em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

experimentadas pela Costureirinha. Os filmes assistidos, no cinema improvisado na
cidade mais próxima da montanha Fênix, refletiam a ideologia dominante da época,
eram filmes de propaganda partidária do presidente Mao Tse Tung.
As situações reais representadas na grande tela do cinema não
impressionavam tanto a Costureirinha quanto as releituras de tais filmes feitas pelos
dois amigos. Ao narrar os filmes para os aldeões, Luo e o narrador incorporavam às
histórias suas percepções do mundo, críticas, sentimentos e desejos. Talvez, por
isso, encantasse tanto a Costureirinha, por serem novos olhares, pensamentos e
ideias que nunca antes foram compartilhados. Este é um exemplo do papel da
interpretação.
Segundo Sidney Leite (2003, p. 6), “o cinema é capaz de, ao mesmo tempo,
imprimir formas, forjar e manipular situações e contribuir para o funcionamento de
um conjunto de idéias e crenças. A rigor, os filmes são poderosos formadores e
deformadores de opinião.” Sem saber disso, o chefe camponês envia os dois jovens
para as sessões de cinema na cidade mais próxima da montanha Fênix. Para ele, ir
ao cinema era uma missão política.
Um dia, informou-se sobre a data da projeção mensal em Yong Jing, e
decidiu que Luo e eu iríamos àquela cidade. Na volta, deveríamos contá-lo,
do princípio ao fim, ao chefe e a todos os aldeões, mantendo-se fieis ao
tempo exato da projeção. (SIJIE, 2000, p. 19)
O chefe apreciava o talento dos jovens ao contar as histórias, mas jamais
poderia imaginar que se expondo e expondo todos os aldeões àquelas narrativas
estaria entrando em contato, não com a leitura do filme com ideias partidárias, mas,
com uma leitura do filme feita por dois jovens intelectuais burgueses, filhos de
inimigos do povo. Algo inaceitável para os proletariados. As emoções passadas ao
narrar as historias dos filmes já não eram mais as dos próprios filmes e, sim,
sentimentos despertados durante a leitura do texto cinematográfico. Eram as
emoções dos dois jovens ao lerem o filme e interpretá-lo.
Como percebemos, os meios de comunicação de massa, no geral, são
entendidos como modeladores de opiniões políticas e comportamentos sociais. Há
uma crença comum de que “a relação do espectador com produtos audiovisuais
(cinema e tevê, principalmente) atua de modo negativo na formação de leitores [...]”
(DUARTE, 2002, p. 20) Mas a passividade está longe da leitura desses gêneros
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