme são capazes <strong>de</strong> saír<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
uma sessão <strong>de</strong> cin<strong>em</strong>a, sonhando <strong>em</strong> ser um <strong>de</strong>terminado personag<strong>em</strong>, se<br />
<strong>em</strong>ocionam e choram com algumas cenas, se apaixonam com trilhas sonoras. São<br />
muitas as r<strong>ea</strong>ções que um texto po<strong>de</strong> suscitar no leitor. Tudo vai <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>r <strong>da</strong><br />
interação estabeleci<strong>da</strong> entre autor – texto – leitor ou produtor – texto – leitor, muito<br />
mais do que a imposição <strong>de</strong> sentidos <strong>de</strong> um sobre o outro.<br />
Em ambas as situações, os receptores dialogam com os textos e constro<strong>em</strong><br />
suas próprias interpretações. Porém, <strong>em</strong> que medi<strong>da</strong>, a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretação<br />
dos fatos po<strong>de</strong> ser credita<strong>da</strong> aos probl<strong>em</strong>as comuns como à débil cultura dos<br />
receptores por conta <strong>da</strong>s diferenças <strong>de</strong> classe social? Certamente, ter<strong>em</strong>os<br />
respostas a um texto <strong>de</strong> formas diferentes pelo simples fato dos grupos sociais<br />
pertencer<strong>em</strong> a comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>s interpretativas 120 diferentes.<br />
Cabe aqui relatar um fato interessante que Carrière 121 <strong>de</strong>screve no livro A<br />
linguag<strong>em</strong> secreta do cin<strong>em</strong>a. Conta-nos o autor que para escrever roteiros dos<br />
filmes <strong>de</strong> Luis Buñuel, muitas vezes, ambos iam para uma casa <strong>de</strong> campo e ficavam<br />
dias discutindo sobre as possíveis r<strong>ea</strong>ções dos espectadores, mesmo sabendo que<br />
o significado que <strong>de</strong>sejavam imprimir iria variar <strong>de</strong> acordo com os interpretações<br />
feitas pelos leitores do filme.<br />
120 O conceito surgiu <strong>em</strong> 1976 num artigo <strong>de</strong> Fish, intitulado "Interpreting the Variorum". A teoria <strong>de</strong><br />
Fish enuncia que um texto não possui significado fora <strong>de</strong> um conjunto <strong>de</strong> pressuposições que diz<strong>em</strong><br />
respeito tanto ao que os caracteres significam e como <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser interpretados. Este contexto cultural<br />
freqüent<strong>em</strong>ente inclui intencionali<strong>da</strong><strong>de</strong> autoral, <strong>em</strong>bora não esteja limitado a isso. Fish afirma que<br />
interpretamos textos porque somos parte <strong>de</strong> uma comuni<strong>da</strong><strong>de</strong> interpretativa que nos fornece uma<br />
forma particular <strong>de</strong> ler um texto.<br />
121 J<strong>ea</strong>n-Clau<strong>de</strong> Carrière nasceu na França, <strong>em</strong> 1931. Roteirista pr<strong>em</strong>iado, trabalhou com alguns dos<br />
maiores diretores <strong>de</strong> cin<strong>em</strong>a, sobretudo com Luis Buñuel.<br />
93